Antonio Gramsci (1891-1937).
Cadernos do Cárcere, v.1. p.221-2. Civilização Brasileira, 2006.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 14 de junho de 2023
Opinião do dia – Antonio Gramsci (saber, compreender, sentir)
Luiz Carlos Azedo - Muda tudo no cenário político caso Bolsonaro fique inelegível
Correio Braziliense
A derrota eleitoral e seu possível alijamento
da disputa de 2026 já estão fomentando o surgimento de lideranças de direita
mais esclarecidas e moderadas, capazes de atrair um eleitorado que ficará órfão
O julgamento do ex-presidente Jair
Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi marcado pelo ministro
Alexandre de Moraes para o próximo dia 22. Movida pelo PDT, trata-se de uma
ação por abuso de poder político e econômico ao realizar uma reunião com
embaixadores, em julho do ano passado, e atacar o processo eleitoral
brasileiro. Caso seja condenado, o que é provável, devido à evidência dos fatos
em confronto com a legislação eleitoral vigente, Bolsonaro estará impedido de
disputar quaisquer cargos eletivos, inclusive a Presidência da República em
2026. Isso mudará tudo no cenário político nacional.
O julgamento deve ser concluído ainda neste mês, antes do recesso no Judiciário. Durante o encontro com os embaixadores, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro questionou a segurança do sistema eleitoral e apontou risco de fraude nas eleições, sem apresentar provas. Além disso, ele é alvo de 16 investigações no TSE. Sua condenação terá forte impacto no ambiente político do país, porque tira de cena o principal protagonista da extrema direita, que hegemoniza a oposição. Esse espaço político tende a ser ocupado por outra liderança de direita. O conservadorismo continua sendo a força predominante na oposição, na qual emergem novas lideranças, com destaque para os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos); Minas, Romeu Zema (Novo); e Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).
Hélio Schwartsman - Limites do pragmatismo
Folha de S. Paulo
Se passam a ideia de que tudo está à venda,
políticos desmoralizam a si mesmos
Apesar de a ministra do Turismo, Daniela
Carneiro, ter ganhado uma sobrevida,
tudo indica que o presidente Lula acabará
atendendo aos apelos do centrão e a trocará por Celso Sabino.
Se é lícito imprimir alguma picância à descrição, Lula substituiria uma aliada
de primeira hora e que tem entrada no público evangélico por um bolsonarista.
Há também uma boa chance de a Embratur, hoje presidida por Marcelo
Freixo, figura icônica da esquerda, ser cedida ao grupo de Arthur Lira.
Sabe-se que a ingratidão é um dever do político, mas, mesmo assim, acho que vale perguntar até onde deve ir o pragmatismo de um governante. Como bom consequencialista, não me oponho às negociações, compromissos e até a algum toma lá dá cá. Se todo mundo for lutar até o fim pelo que acha que é certo, o resultado seria a guerra civil. A democracia funciona porque põe os principais atores políticos para conversar, aplainando as arestas e reforçando os pontos comuns.
Bruno Boghossian - União Brasil contra União Brasil
Folha de S. Paulo
Qualquer proposta de alinhamento será
considerada incerta ou terá preço alto demais
Pouca gente apareceu para defender Daniela
Carneiro durante a passagem da ministra pela Câmara nesta terça (13).
Na Comissão de Turismo, havia mais deputados de oposição do que governistas
para a audiência que pode ter sido um de seus atos finais como titular da
pasta.
Daniela foi ao Congresso depois de conversar com Lula no Planalto. Prestes a perder o cargo, ela não quis passar recibo: disse que receberia os parlamentares na Esplanada e avisou que o Ministério do Turismo estava de portas abertas para os políticos. Os deputados, porém, já tratavam a convidada como ex-ministra.
Vinicius Torres Freire - A quadrilha da Americanas
Folha de S. Paulo
Empresa acusa antiga diretoria; polícia e
CPI têm de ir fundo nessa história mal contada
Os advogados e a
nova direção da Americanas acusaram diretores e outros executivos da empresa
até 2022 de formação de quadrilha, grosso modo. A cúpula da varejista
inventaria descontos na compra de mercadorias, ocultaria dívidas, falsificaria
o cálculo do endividamento relativo, forjaria documentos e publicaria números
mentirosos de resultado, mentira que teria passado da casa de R$ 2,4 bilhões em
2021, por exemplo, no caso do lucro.
A mutreta teria contado com a anuência de auditores externos e mesmo de bancos. O conselho de administração e os ditos acionistas de referência, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira não são envolvidos no rolo segundo essa explicação parcial e, note-se, ainda não auditada.
Fernando Exman - Colhendo na economia, mas de olho na política
Valor Econômico
Melhora dos indicadores econômicos traz
alívio, mas governo mantém cautela
A partir de julho, terá início o
“espetáculo do crescimento”, assegurou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a
uma plateia repleta de sindicalistas. Era junho de 2003, e eram outros tempos.
Hoje, não se vê tamanha confiança no Palácio do Planalto, ainda que os recentes
sinais da economia representem um alívio para aqueles que no campo político
sofrem diariamente para colher notícias positivas.
Naquele discurso, feito em São Bernardo do
Campo (SP), seu berço eleitoral, Lula ofereceu um roteiro familiar aos
presentes: o governo não teve como tomar providências com mais agilidade porque
o país estava na UTI depois das eleições, a credibilidade internacional
brasileira estava enfim recuperada e já era perceptível uma desaceleração da
inflação.
Para aquecer a economia e modernizar a frota nacional, pontuou, medidas voltadas ao setor automotivo haviam sido adotadas. “Anteontem nós anunciamos o maior Plano de Safra que a agricultura familiar brasileira já ouviu ser anunciado”, acenou ao campo.
Lu Aiko Otta - No fim da temporada, inflação e juro caem
Valor Econômico
No Ministério da Fazenda, a avaliação é de
que o início de ano muito ruim parece estar ficando para trás
Era janeiro de 2003 e nevava levemente em
Davos, na Suíça, quando o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi ao
hospital local visitar o então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles,
que na véspera lesionara o pé ao escorregar no chão congelado. Na salinha
destinada aos fumantes, o médico sanitarista que vinha surpreendendo o mercado
no comando da economia afirmou que o Brasil cumpriria, sim, seu contrato com o
Fundo Monetário Internacional (FMI). Esse era um ponto de preocupação naquele
momento. Depois, daria um “obrigado” e um “até logo”.
Vinte anos depois, o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, não perde oportunidade para frisar que o Brasil não deve ao
FMI. Dessa forma, deixa clara a diferença da situação atual em relação aos anos
1980, quando o slogan “Fora FMI” foi um hit dos movimentos de esquerda.
No entanto, o Brasil segue como membro do
organismo. No mês passado, uma missão técnica esteve no país para uma avaliação
de rotina e sugeriu que fosse considerada a adoção de uma meta de inflação de
médio prazo. Metas anuais, comentou o organismo, são formas menos eficientes de
ganhar flexibilidade diante de choques.
Essa mudança tem sido defendida por Haddad há algum tempo. É tema que pode estar na pauta da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) do próximo dia 29, assim como a meta de inflação para 2026.
Vera Magalhães - Descompasso entre economia e política
O Globo
Enquanto Haddad reverte má vontade de
agentes econômicos, presidente não consegue nem demitir ministra inoperante
administrativa e politicamente
Passado quase meio ano, as expectativas
para o governo Lula se inverteram e, hoje, as boas notícias vêm da economia,
enquanto a política inspira cuidados.
Enquanto Fernando Haddad conseguiu superar
uma enorme má vontade dos agentes econômicos quando de sua indicação para a
Fazenda e articulou não apenas o projeto do arcabouço fiscal, mas um plano de
aonde quer chegar ao fim de quatro anos, os demais ministros patinam entre
propostas do passado — as que outrora deram certo e até aquelas que já se
mostraram equivocadas quando eram novas — e a dificuldade de fazer deslanchar
as políticas públicas em suas áreas.
Foi o economista José Roberto Mendonça de Barros quem fez essa síntese que me deu o mote para a coluna. Louvado sempre por seu tirocínio político, Lula não consegue, no momento, sequer decidir se demite uma ministra até aqui inoperante administrativa e politicamente como Daniela Carneiro.
Bernardo Mello Franco – Os últimos dias da irmã Daniela
O Globo
Na política, a solidariedade pode vir de
onde menos se espera. Foi o que descobriu ontem a ministra do Turismo, Daniela
Carneiro. Torpedeada pelo União Brasil e prestes a ser demitida do governo
Lula, ela recebeu apoio de deputados do PL.
“A senhora tem aqui um aliado”, disse o
bolsonarista Bibo Nunes. “Cristianismo é levar pedrada, é ser perseguido. Mas a
palavra final vem de Deus”, emendou o pastor Roberto Monteiro, que se referiu à
ministra como “irmã em Cristo”.
Em visita à Câmara, Daniela citou a Bíblia, jurou fidelidade a Lula e disse ser vítima de “machismo estrutural”. Apesar dos esforços, deve perder o cargo nos próximos dias. A ministra não será dispensada pelo que fez ou deixou de fazer no governo. O Planalto avisou que precisa da cadeira para barganhar votos com o União Brasil.
Elio Gaspari - As travas de Dweck são preventivas
O Globo
O presidente da Câmara, deputado Arthur
Lira, está com duas panelas no fogo. Numa, sofre o impacto das investigações
que envolvem a compra, pelo governo federal, de kits de robótica para escolas
de Alagoas e Pernambuco que não tinham estrutura e, num caso, nem água. É
desnecessário lembrar que os kits estavam superfaturados.
Noutra panela está a briga por nomeações.
As repórteres Catia Seabra e Julia Chaib revelaram que as queixas do Centrão
concentram-se na ministra Esther Dweck, da Gestão e Inovação em Serviços
Públicos. Trata-se de uma servidora de perfil técnico, pessoalmente discreta.
Ela teria emperrado nomeações na Secretaria do Patrimônio da União. Logo na
repartição que leva o nome do Patrimônio da Viúva. As queixas ramificam-se para
uma fundação de previdência e estendem-se ao Ministério da Saúde.
Ganha um fim de semana em Caracas quem for capaz de enunciar o questionamento de uma só política pública envolvida nessas disputas. Quase sempre, as queixas estão associadas ao preenchimento de cargos que têm chaves de cofres.
Zeina Latif - Mudanças de crenças e o rumo da política
O Globo
A conquista da confiança e a pacificação da
sociedade dependerão de o país provar robustez democrática e conquistar justiça
social
Passados dez anos, há muitas análises sobre
as razões dos protestos de 2013. São reflexões importantes, pois aquelas
manifestações dizem muito sobre as mudanças de crenças e valores de uma
sociedade que se tornou mais exigente. São elementos que repercutem na política
até hoje.
A imagem é de uma energia potencial
acumulada que se materializou diante do gatilho representado pela repressão
policial às manifestações de estudantes contra o reajuste da tarifa de ônibus
em São Paulo. O sentimento de alívio de muitos ao assistir o fervor nas ruas dá
uma dimensão da indignação que se acumulava.
Várias análises remetem ao anseio, até então incompreendido, por maior eficiência na ação estatal, com a oferta de serviços públicos de qualidade e o combate à corrupção. Grosso modo, as análises não contemplam e até afastam a hipótese de a situação econômica ter tido influência nos protestos.
Vera Rosa - O jogo de Alcolumbre para apoiar Zanin
O Estado de S. Paulo
Senador cobra de Lula indicação de Pacheco para 2.ª vaga no STF, de olho na cadeira do afilhado
O apoio conquistado por Cristiano Zanin
para ocupar uma cadeira no Supremo Tribunal Federal (STF) conta com um padrinho
importante, além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ) do Senado.
Alcolumbre não só marcou a sabatina de
Zanin para o próximo dia 21 como vê a aprovação do advogado de Lula como “favas
contadas”. Não é só ele. “Um presidente nunca indica quem sabe que o Senado vai
recusar”, disse o ministro do STF Alexandre de Moraes ao lembrar que rasteiras
assim só foram registradas no governo do marechal Floriano Peixoto.
Diante desse cenário, o jogo de Alcolumbre,
agora, avança para a segunda casa, de olho na vaga a ser aberta em outubro, com
a aposentadoria da presidente da Corte, Rosa Weber.
Na recente conversa com Lula, o senador prometeu ajudar Zanin a angariar votos. O presidente da CCJ é conhecido, porém, por cobrar a fatura com insistência. E o que ele quer, além de cargos no Dnit, na Caixa e na Secretaria de Patrimônio da União, entre outros, é transformar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em ministro do STF no fim do ano.
Paulo Delgado* - O uso astuto da internet
O Estado de S. Paulo
É preciso desligar o poder de remunerar a mentira. Canal do mundo sombrio, falar de ‘big tech’ é falar de uma ferida que já é incorrigível
Se um boi pudesse usar as redes sociais,
certamente o faria como quadrúpede. Mosca varejeira que faz o indivíduo se
render à sua picada e, engolido sem esforço, deixá-la digerir seu mundo.
Colecionadoras de fantasma em troca do fastio de efusões, as gigantes digitais
são o maior sim que o poder já ousou criar. Com faceta velhaca, faz-se aliado
do usuário enquanto absorve todas as coisas de quem obedece mais. Canal da
adversidade, quer se ver como fortuna.
A fraude intrínseca das redes sociais é a pretensão de saber o modo de funcionamento do indivíduo e se achar espelho da realidade. Quando, na verdade, criaram um padrão – subgênero-gente-digital – tirado da fragilidade da identidade e das ninharias da personalidade. Amo que cindiu e alienou a pessoa a instâncias externas e com práticas desleais de causar sensação, combinadas com almas intrusivas, ilegais e nocivas, usurpou a grandeza da internet. Os atos contradizem os ares de direito que se deram. Malignidade da sagacidade, como foi fácil fabricar um ser rendido!
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Lula põe acordo de Mercosul com UE de volta no limbo
Valor Econômico
“Side letter” que pode ter se tornado um
álibi para que o acordo com o Mercosul não prospere
Tanto o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, como o da Argentina, Alberto Fernández, que dirigem as duas maiores economias do Mercosul, manifestaram disposição de rever partes do acordo com a União Europeia, concluído em junho de 2019, após duas décadas de negociações, por seus adversários políticos e antecessores, Jair Bolsonaro e Mauricio Macri. Nesta semana, a presidente da Comissão Europeia, Ursula van der Leyen, se reuniu com Lula e polidamente divergiram. Em tese, o desejo de ambos é concluir o acordo até o fim do ano. Os obstáculos levantados por países dos dois lados colocam o objetivo em dúvida.