• Líder tucano diz que não se faz política com ‘bola nas costas’, ao citar fatiamento
Júnia Gama e Cristiane Jungblut - O Globo
-BRASÍLIA- A decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, apoiada por parte do PMDB, de aceitar o fatiamento da pena de Dilma Rousseff gerou polêmica na base do governo Temer. Senadores de PSDB e DEM denunciaram um “acordão” entre PT e PMDB, liderado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Alguns senadores da base destacaram o fato de Lewandowski ter chegado à sessão do julgamento de Dilma com uma longa resposta à questão de ordem apresentada quarta-feira, dia do julgamento final de Dilma, pela defesa da petista.
— Não foi de improviso. O ministro estava muito bem preparado para dar aquela resposta — afirmou um senador.
Interlocutores de Renan contam que ele foi informado por Lewandowski da decisão na noite anterior ao julgamento final, na sessão de discursos dos senadores. Ao ser comunicado por Lewandowski, Renan se reuniu com o líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), a quem revelou a decisão.
Segundo relatos, Eunício, que se absteve na votação sobre a inabilitação de Dilma, apoiou a decisão de Lewandowski.
O fato de Renan ter posto em pauta, naquele mesmo dia, a votação do aumento salarial para ministros do STF gerou suspeitas de que haveria um acordo entre ele e Lewandowski: em troca do apoio ao fatiamento da pena de Dilma, Renan pautaria o reajuste.
A votação do reajuste não ocorreu, já que PSDB e DEM foram contra a discussão. A previsão é que em 8 de setembro o tema volte ao plenário. Mas PSDB e DEM prometem dificultar sua aprovação.
Líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) disse que os líderes do PMDB e do PT terão que explicar o “acordão” e que mantém “apoio crítico” ao governo Temer.
— É importante que o governo Temer não desvie da sua rota — disse Caiado.
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse que conversará com Renan, na volta de sua viagem à China:
— É algo que vamos superar, mas não nos deixe feliz. Não se faz política com bola nas costas — afirmou.