- Eu & Fim de Semana | Valor Econômico
No dia 1º de janeiro de 2003, zarpou, no lago Paranoá, em Brasília, a arca de Luiz Inácio para uma longa viagem, supostamente de quatro anos. Era uma cópia melhorada da arca de Noé. Os Noés brasileiros, da pós-modernidade, têm exigências que o humilde Noé bíblico não tinha.
No dia 1º de janeiro de 2003, zarpou, no lago Paranoá, em Brasília, a arca de Luiz Inácio para uma longa viagem, supostamente de quatro anos. Era uma cópia melhorada da arca de Noé. Os Noés brasileiros, da pós-modernidade, têm exigências que o humilde Noé bíblico não tinha.
Saiu lotada e bem abastecida, para indigestas buchadas e rabadas o tempo que durasse a viagem. Ia suprida para que, na própria arca, tivesse início um programa social de "fome zero", que morreria de inanição política.
Apesar das certezas quanto à cor da arca, houve confusão quanto aos rumos. Uns queriam ir para a esquerda, de vermelho rubro, outros, com base num manifesto ao povo brasileiro, queriam ir para a direita, de um vermelho indeciso, de amansar empresário e classe média.
Na hora de atracar, como estava previsto nos bons costumes políticos, ousaram seguir adiante, apesar dos riscos já indicados pelo mensalão. E assim foram indo, até que o excesso de lotação e de desvios afundasse a arca, antes de chegar ao porto seguro de sempre. A arca foi resgatada e enviada a um conceituado estaleiro de arcas presidenciais para os reparos devidos, trocada a cor do vermelho desbotado, preparando-a para novas tripulações e novas viagens.
Espécimes selecionados, os últimos de uma raça quase fossilizada, foram embarcados para preservar o que restava do tempo em que o mundo era mundo. Foi a arca posta a navegar, sob novo comandante. Zarpou no dia 1º de janeiro de 2019.
Como em 2003, essa tampouco achou o rumo, já passados dois meses de navegação. Talvez tenha faltado GPS, perdão, astrolábio na arca. Ou a velha bússola dos rumos e da razão.