• Líderes do DEM veem bravata em entrevista sobre crise política
Chico de Gois / Cristiane Jungblut / Maria Lima – O Globo
BRASÍLIA — A oposição criticou nesta terça-feira as declarações da presidente Dilma Rousseff de que não vai cair e que há setores que desejam um golpe contra seu governo. Em nota, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, disse que o discurso de Dilma é uma estratégia para inibir as instituições. O senador diz ainda que o PT tem discurso golpista, e não a oposição.
“O discurso do golpe que vemos hoje assumido pela presidente da República, e repetido pelos seus ministros e pelos petistas, nada mais é do que parte de uma estratégia planejada para inibir a ação das instituições e da imprensa brasileiras no momento em que pesam sobre a presidente da República e sobre seu partido denúncias da maior gravidade”, disse o senador.
Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", Dilma afirmou que não vai renunciar ao mandato porque não tem nenhuma culpa sobre os desvios de dinheiro na Petrobras e que enxerga uma "oposição um tanto quanto golpista" quando se diz que ela não concluirá seu mandato.
Aécio afirmou que tudo o que contraria o PT é tratado como golpe. O tucano diz que os petistas não reconhecem os instrumentos da democracia.
“Para o PT, se o TCU identifica ilegalidades e crime de responsabilidade nas manobras fiscais autorizadas pela presidente da República, trata-se de golpe. Para o PT, se o TSE investiga ilegalidades na prestação de contas das campanhas eleitorais da presidente da República, trata-se de golpe. Se a Polícia Federal e o Ministério Público investigam crimes de corrupção praticados por petistas, para o PT trata-se de golpe”, disse o senador, que completou:
"Na verdade o discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação da sociedade em uma democracia".
Mais tarde, ao GLOBO, Aécio ironizou a reação inesperada da presidente Dilma aos discursos dos tucanos na convenção nacional do partido, no fim de semana, dando conta de que estariam preparados para assumir o governo, em caso de impedimento da chapa eleita em 2014, pela Justiça Eleitoral, se constatado crime eleitoral. Aécio disse que Dilma “piscou” e “passou recibo”.
— Ela se assustou. Olha o nível de instabilidade emocional e política da nossa presidente! Não achava que a nossa convençãozinha ia deixar a presidente Dilma tão assustada. Ela piscou. Está tão fragilizada que passou recibo. Se assustou em demasia com nossa convenção. A sorte dela é que somos nós , na oposição. Imagina nessa situação, se ela tivesse que enfrentar o PT como oposição? — comentou Aécio ao sair da comissão especial da reforma política.
Ao invés de partir para o ataque, dizendo que lutará por seu mandato com “unhas e dentes”, disse Aécio, a presidente da República teria que anunciar a Nação que irá usar todas as suas armas para baixar a inflação, o desemprego, e todos os índices negativos da economia para o Brasil voltar a crescer.
— O que ela vai fazer? Utilizar de novo a estrutura do Estado brasileiro para se manter no poder? Vamos aguardar os desdobramentos dos julgamentos que investigam prática de crimes na Justiça eleitoral e no TCU — disse Aécio
Entrevista movida pela emoção
Para o presidente do DEM, senador José Agripino, Dilma fez declarações movidas a emoção.
— Foi uma entrevista movida a pura emoção. A presidente parece achar que a vitimologia será mais forte do que os argumentos jurídicos contidos nas ações que ela terá que enfrentar no Tribunal de Contas da União (TCU), na Procuradoria Geral da República (PGR) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — , disse ele, referindo-se a processos que investigam se a campanha dela à reeleição recebeu recursos do esquema de corrupção na Petrobras; no TCU ela pode ter as contas rejeitadas por conta das pedaladas fiscais do ano passado.
Candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2014, o senador disse que os partidos de oposição continuarão trabalhando para garantir a atuação das instituições, numa referência indireta ao TCU e apoio.
"Os partidos de oposição continuarão atentos e trabalhando para impedir as reiteradas tentativas do PT para constranger e inibir a autonomia e independência das instituições brasileiras", diz o senador.
Já o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), acusou Dilma de não se comportar com a estatura que o cargo de presidente exige e de adotar uma "posição de desafio".
— Dilma adota uma postura imperial. Crime de responsabilidade fiscal? Golpe. Crime eleitoral? Golpe. Omissão como presidente do Conselho da Petrobras? Golpe. Então ela é imune a tudo? Caso essa tese prevaleça, todo cidadão amanhã vai se embasar no cargo que ocupa para dizer que qualquer tentativa de buscar aquilo que a legislação determina, seja eleitoral ou fiscal, é golpe — disse Caiado.
O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), afirmou que não é oposição, mas o próprio PT, quem tem criticado o governo da presidente.
— A principal reclamação que ela tem que fazer é contra o partido dela mesmo, porque as piores derrotas no congresso têm sido provocadas pelo PT. Quem tem mais vocalizado a respeito do desempenho dela na Presidência não é a oposição. O ex-presidente Lula tem dado carga muito forte, criticando a conduta dela — afirmou.
— Os aspecto relativos à sua reeleição são de ordem legais. Quem questiona é o TCU, que tem uma composição não partidária. Não há o que questionar na posição do TCU porque ele está cumprindo com suas atribuições. Corre um processo no TSE sobre o que foi praticado de forma inadequada durante a eleição do ano passado — observou o líder.
— Antes de fazer um discurso público na linha da bravata, acho que a presidente deveria tentar serenar os ânimos do país, mostrar uma direção, porque, infelizmente, o quadro atual é de muita contestação do processo de reeleição dela e do desempenho dela como presidente, que não oferece perspectivas de longo prazo — concluiu.
Para o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), acredita que a Câmara precisa ter equilíbrio.
— A Câmara precisa exercer um papel de bombeiro e não de incendiário— disse.
Ele avaliou que o clima político está vinculado ao quadro econômico e, nesse sentido, é bom o governo apresentar medidas para melhorar a economia. Ele elogiou a Medida Provisória que será encaminhada ao Congresso e que permite a redução da jornada de trabalho e de salários.
Rosso elogiou a entrevista de Dilma e apontou uma mudança de espírito por parte da presidente.
— Quando ela diz que não vai cair, ela está convicta e tranquila sobre qualquer responsabilidade.
Para ele, a convenção do PSDB no fim de semana e declarações dos tucanos de que estariam prontos para assumir o poder fez com que Dilma reagisse.