“Pode-se entender que o Brasil tenha negócios com a Venezuela e que Nosso Guia e seu comissariado tenham afeto nostálgico por Fidel Castro. Daí a abrir uma embaixada no campo de concentração do “Querido Líder” norte-coreano ou a receber em Brasília o cleptocrata uzbequi Islam Karimov, cuja polícia ferveu dissidentes, vai grande distância. “
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
"Irã é indefensável":: Merval Pereira
DEU EM O GLOBO
“A situação do Irã é indefensável”. É assim, sem rodeios, que o sociólogo francês Alain Touraine define a crise política internacional envolvendo o programa nuclear iraniano e o governo de Teerã. Mas Touraine também não procura subterfúgios para defender a solução mais adequada para a crise: “Sou a favor de qualquer coisa, menos de um ataque contra o Irã”.
Por “qualquer coisa” ele compreende até mesmo as sanções econômicas que os Estados Unidos pretendem aprovar no Conselho de Segurança da ONU, às quais o Brasil é dos poucos países que se opõem.
Touraine não acredita em acordos com o governo do Irã, e acha que é preciso ganhar tempo para criar as condições para que “o próprio povo iraniano” se livre do atual governo, o que ele considera que “não está longe de acontecer”.
A situação da política nuclear do Irã, tendo como pano de fundo a posição quase isolada do Brasil de insistir na possibilidade de negociação, evitando sanções econômicas, é um dos temas subjacentes da XXI Conferência da Academia da Latinidade, que busca num “novo humanismo” a saída para a possibilidade de um entendimento internacional.
Segundo Candido Mendes, sociólogo brasileiro secretário-geral da Academia da Latinidade, esta conferência em Córdoba, na Espanha, é consequência de duas outras, uma em Oslo, “em que nos demos conta das limitações culturais da noção dos Direitos Humanos”; e outra no Cairo, “onde verificamos que está havendo uma renovação do sentido religioso, independentemente de sua guerra”.
Como “o laicismo não é o desfecho da modernidade, como se pensava”, Candido Mendes diz que é preciso encontrar que plataforma existe para além do laicismo e para além da guerra das religiões para retomar a ideia de um entendimento internacional. “Daí o novo humanismo”.
Candido Mendes uniu o trabalho de uma década à frente da Academia da Latinidade ao do Grupo de Alto Nível da ONU para a Aliança das Civilizações, para o qual foi nomeado embaixador brasileiro, nessa busca do diálogo, mesmo que o consenso esteja cada vez mais difícil.
Para Candido Mendes, a posição brasileira em relação ao Irã está muito ligada à nova emergência internacional do país, que se desliga da América Latina e sabe que vai ter um protagonismo muito importante nos BRICs, especialmente em relação à Índia e à China.
“O Brasil quer se dissociar da Guerra Fria e da visão bushniana de ‘países bandidos’”. Para o sociólogo brasileiro, a posição do Brasil procuraria “abrir uma chance para que vença esta premissa”.
A ideia de apoiar o Irã é, para ele, muito mais uma busca de uma posição excêntrica à dos “eixos do mal” do que qualquer outra coisa. Candido Mendes faz uma ressalva, porém: “Evidentemente que essa situação não pode chegar à bênção da violação sistemática dos direitos humanos”.
A posição do governo iraniano no caso não se compatibiliza com a defesa dos direitos humanos, e o Brasil vai chegar até o ponto, na análise de Candido Mendes, de que as Nações Unidas ouçam a proposta nuclear iraniana e que, a partir disso, se entre numa certa lógica de concertação, e não de confronto.
“Acho que o Brasil esticou muito a corda, e estamos no limite. Os direitos humanos não são uma ideologia, e muito menos instrumento de dominação do Ocidente como a Síria tenta fazer crer”, reforça Candido Mendes.
A posição mais próxima do consenso internacional do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, em Teerã, quando afirmou que o Irã tem que dar garantias à comunidade internacional de que seu programa nuclear não tem objetivos militares, parece ser uma mudança no sentido apontado por Candido Mendes.
Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da USP que participa da Conferência de Córdoba, tem posição semelhante, especialmente em relação aos direitos humanos: “Para mim, está muito claro onde discordo da política externa brasileira.
Globalmente, ela é positiva, e onde eu a critico mais é em relação a Cuba”.
O professor Janine Ribeiro acha que o Brasil deveria ter tomado uma posição clara em relação aos direitos humanos em Cuba, “inclusive porque certamente o presidente Lula teria mais influência sobre Fidel Castro do que sobre o governante do Irã”.
No caso do Irã, o professor da USP considera importante levar as negociações o mais longe possível.
Na questão latino-americana, Janine Ribeiro considera que Cuba é um assunto delicado porque “praticamente todo mundo é contra o bloqueio americano a Cuba, e boa parte das pessoas é contra a política de direitos humanos cubana”.
No caso do Irã, entra o aspecto do Iraque. “A invasão dos Estados Unidos foi tão calamitosa que deixou um problema muito sério a qualquer ameaça do uso da força no Oriente Médio por parte dos Estados Unidos e seus aliados”, avalia o professor da USP.
Embora considere positivo tentar o máximo de negociação possível, Janine Ribeiro não acha correto o presidente Lula dizer que toda oposição se queixa da vitória eleitoral, comparando os protestos da oposição iraniana aos de torcidas de futebol.
“Até acredito que seja possível que o presidente do Irã tenha sido eleito pela maioria, que no interior do país o presidente tenha tido uma votação majoritária.
Mas é inaceitável reprimir, ainda mais com a forca, pessoas que se manifestam contra lisura da eleição, mesmo que a eleição tenha sido legal”.
Embora considere que o Brasil poderia ter posições mais duras do que tem tido, Renato Janine Ribeiro concorda com o governo brasileiro em que de fato temos que esgotar toda possibilidade de negociação.
“A situação do Irã é indefensável”. É assim, sem rodeios, que o sociólogo francês Alain Touraine define a crise política internacional envolvendo o programa nuclear iraniano e o governo de Teerã. Mas Touraine também não procura subterfúgios para defender a solução mais adequada para a crise: “Sou a favor de qualquer coisa, menos de um ataque contra o Irã”.
Por “qualquer coisa” ele compreende até mesmo as sanções econômicas que os Estados Unidos pretendem aprovar no Conselho de Segurança da ONU, às quais o Brasil é dos poucos países que se opõem.
Touraine não acredita em acordos com o governo do Irã, e acha que é preciso ganhar tempo para criar as condições para que “o próprio povo iraniano” se livre do atual governo, o que ele considera que “não está longe de acontecer”.
A situação da política nuclear do Irã, tendo como pano de fundo a posição quase isolada do Brasil de insistir na possibilidade de negociação, evitando sanções econômicas, é um dos temas subjacentes da XXI Conferência da Academia da Latinidade, que busca num “novo humanismo” a saída para a possibilidade de um entendimento internacional.
Segundo Candido Mendes, sociólogo brasileiro secretário-geral da Academia da Latinidade, esta conferência em Córdoba, na Espanha, é consequência de duas outras, uma em Oslo, “em que nos demos conta das limitações culturais da noção dos Direitos Humanos”; e outra no Cairo, “onde verificamos que está havendo uma renovação do sentido religioso, independentemente de sua guerra”.
Como “o laicismo não é o desfecho da modernidade, como se pensava”, Candido Mendes diz que é preciso encontrar que plataforma existe para além do laicismo e para além da guerra das religiões para retomar a ideia de um entendimento internacional. “Daí o novo humanismo”.
Candido Mendes uniu o trabalho de uma década à frente da Academia da Latinidade ao do Grupo de Alto Nível da ONU para a Aliança das Civilizações, para o qual foi nomeado embaixador brasileiro, nessa busca do diálogo, mesmo que o consenso esteja cada vez mais difícil.
Para Candido Mendes, a posição brasileira em relação ao Irã está muito ligada à nova emergência internacional do país, que se desliga da América Latina e sabe que vai ter um protagonismo muito importante nos BRICs, especialmente em relação à Índia e à China.
“O Brasil quer se dissociar da Guerra Fria e da visão bushniana de ‘países bandidos’”. Para o sociólogo brasileiro, a posição do Brasil procuraria “abrir uma chance para que vença esta premissa”.
A ideia de apoiar o Irã é, para ele, muito mais uma busca de uma posição excêntrica à dos “eixos do mal” do que qualquer outra coisa. Candido Mendes faz uma ressalva, porém: “Evidentemente que essa situação não pode chegar à bênção da violação sistemática dos direitos humanos”.
A posição do governo iraniano no caso não se compatibiliza com a defesa dos direitos humanos, e o Brasil vai chegar até o ponto, na análise de Candido Mendes, de que as Nações Unidas ouçam a proposta nuclear iraniana e que, a partir disso, se entre numa certa lógica de concertação, e não de confronto.
“Acho que o Brasil esticou muito a corda, e estamos no limite. Os direitos humanos não são uma ideologia, e muito menos instrumento de dominação do Ocidente como a Síria tenta fazer crer”, reforça Candido Mendes.
A posição mais próxima do consenso internacional do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, em Teerã, quando afirmou que o Irã tem que dar garantias à comunidade internacional de que seu programa nuclear não tem objetivos militares, parece ser uma mudança no sentido apontado por Candido Mendes.
Renato Janine Ribeiro, professor de Ética e Filosofia Política da USP que participa da Conferência de Córdoba, tem posição semelhante, especialmente em relação aos direitos humanos: “Para mim, está muito claro onde discordo da política externa brasileira.
Globalmente, ela é positiva, e onde eu a critico mais é em relação a Cuba”.
O professor Janine Ribeiro acha que o Brasil deveria ter tomado uma posição clara em relação aos direitos humanos em Cuba, “inclusive porque certamente o presidente Lula teria mais influência sobre Fidel Castro do que sobre o governante do Irã”.
No caso do Irã, o professor da USP considera importante levar as negociações o mais longe possível.
Na questão latino-americana, Janine Ribeiro considera que Cuba é um assunto delicado porque “praticamente todo mundo é contra o bloqueio americano a Cuba, e boa parte das pessoas é contra a política de direitos humanos cubana”.
No caso do Irã, entra o aspecto do Iraque. “A invasão dos Estados Unidos foi tão calamitosa que deixou um problema muito sério a qualquer ameaça do uso da força no Oriente Médio por parte dos Estados Unidos e seus aliados”, avalia o professor da USP.
Embora considere positivo tentar o máximo de negociação possível, Janine Ribeiro não acha correto o presidente Lula dizer que toda oposição se queixa da vitória eleitoral, comparando os protestos da oposição iraniana aos de torcidas de futebol.
“Até acredito que seja possível que o presidente do Irã tenha sido eleito pela maioria, que no interior do país o presidente tenha tido uma votação majoritária.
Mas é inaceitável reprimir, ainda mais com a forca, pessoas que se manifestam contra lisura da eleição, mesmo que a eleição tenha sido legal”.
Embora considere que o Brasil poderia ter posições mais duras do que tem tido, Renato Janine Ribeiro concorda com o governo brasileiro em que de fato temos que esgotar toda possibilidade de negociação.
Euforia precoce:: Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Não é todo mundo, mas há gente na oposição querendo vestir a fantasia de eufórico prematuro. O figurino é de fácil identificação: um par de sapatos bem altos, uma língua enorme e total falta de senso. Da realidade e do ridículo.
Animado com a largada cheia de problemas da candidata Dilma Rousseff, esse pessoal resolveu tripudiar. Elogia Ciro Gomes pela fidalguia temporária para com José Serra; ri dos percalços alheios e zomba das deficiências políticas de Dilma.
Seria do jogo não fosse pelo método que contraria o que até agora parece ser a orientação do comando da campanha do PSDB como estratégia para se diferenciar e desconsertar o adversário.
O grupo que se entusiasma e se descola da moderação de resultados, dá o troco na mesma moeda de deboche que Lula usa para tudo. Iguala-se. Aproveita a chance e se lambuza.
Apenas se esquece de que, como está demonstrado pela boa fase que se lhes apresenta agora, o mundo dá muitas voltas. Pouco antes da definição oficial da candidatura do PSDB, a oposição conflagrava-se em público voltando-se contra aquele que seria o seu candidato.
Vinham de Minas manifestações de "altivez" regional baseadas em alegações de usurpação da vez de Aécio Neves concorrer à Presidência e de aliados partiam exigências algo descabidas para reservas desde logo da vaga de vice.
Em suma, nada apontava para um ambiente exatamente construtivo na largada.
Contrariando as expectativas, até agora deu tudo certo na campanha do PSDB, enquanto a sorte parece ter abandonado a candidatura do governo.
Ocorre que faltam mais de cinco meses para a eleição, a campanha está nos primórdios e os apressados em geral costumam comer cru e quente.
Nada garante, por exemplo, que a próxima rodada de pesquisas de opinião não reflita nada disso que se vê no noticiário todos os dias. Serra pode ampliar a vantagem, mas pode manter o mesmo patamar, como Dilma também pode ganhar adeptos, por que não?
Muito pouco de conclusivo se passa na cabeça do eleitor nessa altura. Os institutos mostram que 54% deles ainda não fizeram suas escolhas.
Ademais, como ficou demonstrado pela soberba do lado governista, nada mais detestável que a arrogância festiva do já ganhou. Só ganhar, ou perder, sem um pingo de categoria.
Pelica. Esquisito esse carinho que o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, alega que Lula nutre por Ciro Gomes. Deveria ao menos levá-lo a tratar pessoal e francamente com o deputado a respeito da candidatura a presidente.
Modo de agir. A atriz Norma Bengell quis ser gentil, mas, se compreendeu, não pareceu ter entendido da missa a metade ao dizer que Dilma Rousseff não precisava se desculpar pelo uso de uma foto dela no blog da candidata, numa sequência que dava a nítida impressão de que Bengell era Dilma durante uma passeata.
A questão em jogo não é de direito de imagem. Trata-se do direito universal do cidadão à informação correta, sem truques ou quaisquer subterfúgios. É o conceito geral o que interessa, muito mais que o caso em particular.
Memória. Políticos falam tanto e sobre tantas coisas que suas palavras acabam se perdendo no emaranhado dos fatos, na viravolta das circunstâncias.
Há poucos dias o presidente Lula voltou a firmar posição favorável ao instituto da reeleição.
Defesa enfática remete a uma conversa com um grupo de jornalistas no primeiro mandato, quando Lula dizia que Brasil deveria voltar a ter só dois partidos. Na opinião dele, "o modelo mais moderno" seria o bipartidarismo.
Antes disso, porém, gostaria de ver o mandato de quatro anos e a reeleição - "uma cretinice"- substituídos por um mandato de cinco ou seis anos.
Para quando?
"A partir de 2010 ou 2012."
2012? Quer dizer, em algum momento pensou-se em prorrogação do mandato em curso.
Não é todo mundo, mas há gente na oposição querendo vestir a fantasia de eufórico prematuro. O figurino é de fácil identificação: um par de sapatos bem altos, uma língua enorme e total falta de senso. Da realidade e do ridículo.
Animado com a largada cheia de problemas da candidata Dilma Rousseff, esse pessoal resolveu tripudiar. Elogia Ciro Gomes pela fidalguia temporária para com José Serra; ri dos percalços alheios e zomba das deficiências políticas de Dilma.
Seria do jogo não fosse pelo método que contraria o que até agora parece ser a orientação do comando da campanha do PSDB como estratégia para se diferenciar e desconsertar o adversário.
O grupo que se entusiasma e se descola da moderação de resultados, dá o troco na mesma moeda de deboche que Lula usa para tudo. Iguala-se. Aproveita a chance e se lambuza.
Apenas se esquece de que, como está demonstrado pela boa fase que se lhes apresenta agora, o mundo dá muitas voltas. Pouco antes da definição oficial da candidatura do PSDB, a oposição conflagrava-se em público voltando-se contra aquele que seria o seu candidato.
Vinham de Minas manifestações de "altivez" regional baseadas em alegações de usurpação da vez de Aécio Neves concorrer à Presidência e de aliados partiam exigências algo descabidas para reservas desde logo da vaga de vice.
Em suma, nada apontava para um ambiente exatamente construtivo na largada.
Contrariando as expectativas, até agora deu tudo certo na campanha do PSDB, enquanto a sorte parece ter abandonado a candidatura do governo.
Ocorre que faltam mais de cinco meses para a eleição, a campanha está nos primórdios e os apressados em geral costumam comer cru e quente.
Nada garante, por exemplo, que a próxima rodada de pesquisas de opinião não reflita nada disso que se vê no noticiário todos os dias. Serra pode ampliar a vantagem, mas pode manter o mesmo patamar, como Dilma também pode ganhar adeptos, por que não?
Muito pouco de conclusivo se passa na cabeça do eleitor nessa altura. Os institutos mostram que 54% deles ainda não fizeram suas escolhas.
Ademais, como ficou demonstrado pela soberba do lado governista, nada mais detestável que a arrogância festiva do já ganhou. Só ganhar, ou perder, sem um pingo de categoria.
Pelica. Esquisito esse carinho que o chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, alega que Lula nutre por Ciro Gomes. Deveria ao menos levá-lo a tratar pessoal e francamente com o deputado a respeito da candidatura a presidente.
Modo de agir. A atriz Norma Bengell quis ser gentil, mas, se compreendeu, não pareceu ter entendido da missa a metade ao dizer que Dilma Rousseff não precisava se desculpar pelo uso de uma foto dela no blog da candidata, numa sequência que dava a nítida impressão de que Bengell era Dilma durante uma passeata.
A questão em jogo não é de direito de imagem. Trata-se do direito universal do cidadão à informação correta, sem truques ou quaisquer subterfúgios. É o conceito geral o que interessa, muito mais que o caso em particular.
Memória. Políticos falam tanto e sobre tantas coisas que suas palavras acabam se perdendo no emaranhado dos fatos, na viravolta das circunstâncias.
Há poucos dias o presidente Lula voltou a firmar posição favorável ao instituto da reeleição.
Defesa enfática remete a uma conversa com um grupo de jornalistas no primeiro mandato, quando Lula dizia que Brasil deveria voltar a ter só dois partidos. Na opinião dele, "o modelo mais moderno" seria o bipartidarismo.
Antes disso, porém, gostaria de ver o mandato de quatro anos e a reeleição - "uma cretinice"- substituídos por um mandato de cinco ou seis anos.
Para quando?
"A partir de 2010 ou 2012."
2012? Quer dizer, em algum momento pensou-se em prorrogação do mandato em curso.
A profecia da polarização:: Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
BRASÍLIA - Como previsto, Ciro Gomes (PSB) foi ontem oficialmente ejetado da disputa pelo Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu mais um passo para colocar em prática sua tese da polarização entre PT e PSDB.
Privado de seus quadros históricos no PT, todos abatidos por escândalos, Lula concluiu que só fará seu sucessor se a eleição se tornar uma gincana exclusiva entre PT e PSDB. Enxerga uma vantagem para si na comparação do seu período no Planalto com os oito anos de Fernando Henrique Cardoso.
O enterro da candidatura de Ciro Gomes pavimentou o caminho para o cumprimento da profecia lulista. Se a estratégia funcionará na prática é uma outra história. Por enquanto, Marina Silva (PV) está num longínquo terceiro lugar. José Serra (PSDB) lidera. Dilma Rousseff (PT) teve rápida ascensão e está sólida na segunda colocação.
Nas próximas semanas, o quadro sucessório ganhará nitidez. Os institutos de pesquisa investigarão o cenário mais próximo da realidade das urnas em outubro. Incluirão também os candidatos de partidos nanicos. Até agora, só o Datafolha saiu na frente, e apurou o seguinte: Serra tem 40%, Dilma fica com 29%, Marina pontua 11% e daí surgem Mário de Oliveira (PT do B) e Zé Maria (PSTU), ambos registrando 1% cada na pesquisa.
No próximo levantamento, deve também ser testado o nome de Plínio de Arruda Sampaio, o ex-deputado federal por São Paulo que é agora pré-candidato a presidente pelo PSOL. Pelo menos outros cinco nanicos devem aparecer.
Esse mar de nomes também incluirá Dilma Rousseff, que tentará polarizar com Serra. A saída de Ciro Gomes tornou as coisas mais fáceis, é verdade. Mas havia muitas eleições não apareciam tantos partidos pequenos concorrendo ao Planalto. Quando há muita gente no páreo, a chance de a teoria do caos embaralhar as previsões não é desprezível.
BRASÍLIA - Como previsto, Ciro Gomes (PSB) foi ontem oficialmente ejetado da disputa pelo Planalto. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu mais um passo para colocar em prática sua tese da polarização entre PT e PSDB.
Privado de seus quadros históricos no PT, todos abatidos por escândalos, Lula concluiu que só fará seu sucessor se a eleição se tornar uma gincana exclusiva entre PT e PSDB. Enxerga uma vantagem para si na comparação do seu período no Planalto com os oito anos de Fernando Henrique Cardoso.
O enterro da candidatura de Ciro Gomes pavimentou o caminho para o cumprimento da profecia lulista. Se a estratégia funcionará na prática é uma outra história. Por enquanto, Marina Silva (PV) está num longínquo terceiro lugar. José Serra (PSDB) lidera. Dilma Rousseff (PT) teve rápida ascensão e está sólida na segunda colocação.
Nas próximas semanas, o quadro sucessório ganhará nitidez. Os institutos de pesquisa investigarão o cenário mais próximo da realidade das urnas em outubro. Incluirão também os candidatos de partidos nanicos. Até agora, só o Datafolha saiu na frente, e apurou o seguinte: Serra tem 40%, Dilma fica com 29%, Marina pontua 11% e daí surgem Mário de Oliveira (PT do B) e Zé Maria (PSTU), ambos registrando 1% cada na pesquisa.
No próximo levantamento, deve também ser testado o nome de Plínio de Arruda Sampaio, o ex-deputado federal por São Paulo que é agora pré-candidato a presidente pelo PSOL. Pelo menos outros cinco nanicos devem aparecer.
Esse mar de nomes também incluirá Dilma Rousseff, que tentará polarizar com Serra. A saída de Ciro Gomes tornou as coisas mais fáceis, é verdade. Mas havia muitas eleições não apareciam tantos partidos pequenos concorrendo ao Planalto. Quando há muita gente no páreo, a chance de a teoria do caos embaralhar as previsões não é desprezível.
Turma do sítio de dona Dilma bota pra quebrar :: José Nêumanne
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Chegaram ao noticiário político os primeiros sinais de que o sítio na internet para divulgar a candidatura oficial da ex-chefe da Casa Civil do governo Lula da Silva Dilma Rousseff (http://www.dilmanaweb.com.br/), anunciado com espalhafato, está aí mesmo é para protagonizar, e não meramente para figurar na campanha presidencial. E, a exemplo de como bradava o Velho Guerreiro Abelardo Barbosa, o Chacrinha, não veio propriamente para explicar, mas, sim, para confundir.
O primeiro indício nesse sentido foi dado por ocasião do lançamento, na revista semanal da televisão Fantástico, da campanha publicitária do 45.º aniversário da Rede Globo. Uma demonstração de que a função da equipe que administra esse endereço eletrônico é disparar contra adversários e inflar a petista foi a acusação de que a monopolista de audiência no meio de comunicação mais popular entre as massas fazia propaganda subliminar do tucano José Serra. Isso porque o total de anos de existência que a Globo completa coincide com o número que o eleitor que quiser sufragá-lo digitará na urna eletrônica. O exagero parece semelhante ao PSDB pedir que o treinador de futebol Zagallo seja proibido de manifestar sua predileção supersticiosa pelo número 13, pública e notoriamente coincidente com o da candidata do PT. Ou ainda que a torcida do 13 Futebol Clube, de Campina Grande, Paraíba, seja emudecida à força em anos eleitorais - no Brasil, de dois em dois. Mas logo o aparente absurdo se dissolveria, já que, numa demonstração de que quem tem concessão precária de um negócio bom e poderoso como televisão, dependendo dos humores dos governantes, tem, sim, medo de ser feliz, a Vênus Platinada mandou para o lixo a campanha e deixou até de servir o bolo de aniversário.
Ainda ecoava nos meios de comunicação a estupefação de alguns inconformados com a intrusão de Franz Kafka em nossa eleição quando a turma do sítio de dona Dilma botou pra quebrar de novo. Ao mesmo tempo que o ex-áulico de Lula Ciro Gomes atira com sua metralhadora giratória na favorita dele, notificando a escassez de seus méritos biográficos, o que não a legitimaria na disputa do cargo mais poderoso da República, os solertes companheiros da célula cibernética decidiram "refundar" a biografia da candidata. Petistas têm notória predileção por esse verbo, na ilusão de que ele, tendo mandado a lógica aristotélica às favas, signifique fundar uma vez mais, o que nunca seria possível. No entanto, como o termo significa apenas e tão-somente afundar mais, fica a permanente impressão enviesada pelo distinto público de que Tarso Genro pretendia aprofundar o partido quando se candidatou a presidente e o governador da Bahia, Jaques Wagner, acusou o presidente da República de torná-la cada dia mais funda. E, nessa "refundação" (essa palavra, como lembra o escritor Alex Solomon, não está registrada no dicionário), enfiaram uma foto da atriz Norma Bengell numa passeata de protesto contra a ditadura entre flagrantes de Dilma menina e Dilma mulher.
Foi aí que a turma do sítio, pilhada em flagrante delito, "refundou" o passado sem brilho da candidata ao tentar fazê-la alçar voo. E terminou acusada de copiar titio Josef Stalin, que costumava eliminar ex-camaradas caídos em desgraça dos verbetes das enciclopédias, dos parágrafos dos livros de história e até das fotografias dos momentos históricos da gloriosa Revolução Soviética de 1917. Oh, que pena! O palpite, contudo, é tão infeliz quanto a tentativa de fazer passar a ainda então belíssima estrela de Os cafajestes pela ilustre prócer no viço da juventude. O "guia genial dos povos" eliminava fisicamente os inimigos e os excluía até das fotografias (não necessariamente nessa ordem). Já a travessa turma do sítio de dona Dilma tentou adaptar a História do Brasil às conveniências de sua campanha para aprimorar os méritos pretéritos da mesma. Só conseguiu, porém, chamar a atenção dos adversários e do eleitorado em geral para as fragilidades biográficas da pretendente ao trono.
Em favor da patota urge lembrar que nisso não é única nem singular. Antes, um solerte servidor da então chefe da Casa Civil do governo Lula tentou plantar no currículo acadêmico dela um mestrado que não defendeu e um doutorado que nem sequer cursou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O repórter Luiz Maklouf de Carvalho o pegou na mentira com declarações explícitas da direção da renomada instituição acadêmica. E a que foi mestra sem nunca ter sido reagiu ao flagrante com a desculpa de que não concluiu a dissertação porque estava trabalhando. Sim. E daí?
Tenta-se ainda reescrever o currículo de Dilma no documentário, em cartaz em São Paulo, Utopia e barbárie. Seu diretor é Sílvio Tendler, testemunha de que o presidente teria feito uma "brincadeira" entre amigos ao narrar uma tentativa frustrada de assédio a um companheiro de cela no Dops, lembrada por César Benjamin em artigo publicado na Folha de S.Paulo. No filme, de forma menos subliminar que o número dos anos da Globo, ela depõe sobre a própria atuação na luta armada da esquerda contra a ditadura militar de direita no Brasil. De blusa vermelha, a ex-guerrilheira não relembra um fato heroico, só recita teorias que o ministro da Propaganda da República petista, Franklin Martins, defende com mais clareza. Ele e ela não dizem que lutaram pela democracia, mas garantem que resultou da luta de ambos a irreversível implantação de uma mentalidade libertária no Brasil. Terá sido? Sua qualificação como "economista" no filme parece irônica, porque a exibição do filme coincide com a celebração do 80.º aniversário de Maria da Conceição Tavares, notória mestra dos economistas de esquerda no País.
Fatos refundam um passado que áulicos engajados tentam reconstruir, talvez convictos de que Josef Goebbels tinha de fato razão ao atribuir à mentira insistente foros de verdade absoluta.
Chegaram ao noticiário político os primeiros sinais de que o sítio na internet para divulgar a candidatura oficial da ex-chefe da Casa Civil do governo Lula da Silva Dilma Rousseff (http://www.dilmanaweb.com.br/), anunciado com espalhafato, está aí mesmo é para protagonizar, e não meramente para figurar na campanha presidencial. E, a exemplo de como bradava o Velho Guerreiro Abelardo Barbosa, o Chacrinha, não veio propriamente para explicar, mas, sim, para confundir.
O primeiro indício nesse sentido foi dado por ocasião do lançamento, na revista semanal da televisão Fantástico, da campanha publicitária do 45.º aniversário da Rede Globo. Uma demonstração de que a função da equipe que administra esse endereço eletrônico é disparar contra adversários e inflar a petista foi a acusação de que a monopolista de audiência no meio de comunicação mais popular entre as massas fazia propaganda subliminar do tucano José Serra. Isso porque o total de anos de existência que a Globo completa coincide com o número que o eleitor que quiser sufragá-lo digitará na urna eletrônica. O exagero parece semelhante ao PSDB pedir que o treinador de futebol Zagallo seja proibido de manifestar sua predileção supersticiosa pelo número 13, pública e notoriamente coincidente com o da candidata do PT. Ou ainda que a torcida do 13 Futebol Clube, de Campina Grande, Paraíba, seja emudecida à força em anos eleitorais - no Brasil, de dois em dois. Mas logo o aparente absurdo se dissolveria, já que, numa demonstração de que quem tem concessão precária de um negócio bom e poderoso como televisão, dependendo dos humores dos governantes, tem, sim, medo de ser feliz, a Vênus Platinada mandou para o lixo a campanha e deixou até de servir o bolo de aniversário.
Ainda ecoava nos meios de comunicação a estupefação de alguns inconformados com a intrusão de Franz Kafka em nossa eleição quando a turma do sítio de dona Dilma botou pra quebrar de novo. Ao mesmo tempo que o ex-áulico de Lula Ciro Gomes atira com sua metralhadora giratória na favorita dele, notificando a escassez de seus méritos biográficos, o que não a legitimaria na disputa do cargo mais poderoso da República, os solertes companheiros da célula cibernética decidiram "refundar" a biografia da candidata. Petistas têm notória predileção por esse verbo, na ilusão de que ele, tendo mandado a lógica aristotélica às favas, signifique fundar uma vez mais, o que nunca seria possível. No entanto, como o termo significa apenas e tão-somente afundar mais, fica a permanente impressão enviesada pelo distinto público de que Tarso Genro pretendia aprofundar o partido quando se candidatou a presidente e o governador da Bahia, Jaques Wagner, acusou o presidente da República de torná-la cada dia mais funda. E, nessa "refundação" (essa palavra, como lembra o escritor Alex Solomon, não está registrada no dicionário), enfiaram uma foto da atriz Norma Bengell numa passeata de protesto contra a ditadura entre flagrantes de Dilma menina e Dilma mulher.
Foi aí que a turma do sítio, pilhada em flagrante delito, "refundou" o passado sem brilho da candidata ao tentar fazê-la alçar voo. E terminou acusada de copiar titio Josef Stalin, que costumava eliminar ex-camaradas caídos em desgraça dos verbetes das enciclopédias, dos parágrafos dos livros de história e até das fotografias dos momentos históricos da gloriosa Revolução Soviética de 1917. Oh, que pena! O palpite, contudo, é tão infeliz quanto a tentativa de fazer passar a ainda então belíssima estrela de Os cafajestes pela ilustre prócer no viço da juventude. O "guia genial dos povos" eliminava fisicamente os inimigos e os excluía até das fotografias (não necessariamente nessa ordem). Já a travessa turma do sítio de dona Dilma tentou adaptar a História do Brasil às conveniências de sua campanha para aprimorar os méritos pretéritos da mesma. Só conseguiu, porém, chamar a atenção dos adversários e do eleitorado em geral para as fragilidades biográficas da pretendente ao trono.
Em favor da patota urge lembrar que nisso não é única nem singular. Antes, um solerte servidor da então chefe da Casa Civil do governo Lula tentou plantar no currículo acadêmico dela um mestrado que não defendeu e um doutorado que nem sequer cursou na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O repórter Luiz Maklouf de Carvalho o pegou na mentira com declarações explícitas da direção da renomada instituição acadêmica. E a que foi mestra sem nunca ter sido reagiu ao flagrante com a desculpa de que não concluiu a dissertação porque estava trabalhando. Sim. E daí?
Tenta-se ainda reescrever o currículo de Dilma no documentário, em cartaz em São Paulo, Utopia e barbárie. Seu diretor é Sílvio Tendler, testemunha de que o presidente teria feito uma "brincadeira" entre amigos ao narrar uma tentativa frustrada de assédio a um companheiro de cela no Dops, lembrada por César Benjamin em artigo publicado na Folha de S.Paulo. No filme, de forma menos subliminar que o número dos anos da Globo, ela depõe sobre a própria atuação na luta armada da esquerda contra a ditadura militar de direita no Brasil. De blusa vermelha, a ex-guerrilheira não relembra um fato heroico, só recita teorias que o ministro da Propaganda da República petista, Franklin Martins, defende com mais clareza. Ele e ela não dizem que lutaram pela democracia, mas garantem que resultou da luta de ambos a irreversível implantação de uma mentalidade libertária no Brasil. Terá sido? Sua qualificação como "economista" no filme parece irônica, porque a exibição do filme coincide com a celebração do 80.º aniversário de Maria da Conceição Tavares, notória mestra dos economistas de esquerda no País.
Fatos refundam um passado que áulicos engajados tentam reconstruir, talvez convictos de que Josef Goebbels tinha de fato razão ao atribuir à mentira insistente foros de verdade absoluta.
Jornalista e escritor, é editorialista do "Jornal da Tarde"
Lula e o risco do pitoresco ao ridículo:: Elio Gaspari
DEU EM O GLOBO
Nosso Guia precisa pisar no freio de seu desembaraço internacional. Quem viu algumas das expressões de perplexidade no plenário da reunião com chefes de Estado caribenhos, em Brasília, quando anunciou que “depois da presidência, vou continuar fazendo política”, teve uma ideia do efeito que a ligeireza verbal do Grande Mestre provoca em reuniões internacionais.
Noves fora a platitude, o que desconcertou parte da audiência foi a utilização de uma reunião desse tipo para um improviso de palanque municipal.
Na política internacional sempre há lugar para personagens improváveis.
Alguns, como o Mahatma Gandhi (um “faquir seminu”, segundo Winston Churchill) ou Nelson Mandela, um prisioneiro sem rosto nem voz durante 27 anos, tornam-se figuras da História. Outros, como o jovem capitão Muamar Kadafi, que destronou o rei senil da Líbia em 1969 e, quase septuagenário, ficou parecido com Cauby Peixoto, nas palavras de Lula.
A distância do improvável ao pitoresco é pequena e quase sempre benigna. Do pitoresco ao ridículo é imperceptível, porém maligna. O operário pobre que chega à presidência de um país de 190 milhões de habitantes é uma história de sucesso em qualquer lugar do mundo.
Não se pode dizer o mesmo do monoglota que tem o seu nome oferecido para a secretaria-geral da ONU, ou do latino-americano que sai pelo Oriente Médio oferecendo uma mediação desconexa, “risivelmente ingênua”, na opinião pouco protocolar atribuída à secretária de Estado Hillary Clinton.
No auge da crise financeira de 2008, Lula sugeriu que partisse da ONU “a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças”, com uma reunião dos presidentes dos Bancos Centrais e ministros da Fazenda dos 192 países-membros da organização. Do presidente do Federal Reserve Bank americano ao ministro das Finanças do reino de Tonga, Otenifi Matoto.
Pode-se entender que o Brasil tenha negócios com a Venezuela e que Nosso Guia e seu comissariado tenham afeto nostálgico por Fidel Castro. Daí a abrir uma embaixada no campo de concentração do “Querido Líder” norte-coreano ou a receber em Brasília o cleptocrata uzbequi Islam Karimov, cuja polícia ferveu dissidentes, vai grande distância.
Toda política externa tem algo de teatral, mas o embaixador Marcos Azambuja ensina, há décadas, que “os diplomatas são produtores de blablablá, mas não são consumidores”.
A maior negociação diplomática ocorrida nos quase oito anos de diplomacia-companheira foi a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio. O chanceler Celso Amorim trabalhou pelo seu êxito, deu um drible de última hora na Índia e na China, caiu numa armadilha da delegação americana e amargou um fracasso.
Quando uma diplomacia acredita no próprio teatro, deixa de ser associada a uma política externa e é vista como uma companhia de espetáculos.
Sobretudo quando essa diplomacia gira em torno de um personagem-ator. Ainda falta algum chão para que Nosso Guia ganhe um retrato na galeria dos governantes pitorescos, como Silvio Berlusconi ou Boris Yeltsin de seus últimos anos, mas o caminho em que entrou pode levá-lo até lá.
Serviço: Nas próximas quatro quartas-feiras o signatário usufruirá o abuso adquirido (expressão tucana) das férias.
Nosso Guia precisa pisar no freio de seu desembaraço internacional. Quem viu algumas das expressões de perplexidade no plenário da reunião com chefes de Estado caribenhos, em Brasília, quando anunciou que “depois da presidência, vou continuar fazendo política”, teve uma ideia do efeito que a ligeireza verbal do Grande Mestre provoca em reuniões internacionais.
Noves fora a platitude, o que desconcertou parte da audiência foi a utilização de uma reunião desse tipo para um improviso de palanque municipal.
Na política internacional sempre há lugar para personagens improváveis.
Alguns, como o Mahatma Gandhi (um “faquir seminu”, segundo Winston Churchill) ou Nelson Mandela, um prisioneiro sem rosto nem voz durante 27 anos, tornam-se figuras da História. Outros, como o jovem capitão Muamar Kadafi, que destronou o rei senil da Líbia em 1969 e, quase septuagenário, ficou parecido com Cauby Peixoto, nas palavras de Lula.
A distância do improvável ao pitoresco é pequena e quase sempre benigna. Do pitoresco ao ridículo é imperceptível, porém maligna. O operário pobre que chega à presidência de um país de 190 milhões de habitantes é uma história de sucesso em qualquer lugar do mundo.
Não se pode dizer o mesmo do monoglota que tem o seu nome oferecido para a secretaria-geral da ONU, ou do latino-americano que sai pelo Oriente Médio oferecendo uma mediação desconexa, “risivelmente ingênua”, na opinião pouco protocolar atribuída à secretária de Estado Hillary Clinton.
No auge da crise financeira de 2008, Lula sugeriu que partisse da ONU “a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças”, com uma reunião dos presidentes dos Bancos Centrais e ministros da Fazenda dos 192 países-membros da organização. Do presidente do Federal Reserve Bank americano ao ministro das Finanças do reino de Tonga, Otenifi Matoto.
Pode-se entender que o Brasil tenha negócios com a Venezuela e que Nosso Guia e seu comissariado tenham afeto nostálgico por Fidel Castro. Daí a abrir uma embaixada no campo de concentração do “Querido Líder” norte-coreano ou a receber em Brasília o cleptocrata uzbequi Islam Karimov, cuja polícia ferveu dissidentes, vai grande distância.
Toda política externa tem algo de teatral, mas o embaixador Marcos Azambuja ensina, há décadas, que “os diplomatas são produtores de blablablá, mas não são consumidores”.
A maior negociação diplomática ocorrida nos quase oito anos de diplomacia-companheira foi a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio. O chanceler Celso Amorim trabalhou pelo seu êxito, deu um drible de última hora na Índia e na China, caiu numa armadilha da delegação americana e amargou um fracasso.
Quando uma diplomacia acredita no próprio teatro, deixa de ser associada a uma política externa e é vista como uma companhia de espetáculos.
Sobretudo quando essa diplomacia gira em torno de um personagem-ator. Ainda falta algum chão para que Nosso Guia ganhe um retrato na galeria dos governantes pitorescos, como Silvio Berlusconi ou Boris Yeltsin de seus últimos anos, mas o caminho em que entrou pode levá-lo até lá.
Serviço: Nas próximas quatro quartas-feiras o signatário usufruirá o abuso adquirido (expressão tucana) das férias.
Elio Gaspari é jornalista.
Com o Bolsa Família, na Bahia
DEU EM O GLOBO
Serra faz corpo a corpo e diz não estar em campanha
ALAGOINHAS (BA). Depois de passar uma hora e dez minutos fazendo corpo a corpo no Centro de Alagoinhas, a 110 quilômetros da capital baiana, com direito a carro de som com jingle político, o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, saiuse com uma frase que soou irônica na associação comercial local: — Não estou fazendo campanha. Estamos em período de preparação. Campanha formal, só após as convenções de junho.
No auditório da Associação Comercial, José Serra agradeceu ter recebido um documento com reivindicações de empresários locais e elogiou uma delas, a construção de uma escola técnica em Alagoinhas.
O tucano voltou a dizer que vai manter e fortalecer o Bolsa Família.
O tucano afirmou que está percorrendo lugares do Brasil para ouvir e aprender, dizer o que pensa e ver o que as pessoas acham. Serra não deu entrevista e saiu rapidamente para Feira de Santana, por volta das 15h40m, em meio a uma manifestação contrária, de estudantes, organizada pela União da Juventude Socialista.
Serra foi buscar uma passagem da campanha presidencial de Ruy Barbosa, no início do século XX, para revelar sua “curiosidade” em conhecer a cidade de 120 mil habitantes: — Em 1912, Ruy Barbosa esteve aqui no trem da campanha e disse que Alagoinhas era a porta de ouro do sertão — declarou, explicando que foi devido a esse episódio que manifestou o desejo de passar pela cidade.
Alagoinhas tem situação política curiosa: o prefeito Paulo Cézar Simões, apesar de tucano e apoiar Serra para a Presidência, não apoia o candidato ao governo estadual Paulo Souto (DEM) da coligação PSDB/DEM. Ele é aliado da candidatura à reeleição do governador Jaques Wagner (PT). Simões defendeu a eleição de Serra como alternância de poder no Planalto, mas, indagado se defendia o mesmo no estado, disse que para a Bahia era melhor Wagner continuar.
Serra faz corpo a corpo e diz não estar em campanha
ALAGOINHAS (BA). Depois de passar uma hora e dez minutos fazendo corpo a corpo no Centro de Alagoinhas, a 110 quilômetros da capital baiana, com direito a carro de som com jingle político, o pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, saiuse com uma frase que soou irônica na associação comercial local: — Não estou fazendo campanha. Estamos em período de preparação. Campanha formal, só após as convenções de junho.
No auditório da Associação Comercial, José Serra agradeceu ter recebido um documento com reivindicações de empresários locais e elogiou uma delas, a construção de uma escola técnica em Alagoinhas.
O tucano voltou a dizer que vai manter e fortalecer o Bolsa Família.
O tucano afirmou que está percorrendo lugares do Brasil para ouvir e aprender, dizer o que pensa e ver o que as pessoas acham. Serra não deu entrevista e saiu rapidamente para Feira de Santana, por volta das 15h40m, em meio a uma manifestação contrária, de estudantes, organizada pela União da Juventude Socialista.
Serra foi buscar uma passagem da campanha presidencial de Ruy Barbosa, no início do século XX, para revelar sua “curiosidade” em conhecer a cidade de 120 mil habitantes: — Em 1912, Ruy Barbosa esteve aqui no trem da campanha e disse que Alagoinhas era a porta de ouro do sertão — declarou, explicando que foi devido a esse episódio que manifestou o desejo de passar pela cidade.
Alagoinhas tem situação política curiosa: o prefeito Paulo Cézar Simões, apesar de tucano e apoiar Serra para a Presidência, não apoia o candidato ao governo estadual Paulo Souto (DEM) da coligação PSDB/DEM. Ele é aliado da candidatura à reeleição do governador Jaques Wagner (PT). Simões defendeu a eleição de Serra como alternância de poder no Planalto, mas, indagado se defendia o mesmo no estado, disse que para a Bahia era melhor Wagner continuar.
Da Agência A Tarde
Tucano propõe zona franca do AM permanente
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Da Sucursal de Brasília
O tucano José Serra (PSDB) prometeu tornar permanente a Zona Franca de Manaus se for eleito presidente da República nas eleições de outubro.
Em entrevista à "TV Rede Amazônica", gravada na última sexta-feira, Serra disse que sua proposta é transformar a região em um polo industrial fixo, sem a necessidade de renovação periódica dos seus benefícios fiscais.
A declaração do tucano é um antídoto aos boatos de que, se eleito, o tucano poderia acabar com a zona franca, pelo fato de sua existência contrariar os interesses de São Paulo. Serra prometeu criar uma espécie de "Conselho de Desenvolvimento da Amazônia" para que o presidente da República acompanhe o que acontece em "60% do território nacional".
A Constituição de 1988 transformou a zona franca em área de livre comércio, com incentivos fiscais, até 2013. O Congresso já aprovou PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que prorroga a Zona Franca de Manaus até 2023.
A íntegra da entrevista de Serra foi divulgada ontem pela emissora. O presidenciável prometeu finalizar obras previstas pelo PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento) para a região Norte, mesmo com críticas do PSDB ao programa implantado no governo petista.
O tucano disse que se sente "mais preparado" para assumir a Presidência da República hoje do que em 2002, quando disputou o cargo com Lula e perdeu no segundo turno. Na opinião de Serra, o clima político atual é diferente porque em 2002 o Brasil "queria eleger o Lula".
Da Sucursal de Brasília
O tucano José Serra (PSDB) prometeu tornar permanente a Zona Franca de Manaus se for eleito presidente da República nas eleições de outubro.
Em entrevista à "TV Rede Amazônica", gravada na última sexta-feira, Serra disse que sua proposta é transformar a região em um polo industrial fixo, sem a necessidade de renovação periódica dos seus benefícios fiscais.
A declaração do tucano é um antídoto aos boatos de que, se eleito, o tucano poderia acabar com a zona franca, pelo fato de sua existência contrariar os interesses de São Paulo. Serra prometeu criar uma espécie de "Conselho de Desenvolvimento da Amazônia" para que o presidente da República acompanhe o que acontece em "60% do território nacional".
A Constituição de 1988 transformou a zona franca em área de livre comércio, com incentivos fiscais, até 2013. O Congresso já aprovou PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que prorroga a Zona Franca de Manaus até 2023.
A íntegra da entrevista de Serra foi divulgada ontem pela emissora. O presidenciável prometeu finalizar obras previstas pelo PAC 2 (Programa de Aceleração do Crescimento) para a região Norte, mesmo com críticas do PSDB ao programa implantado no governo petista.
O tucano disse que se sente "mais preparado" para assumir a Presidência da República hoje do que em 2002, quando disputou o cargo com Lula e perdeu no segundo turno. Na opinião de Serra, o clima político atual é diferente porque em 2002 o Brasil "queria eleger o Lula".
Chávez diz preferir Dilma no Planalto
DEU NO ZERO HORA (RS)
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse ontem à TV estatal de seu país que torce para que Dilma Rousseff (PT) seja eleita sucessora de Lula.
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse ontem à TV estatal de seu país que torce para que Dilma Rousseff (PT) seja eleita sucessora de Lula.
Ele chamou a petista de amiga:
Os brasileiros saberão quem têm de eleger, mas a gente tem coração e eu libero o meu. Quem não gostaria que Dilma fosse presidente, uma mulher e, além disso, uma amiga?
Os brasileiros saberão quem têm de eleger, mas a gente tem coração e eu libero o meu. Quem não gostaria que Dilma fosse presidente, uma mulher e, além disso, uma amiga?
O dia em que Dilma sumiu
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Pré-candidata do PT tenta esconder a agenda, mas é flagrada gravando a participação no programa do PT que vai ao ar em 13 de maio
Pré-candidata do PT tenta esconder a agenda, mas é flagrada gravando a participação no programa do PT que vai ao ar em 13 de maio
Leonardo Augusto
Com a agenda anunciada como vazia, a pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff, bem que gostaria de ter passado o dia escondida ontem. Mas não conseguiu.
A reportagem do Correio/Estado de Minas flagrou a escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar as eleições de outubro para o Palácio do Planalto em um assentamento de trabalhadores rurais, chamado Pastorinhas, em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte. O que Dilma tentou esconder a sete chaves? A gravação de parte de um programa de televisão do PT que vai ao ar em 13 de maio.
A locação escolhida foi estratégica: a casa da lavradora Ieda Maria Oliveira Rocha, que pertence a uma das 20 famílias que vivem no assentamento, participante de dois programas do governo federal. O Luz para Todos, que fornece energia a população rural de baixa renda, e o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar, destinado para a compra da produção de lavradores carentes.
Em um cenário montado dentro da casa da agricultora, com tijolos à vista e parte do esgoto correndo a céu aberto, a pré-candidata atuou como uma espécie de repórter. Em uma das perguntas, Dilma quis saber como era realizado o escoamento da produção local. A comunidade utiliza um caminhão, que tem custos divididos entre os trabalhadores assentados.
Mas a ministra também foi questionada, talvez fora do script. A lavradora perguntou se o governo federal tinha algum programa para compensar reservas de mata nativa conservadas por trabalhadores rurais. Dos 156 hectares do assentamento, 142 são de Mata Atlântica e, portanto, não podem ser desmatados. Dilma respondeu que sim, mas não soube dizer o nome do programa. “Vou procurar saber e peço para lhe informar”, disse.
Dilma passou cerca de 40 minutos no assentamento(1), entre 16h50 e 17h30.
Extremamente irritada com a presença da reportagem, não quis falar ao chegar nem quando deixou o local. O mau humor contaminou toda a produção do programa, que evitou passar qualquer informação para o repórter, e também os moradores do assentamento.
“Como vocês entraram aqui?”, perguntaram os agricultores, enquanto cercavam a equipe de reportagem. Ao final, impediram por cerca de cinco minutos que o carro do jornal deixasse o local.
Na estrada para o terreno não existe sequer uma porteira. O acesso é livre, até porque é muito utilizado por clientes que vão até o assentamento comprar verduras e hortaliças. A pré-candidata do PT chegou até Brumadinho de helicóptero. O pouso ocorreu no Museu de Arte Contemporânea Inhotim, que pertence a Bernardo Paz.
(1 ) - Ocupação do MST
O assentamento Pastorinhas surgiu depois de uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciado em 2001. A desapropriação ocorreu durante o governo Lula. As 20 famílias que vivem na área retiram entre R$ 250 e R$ 300 por mês com a comercialização de cenoura, beterraba, alface e ovos. A produção que não é adquirida pelo governo federal é enviada principalmente a Betim e Belo Horizonte.
(1 ) - Ocupação do MST
O assentamento Pastorinhas surgiu depois de uma ocupação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciado em 2001. A desapropriação ocorreu durante o governo Lula. As 20 famílias que vivem na área retiram entre R$ 250 e R$ 300 por mês com a comercialização de cenoura, beterraba, alface e ovos. A produção que não é adquirida pelo governo federal é enviada principalmente a Betim e Belo Horizonte.
Especialistas aprovam Ministério da Segurança, mas com comando técnico
DEU EM O GLOBO
"Da forma como está, problema é grave, negligenciado e mal coordenado"
Leila Suwwan
SÃO PAULO. A criação de um Ministério da Segurança Pública, desde que acompanhado de um comando técnico e por fortes investimentos, conta com a simpatia de especialistas do setor.
A proposta foi lançada anteontem pelo pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e já foi descartada por sua adversária Dilma Rousseff (PT).
Uma nova pasta dedicada à segurança interna nacional é considerada por estudiosos como uma forma de reorganizar, estruturar e fortalecer o papel do governo federal na prevenção da violência e na repressão à criminalidade.
Avaliam que hoje há ainda desarticulação interna e dificuldade para coordenar políticas para as polícias estaduais.
De acordo com Walter Maierovitch, secretário nacional Anti-Drogas no governo FH, há ineficiência na dispersão e subordinação de órgãos como a Agência Brasileira de Inteligência Nacional (Abin) e a Secretaria Nacional Anti-Drogas — ligadas ao Planalto pelo Gabinete de Segurança Institucional —, e as polícias Federal e Rodoviária Federal e a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) — abrigadas na Justiça: — Os desafios de hoje exigem uma coordenação central.
Hoje a PF fica solta, a Abin é um foco de problemas.
Quem tiver uma verdadeira política para a segurança pública saberá que é necessário ter um ministério.
José Serra fez a promessa de campanha em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, na TV Bandeirantes, na segunda-feira. Mas já defendia a proposta desde a campanha presidencial de 2002.
— O ministro da Justiça tem outras funções. Coisas que são da Justiça devem ficar com a Justiça — disse Serra.
De acordo com Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (RJ), investimentos e políticas nacionais precisam acompanhar a proposta de criação da pasta.
— Faz sentido se for um reconhecimento da gravidade do problema. Mas não adianta criar se o ministério for pobre de verbas. A gestão Lula aumentou (as verbas), mas é preciso muito mais; hoje os recursos estão longe de ser minimamente adequados — disse Julita.
Julita Lemgruber defende que a eventual divisão separe, em nível federal, a administração prisional do aparato policial de prevenção e repressão.
Diretor do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, Norman Gall afirma que a questão vem sendo negligenciada: — Da forma como está, o problema é grave, negligenciado e mal coordenado. A Justiça cuida de tudo: prisões, naturalização de estrangeiros, índios, e acaba sendo também um assessoramento político do presidente.
Gall, porém, reiterou que essa pasta, se criada, não poderia sofrer interferência política, como o loteamento partidário de cargos entre aliados. Ele defende um comando profissional e um quadro técnico qualificado.
"Da forma como está, problema é grave, negligenciado e mal coordenado"
Leila Suwwan
SÃO PAULO. A criação de um Ministério da Segurança Pública, desde que acompanhado de um comando técnico e por fortes investimentos, conta com a simpatia de especialistas do setor.
A proposta foi lançada anteontem pelo pré-candidato do PSDB à Presidência, José Serra, e já foi descartada por sua adversária Dilma Rousseff (PT).
Uma nova pasta dedicada à segurança interna nacional é considerada por estudiosos como uma forma de reorganizar, estruturar e fortalecer o papel do governo federal na prevenção da violência e na repressão à criminalidade.
Avaliam que hoje há ainda desarticulação interna e dificuldade para coordenar políticas para as polícias estaduais.
De acordo com Walter Maierovitch, secretário nacional Anti-Drogas no governo FH, há ineficiência na dispersão e subordinação de órgãos como a Agência Brasileira de Inteligência Nacional (Abin) e a Secretaria Nacional Anti-Drogas — ligadas ao Planalto pelo Gabinete de Segurança Institucional —, e as polícias Federal e Rodoviária Federal e a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) — abrigadas na Justiça: — Os desafios de hoje exigem uma coordenação central.
Hoje a PF fica solta, a Abin é um foco de problemas.
Quem tiver uma verdadeira política para a segurança pública saberá que é necessário ter um ministério.
José Serra fez a promessa de campanha em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, na TV Bandeirantes, na segunda-feira. Mas já defendia a proposta desde a campanha presidencial de 2002.
— O ministro da Justiça tem outras funções. Coisas que são da Justiça devem ficar com a Justiça — disse Serra.
De acordo com Julita Lemgruber, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Candido Mendes (RJ), investimentos e políticas nacionais precisam acompanhar a proposta de criação da pasta.
— Faz sentido se for um reconhecimento da gravidade do problema. Mas não adianta criar se o ministério for pobre de verbas. A gestão Lula aumentou (as verbas), mas é preciso muito mais; hoje os recursos estão longe de ser minimamente adequados — disse Julita.
Julita Lemgruber defende que a eventual divisão separe, em nível federal, a administração prisional do aparato policial de prevenção e repressão.
Diretor do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial, Norman Gall afirma que a questão vem sendo negligenciada: — Da forma como está, o problema é grave, negligenciado e mal coordenado. A Justiça cuida de tudo: prisões, naturalização de estrangeiros, índios, e acaba sendo também um assessoramento político do presidente.
Gall, porém, reiterou que essa pasta, se criada, não poderia sofrer interferência política, como o loteamento partidário de cargos entre aliados. Ele defende um comando profissional e um quadro técnico qualificado.
Dilma condena pasta para o setor
DEU EM O GLOBO
E tucanos dizem que ideia não é para criar "boquinha"
BRASÍLIA. A principal adversária do ex-governador José Serra na disputa presidencial, a petista Dilma Rousseff, disse ser contrária à proposta de criação do Ministério da Segurança, alegando que o Ministério da Justiça já cuida das questões de segurança pública. Por isso, ela disse não ver necessidade de se ficar “criando ministério atrás de ministério”.
Apesar das críticas, Dilma destacou que o combate à violência será uma das prioridades de um eventual governo seu.
— Acho que o Ministério da Justiça tem um caráter muito forte de segurança pública.
Dentro daquela questão de a gente não ficar criando ministério atrás de ministério, eu não vejo muito a importância disso.
Acho, porém, que o foco na segurança pública é muito importante — afirmou Dilma.
A ideia de Serra, de criar dois novos ministérios — além do da Segurança Pública, o dos Deficientes Físicos —, foi bem recebida por seus aliados, embora uma das críticas mais frequentes da oposição ao governo Lula seja ao excesso de ministérios criados em sua gestão.
Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), a criação dos novos ministérios deve ser acompanhada de uma reforma administrativa mais ampla para reduzir as atuais 37 pastas para um número perto de 20.
— Isso tem de vir no bojo de uma ampla reforma administrativa que reduza o número de ministérios. Na minha cabeça, esse número não pode passar de 20. O ex-presidente Fernando Collor chegou a reduzir esse número para 12, mas não deu certo. Já Fernando Henrique (Cardoso) chegou ao fim do governo com 27 — lembrou Virgílio.
Na avaliação do líder tucano, o Brasil precisa trocar ministérios abstratos por concretos e colocá-los para funcionar de fato.
O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), também aplaudiu a ideia.
— Segurança pública é uma questão prioritária no país e implica investimentos federais, além da arregimentação de todos. É indispensável uma estrutura federal que se responsabilize, por exemplo, pela entrada no país das armas operadas hoje pelo crime organizado.
Segundo Guerra, não dá para comparar a estrutura de governo montada por Lula com a proposta por Serra num futuro governo: — O governo Lula não tem muitos ministérios, tem é muitos empregos porque precisa nomear seus companheiros. No governo Serra não vai ter boquinha, não.
E tucanos dizem que ideia não é para criar "boquinha"
BRASÍLIA. A principal adversária do ex-governador José Serra na disputa presidencial, a petista Dilma Rousseff, disse ser contrária à proposta de criação do Ministério da Segurança, alegando que o Ministério da Justiça já cuida das questões de segurança pública. Por isso, ela disse não ver necessidade de se ficar “criando ministério atrás de ministério”.
Apesar das críticas, Dilma destacou que o combate à violência será uma das prioridades de um eventual governo seu.
— Acho que o Ministério da Justiça tem um caráter muito forte de segurança pública.
Dentro daquela questão de a gente não ficar criando ministério atrás de ministério, eu não vejo muito a importância disso.
Acho, porém, que o foco na segurança pública é muito importante — afirmou Dilma.
A ideia de Serra, de criar dois novos ministérios — além do da Segurança Pública, o dos Deficientes Físicos —, foi bem recebida por seus aliados, embora uma das críticas mais frequentes da oposição ao governo Lula seja ao excesso de ministérios criados em sua gestão.
Para o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), a criação dos novos ministérios deve ser acompanhada de uma reforma administrativa mais ampla para reduzir as atuais 37 pastas para um número perto de 20.
— Isso tem de vir no bojo de uma ampla reforma administrativa que reduza o número de ministérios. Na minha cabeça, esse número não pode passar de 20. O ex-presidente Fernando Collor chegou a reduzir esse número para 12, mas não deu certo. Já Fernando Henrique (Cardoso) chegou ao fim do governo com 27 — lembrou Virgílio.
Na avaliação do líder tucano, o Brasil precisa trocar ministérios abstratos por concretos e colocá-los para funcionar de fato.
O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), também aplaudiu a ideia.
— Segurança pública é uma questão prioritária no país e implica investimentos federais, além da arregimentação de todos. É indispensável uma estrutura federal que se responsabilize, por exemplo, pela entrada no país das armas operadas hoje pelo crime organizado.
Segundo Guerra, não dá para comparar a estrutura de governo montada por Lula com a proposta por Serra num futuro governo: — O governo Lula não tem muitos ministérios, tem é muitos empregos porque precisa nomear seus companheiros. No governo Serra não vai ter boquinha, não.
Serra e Dilma divergem sobre criação de pasta da segurança
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Petista afirma não ver "importância" em proposta do tucano de novo ministério
Ex-ministra critica criação de pastas "para tudo" e diz que Justiça cuida bem do tema; tucano nega inchaço e quer extinguir secretaria
MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALAGOINHAS E FEIRA DE SANTANA (BA)
MÁRCIO FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) explicitaram ontem a primeira divergência programática: a criação do Ministério da Segurança Pública, promessa do tucano anteontem num programa de TV, foi considerada desimportante pela petista, que avalia que o Ministério da Justiça é capaz de cuidar dos problemas da área.
"Acho que o Ministério da Justiça tem um caráter forte de segurança pública. Dentro daquela ideia de não ficar criando ministério para tudo, então eu não vejo muita importância nisso", disse Dilma ontem.
Para ela, o "foco na segurança pública" é importante. "Nós [governo] temos o que apresentar porque a segurança pública foi uma questão estrutural e acho que o Ministério da Justiça tem desempenhado com empenho isso", afirmou.
Em viagem à Bahia, Serra negou que a ideia vá provocar inchaço na administração. "Não é questão de inchar a máquina pública, mas de direcionar a máquina para o que é fundamental para a população."
Na semana passada, em Natal, Serra afirmou que o Estado tem que ser "musculoso, mas enxuto". "Nós não somos lutadores de sumô", disse.
Para se contrapor à ideia do inchaço, o ex-governador paulista disse que, se for eleito, irá acabar com o Ministério de Assuntos Estratégicos, pasta criada por Lula e comandada hoje por Samuel Pinheiro Guimarães. "Não precisa dessa Secretaria de Assuntos Estratégicos, que ninguém sabe o que é. Estudos de longo prazo são importantes, mas não precisa de um ministério para isso."
O tucano não deu detalhes sobre como vai viabilizar a proposta de criação do ministério, mas citou como exemplo a separação comum entre as secretarias da Justiça e da Segurança em gestões estaduais. "Que tem uma coisa a ver com a outra, tem. O problema é a concentração de esforços. Concentrar, especializar, preparar e atuar com muita firmeza num problema que é, junto com a saúde, o mais grave do Brasil."
Dilma rebateu o argumento, dizendo que o governo Lula deu melhores condições para o Ministério da Justiça atuar, destinando 78% da verba da pasta para segurança.
A petista voltou a dizer que o governo Lula foi mais atuante do que o de Fernando Henrique Cardoso no combate à violência. Segundo Dilma, a gestão petista promoveu 1.012 operações especiais da Polícia Federal contra 29 na anterior.
Para Jorge Zaverucha, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, a proposta de criação de um Ministério da Segurança Pública é a "correção de uma desfuncionalidade do Estado nessa área que só existe na esfera federal".
Para ele, não faz sentido a PF ser subordinada ao Ministério da Justiça. Além disso, Zaverucha afirma que uma pasta específica para a segurança permite uma maior coordenação das ações de combate ao crime e a execução de projetos mais amplos de prevenção e repressão.
Ontem, Serra também prometeu tornar permanente a Zona Franca de Manaus se for eleito presidente. Em entrevista à TV Rede Amazônica, ele disse que sua proposta é transformar a região em um polo industrial fixo, sem a necessidade de renovação periódica dos seus benefícios fiscais.
Petista afirma não ver "importância" em proposta do tucano de novo ministério
Ex-ministra critica criação de pastas "para tudo" e diz que Justiça cuida bem do tema; tucano nega inchaço e quer extinguir secretaria
MATHEUS MAGENTA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALAGOINHAS E FEIRA DE SANTANA (BA)
MÁRCIO FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os pré-candidatos à Presidência José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) explicitaram ontem a primeira divergência programática: a criação do Ministério da Segurança Pública, promessa do tucano anteontem num programa de TV, foi considerada desimportante pela petista, que avalia que o Ministério da Justiça é capaz de cuidar dos problemas da área.
"Acho que o Ministério da Justiça tem um caráter forte de segurança pública. Dentro daquela ideia de não ficar criando ministério para tudo, então eu não vejo muita importância nisso", disse Dilma ontem.
Para ela, o "foco na segurança pública" é importante. "Nós [governo] temos o que apresentar porque a segurança pública foi uma questão estrutural e acho que o Ministério da Justiça tem desempenhado com empenho isso", afirmou.
Em viagem à Bahia, Serra negou que a ideia vá provocar inchaço na administração. "Não é questão de inchar a máquina pública, mas de direcionar a máquina para o que é fundamental para a população."
Na semana passada, em Natal, Serra afirmou que o Estado tem que ser "musculoso, mas enxuto". "Nós não somos lutadores de sumô", disse.
Para se contrapor à ideia do inchaço, o ex-governador paulista disse que, se for eleito, irá acabar com o Ministério de Assuntos Estratégicos, pasta criada por Lula e comandada hoje por Samuel Pinheiro Guimarães. "Não precisa dessa Secretaria de Assuntos Estratégicos, que ninguém sabe o que é. Estudos de longo prazo são importantes, mas não precisa de um ministério para isso."
O tucano não deu detalhes sobre como vai viabilizar a proposta de criação do ministério, mas citou como exemplo a separação comum entre as secretarias da Justiça e da Segurança em gestões estaduais. "Que tem uma coisa a ver com a outra, tem. O problema é a concentração de esforços. Concentrar, especializar, preparar e atuar com muita firmeza num problema que é, junto com a saúde, o mais grave do Brasil."
Dilma rebateu o argumento, dizendo que o governo Lula deu melhores condições para o Ministério da Justiça atuar, destinando 78% da verba da pasta para segurança.
A petista voltou a dizer que o governo Lula foi mais atuante do que o de Fernando Henrique Cardoso no combate à violência. Segundo Dilma, a gestão petista promoveu 1.012 operações especiais da Polícia Federal contra 29 na anterior.
Para Jorge Zaverucha, cientista político da Universidade Federal de Pernambuco, a proposta de criação de um Ministério da Segurança Pública é a "correção de uma desfuncionalidade do Estado nessa área que só existe na esfera federal".
Para ele, não faz sentido a PF ser subordinada ao Ministério da Justiça. Além disso, Zaverucha afirma que uma pasta específica para a segurança permite uma maior coordenação das ações de combate ao crime e a execução de projetos mais amplos de prevenção e repressão.
Ontem, Serra também prometeu tornar permanente a Zona Franca de Manaus se for eleito presidente. Em entrevista à TV Rede Amazônica, ele disse que sua proposta é transformar a região em um polo industrial fixo, sem a necessidade de renovação periódica dos seus benefícios fiscais.
PSB oficializa saída de Ciro e apoio a Dilma
DEU EM O GLOBO
A Executiva do PSB anunciou que retira a pré-candidatura presidencial de Ciro Gomes para apoiar Dilma Rousseff (PT). E já cobrou alianças nos palanques regionais.
PSB troca Ciro por Dilma e Lula
Deputado reage dizendo que "ao Rei tudo, menos a honra" e que decisão "foi erro tático"
Gerson Camarotti
BRASÍLIA Como queria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Executiva Nacional do PSB retirou ontem a pré-candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência e sinalizou apoio à campanha da petista Dilma Rousseff. Contrariado, Ciro sequer participou da reunião de seu partido. Agora os socialistas vão cobrar, como contrapartida, que Lula e Dilma subam nos palanques de seus 11 candidatos a governos estaduais. A formalização do apoio a Dilma será em meados de maio.
No Planalto e no PT, porém, a avaliação é a de que a retirada da candidatura de Ciro demorou e que estragos já foram feitos no palanque de Dilma. Diante disso, os petistas não estão dispostos a ceder muito nos estados.
À noite, Ciro divulgou nota com o título “Ao Rei tudo, menos a honra”, dizendo que a decisão do PSB “foi um erro tático”. Ainda ontem à noite, o presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), viajou para o Rio com outros integrantes da Executiva para um encontro com Ciro, num gesto simbólico de consideração ao deputado.
A Executiva do partido reprovou por 21 votos a dois a candidatura própria à Presidência.
Dos 27 diretórios regionais, 20 ficaram contrários à candidatura de Ciro.
— Ciro tem estilo franco. Em todos os momentos disse que vai respeitar a decisão do partido.
Por tudo o que tem dito, não tenho dúvida que seguirá o caminho do PSB — disse Campos.
“Uma deserção de nossos deveres para com o país"
Na nota em seu blog, Ciro disse que é hora de aceitar a decisão e controlar a tristeza: “Acho um erro tático em relação ao melhor interesse do partido e uma deserção de nossos deveres para com o país. Não é hora mais, entretanto, de repetir os argumentos (...). É hora de aceitar a decisão da direção partidária. É hora de controlar a tristeza de ver assim interrompida uma vida pública de mais de 30 anos dedicada ao Brasil e aos brasileiros e concentrar-me no que importa: o futuro de nosso país!”, escreveu Ciro, deixando claro que não deve ter engajamento forte na campanha. Agradeceu ao povo cearense e aos anônimos que o apoiaram.
Para o comando da campanha petista, o PSB cometeu erros. O ideal é que a candidatura de Ciro tivesse sido retirada pacificamente entre dezembro e janeiro, como ocorreu no PSDB, com a pré-candidatura do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG).
— Vamos ao Rio explicitar o prestígio de Ciro.
Queremos preservar o Ciro em todos os sentidos.
Ninguém vai pedir para ele se empenhar na campanha da Dilma. Vamos pedir para ele ajudar na construção do partido — disse o vice-presidente do PSB, o ex-ministro Roberto Amaral.
Campos cobrou reciprocidade de Dilma e de Lula nos estados em que o partido irá disputar contra aliados como o PT e o PMDB. Candidaturas do PSB estão isoladas em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo.
— Não vamos aceitar tratamento com discriminação.
O que vale para os candidatos do PT vai valer para os candidatos do PSB. O que vale para o PMDB, vai valer para o PSB. Se a decisão (de retirar a candidatura de Ciro) vai ajudar? Pode, sim! — disse Campos.
Numa ação cercada de interesses, Dilma e integrantes do governo reagiram com compreensão aos ataques de Ciro. O objetivo é garantir a presença do PSB na coligação formal de Dilma, o que acrescentaria pouco mais de um minuto ao tempo da propaganda no rádio e na TV. Os votos de Ciro no Ceará são outro alvo.
Dilma e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, foram só elogios a Ciro ontem.
— Não há uma palavra que vá desfazer o carinho e o respeito que temos por ele. Ciro é muito mais aliado do que muitos que elogiam. O carinho que o presidente Lula tem por ele é enorme — disse Carvalho.
— É um cara que respeito, um ser humano com qualidades — disse Dilma.
O presidente da Câmara e do PMDB, Michel Temer (SP), chamado por Ciro de “chefe da turma de pouco escrúpulo” do PMDB, ironizou: — Temos de compreender o estado emocional dele.
A Executiva do PSB anunciou que retira a pré-candidatura presidencial de Ciro Gomes para apoiar Dilma Rousseff (PT). E já cobrou alianças nos palanques regionais.
PSB troca Ciro por Dilma e Lula
Deputado reage dizendo que "ao Rei tudo, menos a honra" e que decisão "foi erro tático"
Gerson Camarotti
BRASÍLIA Como queria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Executiva Nacional do PSB retirou ontem a pré-candidatura do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) à Presidência e sinalizou apoio à campanha da petista Dilma Rousseff. Contrariado, Ciro sequer participou da reunião de seu partido. Agora os socialistas vão cobrar, como contrapartida, que Lula e Dilma subam nos palanques de seus 11 candidatos a governos estaduais. A formalização do apoio a Dilma será em meados de maio.
No Planalto e no PT, porém, a avaliação é a de que a retirada da candidatura de Ciro demorou e que estragos já foram feitos no palanque de Dilma. Diante disso, os petistas não estão dispostos a ceder muito nos estados.
À noite, Ciro divulgou nota com o título “Ao Rei tudo, menos a honra”, dizendo que a decisão do PSB “foi um erro tático”. Ainda ontem à noite, o presidente do PSB, governador Eduardo Campos (PE), viajou para o Rio com outros integrantes da Executiva para um encontro com Ciro, num gesto simbólico de consideração ao deputado.
A Executiva do partido reprovou por 21 votos a dois a candidatura própria à Presidência.
Dos 27 diretórios regionais, 20 ficaram contrários à candidatura de Ciro.
— Ciro tem estilo franco. Em todos os momentos disse que vai respeitar a decisão do partido.
Por tudo o que tem dito, não tenho dúvida que seguirá o caminho do PSB — disse Campos.
“Uma deserção de nossos deveres para com o país"
Na nota em seu blog, Ciro disse que é hora de aceitar a decisão e controlar a tristeza: “Acho um erro tático em relação ao melhor interesse do partido e uma deserção de nossos deveres para com o país. Não é hora mais, entretanto, de repetir os argumentos (...). É hora de aceitar a decisão da direção partidária. É hora de controlar a tristeza de ver assim interrompida uma vida pública de mais de 30 anos dedicada ao Brasil e aos brasileiros e concentrar-me no que importa: o futuro de nosso país!”, escreveu Ciro, deixando claro que não deve ter engajamento forte na campanha. Agradeceu ao povo cearense e aos anônimos que o apoiaram.
Para o comando da campanha petista, o PSB cometeu erros. O ideal é que a candidatura de Ciro tivesse sido retirada pacificamente entre dezembro e janeiro, como ocorreu no PSDB, com a pré-candidatura do ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG).
— Vamos ao Rio explicitar o prestígio de Ciro.
Queremos preservar o Ciro em todos os sentidos.
Ninguém vai pedir para ele se empenhar na campanha da Dilma. Vamos pedir para ele ajudar na construção do partido — disse o vice-presidente do PSB, o ex-ministro Roberto Amaral.
Campos cobrou reciprocidade de Dilma e de Lula nos estados em que o partido irá disputar contra aliados como o PT e o PMDB. Candidaturas do PSB estão isoladas em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Espírito Santo.
— Não vamos aceitar tratamento com discriminação.
O que vale para os candidatos do PT vai valer para os candidatos do PSB. O que vale para o PMDB, vai valer para o PSB. Se a decisão (de retirar a candidatura de Ciro) vai ajudar? Pode, sim! — disse Campos.
Numa ação cercada de interesses, Dilma e integrantes do governo reagiram com compreensão aos ataques de Ciro. O objetivo é garantir a presença do PSB na coligação formal de Dilma, o que acrescentaria pouco mais de um minuto ao tempo da propaganda no rádio e na TV. Os votos de Ciro no Ceará são outro alvo.
Dilma e Gilberto Carvalho, chefe de gabinete de Lula, foram só elogios a Ciro ontem.
— Não há uma palavra que vá desfazer o carinho e o respeito que temos por ele. Ciro é muito mais aliado do que muitos que elogiam. O carinho que o presidente Lula tem por ele é enorme — disse Carvalho.
— É um cara que respeito, um ser humano com qualidades — disse Dilma.
O presidente da Câmara e do PMDB, Michel Temer (SP), chamado por Ciro de “chefe da turma de pouco escrúpulo” do PMDB, ironizou: — Temos de compreender o estado emocional dele.
Temos de ser condescendentes.
PSB enterra candidatura de Ciro, por 21 votos a 2
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Direção do partido se reúne no dia 17 de maio para formalizar apoio a Dilma
Eugênia Lopes
Por 21 votos a favor e dois contra, os integrantes da Executiva Nacional do PSB decidiram ontem impedir a candidatura do deputado Ciro Gomes (CE) à Presidência. A maioria dos diretórios estaduais do partido - 20 do total de 27 - também se posicionou contra a candidatura própria.
A direção do PSB se reúne no próximo dia 17 para formalizar o apoio à candidatura da petista Dilma Rousseff à sucessão do presidente Lula. "O apoio a Dilma é o caminho natural", afirmou ontem o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Antes da oficialização do apoio à candidatura da petista, as direções do PSB e do PT se encontram na próxima terça-feira para acertar a aliança em torno da petista. "Não vamos fazer desse gesto uma permuta. Agora essa decisão do partido pode vir a ajudar a conjuntura nos Estados", reconheceu Campos.
Uma hora após o anúncio oficial da retirada de sua candidatura, Ciro divulgou nota em seu site baixando o tom das críticas ao partido e garantindo que seguirá a determinação do PSB. "Ao rei tudo, menos a honra", diz o título da nota, que considera "um erro tático" o PSB não ter candidato próprio à Presidência.
"Não é hora mais, entretanto, de repetir os argumentos claros e já tão repetidos e até óbvios. É hora de aceitar a decisão da direção partidária. É hora de controlar a tristeza de ver assim interrompida uma vida pública de mais de 30 anos dedicada ao Brasil e aos brasileiros e concentrar-me no que importa: o futuro de nosso país!", escreveu.
Em troca da retirada de Ciro da corrida presidencial, o PSB espera obter apoio do PT para eleger seus candidatos a governos estaduais. O partido tem 10 candidatos a governador e espera duplicar sua bancada na Câmara - hoje com 27 deputados - e eleger pelo menos cinco senadores nas eleições de outubro. "Definindo o nosso apoio a Dilma não vamos aceitar discriminação em relação aos nossos candidatos", reiterou Campos.
Minoria. Na reunião da Executiva, apenas o ex-senador Ademir Andrade (PA) e o ex-deputado José Antonio (MA) votaram pela manutenção da candidatura de Ciro à Presidência. "Não estou convencido de que esta foi a melhor solução, mas foi seguir a determinação do partido", disse José Antonio que, em 2002, foi candidato à vice-presidente na chapa encabeçada por Anthony Garotinho. Sete diretórios estaduais foram favoráveis à candidatura própria do PSB: Maranhão, Rio Grande do Sul, Rondônia, Pará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Ceará. Os 20 restantes se posicionaram contra.
Encontro. Mal terminou a votação que implodiu a candidatura de Ciro, Campos e o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, telefonaram para o deputado para avisá-lo da derrota acachapante. Numa tentativa de prestigiar Ciro, os dois decidiram ir ao Rio para encontro pessoal com o deputado. "Queremos preservá-lo em todos os sentidos. Queremos protegê-lo", resumiu Amaral. "Não vamos pedir a ele que se empenhe na campanha da Dilma."
Decisão
EDUARDO CAMPOS, PRESIDENTE DO PSB
"Foi quase uma escolha de Sofia. Ou levar à degola candidatos ao governo e ao Senado ou ter a candidatura própria"
Direção do partido se reúne no dia 17 de maio para formalizar apoio a Dilma
Eugênia Lopes
Por 21 votos a favor e dois contra, os integrantes da Executiva Nacional do PSB decidiram ontem impedir a candidatura do deputado Ciro Gomes (CE) à Presidência. A maioria dos diretórios estaduais do partido - 20 do total de 27 - também se posicionou contra a candidatura própria.
A direção do PSB se reúne no próximo dia 17 para formalizar o apoio à candidatura da petista Dilma Rousseff à sucessão do presidente Lula. "O apoio a Dilma é o caminho natural", afirmou ontem o presidente nacional do PSB e governador de Pernambuco, Eduardo Campos.
Antes da oficialização do apoio à candidatura da petista, as direções do PSB e do PT se encontram na próxima terça-feira para acertar a aliança em torno da petista. "Não vamos fazer desse gesto uma permuta. Agora essa decisão do partido pode vir a ajudar a conjuntura nos Estados", reconheceu Campos.
Uma hora após o anúncio oficial da retirada de sua candidatura, Ciro divulgou nota em seu site baixando o tom das críticas ao partido e garantindo que seguirá a determinação do PSB. "Ao rei tudo, menos a honra", diz o título da nota, que considera "um erro tático" o PSB não ter candidato próprio à Presidência.
"Não é hora mais, entretanto, de repetir os argumentos claros e já tão repetidos e até óbvios. É hora de aceitar a decisão da direção partidária. É hora de controlar a tristeza de ver assim interrompida uma vida pública de mais de 30 anos dedicada ao Brasil e aos brasileiros e concentrar-me no que importa: o futuro de nosso país!", escreveu.
Em troca da retirada de Ciro da corrida presidencial, o PSB espera obter apoio do PT para eleger seus candidatos a governos estaduais. O partido tem 10 candidatos a governador e espera duplicar sua bancada na Câmara - hoje com 27 deputados - e eleger pelo menos cinco senadores nas eleições de outubro. "Definindo o nosso apoio a Dilma não vamos aceitar discriminação em relação aos nossos candidatos", reiterou Campos.
Minoria. Na reunião da Executiva, apenas o ex-senador Ademir Andrade (PA) e o ex-deputado José Antonio (MA) votaram pela manutenção da candidatura de Ciro à Presidência. "Não estou convencido de que esta foi a melhor solução, mas foi seguir a determinação do partido", disse José Antonio que, em 2002, foi candidato à vice-presidente na chapa encabeçada por Anthony Garotinho. Sete diretórios estaduais foram favoráveis à candidatura própria do PSB: Maranhão, Rio Grande do Sul, Rondônia, Pará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Ceará. Os 20 restantes se posicionaram contra.
Encontro. Mal terminou a votação que implodiu a candidatura de Ciro, Campos e o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, telefonaram para o deputado para avisá-lo da derrota acachapante. Numa tentativa de prestigiar Ciro, os dois decidiram ir ao Rio para encontro pessoal com o deputado. "Queremos preservá-lo em todos os sentidos. Queremos protegê-lo", resumiu Amaral. "Não vamos pedir a ele que se empenhe na campanha da Dilma."
Decisão
EDUARDO CAMPOS, PRESIDENTE DO PSB
"Foi quase uma escolha de Sofia. Ou levar à degola candidatos ao governo e ao Senado ou ter a candidatura própria"
O rombo pesa:: Celso Ming
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Faz seis meses que a encrenca grega atormenta os mercados e as autoridades do mundo inteiro. Cúpula após cúpula, comissão após comissão, os dirigentes europeus produzem notas oficiais em que manifestam intenções, mas não conseguem acabar com o problema.
Ontem, foi um desses dias de turbulência e de impaciência cujo deflagrador foi o rebaixamento da qualidade das dívidas de Portugal e Grécia. As bolsas europeias despencaram, o euro perdeu 1,5% do seu valor em dólares (veja o Confira) e, a despeito dos pronunciamentos em contrário, mais e mais gente passou a temer pelo calote grego.
A solução não se viabilizou até agora aparentemente pela ferrenha oposição da opinião pública da Alemanha. Mais de 70% da sua população é vigorosamente contra qualquer ajuda "a essa gente folgada da Grécia".
Por isso, a chanceler Angela Merkel dispara uma declaração dura atrás da outra com o objetivo de aplacar os demônios germânicos. Tudo se passa como se a atual manifestação da crise devesse se aprofundar a ponto de derrubar a cotação do euro a níveis assustadores para que se possam criar condições políticas para um socorro eficaz à Grécia e a Portugal.
Tudo parece bem mais complicado do que parecia lá por outubro e novembro de 2009, quando esta crise começou a ser percebida. O rombo da Grécia é bem maior do que fora admitido. Em meados do ano passado, seu governo reconhecia um déficit público de cerca de 6,0%. Depois, foi obrigado a revê-lo para 12,7%. E, na semana passada, a Eurostat, organismo encarregado das estatísticas europeias, puxou os números negativos ainda mais para acima, para 13,6%. Essas seguidas revisões levantam a suspeita de que mais esqueletos podem aparecer.
Em segundo lugar, a letra G não está sozinha. No turbilhão estão as demais que formam o acrônimo original Pigs (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) e sabe-se lá se o contágio não vai arrastar outras mais para a crise.
Esse não é caso de fobia pura e simples. A deterioração das finanças dos países de alta renda, entre os quais estão pelo menos mais três europeus (Reino Unido, Itália e Hungria), pode se transformar na mais nova subprime das finanças globais.
Não é verdade que esses rombos tenham aparecido apenas com a crise dos Estados Unidos. Ela não cresceu apenas porque exigiu novos gastos com socorro aos bancos, com seguro-desemprego e políticas anticíclicas, numa paisagem geral de recessão e de queda de arrecadação.
A atual escalada das despesas públicas começou lá atrás. Nos Estados Unidos tem como causa a cobertura das despesas de guerra do período Bush-2 e a baixa disposição a poupar por parte do consumidor americano. E na Europa está relacionada ao forte crescimento das despesas com seguridade social (welfare state).
O Brasil não pode se fiar no efeito marolinha do ano passado. Se o agravamento da crise financeira global se confirmar, os mercados para o produto brasileiro se estreitarão. E o afluxo de capitais também se reduzirá num momento em que o investimento é cada vez mais vital para garantir a expansão futura. O crescimento do PIB nacional deste ano, da ordem de 5,5% a 6,0%, pode ser considerado garantido. O problema será 2011 em diante.
CONFIRA
Moeda ameaçada
Ontem o euro atingiu sua menor cotação em 12 meses. Você tem acima a trajetória do euro diante do dólar.
Mico grego
O novo rebaixamento da dívida da Grécia deixa o Banco Central Europeu (BCE) em uma sinuca de bico. Se nas suas operações com os bancos continuar aceitando como garantia (colateral) os títulos gregos, como se fossem tão bons quanto os alemães, o BCE perderá credibilidade e essa perda de credibilidade será repassada para o valor do euro. Mas, se não aceitar, afundará de vez a Grécia, depois Portugal, Espanha...
Faz seis meses que a encrenca grega atormenta os mercados e as autoridades do mundo inteiro. Cúpula após cúpula, comissão após comissão, os dirigentes europeus produzem notas oficiais em que manifestam intenções, mas não conseguem acabar com o problema.
Ontem, foi um desses dias de turbulência e de impaciência cujo deflagrador foi o rebaixamento da qualidade das dívidas de Portugal e Grécia. As bolsas europeias despencaram, o euro perdeu 1,5% do seu valor em dólares (veja o Confira) e, a despeito dos pronunciamentos em contrário, mais e mais gente passou a temer pelo calote grego.
A solução não se viabilizou até agora aparentemente pela ferrenha oposição da opinião pública da Alemanha. Mais de 70% da sua população é vigorosamente contra qualquer ajuda "a essa gente folgada da Grécia".
Por isso, a chanceler Angela Merkel dispara uma declaração dura atrás da outra com o objetivo de aplacar os demônios germânicos. Tudo se passa como se a atual manifestação da crise devesse se aprofundar a ponto de derrubar a cotação do euro a níveis assustadores para que se possam criar condições políticas para um socorro eficaz à Grécia e a Portugal.
Tudo parece bem mais complicado do que parecia lá por outubro e novembro de 2009, quando esta crise começou a ser percebida. O rombo da Grécia é bem maior do que fora admitido. Em meados do ano passado, seu governo reconhecia um déficit público de cerca de 6,0%. Depois, foi obrigado a revê-lo para 12,7%. E, na semana passada, a Eurostat, organismo encarregado das estatísticas europeias, puxou os números negativos ainda mais para acima, para 13,6%. Essas seguidas revisões levantam a suspeita de que mais esqueletos podem aparecer.
Em segundo lugar, a letra G não está sozinha. No turbilhão estão as demais que formam o acrônimo original Pigs (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha) e sabe-se lá se o contágio não vai arrastar outras mais para a crise.
Esse não é caso de fobia pura e simples. A deterioração das finanças dos países de alta renda, entre os quais estão pelo menos mais três europeus (Reino Unido, Itália e Hungria), pode se transformar na mais nova subprime das finanças globais.
Não é verdade que esses rombos tenham aparecido apenas com a crise dos Estados Unidos. Ela não cresceu apenas porque exigiu novos gastos com socorro aos bancos, com seguro-desemprego e políticas anticíclicas, numa paisagem geral de recessão e de queda de arrecadação.
A atual escalada das despesas públicas começou lá atrás. Nos Estados Unidos tem como causa a cobertura das despesas de guerra do período Bush-2 e a baixa disposição a poupar por parte do consumidor americano. E na Europa está relacionada ao forte crescimento das despesas com seguridade social (welfare state).
O Brasil não pode se fiar no efeito marolinha do ano passado. Se o agravamento da crise financeira global se confirmar, os mercados para o produto brasileiro se estreitarão. E o afluxo de capitais também se reduzirá num momento em que o investimento é cada vez mais vital para garantir a expansão futura. O crescimento do PIB nacional deste ano, da ordem de 5,5% a 6,0%, pode ser considerado garantido. O problema será 2011 em diante.
CONFIRA
Moeda ameaçada
Ontem o euro atingiu sua menor cotação em 12 meses. Você tem acima a trajetória do euro diante do dólar.
Mico grego
O novo rebaixamento da dívida da Grécia deixa o Banco Central Europeu (BCE) em uma sinuca de bico. Se nas suas operações com os bancos continuar aceitando como garantia (colateral) os títulos gregos, como se fossem tão bons quanto os alemães, o BCE perderá credibilidade e essa perda de credibilidade será repassada para o valor do euro. Mas, se não aceitar, afundará de vez a Grécia, depois Portugal, Espanha...
Cavalo de Troia na Europa:: Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Mercados avaliam situação grega como pré-falimentar, crise balança Europa e chega até ao Brasil superemergente
Mercados avaliam situação grega como pré-falimentar, crise balança Europa e chega até ao Brasil superemergente
Ontem foi dia de brasileiros prestarem atenção à chatíssima crise da dívida grega. Que pode se tornar crise da dívida portuguesa, quiçá irlandesa ou espanhola. O intermitente churrasco grego serviu para impulsionar a "correção" da Bolsa. O Ibovespa fechou ontem 7,4% abaixo do pico do dia 8. A Bolsa estava carinha e, enfim, os juros vão subir, o que não é assim lá tão relevante no caso do mercado brasileiro, mas pega.
A Grécia mergulhara no vinagre na semana passada, quando pediu dinheiro ao FMI e à União Europeia. Como de hábito, as agências de classificação de risco comparecem ao campo de batalha a fim de matar os feridos. Degradaram ontem a nota de crédito do governo grego para "junk", investimento com razoável risco de levar calote. A dívida portuguesa também foi desacreditada.
Apesar de ineptas e cúmplices da bandalha que resultou na crise de 2007-09, as notas das agências são relevantes. Investidores podem ser impedidos, por motivos contratuais, de comprar títulos com nota de crédito "junk".
Se todas as maiores agências rebaixarem a Grécia para "junk", os títulos gregos não serviriam como garantia nem para negócios com o Banco Central Europeu. O problema é que bancos usam títulos gregos como garantia para empréstimos no BCE. Quando os papéis perdem valor, em tese os bancos têm de oferecer mais garantias.
O mercado passou a cobrar taxas de juros cada vez mais altas do governo grego. Cobra quase o dobro da taxa pedida para o Brasil, desde a semana passada. É a espiral da morte: o país já superendividado paga cada vez mais caro para refinanciar a dívida, que cresce mais. O rendimento dos papéis gregos ("juros") de dois anos ultrapassou bem o dos brasileiros e até os argentinos. Excetuado algum país obscuro, são agora os mais altos do mundo.
Se a Alemanha não abrir logo o cofrinho, os gregos terão de "reestruturar" a dívida (pagar mais tarde, quando puderem). Os alemães em tese bancariam 28% do empréstimo europeu à Grécia. Mas o governo alemão adia a decisão sobre a ajuda, muito impopular entre o eleitorado.
E daí?
Se a Grécia "reestrutura", dá um calote, bancos franceses e alemães, entre outros, perdem dinheiro e ficam com menos capital. Isso para não falar do medo -os seguros de crédito ficam mais caros, os juros sobem, e não apenas para os governos europeus. O caldo da economia do mundo rico pode voltar a entornar.
O novo pico da crise pode ser um faniquito do mercado. Pode não ser. Em tese, apenas a promessa de empréstimos tapa-buraco à Grécia deveria ter acalmado o ambiente. Com o dinheiro prometido por FMI e Europa, a Grécia poderia tapar buracos até o início do trimestre final do ano.
Mas rumores e palpites publicados na mídia financeira europeia dão conta de que o mercado quer um remendo de pelo menos ano e meio. O remendo também não garante o fim da novela. O governo grego precisa cortar sua despesa em pelo menos 12% do PIB até 2015. É um massacre.
A Grécia mergulhara no vinagre na semana passada, quando pediu dinheiro ao FMI e à União Europeia. Como de hábito, as agências de classificação de risco comparecem ao campo de batalha a fim de matar os feridos. Degradaram ontem a nota de crédito do governo grego para "junk", investimento com razoável risco de levar calote. A dívida portuguesa também foi desacreditada.
Apesar de ineptas e cúmplices da bandalha que resultou na crise de 2007-09, as notas das agências são relevantes. Investidores podem ser impedidos, por motivos contratuais, de comprar títulos com nota de crédito "junk".
Se todas as maiores agências rebaixarem a Grécia para "junk", os títulos gregos não serviriam como garantia nem para negócios com o Banco Central Europeu. O problema é que bancos usam títulos gregos como garantia para empréstimos no BCE. Quando os papéis perdem valor, em tese os bancos têm de oferecer mais garantias.
O mercado passou a cobrar taxas de juros cada vez mais altas do governo grego. Cobra quase o dobro da taxa pedida para o Brasil, desde a semana passada. É a espiral da morte: o país já superendividado paga cada vez mais caro para refinanciar a dívida, que cresce mais. O rendimento dos papéis gregos ("juros") de dois anos ultrapassou bem o dos brasileiros e até os argentinos. Excetuado algum país obscuro, são agora os mais altos do mundo.
Se a Alemanha não abrir logo o cofrinho, os gregos terão de "reestruturar" a dívida (pagar mais tarde, quando puderem). Os alemães em tese bancariam 28% do empréstimo europeu à Grécia. Mas o governo alemão adia a decisão sobre a ajuda, muito impopular entre o eleitorado.
E daí?
Se a Grécia "reestrutura", dá um calote, bancos franceses e alemães, entre outros, perdem dinheiro e ficam com menos capital. Isso para não falar do medo -os seguros de crédito ficam mais caros, os juros sobem, e não apenas para os governos europeus. O caldo da economia do mundo rico pode voltar a entornar.
O novo pico da crise pode ser um faniquito do mercado. Pode não ser. Em tese, apenas a promessa de empréstimos tapa-buraco à Grécia deveria ter acalmado o ambiente. Com o dinheiro prometido por FMI e Europa, a Grécia poderia tapar buracos até o início do trimestre final do ano.
Mas rumores e palpites publicados na mídia financeira europeia dão conta de que o mercado quer um remendo de pelo menos ano e meio. O remendo também não garante o fim da novela. O governo grego precisa cortar sua despesa em pelo menos 12% do PIB até 2015. É um massacre.
Virá recessão, corte de benefícios sociais e revolta, que já está nas ruas. Além do mais, os gregos vão precisar tomar empréstimos a juros de pai para filho, de modo a não voltar ao buraco. Está difícil.
Contágio grego:: Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO
A Europa está na linha de tiro. Os economistas ainda não falam que é uma crise do euro, mas já admitem que pode se tornar. O que era apenas um problema grego, ontem virou também português.
Em julho, a Espanha terá que pagar C 24 bilhões. A Itália e a Irlanda não vão nada bem. Não há mecanismo para tirar um país da zona do euro, e isso aumenta o risco de contágio.
— A Alemanha está em pleno processo eleitoral e fica difícil para o governo de Angela Merkel explicar aos eleitores a ajuda a um país que caminha para a insolvência — explicou a economista Monica Baumgarten de Bolle, da consultoria Galanto.
Essa é a razão da demora da ajuda, apesar de a Alemanha já ter anunciado que ajudará a Grécia.
A demora piora um quadro fiscal que já é dramático porque o custo da dívida aumenta. Além disso, novas revisões dos dados gregos têm piorado os indicadores.
Concretamente, a Grécia é um país que tem um déficit de 14%, uma dívida que está atingindo níveis de 130% do PIB e está em recessão. Além disso, tem uma dívida de curto prazo que fica cada dia mais cara.
— Há muita resistência por parte da Alemanha porque o ajuste fiscal que a Grécia tem que fazer para colocar as contas em ordem é muito grande. Precisa gerar um superávit primário de 9,9% do PIB para seu estoque de dívida ficar estável — conta José Márcio Camargo, da PUC-Rio e da Opus Gestão de Recursos.
Fazer o superávit necessário para que as coisas não piorem é impossível por um outro motivo, como lembra Monica.
— Mesmo que eu queira acreditar que é possível, é preciso lembrar que o país está em recessão. O governo diz que a retração será “só” de 2%. Isso já é muito, mas deve ficar bem pior.
Essa é a visão mais otimista que existe — diz.
A dívida de Portugal foi rebaixada ontem pela Standard & Poor’s, que também rebaixou a da Grécia.
O déficit público português saltou de 2,8% para 9,4% em 2009. A dívida foi a 76,8% do PIB. E o país também tem baixa capacidade de crescimento.
— A Espanha tem pagamentos vencendo em julho de C 24 bilhões de euros. O problema da Espanha não é de solvência como a Grécia, é de liquidez — diz Monica.
Ela acha que o abalo que atingiu ontem Portugal pode ser classificado como contágio. E que a Espanha também pode ser vítima de contágio se não houver uma solução a curto prazo para o problema grego. O desemprego espanhol passou dos 20% em março.
José Márcio acha que o pacote de socorro do FMI e da União Europeia terá que ser dobrado para C 90 bilhões em três anos. E lembra que a ajuda terá que ser aprovada no Congresso de cada país.
Há um fato que torna o risco de contágio maior: estão todos na mesma zona monetária e têm números fiscais igualmente horrorosos.
Em grande parte, essa piora fiscal ocorreu por causa da crise de 2008, mas já havia, desde antes da crise, um relaxamento perigoso dos parâmetros fiscais.
— Legalmente, não existe nenhum mecanismo para tirar um país da zona do euro voluntária ou involuntariamente.
Nem há previsão de situação em que o país saia, nem de que ele seja expulso — disse Monica O economista Ivo Chermont, da Modal Asset, acha que há uma saída legal, mas que, operacionalmente, ela é praticamente inviável.
— Acredito ser mais fácil o default da Grécia do que o país abandonar o euro e voltar a usar o dracma. Há uma legislação pesada por trás, não é só o Banco Central da Grécia voltar a imprimir a moeda — afirmou.
Isso sem falar no fato de que os bancos teriam ativos em dracma e o passivo continuaria em euro.
Amarrados uns aos outros os países do euro enfrentam a pior crise fiscal da sua história. E tudo é consequência da crise bancária.
A uma crise bancária sempre segue uma crise fiscal.
A Irlanda, por exemplo, tinha um bom histórico de ajuste das contas públicas e redução da dívida/PIB. Está também sob risco por causa da crise de 2008.
— Os bancos irlandeses tiveram vários problemas e seus rombos foram nacionalizados.
Isso piorou os dados fiscais — diz Monica.
A Irlanda viu o déficit praticamente dobrar de um ano para o outro: de 7,3% para 14,3%. A dívida é de 64% do PIB.
Na Inglaterra, o déficit pulou de 4,9% para 11,5%, com a dívida subindo para 51,7%.
Como uma economia forte, com uma moeda forte e só sua, a Inglaterra tem várias vantagens, mas tem uma fragilidade política se nenhum dos três partidos fizer a maioria no parlamento na eleição de maio.
E de onde poderia sair tanto dinheiro para socorrer os países mais encrencados? Mônica diz que pode ser do “New Arrangements to Borrow”, o formato de empréstimo sem condicionalidades: — O Fundo tem US$ 500 bilhões para emprestar por este mecanismo.
Provavelmente, a ajuda do FMI seria dada dentro de um processo de reestruturação das dívidas de alguns desses países.
Será a reestruturação negociada, ou eles decretarão moratória. Mais dia, menos dia.
A Europa está na linha de tiro. Os economistas ainda não falam que é uma crise do euro, mas já admitem que pode se tornar. O que era apenas um problema grego, ontem virou também português.
Em julho, a Espanha terá que pagar C 24 bilhões. A Itália e a Irlanda não vão nada bem. Não há mecanismo para tirar um país da zona do euro, e isso aumenta o risco de contágio.
— A Alemanha está em pleno processo eleitoral e fica difícil para o governo de Angela Merkel explicar aos eleitores a ajuda a um país que caminha para a insolvência — explicou a economista Monica Baumgarten de Bolle, da consultoria Galanto.
Essa é a razão da demora da ajuda, apesar de a Alemanha já ter anunciado que ajudará a Grécia.
A demora piora um quadro fiscal que já é dramático porque o custo da dívida aumenta. Além disso, novas revisões dos dados gregos têm piorado os indicadores.
Concretamente, a Grécia é um país que tem um déficit de 14%, uma dívida que está atingindo níveis de 130% do PIB e está em recessão. Além disso, tem uma dívida de curto prazo que fica cada dia mais cara.
— Há muita resistência por parte da Alemanha porque o ajuste fiscal que a Grécia tem que fazer para colocar as contas em ordem é muito grande. Precisa gerar um superávit primário de 9,9% do PIB para seu estoque de dívida ficar estável — conta José Márcio Camargo, da PUC-Rio e da Opus Gestão de Recursos.
Fazer o superávit necessário para que as coisas não piorem é impossível por um outro motivo, como lembra Monica.
— Mesmo que eu queira acreditar que é possível, é preciso lembrar que o país está em recessão. O governo diz que a retração será “só” de 2%. Isso já é muito, mas deve ficar bem pior.
Essa é a visão mais otimista que existe — diz.
A dívida de Portugal foi rebaixada ontem pela Standard & Poor’s, que também rebaixou a da Grécia.
O déficit público português saltou de 2,8% para 9,4% em 2009. A dívida foi a 76,8% do PIB. E o país também tem baixa capacidade de crescimento.
— A Espanha tem pagamentos vencendo em julho de C 24 bilhões de euros. O problema da Espanha não é de solvência como a Grécia, é de liquidez — diz Monica.
Ela acha que o abalo que atingiu ontem Portugal pode ser classificado como contágio. E que a Espanha também pode ser vítima de contágio se não houver uma solução a curto prazo para o problema grego. O desemprego espanhol passou dos 20% em março.
José Márcio acha que o pacote de socorro do FMI e da União Europeia terá que ser dobrado para C 90 bilhões em três anos. E lembra que a ajuda terá que ser aprovada no Congresso de cada país.
Há um fato que torna o risco de contágio maior: estão todos na mesma zona monetária e têm números fiscais igualmente horrorosos.
Em grande parte, essa piora fiscal ocorreu por causa da crise de 2008, mas já havia, desde antes da crise, um relaxamento perigoso dos parâmetros fiscais.
— Legalmente, não existe nenhum mecanismo para tirar um país da zona do euro voluntária ou involuntariamente.
Nem há previsão de situação em que o país saia, nem de que ele seja expulso — disse Monica O economista Ivo Chermont, da Modal Asset, acha que há uma saída legal, mas que, operacionalmente, ela é praticamente inviável.
— Acredito ser mais fácil o default da Grécia do que o país abandonar o euro e voltar a usar o dracma. Há uma legislação pesada por trás, não é só o Banco Central da Grécia voltar a imprimir a moeda — afirmou.
Isso sem falar no fato de que os bancos teriam ativos em dracma e o passivo continuaria em euro.
Amarrados uns aos outros os países do euro enfrentam a pior crise fiscal da sua história. E tudo é consequência da crise bancária.
A uma crise bancária sempre segue uma crise fiscal.
A Irlanda, por exemplo, tinha um bom histórico de ajuste das contas públicas e redução da dívida/PIB. Está também sob risco por causa da crise de 2008.
— Os bancos irlandeses tiveram vários problemas e seus rombos foram nacionalizados.
Isso piorou os dados fiscais — diz Monica.
A Irlanda viu o déficit praticamente dobrar de um ano para o outro: de 7,3% para 14,3%. A dívida é de 64% do PIB.
Na Inglaterra, o déficit pulou de 4,9% para 11,5%, com a dívida subindo para 51,7%.
Como uma economia forte, com uma moeda forte e só sua, a Inglaterra tem várias vantagens, mas tem uma fragilidade política se nenhum dos três partidos fizer a maioria no parlamento na eleição de maio.
E de onde poderia sair tanto dinheiro para socorrer os países mais encrencados? Mônica diz que pode ser do “New Arrangements to Borrow”, o formato de empréstimo sem condicionalidades: — O Fundo tem US$ 500 bilhões para emprestar por este mecanismo.
Provavelmente, a ajuda do FMI seria dada dentro de um processo de reestruturação das dívidas de alguns desses países.
Será a reestruturação negociada, ou eles decretarão moratória. Mais dia, menos dia.
Rebaixamento de Portugal e Grécia agrava crise europeia
DEU EM O GLOBO
Com temor de calote da dívida dos dois países, Bolsas caem até 6%
Diante do déficit fiscal elevado de Grécia e Portugal, e do temor de calote das suas dívidas, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou os dois países e agravou a crise europeia, derrubando os mercados globais. Os investidores temem que a crise se alastre pela Europa, impedindo a recuperação da economia mundial. As Bolsas da região registraram fortes quedas: em Paris, de 3,82%, atingindo 5,3% em Lisboa e 6% em Atenas. No Brasil, a Bovespa recuou 3,43%, aos 66.511 pontos, o menor nível em dois meses, e o dólar avançou 1,14%, para R$ 1,765. Já a Bolsa de Nova York caiu 1,9%, na maior queda em pontos desde julho de 2009. O euro também sentiu o mau humor dos investidores, e o dólar subiu 1,55% frente à moeda europeia.
Para evitar o calote, o socorro do FMI e da UE à Grécia pode chegar a C 55 bilhões.
Abalo na zona do euro
Agência rebaixa notas de Grécia e Portugal e cresce temor de que crise se espalhe na Europa. Bolsas despencam
Bruno Villas Bôas*
RIO, ATENAS, BERLIM e NOVA YORK
Com temor de calote da dívida dos dois países, Bolsas caem até 6%
Diante do déficit fiscal elevado de Grécia e Portugal, e do temor de calote das suas dívidas, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou os dois países e agravou a crise europeia, derrubando os mercados globais. Os investidores temem que a crise se alastre pela Europa, impedindo a recuperação da economia mundial. As Bolsas da região registraram fortes quedas: em Paris, de 3,82%, atingindo 5,3% em Lisboa e 6% em Atenas. No Brasil, a Bovespa recuou 3,43%, aos 66.511 pontos, o menor nível em dois meses, e o dólar avançou 1,14%, para R$ 1,765. Já a Bolsa de Nova York caiu 1,9%, na maior queda em pontos desde julho de 2009. O euro também sentiu o mau humor dos investidores, e o dólar subiu 1,55% frente à moeda europeia.
Para evitar o calote, o socorro do FMI e da UE à Grécia pode chegar a C 55 bilhões.
Abalo na zona do euro
Agência rebaixa notas de Grécia e Portugal e cresce temor de que crise se espalhe na Europa. Bolsas despencam
Bruno Villas Bôas*
RIO, ATENAS, BERLIM e NOVA YORK
A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) rebaixou ontem as notas de crédito de Grécia e Portugal, alegando fragilidade da situação fiscal dos dois países e, consequentemente, temor de calote de suas dívidas. A notícia levantou suspeitas de que a crise que os dois países enfrentam pode se alastrar pela Europa, contendo o ritmo de recuperação da economia global, o que derrubou os mercados pelo mundo. As maiores quedas entre as praças europeias foram na Bolsa de Atenas, que despencou 6%, e na de Lisboa, que caiu 5,36%. Enfraquecido, o euro também sentiu o mau humor dos investidores e, durante o dia, atingiu a menor cotação dos últimos 12 meses (US$ 1,3145). No fechamento, o dólar subiu 1,55% ante a moeda europeia.
No Brasil, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), recuou 3,43%, aos 66.511 pontos. As 63 ações que compõem o índice terminaram no vermelho, puxandoo para o menor nível em dois meses. O dólar comercial avançou 1,14%, para R$ 1,765. Já o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 1,9% e registrou a maior queda em pontos (213) desde 15 de julho de 2009. Na Europa, a Bolsa de Paris teve desempenho ainda pior, com queda de 3,82%. E o ouro subiu 0,7%, para US$ 1.162,20 a onça-troy (31,1 gramas).
— Nessa horas, os investidores saem principalmente dos papéis ligados a commodities (matérias-primas), um mercado de risco, e buscam títulos do Tesouro americano, que são mais seguros — explica Hersz Ferman, gestor da Yield Capital.
nota de sua dívida soberana de longo prazo de “BBB+” para “BB+”, rebaixando o país ao nível especulativo. É a primeira vez que um membro da zona do euro perde o grau de investimento (chancela de investimento seguro) desde que a moeda foi lançada, em 1999. A perspectiva é negativa, o que significa que a agência pode rebaixar o país novamente.
“Acreditamos que as opções políticas do governo (grego) estão se estreitando porque as perspectivas de crescimento da Grécia estão se enfraquecendo, enquanto as pressões para medidas de ajuste fiscal forte estão crescendo”, disse a S&P em relatório.
Este mês, a agência Fitch já havia rebaixado a Grécia, mas a mantivera no patamar de grau de investimento. No caso de Portugal, a S&P cortou o rating em dois graus, para “Ardquo;, mantendo o status do país de grau de investimento.
A agência também cortou a nota dos cinco principais bancos do país.
Tanto Grécia como Portugal fecharam 2009 com déficits fiscais exorbitantes, de 13,6% e 9,4% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país), respectivamente.
O teto para os membros da zona do euro é de 3% do PIB.
Como a disparidade se repete em outras nações, como Espanha (11,2%) e Irlanda (14,3%), teme-se que crises até então nacionais se transformem em uma crise regional.
— A crise da Grécia é contagiosa e saiu de controle. Isso cria dúvidas sobre outros países com uma dívida grande em relação a seu PIB. É como coco caindo da árvore — disse William Sullivan, da JVB Financial Group.
Ajuda à Grécia pode chegar a C 55 bi e economista diz que euro é testado
Com a iminência de um calote, o Fundo Monetário Internacional (FMI) já avalia elevar sua participação no pacote emergencial de ajuda à Grécia para C 25 bilhões, em vez dos C 15 bilhões anteriormente previstos, segundo o jornal “Financial Times”.
Isso elevaria o total do socorro para C 55 bilhões, já que os países da zona do euro entrariam com C 30 bilhões.
Hoje, o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, se reúne com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel. De acordo com documento do governo alemão, ao qual a agência Reuters teve acesso, já haveria até um cronograma para aprovação do pacote.
As negociações entre FMI e União Europeia (UE) seriam concluídas em 2 de maio, e o Parlamento grego votaria o plano no dia 6 ou 7 de maio. O plano seria apreciado pelos países da zona do euro no dia 10 do mesmo mês, a tempo de reforçar os cofres gregos para pagar C 8,5 bilhões em dívidas que vencem em 19 de maio. O auxílio financeiro, porém, não virá sem contrapartida: — Seria uma ilusão acreditar que alguém pode ser curado demitindo o médico que prescreve remédio amargo — disse o diretor-gerente do FMI, em referência à relutância do governo de Atenas em aceitar ajuda.
O problema é que investidores receiam que o FMI e a UE tenham que fazer um socorro em cascata e que não tenham fôlego para isso. Em análise, a agência Associated Press diz que foi o rebaixamento de Portugal — e não a perda do grau de investimento da Grécia — que reforçou o temor de que a crise vire um “cogumelo”, atingindo outras nações europeias.
Numa tentativa de acalmar o mercado, o premier grego, George Papaconstantinou, foi à TV dizer que o país “absolutamente e sem dúvida” será capaz de cumprir com suas obrigações.
Já o ministro das Finanças de Portugal, Fernando Teixeira dos Santos, afirmou que “a decisão (da S&P) só contribui para a turbulência”.
— O euro está sendo testado da mesma forma em que outras épocas padrões monetários foram testados, como foi o caso do padrão ourodólar quebrado pelos EUA nos anos 70 — afirma Sérgio Vale, economistachefe da MB Associados.
(*) Com agências internacionais
PARA ANALISTAS, BRASIL ESTÁ PREPARADO PARA ENFRENTAR TURBULÊNCIA, na página 20 ENTENDA O QUE ACONTECEU
Um rating é uma nota que as agências internacionais de classificação de risco de crédito atribuem a um emissor (país ou empresa) de acordo com sua capacidade de pagar uma dívida. Ela serve para que investidores saibam o grau de risco dos títulos que estão adquirindo. As principais agências no mundo são a Standard & Poor’s (S&P), a Fitch e a Moody’s, que levam em conta indicadores como gastos do governo e dívida externa.
Quanto melhor o rating, menor o custo do emissor ao tomar empréstimos no exterior. Ontem, a S&P rebaixou as notas de Grécia e Portugal. A Grécia, que tinha grau de investimento – dado a locais seguros para investir –, caiu três pontos, para “BB+”, o primeiro nível na categoria especulativa.
Portugal caiu dois graus, para “Ardquo; (mas ainda é grau de investimento).
Atualmente, o Brasil é grau de investimento pelas três agências
Um rating é uma nota que as agências internacionais de classificação de risco de crédito atribuem a um emissor (país ou empresa) de acordo com sua capacidade de pagar uma dívida. Ela serve para que investidores saibam o grau de risco dos títulos que estão adquirindo. As principais agências no mundo são a Standard & Poor’s (S&P), a Fitch e a Moody’s, que levam em conta indicadores como gastos do governo e dívida externa.
Quanto melhor o rating, menor o custo do emissor ao tomar empréstimos no exterior. Ontem, a S&P rebaixou as notas de Grécia e Portugal. A Grécia, que tinha grau de investimento – dado a locais seguros para investir –, caiu três pontos, para “BB+”, o primeiro nível na categoria especulativa.
Portugal caiu dois graus, para “Ardquo; (mas ainda é grau de investimento).
Atualmente, o Brasil é grau de investimento pelas três agências
Parabéns Rosemberg: Mestre em Saúde Coletiva
Na segunda-feira passada, o Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro concedeu o titulo de Mestre ao amigo Rosemberg Pinheiro.
Titulo da tese: Custo baseado em atividade(ABC) aplicado no diagnostico da tuberculose na AP.33 do município do Rio de Janeiro
Trata-se de estudo da aplicação do método de Custeio Baseado em Atividades (ABC), junto aos setores de Radiologia e Baciloscopia das Unidades de Saúde que compõem a Área de Planejamento 3.3 do município do Rio de Janeiro, responsáveis pelo diagnostico da Tuberculose. Com o propósito de quantificar o custo por atividade dos exames radiológicos e das basiloscopias diretas para o escarro – BAAR, realizados na AP 3.3.
Titulo da tese: Custo baseado em atividade(ABC) aplicado no diagnostico da tuberculose na AP.33 do município do Rio de Janeiro
Trata-se de estudo da aplicação do método de Custeio Baseado em Atividades (ABC), junto aos setores de Radiologia e Baciloscopia das Unidades de Saúde que compõem a Área de Planejamento 3.3 do município do Rio de Janeiro, responsáveis pelo diagnostico da Tuberculose. Com o propósito de quantificar o custo por atividade dos exames radiológicos e das basiloscopias diretas para o escarro – BAAR, realizados na AP 3.3.
"La posición de España sobre Cuba y Venezuela es cínica"
ENTREVISTA: Jorge Castañeda ex canciller mexicano
Verónica Calderón / El País
Martes, 27 de abril de 2010
México tiene una política exterior "inexistente" y la postura de España sobre Cuba es "cínica".
El ex canciller mexicano Jorge G. Castañeda (Ciudad de México, 1953), que participó el miércoles en la Conferencia de Relaciones Internacionales UE-EE UU-América Latina en Madrid, opina que el Gobierno de Felipe Calderón "nunca" tuvo una estrategia en la lucha contra el narcotráfico. "En Ciudad Juárez hay más violencia que nunca. La decisión de sacar al Ejército es lo que se debió de haber hecho desde un principio".
"México no ha perdido liderazgo en América Latina. Nunca lo tuvo"
Pregunta. El FBI dijo la semana pasada que el cartel de Sinaloa ha ganado el control de Juárez, la mayor vía de entrada de narcóticos a EE UU. The Economist publicó en enero que de los más de 50.000 arrestos vinculados al crimen organizado realizados en México, sólo 941 corresponden a esta organización. ¿Tiene México una estrategia contra el narco?
Respuesta. Nunca la ha tenido. No creo las versiones que afirman que existe un pacto entre el Gobierno y el cartel de Sinaloa. Lo que pasa es que el presidente Calderón ha tomado decisiones sobre la marcha. Algunas han sido más atinadas que otras. El Gobierno reconoce que han muerto 22.700 personas desde que Calderón tomó el poder. El deterioro de la imagen de México es inmenso.
P. ¿Cuál es la política exterior de Calderón?
R. Inexistente. Su posición sobre Cuba y Venezuela, de llevar la fiesta en paz sin opinar al respecto, es muy desafortunada.
P. ¿Y su opinión sobre la política exterior española?
R. La postura del Gobierno español con Cuba y Venezuela es vergonzosa, cínica, oportunista, indigna de un país como España y de un Gobierno socialista. Es anteponer los intereses mercantiles más mezquinos. Las posturas de los países no se miden con resultados, sino con la congruencia con los valores que cada país tiene.
P. A 10 años de que el PRI dejara el poder, ¿la democracia en México se ha consolidado?
R. Sí, por primera vez en la historia del país el poder se gana y se pierde en las urnas. Eso no se había logrado hasta ahora.
P. ¿Y si vuelve a la presidencia en las próximas elecciones, en 2012?
R. No estoy tan seguro como otros de que el PRI volverá. Pero aunque volviera, no es un riesgo para la democracia en el país.
P. ¿Cuáles son los retos pendientes?
R. El Estado de derecho en México es muy imperfecto. Los monopolios que controlan los poderes fácticos del país son más fuertes que nunca, permanecen las mismas instituciones que cuando estaba el PRI. El gran defecto de la democracia mexicana es su parálisis. La iniciativa de reforma que Calderón envió en diciembre es esperanzadora, pero no ha pasado nada.
P. ¿México ha perdido liderazgo en América Latina?
R. Es una falacia. México nunca tuvo liderazgo en la región. Las posiciones que le dieron prestigio, las condenas a los golpes de Estado, la decisión de no romper relaciones con Cuba, son posiciones que asumió solo, sin que le siguieran otros Gobiernos.
P. ¿Brasil sí cumple con ese papel?
R. No es comparable. Aunque no me parece que la discusión sobre quién tiene liderazgo o no sea útil.
P. La discusión viene a cuento por la supuesta relevancia de la región como economía emergente.
R. Son exageraciones que reflejan optimismo, qué bueno que lo haya, pero yo no exageraría. En realidad la región tiene menor peso en el mundo que el que tenía hace unos años.
Verónica Calderón / El País
Martes, 27 de abril de 2010
México tiene una política exterior "inexistente" y la postura de España sobre Cuba es "cínica".
El ex canciller mexicano Jorge G. Castañeda (Ciudad de México, 1953), que participó el miércoles en la Conferencia de Relaciones Internacionales UE-EE UU-América Latina en Madrid, opina que el Gobierno de Felipe Calderón "nunca" tuvo una estrategia en la lucha contra el narcotráfico. "En Ciudad Juárez hay más violencia que nunca. La decisión de sacar al Ejército es lo que se debió de haber hecho desde un principio".
"México no ha perdido liderazgo en América Latina. Nunca lo tuvo"
Pregunta. El FBI dijo la semana pasada que el cartel de Sinaloa ha ganado el control de Juárez, la mayor vía de entrada de narcóticos a EE UU. The Economist publicó en enero que de los más de 50.000 arrestos vinculados al crimen organizado realizados en México, sólo 941 corresponden a esta organización. ¿Tiene México una estrategia contra el narco?
Respuesta. Nunca la ha tenido. No creo las versiones que afirman que existe un pacto entre el Gobierno y el cartel de Sinaloa. Lo que pasa es que el presidente Calderón ha tomado decisiones sobre la marcha. Algunas han sido más atinadas que otras. El Gobierno reconoce que han muerto 22.700 personas desde que Calderón tomó el poder. El deterioro de la imagen de México es inmenso.
P. ¿Cuál es la política exterior de Calderón?
R. Inexistente. Su posición sobre Cuba y Venezuela, de llevar la fiesta en paz sin opinar al respecto, es muy desafortunada.
P. ¿Y su opinión sobre la política exterior española?
R. La postura del Gobierno español con Cuba y Venezuela es vergonzosa, cínica, oportunista, indigna de un país como España y de un Gobierno socialista. Es anteponer los intereses mercantiles más mezquinos. Las posturas de los países no se miden con resultados, sino con la congruencia con los valores que cada país tiene.
P. A 10 años de que el PRI dejara el poder, ¿la democracia en México se ha consolidado?
R. Sí, por primera vez en la historia del país el poder se gana y se pierde en las urnas. Eso no se había logrado hasta ahora.
P. ¿Y si vuelve a la presidencia en las próximas elecciones, en 2012?
R. No estoy tan seguro como otros de que el PRI volverá. Pero aunque volviera, no es un riesgo para la democracia en el país.
P. ¿Cuáles son los retos pendientes?
R. El Estado de derecho en México es muy imperfecto. Los monopolios que controlan los poderes fácticos del país son más fuertes que nunca, permanecen las mismas instituciones que cuando estaba el PRI. El gran defecto de la democracia mexicana es su parálisis. La iniciativa de reforma que Calderón envió en diciembre es esperanzadora, pero no ha pasado nada.
P. ¿México ha perdido liderazgo en América Latina?
R. Es una falacia. México nunca tuvo liderazgo en la región. Las posiciones que le dieron prestigio, las condenas a los golpes de Estado, la decisión de no romper relaciones con Cuba, son posiciones que asumió solo, sin que le siguieran otros Gobiernos.
P. ¿Brasil sí cumple con ese papel?
R. No es comparable. Aunque no me parece que la discusión sobre quién tiene liderazgo o no sea útil.
P. La discusión viene a cuento por la supuesta relevancia de la región como economía emergente.
R. Son exageraciones que reflejan optimismo, qué bueno que lo haya, pero yo no exageraría. En realidad la región tiene menor peso en el mundo que el que tenía hace unos años.
Caras Sujas::Afonso Schmidt
Ao longo destas avenidas,
recordação de velhas lendas,
cantam as chácaras floridas
com suas líricas vivendas.
Lá dentro, há risos, jogos, danças,
crástinas, módulas fanfarras,
um pandemônio de crianças,
um zangarreio de cigarras.
Fora, penduram-se na grade
os pobres, como gafanhotos;
têm dos outros a mesma idade.
mas estão pálidos e rotos.
Chora a injustiça da cidade
na cara suja dos garotos.
Publicado no livro Janelas abertas (1911).
recordação de velhas lendas,
cantam as chácaras floridas
com suas líricas vivendas.
Lá dentro, há risos, jogos, danças,
crástinas, módulas fanfarras,
um pandemônio de crianças,
um zangarreio de cigarras.
Fora, penduram-se na grade
os pobres, como gafanhotos;
têm dos outros a mesma idade.
mas estão pálidos e rotos.
Chora a injustiça da cidade
na cara suja dos garotos.
Publicado no livro Janelas abertas (1911).
In: SCHMIDT, Afonso. Poesia. Ed. definitiva. São Paulo: Ed. Nacional, 194
Quem é:
Afonso Frederico Schmidt (nasceu em Cubatão/SP, 29 de junho de 1890 e faleceu em 3 de abril de 1964), mais conhecido como Afonso Schmidt, foi um jornalista, contista, romancista, poeta, dramaturgo e ativista político brasileiro.
Em Cubatão fundou o jornal Vésper, e na cidade de São Paulo fez parte da redação dos importantes periódicos libertários, A Plebe e A Lanterna, ao lado de figuras lendárias do movimento anarquista brasileiro como Edgard Leuenroth e Oreste Ristori. Ocupou ainda posições na redação dos jornais Folha e O Estado de São Paulo. Na cidade do Rio de Janeiro, fundou o jornal Voz do Povo, que a seu tempo tornou-se o órgão de imprensa da Federação Operária.
Foi diversas vezes preso por expressar o que pensava. Ganhou destaque também pelas diversas campanhas que realizou contra o facismo através de panfletos ou de livros, peças teatrais e artigos de jornais. Escrevendo intensamente por toda sua vida, foi autor de uma vasta obra poética e literária reunida em mais de quarenta livros. Envereda por crônicas históricas, e fantasia, sendo também um pioneiro da ficção científica no Brasil.
Recebeu o Troféu Juca Pato, prêmio Intelectual do Ano, em 1963, concedido pela União Brasileira de Escritores
Em Cubatão fundou o jornal Vésper, e na cidade de São Paulo fez parte da redação dos importantes periódicos libertários, A Plebe e A Lanterna, ao lado de figuras lendárias do movimento anarquista brasileiro como Edgard Leuenroth e Oreste Ristori. Ocupou ainda posições na redação dos jornais Folha e O Estado de São Paulo. Na cidade do Rio de Janeiro, fundou o jornal Voz do Povo, que a seu tempo tornou-se o órgão de imprensa da Federação Operária.
Foi diversas vezes preso por expressar o que pensava. Ganhou destaque também pelas diversas campanhas que realizou contra o facismo através de panfletos ou de livros, peças teatrais e artigos de jornais. Escrevendo intensamente por toda sua vida, foi autor de uma vasta obra poética e literária reunida em mais de quarenta livros. Envereda por crônicas históricas, e fantasia, sendo também um pioneiro da ficção científica no Brasil.
Recebeu o Troféu Juca Pato, prêmio Intelectual do Ano, em 1963, concedido pela União Brasileira de Escritores
Assinar:
Postagens (Atom)