O Globo
Com investigações tão avançadas na Justiça
e na PF, é injustificável que deputados e senadores não se preparem para
oitivas
A CPI mista dos atos golpistas começou
efetivamente na terça-feira, com a primeira oitiva de testemunhas. É cedo,
portanto, para vaticinar se terá êxito naquilo a que se propõe: investigar os
atos preparatórios para o 8 de Janeiro e apontar os responsáveis. Mas é o
momento oportuno para identificar os riscos diante de um colegiado que começa
atrasado em relação à Polícia Federal e à Justiça, invertendo a ordem natural
desse tipo de investigação.
Não são poucos os procedimentos abertos, em
diversas instâncias, para apurar as variadas formas como Jair Bolsonaro e seus
apoiadores investiram contra a democracia desde 2019. Do famoso inquérito das
fake news, que abarca quase tudo, até aqueles instaurados depois da invasão das
sedes dos três Poderes no início do ano, que já viraram denúncias aceitas pelo
STF com centenas de réus, o acervo à disposição da CPMI é vasto.
É por isso injustificável que deputados e senadores não tenham feito o dever de casa rudimentar antes de interrogar a primeira testemunha, o arrogante Silvinei Vasques, que, depois de tudo a que se assistiu nos últimos anos, ainda se sentiu confortável para bancar a vítima e apontar “injustiça” contra a Polícia Rodoviária Federal (PRF), instituição mais aparelhada pelo bolsonarismo, ao lado do Exército.