Auxílio
emergencial é uma gota no oceano de desigualdade que a pandemia deixará
O
governo federal pagou cerca de R$ 300 bilhões a 70 milhões de pessoas, no ano
passado, na forma de auxílio emergencial, que simplesmente deixou de existir
com a virada do ano. As dificuldades financeiras, infelizmente, continuam
tirando o sono de milhares de famílias em nosso país. Conhecendo a situação em
que vivem milhões de brasileiros, creio que não nos podemos contentar com
auxílio simplesmente emergencial. A parcela de nossos concidadãos destituída de
recursos para sobreviver precisa de apoio permanente, o que exige um novo
regime social.
O
Executivo não se mostra interessado em aprovar o Orçamento e já articula com o
Congresso um auxílio emergencial em troca de pequenas medidas de ajuste fiscal.
É um erro. Deve-se aprovar o Orçamento, condicionando eventual auxílio
emergencial à adoção de uma nova ordem social no País. Basta ouvir a voz dos
que sofrem para chegar a essa conclusão.
Mesmo
tardiamente, as lideranças políticas no País devem começar a refletir sobre a
enorme tristeza que passa pela alma de quem não tem dinheiro para alimentar
adequadamente a sua família. Difícil imaginar quão sufocante e angustiante deve
ser para as famílias, especialmente para as mães, saber que seus filhos não
terão condições de estudar e sonhar com um futuro melhor. Sabemos que a
educação é o único instrumento que pode romper o ciclo da pobreza de várias
gerações.
A
pandemia piorou ainda mais essa situação. Com o vírus à solta, as pessoas
perderam renda e empregos. As crianças ficaram fora da escola. Muitas não têm
para onde ir e ficam nas ruas.
Nesse contexto, o que se discute em Brasília? A concessão de uma nova rodada de socorro emergencial de, no máximo, seis meses. O benefício, por ser temporário e sem nenhuma vinculação com outras políticas públicas, devolverá as pessoas à situação de pobreza. Todos conhecemos isso e os beneficiários, mais que todos. O auxílio não é mais que um paliativo de curtíssimo prazo. Não oferece perspectiva alguma de mudança em médio e longo prazos, leva essas famílias a viverem em constante estado de tensão, percebendo que as autoridades propõem apenas uma migalha, sem dúvida necessária, mas temporária.