sábado, 14 de março de 2015

Opinião do dia – Marco Aurélio Nogueira

Armênio Guedes fez da política uma atividade que fluía fácil, que dispensava posições de força ou de poder, argumentos de autoridade e palavras duras. Para ele, “unidade na diversidade” não era um chavão dialético, mas um lema de toda política democrática com intenção reformadora, a alavanca do novo pelo qual ele e tantos outros se batiam. Hoje como ontem: um valor universal. Algo indispensável nestes tempos complicados em que estamos.

Armênio Guedes morreu, mas seu exemplo, seu estilo sereno e suas ideias estão aí. Ao nosso alcance.

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Marco Aurélio Nogueira, professor de Teoria Política da Unesp, em artigo “Armênio Guedes (1918-2015), comunista que soube valorizar a vida e a democracia”. O Estado de S. Paulo, 13 de março de 2015.

Atos convocados por centrais sindicais reúnem milhares de pessoas pelo País

• A dois dias dos protestos contrários ao governo, atos promovidos por centrais sindicais, Movimento dos Sem Terra e União Nacional dos Estudantes são pacíficos e mesclam crítica ao ajuste fiscal, defesa da Petrobrás e discurso de apoio à petista

Pedro Venceslau, Ricardo Chapola e Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

As manifestações promovidas nesta sexta-feira, 13, pela CUT, UNE, MST e outras entidades, a dois dias dos protestos que pedirão o “Fora Dilma”, levaram cerca de 30 mil pessoas às ruas em 24 Estados, segundo estimativas da Polícia Militar. Convocadas como atos de defesa da democracia e das instituições, as concentrações foram pacíficas e marcadas pela exaltação da presidente Dilma Rousseff, discursos “contra a privatização da Petrobrás” e ataques aos grupos que pedem o impeachment da petista.

Em São Paulo, o ato reuniu cerca de 12 mil pessoas, segundo a Polícia Militar – os organizadores falam em 100 mil. A concentração foi em frente ao escritório da Petrobrás, na Avenida Paulista. Os trabalhadores iniciaram a marcha por volta das 16 horas, uma hora depois do que havia sido acordado com a PM para evitar confrontos com o Revoltados On Line, um grupo anti-Dilma que havia marcado protesto no mesmo local às 15h. O grupo só chegou ao local às 17h.

A marcha seguiu pela Avenida Paulista e, em frente ao Masp, somou-se ao ato organizado pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). Em assembleia, os professores da rede estadual decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. O grupo seguiu até a Praça Roosevelt, no centro, onde encerrou o ato.

Do alto dos seis carros de som estacionados no local, lideranças fizeram referências à bandeiras trabalhistas, como a retirada das Medidas Provisórias nºs 664 e 665, que alteram regras para acesso a benefícios como seguro-desemprego, auxílio-doença e pensão por morte.

Nos discursos, entretanto, predominaram a “defesa das instituições democráticas”, a reforma política e o repúdio à “tentativa de golpe” e “à privatização da Petrobrás”, além dos riscos ao pré-sal. Em bandeiras, cartazes e camisas via-se mais frases como “Fica Dilma! Em defesa da democracia” e emblemas das centrais do que pautas trabalhistas. Em alguns momentos foi entoado o coro “Olê olê olê olá, Dilma, Dilma”.

O presidente da CUT, Vagner Freitas, reafirmou que o ato não é em defesa do governo, mas da democracia e da Petrobrás. “Somos contra a corrupção. Corrupto tem que ser preso. Agora, não vamos quebrar a Petrobrás. Não podemos, com um discurso de ser contra a corrupção, preparar a empresa para a privatização. É isso que queremos alertar a população brasileira”, disse. Freitas criticou a política econômica atual nas entrevistas, mas poupou a presidente no alto do carro de som.

A fala do dirigente coincide com os discursos dos petistas nas redes sociais e com os argumentos usados pelo ex-presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, na CPI que investiga a estatal na Câmara. “O modelo regulatório do pré-sal está sob risco. As ameaças que estão sendo feitas à Petrobrás, a tentativa de enfraquecê-la e desmontar a cadeia de fornecedores de petróleo e gás, ameaça seriamente o desenvolvimento da produção do pré-sal no prazo previsto”, disse ele na quinta-feira.

Ontem, Gabrielli participou do ato em Salvador na linha de frente de um protesto esvaziado. Segundo a PM, 800 pessoas participaram. A CUT-BA afirma que foram 3 mil. “Não se pode condenar a Petrobrás, que é uma empresa séria e que tem seus sistemas de controle”, disse ele, aplaudido pelos manifestantes. No discurso, chegou a elogiar as investigações da Operação Lava-Jato e disse estar “surpreso” com os esquemas descobertos de desvios de recursos na empresa.

No Rio, o coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Pedro Stédile disse que “a direita está fazendo tentativa de homicídio pelas redes sociais”. Stédile se referiu à montagem que circula pelo Facebook, qem que ele aparece com a inscrição “Procurado” e oferece “recompensa” de R$ 10 mil a quem capturá-lo “vivo ou morto” (mais informações na pág. A6).

No Recife a manifestação lotou a Praça da Independência e teve ciranda, batucada de maracatu, bandeiras vermelhas. Os discursos foram em defesa da Petrobrás, pela democracia, pela reforma política e reforma agrária. Houve também repúdio às MPs do ajuste fiscal, aos pedidos de impeachment e de intervenção militar. O presidente da CUT-PE, Carlos Veras, participação de cinco mil pessoas, enquanto a PM calculou que o número foi de mil.

‘Golpismo’. Houve ataques à “mídia golpista” e pedidos de regulamentação. O dirigente estadual do MST, Jaime Amorim, afirmou não ver necessidade para uma mobilização pró Dilma neste momento. “Também temos críticas ao governo em relação às perdas dos trabalhadores”, frisou. Segundo ele, o povo e os movimentos sociais terão que ir às ruas pela presidente somente se a defesa do impeachment crescer. / Colaboraram Clarissa Thomé, Felipe Werneck, Antonio Pita, Tiago Décimo, Igor Gadelha e Ângela Lacerda

Atos rejeitam impeachment, mas criticam governo Dilma

• Centrais sindicais e movimentos sociais defendem presidente em 23 capitais

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA, BELO HORIZONTE E PORTO ALEGRE - Centrais sindicais e movimentos sociais que organizaram manifestações nas maiores cidades do país nesta sexta-feira (13) rejeitaram qualquer possibilidade de impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas expressaram insatisfação com os rumos de seu governo e fizeram críticas à sua política econômica.

As manifestações foram lideradas por organizações como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a UNE (União Nacional dos Estudantes), entre outros grupos. Os manifestantes apresentaram como bandeiras a defesa da Petrobras e da democracia, dos direitos trabalhistas, da reforma política e da reforma agrária. Houve críticas ao ajuste fiscal proposto por Dilma, que restringe o acesso a benefícios previdenciários e ao seguro-desemprego.

As manifestações ocorreram em 23 capitais. Segundo estimativas da Polícia Militar, elas mobilizaram pelo menos 26 mil pessoas. Segundo os organizadores, foram 170 mil pessoas. Em São Paulo, o Datafolha calculou que 41 mil pessoas participaram.

O Palácio do Planalto comemorou a ausência de incidentes nas manifestações desta sexta. O temor do governo era que eventuais conflitos nas ruas dessem combustível para os protestos convocados por grupos anti-Dilma para o domingo (15), em 66 cidades.

Grupos chamam opositores de 'golpistas'

• 'Protesto pelo impeachment não vamos permitir', diz sindicalista em SP; ex-presidente da Petrobras vai a ato em Salvador

• Embora tenham feito algumas cobranças ao governo, manifestantes saíram em defesa de Dilma em 23 capitais

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, SALVADOR, RECIFE e CUIABÁ - Nos atos organizados nesta sexta (13) em 23 capitais, movimentos sindicais e sociais defenderam desde o reajuste da tabela do Imposto de Renda até a ampliação da oferta de crédito pelo governo.

Apesar do tom de cobrança, que incluiu o pedido de revisão de medidas que afetam benefícios trabalhistas, os manifestantes saíram em defesa da Petrobras e do mandato da presidente Dilma Rousseff (PT) e chamaram de "golpistas" os que defendem o impeachment da petista.

Na capital paulista, participaram as centrais sindicais CUT, CTB e Nova Central, além do e entidades em defesa dos direitos de sem terra, mulheres, negros e homossexuais.

"Somos a favor de toda manifestação, mas protesto pelo impeachment da presidente nós não vamos permitir", afirmou, em cima do carro de som, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas.

Em alguns Estados, a defesa da Petrobras e de Dilma foi encorpada pela presença de lideranças petistas locais, como o ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli. Ele participou de protesto em frente a prédio da petroleira em Salvador. Discursos e faixas pediam "respeito à democracia" e ao resultado das eleições.

Em Campo Grande, o deputado e ex-governador Zeca do PT posou com manifestantes segurando um cartaz onde se lia "Golpe Nunca Mais".

A mensagem também apareceu no discurso da vice-prefeita de Curitiba, Miriam Gonçalves (PT), em um carro de som na capital paranaense.

Em várias capitais, manifestantes levaram bandeiras e camisetas da campanha eleitoral de Dilma em 2014. Também foram cantados gritos de guerra exaltando a petista e o ex-presidente Lula.

Pagamento
Em São Paulo, manifestantes relataram à Folha terem recebido "café, almoço e jantar" para estar no ato.

"Ficamos só uma parte. Não precisa ficar até o final", disse a auxiliar de limpeza Gisele Rodrigues, 33, que levou os dois filhos pequenos.

Ela disse que ganhou um apartamento em um sorteio da CUT. "Por isso sempre venho [a atos organizados pela central]. Faz parte do pacote."

Com balões e coletes da CUT, estrangeiros participaram, mesmo sem, aparentemente, saberem quais eram as reivindicações. Disseram ter recebido de R$ 30 a R$ 50.

O pagamento a manifestantes foi criticado pelo grupo Revoltados Online, que realizou protesto em frente ao prédio da Petrobras em São Paulo após a manifestação no local favorável à presidente.

Em defesa do impeachment, o ato reuniu 60 pessoas e atrasou duas horas. Segundo liderança do grupo, a demora deveu-se a uma tentativa de evitar um confronto com os manifestantes pró-Dilma.

Protesto em SP teve 41 mil participantes, diz Datafolha

• Nem todos acompanharam o ato do começo ao fim, mostra contagem

• Auge de concentração, às 17h, foi com 35 mil pessoas; organizadores falaram em 100 mil; para a PM foram 12 mil

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Contagem do Datafolha mostra que cerca de 41 mil pessoas participaram do ato liderado por CUT, MST, UNE e outras entidades sindicais em São Paulo nesta sexta (13).

Nem todos os participantes estiveram presentes durante as quatro horas do protesto, que começou às 14h na frente da sede paulista da Petrobras, na av. Paulista, e terminou por volta das 18h na praça da República, no centro.

O pico da manifestação foi entre as 16h e as 17h, quando o Datafolha indicou cerca de 35 mil pessoas presentes no ato simultaneamente.

A caminhada dos manifestantes em direção ao centro da cidade começou por volta das 17h, o momento em que houve maior concentração.

Segundo a contagem do instituto, cerca de 8.000 pessoas estiveram presentes na manifestação do começo ao fim, durante as quatro horas.

Conforme o manifesto divulgado há algumas semanas, o objetivo do ato era protestar contra medidas do ajuste fiscal do governo Dilma Rousseff, em defesa da Petrobras e pela democracia e reforma política.

Os organizadores do evento afirmaram que o ato mobilizou 100 mil pessoas. De acordo com a Polícia Militar, teriam sido 12 mil.

Para a contagem do público, o Datafolha dividiu o trajeto da manifestação em quadrantes. Em cada um desses trechos, os pesquisadores aplicaram uma metodologia de contagem a partir da densidade do público.

Entrevistas também foram feitas ao longo do protesto.

A combinação dessas duas técnicas (contagem nos quadrantes e entrevistas) é o que possibilitou medir a taxa de renovação do público durante as quatro horas de ato.

Manifestantes pró-Dilma vão às ruas em 24 estados

• Atos pró-governo e em defesa da Petrobras aconteceram em 24 capitais do país e no DF

• Os movimentos foram pacíficos e nenhum incidente foi registrado. participaram do ato 33 mil, segundo a PM, e 156 mil, de acordo com os organizadores

Juliana Castro, Julianna Granjeira, Leticia Fernandes, Rafael Magalhães, Silvia Amorim e Thays Lavor – O Globo

RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA - Atos em defesa da Petrobras, pró-Dilma e contra cortes sociais aconteceram em 23 estados do país e no Distrito Federal até o início da tarde desta sexta-feira. Há manifestações em Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espirito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Pará, Paraná, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e no Distrito Federal.

No Rio de Janeiro, ato interdita a Avenida Rio Branco, no Centro, e cerca de mil pessoas, de acordo com a PM, participam do ato na Cinelândia. O discurso de políticos e integrantes de centrais sindicais é de defender Dilma Rousseff e a Petrobras contra as elites, "burgueses" e a "imprensa golpista". O Vice-presidente nacional do PT, Alberto Cantalice, minimizou a radicalização e a preocupação dos petistas com os protestos do próximo domingo, que pedem o impeachment da presidente Dilma.

- Não tem radicalização, eles fazem os protestos deles e nós fazemos os nossos, tudo tranquilo - afirmou.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) também defendeu Dilma e a Petrobras e conclamou os movimentos sociais a se unirem em um "exército do bem", expressão usada pelo ex-presidente Lula:

- Chamamos de exército do bem essas entidades de luta. Aqueles golpistas não conseguem descer do palanque, não desistem de um terceiro turno - criticou, referindo-se aos partidos de oposição.

Em São Paulo, aconteceu a maior mobilização. Cerca de 12 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, participaram do ato. Manifestantes colocaram adesivos na roupa com dizeres como "Petrobras é do povo!" e "Dilma fica" e integrantes do MST também usam material em apoio à presidente. No entanto, segundo Adir dos Santos Lima, vice-presidente estadual da CUT-SP, as manifestações desta sexta-feira na cidade não são nem a favor nem contra Dilma, e sim em defesa da Petrobras, do direto dos trabalhadores, da democracia e da reforma política. Segundo a CUT, 100 mil participam do evento. A marcha foi tranquila, durou três horas e acabou por volta das 18h.

Em Florianópolis, capital de Santa Catarina, o protesto reuniu cerca de 300 pessoas e foi liderado pelas centrais sindicais, movimentos sociais e estudantes. O movimento começou por volta das 14h30m em frente à catedral metropolitana, no centro da cidade. No caminhão de som, líderes se revezam na pauta de defesa e ampliação dos direitos dos trabalhadores, retirada das MPs 664 e 665, defesa da Petrobras e contra a reforma proposta pela CNI. No jornalzinho que estão distribuindo no local, a manchete diz "Petrobras é nossa e ninguém tasca". Em Curitiba, capital do Paraná, mil pessoas participaram, de acordo com a organização.

De manhã, capitais do Nordeste, Norte e Centro-Oeste foram palco de manifestações organizadas pela CUT. Em Salvador, entre 600 a 800 pessoas se reuniram em frente à sede da Petrobras e ouviram discurso do ex-presidente da estatal José Sérgio Gabrielli. O ato na capital baiana terminou por volta das 11h.

Em Maceió, em Alagoas, mil pessoas compareceram, de acordo com os números oficias da polícia. Em Fortaleza, mais de 30 entidades se reuniram. Segundo a Polícia Militar do Ceará (PM-CE) , aproximadamente 700 pessoas participaram do ato em defesa da Petrobras, e que também pedia a reforma política, a retirada das medidas provisórias que alteram leis trabalhistas , a negociação da redução da jornada de trabalho e o fim do fator previdenciário.

No Distrito Federal, 500 pessoas, de acordo com a PM, se concentraram na Praça dos Aposentados e seguiram para a rodoviária do Plano Piloto, em Brasília. Em Manaus, mil pessoas participaram, segundo a PM. Os organizadores contaram 2.500.

Um grupo de aproximadamente 300 pessoas se concentrou na Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória, e seguiu para a sede da Petrobras. De acordo com a CUT, 4 mil participaram do movimento. Eles vestiam camisas vermelhas que trazem o nome do PC do B e da presidente Dilma Rousseff e carregavam bandeiras vermelhas do PC do B e do Brasil. O presidente em exercício do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, desembargador Carlos Roberto Mignone, dediciu, por orientação da Segurança Institucional, que o expediente desta sexta-feira em todas as repartições subordinadas ao Poder Judiciário Estadual localizadas em Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra e Viana iria até às 15h.

Em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, 1.800 pessoas se manifestaram, segundo a Polícia Militar. Em Goiânia, capital de Goiás, foram cem pessoas. Em Macapá, no Amapá, o número de manisfestantes foi de 60 pessoas. Em Cuiabá, no Mato Grosso, 500 pessoas, segundo a PM, sairam em caminhada pelas ruas do Centro da cidade.

Em Belo Horizonte, 1.500 manifestantes participaram do ato. A presidente Dilma, que tinha visita marcada à capital mineira nesta sexta, cancelou a viagem. Ela participaria de um evento de apresentação do balanço da campanha Justiça Pela Paz em Casa, no Tribunal de Justiça, mas, segundo um integrante do palácio, o temor de vaias e fortes manifestações contrárias à presidente levou ao cancelamento. Segundo esse integrante do governo, teria sido detectado um “clima político tenso” na capital mineira, onde Dilma perdeu as eleições do ano passado para o tucano Aécio Neves (PSDB). Oficialmente, a Secretaria de Imprensa do Palácio do Planalto informou que Dilma cancelou a viagem porque sua mãe, Dilma Jane, não está bem de saúde.

Em Recife, 1.500 militantes e lideranças políticas percorreram as ruas do centro do Recife em defesa da presidente Dilma Rousseff, da Petrobras e da reforma política. Entre rodas de ciranda e maracatu, símbolos da cultura pernambucana, as palavras de ordem foram proferidas de cima de um trio elétrico. Segundo a Polícia Militar, cerca de mil pessoas participaram.

O governo chegou a pedir à Central Única dos Trabalhadores (CUT) para que cancelasse a manifestação desta sexta, conforme revelado pelo O GLOBO. O ministro Miguel Rossetto (Secretaria-Geral), a pedido da presidente Dilma, se reuniu com dirigentes da CUT na segunda-feira e conversou por telefone pedindo "reiteradas vezes" a suspensão, para evitar que ela sirva de base para levar mais manifestantes contra o governo às ruas no dia 15, segundo relatou um ministro próximo à presidente. Em nota, o ministro nega que tenha pedido para a CUT cancelar a manifestação.

Nas ruas, a polarização vista nas urnas

• Para especialistas, clima pacífico foi sinal amadurecimento, e protesto amanhã será contraponto às manifestações de ontem

Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO - Nas manifestações desta sexta-feira, os apoiadores do governo carregavam bandeiras que, na prática, eram uma defesa prévia das manifestações contra a gestão Dilma Rousseff previstas para este domingo. Cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO consideram que esse discurso teria sido a forma encontrada por entidades governistas para desqualificar o movimento contra a presidente e, assim, criar uma espécie de polarização entre os que seriam a favor e os que seriam contra a ideia do impeachment.

Segundo Fernando Antonio de Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), os simpatizantes do governo reforçaram que as manifestações de amanhã serão uma espécie de terceiro turno das eleições — embora lideranças que estarão amanhã nas ruas tentem evitar falar em impeachment.

— É do jogo político que os governistas tentem desqualificar o movimento de domingo. Mas tudo indica que os manifestantes contra o governo serão basicamente os eleitores de Aécio Neves, reforçados pelos que sofrem com a crise econômica e criticam o aumento da corrupção, como revela o escândalo da Lava-Jato — disse Azevedo.

Parte do jogo democrático
Para o cientista, as manifestações a favor e contra o governo aprofundam a divisão do país, já explicitada nas eleições de outubro do ano passado. Azevedo diz que os dois atos mostram esse racha:

— O que está levando as pessoas para as ruas contra o governo é o agravamento da crise econômica, associado ao escândalo da Lava-Jato. Tudo isso está fomentando um caldeirão, que leva para as ruas a polarização vista nas urnas no ano passado. As manifestações fazem parte do jogo democrático. O que será ruim é se essa disputa acabar em radicalização, intolerância e violência. Isso seria nocivo para a democracia — comentou Azevedo.

Para ele, esse quadro de confronto não pode durar muito tempo.

— Tem que haver alguém que coloque água na fervura. O problema é que não temos uma liderança que faça a administração institucional da crise. As manifestações são democráticas, e pedir o impeachment é até legitimo — ponderou Azevedo.

Rubens Figueiredo, do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação, não acredita em clima golpista na manifestação deste domingo. Para ele, golpismo teria que partir das Forças Armadas, do Congresso, o que não é o caso do protesto marcado.

— As manifestações agora mostram que a vida das pessoas piorou, a inflação aumentou e o desemprego cresceu. E, diferentemente de 2013, agora as pessoas querem deixar claro que não concordam com a presidente, que ela não serve.

Propostas em vez de truculência
O fato de os protestos de ontem terem sido pacíficos foi elogiado por analistas:

— É fundamental que não haja radicalizações. Os atos de ontem foram um sinal do amadurecimento democrático. As manifestações foram compostas por propostas e não por truculência — disse Figueiredo.

Já na opinião do cientista político da FGV Marco Antonio Teixeira, o protesto de amanhã não será um contraponto às manifestações de ontem:

— O que alavancou as manifestações deste domingo foi o discurso da presidente Dilma Rousseff em cadeia nacional no Dia Internacional da Mulher, em que ela pediu paciência às pessoas por causa da crise. Quando Dilma falou, as pessoas já estavam sentindo na pele os efeitos do pacote fiscal.

Claudio Couto, também da FGV, concorda que o que deve levar muita gente às ruas amanhã é o cenário de deterioração do governo, com o agravamento da crise econômica, além de uma grande inabilidade política. Para ele, Dilma tem agido como militante política:

— Ela tem sido muito teimosa, agindo como na época em que era guerrilheira, conversando com um pequeno grupo que a rodeia, sem mostrar disposição ao diálogo com os próprios partidos da base aliada.

Couto acha que a manifestação de amanhã “terá de tudo um pouco”.

— Haverá gente querendo simplesmente protestar contra o governo e a crise econômica, mas também aquelas com ideias golpistas e os que desejam inviabilizar o governo no meio do caminho.

Em vídeo, Aécio convoca manifestantes e diz que rua é do povo como o céu é do avião

• Senador não deve participar dos protestos de domingo, mas afirma que dia 15 será lembrado como o dia da democracia

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG) decidiu não participar pessoalmente das manifestações “Fora Dilma” programadas para domingo. Mas ele gravou um vídeo, distribuído nas redes sociais, convocando o povo a ir para as ruas “defender a democracia”. A Executiva do PSDB apoia as manifestações, mas o candidato derrotado nas eleições de outubro decidiu não comparecer, porque teme dar munição e fortalecer o discurso dos governistas e do PT de que ele estaria estimulando um terceiro turno.

Ele diz que o próximo domingo, dia 15, vai ser lembrado para sempre como o dia da democracia, “o dia em que os brasileiros acordaram e foram para a rua dizer chega de tanta corrupção, de tanta incompetência e de tanta mentira”.

Na convocação Aécio faz uma adaptação das frases do célebre “frevo novo”, música de Caetano Veloso, para dizer que o PT não é dono das ruas.

— A rua é do povo, como o céu é do avião. Portanto, pegue seus amigos, reúna sua família, e vá para a rua defender a democracia, vá para a rua defender o Brasil — conclamou Aécio, sem fazer referência ao pedido de impeachment que está motivando o movimento “Vem pra Rua”.

Temer diz ser ‘impensável’ e ‘inviável’ discussão sobre impeachment de Dilma

• Em Belo Horizonte, vice-presidente elogiou depoimento de Eduardo Cunha na CPI da Petrobras e negou rompimento com PT

Thiago Ricci – O Globo

BELO HORIZONTE — O vice-presidente da República Michel Temer (PMDB) afirmou, nesta sexta-feira, em Belo Horizonte (MG), ser “impensável” e “inviável” discutir um suposto impeachment da presidente Dilma Rousseff. O peemedebista disse que as manifestações contra o governo marcadas para o próximo domingo são “legítimas”. Temer, no entanto, condenou possíveis atos de violência que possam ocorrer durante os protestos.

- As manifestações são legítimas. Não há coisa melhor para democracia do que manifestação, evidentemente manifestações pacíficas, que não agridam pessoas nem patrimônios. História de impeachment eu nem falo, porque é uma coisa absolutamente impensável, inviável, é uma quebra da institucionalidade que não é útil para o país. Se o país passa por uma dificuldade, você supera essa dificuldade, mas não pensa nessa hipótese - declarou o vice-presidente.

Temer elogiou o depoimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na CPI da Petrobras, na última quinta-feira, e rechaçou a possibilidade de rompimento com o PT. Temer substituiu a petista em evento realizado em Belo Horizonte (MG) para apresentar balanço da campanha Justiça Pela Paz em Casa. Oficialmente, a presidente atribuiu o cancelamento à saúde da mãe, mas integrante do governo afirmou ao GLOBO que o motivo seria o temor de vaias e fortes manifestações.

Na quinta-feira, Cunha falou na CPI por aproximadamente uma hora, criticou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e afirmou ainda que existe uma tentativa do Planalto de jogar a crise para o Congresso. Questionado sobre o posicionamento do correligionário, Temer foi lacônico, mas não deixou de elogiá-lo.

— Ele (Eduardo Cunha) foi muito bem, uma coisa juridicamente muito competente. Ele pegou tema por tema de que foi acusado pela PGR (Procuradoria Geral da República) e buscou destruir esses argumentos — afirmou.

Temer ainda afastou a possibilidade de o PMDB romper com o PT e disse que é uma decisão que cabe apenas a Dilma conceder mais cargos ou não do governo ao PMDB. Apesar de descartar possibilidade de impeachment, o vice-presidente admitiu a crise institucional entre Planalto e Congresso.

— É uma relação institucional, é relação entre Executivo e Congresso, coincidentemente hoje dirigido por dois peemedebistas. Foi uma tensão institucional e acho que tem que ser resolvida. É resolvida com esse diálogo que está sendo feito e que será levado adiante — afirmou.

O peemedebista aproveitou diversas oportunidades para sinalizar que a concessão do governo feita ao PMDB para aprovar a Medida Provisória sobre a correção da tabela do Imposto de Renda deve ser a tônica daqui pra frente.

— Facilitará muitíssimo (a conversa entre Executivo e Legislativo após concessão do governo). Há alguns dias visitei o Congresso Nacional e declarei que Executivo não governa sozinho, governa com Congresso Nacional. Muitas vezes Executivo tem proposta e não é a proposta desejada pelo Congresso. Neste momento, você faz um ajustamento. A gente vai seguir nessa trilha. Ou seja, Congresso Nacional e Executivo governam juntos — afirmou Temer.

Dilma e Lula têm conversa ríspida sobre articulação do governo

• Segundo presentes ao Alvorada, ex-presidente sugeriu saída de Pepe Vargas

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - Reunidos para tentar acertar os rumos do governo, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tiveram uma conversa ríspida na noite da última terça-feira. O tom de voz elevado surpreendeu ministros que aguardavam os dois para jantar no Palácio da Alvorada. O motivo principal do desentendimento foi a coordenação política.

— Esse Pepe não serve para nada — teria dito Lula, de acordo com um dos presentes, em referência ao ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais).

O ex-presidente teria chegado “pilhado” no Alvorada, segundo participantes da reunião, e se exaltado ao conversar a sós com a presidente, antes do jantar. Estavam no palácio os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa), Miguel Rossetto (Secretaria Geral) e o presidente do PT, Rui Falcão.

Além da substituição de Vargas, Lula teria defendido, na conversa com Dilma, que Mercadante se concentrasse na gestão do governo e não tivesse mais atribuições políticas. Lula lembrou que quando Dilma chefiava a Casa Civil em seu governo, a pasta tinha perfil técnico. Considerado sem jogo de cintura, Mercadante é alvo de queixas do PT e do PMDB.

Esperado anteontem em café da manhã com deputados da base aliada para discutir as Medidas Provisórias do ajuste fiscal, Mercadante não compareceu. O representante do governo foi Pepe Vargas.

Mesmo com a pressão de Lula, integrantes do governo e do PT não acreditam que a atuação de Mercadante ficará restrita a acompanhar a execução dos programas do governo e nomear cargos de segundo escalão.

— Ela pede a ajuda dele, ele é o mais próximo dela. Ela confia no Mercadante e isso não vai mudar. E não foi ele quem inventou a candidatura do (Arlindo) Chinaglia (à presidência da Câmara). Isso foi coisa do PT inteiro. O Mercadante ficou na dele e colocou o Pepe para se torrar — disse um integrante do governo.

Após o jantar da última terça-feira, a Secretaria de Imprensa da Presidência da República divulgou uma nota negando o “rumor” de que Lula tenha sugerido à Dilma a troca na Casa Civil. “O ministro Aloizio Mercadante tem total confiança da presidenta e seguirá cumprindo suas funções à frente da Casa Civil”, disse trecho da nota.

O ex-presidente gostaria que Dilma substituísse Pepe Vargas por um nome mais experiente e que não fosse do PT. Ao defender sua tese, Lula elogiou o trabalho de José Múcio e Walfrido dos Mares Guia, do PTB, que foram responsáveis pelas relações institucionais em seu governo.

Lula também teria recomendado a Dilma dar mais missões políticas para Jaques Wagner e para o ministro Ricardo Berzoini, das Comunicações, ambos petistas.

Líder do MST diz que ministro da Fazenda é 'infiltrado' no governo

• Stedile discursou durante ato no Rio, que reuniu cerca de 1.500 pessoas, segundo a polícia

• Manifestantes sustentaram que Petrobras foi vítima de grupos isolados que praticaram corrupção

Lucas Vettorazzo e Felipe Gutierrez – Folha de S. Paulo

RIO - Em discurso durante ato no Rio, o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) João Pedro Stedile chamou o ministro Joaquim Levy (Fazenda) de "infiltrado no governo" e disse que ele promove, em nome do ajuste fiscal, a redução dos direitos dos trabalhadores.

Stedile também afirmou que a presidente Dilma Rousseff deveria "sair do palácio e ouvir os trabalhadores na rua" e classificou o movimento que pede a saída da petista da presidência de golpe.

"Já chega de infiltração de capitalista no governo. Não aceitamos a infiltração de um tal de Levy. Não podemos fazer ajuste à custa do trabalhador. A crise que o Brasil vive é culpa dos capitalistas. Dilma, saia do palácio e venha para rua ouvir os trabalhadores", discursou.

O ato no Rio teve, segundo a Polícia Militar, a adesão de cerca de 1.500 pessoas. Já os organizadores divulgaram que 5.000 participaram do ato, que começou na praça da Cinelândia e terminou com um abraço simbólico na sede da Petrobras.

Convocado por centrais sindicais como CUT (Central Única dos Trabalhadores) e CBS (Central dos Sindicatos Brasileiros), teve a adesão de integrantes do MST, da FUP (Federação Única dos Petroleiros), de movimentos estudantis, do PCdo B e do PT.

Os manifestantes afirmavam estar ali em defesa da Petrobras, argumentando que há no país, por parte da imprensa e da oposição, um desejo de que ela "ou quebre ou seja privatizada".

O tom geral foi de que a petroleira foi vítima de grupos isolados que praticaram os atos de corrupção revelados pela Operação Lava Jato.

"Exército na rua"
Pouco antes de subir no carro de som, Stedile afirmou à Folha que a expressão utilizada pelo ex-presidente Lula há duas semanas, de que "o Stedile vai botar seu exército na rua", foi mal interpretada. "O que ele quis dizer, simbolicamente, foi que os movimentos sociais deveriam colocar nas ruas as suas bases."

A reportagem da Folha flagrou um homem com uma camiseta laranja do Sindipetro NF (Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense) distribuindo notas de R$ 50 reais a um grupo de mulheres de meia idade. Ele não quis falar com a reportagem.

Um rapaz que vestia a mesma camiseta disse à reportagem que era morador de Campos dos Goytacazes e que o dinheiro serviu para pagar a alimentação do grupo.

Parlamentares vão dobrar verba para custear partidos

• Emenda para elevar fundo para R$ 570 milhões tenta compensar perdas provocadas por maior número de siglas e queda em doações

Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A pulverização dos partidos políticos com representação na atual legislatura da Câmara e a diminuição de doações de empresas às legendas em consequência da Operação Lava Jato levaram o Congresso a querer dobrar os recursos do Fundo Partidário neste ano em relação à proposta original do governo.

Atendendo a pedidos dos parlamentares, o relator do Orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), vai alocar em 2015 cerca de R$ 570 milhões para o fundo, destinado a financiar as estruturas partidárias. Trata-se de um aumento de 45,2% sobre o que foi destinado no Orçamento de 2014 (R$ 392,4 milhões) e praticamente o dobro dos R$ 289,5 milhões que o valor proposto originalmente pelo governo.

A emenda de plenário que prevê o novo valor já está pronta e será apresentada na sessão do Congresso agendada para terça-feira. Será a maior “turbinada” no Fundo Partidário desde o Orçamento de 2011, quando os parlamentares passaram a complementar os montantes sugeridos pelo Executivo. O Estado procurou Jucá, mas sua assessoria informou que ele estava no interior de Roraima e não poderia comentar o assunto.

Para Romero Azevedo, tesoureiro do DEM, o reforço orçamentário se justifica pela perda de receita de partidos tradicionais provocada pela fragmentação da Câmara – hoje há 28 legendas com pelo menos um deputado eleito. Pelas regras do fundo, 5% são divididos igualmente entre todas as legendas e 95% de acordo com o total de votos obtidos nas últimas eleições gerais pelas siglas.

Por esse critério, o DEM – que perdeu 21 deputados em relação à bancada eleita em 2010 – recebeu nos dois primeiros meses de 2015 cerca de um terço a menos do valor que era repassado mensalmente até dezembro. “Fora do período eleitoral, nossa receita vem praticamente toda do Fundo Partidário”, argumenta Azevedo. “Existe uma substancial diminuição de outras fontes e os partidos vão contar cada vez mais com os recursos do fundo”, acrescenta Flávio Chuery, tesoureiro do PSD.

Além do resultado das eleições gerais, os parlamentares apontam outra motivação para reforçar o caixa do fundo. Eles alegam que o escândalo de corrupção na Petrobrás, na qual políticos são acusados de receber propina, amedrontou os doadores.

Emendas. Encorpar o Fundo Partidário não é a única demanda dos parlamentares para liberar a votação do Orçamento. O governo aceitou um acordo pelo qual foram incluídos R$ 10 milhões em emendas para cada novo parlamentar, uma promessa de campanha dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Jucá promoveu uma engenharia financeira para acomodar o benefício. Ele remanejou cerca de R$ 2,7 bilhões destinados à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), usada nos últimos anos para custear o desconto na conta de luz. Mas o reajuste na tarifa de energia fez com que esse dinheiro – que o governo pretendia usar para ajudar na recuperação das contas púbicas – ficasse disponível.

O Planalto tentou articular a aprovação do Orçamento na quarta-feira, mas a oposição impediu que a proposta fosse analisada, pois Jucá ainda não havia detalhado as modificações no projeto. O Orçamento de 2015, que deveria ter sido analisado no fim do ano passado, ainda não foi aprovado. Isso impede que a equipe econômica edite um decreto congelando formalmente as despesas dos ministérios, uma das principais sinalizações do ajuste fiscal aguardada pelo mercado financeiro.

Sergio Fausto - A crise será longa

• O lulopetismo precisa aprender a ser parte não hegemônica da política brasileira

- O Estado de S. Paulo

Não há solução rápida para a crise atual, pois ela é grave, profunda e complexa. Na política, entrelaçam-se três crises simultâneas: de governo, que se expressa na rápida queda da aprovação da presidente e nas seguidas derrotas do Executivo no Congresso; do sistema político, acentuada pelo escândalo da Petrobrás, uma novela que ainda terá muitos capítulos; e do bloco de poder que deu sustentação aos governos petistas, agora que não há mais recursos do Tesouro para contentar a todos e os confrontos internos, aguçados pelas delações premiadas, se intensificam.

Na economia, sobrepõem-se ajustes necessários na inflação, nas contas públicas, nas contas externas e em distorções tributárias e regulatórias pioradas nos últimos anos. Com a confiança a zero e sem tempo para recuperá-la gradualmente, o governo tem de fazer grande parte dos ajustes ao mesmo tempo (corte de despesas, elevação de juros e tributos, tarifaço de energia, etc.), o que acentua a recessão e torna mais difícil o ajuste fiscal, indispensável à recuperação da confiança. Além de complexas em si mesmas, as crises política e econômica alimentam-se mutuamente.

Sem solução rápida à vista, o País terá de operar em modo de crise por um período longo. Na hipótese mais otimista, a gestão política e as variáveis macroeconômicas melhoram ao longo de 2015, abrindo perspectiva mais favorável para o País a partir 2016. As chances de que prevaleça esse cenário se têm reduzido a cada dia, à medida que se expõe o tamanho da fratura na base aliada, se avolumam revelações sobre a extensão do esquema de corrupção nas empresas estatais, surgem resistências na sociedade ao ajuste fiscal e crescem os danos da crise econômica no emprego e na renda da população. Governar bem nesse quadro exigiria de quem tem o comando do País - a Presidência e seu núcleo duro - uma capacidade política muito superior à que demonstrou até aqui.

Tudo leva a crer que viveremos uma crise mais prolongada. A presidente Dilma deverá permanecer no cargo para o qual foi legitimamente eleita, ainda que com o uso de mentiras, que hoje lhe custam a autoridade moral para pedir sacrifícios ao País. O mais provável é não haver nem retomada do crescimento nem colapso econômico, nem fortalecimento significativo do governo nem impeachment da presidente. Para usar uma metáfora médica, o paciente sairá da UTI, mas não terá alta definitiva do hospital. No máximo, irá para casa sob cuidados médicos.

Como a vida do País não pode parar, cabe refletir sobre a melhor maneira de conduzi-la nos próximos quatro anos. Nessa estrada de traçado ainda indefinido há dois limites que não podem ser ultrapassados: de um lado, o conchavo para salvar das punições cabíveis lideranças políticas, empresas e empresários cujos malfeitos venham a ser comprovados; de outro, a irresponsabilidade do "quanto pior, melhor".

O PT martela na tecla de que punições às suas lideranças causam dano à democracia. Já o governo defende a tese de que as principais empresas sob investigação fazem parte do "patrimônio nacional" e, com esse argumento, busca um acordo jurídico-político que as preserve de danos econômicos maiores (e, se possível, contribua para que novos acordos de delação premiada não sejam assinados).

A afirmação petista é falaciosa. Nela se toma a parte pelo todo: o PT é parcela importante da democracia brasileira, mas não é sua única nem sua melhor expressão (nenhum dos partidos, nenhum movimento, nenhuma liderança tem a exclusividade desse atributo). O lulopetismo precisa aprender a ser parte não hegemônica da política brasileira. Esse duro aprendizado, que contraria crenças arraigadas dentro do PT, é essencial para a democracia e para o próprio partido.

Outro aprendizado fundamental diz respeito aos riscos econômicos e penais decorrentes do conluio entre o Estado e empresas privadas, com a intermediação de partidos. Na constituição desse imbróglio se combinaram dois processos, que, embora com propósitos diferentes, acabaram por associar-se: de um lado, uma política industrial que jogou quase todas as suas fichas na formação de alianças entre empresas e bancos estatais, seus fundos de pensão e algumas empresas privadas, para pôr em marcha um "novo modelo de desenvolvimento"; de outro, a soldagem, com recursos públicos e privados, legais e ilegais, de um bloco de forças sociais e políticas capaz de assegurar a perpetuação do PT no governo.

Os resultados dessas duas escolhas feitas pelos governos petistas e seus aliados se revelam agora desastrosos. As imensas dificuldades que a Petrobrás enfrenta não são produto de uma conspiração dedicada a debilitar a empresa e a indústria nacional, mas de uma metódica sequência de erros de orientação estratégica e de gestão, além de crimes, cometidos ao longo dos últimos 12 anos.

O ex-presidente da empresa José Sergio Gabrielli, em artigo recente, sacou do colete o argumento do "risco sistêmico" para alertar sobre os efeitos negativos em cadeia provenientes da virtual paralisia da Petrobrás. O artigo é peça da estratégia do governo para justificar um amplo e geral acordo de leniência com as empresas sob investigação. A preocupação com o "risco sistêmico" é válida, ainda que o problema seja propositalmente dramatizado por Gabrielli. Mas cabe perguntar se o "risco sistêmico" seria maior do que o risco de um acordo de leniência que roube ao País a oportunidade de avançar no combate ao capitalismo de compadrio, ao patrimonialismo político e à partidarização do Estado.

Se soubermos construir um caminho à distância do conchavo e do "quanto pior, melhor" e avançarmos rumo a uma forma econômica e politicamente mais saudável de relação entre governo, empresas e partidos, os quatro próximos anos não estarão perdidos.

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*Superintendente executivo do IFHC, colaborador do Latin American Program do Baker Institute of Public Policy da Rice University, é membro do Gacint-USP.

Merval Pereira - Fracassa o confronto

- O Globo

A retórica do comandante do Movimento dos Sem Terra (MST) João Pedro Stedile é muito mais eficaz que a ação de seu “exército”, convocado por Lula para ir às ruas contra os críticos do governo Dilma, que chamam de golpistas. Ele mesmo tratou de dar corda a esse viés militarista e conclamou seus liderados a “engraxarem as botas” por que a luta apenas começou.

Um vídeo espalhado pela internet mostra um discurso recente de Stedile na Venezuela, confraternizando com o companheiro Maduro, onde afirma que uma “elite de mierda” na América Latina está tramando contra os governos populares.

Pela demonstração de ontem, a luta começou mal para os movimentos sociais que atenderam ao chamamento de Lula, que declarara esperar muita gente nas ruas ontem. Por qualquer regra que se meça, não é possível dizer que as manifestações foram um sucesso, embora tenham se espalhado por vários Estados. Foram um reflexo do que constatam as pesquisas atuais: uma minoria de 7% apóia o governo Dilma.

Essa capilarização do movimento serviu até para evidenciar a fraqueza da organização, pois em algumas cidades poucas dezenas de manifestantes se dispuseram a sair às ruas num protesto ambíguo, que defendia a presidente Dilma, mas criticava sua política econômica.

Uma está umbilicalmente ligada à outra, e não é possível neste momento apoiar a presidente e ser contra as medidas de equilíbrio fiscal que o ministro da Fazenda Joaquim Levy está apresentando. Quem age assim, como as centrais sindicais, na verdade está sabotando o segundo governo da presidente Dilma, e pouco importa que diga que faz isso por apoiá-la.

O fato é que a própria presidente já admitiu que as medidas para incentivar o consumo perderam o efeito, e que agora é hora de fazer justamente o contrário, isto é, cortar gastos e reequilibrar as contas públicas. Mesmo que seja um equívoco reiterado da presidente, que continua dizendo que as medidas que tomou no primeiro governo estavam corretas para aquela ocasião, e já não servem no momento atual, quando já está provado que foram elas que ocasionaram a situação que vivemos hoje, de qualquer maneira ela reconhece que tem que fazer diferente hoje para recuperar a credibilidade de seu governo.

O fracasso do movimento de ontem ganhará uma dimensão maior caso as manifestações de amanhã, nas diversas versões contrárias ao governo Dilma, sejam maiores. A medida pode ser São Paulo, onde ontem houve a maior manifestação a favor da presidente Dilma e contra o impeachment. Segundo cálculos oficiais da Polícia Militar, cerca de 12mil pessoas participaram da manifestação em seu pico.

O Palácio do Planalto está trabalhando com a expectativa de que a manifestação de amanhã será maior em São Paulo, que se tornou o centro político antipetista, e fraca nos outros Estados. No Rio de Janeiro, por exemplo, ontem a manifestação a favor da Petrobras e contra o golpismo reuniu cerca de 1000 pessoas. Amanhã, em Copacabana, os organizadores da manifestação contra o governo nas redes sociais esperam número maior.

Por isso mesmo o Palácio do Planalto tentou até o último momento cancelar as manifestações das centrais sindicais e dos movimentos sociais atrelados ao governo, pois sabia que as conseqüências seriam ruins.

Se fossem fortes, poderiam estimular as manifestações contrárias ao governo. Fracas, como foram, exibiram a incapacidade de mobilização desses movimentos que já foram vistos como uma ameaça à democracia. Hoje, são apenas movimentos de pelegos transportados em ônibus, com diária e comida. A incapacidade de arregimentação da CUT já fora demonstrada meses atrás quando, com Lula de garoto propaganda, tentaram dar um abraço na sede da Petrobras do Rio e faltaram braços.

Um fato positivo foi que não houve violência em nenhuma manifestação pelo país, o que indica que a radicalização política está limitada às redes sociais e aos chamados “gritos de guerra”, sem se transformar em conflitos de rua.

Amanhã, nas manifestações contra o governo, saberemos se o mesmo espírito pacífico prevalecerá, ou se os Black blocs arregimentados pelas milícias governistas tentarão repetir a ação de 2013, quando conseguiram dispersar os manifestantes recorrendo deliberadamente às depredações e à violência física.

José Roberto de Toledo - O ponto de não retorno

- O Estado de S. Paulo

Mais de uma pesquisa telefônica sobre o governo Dilma Rousseff encontrou, nas últimas semanas, taxas de "ótimo/bom" inferiores a 10% e, mais grave, maioria de avaliações "ruim/péssimo". Em todas, o saldo de popularidade da presidente supera os 40 pontos negativos entre quem tem telefone fixo em casa. Quanto mais recente a pesquisa, maior o déficit. O poço vai mais fundo.

Desconte-se a omissão dos sem-telefone - entre quem ela costumava sair-se melhor. Ainda assim, a impopularidade de Dilma só é comparável às de José Sarney e de Fernando Collor. A petista não chegou aos piores momentos dos dois ex-presidentes, mas, pela Constituição, ainda tem 45 meses de governo à frente. No Datafolha, Collor bateu em 59 pontos negativos pouco antes do impeachment. Mas Sarney chegou a -63 pontos durante a campanha à sua sucessão em 1989. Nem por isso foi impedido.

Impopularidade recorde talvez seja uma das condições necessárias para um governante perder o cargo, mas é insuficiente. Vários governadores concluíram seus mandatos em 2014 mesmo carregando porcentuais de desaprovação ainda maiores do que os de Dilma.

O processo de impeachment requer um fato concreto que ligue o presidente a um ato ilegal no exercício do mandato. Até agora, apesar das centenas de milhões tirados da Petrobrás, só há especulação quanto ao ato - e seus propagadores são poucos. Deputado dos saudosos da ditadura militar, Jair Bolsonaro saiu na frente e apresentou o pedido de impeachment antes e sozinho.

Qualquer um que queira seguir por esse caminho agora terá que se associar a ele e a tudo o que representa. Além disso, o PT mostrou ontem que, apesar do enorme desgaste que sofreu e sofre, ainda tem algum poder de mobilização popular. É algo que a oposição leva em conta ao planejar seus movimentos. Daí que até os tucanos descartem buscar o impeachment, ao menos não antes de um Fiat Elba aparecer na garagem presidencial.

Portanto, toda a conversa de impedimento - excitada pela manifestação marcada para amanhã - é mais um elemento de pressão sobre Dilma do que um perigo real e imediato para o seu mandato. O que é grave, concreto e mensurável é a abrupta perda de apoio, popular e político, da presidente.

O dígito único de aprovação prova que não se trata de um movimento restrito à elite empresarial e à classe média do Sul e Sudeste. O PT e Dilma perderam sustentação em segmentos sociais que contavam ser seus sólidos apoiadores. Um governante só passa de 50% de ruim e péssimo se uma parte significativa dos mais pobres e menos escolarizados assim considerar o seu governo.

Levantamento do Ibope DTM mostra que houve sim uma concentração em São Paulo e Rio de Janeiro de tuítes sobre o panelaço de domingo passado - aquele simultâneo ao pronunciamento presidencial. Mas, quando o instituto calcula a taxa de penetração dos tuítes sobre esse tema em cada Estado, descobre que eles foram proporcionalmente mais intensos em Mato Grosso, São Paulo, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.

Pior para Dilma, a proporção dos tuítes sobre o panelaço foi significativa em alguns Estados do Nordeste, como Piauí, Bahia e Ceará. Não é uma medida de todo o eleitorado, mas é um termômetro que mostra como o desgaste é generalizado e amplo.

A presidente tem razão quando diz que o processo econômico que manteve o PT no poder pelos primeiros 12 anos se esgotou. Não há mais filas para abrir crediário nas casas de comércio popular. Só para honrar as prestações adquiridas no passado. Chegou a hora de pagar a conta, e o PT é o principal fiador.

Dilma só tem duas saídas: melhorar a política e a economia. A economia ela terceirizou. Na política, vai precisar do apoio do PMDB e congêneres para que esses ditos aliados não sabotem a terceirização que ela fez na economia. Sem isso, passará o ponto de não retorno de sua popularidade.

Igor Gielow- Alívio, por ora

- Folha de S. Paulo

A coisa anda tão feia para o governo que a relativa anemia das manifestações a seu favor da sexta (13) foi motivo de alívio para o Planalto. Talvez tenha sido um bode na sala, mas o governo ventilava temer que os atos pudessem sair do controle chapa-branca e virar protestos duros contra o ajuste fiscal.

Como se viu, manifestantes a soldo cumpriram o ritual previsível de apoio acanhado ao governo, à tal reforma política e, enfim, ao que chamam de defesa da Petrobras.

O último item embute um dado fascinante de negação da realidade, visto que foram justamente a gestão e a corrupção ocorridas na era Lula/Dilma na megaestatal que a levaram para o buraco. Cereja do bolo, quando uma figura do naipe de João Pedro Stédile "abraça" um prédio qualquer, fica-se com a piada pronta.

Uma nota positiva foi a ausência de confrontos com os radicais de Facebook, grupelhos inexpressivos no real --aqui não se fala de black blocs, mas de boitatás que defendem a volta da ditadura e afins. Mais um respiro para o governo: não se viu gente de vermelho em batalhas campais.

Agora é ver o que ocorre neste domingo, quando a agenda das ruas não conta com organização militarizada do condomínio CUT/MST/MTST, mas aparenta ter a seu lado o enorme descontentamento popular com o governo e o WhatsApp.

A expectativa palaciana, ressaltando aqui o caráter de "hedge", é de algo concentrado em São Paulo. Se confirmada, já é um problema para Dilma: o motor do país reafirma o "espírito de 1932", de rejeição ao governo central, e deixa aberta uma agenda de novos protestos.

O panelaço do domingo passado, imprevisto apesar das teorias conspiratórias, sugere que algo de maior ressonância pode estar a caminho. Neste caso, a questão para o governo não é nem o grito por impeachment, extremo que poucos de fato desejam, mas sim o ainda maior enfraquecimento do Planalto.

João Bosco Rabello - Economia, o limite da trégua

- O Estado de S. Paulo

É claro o movimento do Legislativo, abrangendo quase todo o espectro partidário, para desqualificar os inquéritos abertos a pedido da Procuradoria Geral da República contra parlamentares cujos nomes apareceram nas investigações da operação Lava Jato, por citações em depoimentos feitos sob o regime da delação premiada.

A alegada inconsistência de muitos desses pedidos de inquérito, sustentada informalmente por ministros e ex-ministros do próprio Supremo Tribunal Federal, abriu espaço para a acusação de politização do processo feita ao Procurador Rodrigo Janot pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e abraçada não só pela base aliada ao governo, como também pela oposição.

O depoimento de Cunha ontem na CPI, colhido por iniciativa dele mesmo, teve seu objetivo cumprido. Serviu à causa coletiva de formalizar o questionamento ao trabalho de Janot, acusado de convenientemente seletivo ao nivelar todos os casos, sem distinção entre aqueles com mais evidências de envolvimento no esquema da Petrobras, e os que acabaram na lista de investigados por citações vagas e, em alguns casos, não confirmadas – ou desmentidas – por um dos dois depoentes que fundamentaram os pedidos de inquérito.

A postura une o Legislativo e ajuda a estratégia do presidente da Câmara de fazer das peças de Janot fator de conflito entre poderes, aliando Executivo e Ministério Público a uma causa política de distribuir por todos os partidos as responsabilidades pelos crimes na Petrobras.

A estratégia é simplória até, mas sua viga de sustentação é o longo prazo de tramitação dos inquéritos abertos pelo Supremo, em atendimento ao Procurador Geral. Estima-se em, pelo menos, dois anos, com otimismo, para que comece e haver resultados concretos, porque inquéritos impõem mais investigações.

Como inquérito não pressupõe culpabilidade, mas tão somente investigação – e esta é questionada nos termos postos por Cunha e absorvidos pelo Legislativo, cria-se justificativa para que os atingidos pelos pedidos de Janot se mantenham em funções e cargos que ocupam em decorrência do mandato parlamentar, como já se determinaram os presidentes da Câmara e do Senado.

O cenário preserva a capacidade da base de sustentação do governo de manter a pressão sobre a presidente Dilma Rousseff, conforme posta desde a eleição de Cunha para a presidência da Câmara. Essa pressão já impôs à chefe do governo derrotas significativas e , mais recentemente, a ampliação de seu quadro de articuladores, incluindo o PMDB nesse contexto.

A tardia admissão da presidente da República com relação à insuficiência de seu trio de articuladores palacianos- os ministros Pepe Vargas, Miguel Rossetto e Aloísio Mercadante -, inviabilizou a inclusão do Vice Presidente Michel Temer no chamado núcleo duro do governo e impôs como solução a ampliação da equipe de articulação, com os ministros Aldo Rebelo (PC do B), Eliseu Padilha (PMDB) E Gilberto Kassab (PSD).

Sem dúvida, trata-se de um trio com trânsito no Congresso Nacional, ao contrário do que tem a missão formal de negociar. No entanto, essa força-tarefa já em ação estará voltada mais para a aprovação do ajuste fiscal do que para o resgate das relações políticas, embora não se deva imaginar que se limitarão a isso.

O problema é que, para além do ajuste fiscal, será difícil o PMDB, a base aliada e a oposição, abrirem mão da inversão já obtida do poder impositivo no âmbito das relações políticas. Ainda mais com a inserção do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, no grupo que a presidente da República agregou à articulação política.

Não por insuficiência de Kassab, que já se mostrou hábil e com senso do timing, essencial a um bom político. Mas ao assumir o patrocínio da criação do PL para fundir-se ao seu PSD e formar uma bancada igual ou maior que a do PMDB, reduzindo seu poder de barganha junto ao governo, tornou-se inimigo preferencial do partido, conforme já demonstrou claramente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Não por outra razão, ao abrir-se ao diálogo com os novos operadores do governo, o PMDB manteve a ressalva de tratar-se de diálogo para o processo de resgate da economia, conveniência geral, uma vez admitido como beneficiário final o eleitor.

De qualquer forma, a ação desse triunvirato já se fez notar na aprovação do acordo em torno do reajuste da tabela do Imposto de Renda, que o governo queria em 4,5% e a Câmara fixara em 6,5%. A proposta intermediária, de progressividade no reajuste em torno de 5,5%, evitou mais uma derrota anunciada do governo, que se daria pela derrubada do veto presidencial à decisão original da Câmara dos 6,5|%.

Embora não haja transparência da Fazenda na informação de que o reajuste abaixo dos 6,5% se traduz por aumento de imposto, o fato é que o governo conseguiu avançar nessa matéria já graças à ampliação de sua coordenação política.

As sessões da CPI, simultâneas às negociações em torno do ajuste fiscal, reforçam essa separação entre economia e política que produziu uma trégua para o Planalto no primeiro caso. Mas a delimitação desses dois territórios fica clara na linha estabelecida na comissão de que as investigações da Lava Jato devem ser estendidas ao que foi chamado pelos parlamentares rebeldes da base de “o outro lado da rua”.

Zuenir Ventura - O que será o amanhã?

• Manifestações serão teste decisivo para democracia. Tomara que seja protesto legítimo, não o ensaio de uma arriscada derrubada da presidente

- O Globo

Algumas semanas em férias dos acontecimentos e, na volta, a sensação de que o país está, como no mapa, de cabeça pra baixo. Não sei se essa é a pior crise dos últimos tempos, como se diz — a presidente acha que não —, mas é uma confusão poucas vezes vista, em termos de paradoxos e subversão de valores, papéis e sinais. O Brasil nunca foi um país para principiantes, já ensinava Tom Jobim, mas há momentos em que não é nem para catedráticos, como em 1963/64, por exemplo, que deu no que deu. A História não se repete, tudo bem, mas há agora algo parecido — de radicalismo, intolerância, agressividade e ódio. Espera-se que o desfecho não seja igual, embora a discordância seja tanta que nem os próximos se entendem mais, como Dilma e Lula. E o que dizer do PMDB, o maior partido de apoio à presidente, que é o que lhe causa mais embaraços? Quem a acusou de querer atrair “sócio para a lama” não foi um oposicionista grosseiro, mas o próprio presidente da Câmara, hóspede da “lista de Janot” (saudade dos tempos em que lista de dinheiro sujo era só a dos bicheiros). No seu depoimento na CPI da Petrobras, ele foi homenageado por vários colegas, inclusive do PT e PSDB. Coube a Clarissa Garotinho o espanto: “O que vi aqui foi uma reunião de felicitações. E achei que estava numa CPI”. De fato, o acusado parecia ser o procurador da República.

Em compensação, a melhor defesa do PT não foi feita por um petista, mas pelo ex-ministro de FH Bresser-Pereira. Recorrendo à velha luta de classes, o tucano atribuiu a onda de protestos a “um ódio coletivo dos ricos contra um partido e uma presidente”. O melhor símbolo, porém, da inversão de papéis talvez seja mesmo Paulo Maluf, que em 2000 Lula queria ver “atrás das grades” e em 2013 foi procurado em sua mansão pelo próprio Lula, em busca de apoio para Haddad. Criticado por este gesto, o ex-presidente declarou em comício: “Dizem que o companheiro Maluf é ladrão, mas isso é uma demonstração de ‘cleptomaníacofobia’ inaceitável nos dias de hoje”. Procurado pela Interpol por desvio de dinheiro, o deputado do PP, o partido com mais figurantes na tal lista, 31, manifestou-se indignado com a corrupção. “Estou com Janot: se alguém deve, tem de pagar. Em 48 anos de vida pública, sempre fui correto”. Que tal?

De que maneira essa confusão política, misturada com o escândalo do petrolão e com os sérios problemas econômicos, tudo isso agravado pela insatisfação geral, vai chegar às ruas amanhã? O comportamento das manifestações será um teste decisivo para a democracia. Tomara que seja um protesto legítimo, não o ensaio de uma arriscada derrubada da presidente Dilma.

Derruba, e depois? A alternativa é pior.

Demétrio Magnoli - O meio e a mensagem

• As manifestações deste domingo pertencem ao universo da política virtual, regido pela lei da incerteza

- Folha de S. Paulo

Na tarde de uma quinta-feira, 30 de abril de 1977, elas deram-se os braços e caminharam silenciosamente em círculos diante da sede do governo argentino. A primeira marcha das Mães da Praça de Maio contou com 14 manifestantes. O número não importava, nem importavam cartazes ou palavras de ordem. Elas eram mães desesperadas de desaparecidos políticos. A simples presença do grupo exprimia mensagens devastadoras: um grito universal de dor e uma maldição eterna lançada sobre a ditadura militar. No Brasil, neste domingo (15), a relação entre meio e mensagem é completamente diferente. Tudo depende do número e da seleção das palavras.

As manifestações desta sexta (13) obedeceram à lógica do mundo da política organizada. Convocadas pela CUT, pelo MST e pela UNE, elas divulgaram uma mensagem nítida, definida de antemão pelo centro político do lulopetismo. Comissões de frente, serviços de ordem, faixas e carros de som asseguraram a unicidade da palavra. A finalidade era defender o governo, alcunhando como "golpistas" os manifestantes deste domingo. O protesto, quase inaudível, contra as medidas trabalhistas e previdenciárias do Planalto foi apenas uma oferenda prestada pelas três organizações semiestatais ao título de "movimentos sociais" que ainda lhes confere vestígios de legitimidade.

As manifestações antigovernistas deste domingo pertencem ao universo da política virtual, regido pela lei da incerteza. Convocadas nas redes sociais por uma miríade de pequenos grupos antipartidários, elas carecem de comando unificado e estabilidade de mensagem. Em torno do eixo móvel da indignação contra o governo, oscilam bandeiras diversas, que se estendem do protesto contra a corrupção até o "Fora Dilma" e o impeachment. Nas franjas extremas do movimento, figuras insignificantes, sombrias ou apenas ridículas clamam por uma intervenção militar. Só o número tem o condão de definir a mensagem.

A dimensão das manifestações deste domingo é imprevisível, pois elas não emanam de máquinas políticas profissionais. Se os números forem elevados, as ruas falarão a linguagem da exaltação cívica contra a corrupção, o engodo e a arrogância. O alvo será a privatização partidária do Estado e dos bens públicos. Nessa hipótese, experimentaremos uma evolução política das manifestações multitudinárias de junho de 2013. As pessoas comuns rejeitam o vandalismo, nas suas versões empírica (a destruição das coisas) e simbólica (a demolição das regras de convivência democrática). O perigo reside na hipótese alternativa, de manifestações relativamente pouco numerosas. Nesse caso, sequestrados por radicais de salão, os microfones difundirão mensagem odientas vazadas na gramática do exterminismo ideológico.

Dias atrás, um Lula acuado apelou ao "exército de Stédile". O monopólio das ruas, exercido por intermédio de "movimentos sociais" financiados pelo Estado, funcionou como precioso ativo político do lulopetismo. Quando as Jornadas de Junho contestaram a exclusividade, o PT tentou restaurá-la por meio do expediente de associá-las à "elite" e ao "preconceito". No fundo, o Partido está dizendo que o espaço público pertence a ele, e a ninguém mais. De certa forma, os principais partidos oposicionistas curvaram-se à sentença autoritária, como atestam suas adesões retardatárias, oscilantes e envergonhadas às manifestações deste domingo. Isso pode ter consequências desastrosas.

As mães que marcharam na Praça de Maio eram fortes porque eram poucas. Os manifestantes deste domingo, pelo contrário, serão fracos se não forem muitos. Na ausência do senso cívico que costuma acompanhar as multidões, sem um rumo democrático traçado pelas lideranças de oposição, ouviremos mensagens semelhantes às do lulopetismo, mas com polaridades invertidas. Seria uma pena: a falsa prova de que, na cena política brasileira, todos os gatos são pardos.

Marco Aurélio Nogueira - Armênio Guedes (1918-2015), comunista que soube valorizar a vida e a democracia

- O Estado de S. Paulo

Com a morte de Armênio Guedes hoje, 12 de março, foi-se uma parte importante da história da política democrática, da esquerda e das lutas sociais no Brasil.

As gerações mais jovens podem não saber de quem se trata. Armênio morreu aos 96 anos. Viveu, portanto, uma vida longa e plena, conheceu o fundamental do século XX e as primeiras décadas do capitalismo globalizado e informatizado em que nos encontramos. Como comunista militante, experimentou de tudo: conviveu de perto com Luiz Carlos Prestes, um de seus maiores antagonistas, integrou inúmeras formações do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro, o PCB, amargou o exílio, frequentou importantes círculos intelectuais, escreveu muito, dirigiu jornais e revistas na clandestinidade e à luz do dia.

Mas não foi um comunista típico, sempre viveu longe dos estereótipos que costumam cercar os comunistas: nunca foi dogmático, não se afirmava pela autoridade, não tinha paciência para rituais, reuniões protocolares e rapapés, não vestia a “capa preta” que o folclore comunista atribuía aos dirigentes supremos do partido, não quis ser herói, jamais achou que a revolução pudesse derivar da ação voluntariosa de quem quer que fosse. Negou tudo isso em palavras e atitudes. Nunca deixou a política em segundo plano, mas nunca fez dela, e de suas ideologias, o critério para hierarquizar ou julgar pessoas. A máxima “ou você está comigo ou está contra mim” jamais frequentou seu dicionário.

Armênio foi comunista a vida inteira, mas foi acima de tudo um democrata que amava a liberdade, o pluralismo, uma boa conversa e um jazz de qualidade. Talvez por isso tenha conquistado uma legião de amigos e admiradores. Despertou, claro, ciúmes e invejas, fez alguns adversários e inimigos. Mas serenamente combateu o bom combate.

Sempre o tive como uma espécie de figura mítica, no sentido que Gramsci atribuiu ao Príncipe de Maquiavel: um personagem ativo, no qual a ideologia política e a ciência política se apresentam não como fria utopia nem como raciocínio doutrinário, mas como uma criação da fantasia concreta que atua sobre a vida para despertar e organizar vontades coletivas.

Mito, também, porque Armênio era aparentemente frágil, discretíssimo, quase não falava em público, não se expunha e nem se exibia, não protagonizava grandes embates e apesar disso — ou precisamente por isso — conseguia irradiar enorme confiança e demarcar um território próprio, coisa que, em política e em ambientes partidários, jamais é fácil. Era um desses gigantes cuja estatura não se consegue dimensionar num primeiro relance, que se revela aos poucos, como se seu magnetismo estivesse oculto. Foi um marxista gramsciano sem que jamais tenha precisado bater no peito para assim se proclamar, um intelectual refratário à verborragia doutrinária, flexível, para quem era mais importante construir consensos e evitar confrontos desnecessários.

Opôs-se firmemente, por exemplo, tanto aos stalinistas dogmáticos que queriam incutir uma “linha política justa” que não interagia com a vida real, quanto aos que, nos anos 1960, imaginaram derrotar a ditadura militar pela via armada. Ajudou a redigir o “Manifesto de Março de 1958”, célebre documento que assinalou a primeira tentativa de renovação anti-stalinista do PCB e que iria, nas décadas seguintes, servir de base para o envolvimento dos comunistas com a luta pela democracia e o combate político ao regime de 1964.

Quando o regime militar começava a se extenuar e a anistia política despontava no horizonte, em 1979, Armênio deu uma entrevista ao Jornal do Brasil, ao lado de alguns outros companheiros. O JB fez um caderno especial com o material, editado por seu correspondente na Europa, Araújo Neto. O estrondo que aquele caderno provocou nos ambientes comunistas e de esquerda foi proporcional à erupção de um vulcão.

Nunca mais os comunistas seriam os mesmos. A iniciativa impulsionou uma extraordinária tentativa de renovação do velho Partidão, em cujo centro estaria a luta pela democracia como princípio, meio e fim: como valor universal, do qual não se poderia transigir. Nas palavras dele: “Houve um tempo em que nós identificávamos liberdades democráticas com o poder da burguesia. Mas a verdade é que, pouco a pouco, a vida foi-nos mostrando que a democracia é algo importante, permanente, para o avanço da sociedade”.

A renovação do partido não deu certo e anos depois o PCB saiu de cena. Mas a democracia avançou e se consolidou no país. O comunismo democrático, tão bem encarnado por Armênio, não somente deu sua contribuição, como permaneceu fornecendo parâmetros para a ação política, a unidade dos democratas, a construção de consensos, acordos programáticos e entendimentos superiores, a recuperação do valor da política.

Armênio permaneceu ativo depois que o PCB desapareceu. Não chegaria mais a mergulhar em novas epopeias partidárias. Persistiu como um farol de orientação, crítica e agregação, um analista cuidadoso da política, um disseminador de cultura democrática, fiel a seu próprio legado.

Armênio Guedes fez da política uma atividade que fluía fácil, que dispensava posições de força ou de poder, argumentos de autoridade e palavras duras. Para ele, “unidade na diversidade” não era um chavão dialético, mas um lema de toda política democrática com intenção reformadora, a alavanca do novo pelo qual ele e tantos outros se batiam. Hoje como ontem: um valor universal. Algo indispensável nestes tempos complicados em que estamos.

Armênio teve uma vida plena, tornou-se uma lenda da esquerda comunista. As teses democráticas com as quais se identificou e a que ajudou a dar forma foram essenciais para que o melhor do Brasil viesse à luz. Germinaram no PCB, mas ganharam força fora dele, funcionando como uma espécie de pedagogia reformadora. Hoje, deveriam ser plenamente recuperadas; nos ajudariam a seguir em frente de cabeça erguida e olhos bem abertos.

Armênio Guedes morreu, mas seu exemplo, seu estilo sereno e suas ideias estão aí. Ao nosso alcance.

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Marco Aurélio Nogueira, professor de Teoria Política da Unesp