Carlos José Marques, Débora Bergamasco, Mário Simas Filho, Sérgio Pardellas – Revista IstoÉ
Em sua primeira entrevista como presidente da República, antes de embarcar para o encontro dos países integrantes do G20 na China na quarta-feira 31, Michel Temer falou com exclusividade à ISTOÉ no Palácio do Planalto. Plácido, Temer discorreu durante quase duas horas sobre os projetos e planos para os próximos dois anos e quatro meses de governo. Na entrevista, ele prometeu priorizar o ajuste fiscal, votar a reforma da Previdência, trabalhar para acabar com a divisão entre os brasileiros e entregar ao sucessor, em 2018, um País com as contas em ordem. “Prometo aquilo que os pés no chão admitem. Nada mirabolante”, afirmou. Ciente dos enormes desafios que terá de vencer a fim de recolocar o País nos trilhos, Temer não se furtou em abordar, na conversa com ISTOÉ, mesmo os mais delicados temas como a relação com o PSDB, a sucessão presidencial, o fim da reeleição, o qual disse apoiar, e as denúncias da Lava Jato envolvendo o seu nome. Ao fim, confessou uma angústia espiritual: “Que o povo dissesse, daqui a dois anos: ‘esse Michel Temer deu um jeito no País’ ”.
“É um absurdo dizer que vou parar a Lava Jato. Sob o comando de Sérgio Moro, ela fez um papel muito adequado, correto e não pode sofrer nenhuma restrição”
“O maior obstáculo para colocar o País nos trilhos é o desemprego. Para combatê-lo você não pode ter preconceito com a iniciativa privada”
Não adianta o aposentado, daqui a dez ou quinze anos, ir ao banco ou ao poder público e não haver dinheiro para paga
“Há 22 candidatos à Presidência, porque você sabe que todos os ministros aspiram ao Planalto. (Henrique) Meirelles e (José) Serra têm mais história. Só isso”
• O que muda no governo a partir de agora que o sr. assume como presidente efetivo e qual será a sua prioridade número um?
Para mim não altera. O interinato não impediu que já tomássemos medidas importantes para o Brasil. Mas muda para terceiros o fenômeno da autoridade. As pessoas dizem ‘agora é para valer’. E como é para valer facilita as coisas. E facilita para questões difíceis, como a aprovação do teto para os gastos públicos. Não é um tema fácil, mas há uma decisão do Congresso de colaborar. A prioridade é o ajuste fiscal. E todos querem que dê certo. O Congresso, o Judiciário, a sociedade. E isso ajuda muito a todos nós. Sei que haverá oposição, por exemplo, à reforma da Previdência. Mas acho que é tramitável. Vamos até promover esclarecimentos públicos, por meio de revistas, jornais, televisão, mostrando que quando nós fazemos uma reforma da Previdência é para garantir os pagamentos daqui a alguns anos. Não adianta o aposentado, daqui a dez ou quinze anos, ir ao banco ou ao poder público e não haver dinheiro para pagar. Acho que isso é de fácil compreensão nos dias atuais. O déficit desse ano é de R$ 130 bilhões. Do próximo ano será de R$ 180 bilhões. Ou seja, será fácil entender que daqui a quatro ou cinco anos esse sistema não se sustentará.