domingo, 10 de janeiro de 2016

Opinião do dia: Henri Lefebrve

Entre os que aderiram ao marxismo foram muitos os que o adotaram por razões parciais e limitadas: práticas, políticas, econômicas, etc. Compreendiam mal, com frequência, o fato de que a universalidade do método dialético - sua racionalidade – não suporta nenhuma restrição.

Esse método dialético, ademais, não é um fenômeno intelectual, um fato cultural entre outros, que viria ajuntar-se aos existentes e complicar um pouco mais uma cultura já bastante complicada. Esse método vem ordenar, desobstruir e organizar a consciência do mundo e do homem.

Não é um método cujo domínio de aplicação se restrinja à ação política, ou à ciência econômico-social.

O método dialético aplica-se à vida e à arte: tanto à vida individual e cotidiana quanto à mais refinada estética. Sem perder de vista o solido fundamento do ser humano na natureza e na prática (na vida econômica e social), ou, mais exatamente, porque não perde jamais de vista esse fundamento, o método dialético introduz ordem e clareza nos domínios mais afastados da prática imediata e da ação. Assim, e somente assim, pode torna-se a “nova consciência do mundo” e a “consciência do homem novo”, ligando a lucidez do indivíduo e a universalidade racional.
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Henri Lefebvre, Lógica formal e Lógica dialética, p. 44. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1975.

Pedro S. Malan*: O 14º ano do lulopetismo no poder

- O Estado de S. Paulo

Dilma, lidando com ‘o pós-Lula’ foi o título de artigo que publiquei neste espaço quase cinco anos atrás (13/3/2011). À época, a expressão pós-Lula causava marcado desconforto a muitos, que resistiam a vê-la como forma abreviada de se referir ao período que se seguiria ao término dos oito anos (2003-2010) da administração Lula. O artigo explorava possíveis razões do desconforto com essa expressão.

Agora, neste início do crucial ano de 2016, estamos vivendo uma situação em que Lula e o PT já estão “lidando” com o pós-Dilma, isto é, focando no futuro de ambos, mesmo anos antes do que consideram de público a única legítima data-limite (2018) para se falar abertamente sobre o pós-Dilma. Mas o fato é que antes de 2018 vêm as eleições de outubro de 2016. E antes disso Lula e o PT e os movimentos sociais sobre os quais têm grande influência estarão se posicionando e/ou reposicionando em relação ao governo Dilma – à luz do desempenho da economia e de seus próprios, e prioritários, instintos de sobrevivência política.

Lula e o PT já foram capazes de cometer enorme injustiça com o competente ex-ministro Joaquim Levy, responsabilizando-o, e não ao governo Dilma, pelo péssimo desempenho econômico de 2015 – contratado muitos anos antes, desde a gestão Lula 2. Foram inúmeros os manifestos e pronunciamentos do lulopetismo, no correr de 2015, contra a “política econômica do ministro Levy” e a favor da “retomada imediata do crescimento”. Para os dessa grei, apenas uma questão de “vontade política”. Tenho certeza que esse não é o caso do novo ministro da Fazenda.

Mas o ano que se inicia é o 14.º – e crucial ano do lulopetismo no poder. Crucial para Dilma, para o PT e para Lula. E muito mais importante para o Brasil, dadas a lastimável situação em que se encontra a sua economia, a disfuncionalidade de sua política e as consequências do inédito processo de investigação ora em curso sobre ligações perigosas entre pessoas (públicas e privadas) e empresas (privadas e estatais). Nunca antes na História deste país tivemos o grau de incerteza que resulta da interação destas situações de crise.

Sairemos dela um dia, estou seguro, embora a um custo que ainda não nos é dado avaliar exatamente, mas sabemos que está sendo e será ao fim e ao cabo muito alto em termos de empregos que foram perdidos, de renda e empregos que não foram gerados, de renda real perdida para a inflação, de queda de produção, do investimento que não se realizou, de poupança que se evaporou e de sonhos e expectativas frustrados, especialmente para aqueles que haviam adquirido a sensação de um permanentemente conquistado melhor padrão de vida para si e para os seus. É duro encarar por alguns anos a realidade mesmo em países ricos, com renda per capita de três a seis vezes maior que a nossa. Aqui é bem pior a sensação de mal-estar com ilusões perdidas.

O mal-estar pode ser especialmente daninho para a necessária recuperação de um maior grau de confiança no País (que certamente existe), mas principalmente, agora, de confiança no governo e em sua capacidade de coordenação com o Congresso e de comunicação transparente com a sociedade – que deixa, e muito, a desejar.

Para tal o governo precisaria dar demonstrações críveis à sociedade de que a) tem um diagnóstico adequado da situação (neste início de 2016); b) tem um entendimento, que faça sentido para a população, do processo pelo qual chegamos (o País) à situação atual (o passado recente); e c) não menos importante, com base em a) e b), que tem um conjunto de ações, não pura retórica nem proveniente de indevida “gerundização da política” (do tipo vamos estar fazendo, vamos estar providenciando, vamos estar estudando). Afinal, estamos entrando no 14.º ano do lulopetismo no poder.

Não é verdade, como por vezes parece insistir o governo, que tenhamos chegado à situação atual de repente, não mais que de repente, surpreendidos apenas no final de 2014, após o resultado das urnas. Agora, em abril deste ano, estaremos completando dois anos de uma recessão que começou em abril de 2014, cujas bases foram, no fundamental, sendo lançadas por ações, omissões e erros do governo ao longo de anos anteriores a 2014 – na verdade, anteriores a Dilma 1, apenas continuados e acentuados no seu período.

Para a difícil tarefa de entender o presente, e poder vislumbrar o tipo de ações que este e o futuro exigem, é preciso ter alguma narrativa minimamente coerente sobre o passado através do qual chegamos à situação atual. Não qualquer narrativa, destinada a militantes partidários e simpatizantes de sempre, mas uma que parcela expressiva da opinião pública brasileira considere que lhe pareça fazer sentido, dizer-lhe respeito, ser-lhe útil, ajudá-la a entender um pouco melhor a sua circunstância, o seu futuro e dos seus. Isso é tarefa para lideranças políticas capazes de se comunicar de forma convincente e respeitosa para com a inteligência dos brasileiros.

Pode parecer fácil. Mas não é. Tanto é assim que nem o governo – que, afinal, tem a responsabilidade principal – nem as oposições estão sendo capazes de fazê-lo. Mas acho que temos avançado, apesar das aparências em contrário. Ao menos há menor espaço para a mentira, a desfaçatez e a hipocrisia. E certamente menor espaço para erros associados a velhas e perigosas ilusões – que não têm futuro.

Como escreveu Paul Volcker em seu famoso relatório para a ONU (Boas Intenções Corrompidas: o Escândalo do Programa Petróleo por Alimentos): “Após mais de 50 anos de experiência, tive inúmeras oportunidades de observar em primeira mão a frustração das boas intenções: debates infindáveis, defesa de interesses muito especiais, falta de visão ampla e oportunidades perdidas entre o impasse político e a inépcia administrativa”.

Como diria o grande Ancelmo Gois: “Deve ser duro viver em países assim”.

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* Pedro S. Malan é economista, foi ministro da fazenda no governo FHC

Fernando Gabeira: Alguma verdade

- O Globo

Nesta semana, vi um documentário sobre a perseguição do governo Nixon contra John Lennon. Pacifista, crítico de Nixon, Lennon tinha grande influência sobre 11 milhões de eleitores que iriam às urnas com a redução da idade mínima para votar. O governo Nixon moveu um processo de deportação contra Lennon. Foi derrotado, a partir de uma grande pressão internacional da juventude. Entre os legados desse período está uma canção de Lennon intitulada “Gimme some truth”. Ela trata do governo Nixon e pede algo que um governo envolto em práticas ilegais não pode dar em troca: a verdade.

A exigência de ouvir a verdade era ao mesmo tempo uma crítica à sucessão de mentiras do grupo de Nixon e uma aspiração de milhões de jovens americanos. O tempo passou, revolução digital no meio do caminho, e hoje é possível afirmar que o pedido de Lennon transcendeu a juventude: é um amplo desejo social.

O caso do governo Nixon contra Lennon tem relação com o Brasil de hoje. Embora incurso em outros artigos do Código Penal, o governo do PT nesses 12 anos tem a mesma recusa em aceitar a verdade. Independentemente de nuances políticas, governos ilegais não têm outro caminho senão construir uma narrativa de fuga, um cipoal de álibis. Essa incapacidade de nos dar alguma verdade parece incomodar dois quadros importantes do partido: Patrus Ananias e Jaques Wagner.

Nessa virada de ano, como se cumprissem uma promessa de réveillon, disseram: um, que o PT precisava pôr a mão na consciência; o outro, que o PT se lambuzou no poder. É uma reação tardia. Durante tanto tempo, a mão esteve no bolso dos brasileiros, estranho que só agora se desloque para a consciência. Jaques Wagner disse alguma verdade ao afirmar que o PT se lambuzou no poder. Mas o fez de forma tão hábil que parecia atenuar a culpa por ser um réu primário.

O PT teria chegado ao poder e reproduzido as práticas que condenava nos outros. Acontece que isso é apenas um fragmento da realidade. O PT, como nunca antes na História, transformou a corrupção num instrumento de governo e base para se perpetuar no poder. Fundos de pensão, estatais, empreiteiras, teles, tudo passou a ser fonte de recursos. Os aliados foram comprados no Mensalão e ganharam lugares estratégicos para saquear a Petrobras.

O PT montou um esquema que produziu fortunas. Sua passagem pelo governo, além de tornar a prática sistemática e abrangente, fez da corrupção no Brasil um tema internacional com desdobramento em várias cortes. Possivelmente, a tática dos dois quadros políticos, diante das resistências internas, é apenas uma proposta gradativa da verdade. É uma tática que só funciona quando o poder é o único a deter a realidade dos fatos. Mas hoje eles são públicos, através de dados da polícia, delações, reportagens investigativas.

A imagem que me vem à cabeça é a do colégio de freiras Stela Matutina, onde minha mãe estudou. As alunas tinham de tomar banho de camisola. Jamais se viam os corpos, apenas sombras, contornos, saliências. Eram virgens, os corpos nus eram um segredo pessoal. Mas a realidade histórica desnudou o PT. Por que revelar a varejo o que todos conhecem por atacado?

O gigantesco esquema montado pelo PT mudou a própria maneira como a sociedade vê a corrupção. Nos últimos dias do ano, a PF informou que houve um rombo de R$ 5 bilhões no Postalis. O tema desapareceu como se fosse a luz de um foguete no réveillon. Não foi adiante porque R$ 5 bilhões parecem ser uma mixaria diante das cifras gigantescas.

Um governo pode ser sincero e até meio incompetente. Mas, quando escolhe o caminho ilegal e domina o espaço político, o estímulo ao cinismo se propaga como um rastilho. Foi criado no Brasil um partido das mulheres que só tem homens e uma única mulher como presidente. Uma observadora da ONU, em entrevista sobre as Metas do Milênio, detectou essa jabuticaba. Mas o fato passou batido como o rombo do Postalis. Um sólido bloco masculino propondo um partido das mulheres e sendo reconhecido é apenas mais um dado do cotidiano. Ficou tudo um pouco desconexo, os vínculos se dissiparam, e hoje o campo da política tornou-se um obstáculo ao debate racional. Gira em torno de si mesmo. O pior é que as escolhas econômicas indicam o abismo. O PT quer produzir um ovo da galinha para se salvar nas eleições de 2016.

A galinha não consegue voar, mas eles descobriram algo para lhe dar asas: as reservas monetárias do país. Querem metade delas, cerca de US$ 174 bilhões. Falaram também que a China vai nos ajudar com empréstimos. Dois dias depois, parece que a notícia chegou lá: a bolsa chinesa desabou com relatos de queda na produção industrial. Nossos potenciais salvadores estão em dificuldades. O uso das reservas terá repercussão negativa nos mercados.

Insistir no que deu errado achando que um dia dará certo, fugir da verdade quando todos pedem um encontro com ela, é uma escolha histórica. Nixon, pelo menos, renunciou. No último momento, de alguma forma, assumiu a verdade.

Dora Kramer: Terrenos na lua

- O Estado de S. Paulo

Depois de encerrar 2015 fazendo um balanço do ano completamente distante da realidade, a presidente Dilma Rousseff inicia 2016 com projeções cujas realizações estão muito acima de suas reais possibilidades. Dilma fala como se ainda tivesse cacife suficiente para fazer e acontecer, e não fosse uma governante desprovida de apoio até entre seus aliados formais.

Na entrevista que deu na última quinta-feira, a presidente vendeu terrenos na lua: decretou o fim de uma crise que ganha fôlego a cada revelação da Operação Lava Jato, prometeu reduzir uma inflação de trajetória ascendente, manifestou confiança na volta de um imposto (CPMF) repudiado no Congresso e na sociedade e, por fim, anunciou que vai “encarar” a reforma da Previdência, coisa que nem Lula conseguiu no auge da popularidade e da força política.

Isso tudo sem levar em conta o ano eleitoral em que a tendência é o aumento dos conflitos políticos e uma considerável redução na disposição dos partidos de confrontarem o eleitorado dando sustentação a medidas que não sejam do gosto popular. O PT, os movimentos sociais e os sindicatos se contrapõem abertamente a Dilma nas ações necessárias na busca do equilíbrio fiscal.

E se os representantes do que ainda restaria de sustentação ao governo não têm intenção de contribuir para a realização das projeções presidenciais, muito menos o farão seus adversários oficiais. De onde seria conveniente que Dilma desviasse a cabeça do mundo da lua e pusesse os pés no chão.

Pior a emenda. Na já notória entrevista em que o ministro Jaques Wagner disse que o PT “se lambuzou” no poder, ele atribuiu a voracidade transgressora ao fato de o partido não ter sido “treinado para isso”, referindo-se ao uso de velhas ferramentas da política brasileira. “Quem é treinado erra menos, talvez”, supôs.

Dessa suposição chega-se à seguinte conclusão: na visão do ministro o problema não foram os malfeitos, mas o fato de não terem sido suficientemente bem feitos a fim de ficarem convenientemente escondidos.

Declarações feitas na mesma ocasião pelo ministro do Desenvolvimento Agrário não provocou reação alguma nos petistas que se revoltaram com as palavras de Wagner. Isso a despeito de Patrus Ananias ter apontado a necessidade de o partido fazer um “exame de consciência” diante do, segundo ele, previsto desastre eleitoral neste ano. Manifestou também seu temor de que só se elejam petistas usuários de “canais” menos ortodoxos, indicando que a prática continua.

Meia sola. Presos nos respectivos labirintos, os presidentes da Câmara e do Senado tiveram uma ideia: ressuscitar o parlamentarismo como solução para a crise política. Eduardo Cunha examina a possibilidade de incluir na pauta alguma das várias propostas em tramitação sobre a alteração do regime e Renan Calheiros encomendou um “estudo” a respeito do tema para a assessoria jurídica.

Sem dúvida alguma, um casuísmo. De longe a pior forma de se reintroduzir no debate uma questão importante, já objeto de plebiscitos no País, cujo resultado foi favorável ao presidencialismo. Os dois realizados sob a égide das circunstâncias e não à luz de uma reflexão detalhada, aprofundada e bem explicada ao público sobre seu funcionamento e significado.

A retomada do assunto como “atalho” para a redução de poder da presidente Dilma Rousseff não faria jus às convicções parlamentaristas e imprimiriam distorção aos objetivos do tema posto ao exame dos brasileiros.

Merval Pereira: O pântano regimental

- O Globo

O jurista Joaquim Falcão, em recente entrevista ao jornal “Valor”, recomendou que ninguém se precipite em tirar conclusões sobre o resultado o julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre o rito do impeachment “pois esse é um longo processo, com muita incerteza no ar”. De fato, os embargos de declaração que serão impetrados no STF, pelo (ainda) presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e por partidos de oposição, por seus efeitos infringentes (modificativos), poderão alterar o resultado do julgamento.

Mais uma vez estará como ponto central da disputa a figura de Cunha, a quem o ministro Luís Roberto Barroso, que liderou a divergência ao voto do relator Edson Fachin, acusou de ter atuado como o dono da bola que decide alterar as regras em meio ao jogo.

No fundo, segundo juristas ouvidos, discutir normas regimentais é um pântano que o Supremo deveria evitar sempre que possível — e não apenas para preservar o poder da Câmara de interpretar sua própria organização interna. Essas normas são complexas, potencialmente contraditórias, e cheias de problemas ocultos.

E, é claro, Cunha sabe tudo de Regimento e Barroso desceu a um grande nível de detalhe regimental, sobretudo no voto escrito. Juristas veem um possível problema no argumento de Barroso: de um lado, ele diz que, pelo artigo 33 do Regimento Interno da Câmara, conforme autorizado pela Constituição e em respeito à autonomia partidária (ponto que enfatizou no voto), a Comissão Especial não é escolhida, mas sim designada pelos líderes.

De outro, porém, enfatiza que, nesse caso, a Comissão deve ser eleita por voto aberto, alegando que gostaria de seguir o rito definido pelo STF para o impeachment do ex-presidente Collor. Naquela ocasião, houve consenso partidário em torno dos nomes para a Comissão, sem necessidade de disputa, e a votação foi por voto simbólico.

Se quem designa são os líderes, é estranho que haja eleição no Plenário para escolher esses membros. Além do mais, esse entendimento não é necessariamente algo com que todos os ministros que votaram com Barroso concordam. “Simplesmente não há eleição alguma”, afirma Barroso a certa altura de seu voto.

Mas o advogado Jorge Beja, do Rio, notou uma incongruência na ata aprovada por todos os ministros do STF. Na ata, o resumo da decisão é diametralmente outro. Diz: “Quanto à cautelar incidental (forma de votação), por maioria, deferiu-se integralmente o pedido para reconhecer que a eleição da comissão especial somente pode se dar por voto aberto, vencidos os ministros Edson Fachin, Teori Zavascki, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso Mello”. Note-se que se todos mantiverem suas posições, basta que um dos ministros que votou com Barroso mude seu voto para reverter a decisão.

O que a ata do STF parece sugerir é que nem todos os ministros endossam os argumentos regimentais que o Barroso usou. Há uma questão que será explorada por Cunha: a Constituição, no art. 58, refere-se à formação de comissões permanentes e temporárias, indicando que devam ser constituídas na forma e com as atribuições previstas no respectivo regimento interno (seja da Câmara ou do Senado) “ou no ato de que resultar sua criação”.

A alegação da Câmara será que a formação da Comissão Especial foi realizada conforme o art. 218, §2º, que trata especificamente de impeachment: “Recebida a denúncia pelo Presidente, verificada a existência dos requisitos de que trata o parágrafo anterior, será lida no expediente da sessão seguinte e despachada à Comissão Especial eleita, da qual participem, observada a respectiva proporção, representantes de todos os Partidos”. Por que usar o artigo 33, que fala genericamente nas comissões temporárias, quando há um artigo específico sobre impeachment? E o artigo 188 determina quais são os casos em que não pode haver “votação secreta”, sem incluir a formação da Comissão. Logo, alegam especialistas que apoiam a decisão de Cunha, não poderia o STF estabelecer que não haverá eleição para formar a Comissão.

E não poderia o STF estabelecer que alguma votação que se faça em relação a essa Comissão não possa ser por votação secreta. Se assim o fizer, o STF estará violando suas atribuições constitucionais e passando a atuar como Poder Legislativo, já que estaria acrescentando um inciso ao §2º do art. 188 do Regimento Interno da Câmara.

Resta a explicação de Barroso de que a “eleita” pode significar “escolhida”, segundo alguns dicionários. Mas essa é uma discussão mais de filologia do que jurídica.

Samuel Pessôa: Olhando para a frente

- Folha de S. Paulo

A hipótese de trabalho do cenário para 2016 é que ele dependerá pouco de haver ou não troca de Dilma Rousseff por Michel Temer.

É possível que Temer tenha maior habilidade e consiga gerir melhor a política. No entanto, as enormes dificuldades estruturais que produziram a crise econômica –resultado fiscal que mantém a dívida pública em trajetória explosiva e a incapacidade da política em encaminhar o problema– sugerem que a troca de guarda no Palácio do Planalto não fará aparecer 4% do PIB no caixa do Tesouro. Nossos problemas continuarão.

A percepção do parágrafo anterior é agravada pela fortíssima divisão interna do PMDB criada pela agenda do impedimento. Será difícil o PMDB se aglutinar em torno de um polo de poder.

A queda provável de 3,6% da atividade em 2015 deixou um resíduo estatístico de -2% para 2016: se o crescimento for zero em 2016, a média de 2016 ante a média de 2015 será de -2%. Assim, o cenário com o qual trabalho é de crescimento de -3% em 2016. Esse número resultará de crescimento negativo no primeiro semestre e positivo no segundo semestre, além do carregamento de -2% de 2015 para 2016.

Tecnicamente nossa recessão deverá terminar em algum ponto do segundo semestre de 2016. No final de 2016, o PIB per capita será 9% menor do que em 2013.

O ajuste externo continuará bem. O deficit de transações correntes será de US$ 35 bilhões, representando redução de US$ 70 bilhões em 24 meses! O forte recuo do deficit externo deve-se à queda da atividade e a seu impacto sobre o investimento, à desvalorização do câmbio e, boa notícia, à ótima estrutura de nosso passivo contra o resto do mundo.

Nosso passivo, diferentemente das crises dos anos 1980 e 1990, encontra-se na forma de investimento estrangeiro direto e empréstimos denominados em nossa moeda e na nossa jurisdição (gringo colocando dinheiro aqui dentro para financiar o Tesouro Nacional). Sempre que o câmbio se desvaloriza, juros, dividendos e lucros enviados caem muito.

Para a inflação, os modelos indicam, com câmbio de R$ 4,6 em dezembro e inflação de administrados de 8,5%, uma taxa de 7,5% em 2016. Em vista da maior inércia que temos observado, e de prever para 2016 novas rodadas de aumento de alíquotas de impostos –PIS-Cofins, Cide e ICMS– em razão da penúria dos Tesouros da União e dos Estados, cravo 8,5% para a inflação em 2016.

A piora da inércia será reforçada pelo aumento de 11,7% no salário mínimo em janeiro, em um momento de queda do produto per capita.

Apesar de forte inflação, o prosseguimento da desaceleração econômica e a profundidade e a duração da depressão farão com que a taxa de desemprego seja em média de 11,5% em 2016, atingindo 12,5% no quarto trimestre. Teremos um ano de estagflação plena: o aumento do desemprego produzirá pequena queda da taxa de inflação, em razão da elevada inércia e de mais uma rodada de elevação de impostos.

Haverá piora contínua da economia sem ruptura. A elevada posição credora de reservas é uma força amortecedora que impede cenários extremos.

A realidade poderá ser melhor do que essa se o Executivo, com Dilma ou Temer, conseguir unir a base do governo e negociar com a oposição a aprovação de algumas medidas que tratem do nosso desequilíbrio estrutural do gasto público, como a reforma da Previdência, e melhorem as condições de eficiência da economia, como a reforma tributária, com vistas a reduzir o custo de observância da legislação tributária.

Eliane Cantanhêde: O ‘compositor’

- O Estado de S. Paulo

O empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, é uma metralhadora giratória contra tudo e todos, mas sua vítima mais importante é o ex-governador da Bahia, ex-ministro da Defesa, atual chefe da Casa Civil e potencial nome do PT para a Presidência em 2018. Sim, ele, Jaques Wagner.

No coração de um governo que convive com um processo de impeachment, inflação muito acima do teto e do razoável, recessão que se alastra pelo segundo ano seguido e uma angustiante falta de rumo, Jaques Wagner trocou de personagem nas manchetes. Até 2015, ensaiava ser o ministro que dava o tom político do governo. Em 2016, virou o ex-governador suspeito de relações perigosas com empreiteiro onipresente.

Primeiro, as mensagens de Léo Pinheiro, que tinha intimidade com o poder, chamava o ex-presidente Lula de “Brahma” e referia-se a Jaques Wagner como “compositor”. Wagner pedia ajuda ao empreiteiro para campanhas na Bahia. Pinheiro recorria ao governador em suas obras no Estado e nas negociações em Brasília. Um troca-troca.

Depois, a notícia de que dois executivos da OAS migraram para o governo da Bahia, assumindo cargos com ingerência direta sobre obras públicas que a empreiteira disputaria e tocaria. Em círculos, sem intermediários: da OAS para o governo, do governo para a OAS.

E, ora, ora, não é que o Tribunal de Contas da União investiga uma obra superfaturada justamente da OAS de Léo Pinheiro no governo de Jaques Wagner na Bahia?!

Na sexta-feira, um disparo de grosso calibre: o peculiaríssimo Nestor Cerveró, que tinha cargo chave na Petrobrás e tem papel de destaque no bangue-bangue, diz que desviou propina para a campanha de Wagner em 2006. O presidente da maior companhia brasileira, José Sérgio Gabrielli, era do PT da Bahia...

Isoladamente, essas coisas são incômodas, mas não significam que Wagner meteu no bolso e não destroem a carreira de ninguém. O problema está no conjunto da obra, que cria uma névoa de suspeitas, mais um constrangimento num governo já tão acuado e mais um vírus na saúde abalada do PT. Além de responder uma por uma à opinião pública e à Procuradoria-Geral da República, o maior desafio do chefe da Casa Civil é preservar sua imagem.

Wagner não está sozinho na lista de Léo Pinheiro, que inclui os também ministros Edinho Silva (PT) e Henrique Eduardo Alves (PMDB) e três outros peemedebistas: o ex-ministro Edison Lobão e os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha.

Assim como Léo Pinheiro, evidentemente, também não está sozinho. Faz parte de uma gorda coleção de empreiteiros, executivos e lobistas presos, com a lista de delatores só crescendo. Vem aí Luís Eduardo Campos Barbosa da Silva, o “Robin”, e deve vir também Mauro Marcondes, da Operação Zelotes. Um homem-bomba atrás do outro.

Para quem está em dúvida, o Supremo Tribunal Federal acaba de dar uma forcinha a mais para que virem delatores e tentem atenuar penas que tendem a ser gigantescas. O presidente da corte, Ricardo Lewandowski, negou habeas corpus e manteve preso o megaempreiteiro Marcelo Odebrecht. Todos de barbas de molho - e doidos para abrir o bico.

É assim que, quanto mais aumenta o número de delatores, mais se multiplicam os nomes dos delatados. Mas, na leva atual, nenhum é mais importante para o governo Dilma e para o PT como Jaques Wagner. Lula diz que vai em 2018, mas pode não ir. Wagner é o plano B - o único plano B.

O PT ficou sem as opções de Dirceu e Antonio Palocci, caiu na esparrela Dilma Rousseff, alardeia que vai de Lula, mas avalia que, se não tem tu (Lula), vai de tu mesmo (Jaques Wagner). E sem Wagner? O partido se recusou a fazer aliança com o PSDB na hora certa e jamais admitiu apoiar um aliado, qualquer que fosse. Se lançar Ciro Gomes (PDT), por exemplo, estará selando sua sentença de morte.

Francisco Jordão: Sal de fruta

- Folha de S. Paulo

Depois de uma curta trégua para os festejos do final do ano, a primeira semana de janeiro foi de causar indigestão a muitos políticos com novas revelações da Operação Lava Jato.

Com o surgimento diário de novos detalhes e com um leque tão amplo de investigados, o começo de 2016 repete a sensação de medo e incerteza que pairou sobre os integrantes do Planalto e do Congresso durante o ano passado. Todos na expectativa para saber quem será o protagonista da vez.

Nesta semana, o todo-poderoso ministro da Casa Civil e braço direito de Dilma, Jaques Wagner, encabeçou a lista ao ser citado pelo ex-diretor da Petrobras e delator da Lava Jato, Nestor Cerveró, e também aparecer em mensagens do explosivo celular de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS.

No governo e nos partidos aliados há um número tão grande de investigados e citados nas investigações que talvez seja mais fácil contar nos dedos quem nunca se envolveu na Lava Jato.

Conhecendo muito bem essa conta, Dilma criticou, em café da manhã com jornalistas, o que chamou de "vazamento e espetacularização" das denúncias que atingem integrantes do seu governo. Fez uso do discurso recorrente no meio político de culpar "vazamentos seletivos" sem entrar no mérito da acusação.

Entre um gole de café preto e um queijo branco, Dilma soltou sua bravata midiática ao dizer que os investigadores da Lava Jato podem virá-la "do avesso" que não irão encontrar nada. Para um discurso coerente, a presidente poderia pedir que a Polícia Federal virasse "do avesso" todos os ministros escolhidos por ela. Afinal de contas, se ela não põe a mão no fogo por seus mais próximos aliados, por que os escolheu?

O "grau de imprevisibilidade" está tão grande que poucos são os que se arriscam a falar publicamente sobre o que esperar do futuro. Uma coisa é certa. Perderam feio aqueles que apostaram que o noticiário político fosse esquentar só depois do Carnaval.

Luiz Carlos Azedo: No Inferno de Dante

• Uma advertência que poderia estar na porta do Congresso ou do Palácio do Planalto: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”

- Correio Braziliense

Protagonizada por verdadeiros mortos-vivos, em razão da Operação Lava-Jato, a política brasileira está vivendo uma espécie de Inferno de Dante, inclusive agora, com as recentes revelações sobre as mensagens do empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, pela Operação Lava-Jato. A descrição de Dante é uma representação dos mortos da antiga Grécia em plena Idade Média, período em que o cristianismo era atazanado por almas penadas e demônios que habitavam suas profundezas em meio ao fogo e à expiação.

Esse mundo fantasmagórico foi descrito por Dante Alighieri entre 1304 e 1321, na primeira parte da “Commedia”, conjunto de 100 cantos épicos escritos em dialeto toscano, divididos em três volumes — Inferno, Purgatório e Paraíso —, que se tornaram conhecidos como “A Divina Comédia” a partir do século XVI. Alighieri nasceu em Florença, em 1265. Dedicou sua vida à política. No exílio, escreveu esse clássico da literatura, que contradiz a tragédia grega porque começa com um grande sofrimento e tem um final feliz.

O foco do poema é a busca de Dante por sua amada Beatriz, que começa pelo inferno, cuja descrição tem tudo a ver com a crise política e os personagens investigados pela Operação Lava-Jato. O inferno de Dante é composto por nove círculos, que se diferenciam por punições, danados, ambientes e demônios. Seu companheiro de viagem é Virgílio, autor de Eneida, o épico romano. Logo na chegada do Inferno se deparam com uma advertência que poderia estar na porta do Congresso ou do Palácio do Planalto: “Deixai toda esperança, ó vós que entrais”.

No primeiro círculo do inferno, chamado Limbo, estão aqueles que não foram batizados e os que nasceram antes de Jesus Cristo. Digamos que são os políticos de oposição que também receberam doações legais das empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato ou estiveram no poder antes da eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Do segundo ao quinto círculo, encontramos os pecados cometidos sem culpa, pela ingenuidade ou ignorância. Minós, o juiz do inferno, escuta as confissões de cada pecador e pune os luxuriosos, que são jogados num turbilhão de vento violento. Podemos classificar nesse círculo os eleitores da presidente Dilma Rousseff e alguns de seus apoiadores arrependidos.

No terceiro círculo, Cérbero espanca os gulosos jogados na lama sob uma chuva incandescente. Digamos que aí esteja a chamada nova classe média, que apostou na ascensão social via empreendedorismo e quebrou. Na entrada do quarto círculo, o demônio Plutão defende o local e pune os ávaros e pródigos, digamos, tanto os crédulos que perderam dinheiro guardando-o na poupança como aqueles que abusaram do cartão de crédito, que agora empurram pesos enormes como castigo.

Dante e Virgílio descem mais e chegam ao rio de sangue fervente chamado Estige, no quinto círculo infernal: aqui são castigados os irados. São os petistas empedernidos que ainda defendem o partido e o governo, fervorosamente, nas ruas e nas redes sociais.

Os culpados
Flégias, da mitologia grega, possibilita a travessia de Dante e Virgílio para o sexto círculo do inferno, onde esta a cidade de Dite, uma espécie de transição dos pecados sem culpa para aqueles realizados com consciência. Aqui são queimados os hereges, dentro de tumbas desprovidas de tampas. São os petistas e aliados que estão se afastando do governo e do partido, por discordar há tempos do rumo das coisas ou porque resolveram pular do barco enquanto há tempo.

No sétimo círculo, se deparam com o Minotauro de Creta e com o rio Flegetonte. O minotauro é o guardião dos três vales, onde estão os culpados por violência. No primeiro estão os homicidas, no segundo os suicidas e no terceiro os violentos contra Deus. Em linguagem figurada, é claro, respectivamente, seriam os quadros do PT que fracassaram na condução das políticas públicas; os parlamentares que ainda põem a cara a tapa pra defender o governo; e os sindicalistas da CUT e líderes dos movimentos sociais que lutam para preservar as benesses do poder.

Quando Dante e Virgílio chegam ao oitavo círculo ou Malebolge, encontram os fraudulentos. São sedutores, aduladores, simoníacos, adivinhos, corruptos, hipócritas, ladrões do sagrado, maus conselheiros, semeadores da discórdia e os alquimistas. Nessa turma estão os envolvidos na Lava Jato e os que deram cobertura política para as falcatruas: diretores da Petrobras, lobistas, doleiros, ministros e ex-ministros, governadores, senadores e deputados suspeitos de operar ou de se beneficiar do esquema de corrupção.

O nono círculo está na parte mais funda, onde são punidos os traidores. Aqui deságuam os rios Estige, Flegetonte e Aqueronte, que formam o rio Cocito. É a única parte do inferno que é fria ao extremo. Nela está Lúcifer, aprisionado da cintura para baixo, com suas grandiosas asas e três cabeças. Cada boca mastiga um dos traidores: Judas, Brutus e Cássio. Até agora há 40 delatores na Lava-Jato. Esse, porém, pode ser o lugar dos que fizeram um pacto com o diabo, como Fausto de Goethe (Mefistoles), mas essa já é outra obra literária. É outro demônio!

Miriam Leitão: O que encarar

- O Globo

A presidente Dilma Rousseff disse uma coisa e, logo após, o seu oposto. Ficou difícil entender. Ela disse: “Nós precisamos encarar a reforma da Previdência”, com a fixação da idade mínima, para em seguida dizer que “outro caminho é o 85/95”. As duas afirmações se anulam. A segunda fórmula é deixar tudo como está, porque é isso que vigora desde que foi derrubado o fator previdenciário.

Dilma não é o exemplo da clareza de manifestação de pensamento, então é preciso caminhar nesse chão pedregoso de palavras incertas em busca do significado. Encaremos. Ela começou dizendo: “Nós vamos encarar a reforma da Previdência, sempre considerando que ela tem a ver com modificação.” A última palavra da frase leva ao entendimento de que ela quer mudar o modelo atual. “Primeiro na idade, no comportamento etário da população. Nós estamos envelhecendo mais e morrendo menos.” Ela quer dizer que o quadro etário está mudando porque os brasileiros estão vivendo mais e morrendo mais tarde. É fato. Isso coloca para o Brasil um inarredável encontro com este tema difícil.

Assunto árido é reforma da Previdência. Economista ou demógrafo que a defende recebe mensagens de ódio como se ele fosse culpado, quando está apenas entregando a mensagem de que precisamos falar sobre isso. Jornalista que escreve sobre o tema também é criticado, mas isso é do jogo.

A presidente Dilma estava indo razoavelmente bem na explicitação do seu pensamento até que ele ficou tortuoso. “Não é possível que a idade média de aposentadoria no Brasil seja 55 anos. Os países desenvolvidos, emergentes, todos buscaram aumentar a idade de acesso à aposentadoria”. De fato, 55 anos é cedo demais e, se é a média, significa que muita gente se aposenta com menos do que isso. E há uma inversão da ordem. Os mais pobres se aposentam por idade, mais tarde, portanto. Os que sempre tiveram inserção no mercado de trabalho formal passam a receber o benefício mais cedo. A presidente completou: “E o outro caminho é o 85/95. Nos dois casos, uma coisa tem que ser considerada: não se pode mexer nos direitos adquiridos”. Aí, complicou.

A fórmula que permite à mulher se aposentar quando a soma da idade com o tempo de trabalho der 85, e ao homem 95, já está em vigor. Ela abre a possibilidade de uma mulher se aposentar até mais cedo do que a média atual. O governo vetou a forma proposta pelo Congresso e em seguida propôs uma alteração, o 85/95 progressivo, mas vai aumentar o gasto da Previdência, em relação ao período do fator.

O déficit do Regime Geral da Previdência Social, dos trabalhadores do setor privado, saltou 38,9% entre 2014 e 2015 em termos reais, ou seja, excluindo da conta os efeitos da inflação. O rombo acumulado de janeiro a novembro nesses anos, último dado divulgado pelo Tesouro, aumentou de R$ 65,7 bilhões para R$ 91,3 bilhões.

Durante muito tempo, os que são contra a reforma diziam que tudo era culpa da Previdência Rural. Alegavam que sem os aposentados rurais o problema não existiria. Mas até a Previdência Urbana passou a ter déficit, em parte pelo aumento do número de aposentados e queda dos contribuintes, com o desemprego. A Previdência dos funcionários públicos também tem um déficit de R$ 67 bilhões e para apenas um milhão de aposentados.

Qualquer governante diante de números tão assustadores não tem outra saída a não ser encarar o problema. A presidente Dilma, em reuniões com a equipe econômica, na época do ministro Joaquim Levy, se deixou convencer de que a reforma da Previdência é necessária, mas fica dando sinais contraditórios. Dilma mesma tem dito que isso sairá da comissão que montou para propor uma solução. A comissão nem tem se reunido e jamais demonstrou ter entendido a gravidade do nó previdenciário.

Viver mais é uma vitória. O aumento da expectativa de vida é resultado de acertos de políticas públicas. Não se pode transformar o avanço em um rombo que ameaça o país. Para encarar isso, é preciso que a presidente tenha uma proposta e a defenda. Não pode dizer algo e o seu oposto, como fez nessa entrevista. Será difícil a tramitação de reforma em época como essa. Mais difícil ainda se a fala da presidente for tão hesitante.

Rolf Kuntz*: São Paulo caiu do cavalo e mudou. Bicicleta serve?

- O Estado de S. Paulo

O corpo humano é formado por cabeça, tronco e membros, e o primeiro desses componentes é em geral o mais útil para a formulação e a execução de políticas públicas. Mas a presidente Dilma Rousseff, talvez por modéstia ou parcimônia, prometeu apenas “lutar com unhas e dentes” para manter uma expectativa positiva em relação à economia. Só se poderia tomar como implícita a referência à cabeça – e ao cérebro, portanto – se o histórico de sua administração fosse menos desastroso. A declaração foi feita numa reunião com a imprensa, na quinta-feira, e ela de fato usou o verbo “manter”. Foi uma escolha estranha, porque a expectativa é muito ruim, como em 2015 e também na maior parte do ano anterior. Além de unhas e dentes, ela indicou também a CPMF como ferramenta indispensável para a política econômica nos próximos meses. Todo o governo, disse também a presidente, está empenhado em garantir um 2016 melhor que o ano anterior. Faltou explicar mais claramente como esse governo, sob seu comando, poderá produzir algo melhor que o estrago dos últimos cinco anos.

A inflação de 10,67% no ano passado, a maior depois de 2002, foi consequência de uma longa acumulação de erros. Boa parte dessa taxa é explicável pela correção dos preços administrados, contidos politicamente por muito tempo. Esses preços aumentaram em média 18,06% em 2015. O ajuste mais espetacular foi o das contas de eletricidade, com alta de 51%. A decisão populista de conter esses e outros preços, como os da gasolina e do gás, impôs grandes perdas à Petrobrás, a empresas do setor elétrico e ao próprio Tesouro. O conserto seria inevitável e doloroso.

Mas a inflação é explicável também por outros erros e abusos. O governo gastou demais, concedeu benefícios fiscais e financeiros de forma tão imprudente quanto ineficaz, criou insegurança entre empresários e investidores, prejudicou a imagem do País e contribuiu para a instabilidade cambial. Apesar da intervenção do Banco Central no mercado, o dólar subiu cerca de 50% em um ano, pressionando os preços internos. Mas a maior e mais constante demonstração de irresponsabilidade e imprevidência foi mesmo a gestão desastrosa das contas públicas, principal combustível da inflação brasileira. A contabilidade criativa, desenvolvida no Ministério da Fazenda e principalmente na Secretaria do Tesouro, nesse período, tornou-se conhecida também no exterior. Poderá servir de exemplo, assim como as pedaladas, em qualquer exposição sobre como destruir um orçamento.

Mas o virtuosismo do governo consistiu principalmente em combinar a disparada dos preços com a mais prolongada e mais desastrosa recessão da economia brasileira. A produção industrial, estagnada entre 2011 e 2014, encolheu 7,7% nos 12 meses terminados em novembro de 2015. Os novos dados da indústria foram também divulgados no começo do ano. Em novembro, a indústria geral produziu 12,4% menos do que um ano antes, segundo os últimos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Agora o governo promete uma retomada do crescimento até o fim do ano. Mas quanto a economia poderá crescer, nos próximos anos, de forma sustentável? Não muito, porque o potencial produtivo do País diminuiu nos últimos anos.
Não só para aumentar, mas também para manter esse potencial, os brasileiros deveriam ter investido muito mais em bens de capital, isto é, em máquinas e equipamentos, e em obras de infraestrutura. Nos 12 meses até novembro a indústria de bens de capital produziu 24,1% menos que nos 12 meses anteriores. Na comparação de novembro de 2015 com novembro de 2014 a queda chega a 31,2%. Mais atualizados, os números do comércio exterior mostram uma queda de 20,2% no valor da importação de bens de capital em todo o ano passado.

Diminuíram, portanto, ao mesmo tempo as compras de bens de capital tanto nacionais quanto estrangeiros. O investimento privado começou a ratear bem antes de 2015. A indústria de máquinas e equipamentos andou mal durante todo o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, embora o governo tenha mantido até este ano o Programa de Sustentação de Investimento (PSI).

Lançado em 2009, quando o País começava a sair da recessão, esse programa durou muito mais que o previsto inicialmente. Foi financiado com recursos transferidos pelo Tesouro para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Envolveu subsídios importantes, mas produziu resultados abaixo de pífios, até porque a maior parte do dinheiro foi destinada a empresas grandes e mais capazes de se financiar por outros meios. O foco das políticas nunca foi o melhor atributo dos governos petistas.

Quanto ao investimento público, é um caso bem conhecido de fiasco, explicável quase exclusivamente pela incompetência do governo, porque o dinheiro previsto em cada ano jamais foi totalmente aplicado. Resultado: taxa de investimento em torno de 20% do produto interno bruto (PIB) durante alguns anos e bem abaixo disso no fim do primeiro e no começo do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Sem capital físico e sem produtividade o crescimento só pode ocorrer por milagre. Se milagre for uma questão de merecimento, haverá uma fila enorme na frente do Brasil.

No segundo semestre de 2015, duas agências de classificação rebaixaram o crédito do Brasil ao grau especulativo. Nas duas ocasiões, a presidente, seguindo a opinião do ministro Nelson Barbosa, havia cometido tolices na política orçamentária. Agora ela promete um esforço para diminuir o desajuste das contas públicas e estimular o investimento. A principal novidade no governo, hoje, é o ministro Barbosa na Fazenda. O mesmo governo poderá fazer algo mais sério? São Paulo, segundo se conta, converteu-se depois de cair do cavalo. A presidente anda de bicicleta. Na falta de cavalo, bicicleta serve?
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* Rolf Kuntz é jornalista

Vinicius Torres Freire: Ano curto de dinheiro e ideias

- Folha de S. Paulo

Feijão com arroz e um bifinho de crédito estatal, talvez um torresmo. Parece que é isso que será a política econômica de 2016, na melhor da hipóteses. Pelo menos é a impressão que fica da primeira semana de 2016 dos novos economistas de Dilma Rousseff. Caso a presidente não caia, ela promete ainda oferecer um churrasco na Previdência, um projeto para fixar uma idade mínima para a aposentadoria.

Na política, logo de cara há uma nova rodada de dinamitação do governo, visível no que está sendo feito com o ministro Jaques Wagner (Casa Civil), o que vai piorar muito até o fim do recesso, até o Carnaval, a julgar pelo que dizem envolvidos nesses vazamentos e investigações. Não vai sobrar apenas para Wagner.

Note-se que o governo não é muito mais que Dilma, Wagner e Nelson Barbosa, ministro da Fazenda. O restante do ministério ou cuida de interesses setoriais do mundo privado, ou já está avariado, ou é uma chusma de inúteis, para dizer o mínimo. Após a fritura de Wagner, virá ainda o tumulto da Quaresma do impeachment.

A metade final do ano será ocupada por Olimpíada e eleição municipal. Ou seja, o ano terá uns três meses. Talvez seja tempo até demais, dado o vazio de ideias.

Na economia, o feijão com arroz com bifinho magro de frango é muito pouco para lidar com um PIB que deve ser 2% menor em 2016, pelo menos. Caso a produção, o PIB, fique no mesmo tamanho que tinha no trimestre final de 2015, caso fique estagnada, esta será a recessão de 2016: uns 2%. Uma economia assim menor tende a empregar menos.

Em suma, pode ser que o PIB volte a crescer no trimestre final do ano, mas a sensação térmica nas ruas será bem pior. De qualquer modo, as perspectivas de retomada de crescimento serão medíocres, pois a peste da dívida pública crescente estará carcomendo ainda o país. De resto, quase tudo mais na administração estará parado, pois não há governo faz anos.

Até que aqui, o que os economistas de Dilma Rousseff insinuam pelos jornais e nas internas é que não querem fazer marola. Querem dar um pouco mais de crédito estatal para a construção civil e colocar para andar alguma concessão de infraestrutura. O possível para atenuar a recessão.

No mais, vão cortar gasto na boca do caixa e tentar aumentar imposto, CPMF ou o que estiver à mão, a fim de atenuar o rombo fiscal.

Ou seja, a perspectiva neutra por enquanto é de sarneyzação, de economia em deterioração contínua, mas não explosiva, de governo desmoralizado e sem iniciativa, de ruína da elite política, de impasse até a eleição seguinte.

A presidente agora falar em arrumar um pouco da Previdência, fixando uma idade mínima de aposentadoria. Não deve mexer no assunto antes de resolvido o impeachment.

Afora o sururu político que o plano vai causar da esquerda à direita, aposentadorias precoces são apenas um dos problemas previdenciários. A fim de haver algum resultado imediato e amplo, seria necessário fazer um pacote de reformas. Além de a presidente ter escassa compreensão dos problemas fiscais, ter um plano assim dependeria de haver um programa de governo, um governo com bastante gente capaz e apoio político.

Não há.

Sérgio Besserman Vianna: 1929 versus 2008

• Não é o mercado que é ‘mau’, a vida é que é dura

- O Globo

Em 2008, enquanto economistas liam a espuma dos oceanos e discutiam se a recuperação seria em V, W ou em sopa de letrinhas, historiadores econômicos procuravam ler as correntes mais profundas dos oceanos e apontavam que havíamos entrado na terceira grande recessão da história do capitalismo.

De 1873 a 1896, o sistema capitalista viveu a primeira grande crise, chamada de Grande Depressão. Foram 23 anos... Em 1929, o nome foi cooptado, e o que conhecemos como Grande Depressão hoje em dia é a crise que determinou os rumos da economia global até, no mínimo, 1945, com a Conferência de Bretton Woods, mas, mais precisamente, até o fim dos anos 1950, quando as moedas globais recuperam a conversibilidade.

Não há nenhum motivo para supor que a grande crise de 2008 seja muito diferente em extensão e consequências no tempo, embora o seja, claro, em sua realidade concreta. Mas não há como tentar entender o que se passa no mundo sem considerá-la.

Para começar, ela jogou na lata do lixo a dicotomia esquerda versus direita, expressa na polarização estatização versus privatização. Se a queda do Muro de Berlim e a revelação do sistema soviético como apenas um modo de acumulação de capital mais ineficiente já havia abalado a identidade entre estatização e visão de mundo “de esquerda”; a crise de 2008 fez o oposto exato: se o tamanho do Estado fosse de cerca de 3% do PIB global, como em 1929, e não de cerca de 20% (como no século XXI), teria sido impossível salvar o sistema financeiro e estaríamos imersos em uma grande depressão. A tese do “Estado mínimo” tampouco vale alguma coisa.

Visões de mundo de esquerda ou direita continuarão a fazer sentido, mas no século XXI é meio ridículo considerar “Estado versus setor privado” como parte desse debate.

No Brasil, a leitura da História acabou sendo adicionalmente prejudicada pelo conflito político-eleitoral. Enquanto a oposição, parcialmente equivocada, atribuía a crise brasileira apenas aos nossos graves equívocos de política econômica, o governo defendia a malfadada nova matriz econômica, repetindo, como farsa, o “keynesianismo antes de Keynes”, que, de fato, ajudou muito na recuperação da economia brasileira nos anos 1930. Naquela década, fez todo sentido gastar mais do que se arrecadava.

Mas foi um período em que o mundo partiu-se, dividiu-se em blocos econômicos antagônicos ou competitivos entre si, abrindo espaço para ações singulares de algumas nações. Hoje, com a globalização irreversível dos mercados, não é preciso ser especialista em teoria dos jogos para compreender que nações com comportamentos desviantes em política econômica seriam e serão punidas pela macroeconomia global. Não é o mercado que é “mau”, a vida é que é dura...

A nova matriz econômica, assim como sua ressurreição sob a forma da proposta de utilização das reservas internacionais para recuperar o crescimento, são formas de “keynesianismo” que Keynes refutaria.
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Sérgio Besserman Vianna é economista

Seletividade e honestidade – Editorial / O Estado de S. Paulo

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mandou a Polícia Federal (PF) investigar o “vazamento seletivo” de informações da Operação Lava Jato sobre conversas comprometedoras de dois ministros instalados no Palácio do Planalto com o ex-presidente da empreiteira OAS, conhecido como Léo Pinheiro, já condenado a 16 anos de prisão pelo juiz Sergio Moro, por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Em 2014, Jaques Wagner, ministro-chefe da Casa Civil, então governador da Bahia, e Edinho Silva, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, então tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff, trocaram com o então presidente da OAS mensagens que ficaram gravadas no celular do empresário, envolvendo o famoso toma lá dá cá: de um lado, doações em espécie para campanhas eleitorais do PT, de outro, a liberação de recursos federais e outras vantagens para a empreiteira.

Com sua iniciativa de levantar suspeitas sobre o modo como vieram a público aquelas informações, Cardozo revelou uma curiosa preocupação seletiva em relação às investigações de corrupção. O que parece incomodá-lo é a notícia do envolvimento de dois ministros petistas e palacianos. Pois sua nota oficial ignora o fato de que pelo menos mais duas altas autoridades da República, ambos do PMDB, aparecem na mesmíssima investigação: um terceiro ministro, o do Turismo, Henrique Eduardo Alves, e – não poderia faltar! – o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. A nota informa que “a abertura imediata de inquérito policial” se justifica pelo fato de que as mensagens vazadas, “em princípio, estão protegidas por sigilo legal”.

Essas investigações instruíram o processo que já transitou em julgado na Justiça Federal do Paraná com a condenação à prisão de Léo Pinheiro e outros diretores da OAS. Voltam agora a chamar a atenção porque foram encaminhadas à Procuradoria-Geral da República (PGR), uma vez que envolvem investigados que desfrutam de foro privilegiado. Caberá à PGR decidir se apresenta denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF).

José Aldemário Pinheiro Filho, vulgo Léo Pinheiro, cultivava amplo círculo de relações nas três esferas governamentais. Até o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, é mencionado nas mais de 600 páginas de transcrição das mensagens gravadas no celular do ex-empreiteiro, ao lado de dezenas de ilustres figuras da República, boa parte filiada ao PT e ao PMDB.

A preocupação dos petistas com o que classificam de divulgação “seletiva” de nomes investigados pela PF tem a ver com o fato de que a maior parte desses nomes é de políticos ligados aos partidos da base de apoio do governo. Tentam os petistas passar à opinião pública a ideia de que a PF e o Ministério Público Federal (MPF), com a indispensável “cumplicidade” dos meios de comunicação, poupam a oposição e “criminalizam” o governo do PT e os partidos que o apoiam numa manobra articulada pelas “elites” para prejudicar os “interesses populares”. De fato, praticamente só dá governistas nos mensalões e petrolões da vida. O próprio PT já teve dois ex-presidentes e dois ex-tesoureiros mandados para a prisão. A tigrada, afinal, levou ao pé da letra, só que no sentido de se lambuzar, a velha advertência de que, sendo o governo o detentor da chave do cofre, é ele que tem o poder de corromper e motivos para ser corrompido. Já a oposição não tem o que oferecer concretamente.

A decisão de Cardozo de mandar a PF investigar o “vazamento seletivo” – decidiu-se que o vazamento é “seletivo” antes mesmo de investigar – reflete a mesma preocupação da presidente Dilma Rousseff, por ela sutilmente manifestada no encontro com os jornalistas, na quinta-feira pela manhã: “A impunidade começou a ser ameaçada e, doa a quem doer, as coisas são apuradas. Temos que manter o direito de defesa e acabar com a escandalização. Mas tenho medo da espetacularização e dos vazamentos, porque os vazamentos não se dão em um quadro de apuração de responsabilidades”.

Dilma deveria se preocupar menos com os vazamentos e mais com a insistência com que se vangloria de que sobre sua conduta “não paira embaçamento algum”, porque isso não é mérito, é obrigação. E nunca é demais lembrar que ser honesto implica não admitir que haja desonestidade no próprio entorno.

Reforma insuficiente – Editorial / Folha de S. Paulo

Durante quase uma década adversária na prática do equilíbrio das contas públicas, a presidente Dilma Rousseff (PT) indicou que seu governo estuda um plano para definir uma idade mínima e mais elevada de aposentadoria.

Trata-se de bem-vinda mudança de posição, embora esteja longe de produzir resultados concretos. Dilma insinuou que o assunto ainda será debatido; de resto, o Congresso se vê dominado pela agenda do impeachment, e a presidente não há de querer melindrar de pronto as organizações sociais de esquerda que apoiam seu governo.

Não há dúvida de que é preciso fixar uma idade mínima de aposentadoria bem mais elevada que os pouco mais de 50 anos com que, em média, hoje se deixa de trabalhar.

Mesmo que o efeito direto da mudança não seja sentido tão cedo nas contas públicas, inclusive porque haverá inevitáveis regras de transição, ela contribuirá para restaurar a confiança no futuro econômico do país.

Um plano de reforma previdenciária, porém, não pode parar aí. Deve abordar também a revisão das pensões por morte, cuja despesa média é muito mais elevada no Brasil do que nos países da OCDE, entre os mais ricos do mundo.

Os benefícios aqui são integrais, fixos e desvinculados da idade e da situação social do pensionista –não importa que seja jovem, capaz de trabalhar ou diminua seu número de dependentes. A população, obviamente, não pode arcar com essa prodigalidade.

Outro aspecto central diz respeito aos reajustes além da inflação. Os benefícios assistenciais não podem contar com ganhos reais automáticos. Aumentos, portanto, devem se desvincular do salário mínimo, sendo concedidos de acordo com os planos da política social e com o crescimento das receitas.

Por fim, é crucial realizar mudanças na Previdência Rural, regime com normas muito diferentes das vigentes para o setor urbano. Na prática, as exigências de contribuição e comprovação de tempo de trabalho são mínimas.

Trata-se, no fundo, de programa de renda mínima para idosos do campo. Gasta o mesmo que 3,5 vezes o Bolsa Família. O benefício equivale ao salário mínimo, o quíntuplo do pagamento médio do Bolsa Família. Seu deficit em 2015 deve chegar a R$ 93 bilhões (ante R$ 6,4 bilhões da Previdência Urbana).

Tal programa precisa ser repensado, e suas contas, revistas. Devem ser averiguadas as condições em que são concedidas as aposentadorias; seus reajustes precisam ser limitados à taxa de inflação. A alteração provocará alguma inevitável polêmica constitucional.

Trata-se de reforma politicamente difícil, sem dúvida. Contudo, ajudaria o Estado a recuperar sua capacidade de fazer política social eficaz, contribuiria para a reorganização das contas públicas no curto e no longo prazo e facilitaria a recuperação da confiança econômica.

Espera-se que a presidente Dilma Rousseff leve a ideia adiante –e que o Congresso a receba com a responsabilidade que o tema merece.

Mensagens sugerem ação de Wagner por empreiteira em fundos de pensão

• Diálogos de executivos da OAS citam atual chefe da Casa Civil como intermediário de interesses da empresa em negócio com Funcef, fundo dos funcionários da Caixa

Beatriz Bulla e Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - As conversas obtidas no celular do ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, mostram suposta atuação do atual ministro da Casa Civil, Jaques Wagner (PT), na intermediação de negócios entre a empreiteira e fundos de pensão.

Em um dos diálogos, o executivo e outro integrante da empresa não identificado falam na atuação do ministro e então governador da Bahia para possibilitar um negócio milionário com a Funcef (Fundação dos Economiários Federais) - fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal.

As menções ao nome do ministro e conversas diretas entre Pinheiro e Wagner foram reveladas na quinta-feira passada pelo Estado. Os diálogos indicam, por exemplo, que o então governador da Bahia teria ajudado a OAS na liberação de recursos do governo federal. Ele também teria intermediado o financiamento de campanhas municipais em Salvador em 2012, no período em que esteve no governo estadual. Os investigadores identificaram que, nas conversas, os executivos usam as iniciais JW como uma das maneiras para se referir a Wagner.

“Que ótimo, como foi na Funcef, o nosso JW me perguntou. Bjs.” O emissário da mensagem escreve de um número não identificado pelos investigadores. A resposta, cerca de três minutos depois, partiu de um número da OAS a Pinheiro: “Ótimo. Foi aprovado para contratação do avaliador, deloite. Agora, precisaremos de JW, na aprovação final. Bjo”.

As conversas são de julho de 2013. Quatro meses depois, em novembro do mesmo ano, a diretoria executiva da Funcef aprovou a compra de cotas de até R$ 500 milhões em um fundo da OAS - o FIP OAS Empreendimentos. A Funcef confirma ter feito um aporte de R$ 200 milhões, com participação de 11,76% no FIP. Na ocasião, além da análise interna, a Funcef contratou a consultoria Deloitte para fazer uma avaliação econômico-financeira da OAS, o que serviu para determinar o valor do investimento.

Um ano antes, as mensagens já mostravam conversas sobre “fundos” entre o ministro e o empreiteiro. Em novembro de 2012, Léo Pinheiro enviou mensagem direta para celular identificado como de Wagner na qual fala sobre “demanda vinda dos Fundos”, sem identificação sobre que situação específica era tratada.

“Governador, Desculpe a ‘invasão’. Na semana passada houve uma demanda vinda dos Fundos, que o Bernardo Figueiredo estaria falando para algumas pessoas sobre nossa relação com os Fundos. Queria saber se nosso amigo de ontem sabia de algo.

Ele nunca tinha ouvido nada. Tive com o Bernardo e o problema era o Trem Bala. Que foi esclarecido. Obrigado pela hospitalidade. Abs.”, escreveu Pinheiro a Wagner. Por mensagem, o governador respondeu: “Voce é sempre bem vindo JW”.

Bernardo Figueiredo foi diretor geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), mas teve sua recondução vetada pelo Senado em 2012, mesmo com a indicação da presidente Dilma Rousseff. Após a rejeição dos senadores, Figueiredo ajudou o Planalto a montar a Empresa de Planejamento e Logística (EPL), que presidiu desde a criação até o fim de 2013, após uma série de rumores de divergências com o governo. Ele foi um dos entusiastas do projeto do Trem de Alta Velocidade, o trem-bala, que ligaria Campinas (SP) ao Rio de Janeiro (RJ) - projeto que nunca saiu do papel.

O grupo que trabalha com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ainda deverá se debruçar sobre as trocas de mensagens para identificar a que negócio cada um dos diálogos se refere e verificar se há indícios de irregularidades na atuação de Wagner.

Termos. Por meio de sua assessoria, Jaques Wagner informou que “não vai se pronunciar, pois não conhece os termos exatos do material que está sendo divulgado”. Quando as mensagens começaram a ser divulgadas, o ministro emitiu nota declarando-se tranquilo e à disposição do Ministério Público Federal e das autoridades para prestar esclarecimentos.

A assessoria de imprensa da Deloitte informou desconhecer o teor da menção à empresa e, por isso, disse não ter como se pronunciar. O ex-presidente da EPL Bernardo Figueiredo não foi localizado pela reportagem. A defesa de Léo Pinheiro, da OAS, afirmou que não iria se manifestar sobre o caso.

Por meio de assessoria de imprensa, a Funcef informou que o procedimento de estudo da oportunidade de negócio, com as devidas análises técnicas internas e externas até a finalização do processo e deliberação pela diretoria executiva, consumiu um ano e quatro meses, e foi realizado com “total rigor técnico”.

“Refutamos qualquer ilação em relação a qualquer interferência externa em toda cadeia do processo decisório da Funcef. Em relação ao suposto diálogo que faz menção à Funcef, desconhecemos o teor e a origem das citações”, diz a nota da assessoria da Fundação.

O ministro e os diálogos

Fundos de pensão
Julho de 2013

Situação: Léo Pinheiro e outro integrante da OAS não identificado falam na atuação de Jaques Wagner, então governador da Bahia, para possibilitar um negócio milionário com a Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa

Número não identificado: “Que ótimo, como foi na Funcef, o nosso JW (Jaques Wagner) me perguntou. Bjs.”

Número da OAS para Pinheiro: “Ótimo. Foi aprovado para contratação do avaliador, deloite. Agora, precisaremos de JW, na aprovação final. Bjo.”
Novembro de 2012

Situação: Pinheiro e Wagner conversam sobre “fundos”

Léo Pinheiro: “Governador, Desculpe a ‘invasão’. Na semana passada houve uma demanda vinda dos Fundos, que o Bernardo Figueiredo estaria falando para algumas pessoas sobre nossa relação com os Fundos. Queria saber se nosso amigo de ontem sabia de algo. Ele nunca tinha ouvido nada. Tive com o Bernardo e o problema era o Trem Bala. Que foi esclarecido. Obrigado pela hospitalidade. Abs.”

Jaques Wagner: “Voce é sempre bem vindo JW.”

Eleições municipais

Outubro de 2012

Situação: Pinheiro fala com fundador da OAS sobre apoio no 2.º turno da eleição para a prefeitura de Salvador. A conversa cifrada faz menções a valores para pagar campanhas

Léo Pinheiro: “O Compositor (Jaques Wagner) me ligou ontem, disse-lhe que estava fora e que MR iria procurá-lo x MK (Mário Kertész, candidato do PMDB à prefeitura de Salvador em 2012) (saldo). Se resolveríamos parte com o nosso apoio ao Andarilho (Nelson Pellegrino, candidato petista à prefeitura de Salvador em 2012) ou qual seria a solução?”

Léo Pinheiro: “O valor é muito alto. 3.600 Street Brown”

Verba dos Transportes

Outubro de 2014

Situação: A cinco dias do 2.º turno das eleições presidenciais, Pinheiro pede a Wagner para intermediar liberação de verba dos Transportes

Pinheiro para Wagner: “Governador, se for possível, peço seu apoio. Abs.”

Jaques Wagner: “Ok, vou fazê-lo. Abs.”

Este ano promete

Eloísa Machado de Almeida* - O Estado de S. Paulo

Em 2015, o Supremo Tribunal Federal esteve no centro do debate político brasileiro, sobretudo pelos desdobramentos da Operação Lava Jato e pelos questionamentos do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Os primeiros dias deste janeiro, com as novas revelações da Lava Jato, mostram que não será diferente em 2016. Os inquéritos relacionados à operação poderão sofrer avanços significativos. Neste ano, as primeiras denúncias oferecidas contra o senador Fernando Collor e o deputado Eduardo Cunha deverão ser analisadas e, caso recebidas, ambos os parlamentares se tornarão oficialmente réus. Isso pode vir a estimular as Comissões de Ética a analisar uma possível quebra de decoro e até eventual perda de mandato.

Os demais deputados e senadores investigados, dado o volume de diligências realizadas sob a supervisão do ministro-relator, Teori Zavascki, também devem ter definidos os seus destinos pelo tribunal, ainda mais se levarmos em conta que a demora injustificada na investigação não só prejudica os investigados, como pode permitir a ocorrência da prescrição, uma prova da ineficiência da Justiça.

Já o processo de impeachment deve continuar repercutindo no tribunal, pois mesmo com a regulação proposta pela última decisão, muitas questões ainda estão abertas, especialmente quanto ao rito do impeachment abordado, porém não esgotado na decisão do Supremo. A depender dos acontecimentos, não se pode afastar a possibilidade, ainda, do tribunal ser instado a se pronunciar sobre o mérito do pedido de impeachment, como a justa causa para o pedido e a efetiva prática de crime de responsabilidade.

Mas as atribuições e competências do STF vão muito além desses casos. Trabalho escravo, demarcação de terras quilombolas, redução da idade penal, reforma prisional, correção de planos econômicos, dentre muitos outros casos relevantes, seguem aguardando por um desfecho. Para o Supremo, 2016 promete.

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*Eloísa Machado de Almeida é professora e coordenadora do Supremo em Pauta FGV Direito SP

‘Época’: Dilma teria garantido empréstimo a empreiteira

• BNDES liberou verba para Andrade Gutierrez atuar em Moçambique

- O Globo

Reportagem publicada pela revista “Época”, na edição deste final de semana, revela como o governo teria atuado para assegurar que um investimento do grupo Andrade Gutierrez se viabilizasse em Moçambique, por meio de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). De acordo com a revista, a presidente Dilma Rousseff, em viagem ao continente africano em março de 2013, recebeu pedido do presidente de Moçambique, Armando Guebuza, para permitir o financiamento de US$ 320 milhões ao empreendimento da empresa brasileira, para construção da barragem de Moamba Major. Porém, as regras do banco dificultariam a realização.

A reportagem da “Época”, afirma que, em setembro de 2013, em reunião da Câmara de Comércio Exterior, o então ministro do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, fez prevalecer entendimento favorável à flexibilização de garantias para conceder o empréstimo. Pimentel é governador de Minas.

Doação de R$ 20 milhões
Em julho de 2014, durante a campanha eleitoral, diz a reportagem, o financiamento ao empreendimento na África foi concedido pelo BNDES. Segundo a “Época”, no mês seguinte à assinatura do contrato com o BNDES, no dia 20 de agosto, às 8h54m, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha presidencial à reeleição de Dilma, visitou Otávio Marques de Azevedo no escritório da Andrade Gutierrez, em São Paulo. Nove dias depois, a empreiteira realizou uma transferência no valor de R$ 10 milhões para a campanha de Dilma. Em seguida, do dia 23 setembro a 22 de outubro de 2014, a construtora doou ao todo mais R$ 10 milhões, em três parcelas. Entre as empreiteiras brasileiras, a Andrade foi a principal contribuidora da reeleição de Dilma, desembolsando quase o triplo do total repassado pela UTC.

Questionada por ÉPOCA a respeito da negociação, a Presidência informa, por meio de sua área de comunicação, que o governo Dilma sempre teve como estratégia expandir as exportações de produtos manufaturados e bens e serviços para os mercados da África e América Latina. “Seguindo essa diretriz, com total autonomia e sem nenhuma ingerência de qualquer instituição do governo, o Cofig (Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações, colegiado responsável por avaliar as condições de financiamentos do governo federal a operações de exportação) e a Camex tomam suas decisões”, diz a nota, que segue: “Cabe ainda ressaltar que as doações feitas à campanha de 2014 não tem nenhuma relação com as ações de governo.”

Em nota, o BNDES afirma que o controle na concessão dos créditos à exportação se baseia em critérios técnicos e tem permitido apoio às empresas brasileiras com uma inadimplência extremamente baixa. E também que “não é incomum que uma operação seja aprovada na Camex e depois transcorra, até a contratação, um prazo similar ao observado na operação”.

Também procurado pelo GLOBO, o Planalto reafirmou que as doações feitas à campanha de 2014 “não tem qualquer relação com as ações de governo”. E que a política de Comércio Exterior do governo Dilma foca na América Latina e na África.

Caciques do PMDB estão em pé de guerra a dois meses da convenção

• Senadores articulam substituição de Temer da presidência do partido

Maria Lima e Cristiane Jungblut - O Globo

Insuflados pela movimentação promovida pelo Palácio do Planalto para garantir apoio contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, os caciques do PMDB estão em pé de guerra, divididos entre os grupos do vice-presidente Michel Temer, beneficiário direto do impedimento de Dilma, e o de Renan Calheiros (AL), presidente do Senado e visto como fiel da balança contra o processo de cassação de Dilma.

Além das negociações para a recondução de Leonardo Picciani (RJ) à liderança do partido na Câmara, os três principais caciques do Senado — Renan, o líder Eunício Oliveira (CE) e o segundo vice-presidente da Casa, Romero Jucá (RR) — já fecharam um acordo que dá a Eunício a vaga de presidente do Senado, no lugar de Renan, a partir do ano que vem; e a Jucá a vaga de Temer na presidência do partido já em março. Mas, para tal, será preciso derrotar o vice-presidente, que reina soberano no comando do partido desde 2001.

— Já combinaram com os russos? O líder mais forte hoje no partido é o Michel. A unidade é incondicional nesse momento. Hoje, mais de 80% do partido, que olha além dos interesses da Câmara e do Senado, quer unidade. Discussão de nomes é para depois — diz o secretário geral do PMDB, o ex-ministro Eliseu Padilha, principal articulador do grupo de Temer.

A guerra desembocará na convenção nacional do PMDB, em março, quando serão eleitos os novos dirigentes do Diretório e da Executiva Nacional. Temendo um impacto negativo das fraturas na eleição municipal deste ano, decisiva para o fortalecimento do projeto do partido para as eleições de 2018, os peemedebistas apelam para que o racha seja evitado. Em público, o discurso das principais lideranças do PMDB é que o instinto de sobrevivência e o projeto de candidatura própria ao Planalto em 2018 exigem consenso, mas a guerra fria é clara.

— Não há disputa dentro do Senado. Temos um acordo: eu, Renan e Jucá sobre presidência do Senado. Sobre a presidência do partido eu não estarei na disputa. O melhor caminho, e eu defendo isso, seria o entendimento geral na questão da liderança da Câmara e na sucessão da direção do partido — diz Eunício.

Críticas ao Vice
Mas o líder do PMDB no Senado lembra que os diretórios têm pesos diferentes na eleição do presidente do partido.

— Cada estado é uma célula — ressalta Eunício.

Temer enfrenta um PMDB do Senado coeso, irritado com as decisões do vice-presidente dentro da Executiva do partido. A reclamação é que Temer estaria agindo em apoio ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que tentou mudar regras sobre a filiação de novos deputados para interferir na disputa pelo cargo de líder do partido na Câmara. Na ocasião, Renan reagiu e chegou a chamar Temer de “coronel”.

O grupo contra Temer, liderado pelo PMDB do Senado, se articula e acredita que hoje o vice não teria votos suficientes para se manter no comando do partido. Mas os próprios senadores sabem que, no PMDB, a negociação ocorre até o final.

Jucá diz que é “cedo” para se falar da convenção. Nos bastidores, o grupo que deseja a renovação admite que o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (RN), seria uma alternativa do lado do bloco pró-Temer, mas a operação da Polícia Federal em sua residência tornou a manobra difícil. Do lado dos rebeldes, Jucá, mesmo sendo investigado pela LavaJato, é apontado como o mais conciliador. O grupo de insatisfeitos também têm alguns deputados.

Janela partidária
A primeira reação do grupo do Senado será na volta ao Congresso após o recesso. Renan vai promulgar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que abre uma nova janela de 30 dias para filiações partidárias. A PEC foi aprovada pelo Senado em dezembro. O prazo de 30 dias passa a contar assim que a PEC for promulgada. Os peemedebistas dizem que será um “troco” para a decisão sobre os suplentes que poderiam entrar na bancada da Câmara como forma de mudar novamente os votos sobre o líder.

As divergências explodiram no caso da destituição e recondução de Picciani. No dia 17 de dezembro, após a volta de Picciani à Função, Renan saiu de sua postura discreta e saiu atacando Temer:

— E essa decisão da bancada é a demonstração de que, por mais que o Michel tentasse, quisesse ser coronel, não conseguiria, porque tem que decidir sobre a vontade das pessoas. Não bastar distribuir cargos para isso. A volta do Picciani é a confirmação de que quem tentou ser coronel no PMDB não conseguiu. A tentativa de setores de ser coronéis do PMDB fracassou. O PMDB é um partido democrático, sem dono, sem coronel.