sábado, 18 de março de 2017

Opinião do dia - Alain Touraine

"É preciso reconstruir a esquerda em torno dos direitos culturais. Respeito ético e democrático, respeito ao multiculturalismo e às religiões",


*Alain Touraine é um sociólogo francês. Valor Econômico, 17/3/2017

Cármen Lúcia defende reforma política via plebiscito ou referendo

Para presidente do STF, esse tipo de matéria precisa ser esclarecida ao povo, a quem caberia escolher o modelo ideal

- O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, defendeu nesta sexta-feira, 17, em entrevista à rádio CBN, a realização de um referendo ou plebiscito para definir pontos da reforma política. Para Cármen, esse tipo de matéria precisa ser esclarecida ao povo, a quem caberia escolher o modelo ideal.

O comentário da presidente do STF ocorre em meio às movimentações do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de aprovar uma reforma política com alterações no sistema eleitoral que permitam que deputados passem a ser eleitos por meio de lista fechada.

O presidente Michel Temer se reuniu na última quarta-feira, 15, com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, e com Maia e Eunício para tratar de uma reforma no sistema político-eleitoral.

“O sistema brasileiro precisa mesmo ser repensado, não tenho dúvida nenhuma. Mas a lista fechada e o financiamento fazem com que haja provavelmente pessoas que vão arvorar-se quase como donos, proprietários de partidos”, disse Cármen, ao ser questionada sobre a lista de candidatos e o financiamento público.

Caixa 2 é crime eleitoral, diz Cármen Lúcia

No 3º aniversário da Lava-Jato, a presidente do STF, Cármen Lúcia, disse que caixa 2 é crime e criticou o debate sobre anistia: “Não existe essa história de caixa 1, caixa 2 ou caixa 3. Se vier de dinheiro ilícito, está previsto na legislação penal.” Procuradores alertaram para “órgãos que tentam impedir” a operação.

Nos três anos, a luz de alerta

Em meio a tentativas de anistia a caixa 2 e reforma eleitoral, MP e ministros do STF reagem

Amanda Audi | O Globo

-RIO E CURITIBA- No terceiro aniversário da operação que abalou o país, o cenário é de alerta máximo. Enquanto políticos buscam anistiar crimes apontados pela Lava-Jato e mudar as regras do jogo eleitoral, a reação da força-tarefa foi uníssona, em Curitiba, e mostrou os riscos das ações que estão sendo discutidas no Congresso. No Rio para participar do fórum “E agora, Brasil?”, promovido pelo GLOBO em parceria com a Confederação Nacional do Comércio (CNC), a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, voltou a criticar os fundamentos de um possível acordão para livrar investigados de crimes eleitorais:

— Não existe essa história de caixa 1, ou caixa 2, ou caixa 3. Se vier de dinheiro ilícito, constitui-se em ilícitos previstos na legislação penal. E tudo que for ilícito e crime tem de ser apurado e punido.

Em entrevista coletiva para marcar os três anos da Lava-Jato ontem, em Curitiba, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse que a operação “chegou a um momento de culminância” e alertou sobre “órgãos que tentam impedi-la”. Segundo o procurador, “há tentativas de derrubar a Lava-Jato”, e a população precisa ficar atenta a isso.

Reforma política tem resistência e deve atingir só financiamento

Deputados demonstram ceticismo sobre mudanças de regras eleitorais

Júnia Gama e Catarina Alencastro | O Globo

-BRASÍLIA- A intensa movimentação das últimas semanas em prol de uma reforma política, que envolveu até o Palácio do Planalto, pode acabar sem produzir efeitos concretos no que depender da Câmara. Embora muitos deputados digam publicamente que a reforma é necessária, nos bastidores, predomina o ceticismo sobre a viabilidade de aprovação de uma mudança consistente no modelo eleitoral.

Líder do PSDB, segundo maior partido da base aliada, o deputado Ricardo Trípoli (SP) é direto ao externar sua convicção de que a alteração proposta no sistema eleitoral não deve sair. Ele lembra que, em maio de 2015, a Câmara rejeitou projeto que previa a instituição de listas fechadas de candidatos.

— Tudo o que começa rápido demais termina depressa também. Essa discussão não pode ocorrer de forma açodada. Acho que lista fechada é um absurdo. E temos de lembrar que, há não muito tempo, o Congresso já rejeitou essa iniciativa — pontua.

O consenso sobre a necessidade de haver uma reforma é apenas sobre um aspecto pragmático: com a proibição da doação empresarial para campanhas e os debates sobre anistia ao caixa 2, a maioria dos políticos defende que haja regras claras sobre o financiamento. É crescente a adesão ao financiamento público, algo que, antes da operação Lava-Jato, tinha pouca popularidade.

Veja como funciona o financiamento de campanha em outros países

Cúpula do PMDB debate, com apoio de ministros do TSE, mudanças na forma de financiamento das campanhas eleitores para as próximas eleições

Elisa Clavery |O Estado de S.Paulo

No momento em que a cúpula do PMDB, com apoio de ministros do Tribunal Superior Eleitoral, debate mudanças na forma de financiamento das campanhas eleitorais, o Estado apresenta um levantamento de como funciona o mecanismo em outros países, com base no estudo feito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2016. As doações empresariais estão proibidas desde as últimas eleições no País, o que tem gerado crítica da classe política.

O silêncio de Temer sobre Dilma

Jorge Bastos Moreno |- O Globo

Michel Temer foi surpreendido pelas críticas pesadas da ex-presidente Dilma Roussef a ele no “Valor” no exato momento em que amigos em comum constroem uma estrada para uma conversa institucional com Lula. Por isso, a leitura do presidente e de seus principais ministros é a de que, ciente dessas tratativas, Dilma quer tentar inviabilizar o diálogo, cutucando e esperando uma reação dele. Se essa conversa acontecer, ela poderá interessar ao governo e à oposição, dependendo dos temas, menos à ex-presidente deposta, que ficaria politicamente mais isolada do que já está.

Com exceção de Moreira Franco, o mais atingido pela entrevista da Dilma, o Palácio silenciou-se diante das críticas a Temer. E o faz também porque o presidente da República entende que, pela liturgia do seu cargo, não se deve responder a ninguém nesse mesmo tom, muito menos a uma mulher. E, se não pode, o melhor é ficar calado. É o que ele acha.

Dúvida
O fato de não responder a Dilma não impede ouvir comentários sobre as críticas da ex-presidente, na intimidade do governo, principalmente de Moreira Franco, o mais atingido. Disse-lhe o ministro:

— A sorte nossa é que ela não nos criticou em francês.

— Nossa ou dela?

Proposta de reforma da Previdência tem 164 emendas na Câmara

Praticamente três quartos das sugestões de mudanças são de autoria de parlamentares do bloco governista

Eduardo Rodrigues | O Estado de S.Paulo

Pouco adiantou os apelos do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para que os deputados da base do governo preservem o texto original da reforma da Previdência, que, segundo ele, se tornaria inócua com muitas alterações. Após o encerramento do novo prazo para a apresentação de emendas à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 287, praticamente três quartos das 164 sugestões de mudanças de artigos na reforma são de autoria de parlamentares do bloco governista - 120, contra 44 da oposição.

O período adicional para que os deputados apresentassem emendas à Reforma da Previdência pouco mudou a quantidade de propostas. O prazo acabou às 18h30 de hoje e apenas 18 novas emendas foram protocoladas desde a última quarta-feira, somando-se às 146 proposições registradas dentro do primeiro prazo, que acabou ainda na noite de terça-feira (14). E o teor das novas sugestões à PEC é parecido com as já apresentadas anteriormente.

Os exageros da Reforma da Previdência e o que é necessário mudar já !

O regime ideal será aquele que conseguir unificar o teto pago a todos os aposentados no país.

Marta Gueller – O Estado de S. Paulo

A reforma proposta pelo governo merece reparos porque não é isonômica para com todos os trabalhadores e por confundir previdência com assistência.

O regime ideal será aquele que conseguir unificar o teto pago a todos os aposentados no país, respeitados os direitos adquiridos, a coisa julgada e o ato jurídico perfeito.

A filantropia tem papel importante na sociedade, sendo alternativa do Estado para qualificar pessoas hipossuficientes, enquanto o benefício assistencial, tratado no art 203, da Constituição Federal foi uma conquista social pois tira da linha de pobreza os deficientes e idosos, com 65 anos ou mais, cujas famílias não possam suprir suas necessidades. 

Certamente acabar com a imunidade das filantrópicas, por se julgarem incompetentes em fiscalizá-las, desvincular os benefícios assistenciais do salário mínimo e aumentar o requisito etário para 75 anos só nos afastará do objetivo da seguridade social de distribuição de riqueza e erradicação da pobreza.

A fixação de idade mínima de 65 anos para homens e mulheres é exagero para a realidade atual. Seria suficiente acabar com a aposentadoria por tempo de contribuição, deixando a aposentadoria por idade, aos 60 anos para as mulheres e aos 65 anos para os homens, como já é hoje, porém com aumento do período mínimo de contribuição, dos atuais 15 anos, para 25 anos.

Vedar a acumulação de recebimento de aposentadoria e pensão também não está correto, pois houve contribuição para a previdência para cobertura de ambos e nem sempre um benefício só é suficiente para a sobrevivência digna do segurado. Isso porque a maioria dos benefícios está na faixa de 1 a 3 salários mínimos e, com o tempo, perdem o poder de compra.

A forma de cálculo proposta pela Reforma pode ou não ser benéfica para o trabalhador, dependendo da situação.

'Brasil já passou por pior momento e deve contribuir para crescimento mundial', diz The Economist

A reportagem destaca que o PIB brasileiro está encolhendo há oito trimestres, mas o ambiente começou a mudar: as expectativas de inflação estão em queda e os juros também estão sendo reduzidos

Altamiro Silva Junior | O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O pior já passou para as economias do Brasil e da Rússia. Depois de mergulharem em forte recessão, dois dos maiores países emergentes do mundo devem voltar a crescer em 2017 e contribuir para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, avalia a revista inglesa The Economist em sua matéria de capa desta semana, que fala da surpresa com a recuperação da economia mundial.

Na capa da publicação, sete balões com as bandeiras das maiores economias do mundo sobem rumo ao céu, incluindo um com a do Brasil e outro com a da zona do euro. O balão que voa mais alto é o do Estados Unidos.

Esquerda despedaçada

Para sociólogo Alain Touraine, é preciso reconstruir a esquerda em torno dos direitos culturais, respeito ético, democrático e multicultural

Helena Celestino | Valor Econômico | Eu & Fim de Semana

RIO Existe esquerda sem utopia? A pergunta perpassou a campanha eleitoral holandesa e continua a ser repetida com insistência nessa turbulenta temporada pré-eleitoral da França e em outros países europeus com eleições marcadas para 2017, o ano de todos os perigos para a Europa.

Por esquecer que sonhar com um mundo melhor é preciso, a social-democracia vive a sua pior crise, evidenciada na derrota em 13 das 19 eleições, a última delas nesta semana na Holanda, na qual a esquerda limitou-se a um papel de figurante praticamente sem "fala" durante a ferrenha disputa entre o líder da extrema direita, o xenófobo Geert Wilders (chefe do Partido da Liberdade), e o primeiro-ministro conservador, o otimista Mark Rutte (Partido Popular para a Liberdade e a Democracia), nessa renovação do Parlamento, crucial para começar a desenhar a nova cara da União Europeia.

Num país que sempre se viu como tolerante e progressista, com desemprego baixo e renda média acima do Reino Unido, o Partido Trabalhista da Holanda flerta com a irrelevância, amargando a evidência de que o tradicional apoio da classe trabalhadora migrou para partidos mais acolhedores ao sentimento de inquietude do eleitorado, sejam eles da esquerda ainda comprometida com a transformação social ou do nacionalismo da extrema-direita.

A República refém - Cristovam Buarque

- O Globo

Cada grupo tenta tirar o máximo da economia

A Fundação Joaquim Nabuco realizou um seminário sobre o Segundo Centenário da Revolução de 1817 em Pernambuco. Durante os 75 dias, o Brasil foi uma República; cinco anos antes da Independência, quase 70 anos antes de adotarmos a República hoje sequestrada.

Sequestrada pelo corporativismo que divide a sociedade: cada grupo e classe social tentando abocanhar o máximo do produto da economia, sem um sentimento comum, sem respeito aos demais segmentos, sem um destino coletivo que empolgue o conjunto da sociedade, aprisionando o país ao seu presente, formando uma República sem coesão social e sem rumo histórico. Refém de associações de classe e sindicatos.

Qual reforma política? - José Álvaro Moisés*

- O Estado de S. Paulo

Eleitores precisam se envolver e acompanhar as mudanças, sob pena de serem enganados

O sistema político brasileiro precisa ser urgentemente reformado. O modelo de financiamento de campanhas eleitorais vigente até há pouco, baseado principalmente na participação de empresas privadas, alimentou a corrupção, degradou o sistema e desequilibrou a competição eleitoral. Agora, sob o impacto das revelações da Operação Lava Jato, a urgência se reatualizou, pois o modelo de financiamento não está resolvido. Mas o momento é adequado para a reforma? Ela não será feita sob a égide do instinto de autodefesa dos citados em delações da Odebrecht e outras empresas que corromperam a Petrobrás?

O risco é evidente. As recentes articulações do presidente Michel Temer com o ministro Gilmar Mendes, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e os presidentes Eunício Oliveira, do Senado, e Rodrigo Maia, da Câmara dos Deputados – os últimos dois incluídos nas delações –, iniciadas por ocasião do envio da segunda lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF), suscitaram dúvidas extremamente preocupantes. Os Poderes da República precisam, sem dúvida, interagir e se entender para tirar o País da crise. Mas sobre isso, por que esses atores não agiram antes? Por que deixaram sem resposta os clamores da sociedade, que, desde 2013, sinalizou a sua insatisfação, se não com a democracia, com os governos do dia e com o funcionamento das instituições de representação?

Pontos coincidentes - Merval Pereira

- O Globo

Não foi mera coincidência. Ontem, quase ao mesmo tempo, embora separados geograficamente, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, e os procuradores da Lava-Jato em Curitiba deram entrevistas onde os pontos de vista comuns sobre as questões nacionais podem ser constatados.

Os procuradores fizeram um balanço dos três anos da Operação Lava-Jato, e a ministra Cármen Lúcia participou, no Rio, de uma sabatina organizada pelo GLOBO, onde abordou os principais temas nacionais. Sobre o foro privilegiado, disse a ministra Cármen Lúcia: “É preciso que se saiba o que fazer e como fazer. Tem que ser discutido, não pode ficar como está. Isso (o foro) quebra a igualdade em alguns casos de maneira flagrante”.

Disse o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava-Jato em Curitiba: “Amplitude do foro privilegiado no Brasil quebra os princípios de igualdade e de República.”

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima foi contundente nos seus comentários sobre a possível aprovação pelo Congresso de uma anistia ao caixa 2: “O que eles querem anistiar não é caixa dois. Querem anistiar corrupção e lavagem de dinheiro. Pretendem anistiar o coração da Lava-Jato. E se anistiarem, a Lava-Jato vai acabar”.

Credibilidade em falta - João Domingos

- O Estado de S. Paulo

Reforma política é mais do que necessária. O momento é que é ruim

De uma realidade é muito difícil fugir: sem credibilidade por parte de quem se propõe a fazer algo, qualquer coisa, por mais bem feita que seja, não conseguirá dissipar a suspeita de que é defeituosa.

Por isso mesmo, antes até que o texto seja conhecido, a proposta de reforma política que o Congresso pensa em levar para frente já é tida como um aleijão, uma tentativa de fugir da Lava Jato, de anistiar caixas 1 e 2 e quantos mais houver.

“O Congresso terá muito desgaste se insistir nessa tecla. O poder do Legislativo não é ilimitado, é submetido à moralidade”, advertiu o ex-juiz Marlon Reis, um dos criadores da Lei da Ficha Limpa.

“O que eles querem anistiar não é caixa 2. Querem anistiar corrupção e lavagem de dinheiro. Pretendem anistiar o coração da Lava Jato. E, se anistiarem, a Lava Jato vai acabar”, reagiu o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos coordenadores da Lava Jato.

Elogio do comedimento - Bolívar Lamounier*

- O Estado de S. Paulo

Última ‘manifestação’ teve como objetivo demonstrar força bruta. Um ato de violência

Por décadas e décadas, o Brasil cresceu economicamente mais pela incorporação de mão de obra que mediante ganhos expressivos de produtividade, e avançou na construção da democracia mais pela “força das coisas” que pela ação conjugada de verdadeiros democratas.

Essas duas constatações me têm levado a martelar dois argumentos que considero essenciais para o bom entendimento da presente crise e de nossas perspectivas num horizonte de dez a vinte anos.

Na economia, ninguém ignora que estamos atolados na “herança maldita” de Lula e Dilma, agravada por uma obtusidade ideológica crônica, só comparável à de nossos vizinhos de fala espanhola. A combinação desses dois fatores poderá levar-nos a uma síndrome destrutiva generalizada, como a que Frederico Fellini pintou com extraordinária beleza em seu filme Ensaio de Orquestra.

O irrealismo com que visualizamos nosso futuro como país chega a ser comovente. Os primeiros sinais de recuperação econômica já nos aliviam, e logo reativarão nosso penchant panglossiano. O controle da “base aliada” pelo presidente Temer nos faz pensar que a política está nos eixos.

Lula candidato - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Para Luiz Inácio Lula da Silva, faz mesmo todo o sentido sair como candidato a presidente no pleito de 2018.

A vantagem mais óbvia é que Lula terá um discurso para contrapor às acusações que enfrenta na Justiça. Poderá dizer que os processos não passam de uma tentativa de afastá-lo das eleições, tentando assim transformar a discussão jurídica numa disputa política. E, se ele for condenado em segunda instância antes do pleito, hipótese em que não poderia concorrer e correria até o risco de ser preso, sempre poderá atribuir o desfecho à contenda eleitoral e não a seu comportamento ético.

Para o PT também existem benefícios de curto prazo. Em primeiro lugar, ao sair com Lula, diminuem as chances de o partido sofrer uma derrota acachapante nas urnas, semelhante à que ocorreu no último pleito municipal. A união das tendências em torno da candidatura do ex-presidente também evita que o partido rache no que provavelmente é o momento mais difícil de sua história.

Delenda Odebrecht – Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

Os intelectuais de esquerda que assinam o manifesto do 'Volta Lula' são arautos do 'Estado-Odebrecht'

Na lista de Janot, dois nomes devem ser separados, como indicadores políticos: Antonio Palocci e Guido Mantega. O "Italiano" e o "Pós-Italiano" das planilhas do Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht eram os titulares do Ministério da Fazenda entre 2003 e 2015. Isso diz algo crucial sobre a remontagem do Estado conduzida pelo lulopetismo.

"Fazenda" significa grande propriedade rural e, ainda, os recursos financeiros do poder público. A ambiguidade etimológica entre o patrimônio privado e a coisa pública condensa o dilema principal da formação política do Brasil. Não deixa de ser uma ironia e tanto que os governos do PT, o grande partido de esquerda, tenham eliminado a tensão entre os dois significados, tornando-os equivalentes. Se os investigadores da Lava Jato não se enganam na decifração das planilhas, Palocci e Mantega ocupavam-se, antes de tudo, com a macroeconomia da corrupção. A "fazenda" do ministério comandado por eles era, essencialmente, o patrimônio privatizado oriundo do desvio de recursos públicos.

Carne misturada - Míriam Leitão

- O Globo

A operação Carne Fraca terá profundo impacto na economia. Os piores casos descritos pela Polícia Federal são de frigoríficos pequenos do Paraná, mas os grandes produtores também são suspeitos de corromperam fiscais. No caso da BRF, para manter aberta uma unidade, a de Mineiros. O Ministério da Agricultura fala em separar o joio do trigo, mas as carnes já se misturaram.

Os casos embrulham o estômago, mas há muito tempo se sabe que era preciso melhorar e ampliar a fiscalização da carne. Ontem, o Ministério da Agricultura começou a agir, afastando funcionário e interditando frigoríficos, mas a população brasileira já está exposta aos riscos e haverá reflexo na exportação. Mercados que foram abertos com dificuldade vão criar barreira fitossanitária. O Brasil é o maior exportador de carne e em duas décadas superou todos os concorrentes.

Resta um - Adriana Fernandes

- O Estado de S. Paulo

É nos bastidores que as articulações estão sendo feitas pelas forças corporativas

Virou um show de horrores o debate sobre a reforma da Previdência nas audiências públicas da comissão especial da Câmara dos Deputados que vai fazer a primeira votação do relatório do deputado Arthur de Oliveira Maia (PPS-BA). O que deveria ser um espaço fundamental de discussão do texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que vai alterar as regras de aposentadorias e pensões dos brasileiros, se transformou num debate para inglês ver.

Especialistas, sindicalistas, acadêmicos e autoridades do governo foram convidados para mostrar as suas posições sobre a PEC, que tramita na Casa desde o final do ano passado. Mas não há debate algum. Pelo contrário.

De um lado, as lideranças do governo tentam emplacar a todo custo o discurso do “desastre” para as contas públicas que será a não realização da revisão das regras da Previdência Social do País. Ainda mais depois que o limitador do crescimento das despesas (o chamado teto do gastos) foi aprovado. Com já se sabe ele não vai funcionar sem a reforma.

Sinais de recuperação pressionam por reformas – Editorial | O Globo

Mercado de trabalho volta a criar vagas de carteira assinada, o que se soma a outras notícias positivas. Mas, se Congresso não ajudar, a retomada terá fôlego curto

Na crônica da mais profunda recessão já registrada pelas estatísticas oficiais, quinta-feira, 16 de março de 2017, será uma data de destaque. Porque foi quando se divulgaram os primeiros números positivos sobre o mercado de trabalho, depois de 22 meses, quase dois anos, de más notícias.

Não havia abertura de vagas no mercado de trabalho formal, portanto com carteira assinada, desde abril de 2015. A recessão, em dois anos, 2015/16, reduziu o PIB em mais de 7%, algo inédito. Este tombo na produção já colocou quase 13 milhões na rua, e mesmo que a retomada que se esboça persista e se consolide, levará tempo até que as empresas voltem a contratar em peso.

É natural. Com a grande capacidade ociosa existente, os empresários primeiro procuram ocupá-la, sem aumentar a folha de salários. Se houver confiança na recuperação da economia, começa-se, então, a contratar.

Boas-novas em dias de tensão – Editorial | O Estado de S. Paulo

O presidente Michel Temer quebrou a rotina para anunciar a boa notícia: foram criados em fevereiro 35.612 empregos com carteira assinada – diferença entre vagas abertas e fechadas no período. Foi o primeiro saldo positivo em 23 meses. Também pela primeira vez a informação foi divulgada numa entrevista presidencial, no Palácio do Planalto. Com essa, o governo colecionou pelo menos três novidades muito bem-vindas. Como resposta à melhora das perspectivas econômicas e ao esforço de ajuste, a Moody’s, uma das principais agências de avaliação de risco, elevou de negativa para estável a perspectiva do crédito soberano do Brasil. Em seguida houve o bem-sucedido leilão de concessão dos aeroportos de Porto Alegre, Florianópolis, Salvador e Fortaleza. Em dias de muita incerteza e de tensão agravada por desdobramentos da Operação Lava Jato, sinais de melhora da economia são especialmente importantes para o avanço na pauta de reformas e de correção de distorções.

Carne estragada – Editorial | Folha de S. Paulo

São aterradoras as suspeitas divulgadas com a deflagração da Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, sobre conluios entre frigoríficos e fiscais do governo visando a venda ilegal de alimentos nos país e no exterior.

A se confirmarem as alegações da PF, trata-se de caso em que as implicações da corrupção vão além das esferas moral, política e econômica —está em risco a própria saúde dos consumidores.

Divulgaram-se gravações que sugerem manobras para o aproveitamento de produtos com prazo de validade vencido, adulterados ou mesmo estragados, com a cumplicidade de funcionários do Ministério da Agricultura.

É cedo, decerto, para apontar culpas e avaliar a extensão dos danos. Parece evidente, no entanto, que há indícios de práticas cotidianas e em larga escala de irregularidades. A reação de empresas e autoridades envolvidas reforça a gravidade do episódio.

Cidadezinha qualquer –Carlos Drummond de Andrade

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar… as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.

*Antologia Poética – 12a edição – Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, p. 34

João Bosco - 'Corsário' com Djavan