quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Calor recorde expõe urgência de cortar emissões

O Globo

Apesar das temperaturas mais altas já registradas, humanidade tem andado a passos mais lentos do que deveria

A palavra “anomalia” tem um sentido técnico específico em ciência climática. Trata-se do desvio — para mais ou para menos — de uma medição em relação à média esperada. Não é necessariamente uma variação extrema, mas as anomalias de temperatura registradas em 2023 foram anômalas também no sentido mais comum da palavra. Nunca a Terra registrou temperaturas tão acima da média esperada. O ano de 2023 foi, de longe, o mais quente já medido. Recordes foram quebrados repetidas vezes. Junho foi o mês mais escaldante até julho chegar. Depois agosto, setembro... e assim sucessivamente, até dezembro.

O Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, agência europeia do clima, constatou que metade dos dias de 2023 registrou temperatura 1,5oC acima do nível pré-industrial. A média da temperatura global foi de quase 15oC, 0,17oC acima de 2016, até então ano mais quente da História. O cruzamento de dados de satélites com evidências geológicas mostra que 2023 figura como o mais quente dos últimos 100 mil anos. As medições da Nasa, que serão divulgadas ainda nesta semana, deverão corroborar a constatação.

Vera Magalhães - Frente ampla, parte 2

O Globo

Com chapa Boulos-Marta, Lula replica ideia que levou a aliança com Alckmin e mostra maior poder de articulação que Bolsonaro

Desde que começou seu caminho de volta à Presidência, Lula parece ter aprimorado uma qualidade que sempre lhe foi atribuída: promover encontros improváveis na política. Foi um espanto generalizado quando vieram a público as primeiras conversas para a composição da chapa Lulalckmin. Quem se lembrava dos impropérios lançados de parte a parte na eleição de 2006 jurava ser impossível unir o petista e o ex-tucano na mesma chapa. E olha no que deu.

O segundo turno foi pela mesma linha, com a criação da frente ampla que juntou no barco a ex-oponente Simone Tebet, que virou ministra. Na composição do governo, o presidente eleito resolveu exercitar o dom de convencer quem está confortável numa posição a aceitar outra para lá de espinhosa. Funcionou com José Múcio, deu errado com Josué Gomes.

Zeina Latif - Somos melhores do que se pensa

O Globo

A crença de que o país precisa de mais democracia, e não menos, para se tornar mais justo e próspero é de grande valor

Os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 não produziram instabilidade democrática e tampouco contaram com o apoio da sociedade. Uma ampla maioria os reprovou, mesmo entre os eleitores de Bolsonaro. Há muito a celebrar, portanto, especialmente considerando que 72% da população mundial vive em autocracias, segundo o V-Dem.

O Brasil conta com freios e contrapesos que afastam o risco de rupturas democráticas. A tentativa de golpe, porém, não fracassou apenas porque inexiste intenção golpista na cúpula militar ou porque as instituições agiram prontamente para punir os envolvidos.

Um importante antídoto é a própria rejeição da sociedade a retrocessos; um ingrediente fundamental para o bom funcionamento das válvulas da democracia – o que certamente faltou em 1964.

Renata Gil* - ‘Habemus Supremum’

O Globo

Supremo Tribunal Federal se encarregou bem de seu papel de proteção ao Estado Democrático de Direito

A expressão Habemus Papam, que traduz o anúncio público da escolha de um novo Papa, admite uso coloquial e tem perfeito cabimento quando expressa a ocupação de um espaço institucional em momentos de incerteza e insegurança política e jurídica.

No último ano, assistimos com preocupação à crise democrática que se instalou em Israel antes do conflito bélico na Faixa de Gaza, em razão de atos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para impedir que o Supremo daquele país avaliasse atos do Executivo. Fez isso por meio do Parlamento, por ele controlado, usando leis de caráter eminentemente antidemocrático.

Em julho, em pleno recesso forense brasileiro, conversei com ministros do nosso Supremo Tribunal Federal, pensando em ato de apoio ao Supremo israelense, conduzido por uma mulher, a magistrada Esther Hayut.

Elio Gaspari - É a segurança, senhores

O Globo

As celebrações do 8 de Janeiro tiveram todos os ingredientes típicos dos eventos de Brasília: as enfadonhas nominatas, com os intermináveis registros de presenças e discursos em louvor da democracia. Faltou uma só peça: a discussão dos fatores que permitiram a ocorrência das invasões.

Os ônibus convocados trazendo milhares de pessoas para a “Festa da Selma” chegavam a Brasília desde a véspera. Candidamente, diversos ministros contaram que, no início da tarde, estavam almoçando. Nenhum depoimento revelou alguém que, desde o início da manhã, estivesse organizando qualquer tipo de resistência.

A tentativa de golpe vinha sendo articulada havia semanas. Hoje culpa-se o culpado, e seu nome é Jair Bolsonaro. Contudo, se um sujeito tem uma joalheria, e ela é assaltada, a culpa é do ladrão, mas o dono da loja deveria ter pensado na proteção de seu patrimônio. O que houve em Brasília foi o colapso do sistema de segurança pública, que está bichado em todo o país.

Fernando Exman - Cotadíssimo, Lewandowski circula em Brasília

Valor Econômico

Expectativa é de que a substituição dê uma nova cara ao ministério

Personagem que atrai olhares por onde passa em Brasília, Ricardo Lewandowski chegou na segunda-feira (8) ao Congresso Nacional ladeado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. A dupla logo chamou atenção.

Afinal, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) é considerado favoritíssimo para substituir Dino, que está prestes a deixar a pasta para assumir uma cadeira na Corte. Nos bastidores, o anúncio é considerado iminente.

Lewandowski seguiu com desenvoltura pelo Salão Nobre do Senado, onde integrantes das cúpulas dos três Poderes se reuniam privadamente antes da solenidade que seria realizada no saguão ao lado. Em pouco tempo, ocorreria a cerimônia em memória à reação institucional que impediu um golpe de Estado no dia 8 de janeiro de 2023.

Cristovam Buarque* - Hora do educacionismo

Correio Braziliense

A história mostra que, além da educação, é preciso liberdade para fazer florescer a criatividade, que a cooperação internacional é necessária para aproveitar recursos externos, e a democracia, para corrigir rumos errados

Na última edição de 2023 do Correio Braziliense, o jornalista Luiz Carlos Azedo provocou nominalmente este leitor a refletir sobre o papel da educação na construção do futuro do Brasil. Entre envaidecido e comprometido, respondo que apenas educação não é suficiente, mas é absolutamente necessária para construir um país rico, democrático, justo, sustentável e pacífico. A his tória mostra que, além da educação, é preciso liberdade para fazer florescer a criatividade, que a cooperação internacional é necessária para aproveitar recursos externos, e a democracia, para corrigir rumos errados, mas a educação é o eixo central para enfrentar cada problema brasileiro e construir o progresso, especialmente nestes tempos em que a economia é baseada no conhecimento.

Vera Rosa - O crocodilo de Múcio

O Estado de S. Paulo

PT e ministérios preparam ações pelos 60 anos do golpe de 1964 e militares ficam de orelha em pé

Passado o ato para lembrar um ano da barbárie do 8 de Janeiro e celebrar a democracia, uma nova preocupação toma conta das Forças Armadas. É que o PT e a Fundação Perseu Abramo, ligada ao partido, preparam debates, exposições e documentário para marcar os 60 anos do golpe de 31 de março de 1964, que deu início à ditadura militar no Brasil. Além disso, o Ministério dos Direitos Humanos articula com outras pastas uma série de iniciativas para lembrar a data.

Nos bastidores, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, já começou o trabalho na caserna para evitar “provocações”.

Paulo Delgado* - Mistério e mística na economia

O Estado de S. Paulo

Um círculo vicioso de claudicantes melhoras, insegurança, surpresas estressantes e a contínua fragilidade das ideias educacionais, liberais e democráticas

Melhor ser dono de um centavo do que escravo de um real é só um bonito ditado. Financiamento, crédito, política social, consignado, subsídio, isenção, incentivo, Refis, Mover, Desenrola, Selic, benefício-privilégio, qual o motor da prosperidade? Nenhuma lei da economia vai conseguir trazer igual alívio para o precavido, o protegido, o abandonado.

A relação informal entre o governo e o Banco Central se ajustou com o arcabouço fiscal. Um monitora as contas públicas para evitar descontrolado endividamento. Outro vai derrubando de 0,5% em 0,5% a Selic para chegar a 8% no fim do ano. Mantido o bom gosto do governo por reservas internacionais altas, o conceito de dívida deve ser o de dívida bruta menos reservas. O volume e liquidez do entesourado nos protege do risco de endividamento total.

Bruno Boghossian - Repatriação de Marta Suplicy

Folha de S. Paulo

Lula faz ajuste de rota para recuperar periferias e buscar renovação tardia na esquerda

Lula recebeu Marta Suplicy para um almoço em agosto de 2012. Numa conversa de duas horas, o então ex-presidente enterrou desentendimentos com a ex-prefeita e convenceu a aliada a embarcar numa missão: ajudar Fernando Haddad na eleição municipal de São Paulo, em especial nos bairros da periferia.

O presidente acaba de sacar o mesmo trunfo 12 anos depois. Lula costurou a volta de Marta ao PT e sua indicação como vice de Guilherme Boulos para a disputa deste ano. A ideia é que a ex-prefeita empreste três atributos à chapa do deputado do PSOL: experiência administrativa, uma imagem razoável na elite paulista e conexão com a periferia.

Martin Wolf* - O liberalismo está abalado, mas ainda não quebrado

Folha de S. Paulo

Liberais compartilham a confiança de que seres humanos podem decidir as coisas por si mesmos

A ideia central da democracia —de que os governos são responsáveis perante os governados— ainda é valorizada em grande parte do mundo. De que outra forma explicar o fato de que mais da metade da população mundial vai votar este ano?

No entanto, o mundo também tem passado por uma "recessão democrática", como Larry Diamond, da Universidade Stanford, chama, há quase duas décadas.

O poder da autocrática China tem aumentado. Vladimir Putin sufocou a democracia na Rússia. O autoritarismo está triunfando em muitos países. A reeleição de Donald Trump, após sua tentativa de derrubar o resultado da última eleição presidencial dos Estados Unidos, também seria uma mudança decisiva na democracia mais influente do mundo.

No entanto, o que está acontecendo não é principalmente uma perda de confiança nas eleições em si. Afinal, os autoritários frequentemente usam as eleições para consagrar seu poder.

Wilson Gomes* - Agenda para a esquerda deve incluir realismo político

Folha de S. Paulo

A militância, tão feroz e vocal, precisa aprender a baixar as armas e lembrar que o setor progressista venceu por pouco

Prosseguindo com minhas sugestões para a esquerda no Ano-Novo, destaco a necessidade de reconsiderar uma atitude específica da militância: é preciso baixar as armas.

Compreendo que de 2015 a 2021 a esquerda brasileira comeu o pão que o diabo amassou. A sua presidente recém-eleita levou um impeachment que de isento e republicano não teve nem o odor, o antipetismo virou o mais importante eleitor do país, a extrema direita saltou do seu pico de 3% de votos para mais da metade dos eleitores, a Lava Jato se engajou na destruição do PT como uma missão religiosa, o maior líder político e eleitoral da esquerda foi trancado em um cárcere em Curitiba.

Hélio Schwartsman - Buracos reinam soberanos

Folha de S. Paulo

Questões locais e não nacionais tendem a dar o tom da disputa em pleitos municipais

As eleições municipais deste ano se darão sob o signo da polarização? É pouco provável. De um modo geral, são os problemas locais que pautam as disputas para as prefeituras e Câmaras de Vereadores. É claro que em algumas praças, normalmente cidades grandes, em que pelo menos um dos candidatos se identifique fortemente com um dos grandes blocos políticos, poderemos ver ecos do lulismo contra o bolsonarismo, mas na grande maioria dos 5.570 municípios é o buraco na rua e não a posição do Brasil em relação à guerra na Ucrânia que dará o tom. Essa pelo menos tem sido a tendência nos últimos ciclos eleitorais.

Paul Krugman* - Por que Donald Trump vai começar a atacar o Fed em breve

Folha de S. Paulo

Ciclo de baixa na taxa de juros vai atrair acusações de uso político do banco central americano

As taxas de juros devem começar a cair. Talvez não hoje, e talvez não amanhã, mas em breve, e pelo resto deste ano (pelo menos).

Por quê? Porque existem razões muito boas para o Federal Reserve, que controla as taxas de juros de curto prazo —é assim que ele faz política monetária— começar a reverter os aumentos acentuados das taxas que realizou a partir de março de 2022.

Há um debate acirrado sobre se esses aumentos das taxas foram excessivos, o que não vou discutir aqui. Independentemente do que você pensa sobre a política passada, o argumento para cortes no futuro é muito forte, e espero que o Fed aja com base nesse argumento.

O que eu não sei é se o Fed está preparado para a tempestade política que está prestes a enfrentar, e se resistirá à pressão para manter as taxas muito altas por muito tempo.

Porque é uma previsão segura que Donald Trump e seus apoiadores vão reclamar que os próximos cortes nas taxas fazem parte de uma conspiração do "deep state" para reeleger o presidente Joe Biden.

Poesia | Amigo | Pablo Neruda

 

Música | PORTO DA PEDRA Carnaval 2024 - Samba Enredo