quarta-feira, 13 de junho de 2018

Opinião do dia: Manuel Castells

Em tempos de incertezas costuma-se citar Gramsci quando não se sabe o que dizer. Em particular, sua célebre assertiva de que a velha ordem já não existe e a nova ainda está para nascer. O que pressupõe a necessidade de uma nova ordem depois da crise.

Mas não se contempla a hipótese do caos. Aposta-se no surgimento dessa nova ordem de uma nova política que substitua a obsoleta democracia liberal que, manifestamente, está caindo aos pedaços em todo o mundo, porque deixa de existir no único lugar em que pode perdurar: a mente dos cidadãos.

A crise dessa velha ordem política está adotando múltiplas formas. A subversão das instituições democráticas por caudilhos narcisistas que se apossam das molas do poder a partir da repugnância das pessoas com a podridão institucional e a injustiça social; a manipulação midiática das esperanças frustradas por encantadores de serpentes; a renovação aparente e transitória da representação política através da cooptação dos projetos de mudança; a consolidação de máfias no poder e de teocracias fundamentalistas, aproveitando as estratégias geopolíticas dos poderes mundiais; a pura e simples volta à brutalidade irrestrita do Estado em boa parte do mundo, da Rússia à China, da África neocolonial aos neofascismos do Leste Europeu e às marés ditatoriais na América Latina.
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Manuel Castells, sociólogo espanhol. “Ruptura”, Editora Zahar, Rio de Janeiro, 2018.
Texto Publicado na Folha de S.Paulo / Ilustríssima, 10/6/2018.

Rosângela Bittar: Interesse sem ideologia

- Valor Econômico

Momento é de exibicionismo e falsidade

É absolutamente normal a pré-candidata Marina Silva (Rede) encontrar-se com o PSDB mesmo que jamais pense fazer uma aliança com os tucanos. Mais ordinário ainda o pré-candidato Ciro Gomes expressar o desejo de ter o PSB e marcar encontro com o DEM, a quem já insultou, inclusive esta semana mesmo, ao dizer que pretende criar um núcleo de esquerda na sua candidatura para depois abrir o caminho a outros, a serem recebidos fora da sala vip. Do périplo pela Força Sindical, então, nem se fala.

O pré-candidato do Solidariedade (SD) é Aldo Rebelo, que há meses vem fazendo o circuito sindical e realizando conversas e palestras Brasil afora, possivelmente o candidato que mais viajou o país, apenas conversando. Rodrigo Maia (DEM) já passou pela Força, Ciro (PDT) foi ontem, certamente Marina e Alckmin (PSDB) também irão, a disputa pelo mundo sindical está aberta.

Algum problema para os pré-candidatos que procuram cada interlocutor desses encontros? Nenhum. Neste momento é exatamente a hora certa de todo mundo conversar com todo mundo. Incluindo Josué Gomes (PR), que ensaia a sua candidatura pelo centro, sem medo de atropelar alguém na via já congestionada.

Nem para o PT, seu extremo, que vem conversando também com muitos, à procura de apoio ao seu candidato a ser indicado na parte legal da campanha, a partir de agosto.

Conversar não tira pedaço, diziam os antigos. E o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não tem se incomodado com os excessos da campanha acintosa, extrarregulação, dos ainda não candidatos.

Todos os postulantes se movimentam, um deles está preso mas redige cartas que podem dar aos seus representantes condições para manter o vigor eleitoral. O eleitor parece não ter em quem votar e demonstra também desinteresse por escolher agora. Portanto, mostrar-se é fundamental.

Vera Magalhães: PSB mais perto de Ciro

- O Estado de S.Paulo

O PSB está mais propenso a selar uma aliança com o PDT de Ciro Gomes que a ficar “solteiro" nas eleições nacionais, como agora defende a ala do partido mais próxima ao PT.

A costura feita por Ciro foi eficaz para incutir uma dose de autoestima no PSB, que ficara perdido diante do recuo de Joaquim Barbosa, aquele que foi sem nunca ter sido o presidenciável do partido.

Ciro convenceu parte da cúpula socialista de que o partido terá espaço de destaque caso ele se eleja. Assim “empoderados”, caciques pessebistas já dizem que sua sigla dará estatura política a Ciro, por ter mais governos de Estado que o PDT, por exemplo.

O PT, que começou falando grosso e exigindo um cheque em branco de aliança com o candidato que vai substituir Lula na cédula para retirar a candidatura de Marília Arraes em Pernambuco, já admite fazer um desconto caso o PSB apenas fique neutro na eleição nacional.

São essas hoje as únicas opções à mesa, e a decisão não deverá ficar só para a undécima hora. O PSB deve reunir a Executiva para bater o martelo ainda neste mês.

Os pessebistas sabem que, no momento em que Ciro, Geraldo Alckmin e o PT travam uma corrida de bastidores para consolidar alianças e reduzir a pulverização, os primeiros apoios contam mais e garantem aos aderentes boas condições de negociação. Inclusive a vaga de vice, pela qual os socialistas não escondem o interesse e que pode mesmo ir para Márcio Lacerda.

As declarações tanto de Ciro quanto de seu irmão, Cid, sobre a prioridade dada ao antigo partido de ambos faz parte desse “namoro" que pode mesmo acabar em casamento.

Bruno Boghossian: Pelo empate

- Folha de S. Paulo

Tucano joga parado e mira horário eleitoral para reduzir desgaste do PSDB

A candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) entrou na fase da sobrevivência. Sem capacidade de perfurar a apatia do eleitorado, os tucanos admitem que a prioridade do ex-governador, agora, é escapar do fogo amigo e de tiros dos rivais até o início do horário eleitoral.

A velha propaganda na TV é a boia de salvação que os tucanos enxergam, à distância. Estagnados na faixa de 7% nas pesquisas, Alckmin e seus aliados aceitam que será difícil decolar na campanha antes de levar ao ar suas primeiras peças de publicidade, em 31 de agosto.

Até lá, a principal estratégia será resistir. Embora alfinete Jair Bolsonaro (PSL) e o PT para se mostrar vivo, o ex-governador deve privilegiar a técnica que domina: jogar parado. Aliados defendem que ele se preserve para atenuar sua condição de alvo e atravessar os próximos meses.

A tática é mais uma imposição das circunstâncias do que uma escolha requintada. O tucanato acredita que Alckmin está excessivamente exposto ao desgaste sofrido pelo PSDB nos últimos anos. Sem a tribuna livre da propaganda eleitoral, não tem força para tentar se dissociar de Aécio Neves, do operador Paulo Vieira de Souza e das acusações de caixa dois que envolvem seu cunhado.

Vinicius Torres Freire: Acalmar o país até 2019

- Folha de S. Paulo

Falta liderança política e social para levar um país transtornado até o próximo governo

A disputa do governo do Brasil em 2019 está na fase do vale-tudo. É o caso tanto dos candidatos para valer como daqueles que já caem pelas tabelas, para a segunda divisão dos coadjuvantes, representantes para inglês ver de grupos que procuram como se ajeitar em um barco vitorioso. "Business as usual", parece. Não é bem assim.

Gente do MDB diz, nas internas, que Henrique Meirelles será rifado, oficialmente ou na prática. O DEM-PP, na proa do centrão, procura fazer qualquer acordo. Jair Bolsonaro (PSL) pode pegar um pedaço de carne que cair desta mesa dos partidos maiores ou menos nanicos, o que lhe daria tempo de TV.

Isso é política politiqueira. Nosso buraco é mais para baixo. Candidatos para valer, PDT, PSDB, o PT e os coadjuvantes maiores aparecem com discursos e atitudes inconsequentes, dada a gravidade da crise, o risco de ingovernabilidade, na próxima Presidência inclusive.

Seria conveniente, por ora um devaneio irrealista, que o próximo presidente contasse com apoio no Congresso para arrumar a casa mesmo antes de tomar posse, ainda neste ano.

Seria prudente que lideranças assumissem a responsabilidade de levar o país em ordem até o fim do ano, mas faltam grandeza ou mesmo esperteza qualificada na praça: não há quem se dê conta dos riscos, de modo consequente. A atitude preponderante é saquear o que se pode até o fim deste governo ou de apoiar mais tumulto.

A disputa eleitoral pode causar instabilidade financeira grave; o que vemos desde maio é uma preliminar. Improvável que ocorram revoltas tão grandes quanto a do caminhonaço, mas o país está descontrolado e desconjuntado. Há possibilidade menor de tumulto político-judicial; processos contra Michel Temer tendem a ser empurrados com a barriga, mas tudo é problema neste ambiente ruim.

Trata-se de riscos, não de previsão de tumulto, mas há pouca cobertura de seguro, pois: 1) as lideranças são mesquinhas, mefíticas, incapazes ou irresponsáveis, vide a resposta de governo, Congresso, líderes partidários e da sociedade civil ao caminhonaço; 2) não há disposição para acordos ou armistícios, o clima é de vale-tudo, dane-se o que sobrar do país.

Ainda vai levar mais de mês antes que possa aparecer alguma luz. Até as vésperas das convenções, há apenas interesse bruto e cego de acumular meios de ficar no pelotão de frente das pesquisas e máquinas de apoio, com exceção de Marina Silva (Rede), que não sabemos bem o que está fazendo.

A disputa está muito aberta e, portanto, deve ser agressiva, em um ambiente de degradação partidária e sociedade desorientada.

Um petista pode ganhar de 10 a 30 pontos com um dedaço de Lula, a julgar pelo que dizem as pesquisas, o que poderia colocar pelo menos por um tempo o capitão da extrema direita e o PT na liderança, um fator de tumulto financeiro, tanto faz nossa opinião sobre a finança.

Ricardo Noblat: Denúncia contra Temer não passará

- Blog do Noblat | Veja

Afastar presidente em véspera de eleições gerais é receita indigesta

O Supremo Tribunal Federal já sabe como lidar com uma eventual terceira nova denúncia de corrupção e de lavagem de dinheiro contra o presidente Michel Temer, caso ela de fato seja oferecida ao seu exame pela Procuradora Geral da República Raquel Dodge.

Se isso acontecer, será depois do recesso da Justiça em julho. Em agosto, os candidatos às eleições de 3 de outubro estarão em plena campanha, que no rádio e na televisão começará no dia 31. Não haverá tempo, portanto, para mais nada.

O envio da denúncia à Câmara dos Deputados certamente provocaria forte turbulência política com reflexos nos resultados das eleições. Fazer isso para quê? Melhor que ela fique no Supremo pelo menos até depois do segundo turno. Ou que acabe arquivada.

Os ministros contam para isso com a compreensão da maioria dos brasileiros. Ou da maioria dos brasileiros sensatos – se isso lá o que for.

Elena Landau: Febeapá

- O Globo

Para piorar, voltamos a tabelar fretes, impor controle de preços e reserva de mercado

Febeapá, o Festival de Besteira que Assola o País, foi uma expressão inventada por Stanislaw Ponte Preta há mais de 50 anos. Era uma crítica bem-humorada à ditadura. Saiu de moda, mas continua mais atual do que nunca. A resposta à chantagem dos caminhoneiros e seus patrões é um Febeapá para ninguém botar defeito. Foi uma sequência de erros impressionantes que terminou com um enorme rombo nas finanças públicas sem que o problema tivesse sido sequer resolvido. Errou o presidente da República, erraram os presidentes da Câmara e do Senado, para não falar em vários dos candidatos. A população mais carente vai mais uma vez financiar uma categoria profissional. Stanislaw já dizia: “a prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento”.

Recriamos a conta petróleo, com Tesouro compensando a Petrobras pelo subsídio, que todos imaginavam ser coisa do passado. Por pouco não se reduziram impostos estaduais sobre combustíveis fósseis. Para piorar, voltamos a tabelar fretes, impor controle de preços e reserva de mercado. Só faltou chamar os fiscais do Sarney. Decisões apressadas e a volta do velho intervencionismo deixarão consequências negativas por muito tempo. A atuação do governo Temer me lembrou a nefasta MP 579 da Dilma; o setor elétrico está perdido até hoje num emaranhado de disputas judiciais e alto endividamento. Na Petrobras, o resultado foi igualmente desastroso. Otimista que sou, pensava que a missão tinha sido aprendida. Ledo engano.

Míriam Leitão: Estrada de erros

- O Globo

O acordo feito pelos caminhoneiros com o setor de grãos, mesmo sendo parcial, é a primeira boa notícia nessa sucessão de erros cometidos durante e após a greve do transporte de carga. Abre o caminho para que o setor privado negocie entre si e consiga resolver o conflito entre o caminhoneiro que quer um preço mais justo para o seu trabalho, e o empresário que precisa reduzir seus custos.

Tudo isso resulta de um erro inicial. Os custos brasileiros de logística são altos porque o país há décadas erra no planejamento do setor de transporte. Depende demais das rodovias mesmo para o transporte de longas distâncias, o que não é a vocação do modal. E, apesar de depender em quase 70% do transporte de mercadorias pela via rodoviária, tem péssimas estradas.

É a má qualidade das estradas que reduz a competitividade do setor produtivo e não o preço mais justo pago ao caminhoneiro. O país ficou no pior dos mundos, não estruturou modais alternativos e fez uma opção incompleta pelas rodovias. Uma espécie de rodoviarismo sem estradas. Um dos obstáculos que impedem o aumento da produtividade e competitividade da economia brasileira é exatamente o gargalo do transporte.

Fábio Alves: No meio das eleições, o BC

- O Estado de S.Paulo

A alta do dólar já afeta a projeção de inflação, mas não para forçar o BC a agir

Desde a disparada o dólar ante o real, com a moeda americana chegando perto dos R$ 4,00, esquentou o debate sobre se o Banco Central deveria elevar os juros básicos para conter a depreciação do real e não apenas usar a artilharia dos swaps cambiais.

O Banco Central vem repetindo exaustivamente que a política monetária é separada da cambial e que não há relação mecânica entre as duas. Ou seja, o BC não vai usar juros para controlar a taxa de câmbio. Mas os analistas estão divididos sobre esse tema.

Para Tony Volpon, economista-chefe para Brasil do banco UBS, em tempos “normais”, a gestão da política monetária pode ser tocada mesmo “a livro texto”: juros mirando inflação, câmbio flutuante, etc.

“No caso dos países emergentes, por suas debilidades institucionais, fragilidade fiscal, falta de poupança, entre outras variáveis, quando há bruscas mudanças de cenário – seja por causas externas ou internas – você cai em um regime de exceção”, diz Volpon. “Nesse caso, as coisas não funcionam como em tempos normais, pois há uma ligação mais estreita entre política monetária e cambial.”

Monica De Bolle: O risco de cada um

- O Estado de S.Paulo

Não há dúvida de que, com a aproximação das eleições e a indefinição do quadro, mais surtos de turbulência virão

O alvoroço da semana passada nos mercados brasileiros causado pela disparada súbita do dólar, por especulações de que a cotação da moeda americana pudesse chegar a R$ 5, e pela pressão para que o Banco Central respondesse elevando os juros, como fizeram recentemente Argentina, Turquia e Índia expôs, os diferentes tipos de vulnerabilidade que afetam os países emergentes. Desde que a debandada de investidores desses mercados teve início no fim de abril, os temores relativos a diferentes países se acentuaram. Contudo, o risco de cada um pede avaliação mais criteriosa.

A Argentina, após sofrer intensa corrida contra sua moeda em maio, acaba de receber significativo apoio do FMI. No fim da semana passada, foi anunciado um “Stand-by Arrangement” (SBA) – a linha tradicional de empréstimos do Fundo – de US$ 50 bilhões a serem desembolsados ao longo dos próximos 36 meses após as usuais avaliações trimestrais. O montante do programa da Argentina equivale a 1.100% de sua cota no FMI, o que o caracteriza como “excepcional” de acordo com as diretrizes do organismo internacional – geralmente, o acesso aos recursos do FMI no âmbito de um SBA não deve exceder 435% da cota ao longo da vigência do programa.

Apenas para lembrar os leitores, a Argentina recorreu ao FMI no início de maio, após intensa especulação contra o peso. A turbulência teve origem na saída de investidores de países emergentes, porém ganhou intensidade no caso argentino pelas vulnerabilidades do país: déficit externo de 5,5% do PIB, reservas abaixo dos níveis considerados adequados pelo FMI, necessidade de dólares para cobrir pagamentos da dívida externa. Embora a situação argentina permaneça volátil, o tamanho do pacote do FMI negociado rapidamente revela o apoio da comunidade internacional às medidas e reformas econômicas do governo Macri, que tem penado para consertar anos de desvarios sob a tutela de Cristina Kirchner.

Pesquisas mostram que o cenário eleitoral não mudou: Editorial | Valor Econômico

As pesquisas eleitorais se sucedem - e nada acontece. Os resultados do Datafolha confirmam imprevisibilidade da eleição, com agravantes: o número de pessoas que dizem que votarão em branco, nulo ou ainda não definiram seu voto atinge quase metade dos entrevistados, um ano depois. Na simulação com Lula, o batalhão dos que não têm candidato ocupa o segundo lugar, com 21%, à frente de Bolsonaro, com 17%. Sem Lula, assume a liderança, com 33%. Na pesquisa espontânea, há 48% que não indicaram nenhuma preferência. A pesquisa só confirma que o que é ruim pode, sim, piorar: a popularidade de Temer caiu ainda mais e 82% o consideram um presidente ruim ou péssimo.

A pulverização das candidaturas e a angústia eleitoral criam uma ânsia por definições que as pesquisas não podem dar, até porque a campanha não começou e os eleitores não estão ligados nisso. E quem se interessa parece não estar gostando do que está vendo.

Diante da ausência de fatos marcantes, as constantes provisórias importam. Sem a presença de Lula, Jair Bolsonaro, do PSL, mantém-se estável à frente e Marina Silva, da Rede, está quase em empate técnico com ele e bem adiante se ambos chegarem ao segundo turno - 42% a 32%, segundo o Datafolha. Assim como Marina, Ciro Gomes, do PDT, estabilizou na casa dos 10%, em terceiro lugar, seguido, mais atrás, com 7%, pelo ex-governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin.

Esses candidatos se mantêm há bom tempo como favoritos e devem permanecer assim até agosto, quando começa de fato a campanha pela TV. A incógnita, uma de bom tamanho, é a de quem comporá a chapa do PT e receberá o apoio de Lula. Fernando Haddad, por suas próprias forças, mal se levanta dos 2%. O empenho de Lula e do partido pode levá-lo a dois dígitos e encaminhá-lo ao segundo turno, se permanecer a dispersão dos adversários. A julgar pelas recentes resoluções da Executiva do PT, essa decisão será tomada no último minuto do segundo tempo, perto de expirar o prazo de registro das candidaturas, em 15 de agosto. O alvo principal petista é uma aliança com o PSB - também cobiçado por Ciro Gomes e pelos tucanos - e PC do B.

Fake news e censura: Editorial | O Estado de S. Paulo

Um dos principais problemas das chamadas fake news – as mentiras travestidas de notícia que circulam pelas redes sociais com o objetivo de desmoralizar adversários políticos e ideológicos – é que não se sabe ao certo como identificá-las e, principalmente, como combatê-las sem esbarrar em alguns direitos fundamentais, como a liberdade de expressão.

É fato que os liberticidas exploram as garantias democráticas com o intuito de destruir a democracia. Eles atuam em uma espécie de zona cinzenta, na qual não se identifica com facilidade até onde vai a liberdade de expressão, quando confrontada com outros direitos igualmente basilares. Sua estratégia é levar o direito de manifestação ao limite da legalidade – ou além dele –, invocando essa proteção constitucional para espalhar falsidades que envenenam as disputas eleitorais e ajudam a criar uma atmosfera de ódio, primeiros passos para inviabilizar a convivência democrática.

Nesse sentido, parece natural esperar que o Estado atue para conter a ação deletéria dos extremistas e dos oportunistas, que trabalham para desacreditar as instituições democráticas e estimular o confronto. No entanto, o recurso à força estatal contra os produtores e disseminadores de fake news pode acabar sendo tão danoso à democracia quanto o mal que se pretende combater. Como salientaram alguns dos participantes do Fórum Estadão-Faap Campanha Eleitoral e Fake News, realizado no dia 11 passado, pode ser desastroso deixar a cargo da Justiça Eleitoral, por exemplo, a decisão sobre quais conteúdos devem ser retirados da internet por supostamente se enquadrarem naquilo que se convencionou chamar de fake news. Não seria exagero qualificar essa decisão de censura, a depender do caso.

Tabelar frete é peça de ficção: Editorial O Globo

Num comportamento típico de um país que, do capitalismo, só quer o lucro, sem correr riscos, caminhoneiros pressionam governo para socializar seus prejuízos

O Brasil que está refletido na tentativa infrutífera, inviável, de se tabelar o frete é o país autárquico, intervencionista, estatista, que tem fé na ideia de que uma fórmula errada funcionará se for executada muitas vezes. Em uma delas dará certo.

É o que acontece com o tabelamento, baixado por Medida Provisória pelo governo, para garantir um frete mínimo aos caminhoneiros autônomos afetados por uma lei de mercado simples: toda vez que a oferta aumenta, o preço cai.

Foi o que ocorreu como resultado do programa de Lula e Dilma de apertar o acelerador do crédito subsidiado do BNDES para a venda de caminhões. Pensaram apenas em ativar a indústria de veículos. Descrentes do mercado, esquecerem o valor do frete. Como a oferta de transporte rodoviário cresceu, para uma demanda que não acompanhou a expansão da frota de caminhões, o frete ficou mais barato.

Houve a combinação explosiva com a elevação do preço do diesel, puxado pela alta do petróleo, e caminhões fecharam as principais estradas do país, num ato ilegal que cortou as linhas de abastecimento.

Surpreendido — embora líderes do movimentam tenham garantido que avisaram do risco da paralisação —, o Planalto cedeu. Congelou o diesel subsidiado em R$ 0,46 por litro, e embarcou na aventura de tabelar um “frete mínimo”, num retrocesso duplo de política econômica.

Trata-se de algo bizarro, típico de um país que do capitalismo só quer o lucro, sem correr riscos. Quando eles existem, pressionam para o Estado socializar os prejuízos.

Trump e o amigo Kim: Editorial | Folha de S. Paulo

Presidente americano não obtém do ditador da Coreia do Norte muito mais que um compromisso vago

A confiança nas próprias habilidades, sem dar ouvidos a conselhos ou ressalvas em seu entorno, constitui aspecto central da personalidade de Donald Trump. Tal convicção alcançou o paroxismo no tão aguardado encontro com o ditador norte-coreano, Kim Jong-un.

Decerto, o inédito aperto de mãos entre o comandante da maior potência mundial e o líder do mais recluso regime detentor de armas atômicas terá lugar na posteridade. Entretanto o caminho que Trump escolheu para tentar convencer a Coreia do Norte a abdicar de seu arsenal corre grave risco de se provar inviável no decorrer do tempo.

Ao apostar no autopropalado tino de negociador, o presidente pôs na mesa a oferta de interromper os exercícios militares com a Coreia do Sul, sem aviso prévio à nação aliada —aliás, entreveros com parceiros históricos dos EUA têm se tornado marca deste governo, como a recente recusa em endossar a declaração da reunião do G7.

Fernando Gabeira: Os russos não dão bandeira

- O Globo

País vai se concentrar no verdadeiro problema de segurança, que é o terrorismo

De repente, chegou por aqui uma notícia: quatro brasileiros foram presos por exibir uma bandeira do país na rua. Era fake news. Talvez tenha nascido da cartilha da Embaixada do Brasil que aconselhava a não ostentar bandeiras nem carícias entre gente do mesmo sexo nas ruas da Rússia.

A Embaixada não fez mais do que seu dever: informar as leis do país para defender os brasileiros que o visitam. Num país onde, por exemplo, as mulheres têm de usar véu, a obrigação consular é avisá-las. No entanto, apesar das precauções, é evidente que essa história da bandeira é uma regra que não pega na Copa do Mundo.

Saí pelas ruas e documentei, no domingo, como as imediações do Kremlin estavam cheias de gente com bandeira. Muitos sul-americanos e um russo.

Ouvi gente que vive aqui. Um diplomata contou que um dia usou uma bandeira no estádio e muita gente se aproximou, pedindo-a de presente. Já um jornalista que mora aqui há alguns anos teve uma experiência diferente. Enrolado na do Brasil, atraiu a hostilidade de alguns transeuntes porque pensavam que era de algum movimento separatista.

Durante o conflito com a Ucrânia, muito possivelmente as pessoas que andassem com a bandeira do país nas ruas de Moscou seriam hostilizadas. Os russos têm uma palavra para isso. Soa mais ou menos assim: “provocacia”. Quer dizer provocação.

Maitê Proença: A bola no centro

- O Estado de S. Paulo

Volto a escrever. Volto? São tantas as opiniões sobre todos os assuntos. Blogs, feices, livros a discorrer, afirmar, atestar, vaticinar, dar a palavra final. Devo? Posso invadir sua praia, sua cabeça abarrotada? Pra onde foram as considerações fundamentadas, o ponderar, a reflexão? E o silêncio? Posso fazer barulho, meter minha pena nesse entulho pra falar, veja só, de futebol?!

Durante quase três anos, fui debatedora de um programa com temática esportiva. O Extra Ordinários estreou na Copa de 2014 inaugurando um conceito divertido: num canal em que os âncoras eram especialistas em esporte trajados com uniforme, o nosso bando era de leigos, vestia-se como queria, e tinha no futebol apenas um pretexto pra falar da vida. Éramos um roqueiro, um historiador, um jornalista e uma atriz, sendo esta a/o mais leiga entre os rapazes.

Até então, meu convívio com nosso tema orbital era diminuto, mas fui pegando jeito, gostando do papo, me entendendo com o assunto e driblando as tecnicalidades com observações subjetivas. Deu caldo. Lá pelas tantas, a coisa ia tão bem que ganhei de Carlos Monte, pai da Marisa, uma marchinha em que figurava como musa do Botafogo. E agora, por ironia, cá estou novamente, em tempo de Copa, a falar da bola.

Acho até que gosto disso. De qualquer forma, não importa minha expertise, sou brasileira e basta; como você, também entendo do riscado.

‘Não falo com Marina há mais de ano’, diz FHC

Sonia Racy | O Estado de S. Paulo

Indagado sobre Marina, FHC avisa: “Não falo com ela nem com os dela há mais de ano e não vejo, por ora, sinais de aproximação entre Marina e PSDB”. Ele enfatiza que seu candidato é Alckmin.

O ex-presidente explica: sua intenção é que se forme um “bloco” para levar adiante as transformações do País – e não montar uma aliança eleitoral.

Marina, diz ele, “inclui-se nesse bloco imaginário”.

Jarbas Vasconcelos: vai apoiar o tucano

Poder em jogo/O Globo

Posição independente

Bombardeado no próprio PSDB, Geraldo Alckmin ganhou o simbólico apoio do deputado Jarbas Vasconcelos, integrante histórico do MDB. Pré-candidato ao Senado por Pernambuco na chapa do governador Paulo Câmara (PSB), ele já avisou que está fora da barca de Henrique Meirelles (MDB), e que vai apoiar o tucano, apesar de o PSDB estar em palanque oposto no estado. Para Jarbas, Meirelles está “inviabilizado” porque parou nas pesquisas. Ele acha que “é muito melhor para o ex-ministro ficar no lugar onde estava”, que é o de técnico.

A escolha do DEM

Poder em jogo | O Globo

O DEM está sem rumo. A candidatura de Rodrigo Maia praticamente interditou o debate interno sobre a eleição presidencial, que agora é inevitável. Sem Maia no páreo, uma ala do partido trabalha para renovar a antiga aliança com o PSDB de Geraldo Alckmin. Há também um crescente número de deputados que flertam com Jair Bolsonaro (PSL).

Uma aliança formal com Bolsonaro não está no cardápio do DEM. Apesar de improvável, devido a diferenças programáticas e ideológicas evidentes, há uma conversa embrionária com Ciro Gomes (PDT).

A intenção do comando do DEM é trabalhar para que haja uma decisão conjunta com Solidariedade, PP e PRB, que vinham formando um bloco sob a liderança de Maia. O PR também pode entrar no grupo.

O partido mandou fazer novas pesquisas sobre a viabilidade do empresário Josué Alencar, uma opção que ainda não foi descartada.

O líder do DEM na Câmara, Rodrigo Garcia (SP), que prega o casamento com o PSDB, diz que o diálogo é importante, mas adianta: “Não precisamos estar ao lado de quem ganha. Precisamos estar do lado certo.”

Para presidente do PSB, apoio a Marina é ‘fake news’

Partido reclama que Rede virou oposição a três governadores socialistas

Catarina Alencastro, Dimitrius Dantas, Fernanda Krakovics, Jeferson Ribeiro e Maria Lima | O Globo

-BRASÍLIA, RIO E SÃO PAULO- Depois de a pré-candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva, ter anunciado que negociava uma aliança com o PSB, o comando do partido reagiu ontem e negou qualquer aproximação. O presidente do PSB, Carlos Siqueira, classificou a afirmação da ex-senadora de fake news, uma possibilidade que não passaria de “sonho” de Marina.

Durante evento na segundafeira, em São Paulo, Marina disse ter aberto conversas com PHS, PMN e PSB. Apesar da declaração, nas últimas semanas o PSB passou a fazer sinais públicos de aproximação à candidatura do pedetista Ciro Gomes.

—É fake news total (a aproximação com Marina). Nós sempre tivemos ótimas relações com a Rede, mas eles decidiram romper com três governadores do PSB de forma unilateral. A Rede passou a ser oposição ao PSB no Distrito Federal, Pernambuco e Paraíba. Por isso, uma aliança não passará de um sonho — diz Carlos Siqueira ao GLOBO.

O PSB está entre o apoio a Ciro Gomes (PDT) e ficar neutro. O partido descarta uma aliança nacional com o PT, que lançou a pré-candidatura do ex-presidente Lula, mesmo preso, ou com Marina Silva (Rede). O martelo deve ser batido no final do mês.

As negociações em Pernambuco serão decisivas. Se o PT abrir mão da pré-candidatura de Marília Arraes para o governo do estado e apoiar a reeleição do governador Paulo Câmara (PSB), aumenta a chance de o PSB não fazer coligação nacional e liberar os diretórios regionais a apoiarem quem quiserem para presidente. Apoiar um nome do PT para presidente, no entanto, não está nos planos do PSB.

Apesar das declarações de Marina, membros da coordenação de campanha disseram ontem que não há negociação em curso com o PSB para uma aliança nacional. O deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) e o dirigente da Rede Balizeu Margarido informaram que as conversas com a sigla são superficiais e mais focadas nos apoios regionais.

Já o PMN é o partido que menos agregaria à campanha de Marina: sem deputados, é um dos que corre risco de ser eliminado pela cláusula de barreira. A Rede está mais próxima do PHS.

Também ontem, Ciro negou, em São Paulo, que esteja em andamento uma negociação de aliança com o DEM. Disse que o PDT conversa apenas com PSB.

Alckmin aproveita má fase de Ciro para se reaproximar do DEM e mudar campanha

Painel | Folha de S. Paulo

Antes tarde do que nunca Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB ao Planalto, vai aproveitar o mau momento da relação do rival Ciro Gomes (PDT) com o DEM para se reaproximar da sigla e do centrão. O tucano terá uma conversa com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), nesta quarta (13). Em outra frente, procurou Paulinho da Força (SD-SP) para agendar um encontro. Por fim, numa tentativa de unir o próprio partido, avisou a aliados que vai montar um grupo para fazer a coordenação política de sua campanha.

Escalação Pelo plano em marcha, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB-GO) e ex-presidentes da sigla, como Alberto Goldman, José Aníbal e Pimenta da Veiga serão chamados a assumir postos de comando na campanha tucana.

Fala muito A decisão amadureceu depois que Alckmin virou alvo de uma série de críticas por ter dado poder a Luiz Felipe d’Ávila, um neófito em grandes arranjos políticos. O coordenador do plano de governo do presidenciável é jocosamente chamado de “poeta” por colegas de partido.

‘FHC é quem mais tem ajudado a unir o centro’, diz Alckmin

Tucano diz que alianças serão formadas nas próximas semanas porque ‘ninguém sabe’ quem são os candidatos’

Paulo Beraldo | O Estado de S. Paulo.

O ex-governador Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, disse ontem que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem auxiliado na missão de unir as pré-candidaturas de centro à Presidência.

“Fernando Henrique, que é muito hábil, tem dito que precisamos unir o que chamou de ‘convergência democrática’. Temos que buscar um bom entendimento e a pessoa que mais tem me ajudado é o Fernando Henrique Cardoso”, disse o ex-governador tucano durante agenda com empresários e políticos em Santa Catarina.

Alckmin afirmou também que a definição das alianças para pré-candidaturas presidenciais deve ocorrer apenas nas próximas semanas. “Ninguém nem sabe quem vai ser candidato.

Tem muito partido dizendo que tem candidato e na ‘hora H’ não vai ter”, disse.

Na segunda-feira passada, o Estado revelou que o movimento suprapartidário apoiado por Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB, que busca viabilizar uma candidatura comprometida com as reformas estruturais, avalia que a ex-ministra Marina Silva, pré-candidata da Rede, poderia se consolidar como alternativa do chamado “centro democrático” na disputa presidencial.

DEM negocia aliança com PDT, Alckmin e Dias

Por Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou ontem que as negociações com o PDT para uma eventual aliança em apoio à candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República não começaram, mas que as portas estão abertas tanto para o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) quanto para o pedetista. Paralelamente, o parlamentar do DEM deve manter as conversas semanais que vem tendo com o pré-candidato do PSDB, o ex-governador Geraldo Alckmin.

"Nem começou a negociação com o PDT. Não temos nenhum problema em dialogar com ele [Ciro]. Temos uma relação histórica com o PSDB e isso tem um peso em qualquer decisão nossa que não seja candidatura própria, mas não tem porque fechar a porta nem para o Alvaro Dias e nem para o Ciro Gomes. Eles são políticos experientes e tem todas as condições de construir uma candidatura vitoriosa e governar o Brasil", disse Maia.

Reservadamente, os caciques do DEM dizem que, diante da ausência de um nome do centro político que empolgue o eleitorado, uma eventual aliança com Ciro passa a ser uma opção concreta. Oficialmente, a legenda seguirá defendendo que há fôlego para a postulação de Maia, mas, nos bastidores, a ordem é que o DEM e seus aliados comecem a se movimentar e busquem um nome competitivo para apoiar na corrida presidencial.

A aliança histórica com os tucanos poderia contribuir para que o DEM batesse o martelo e apoiasse a pré-candidatura de Alckmin, mas, segundo fontes consultadas pelo Valor, outros pontos serão determinantes na decisão do DEM: além de uma candidatura competitiva, os partidos que estão fechados com Maia querem se aliar a um nome que esteja alinhado com a agenda defendida pelo grupo para o país nos próximos quatro anos.

Como Alckmin não cresce nas pesquisas de intenção de voto, Maia e seus aliados teriam demonstrado disposição em conversar com Ciro. Inicialmente, Maia deve tentar uma aproximação com o irmão de Ciro, o ex-governador Cid Gomes, ainda nesta semana. Caso a conversa empolgue o grupo encabeçado pelo parlamentar do DEM, o próximo passo deve ser uma abordagem mais direta ao pedetista.

'Marina não fará aceno à direita ou à esquerda', diz Miro

Por Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - Sem alianças, com poucos recursos e tempo de propaganda em rádio e TV, a ex-senadora Marina Silva (Rede) pode se ver também fragilizada na corrida presidencial pelo discurso ambíguo, mas a tendência é que mantenha o posicionamento sem uma definição clara à esquerda ou à direita. "Não se pode falsificar uma candidatura. Uma candidatura da Marina é assim. Se quiser rotulá-la de direita, você pode. Se quiser vê-la como esquerda, também pode. Não temos essa aflição de nos revelarmos com esses símbolos anacrônicos", afirma Miro Teixeira, decano da Câmara dos Deputados.

No meio do caminho, Marina Silva corre o risco de ser atropelada por Ciro Gomes (PDT), que prepara uma transposição de sua candidatura da esquerda para a direita. A ex-senadora está numericamente à frente do ex-governador do Ceará nas pesquisas eleitorais - o superou em quatro e cinco pontos percentuais nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na pesquisa Datafolha divulgada no fim de semana. Mas Ciro trabalha fortemente para ganhar musculatura e estrutura de campanha. Articula uma aliança com partidos do Centrão - bloco de legendas de centro-direita - diante da possibilidade do desejado PSB, à esquerda, fechar aliança com o PT. "Isso mostra como está defasada a questão de esquerda e direita", diz Miro Teixeira.

Para o deputado, o mais provável é que o PSB acerte mesmo uma aliança nacional com os petistas. "A situação em Pernambuco tende muito a levar o PSB a fazer uma aliança com o PT. Houve uma deliberação do diretório nacional do PT dizendo que a prioridade é a eleição presidencial, à qual os Estados estão subordinados. Com isso, o PT de Pernambuco apoiará o [governador] Paulo Câmara. Isso sugere que se prepara uma grande aliança nacional entre os dois partidos", diz. O apoio do PT em Pernambuco, com a retirada da pré-candidatura ao governo estadual da vereadora Marília Arraes, é um dos principais pontos para se resolver a aliança nacional.

Mariza: Há uma música do povo (Poema do Fernando Pessoa)



Há uma música do Povo,
Nem sei dizer se é um Fado –
Que ouvindo-a há um ritmo novo
No ser que tenho guardado…

Ouvindo-a sou quem seria
Se desejar fosse ser…
É uma simples melodia
Das que se aprendem a viver…

Mas é tão consoladora
A vaga e triste canção…
Que a minha alma já não chora
Nem eu tenho coração…

Sou uma emoção estrangeira,
Um erro de sonho ido…
Canto de qualquer maneira
E acabo com um sentido!

Fernando Pessoa: Hoje faria 130 anos

Livro do Desassossego

"O sonhador não é superior ao homem ativo porque o sonho seja superior à realidade. A superioridade do sonhador consiste em que sonhar é muito mais prático que viver, e em que o sonhador extrai da vida um prazer muito mais vasto e muito mais variado do que o homem de ação. Em melhores e muito mais diretas palavras, o sonhador é que é o homem de ação.

Sendo a vida essencialmente um estado mental, e tudo, quanto fazemos ou pensamos, válido para nós na proporção em que o pensamos válido, depende de nós a valorização.

O sonhador é um emissor de notas, e as notas que emite correm na cidade do seu espírito do mesmo modo que as da realidade."

Fernando Pessoa: Insônia

Não durmo, nem espero dormir.
Nem na morte espero dormir.

Espera-me uma insônia da largura dos astros,
E um bocejo inútil do comprimento do mundo.

Não durmo; não posso ler quando acordo de noite,
Não posso escrever quando acordo de noite,
Não posso pensar quando acordo de noite —
Meu Deus, nem posso sonhar quando acordo de noite!

Ah, o ópio de ser outra pessoa qualquer!

Não durmo, jazo, cadáver acordado, sentindo,
E o meu sentimento é um pensamento vazio.
Passam por mim, transtornadas, coisas que me sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que me não sucederam
— Todas aquelas de que me arrependo e me culpo;
Passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada,
E até dessas me arrependo, me culpo, e não durmo.

Não tenho força para ter energia para acender um cigarro.
Fito a parede fronteira do quarto como se fosse o universo.
Lá fora há o silêncio dessa coisa toda.
Um grande silêncio apavorante noutra ocasião qualquer,
Noutra ocasião qualquer em que eu pudesse sentir.

Estou escrevendo versos realmente simpáticos —
Versos a dizer que não tenho nada que dizer,
Versos a teimar em dizer isso,
Versos, versos, versos, versos, versos...
Tantos versos...
E a verdade toda, e a vida toda fora deles e de mim!

Tenho sono, não durmo, sinto e não sei em que sentir.
Sou uma sensação sem pessoa correspondente,
Uma abstração de autoconsciência sem de quê,
Salvo o necessário para sentir consciência,
Salvo — sei lá salvo o quê...

Não durmo. Não durmo. Não durmo.
Que grande sono em toda a cabeça e em cima dos olhos e na alma!
Que grande sono em tudo exceto no poder dormir!

Ó madrugada, tardas tanto... Vem...
Vem, inutilmente,
Trazer-me outro dia igual a este, a ser seguido por outra noite igual a esta...
Vem trazer-me a alegria dessa esperança triste,
Porque sempre és alegre, e sempre trazes esperança,
Segundo a velha literatura das sensações.

Vem, traz a esperança, vem, traz a esperança.
O meu cansaço entra pelo colchão dentro.
Doem-me as costas de não estar deitado de lado.
Se estivesse deitado de lado doíam-me as costas de estar deitado de lado.
Vem, madrugada, chega!

Que horas são? Não sei.
Não tenho energia para estender uma mão para o relógio,
Não tenho energia para nada, para mais nada...
Só para estes versos, escritos no dia seguinte.
Sim, escritos no dia seguinte.
Todos os versos são sempre escritos no dia seguinte.

Noite absoluta, sossego absoluto, lá fora.
Paz em toda a Natureza.
A Humanidade repousa e esquece as suas amarguras.
Exatamente.
A Humanidade esquece as suas alegrias e amarguras.
Costuma dizer-se isto.
A Humanidade esquece, sim, a Humanidade esquece,
Mas mesmo acordada a Humanidade esquece.
Exatamente. Mas não durmo.