O Globo
Com a promulgação da Constituição, tivemos
uma rearrumação geral e democrática do país
Na madrugada de 31 de março para 1º de abril
de 1964, um golpe de Estado destituiu João Goulart da Presidência da República.
Golpe, porque esse é o nome que se dá em ciência política e em teoria
constitucional para as situações em que o chefe de governo é afastado por um
procedimento que não é o previsto na Constituição. As palavras precisam ser
preservadas em seus sentidos mínimos.
É certo, também, que a quebra da legalidade
constitucional contou com o apoio de inúmeros setores da sociedade, como boa
parte das classes empresariais, dos produtores rurais, da classe média e da
Igreja, assim como dos militares e da imprensa, além dos Estados Unidos. Cada
um desses atores com seus temores próprios.
Ali começou uma longa noite institucional. Passaram-se 25 anos até que houvesse uma eleição presidencial pelo voto popular. No período, tivemos uma longa sequência de atos institucionais, que exprimiam a legalidade paralela e ditatorial do regime militar. Com eles, os partidos políticos existentes foram extintos, as eleições passaram a ser indiretas, o Congresso foi fechado diversas vezes, parlamentares foram cassados, bem como professores e servidores públicos aposentados compulsoriamente. Muita gente foi para o exílio. Nas sombras, também vieram a tortura de adversários políticos e a censura.