Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sexta-feira, 15 de janeiro de 2021
Merval Pereira - Dia D +
Eliane Cantanhêde - À Fiocruz e ao Butantã, tudo!
Sobrevivente
das perseguições, Fiocruz pode dar a primeira foto da vacina a Bolsonaro
A Fiocruz foi
salva da sanha bolsonarista pelo gongo, ou melhor, pela pandemia,
e por essas ironias do destino passou a ser crucial para o presidente Jair
Bolsonaro e sua obsessão em começar a vacinação contra
a covid-19, mesmo que apenas simbolicamente, antes do governador de São
Paulo, João Doria. De perseguida, a Fiocruz passou a ser a salvação
da lavoura presidencial.
Useiro e vezeiro em perseguir instituições de excelência, em praticamente todas as áreas, Bolsonaro deu aval ao ataque do então ministro Osmar Terra à Fiocruz, logo no primeiro semestre do governo, em 2019. Médico e deputado federal em sexto mandato, Terra cismou com uma pesquisa da Fiocruz que custou R$ 7 milhões, envolveu três anos, 500 pesquisadores e 16 mil entrevistados e concluiu que não havia epidemia de drogas no Brasil.
“Não confio nessa pesquisa da Fiocruz”, disse ele sobre um dos orgulhos nacionais, reconhecido no mundo inteiro. Como não confirmava suas certezas pessoais, só podia ser coisa de esquerdistas. E, assim como crê em epidemias fantasiosas, ele nega a pandemia real – e faz a cabeça do presidente. O Ministério da Saúde alertava para 180 mil mortos em dezembro de 2020. Terra apostou em 4 mil e manteve o desdém mesmo depois de contaminado, com sete dias de UTI e 80% do pulmão comprometido.
César Felício - A ditadura dos fatos
Presidente
da Câmara pode muito, mas não tudo
Presidente
da Câmara entre 2005 e 2007, o ex-deputado Aldo Rebelo jogou um papel
importante na sobrevivência do governo Lula ao mensalão. Em dois meses de
crise, a administração petista estava nas cordas, até que Severino Cavalcante,
que comandava a casa legislativa dos deputados, foi denunciado por receber
propina de um cantineiro. Ele renunciou e Aldo bateu o oposicionista José
Thomaz Nonô em uma disputa apertadíssima. Não se falou mais em impeachment de
Lula.
O
impeachment de Dilma Rousseff tornou-se um assunto no país assim que Eduardo
Cunha foi eleito presidente da Câmara por 367 votos, derrotando Arlindo
Chinaglia, em fevereiro de 2015. A correlação entre os fatos de 2005 e 2015 é
irresistível. Muito mais que garantir avanço de agenda de governo, que na
realidade não existe, o presidente da Câmara dá ou tira blindagem.
Distante hoje do calor dos fatos, Aldo é reverente a eles. O ex-deputado, por muitos anos integrante do Partido Comunista do Brasil, reconhece o protagonismo da presidência da Câmara como escudo ou espada, mas lembra dos limites nesta ação. “O presidente da Câmara pode muita coisa, mas muito mais podem os fatos. O avanço de um impeachment ou o seu bloqueio depende de circunstâncias políticas. Não acho que o presidente Jair Bolsonaro obterá proteção absoluta.”
Luiz Carlos Azedo - Pra chamar de nossas
Há uma
revolução na produção de vacinas. Essa é a notícia boa. A notícia ruim é o
que está acontecendo em Manaus, onde o SUS entrou em colapso por falta de
oxigênio
A
guerra das vacinas entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Doria
é como um copo pela metade: de um lado, gera muita desinformação sobre
imunização da população; de outro, promove uma corrida para ver quem vai
vacinar primeiro. Entretanto, vamos tratar das vacinas que estão sendo
produzidas no Brasil, tanto pelo Instituto Butantan quanto pela Fiocruz, que
são as que vão resolver o nosso problema. A Sociedade Brasileira de Imunologia
(SBI) divulgou nota na qual esclareceu que os estudos realizados para testagem
de diferentes imunizantes utilizaram critérios distintos.
Por exemplo, no estudo da americana Moderna, foram considerados dois sintomas de um grupo formado por febre, arrepios, dor no corpo, dor de cabeça, dor de garganta, perda de olfato ou paladar com diagnóstico viral confirmado ou um sintoma grave, como falta de ar, tosse, diagnóstico radiológico como casos de covid-19. Ou seja, dois sintomas leves ou um sintoma grave. No estudo da AstraZeneca (Oxford), um sintoma do grupo formado por febre, tosse, falta de ar, perda de olfato ou paladar; ou seja, a maioria sintomas leves, mais um grave (falta de ar), para fechar o diagnóstico.
Ricardo Noblat - O Dia D+1: a opção preferencial do governo pela morte
Negacionismo
suicida
A
Amazônia é nossa. Mas o oxigênio que falta nos hospitais de Manaus por incúria
dos governos estadual e federal pode ser venezuelano ou brasileiro, a ser
transportado por aviões da Força Aérea dos Estados Unidos. Em breve, chegará
por lá a vacina da Universidade de Oxford importada da Índia. A conferir,
porém.
Um
Boeing da companhia Azul decolou, ontem à noite, de São Paulo para o Recife.
Está previsto que na madrugada de amanhã decole com destino a Nova Deli para
buscar 2 milhões de doses da vacina inglesa. Ocorre que o porta-voz do
Ministério das Relações Exteriores da Índia pôs em dúvida a entrega da
encomenda.
Anurag
Srivastava afirmou que “é muito cedo” para dar respostas sobre exportações
das vacinas produzidas no país, já que a campanha nacional de imunização ainda
está só começando. A declaração foi dada em resposta a perguntas de jornalistas
sobre o que o governo brasileiro dava como certo.
Sem tirar nem pôr, o que disse Serivastava à imprensa internacional: “O processo de vacinação está apenas no começo na Índia. É muito cedo para dar uma resposta específica sobre o fornecimento a outros países, porque ainda estamos avaliando os prazos de produção e de entrega. Isso pode levar tempo”.
Bruno Boghossian – Rastro de delinquência
Asfixia da saúde em Manaus é fracasso grosseiro de governos na pandemia
A
asfixia da rede de saúde de
Manaus é o retrato mais grosseiro do fracasso do país no
combate à pandemia. O governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), soube há uma
semana que teria problemas no fornecimento de oxigênio. O estado enfrenta uma
disparada de internações por Covid-19, mas ele disse ao site O Antagonista que
foi surpreendido pelo esgotamento do material.
A tragédia nacional é fruto da incompetência extraordinária, da falta de senso de emergência, do desprezo pela vida e da covardia de muitos governantes. No fim de 2020, Lima viu hospitais cheios e determinou o fechamento do comércio para conter o alastramento do vírus. Acuado por protestos fomentados por políticos bolsonaristas, o governador desistiu e mandou reabrir as lojas.
Hélio Schwartsman - Papelão
A
patacoada do instituto é um desserviço à ciência
A necessidade do "fair play" não está restrita à política. Ela é ainda mais vital na ciência. Se pesquisadores fraudam ou embelezam os dados de seus trabalhos, minam a confiança na própria comunicação da ciência, que é o que a viabiliza como atividade colaborativa e cumulativa.
Ruy Castro - Sugestões no vazio
É
inútil sugerir ao homem mais poderoso do mundo que se mate; ele nem leva em
consideração
No
domingo último (10), este colunista sugeriu ao presidente Donald Trump que, por
sua incapacidade de aceitar a derrota nas urnas de seu país —de aceitar ser um
perdedor—, fizesse como Getulio Vargas, que, ao também se ver diante do
fim, matou-se e
passou à história como um mártir. Se Trump fizesse o mesmo, muitos americanos
que o detestam começariam a vê-lo com simpatia. Até este momento, no entanto,
Trump nem considerou minha sugestão.
Realmente, há um quê de patafísico em um colunista brasileiro, escrevendo em código --a língua portuguesa--, oferecer tal conselho ao homem mais poderoso do mundo. Como era natural, Trump me ignorou, e Jeff Rosen, seu ministro da Justiça, poupou-se do ridículo de vir em cima de mim. Os horrores que Rosen escuta sobre seu chefe por todas as mídias dos EUA são mil vezes piores, e mesmo contra esses ele nada pode fazer, porque a Constituição americana garante a liberdade de opinião.
Tirar poder de governadores sobre polícias é ‘retrocesso inaceitável’, diz Celso de Mello
Para ministro aposentado, há conflito com princípio federativo; magistrados também encaram projetos de reorganização das forças policiais com preocupação
BRASÍLIA - O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello disse ao Estadão que os projetos de lei que tiram poder de governadores sobre polícias são um "retrocesso inaceitável". Uma das vozes mais contundentes do cenário nacional em defesa da Constituição e das liberdades individuais, o ex-decano do Supremo abriu mão do silêncio que marca sua postura desde a aposentadoria, em outubro do ano passado, para criticar a proposta que prevê mandato de dois anos para os comandantes-gerais e delegados-gerais e impõe condições para que eles sejam exonerados antes do prazo.
"A padronização nacional dos organismos policiais estaduais, com expressiva redução do poder e competência dos Estados-membros, se implementada, traduzirá um ato de inaceitável transgressão ao princípio federativo", disse Celso de Mello à reportagem. "Não se pode ignorar que a autonomia dos Estados-membros representa, em nosso sistema constitucional, uma das pedras angulares do modelo institucional da Federação. Qualquer proposição legislativa que tenda à centralização em torno da União Federal, com a consequente minimização da autonomia estadual, significará um retrocesso inaceitável em termos de organização federativa."
Bolsonaro “gosta do cheiro da morte” e lidera “mar de incompetência”, diz Doria
Por
André Guilherme Vieira / Valor Econômico
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, João Doria (PSDB) subiu o tom e afirmou ontem, em live do Valor, que o presidente Jair Bolsonaro conduz um governo “que defende a morte, gosta do cheiro da morte” e que o Brasil por ele liderado é “um mar de incompetência”. Para Doria, o país se converteu em “um conjunto de fracassos” capitaneado por “um pária internacional” e o presidente “retardou de forma hostil e desumana” o início da vacinação em todo o território nacional.
Doria
também criticou os empresários que se mostram constantemente alinhados a
Bolsonaro.“O distanciamento do governo o afasta da atividade produtiva. Aliás,
para não dizer que o afasta, apenas aqueles que gostam de ser solidários e
puxa-sacos do governo é que ficam lá tomando café da manhã com o presidente
Jair Bolsonaro”.
Na
avaliação do governador, os “verdadeiros líderes da indústria brasileira e de
outros setores” estão sozinhos. “Porque não têm diálogo com o governo federal,
nem uma política pública adequada para atrair investimentos internacionais,
promover o desenvolvimento do país”.
As declarações do governador de São Paulo, potencial candidato à Presidência da República em 2022 e um dos principais adversário político de Bolsonaro, foram feitas ao longo dos 43 minutos e 10 segundos de conversa, na qual elencou uma série de erros e falhas que atribuiu ao presidente.
Biden anuncia novo pacote de estímulo, de US$ 1,9 tri
Por
Richard Rubin e Eliza Collins — Dow Jones Newswires / Valor Econômico
O
presidente eleito dos EUA, Joe Biden, propôs ontem um plano de US$ 1,9 trilhão
para ajudar os americanos a resistir ao choque econômico provocado pela
pandemia de covid-19 e injetar mais dinheiro em testes e distribuição de
vacinas.
Em
discurso na noite de ontem, Biden anunciou as prioridades dos primeiros dias de
seu governo relacionadas à pandemia. Ele pediu ao Congresso que endosse uma
rodada de pagamentos diretos de US$ 1.400 por pessoa para a maioria das
famílias do país, uma suplementação do seguro-desemprego de US$ 400 por semana
até setembro, a extensão das licenças remuneradas e aumentos no valor de
dedução por filhos menores no imposto de renda. O auxílio para famílias é cerca
de metade do custo do plano, e grande parte do restante irá para a distribuição
da vacina e em ajuda para governos estaduais e municipais.
A
posse de Biden está marcada para a próxima quarta-feira, em um momento em que o
número de mortes causadas pelo vírus chegou a 4.000 por dia e os americanos
lidam com as consequências econômicas do fechamento persistente de empresas e
escolas. O Senado também deve julgar o impeachment do presidente Donald Trump,
que foi aprovado pela Câmara pela segunda vez.
Biden quer que o Congresso aja rapidamente para lidar com o que considera uma emergência nacional. O plano inclui algumas ideias que já tinham sido apresentadas pelos democratas no Congresso e pela campanha de Biden, mas foram rejeitadas pelos republicanos, e não está claro que partes podem ser aprovadas e quando os parlamentares tomarão uma decisão.
Míriam Leitão - Sobram farrapos da fantasia liberal
Eu
conto ou vocês contam ao ministro Paulo Guedes que o projeto dele acabou? Nunca
teve viabilidade com o atual presidente, na verdade. Guedes embarcou numa canoa
na qual não havia espaço para as ideias liberais. Ele sofre vetos diários às
suas propostas e tem engolido em seco. Não privatizou, não reduziu barreiras ao
comércio, exceto de armas, não diminuiu o tamanho do Estado. Seus assessores,
ou gestores nomeados por ele, de vez em quando ficam no dilema entre a demissão
ou ser humilhado pelo presidente Bolsonaro. Tudo o que conseguir agora será
prêmio de consolação.
Claudia Safatle - Guedes se prepara para voltar às suas propostas
Entre fevereiro e setembro governo quer aprovar reformas
O
silêncio da área econômica do governo neste início de ano tem explicação e data
para acabar. Trata-se da decisão de preservar a agenda de medidas a serem
tomadas ao longo do ano da influência da campanha eleitoral para as mesas
diretoras da Câmara e do Senado, que ocorre no início de fevereiro.
A
estratégia é, tão logo esteja resolvida a disputa pelo comando das duas Casas,
apresentar o que pode ser chamado de um programa de governo para os últimos
dois anos de Jair Bolsonaro.
Com
foco no emprego e na renda, ele terá o ajuste fiscal como meio e a lei do teto
para o gasto como âncora.
Na
pauta do Congresso, a pasta da Economia realça a Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) Emergencial, que cria os gatilhos a serem acionados para
garantir o cumprimento da lei que estabelece o teto de gastos; e, também, a PEC
da reforma administrativa.
A
intenção da área econômica é resgatar todos os assuntos que vêm sendo
discutidos desde o primeiro ano desta gestão. Vários deles tiveram, inclusive,
a oposição do próprio presidente da República.
Do
lado da expansão da oferta de emprego, a ideia do ministro Paulo Guedes é de
voltar a defender a desoneração da folha de salários de forma horizontal. Para
tal, ele precisará encontrar novas receitas e deverá retomar a proposta de
criação de um Imposto sobre Transações destinado a financiar as despesas com a
seguridade social. Feita a desoneração, o governo tentaria, de novo, emplacar a
Carteira de Trabalho Verde e Amarela, cuja contratação não carregaria os
encargos trabalhistas existentes hoje.
A última proposta de que se tem notícia seria cobrar uma alíquota de 0,2% a 1% sobre as transações financeiras em forma de uma escadinha: uma alíquota de 0,2% permitiria reduzir a carga tributária sobre folha de pagamento dos atuais 20% para 13%.
José de Souza Martins* - Revolução em surdina
O
sistema agrícola agroflorestal quebra paradigmas das práticas agrícolas e
desafia os valores obsoletos, com desdobramentos no modo de conceber o ser
humano e a vida.
Uma
revolução social está ocorrendo no Brasil. Destaco a rápida e irresistível
disseminação do chamado sistema agrícola agroflorestal. Trata-se de uma
revolução porque quebra paradigmas de conhecimento e de práticas agrícolas e
desafia os valores obsoletos, os modos de ser, de trabalhar, de produzir, com
desdobramentos no modo de conceber o ser humano e a vida.
Revolução
porque redefine a função do dinheiro na vida das pessoas, inverte prioridades e
funções em seu uso, suprime a necessidade de insumos químicos no cultivo. A
agricultura convencional, especialmente a de grande escala, apesar de suas
irracionalidades e das degradações sociais e ambientais que promove, baseia-se
no primado do capital.
O
sistema agroflorestal baseia-se no primado do trabalho. Seus pressupostos e
orientações são científicos e contraculturais. Restauram e utilizam o
conhecimento que foi desvalorizado e descartado pela agricultura desvinculada
do amor à terra.
O sistema agroflorestal propõe a redescoberta da linguagem de conversação entre o homem e a terra. Nele, o homem não é dono. É auxiliar da natureza. É significativo que os agricultores que optam por esse sistema reformulem sua sociabilidade de vida e de trabalho ao adotar formas comunitárias e condominiais no uso da terra e de partilha de seus frutos.
Sérgio Amaral*- O que restará do trumpismo?
Ainda
é cedo para avaliar o futuro da onda nacional-populista de que Trump é o
principal expoente
Em
3 de novembro, Donald Trump perdeu a eleição para a Presidência dos Estados
Unidos e os republicanos foram vencidos na Câmara dos Representantes. Na
Geórgia, mais recentemente, os democratas conquistaram a maioria no Senado. As
vitórias eleitorais dos democratas propiciam a Joe Biden uma base sólida para a
execução de um ambicioso programa de governo, tanto no plano interno quanto no
internacional.
No
dia 6 de janeiro, Trump sofreu uma segunda derrota, desta vez em seu próprio
partido, pela decisão de algumas de suas principais lideranças, como o vice,
Mike Pence, e o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, em aprovar a
certificação dos delegados eleitos para o Colégio Eleitoral, como é legal e de
praxe, ao contrário do que pretendia o presidente.
A
ocupação do Capitólio, ostensivamente incentivada por Trump e membros de sua
família, provocou o repúdio da opinião pública, por representar um atentado ao
maior símbolo da democracia americana. E, como se não bastasse, mídias sociais
decidiram suspender o acesso do presidente a suas plataformas, sob a alegação
de incentivo à violência. Ainda que os motivos possam ser louváveis, não deixa
de ser insólito que uma empresa privada possa censurar o presidente de um
Estado.
Trump deixa a Casa Branca abatido e desmoralizado. As próximas pesquisas de opinião poderão estimar quantos na sociedade, e especialmente em seu próprio partido, deixaram de apoiá-lo. Diante desse cenário incerto e turbulento, resta saber o que ocorrerá com Partido Republicano e com o trumpismo no novo capítulo político que se inicia com a posse de Biden.
Nelson Motta - Livros que mudam vidas
Têm
o poder de provocar transformações em nossa razão e sentimento
Advogado,
professor e apaixonado por literatura, José Roberto de Castro Neves teve uma
ideia luminosa em tempo de trevas: convidou 60 artistas, jornalistas,
cientistas e profissionais consagrados de várias gerações para escrever sobre o
livro que mudou suas vidas. Todo mundo tem um, que foi decisivo em sua
formação, pelo encontro com um mundo de ficção que mudou de verdade seus
valores, sonhos e ambições, marcando sua história pessoal pela emoção e pela
razão, num momento de transição e descoberta de novos mundos entre o real e o
imaginário.
O melhor da literatura é que, ao contrário da música, do teatro, do cinema e da dança, quando somos espectadores passivos, cada leitor cria suas próprias imagens e sons de personagens, cenários e ações, diferentes dos de todos os outros leitores, fazendo de cada um coautor de um livro que só ele leu.
Cora Rónai - As redes sociais concentram poder demais
Sua
ação trouxe à luz o debate que, há tempos, elas tentam evitar
O
presidente dos Estados Unidos é, em tese, o homem mais poderoso do mundo. Entre
outras coisas, ele tem acesso a um aparato de comunicação sem igual:
jornalistas das principais organizações de mídia do planeta cobrem a Casa
Branca 24 horas por dia, ávidos por ver o que faz e ouvir o que tem a dizer.
Seu nome é pronunciado incontáveis vezes por dia em boa parte dos 7.117 idiomas
falados por seres humanos. O que não lhe falta é palanque. Mas Donald J. Trump
considera-se mudo sem as suas redes sociais — e, de certa forma, está mudo
mesmo.
Ele
foi expulso da ágora contemporânea, da praça onde se travam hoje as discussões,
onde se marcam encontros informais e ataques terroristas, passeatas e golpes de
Estado.
Não tem mais conta no Twitter, e suas contas no Facebook, no Instagram, no Snapchat e até no Shopify e Pinterest estão suspensas. O Parler ainda o tolera — mas a rede foi banida das lojas do Google e da Apple e, mais importante, dos servidores da Amazon, o que a tirou efetivamente do ar.
O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais
Enfim,
o governo federal parece dar-se conta de que, para superar a pandemia do novo
coronavírus, não há elixir mágico e é preciso vacinar a população.
Enfim, o governo federal parece dar-se conta de que, para superar a pandemia do novo coronavírus, não há elixir mágico e é preciso vacinar a população. Segundo o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a vacinação contra a covid-19 deverá começar na próxima quarta-feira, dia 20.
Talvez
esse longo e tortuoso processo para o início da vacinação tivesse sido um pouco
mais breve e retilíneo – gerando menos apreensão na população –, se o
presidente Jair Bolsonaro e o intendente Eduardo Pazuello tivessem assimilado
uma das habilidades previstas para o 7.º ano do Ensino Fundamental na Base
Nacional Comum Curricular. Trata-se de documento de caráter normativo que
define as aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao
longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
A
décima habilidade prevista na área de ciências para alunos do 7.º ano (12 anos)
é “argumentar sobre a importância da vacinação para a saúde pública, com base
em informações sobre a maneira como a vacina atua no organismo e o papel
histórico da vacinação para a manutenção da saúde individual e coletiva e para
a erradicação de doenças”. A Base Nacional Comum Curricular, na parte referente
ao Ensino Fundamental, foi aprovada em 2017.
De fato, parece que Jair Bolsonaro e Eduardo Pazuello tiveram dificuldades com a habilidade prevista para a garotada de 12 anos. Ao longo dos últimos meses, por exemplo, trabalharam como se não soubessem que a vacinação contra a covid-19 exige seringa e agulha. Agora, no entanto, parecem ter finalmente captado que a população quer a vacina. E desejam transformá-la em um grande palanque eleitoral.
Zé Kéti completa 100 anos como a voz do morro e muito mais
Silvio Essinger / O Globo
RIO
- Pergunte sobre Zé Kéti a quem é do samba: a resposta pode se estender por
horas. Natural do Rio de Janeiro, o cantor e compositor, que morreu em 1999,
deixou uma obra que serviu a intérpretes do quilate de Luiz Melodia, Nara Leão,
Jair Rodrigues, Jamelão, Paulinho da
Viola e Elza Soares.
E foi um dos grandes personagens da cultura brasileira do século XX, ao ajudar
a aproximar morro e asfalto no musical “Opinião” (1964, de Augusto Boal), e
participar de obras fundamentais do cinema nacional como “Rio 40 graus”,
de Nelson
Pereira dos Santos. No filme, de 1955, Kéti fez de tudo um pouco
—foi ator, forneceu músicas para a trilha e cozinhou para a equipe de filmagem.
—
O Zé Kéti é um compositor brasileiro que merecia ser mais observado, porque tem
uma obra popular vastíssima e sucessos impressionantes, como “Mascarada”, “Diz
que fui por aí”, “Nega Dina”... e, é claro, “A voz do morro” (dos versos “eu
sou o samba / a voz do morro sou eu mesmo, sim, senhor), que é até hoje o
grande número final do shows de samba — diz o fundador do Samba do Trabalhador,
Moacyr Luz.
O
músico é uma das estrelas da série de shows “100 anos da voz do morro”, que
acontece de quinta a domingo no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio
para celebrar o centenário do artista (que se completa em 16 de setembro).
Segundo Geisa Ketti, filha, guardiã e inventariante da obra de Zé Kéti, a iniciativa da produtora Stella Lima, encampada pelo CCBB, será uma das poucas homenagens que o pai deve receber neste ano do centenário.
— Em 2020, iniciamos um documentário com o meu irmão José Carlos, mas ele veio a falecer em maio, vítima de Covid, e tudo parou — lamenta. — No final do ano nós começamos a nos mobilizar com alguns amigos para iniciar a construção de um site que provavelmente vamos conseguir lançar em fevereiro. Estamos à cata de depoimentos e de fotos. E chamamos amigos do Brasil todo, de Portugal e da Argentina para fazerem rodas de samba em homenagem a Zé Kéti.
Poesia | Manuel Bandeira - O bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.