Alta no crédito deve ser encarada com cautela
O Globo
Brasil não alcançará crescimento sustentado
com base no consumo, mas no investimento e no equilíbrio fiscal
A alta no crédito ao consumidor vem sendo
apresentada como uma das notícias econômicas positivas do primeiro trimestre. A
concessão de empréstimos para comprar bens cresceu 18% no período de 12 meses
encerrados em fevereiro, maior patamar dos últimos cinco anos. Embora haja bons
motivos para comemorar o feito, o governo deveria tomar cuidado para não chegar
a conclusões erradas. Em administrações anteriores do PT, acreditou-se que
bastava irrigar a economia com dinheiro barato para fazer o PIB crescer. O que
se viu foi uma expansão insustentável. Se não aprender com os erros do passado,
o governo arrisca cair na mesma armadilha.
O recente salto no crédito tem múltiplas causas. Com a queda da inflação e dos juros, os consumidores hoje pagam menos pelos empréstimos. O desemprego em queda, a renda em alta e o programa Desenrola permitiram que sustassem velhas dívidas e pudessem contrair novas. Quatro em dez brasileiros dizem estar dispostos a ampliar gastos com bens como móveis ou eletrodomésticos nos próximos 12 meses, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Os efeitos deverão se fazer sentir mais no segundo semestre. Esse é um dos fatores que têm elevado as previsões de crescimento da economia para 2024. Analistas ouvidos pelo Banco Central preveem hoje um PIB 1,9% maior neste ano (há quatro semanas, a previsão era 1,8%).