domingo, 28 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA - Eduardo Graeff: plebiscito

Dilma não vai cortar ministérios nem demitir ministros incompetentes. Por que ela não propõe um plebiscito sobre isso?

Eduardo Graeff, economista, no Twitter, 26 de julho de 2013

'Futuro exige reabilitar a política', diz Francisco

O papa Francisco pediu ontem "reabilitação" da política, a defesa da ética e apela para que dirigentes e manifestantes "dialoguem de forma construtiva", para erguer uma sociedade mais justa. O pontíficie alertou que não há como pensar uma nação democrática sem a contribuição das "energias morais", em referência à pressão das ruas. O papa deu seu recado à classe política no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Estavam presentes ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e Moreira Franco (Secretaria de Aviação Civil), alguns deputados estaduais e ex-ministros. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, e o governador, Sérgio Cabral, não compareceram

Papa defende reabilitação da política e pede diálogo com manifestantes

Jamil Chade

RIO - O papa Francisco pede a "reabilitação" da política, a defesa da ética e apela para que dirigentes e manifestantes "dialoguem de forma construtiva" para erguer uma sociedade mais justa. O pontífice falou a políticos e empresários, ontem, no Tfieatro Municipal do Rio, e alertou: não há como pensar uma nação democrática sem a contribuição das "energias morais" - uma referência direta à pressão das ruas.

"Temos de reabilitar a política, que é uma das formas mais altas da caridade. O futuro exige de nós uma visão mais humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza", afirmou Francisco. No local estavam o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, políticos e empresários. Mas nem o prefeito do Rio, Eduardo Paes, nem o governador Sérgio Cabral foram ao encontro.

O evento havia sido originalmente planejado como uma oportunidade para que políticos se encontrassem com o papa, quando a viagem ainda estava sendo organizada no pontificado de Bento XVI. Mas Francisco, ao assumir o Vaticano, optou por abri-lo a todos os dirigentes da sociedade. Em seu discurso, ele evitou endossar as políticas de combate à pobreza do governo, como Brasília esperava.

Mas, de uma forma diplomática, também não deu espaço para que a oposição o utilize como uma espécie de cabo eleitoral. "A mensagem foi para todos", dizia um dos cardeais que acompanham o papa. Ele insistiu em falar de ética aos políticos nacionais, pedindo "humildade social". Para o Vaticano, ess foi a forma diplomática que ele encontrou para tratar da corrupção, sem ter de citar a palavra. "Somos responsáveis pela formação de novas gerações, capacitadas na economia e na política, e firmes nos valores éticos", apontou. Ele ainda pediu um país que se desenvolva "no pleno respeito dos princípios éticos fundados na dignidade transcendente da pessoa".

Francisco, que chegou a colocar um cocar, foi além: "Quem atua responsavelmente, submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus". Em outra palavras, quem não segue essa linha será julgado por Deus. Na avaliação do santo padre, uma real liderança tem de ser "justa". "A liderança sabe escolher a mais justa entre as opções, após tê-las considerado, partindo da própria responsabilidade e do interesse pelo bem comum; esta é a forma para chegar ao centro dos males de uma sociedade e vence-los com a ousadia de ações corajosas."

Diálogo. O papa ainda foi claro em relação ao momento de protesto que o Brasil vive e defendeu o diálogo. "Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo", declarou Francisco, em uma referência às manifestações nas ruas. "O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade", indicou. "Um país, cresce quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais: cultura popular, cultura universitária, juvenil, artística e tecnológica, cultura econômica e cultura familiar e cultura da mídia", apontou.

Sua simpatia em relação aos manifestantes também ficou clara no discurso. "É impossível imaginar um. futuro para a sociedade sem uma vigorosa contribuição das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura lógica da representação dos interesses constituídos."

Laico. Num trecho do discurso muito aplaudido, o pontífice ainda defendeu o caráter laico do Estado, como maneira de garantir que todos possam praticar sua fé. "Será fundamental para a sociedade a contribuição das grandes tradições religiosas, que desempenham um papel fecundo de fermento, da vida social e de animação da democracia. Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a laicidade do Estado. Só assim pode crescer o bom entendimento entre as culturas e as religiões."

Recado
"O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza."
Francisco

Fonte: O Estado de S. Paulo

Papa prega diálogo contra protestos violentos

Pontífice defende reabilitação da política antes de reunir 3 milhões de fiéis em Copacabana

Um recado aos políticos

Papa fala pela primeira vez sobre protestos e defende "diálogo construtivo" como solução

Chico Otavio, Cristina Tardáguila, Débora Berlinck e Henrique Gomes Batista

O Papa e as novas gerações. Francisco cercado, no palco do Municipal, por jovens alunas da escola de balé do teatro. Em seu discurso, o Pontífice elogiou a "originalidade dinâmica" da cultura brasileira, com sua capacidade de integração

No penúltimo dia de sua visita ao Brasil, o Papa Francisco subiu ontem ao palco do Teatro Municipal do Rio e, pela primeira vez, falou abertamente sobre a onda de protestos que abala o país desde junho. No mais forte pronunciamento de toda a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o Pontífice pediu às lideranças locais que apostem no "diálogo construtivo" e, improvisando no discurso, afirmou que "o futuro exige a tarefa de reabilitar a política".

- Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre possível: o diálogo - ressaltou o Papa, para cerca de dois mil convidados.

Não se viam nas frisas do teatro, porém, autoridades dos governos federal, estadual e municipal.

Nos 14 minutos em que discursou, sempre falando em espanhol e olhando para um público bem vestido, da classe média alta carioca, Francisco defendeu uma economia mais humana, que evite elitismos e erradique a pobreza. E defendeu ainda a importância do Estado laico, justamente em um momento em que a pressão religiosa avança sobre governantes e congressistas brasileiros.

- A pacífica convivência entre religiões diversas se vê beneficiada pela laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita e valoriza a presença da dimensão religiosa na sociedade, favorecendo suas expressões concretas.

Mantendo o tom político, Francisco lamentou também que o "sentido ético" apareça hoje "como um desafio histórico sem precedentes" e lembrou que aqueles que "desempenham a função de guia" são "os responsáveis pela formação das novas gerações, por capacitá-las na economia e na política, e também nos valores éticos".

A força do discurso de Francisco repercutiu na JMJ. Na tarde de ontem, o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, convocou uma coletiva e afirmou que o pronunciamento marcou de forma definitiva o início do Pontificado do primeiro jesuíta e do primeiro latino-americano.

- Falar em reabilitar a política é uma fórmula muito forte e expressiva - destacou Lombardi. - Outro ponto importante foi ele falar em humildade social, de que não se deve falar de cima para baixo com as pessoas.

A palavra do Papa ecoou entre acadêmicos. A professora de Ciência Política da PUC-RJ Maria Celina D"Araújo ressaltou que o recado de Francisco sobre o diálogo e o Estado laico não foi apenas para o Brasil, mas para o planeta:

- A carapuça não é só nossa (dos brasileiros). Quando Francisco diz que as religiões são as mais beneficiadas pelo Estado laico, uma vez que este permite a pluralidade de credos, ele também manda um recado para a Irmandade Muçulmana, o Hezbollah e muitos outros.

Sobre o fato de Francisco ter enfatizado a importância do diálogo frente aos protestos das últimas semanas, Maria Celina destacou que o Papa não pedia apenas conversas vazias, mas, sim, um discurso que aponte soluções reais.

Um ponto curioso sobre o discurso do Pontífice foi a exclusão da frase em que ele citaria seu antecessor. Na versão do pronunciamento enviada à imprensa na manhã de ontem, constava uma citação ao "amado Papa Bento XVI". Seria uma referência ao discurso que o Papa emérito fez em 2007 em Aparecida (SP), mas o comentário não foi ouvido no Municipal. Francisco, porém, citou o pensador católico progressista Alceu Amoroso Lima:

- Todos aqueles que possuem um papel de responsabilidade, em uma nação, são chamados a enfrentar o futuro com os olhos calmos de quem sabe ver a verdade.

Leia, a seguir, trechos do discurso:

A importância do diálogo
"Considero fundamental para enfrentar o presente: o diálogo construtivo. Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, sempre há uma opção possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, porque todos somos povo, a capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce quando suas diversas riquezas culturais dialogam. (...) Quando os líderes de diferentes setores me pedem um conselho, minha resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo."

A reabilitação da política
"Somos responsáveis pela formação das novas gerações, de capacitá-las na economia e na política, e nos valores éticos. O futuro exige hoje a tarefa de reabilitar a politica. Reabilitar a política, que é uma das formas mais altas de caridade".

A ética
"Quem atua responsavelmente submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus. Este sentido ético aparece, nos nossos dias, como um desafio histórico sem precedentes. Temos que buscar inseri-lo na sociedade".

O Estado laico
"A pacífica convivência entre religiões diversas se vê beneficiada pela laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição confessional, respeita e valoriza a presença da dimensão religiosa na sociedade, favorecendo suas expressões concretas".

Uma economia humanista
"O futuro nos exige também uma visão humanista da economia e da política, que realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e erradicando a pobreza. Que ninguém fique privado do necessário, e que a todos sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade.

Recado aos líderes
"É próprio da liderança escolher a mais justa entre as opções, após tê-las considerado, partindo da própria responsabilidade e do interesse pelo bem comum; esta é a forma para chegar ao centro dos males de uma sociedade e vencê-los com a audácia de ações corajosas e livres. é nossa responsabilidade, apesar de ser limitada".

A diversidade brasileira
"É justo, antes de tudo, valorizar a originalidade dinâmica que caracteriza a cultura brasileira, com sua extraordinária capacidade para integrar elementos".

A cultura do encontro
"Esta é a maneira cristã de promover o bem comum, a felicidade de viver".

O cristianismo
"O cristianismo une transcendência e encarnação; pela capacidade de revitalizar o pensamento e a vida, frente a desilusão e o desencanto que invadem os corações e saltam para a rua.

Fonte: O Globo

Aladim e o gênio da garrafa - Luiz Werneck Vianna

Sobre as jornadas de junho rios de tinta já foram derramados e outros tantos ainda vêm por aí, na busca de explicações para o levante popular de âmbito nacional que tudo e todos pôs de pernas para o ar. Nada mais justo, porque eventos dessa natureza, quando o social, desavindo com as margens institucionais que lhe conformam o hábito e orientam seu cotidiano, irrompe nas ruas com a fúria de um fenômeno natural, marcam, em geral, o fim de uma era e o começo de outra. Não se pode mais não ver: esgotou-se o ciclo da modernização "por cima" que, em ondas sempre renovadas, cada qual com um estilo adaptado às suas circunstâncias - do de Vargas dos anos 1930 ao de Lula e Dilma nos dias atuais, passando pelo de Juscelino e dos generais-presidentes do regime militar -, vem dominando a imaginação das nossas elites políticas e os objetivos que perseguem.

A longa duração de tal ciclo certamente pode ser explicada pelas características próprias da nossa formação, em que o Estado trouxe para si a tarefa de criar uma nação a partir de uma teoria política, como nas lições de Euclides da Cunha, e fez do Direito Administrativo, sob a interpretação estatólatra do influente ministro do Império visconde do Uruguai, um dos principais instrumentos para a realização dos seus propósitos. Modelar por cima uma massa tida como amorfa rumo aos ideais civilizatórios, discipliná-la e exercer sobre ela uma pedagogia cívica demandava a ação permanente do educador até que ela viesse a demonstrar estar apta a se auto-orientar.

De fato, foi sob um sistema de orientação centralizador, estatista, com o vértice do poder político dotado de um decisionismo que não conhecia freios e contrapesos, que o País transitou à sua moda para a civilização, superando as forças centrífugas que ameaçavam a sua unidade e evitando o risco maior, na avaliação de suas elites, do caudilhismo que imperava no mundo hispano-americano.

As nações, tal como os indivíduos, anotava Tocqueville nas primeiras páginas de A Democracia na América, carregam consigo as marcas de suas origens, e foram elas que ressurgiram dominantes no regime republicano, em particular na recriação do regime pela chamada Revolução de 1930, portadora do projeto de modernização do País pela indústria e pela criação de uma moderna força de trabalho. Nessa hora decisiva de mudanças sociais e econômicas, ao Estado caberia o papel estratégico de instituir as bases materiais e ideais para essa grande transformação, adotando a fórmula corporativa nas relações entre as classes sociais sob a sua tutela, ao tempo em que se instituía, como no texto da Carta de 1937, em intérprete privilegiado "do pensamento da Nação". A modernização seria filha do decisionismo político.

Mais uma vez essa modelagem, em seus traços principais, foi bem-sucedida, e seria reiterada em momentos seguintes, particularmente no regime militar, quando se completou a obra da modernização econômica com a incorporação do mundo agrário ao modo de produção especificamente capitalista. Na esteira desses processos, contudo, e a partir das profundas mudanças operadas em nossas estruturas demográficas e societais, emergiram movimentos sociais e partidos políticos que denunciaram a natureza autocrática do sistema historicamente imperante, abrindo espaço para a democratização do País.

Dentre esses novos personagens, destacaram-se o sindicalismo das fábricas metalúrgicas do ABC e o Partido dos Trabalhadores, nascido da iniciativa de suas lideranças, apresentando-se como portadores de uma nova agenda sindical e política. Partiu deles a denúncia do caráter tutelar da legislação trabalhista, que logo evoluiu para uma contundente crítica ao processo pelo qual se realizou a formação histórica brasileira, subscrevendo argumentos de pensadores como Florestan Fernandes, Sérgio Buarque de Holanda e Raymundo Faoro, que, por afinidades eletivas, concederiam suporte intelectual à fundação do novo partido.

A trajetória do PT surge, então, alinhada ao tema moderno da autonomia dos seres sociais quanto ao Estado, em clara oposição à cultura heterônoma prevalecente, mas sua ênfase nos movimentos sociais, no basismo e no assembleísmo seria responsável, nos seus primeiros tempos, por uma recusa acrítica da política, assim como sua interpretação sinistra da História do País não lhe permitiria a valorização dos seus aspectos positivos.

O caminho eleitoral foi o da sua preferência, opção que conduziu à busca de alianças políticas, às quais aderiu com maior desenvoltura quando a conquista do governo se tornou uma possibilidade tangível. Nesse movimento, a expressividade do moderno, que era sua marca identitária, aos poucos se diluiu, em especial quando se tornou governo, levando-o a absolver acriticamente a História do País, antes objeto de sua feroz condenação. O passado não seria mais uma página virada, mas uma experiência a ser retomada, e, nessa toada, Lula e seu sindicalismo se reencontraram com a era Vargas, virando as costas para o moderno e tudo de novo que emergia da vida social.

Retomam-se a ideologia do nacional-desenvolvimentismo e políticas de grandeza nacional e, no pior estilo da modernização autoritária, o moderno se alia ao atraso oligárquico não para induzir sua transformação, mas para se fundir com ele. A estatalização dos movimentos sociais desertificou a sociedade civil, deixando-lhe apenas as redes sociais, por onde a juventude e seus valores por autonomia respiram.

O itinerário das jornadas de junho, das ruas aos sítios do Congresso e do Palácio do Planalto, significa um estado de rebelião contra esse retorno. Agora que o gênio saiu da garrafa, ninguém sabe o que ele pode aprontar, e não é verdade que tenhamos à mão um Aladim capaz de negociar com ele.

Luiz Werneck Vianna, professor-pesquisador da PUC-Rio

Fonte: O Estado de S. Paulo

Salve-se quem puder - Ferreira Gullar

A verdade é que o setor da sociedade que nada lucrou com o populismo lulista decidiu ir às ruas

Seria muita pretensão minha afirmar que entendo perfeitamente o que está ocorrendo no país, desde as passeatas de protesto que invadiram as ruas das principais cidades e abalaram o prestígio aparentemente inabalável do governo petista.

Trata-se, sem dúvida, de um fenômeno novo, surpreendente mesmo num país que parecia adormecido, como que indiferente aos escândalos que comprometeram o governo de Lula, à inoperância que acomete o governo de Dilma e à corrupção generalizada dos políticos.

A verdade é que, de meu ponto de vista, o setor da sociedade que nada lucrou com o populismo lulista --vendo que esse estado de coisas prometia manter-se indefinidamente, dados os altos índices de aprovação da atual governante-- decidiu sair às ruas e dizer "basta!".

Multidões manifestaram seu descontentamento com a situação social e política, denunciando a corrupção, a inoperância e a incompetência administrativa. O nível de aprovação de Dilma despencou. Lula, como faz sempre que a coisa encrenca, sumiu, mas a questão estava posta: o povo exige mudanças drásticas, o contrário do quadro mantido nestes dez anos de governo petista.

Lula e sua turma tentaram "aderir" aos protestos, mas foram repelidos. Em face disso, tendo ficado claro que as centrais sindicais foram cooptadas pelo governo, resolveram fingir que também estão descontentes. Um fiasco, já que essas centrais, dominadas por pelegos, não representam mais ninguém.

Como se não bastasse o número relativamente inexpressivo de manifestantes, tampouco suas palavras de ordem corresponderam ao descontentamento explícito nos protestos "desorganizados" que sacudiram a sociedade no mês passado.

Embora nas últimas semanas aquelas manifestações populares massivas tenham cessado, outros tipos de protestos tomaram as ruas. Diferentemente daquelas (ao que tudo indica, desvinculadas de quaisquer entidades), essas últimas foram, sem dúvida, organizadas por categorias profissionais, que exigem providências efetivas, da parte do governo, na solução de problemas concretos. É o caso dos médicos, dos professores, dos policiais militares.

Desta vez, os manifestantes exigem providências efetivas para resolverem questões profissionais e atenderem a promessas que o governo fez e não cumpriu. Isso representa uma mudança qualitativa no caráter dos protestos --que, ao que tudo indica, tendem a se multiplicar e ampliar, deixando à mostra a inépcia do governo na solução desses problemas.

É que o populismo petista --embora se trate de um partido dito dos trabalhadores--, voltado para a compra de eleitores carentes, desvinculou-se do real interesse das categorias profissionais, concentrado como está no assistencialismo.

Não resta dúvida de que melhorar as condições de vida dos setores mais carentes da sociedade --como fez Lula, ampliando o número de beneficiário do Bolsa Família-- é providência em princípio correta que merece apoio e reconhecimento. O erro não está aí e, sim, em ignorar que programas como esse, de caráter assistencial, devem ser realizados como medidas emergenciais. Correto é, a par disso, criar condições para que as pessoas vivam de seu trabalho e de sua competência profissional.

Todo mundo sabe que uma das características marcantes do governo petista é a autopromoção, de Dilma a Mantega. Quando falam em público, é para elogiar o próprio governo, dizer que está tudo às mil maravilhas e que o PIB vai crescer.

O PIB não cresce, eles atribuem a culpa a algum fator não governamental e continuam a manipular os dados econômicos para fingir que está tudo bem.

Mas isso é só para enganar a opinião pública, porque eles sabem muito bem que a situação real é outra. Agora, estão embananados porque o povo nas ruas mostrou que já não se deixa enganar. A prova disso é a queda assustadora da aprovação de Dilma nas pesquisas, o que ameaça a sua reeleição em 2014.

Esses fatos explicam a mudança de atitude do principal aliado do governo, o PMDB, que se opõe ao plebiscito proposto por Dilma e sugere a redução do número de ministérios. Pura sacanagem, para explorar a fragilidade de Dilma e tirar partido disso. É que parece estar chegando a hora do salve-se quem puder.

Fonte: Ilustrada / Folha de S. Paulo

A rosa de Sarom - José de Souza Martins

É inútil querer que o papa questione o sagrado: há questões modernas que vão além de seus limites

A visita do papa Francisco ao Brasil responde a muitas perguntas pendentes desde a morte de João Paulo II. Bento XVI foi um susto, mais do que uma surpresa. Francisco foi uma surpresa, mais do que um susto. Desde o último papa monarca, Pio XII, pende sobre a Igreja Católica e sobre os católicos o dilema da oscilação entre a cruz e o trono. Se João XXIII foi a vitória da cruz sobre o trono, Francisco é a confirmação dessa lenta manifestação do Espírito. Francisco desconstrói para propor a superação dos impasses e a renovação da Igreja sobre os alicerces de seus valores mais caros.Inova, quando explicita um horizonte para a Igreja, a família na sua comunidade de referência, que é o bairro. Não o eclesial, mas o social.

Não a Igreja refúgio, mas a Igreja missionária. Em pelo menos duas ocasiões Francisco se referiu ao bairro: na prefeitura do Rio, quando significativamente abençoou o bairro em que o Palácio se situa; e em Copacabana, em que disse que gostaria de estar nos muitos bairros que compõem o Brasil. Francisco é um homem de bairro, onde nasceu, cresceu, fez o curso profissional, trabalhou e encontrou sua vocação sacerdotal. É um homem do subúrbio, o primeiro papa suburbano da história. É nesse horizonte que ele vê o mundo. É desse ângulo que se pode ver melhor o lugar pastoral de sua presença entre os jovens.

Ele acerta ao optar por compartilhar em vez de admoestar, ao abraçar em vez de ralhar. Francisco profético parece situar-se no retorno da figura do pai a o mundo dos jovens, o pai ausente na falsa presença de uma liberalidade que ilude, mas não ampara nem protege. Traz simbolicamente de volta o pai companheiro, da disponibilidade, do afago, do beijo e do abraço. Certamente, não é fácil ser papa e ser jovem no mundo atual. Em boa parte por isso, ambos, provavelmente, se entenderão.

Não à toa o papa Francisco insistentemente pede aos jovens: “Rezem por mim”. Ou justifica sua residência na Casa Santa Marta e não no Palácio Apostólico. Neste, “o papa tem muitos patrões”, disse há algumas semanas. Coincidem o papa e os jovens, no horror de um e outros aos tutores da consciência e da liberdade alheia. É compreensível a tentação de pensar o papel deste papa na perspectiva daquilo que ele não é nem poderá ser sem negar seu carisma e sua missão.

É inútil pensar um papa de esquerda, como é inútil querer um papa de direita. Em seu discurso na Favela de Manguinhos, o papa lembrou-se reiteradamente dos pobres porque é neles que a caridade e a compaixão ganham sentido. É neles, nos que não têm, que o ter se torna um desafio neste mundo de contradições e injustiças. A crítica à ambição e ao poder, o apoio às manifestações dos jovens no repúdio à corrupção e às injustiças expõem um papa irmão do inconformismo dos jovens.

Francisco alargou o conceito de pobre, livrando-o da estreita concepção econômica. Essa é uma pobreza derivada, pois, para ele, pobre é quem carece de amor e das muitas e significativas concepções que tem o amor quando se realiza numa práxis de renascimento, a que redime quem dá e quem recebe. Ele desloca o eixo da teologia da pobreza, livra-a da pobreza ideológica do materialismo e da miséria maniqueísta da ideologia do confronto. Ele retorna à riqueza da dialética da superação.

Obviamente, há graves problemas da modernidade que preocupam, sobretudo, os jovens: celibato, sexualidade, casamento, divórcio, controle de natalidade, gravidez, aborto, alguns dos itens do elenco problemático de temas geralmente invocados por leigos para questionar a legitimidade do magistério da Igreja. São temas muito além dos limites de um papa. As instituições religiosas são, compreensivelmente, as mais resistentes à mu- dança.

No mundo da razão e da modernidade, fica cada vez mais evidente que religião é mais do que uma herança, é uma opção, mesmo para quem tenha nascido católico. Além do que, o centro do magistério do papa e da Igreja é o sagrado. É inútil pretender que Francisco questione o sagrado. No mundo inteiro, e aqui também, há um intenso e significativo movimento de retorno ao sagrado, especialmente entre os jovens. Não se trata de mera questão de filiação religiosa.

A compreensão aguda que desse fato tem Francisco surgiu espontaneamente no mais belo e significativo acontecimento desta sua visita ao Brasil. Na Favela de Manguinhos, quando caminhava pelas ruas estreitas, viu uma igreja pentecostal de porta aberta, a Assembleia de Deus Rosa de Sarom ( “Eu sou a rosa de Sarom, o lírio dos vales”, na poética declaração de amor do Cântico dos Cânticos ).
O pastor, dada a grande movimentação de peregrinos que foram ver o papa, ecumenicamente abriu a porta de sua igreja para que pudessem usar os banheiros ou tomar um copo d’água. O papa se dirigiu a ele e juntos rezaram o Pai Nosso. “Ele rezou por mim e eu orei por ele” ,disse o pastor depois.

JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA DA USP E AUTOR, ENTRE OUTROS, DE A SOCIEDADE VISTA DO ABISMO (VOZES)

Fonte: Aliás / O Estado de S. Paulo

O Estado e a sociedade - Merval Pereira

O primeiro governo Lula representou uma experiência inédita de inovação no recrutamento nas bases partidárias, sindicais e locais. Nas áreas de gênero e etnia (afrodescendentes) também iniciou um padrão de crescente participação, todavia, em patamares ainda irrisórios.

O trabalho "Elites burocráticas, dirigentes públicos e política no Poder Executivo do Brasil, 1995-2012", da cientista política Maria Celina Soares D"Araujo, da PUC-Rio, compara o perfil dos altos dirigentes públicos no Brasil de 1995 a 2012, abrangendo os governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva e os dois primeiros anos de Dilma Rousseff, num total de 18 anos de gestão pública federal, e chega à conclusão de que o primeiro governo Lula "foi um caso atípico na densidade da interface entre sociedade e Estado".

Na coluna de ontem, vimos como o governo Lula destaca-se na utilização de petistas e sindicalistas no primeiro nível de assessoria, os DAS 5 e 6 e os cargos de Natureza Especial. Outra marca forte dos governos do PT observada nesta pesquisa é a presença de dirigentes públicos recrutados nos estados e municípios, em especial no primeiro governo Lula.

O trabalho analisa os vínculos do grupo de dirigentes com outras organizações e associações da sociedade civil, procurando detectar quantos desses dirigentes tiveram algum engajamento cívico ou associativo antes de assumir o cargo. Ele leva em conta movimentos sociais, experiências em gestão local e em conselhos vinculados a políticas públicas, bem como filiação a associações profissionais.

O engajamento associativo dos dirigentes públicos por governo mostra que os de Lula foram os que mais utilizaram experiências em movimentos sociais (46,5% no primeiro, 45,1% no segundo), enquanto nos de Fernando Henrique apenas 24% dos assessores tinham essa experiência, e 36% no governo Dilma.

O trabalho destaca "um estável percentual de cerca de 20% dos ocupantes de cargos de DAS níveis 5 e 6 que procedem do próprio órgão do serviço público federal em que passaram a atuar em cargo de confiança". Juntando-se aos servidores de outros órgãos ou esferas "vemos que a grande maioria foi recrutada no serviço público desmontando, pelo menos parcialmente, a tese de que esse seria um espaço privilegiado para a nomeação aleatória de protegidos políticos".

Os não servidores em cargos de DAS cresceram percentualmente nos governos do PT, mas nunca chegaram a ocupar um terço desses indicados. Maria Celina D"Araujo ressalta, porém, que "não se pode desconsiderar que entre esses servidores de carreira há pessoas altamente partidarizadas ou politicamente engajadas, especialmente no caso do PT, partido com forte atração entre os funcionários públicos em geral".

Ainda sobre engajamento político deste grupo, foi examinado o envolvimento dos dirigentes públicos filiados a partidos em cargos de direção nas organizações partidárias a que pertenciam. No governo Fernando Henrique, o percentual era de 7,5%, subindo para 10,7% e 12,3% nos consecutivos governos Lula, baixando para 9,6% no governo Dilma.

Ou seja, conclui Maria Celina, em todos os casos, a julgar pela exiguidade dos cargos de direção em cada partido frente ao número de filiados, esse percentual é expressivo levando a supor que acesso a cargos de direção partidária, independente do partido, é um atalho eficaz para a administração pública. Provavelmente o inverso também é verdadeiro.

Dada a alta inserção do PT em governos locais tornou-se imprescindível localizar em que nível da federação foram recrutados os dirigentes que eram funcionários públicos, diz ela. Os dados parecem coerentes com a lógica partidária e com o perfil de cada presidente. Lula da Silva em seu primeiro mandato foi o que mais recrutou dirigentes nos municípios e nos estados, num total 27,5%.

Dilma voltou a aumentar o recrutamento nos municípios (5,4%), mas diminuiu a participação dos estados e aumentou a do nível federal. A presença de funcionários municipais nesses cargos era praticamente nula no governo Fernando Henrique o que atesta a tese de um maior compromisso dos governos do PT com o aproveitamento de suas bases locais, em alguns casos, considerados espaços de excelência.

Fonte: O Globo

Aquém da imaginação - Dora Kramer

O papa Francisco e os jovens - os hóspedes - saíram-se muito bem. Já o poder público - o hospedeiro - saiu-se muitíssimo mal da Jornada Mundial da Juventude que, durante uma semana, expôs em detalhes as deficiências que marcam uma grande distância entre a fantasia de querer e a capacidade do País de fazer grandes eventos.

Como ficou demonstrado, “imagina na Copa” não é apenas um bordão travesso ou mera abstração do contra, É produto da confrontação diária de que a má qualidade dos serviços prestados aos brasileiros não corresponde à pretensão de ofertá-los em larga escala a multidões de visitantes.

Engarrafamento, falha de planejamento, falta de transporte, filas imensas nos pontos de ônibus sempre insuficientes, caos nas estações do metrô, nada a que os locais não estejam acostumados.

Da mesma forma estamos familiarizados com a desculpa de que “nessa época do ano choveu além do previsto”, apresentada pela prefeitura do Rio ante a impossibilidade de se realizar a vigília de oração e a missa de despedida do papa no lodaçal em que se transformou o campo preparado em Guaratiba, na zona oeste da cidade.

Os moradores dessa e de outras regiões - não só do Rio, aqui uma espécie de maquete dos enguiços existentes Brasil afora - estão habituados a sofrer os efeitos das chuvas tidas por nossas autoridades como ocorrências imprevisíveis, As pessoas morrem, perdem suas casas, ficam desamparadas e é sempre a mesma coisa: culpa da abundância inesperada de São Pedro.

Os transtornos da Jornada funcionaram como um resumo de repercussão amplificada do grito dos cidadãos que foram às mas. Também da; queles que, nas pesquisas, registram concordância com as manifestações deflagradas pela saudável ousadia da juventude imune aos efeitos da anestesia de um falso Brasil reinventado na imaginação (para não dizer manípulação) do ex-presidente Luiz Inácio da Silva,

No embalo dessa fabulação, deixou- se de lado o ensinamento do velho ; dito: “Quem não tem competência r não se estabelece”. Várias das reclamações que se viram nas placas de junho estavam retratadas nos desacertos da Jornada de julho, em logística e duração incomparável com a Copa do Mundo e a Olimpíada.

O enredo criado por Lula quando dos espetáculos promovidos para celebrar a escolha do Brasil como sede dos dois certames não combina com os fatos. Não resistiu ao primeiro teste da realidade de falta de estrutura, disciplina, seriedade, realismo e responsabilidade para fazer frente ao tamanho do compromisso assumido.

O ensaio na primeira viagem internacional de Francisco cobre de descrédito o País, que saiu da Jornada menor do que entrou, O papa, generosamente bem humorado, pediu desculpas ao prefeito pela “bagunça” que estava fazendo na cidade, quando eram os anfitriões os responsáveis pela série de confusões.

No inicio, temia-se que a repetiçãodos protestos e atos de vandalismo tumultuassem ambiente.

No fim, o que ou foi justamente a inépcia do poder público,alvo das manifestações cuja motivação ficou patente. Ao mesmo tempo, comprovou-se a razão pela qual as autoridades não souberam dar aos manifestantes uma resposta à altura.

A despeito da improvisação, a festa que hqjé se encerra foi bonita. Pelo conteúdo de espiritualidade que estimula positivamente e cria uma atmosfera de boa vontade, bem. entendido. A mesma condescendência, porém, não haverá quand.o do campeonato de futebol e dos Jogos Olímpicos.

Se o mundo deu agora um. mau (e merecido) testemunho a respeito da ineficácia da. organização, não é nem de minar, mas de se constatar previamente, a dimensão do vexame que se avizinha no horizonte.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Afiando as unhas - Eliane Cantanhêde

Contra fatos, não há argumentos. Só esperneio, ameaças e a criação de inimigos fictícios.

Na economia: a arrecadação federal parou no tempo, praticamente igual à do ano passado; o corte de R$ 10 bilhões no Orçamento não convenceu; o rombo nas contas externas cresceu 73% no primeiro semestre, em relação a 2012; os brasileiros gastaram o recorde de US$ 12,3 bilhões (?!) no exterior em apenas seis meses.

Mas o pior é que a geração de empregos, centro do discurso otimista da presidente Dilma em pronunciamentos internos e mundo afora, começa a sentir o peso de PIB baixo e inflação no teto da meta. O índice ainda é bom, mas a queda de 20% em relação ao primeiro semestre do ano passado fez o governo revisar para baixo a previsão de vagas para 2013.

Na política: Dilma expôs publicamente sua birra com o PT ao se recusar a ir à reunião do Diretório Nacional petista, apesar de estar a poucos quilômetros do local do evento.

Se a relação com o próprio partido está nesse pé de guerra, imagine-se com os demais partidos da base aliada. Assim como o PSD, que tinha uma pesquisa pró-Dilma antes das manifestações, mas subiu em cima do muro depois, também PTB, PDT, PP estão olhando de longe, de binóculo. E o que eles veem é que, pela primeira vez, o número dos que aprovam o governo é menor do que os que desaprovam.

Mas o pior é o PMDB, que, mesmo tendo a Vice-Presidência da República, faz uma enquete interna perguntando, um a um, se é o caso ou não de manter a aliança com o PT em 2014. Isso serve para mexer com os nervos de Dilma e com o instinto de sobrevivência dos governistas em geral.

Tudo, porém, vai mudar daqui para a frente, pois Lula ressurgiu de Lilongwe e está "afiando as unhas" para enfrentar os verdadeiros culpados pelo caos na economia e na política: "as forças conservadoras".

Não concorda com ele? Então vá se queixar ao bispo, porque o formidável papa Francisco já vai embora.

Fonte: Folha de S. Paulo

Mau humor e divisão - Tereza Cruvinel

Soubemos pelas pesquisas que o mau humor dos brasileiros continua alto. E que é ainda temerário especular sobre os efeitos eleitorais que os protestos produzirão em 2014

Pesquisas não reproduzem a realidade social, mas ainda são o melhor instrumento para conhecê-la. A edição da CNI-Ibope divulgada na semana passada revelou, afora a reprovação de todos os governantes e das respostas que deram às manifestações, que o mau humor da população continua elevadíssimo, e com isso os protestos devem continuar. Na sexta-feira, o vandalismo voltou a São Paulo e houve protestos no Rio, a poucos metros do papa. Aspecto pouco notado da pesquisa, a divisão de opiniões entre os habitantes do Sul/Sudeste e os do Nordeste e Norte/Centro-Oeste. Outro sinal preocupante vem da opinião majoritária de que há recursos para melhorar os serviços públicos, que estariam sendo mal aplicados por todos. Qualquer reforma tributária ou taxação com esse objetivo seria sumariamente rejeitada.

O mau humor começa pelo fato de que, embora apenas 9% dos entrevistados tenham participado de protestos, eles são aprovados por 89%. Isso liquida com qualquer hipótese de que tivessem lastro apenas em segmentos, como a classe média ou os jovens. Mas, apesar da indisposição geral, a clivagem regional aponta diferenças importantes, especialmente em relação à presidente. A aprovação ao modo Dilma de governar caiu de 70% para 45%, mas ela ainda alcança 58% no Nordeste (chegando a 70% no Ceará, por exemplo) e 48% no Norte/Centro-Oeste. Já no Sudeste, tem apenas 24%, bem menos que a média nacional. O mesmo racha se observa no índice dos que confiam nela, que caiu de 67% para 45%, ao passo que subiu para 50% o índice dos que não confiam. Mas enquanto no Sul (41%) e no Sudeste (37%) o índice fica abaixo da média, no Nordeste chega a 56%, e no Norte/Centro Oeste, a 51%.

Essas variações podem ter significados eleitorais importantes. Ocorreram de modo muito semelhante com o ex-presidente Lula em 2005, na crise do mensalão. Elas sugerem que Dilma pode vir a compensar a derrocada no Sul/Sudeste com votos das regiões mais contentes com as políticas governamentais. Mas continua ainda temerário examinar o quadro eleitoral que as manifestações subverteram completamente. E que a pesquisa temporã, fora da trimestralidade padrão, não abordou. Ou não divulgou.

Abraço de afogados
A aprovação da presidente (média de 31%) é ligeiramente superior à dos governadores (28%) e prefeitos (28%), à exceção de Pernambuco, como já divulgado, onde Eduardo Campos obteve 58%. Há também um padrão, sugerindo que, em cada estado, o mau humor castigou igualmente o governo federal e o estadual. Foi no Rio, por exemplo, onde o governador sofreu o maior baque na aprovação, que Dilma também caiu mais. Isso deve alterar sensivelmente, do ponto de vista eleitoral, a política de alianças entre os partidos. Dilma, sem a força de antes, não terá apoios automáticos como se desenhava antes de junho. Os governadores aliados e seus partidos, por sua vez, devem se sentir mais livres para buscar outros caminhos. No frigir dos ovos, o que cresce é a incerteza política.

Dinheiro haveria
Quando a questão é a qualidade dos serviços públicos e o financiamento deles, tudo se complica ainda mais para os que hoje governam. A paciência acabou e o povo quer melhorias urgentes em saúde, segurança e educação (nessa ordem, segundo a pesquisa); 87% acham que há dinheiro suficiente, os governantes é que o aplicariam mal; 74% acham isso do governo federal; 81% acham o mesmo do governo paulista e 87% do governo do Rio. E por isso desaprovam qualquer reforma tributária ou taxação destinada a buscar mais recursos. Ora, qualquer pessoa com um mínimo de informação sobre as contas públicas, nos diferentes níveis federativos, sabe que existem desperdícios, mas que os recursos são escassos. Principalmente na saúde, depois do fim da CPMF.

Isso posto, restará aos governantes, especialmente ao governo federal, fazer um brutal esforço fiscal, cortando gastos, para realizar investimentos, o que não ajuda a uma economia resfriada. E ações de transparência e educação para que o povo saiba mais sobre a origem, o volume e o destino do dinheiro, como ocorre em democracias vibrantes, em que o povo reivindica com melhor base informativa. Mas nada disso suprime a grande interrogação sobre os efeitos eleitorais que terá esta enchente de irritação.

Vai-se o papa
Mesmo para os não católicos, a semana de Francisco no Brasil será inesquecível. Aqui, pela primeira vez depois de tornado papa, ele falou a grandes massas, sentiu a força da Igreja e transmitiu mensagens importantes sobre o pontificado. Não tão políticas quando alguns queriam ou esperavam, mas foram suficientes para esclarecer algumas questões: ele não se alinhará à Teologia da Libertação, por meio de uma forte ação política, mas dialogará com ela na ação pastoral, aproximando a Igreja dos pobres e do espírito original do cristianismo. Uma grande mudança, que encerra também a era de punições aos que não se alinhavam automaticamente com o pensamento da cúria romana.

Fonte: Correio Braziliense

Cabral precisa descobrir o Brasil - Elio Gaspari

Governador do Rio atrai protestos porque espalha lorotas e explica-se insul-tando a inteligência alheia

Sérgio Cabral foi reconduzido ao governo do Rio em 2010 com os votos de dois terços do eleitorado. Uma vitória para ninguém botar defeito. Em menos de três anos tornou-se um governador detestado. Talvez seja exagero acreditar que é o pior entre seus pares, mas pode-se ter certeza de que foi o que impôs a maior quantidade de desaforos ao seu povo. Gosta de uma viagenzinha, mas tem no colega Cid Gomes um rival. Usa o helicóptero da Viúva para levar o cão Juquinha a Mangaratiba, mas queima menos combustível que os ministros da doutora Dilma na JetFAB (1.664 solicitações em seis meses). Comparado com o comissário Alexandre Padilha, é um sedentário. O ministro da Saúde voou 110 vezes, na maioria dos casos para São Paulo. Diz bobagens, já defendeu o aborto informando que a Rocinha era "uma fábrica de produzir marginal", mas foi um dos governadores do Estado que, com ajuda federal, mais investiu em programas de recuperação dessas comunidades. É dado a breguices: "Este é o melhor Alain Ducasse", disse, referindo-se ao restaurante onde concluíra um repasto, em Mônaco.

Desde que o "Monstro" saiu às ruas, Cabral desafiou-o. Disse que "essas manifestações estão tendo um caráter, um ar político que não é espontâneo da população". (Na semana passada elas tinham o apoio de 89% dessa população.) Fabricada era a passeata que seu governo organizou para apoiá-lo na disputa pelos royalties do petróleo. Tinha cercadinho VIP e pulseirinhas para celebridades.

Cabral justificou seu uso privado de helicópteros públicos dizendo que "não sou o primeiro a fazer isso no Brasil". Esqueceu-se de dizer que não reincidirá no folguedo. Há duas semanas um carro da sua polícia atirou numa área onde havia manifestantes. Quem foi? Pfff. O prefeito de Miguel Pereira homenageou-o num evento cuja convocação dizia o seguinte aos beneficiários do programa "Renda Melhor": "O não comparecimento poderá resultar na perda do benefício. (...) Levem seus familiares". A prefeitura disse que foi um "equívoco". Sua assessoria esclareceu que não sabia de nada.

No seu pior momento, Cabral informou que "nesses atos de vandalismo tem a presença de organizações internacionais. (...) Sabemos que há organizações internacionais estimulando o vandalismo e o quebra-quebra". Em seguida criou uma comissão para apurar os atos de violência. Havia um casal que se declarou a serviço da Abin. A polícia disse que apreendeu 20 molotovs com um preso? Cadê ele? Vinte coquetéis com uma só pessoa? O único preso, com espalhafato, nada tinha a ver com a história. Salvou-se pedindo socorro à Mídia Ninja. Graças a ela e a um vídeo da TV Globo, sua inocência ficou estabelecida. Quem criou a patranha? No meio disso tudo, a PM prendeu um pedreiro na Rocinha, e ele sumiu. A polícia diz que ele desapareceu depois de ter sido liberado. Cadê o vídeo da sua saída da UPP? A câmera enguiçara na véspera.

A conexão da polícia do Rio e das milícias com barbarizações deveria assustar Cabral. Já houve época em que o submundo das meganhas carioca e federal se meteu em coisa parecida. Num caso, em setembro de 1980, a descrição da cena da explosão de uma banca de jornais na jurisdição da 28º DP chegou ao conhecimento do seu titular e do Palácio do Planalto. Sentaram em cima. Sete meses depois o governo explodiu no Riocentro.
Cabral pode não ter entendido o que está acontecendo no país, mas não se eximirá de ser cobrado pelo que acontece no seu governo.

Fonte: O Globo

Panorama Político - Ilimar Franco

De mãos abanando
Os fundos de pensão de trabalhadores das empresas estatais que investiram em ações da MDX e da CCX, de Eike Batista, estão sendo investigados pela Superintendência de Previdência Complementar. O caso mais grave é o do Postalis, dos funcionários dos Correios. O tombo do plano, não apenas com o caso Eike, é de R$ 985 milhões. Os trabalhadores tiveram de voltar a contribuir.

Caça às bruxas
O caso Eike Batista acordou os sindicatos que representam os funcionários dos Correios. Eles dormiam em berço esplêndido até descobrirem que o fundo de pensão Postalis apostou em investimentos duvidosos. Os dirigentes sindicais querem agora "gestão democrática, transparente e competente". Reivindicam "melhor qualificação de diretores e gestores do Postalis" e que estes sejam escolhidos "sem indicações políticas, como tem sido sistematicamente feito". E eles cobram dos Correios "instalar uma comissão de auditoria paritária para avaliar as causas do prejuízo de R$ 985 milhões e encontrar os responsáveis na atual direção e nas passadas".

A moda pegou
O governo do Uruguai comprou no Brasil um sistema de escutas que permite vigiar simultaneamente 800 celulares e 200 telefones fixos, além de fazer o monitoramento de redes sociais, contas de e-mail e blogs.

Lição de vida
Especialistas dizem que o governador Sérgio Cabral (RJ) é o exemplo vivo de por que os governantes devem residir nos palácios oficiais. Ao decidir morar em sua casa particular, no Leblon, e diante dos protestos destes dias, Cabral colocou a todos os seus vizinhos, e não apenas o chefe do governo, em situação de insegurança.

Volta à realidade
Peemedebistas avaliaram como "muito duro" o índice de rejeição do governador Sérgio Cabral na pesquisa CNI/Ibope. Dizem que a volta à normalidade no Rio vai definir o que sobrou após o vendaval e se ele tem poder de recuperação.

"Se nós e o governo Dilma não formos capazes de romper o cerco contra o PT, será real o perigo de definhamento do projeto iniciado pelo presidente Lula" - Rui Falcão Deputado estadual (SP), candidato á reeleição a presidente do PT

Tucanou
Os petistas andam incomodados com o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Acham que ele está se aproximando muito do modo tucano de governar. Haddad acabou de transformar o Teatro Municipal de São Paulo em uma organização social, as famosas OS dos governos do PSDB e implantadas nos museus paulistas nas gestões tucanas.

Dor de cabeça
Os governadores, inclusive os bem avaliados, receberam um recado na pesquisa Ibope. Os entrevistados deixaram claro que querem pagar menos impostos e que o tributo considerado mais alto é o ICMS, uma receita dos estados.

Resposta da população
A despeito da polêmica e da reação corporativa, o governo Dilma parece estar ganhando a guerra em torno do programa Mais Médicos. Na pesquisa Ibope, "melhorar os serviços de saúde", para 58%, é prioridade do governo.

O crescimento de Tasso Jereissati
nas pesquisas ao Senado, pode levar o PSB do governador Cid Gomes (CE) a romper com o PMDB local.

Fonte: O Globo

Painel - Vera Magalhães

A CPMF da Dilma
Empresários se surpreenderam com o veto de Dilma Rousseff à extinção da multa de 10% do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) paga por empresas em caso de demissões sem justa causa. Segundo relatos, a presidente chegou a prometer a um empresário que não o faria. Para assegurar o dinheiro, que em parte é destinado ao Minha Casa Minha Vida, o Planalto dirá que o prejuízo anual de R$ 3 bilhões teria impacto comparável ao gerado pelo fim da CPMF no governo Lula.

Lá... O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), disse que vai apresentar proposta de lei complementar ao projeto vetado. Ele sugere que os 10% da multa do FGTS fiquem para o trabalhador, em poupança para ser usada na aposentadoria.

... e cá Gleisi Hoffmann (Casa Civil) defende que os recursos sejam aplicados exclusivamente no programa habitacional. "Trata-se de um um programa estruturado com o apoio do Congresso'', diz a ministra. Este será o discurso do governo à base para tentar manter o veto.

Rosário A presidente convocou para amanhã uma reunião com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) a fim de fazer um balanço do desempenho do governo federal no reforço à segurança durante a visita do papa Francisco ao Brasil.

Muita calma... Durante as discussões sobre o primeiro leilão do pré-sal, Arno Augustin (Tesouro) defendeu que a taxa a ser paga por investidores para participar da concorrência fosse superior a R$ 15 bilhões. A ANP (Agência Nacional de Petróleo) defendia R$ 10 bilhões e a Fazenda, os R$ 15 bi arbitrados.

...nessa hora A ideia do secretário do Tesouro era reforçar o caixa da União. Mas a proposta foi descartada, segundo interlocutores da área econômica, após argumentos de que o leilão, previsto para outubro, ficaria caro demais e desestimularia a participação de muitas empresas.

Cedo demais A avaliação de integrantes do governo é que Aloizio Mercadante (Educação) se precipitou ao anunciar que o governo admite rever os dois anos extras nos cursos de medicina previstos no Mais Médicos.

Ao contrário Desde as conversas que antecederam o lançamento do programa, assessores de várias pastas haviam combinado que ceder neste ponto deveria ser apenas a última carta de negociação com o Congresso e junto às entidades do setor.

Franciscano 1 Conselheiros que ajudam na construção da candidatura de Luiz Fernando Pezão (PMDB) ao governo do Rio querem apresentá-lo como um político humilde. O objetivo é dissociá-lo de Sérgio Cabral, desgastado após viagens a Paris e voos de helicóptero.

Franciscano 2 A cartilha de Pezão prevê que o vice-governador se desloque prioritariamente de carro e amplie sua participação em eventos em favelas e comunidades do interior do Estado.

Petit... Geraldo Alckmin (PSDB) marcou uma solenidade discreta para marcar o envio à Assembleia Legislativa de um projeto que modifica a Lei Orgânica da Procuradoria-Geral do Estado e divide a categoria. Apenas os procuradores que apoiam o texto foram convidados.

... comitê Procuradores do Estado reclamam que seriam obrigados a defender agentes públicos, mesmo em processos por improbidade e corrupção. Alckmin manteve o dispositivo e diz que as divergências devem ser debatidas na Assembleia.

Reação A associação dos procuradores vai questionar o projeto e estuda entrar com um mandado de segurança.

Tiroteio

Os números das últimas pesquisas mostram a Dilma o que ela mais temia: a queda de sua avaliação começou e o chão não é o limite.
DO LÍDER DO DEM NA CÂMARA, RONALDO CAIADO (GO), sobre os índices que mostrou a popularidade de Dilma aos níveis de Lula no auge do mensalão.

Contraponto

De estilingue a vidraça

Em reunião com prefeitos do norte de Minas Gerais para estimular a adesão ao programa Mais Médicos, há duas semanas, um grupo de médicos e residentes vaiava a apresentação de Alexandre Padilha (Saúde).

O ministro identificou um representante do CRM-MG, Itagiba de Castro Filho, a quem deu o microfone.

No palco, o médico começou a ser vaiado também, só que, desta vez, pelos prefeitos da região.

No fim do evento, o pediatra e professor universitário comentou em reservado, para o ministro:

-É... Vaia no ouvido dos outros é serenata...

Com Andréia Sadi e Bruno Boghossian

Fonte: Folha de S. Paulo

Direto de Brasília - João Bosco Rabelo

A proximidade do fim do recesso informal do Legislativo, daqui a sete dias úteis, projeta revezes políticos com potencial para agravar a paralisia que tomou conta do governo desde a primeira queda nos índices de aprovação, reforçada pelas pesquisas feitas após os protestos de rua. O Congresso retoma a pauta do ponto conflagrado em que a interrompeu, com a base em rebelião com a presidente Dilma Rousseff. O Planalto não conseguiu, na verdade sequer tentou, qualquer gesto consistente que contribuísse para evitar o avanço da proposta de orçamento impositivo das emendas parlamentares e ainda inflamou o clima pela derrubada de vetos presidenciais, cuja dificuldade histórica foi recentemente abrandada pela mudança do procedimento regimental para votação. A aprovação dessas matérias, que migrou do possível para o provável, poderá ocorrer ainda no mês de agosto.

Por uma liberalidade, o veto presidencial só contava prazo para votação após sua leitura em plenário, o que podia não ocorrer nunca, conforme atestam os mais de mil arquivados recentemente pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Agora, esse prazo conta a partir da chegada do veto ao Legislativo, o que impõe sua apreciação mensal.

Há pelo menos cinco matérias com vetos polêmicos na mira de parlamentares - desde o que impede a transmissão de concessões de táxi de pai para filho, de motivação eleitoral, até os da MP dos Portos e do Código Florestal, de importância estratégica para o País, O recente veto ao fim da multa de 10% sobre o FGTS para os empregadores piorou ainda mais o humor com o Planalto.

Este, cuja continuidade representa um confisco, por já ter cumprido seu papel compensatório em relação às perdas dos Planos Collor e Verão, foi extinto pelo Congresso, sensível à pressão justificada do meio empresarial, mas vetado por Dilma. A tentativa do govemo de reagir aos protestos de rua desgastando o Legislativo, e a votação secreta, autorizam a previsão da derrubada de, pelo menos, alguns dos vetos na fila de espera.

Quanto ao orçamento impositivo, além do poder de sedução que lhe empresta apoio suprapartidário, pela independência em relação ao Executivo, reverte a relação histórica em que o governo contingência as emendas e traduz para a sociedade como chantagem a pressão do Congresso pela sua liberação, subtraindo ao político seu maior trunfo - a entrega de recursos em suas bases, impondo-lhe imenso prejuízo eleitoral.

Sua adoção, muito provável, vai exigir da presidente Dilma mais disposição e capacidade de negociação política, o que já se viu- contraria sua natureza, mas cuja falta agrava o seu isolamento e, por extensão, o do PT no Congresso.

Relator

O relator da Medida Provisória do programa Mais Médicos será o deputado Rogério Carvalho (PT-SE), o mesmo do projeto que destina io% das receitas da Uniao para a saude — tema explosivo para o Planalto.

Ministérios

O líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), já tem as 171 assinaturas necessárias para a emenda que fixa em 20 o número de ministérios.

Tribunais

O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), lidera mobilização, na quinta-feira, contra a liminar do presidente do STF, Joa-.quim Barbosa, que suspendeu a criação dos quatro novos tribunais regionais federais.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Brasília-DF - Luiz Carlos Azedo

Larga a mão
A presidente Dilma Rousseff participa hoje do encerramento da Jornada Mundial da Juventude, em Copacabana, ao lado dos aliados Sérgio Cabral (PMDB), o governador mais mal avaliado na última pesquisa do Ibope, com 12%, e o prefeito Eduardo Paes (PMDB), que não cansa de dar explicações sobre o colapso dos serviços prestados à população e aos peregrinos durante o evento. Se pudesse, Dilma evitaria uma foto ao lado dos dois.
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Mas trair e coçar é só começar, diz o ditado popular. O PT largou a mão de Sérgio Cabral já faz tempo, só não anunciou o rompimento porque Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm compromissos com o governador fluminense, desde a campanha da reeleição. A seção fluminense da legenda aposta mesmo na candidatura do senador Libdberg Faria (PT). Com isso, o acordo com Cabral em torno da candidatura do vice Luiz Fernando Pezão está em vias de tornar-se letra morta.
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Dilma gosta de Pezão, sempre viu sua candidatura com simpatia, mas já não está em condições de alavancar ninguém na campanha eleitoral de 2014, como o ex-presidente Lula fez com alguns aliados e petistas, inclusive ela própria, nas eleições de 2010. Na avaliação dos petistas, o desgaste da dupla Cabral e Paes, pelo contrário, seria responsável pela abrupta queda de Dilma nas pesquisas no Rio de Janeiro.

Encomendas// A antecipação da campanha eleitoral foi uma fria para todo mundo — exceto para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Quem está no governo terá que reduzir a distância entre as promessas de campanha e os resultados administrativos, para se reeleger ou fazer o sucessor. Ou seja, o foco é a gestão, e não a campanha antecipada.

Ninguém entende
O corpo diplomático estrangeiro em Brasília está perplexo com o que ocorre no país, e é cobrado pelas respectivas chancelarias a dar explicações. Os fatos recentes não condizem com a imagem construída pelo governo brasileiro, na economia e nos aspectos social e político. O pior é que ninguém consegue esclarecer o que está acontecendo, a começar pelo Itamaraty.

Passe livre
Goiânia adotou o passe livre. Estudantes matriculados em qualquer nível de ensino, das redes pública e privada, poderão usar gratuitamente o transporte coletivo da cidade. O projeto que cria o benefício estudantil foi aprovado pela prefeitura e deve ser publicado no Diário Oficial do município amanhã.

Automóveis
O setor automotivo, apesar da saturação das cidades devido ao transporte individual, continua sendo o carro-chefe da indústria. Segundo a Anfavea (associação dos fabricantes), nos primeiros seis meses do ano, foram emplacados no país 1,85 milhão de carros

Verde
A propósito, a ex-ministra Marina Silva, cada vez mais metabolizada com as ruas, tenta convencer o ex-deputado Fernando Gabeira (PV) a candidatar-se ao governo do Rio de Janeiro, garantindo-lhe um palanque robusto nas eleições fluminenses. Gabeira, hoje, dedica-se mais ao jornalismo do que à política.

Saúde
Outro que está em busca de um palanque no Rio de Janeiro é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Conversa com o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão (foto), cujo desempenho na pasta, durante o governo Lula, foi mais bem avaliado do que o de Alexandre Padilha, atual ministro. Com a mudança de governo, após ser substituído na pasta, Temporão trocou o PMDB pelo PSB.

Sem-teto/ O governador Jaques Wagner (PT-BA) entrega hoje, durante café da manhã na Vila Perseverança, dois prédios, com 30 apartamentos, a 60 famílias do Movimento dos Sem-Teto de Salvador (MSTS). Os imóveis têm dois quartos, sala, cozinha, sanitário e área de serviço, sendo quatro deles adaptados para pessoas com deficiência. Todas têm renda de até três salários mínimos.

Empregos/ Na contramão da economia brasileira, que gerou 826.168 novos empregos, de janeiro a junho, os bancos privados fecharam 1.957 postos de trabalho. A Caixa Econômica Federal foi a única instituição que apresentou saldo positivo: 2.804 empregos.

Salários/ A rotatividade joga para baixo a renda dos bancários: o salário médio dos admitidos no primeiro semestre foi de R$ 2.896,07, contra a média de R$ 4.523,65 dos afastados. Ou seja, menos 36% na remuneração.

Fonte: Correio Braziliense

Emoção marca homenagem aos 100 anos de Antonio Granja

Em Vitória, PPS homenageia Granja, que completa 100 anos dia 30

Por: Jaldecy Pereira

Histórias curiosas e muita emoção foram os ingredientes que deram o tempero à sessão solene realizada pelo Diretório Estadual do Partido Popular Socialista (PPS) no Espírito Santo, em homenagem aos 100 anos de Antônio Ribeiro Granja, o militante mais antigo do partido, que fará aniversário na próxima terça-feira, dia 30.

Granja, que é o presidente nacional de honra do PPS, foi homenageado no plenário da Câmara Municipal de Vitória, que ficou lotada de parentes, amigos e correligionários, na manhã deste sábado (27).

Vários convidados se deslocaram de longe para prestigiar o camarada, que foi destaque em sua primeira eleição para vereador de Cariacica, cidade da Região Metropolitana de Vitória, em 1947, sendo até hoje o candidato mais votado proporcionalmente na história política do estado.

“De cada 100 eleitores, 74 votaram em mim para vereador”, lembrou o homenageado em seu discurso.

Um dos dirigentes do partido, Francisco Inácio de Almeida, brincou dizendo que “o comunismo também é um grande remédio para a longevidade”.

Outro “medalhão” do PPS, Mirtes Bevilácqua, que foi a primeira mulher a disputar uma vaga na Câmara Federal, também saudou o aniversariante destacando o espírito de luta do velho Granja. “Sério, combativo, guerreiro, ajudador, ético, digno” e muitos outros adjetivos também foram destacados nas falas dos correligionários durante a sessão.

O presidente estadual do PPS, o prefeito de Vitória, Luciano Rezende, lembrou das muitas histórias que ouviu do próprio Granja durante uma viagem que os dois fizeram e enalteceu o aprendizado adquirido com o amigo.

O presidente nacional do PPS, o deputado federal Roberto Freire (SP) , salientou a luta comunista ao longo da história do partido. “Dizem por aí que o Brasil acordou. Na verdade, tem muito brasileiro, assim como o camarada Granja, que sequer dormiu. Brasileiros que sempre estiveram nas trincheiras lutando por um país melhor”, discursou Freire.

Em seu discurso de agradecimento, Granja recitou o juramento feito ao entrar no antigo PCB (o Partidão), em 1934, que anos depois virou PPS: “Morrer, mas não trair a classe operária”, neste momento, ele foi aplaudido de pé.

Para marcar o evento foram entregues ao centenário líder comunista um certificado de honra, uma placa, a comenda Carlos Lindenberg e um relógio. Este último foi um pedido do próprio aniversariante, e com uma recomendação: tinha que ser um relógio de corda, ou seja, sem bateria.

Presente à homenagem, o líder do PPS na Câmara, deputado federal Rubens Bueno (PR), destacou a trajetória política do grande Granja. “Ele dedicou toda sua vida a serviço do Brasil. É um exemplo de como fazer política com ética e honradez”, afirmou Bueno.

A cerimônia foi também prestigiada pelo prefeito de Cariacica, Juninho (PPS), o senador capixaba Ricardo Ferraço (PMDB), deputados estaduais e vereadores de várias cidades capixabas.

Entre os partidos representados estavam PMDB, PMN, PCdoB, PRB, PRP, PT, PSB e PSDB.

Fonte: Portal do PPS

O que pensa a mídia - Editoriais de alguns dos principais jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Música: Beethoven - Sonata nº.14 op.27 nº.2, Valentina Lisitsa no piano.

Personagem - Cecília Meireles

Teu nome é quase indiferente
e nem teu rosto mais me inquieta.
A arte de amar é exatamente
a de se ser poeta.

Para pensar em ti, me basta
o próprio amor que por ti sinto:
és a ideia, serena e casta,
nutrida do enigma do instinto.

O lugar da tua presença
é um deserto, entre variedades:
mas nesse deserto é que pensa
o olhar de todas as saudades.

Meus sonhos viajam rumos tristes
e, no seu profundo universo,
tu, sem forma e sem nome, existes,
silêncio, obscuro, disperso.

Teu corpo, e teu rosto, e teu nome,
teu coração, tua existência,
tudo - o espaço evita e consome:
e eu só conheço a tua ausência.

Eu só conheço o que não vejo.
E, nesse abismo do meu sonho,
alheia a todo outro desejo,
me decomponho e recomponho.