- O Estado de S. Paulo
Não há nada mais no horizonte, menos ainda
governo. A meta a alcançar é uma ditadura
A ideia emergente de que o Exército se deixou
subjugar aos caprichos de Jair Bolsonaro por temor à
ascensão de Lula até
pode parecer elegante, mas é falsa. O presidente pretende que seja entendida
como alta política sua retórica de envelhecidos bichos-papões. Nem sequer
adaptou ao século em que vive o repertório com que se elegeu e reelegeu
deputado nos últimos 30 anos. Acena com as ameaças puídas de invasão de
comunistas e maconheiros. Até como insultos, há muito superados pela sociedade.
Os militares vergaram não por esta, mas por outra razão.
Bolsonaro tirou do seu caminho os líderes que tentavam preservar as Forças Armadas como
instituição de Estado e as atraiu para seu domínio pessoal. Abrigo onde já
estavam as polícias militares, a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária, as
milícias, as agências de inteligência, todos os estamentos de vigilância e
segurança, os produtores e vendedores de armas e munições. Uma associação que
lidera como poderoso chefão de um sindicato armado, cujo logotipo é a sugestiva
mão com os dedos polegar e indicador esticados em ângulo reto e três dedos
dobrados.
O Exército, que se sobressai entre as Forças, perdeu substância profissional e ideológica. Suas lideranças se enfraqueceram, não mais tiveram o êxito anterior em missões civis de desafiante complexidade. Como se viu na ocupação do Ministério da Saúde, onde produziu um desastre.
O Alto Comando se deixou vulnerável ao assédio histórico de Bolsonaro às patentes subalternas e forças auxiliares. O comando se exerce por meio de instrumentos típicos da mobilização trabalhista: salários, ampliação das prerrogativas, equalização das vantagens, proteção em reformas das carreiras, ampliação dos postos de trabalho.