quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Opinião do dia - Roberto Freire

Para nós, militantes do velho Partido Comunista Brasileiro e que lutamos contra a ditadura, a história nos revela que não precisamos nos render a uma indignação que perca a dimensão da luta democrática. Derrotar o governo petista é na luta democrática. Não pensem eles que vão nos colocar em qualquer desvio desta luta. Temos histórias neste campo. Talvez eles, não

Roberto Freire, deputado federal e presidente nacional do PPS, em Encontro com Aécio no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados, Brasília, 5 de novembro de 2014.

Pós-eleição - Número de brasileiros na extrema pobreza aumenta

• Dados do Ipea confirmam que percentual de extremamente pobres subiu de 3,6% para 4%

Clarice Spitz, Demétrio Weber – O Globo

Sim, miséria aumentou

RIO e BRASÍLIA - Passadas as eleições, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) informou que o número de brasileiros miseráveis subiu no ano passado. O Ipea esperou o fim do segundo turno para alimentar seu banco de dados com a informação, da qual já dispunha - e isso foi feito sem que a atualização fosse divulgada à imprensa. Os números oficiais confirmaram que, depois de dez anos de queda consecutiva, o percentual de miseráveis subiu de 3,6% em 2012 para 4% no ano passado, entre os brasileiros com renda per capita inferior a R$ 70 por mês (linha do programa Brasil Sem Miséria). Houve um aumento de 870 mil, e agora essa fatia da população passa de 8 milhões.

Em 2004, a proporção de pessoas extremamente pobres era de 7,6%, e esta vinha caindo de forma sistemática até 2012, quando atingiu a mínima de 3,6%. Ainda segundo o Ipea, 10,452 milhões de brasileiros não tinham o mínimo para garantir as necessidades calóricas básicas - em outra linha de pesquisa, do Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Organização Mundial de Saúde (OMS) -, cerca de 370 mil a mais que no ano anterior. Por outro lado, os brasileiros pobres passaram de 30,350 milhões para 28,698 milhões.

Após a divulgação da Pnad 2013, o GLOBO já havia divulgado que a miséria subira no ano passado, com base em outros estudos que consideram linhas de pobreza diferentes. Os pesquisadores associados do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) Andrezza Rosalém e Samuel Franco calcularam um aumento do número de miseráveis 6,1% para 6,2% em todo o país no último ano, entre os brasileiros que recebem cerca de R$ 123 - acima do recorte usado pelo governo, de R$ 70. A pesquisadora Sonia Rocha, especialista em desigualdade e pobreza e também do Iets, foi outra que constatou a alta da miséria. Pelos cálculos da economista, houve aumento do percentual de miseráveis de 4,1%, em 2012, para 4,7% (sem o Norte rural), no ano passado, a maior alta desde 2008. O assessor da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) Rafael Osório também confirmou a alta e disse, na época, que o maior número de pessoas que se declararam com "renda zero" - grupo que recebe pelo trabalho apenas moradia, alimentação, roupas, vales-refeição ou transporte e medicamentos - tinha puxado para baixo a renda média de quem está abaixo da linha de pobreza.

Especialistas consideram que a parada no ciclo de melhorias se deveu ao cenário econômico, com menos crescimento e um mercado de trabalho menos dinâmico. O desemprego maior - segundo a Pnad, este passou de 6,1% em 2012 para 6,5% no ano passado - atingiu os mais desfavorecidos. Enquanto na média a renda ainda tem crescimento real, os 5% mais pobres tiveram impacto da inflação e foram o único grupo com recuo nos rendimentos de 11%, nas contas de Andrezza e Samuel, do Iets.

- Esse dado reflete o fato de que é preciso ter uma condição macroeconômica compatível para reduzir miséria. O poder econômico se deteriora com inflação contínua. Antes havia uma tendência de queda, e agora temos essa reversão - afirma Flavio Comim, da UFRGS e da Universidade de Cambridge.

Franco, do Iets, também vê um impacto da economia mais fraca e um possível esgotamento do alcance dos programas de transferência de renda:

- A economia está pior e houve um esgotamento do processo de transferência de renda, que não está conseguindo alcançar esse grupo, porque agora é mais difícil encontrá-lo.

Críticas ao atraso na divulgação
A decisão de o Ipea só agora divulgar os dados foi alvo de críticas de especialistas. Sonia Rocha afirmou que os microdados do IBGE, já estavam disponíveis desde final de setembro e que a obtenção dos indicadores de pobreza e indigência é trivial:

- Não é uma razão para a defasagem na divulgação. O calendário eleitoral não me parece uma justificativa válida.

Comim vê ingerência política na decisão de não divulgar os dados. Segundo ele, somente a introdução de uma estatística poderia justificar segurar uma pesquisa como essa.

- É preciso pensar não só na independência do Banco Central, mas também na dos órgãos produtores de informação. Além do que, a pobreza vai muito além da insuficiência da renda - afirma.

Andrezza, do Iets, disse que falta ao Ipea um calendário público de divulgações, tal como faz o IBGE.

Dentro do instituto, a decisão de não divulgar as pesquisas de miséria e de desigualdade ainda repercutia mal. Em outubro, o diretor de políticas sociais do instituto, Herton Araújo, colocou seu cargo à disposição por discordar da decisão do Ipea de não divulgar novas pesquisas durante o período eleitoral. O pesquisador Marcelo Medeiros também pediu exoneração da vice-coordenadoria de Estudos de População, Desenvolvimento e Previdência diante da decisão do instituto de segurar as estatísticas.

Entre os pesquisadores, o clima era de que o instituto sofria pressões externas importantes, mas que, depois das eleições, esse tipo de efeito deveria arrefecer.

O GLOBO tentou entrar em contato com o presidente do Ipea, Sergei Soares, e com Herton Araújo, mas as ligações não tiveram retorno.

A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Tereza Campello, no entanto, negou que o número de miseráveis tenha aumentado no país em 2013. Segundo ela, a variação apontada a partir da análise de microdados da Pnad revela uma "flutuação estatística", dentro da margem de erro da pesquisa, que é feita por amostragem.

- O que posso afirmar peremptoriamente é que se trata de uma flutuação estatística que está dentro da margem de erro. Em qualquer análise que tome como referência as diferentes linhas de pobreza, não é possível afirmar que aumentou a extrema pobreza. A tendência continua sendo de queda: caem a pobreza e a extrema pobreza - afirmou.

Para ministério, dado certo é 3,1%
A ministra também chamou a atenção para a existência de diferentes critérios de mensuração da pobreza no Brasil. Com relação ao acréscimo de 371 mil pessoas sem renda para ingerir a quantidade mínima de calorias necessárias a uma vida saudável, Tereza lembrou que são adotadas linhas de renda distintas em cada unidade da federação. Segundo ela, essas linhas foram traçadas com base em outra pesquisa do IBGE, realizada ainda na década de 1980, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF).

O governo federal adota como linha oficial de miséria monetária a renda mensal de até R$ 77 por pessoa. No ano passado, quando a última Pnad foi feita, esse valor estava em R$ 70.

O MDS detectou uma possível incongruência nos dados de renda da Pnad de 2013. Trata-se de um aumento no número de entrevistados que teriam declarado possuir renda zero. Segundo a ministra, a análise de outros indicadores dessas mesmas pessoas indicou que parte delas teria diploma universitário ou máquina de lavar em casa, o que não combina com o perfil de um miserável.

O ministério fez uma simulação, isto é, recalculou os dados, descontando esse contingente. Com isso, estimou que a pobreza extrema no Brasil em 2013, pela linha de miséria monetária, seria de 3,1% da população. Essa questão foi apresentada ao IBGE e ao Ipea e deverá ser objeto de estudo mais aprofundado, de acordo com o MDS.

A ministra rebateu também a acusação de que o governo federal tenha escondido dados. Ela afirmou que os chamados microdados da Pnad estão disponíveis ao público desde 18 de setembro.

- A coisa mais grave que tem sido dita pela imprensa e que é errado, uma injustiça com a presidente Dilma, é que esses dados estavam sendo escondidos. É de uma injustiça e de uma incorreção inominável. Não é leal, porque vocês (jornalistas) e qualquer especialista ou pessoa têm acesso ao conjunto dos microdados. E isso há mais de dois meses - afirmou Tereza.

Neri: decisão foi do Ipea
Em nota, o Ipea também negou que qualquer informação tenha sido escondida, lembrando que, no ano passado, os mesmos dados só ficaram disponíveis em novembro. Em 2013, no entanto, dois dias depois da divulgação da Pnad, em 28 de setembro, o então presidente do Ipea, Marcelo Neri - hoje ministro-chefe da SAE -, comemorou o fato de 1,1 milhão de pessoas terem deixado a miséria.

"A plataforma Ipeadata disponibiliza mais de 7.500 indicadores de diversas fontes, inclusive mais de 200 atualizados anualmente a partir dos dados públicos da Pnad/IBGE, assim como dezenas de outras séries com atualização diária. Nenhuma atualização da base é acompanhada de divulgação à imprensa. Em 2013, a atualização a partir de dados disponíveis na Pnad 2012 foi feita em novembro. Neste ano, com base na Pnad 2013, a equipe técnica atualizou, em 30/10, dezenas de indicadores de evolução da renda, inclusive por décimos da distribuição, bem como índices de pobreza e desigualdade", afirmou o instituto.

Mais cedo, Marcelo Neri seguiu a mesma linha. Ele afirmou que a decisão de não divulgar análises no período eleitoral foi tomada de forma autônoma pela diretoria do Ipea, a fim de preservar a instituição.

- Não houve nenhum estudo "segurado". Existe uma decisão a priori, feita de forma autônoma pela Ipea, para resguardar a instituição durante o período eleitoral, porque existem restrições sobre a capacidade de divulgar dados, existem limitações jurídicas, e o Ipea decidiu de forma autônoma, sem interveniência. Foi uma decisão da diretoria do Ipea.

Neri e Tereza mencionaram indicadores econômicos para refutar a possibilidade de aumento da miséria:

- O que aconteceu nos últimos dois anos foi um crescimento de renda de 5,5% ao ano. Você tem uma estabilidade de alguns indicadores, mas o quadro geral da nação é de avanço muito forte - disse Neri.

- Expandimos o número de famílias no Bolsa Família e ampliamos o valor (dos benefícios). E não tivemos aumento na taxa de desemprego, principalmente entre os mais pobres - disse Tereza.

Pós-eleição - Miséria tem primeira alta em 10 anos, indica Ipea

• País registrava queda desde 2003; governo diz que diferença está na margem de erro

Lisandra Paraguassu – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Dados levantados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que, entre 2012 e 2013, o número de pessoas que vivem na extrema pobreza no País teria aumentado em 0,4 ponto porcentual, passado de 3,6% da população para 4%. Os números, recolhidos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), mostram que subiu em cerca de 370 mil pessoas o contingente que vive com menos de R$ 70 por mês. O governo diz que a diferença está dentro da margem de erro e não mostra uma tendência. O aumento é o primeiro desde que o Ipea iniciou essa série histórica, em 2004.

Os dados não chegaram a ser divulgados pelo governo, mas estão no site do Ipea. A atualização mais recente da página foi feita no dia 31, mas o governo alega que as informações da Pnad estão publicadas desde 19 de setembro.

Em outubro, o diretor de políticas sociais do instituto, Herton Araújo, colocou o cargo à disposição por discordar da decisão do Ipea de não divulgar estudos no período de campanha eleitoral. O profissional planejava divulgar um levantamento com base nos dados da Pnad sobre miséria.

Na época, a direção do Ipea alegou que a medida foi tomada após decisão unânime de seus integrantes. Ontem, o Estado perguntou ao Ipea se essa decisão também foi tomada em anos anteriores, mas não recebeu resposta.

Estatística. A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, afirmou que é “absurda” e “injusta” a acusação de que o governo teria segurado dados por causa da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. “Os dados são públicos. Nós temos acesso no mesmo momento que vocês. Qualquer cidadão, qualquer pesquisador que conheça um pouco de estatística pode fazer a conta”, disse. “Não virou notícia antes porque não houve aumento.”

Em 11 de outubro, foi noticiado pelo jornal Folha de S. Paulo levantamento do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) que apontava para a interrupção da queda da miséria no País pela primeira vez desde que o PT chegou ao Planalto, em 2003. A variação do contingente de miseráveis, nesse estudo, era de 0,2 ponto porcentual.

Em relação aos dados do Ipea, o governo atribui a diferença a uma flutuação estatística, dentro da margem de erro do levantamento. “Não é correto afirmar que houve aumento”, disse a ministra. “Se olharmos com cuidado, vamos ver que o desemprego caiu, as ações do Brasil sem Miséria chegam fortemente nesse público. Nenhum outro elemento factual ou dado econômico permite supor que houve aumento.”

Apesar de estar dentro da margem de erro, o pequeno aumento é o primeiro desde que o Ipea iniciou a série histórica para esses dados. Em 2003, o País registrava 23,2 milhões de pessoas na extrema pobreza. Desde então, a queda foi contínua – 60% no acumulado de oito anos, até 2012. O primeiro movimento contrário teria sido no ano passado.

A ministra afirmou que, quando se chega a números tão baixos, é normal que as amostras registrem pequenas variações.

‘Diabo se envergonharia’ de postura do PT durante a campanha eleitoral, diz Aécio

• Tucano disse que fará ‘pacto revigorado’para fortalecer oposição

- Júnia Gama e Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — O evento para marcar a volta de Aécio Neves ao Legislativo, nesta quarta-feira, contou com a presença de integrantes do PSDB e de aliados (DEM, PP, PPS e Solidariedade). Aécio deu uma sinalização de que pretende liderar a oposição contra o governo Dilma Rousseff nos próximos quatro anos e agradeceu o apoio dos representantes de partidos que estiveram ao seu lado no segundo turno.

— Quero fazer um pacto de construção de uma oposição revigorada e, por mais paradoxal que possa parecer, que saiu vitoriosa das urnas — disse Aécio.

Aécio criticou a condução da campanha petista, citando a divulgação de boatos sobre o fim de programas sociais, como o Bolsa Família, e lembrou uma frase da presidente Dilma Rousseff que, no ano passado, afirmou que, durante campanha, poderia fazer "o diabo".

— Disseram que iam fazer o diabo nessas eleições, pelo menos cumpriram o que prometeram. Acho que o diabo se envergonharia de muitas coisas que fizeram nessas eleições. Foi uma campanha da infâmia, da mentira e do uso sem limites da máquina pública - pontuou o tucano.

O senador também destacou que, logo depois de reeleita, Dilma Rousseff tomou as medidas que apontava que Aécio tomaria caso eleito.

— Eles nos acusaram de ser patrocinadores do capital financeiro, diziam que votar no Aécio significava aumentar a taxa de juros e o que aconteceu poucos dias depois das eleições? O aumento da taxa de juros para controlar a inflação que eles disseram que não existia — afirmou Aécio.

O tucano disse ainda que fará "a mais vigorosa oposição" nos próximos anos e afirmou não ter esmorecido com a derrota.

Poucos governadores do PSDB participaram do ato: Teotônio Vilela (Alagoas), Simão Jatene (Pará) e Reinaldo Azambuja (Mato Grosso do Sul). Nomes de peso do partido, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o governador de Goiás, Marconi Perillo, e os senadores eleitos José Serra (SP), Tasso Jereissati (CE) e Antonio Anastasia (MG) não compareceram.

Também marcaram presença no ato o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), e o vice-governador eleito de Pernambuco, Raul Henry, do PMDB, além de Pastor Everaldo, do PSC.

Vamos fazer a 'mais vigorosa oposição', afirma Aécio

• Em evento com aliados, senador se declara como líder oposicionista e diz que a 'máscara' do atual governo caiu

Nivaldo Souza e Ricardo Brito - Agência Estado

BRASÍLIA - O candidato derrotado do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), declarou-se nesta quarta-feira, 5, como líder da "mais vigorosa oposição que o Brasil já assistiu".

Em ato político entre tucanos e integrantes de partidos de oposição ao governo Dilma Rousseff (PT), Aécio disse que os 51 milhões de votos dados a ele pelos eleitores brasileiros fortalecem a atuação da oposição no País. "Farei a oposição com as convicções com que eu governaria, com os mais pobres e que mais precisam. Não vamos permitir dividir o Brasil entre nós e eles", disse.

Ainda segundo o tucano, a "máscara" do governo caiu.

O senador se disse respaldado pelos 51 milhões de votos que teve no segundo turno. "Aqueles que ganharam as eleições, que governam o Brasil, quando olharem para o Congresso não contabilizem a oposição pelo número de cadeiras da Câmara e do Senado", afirmou. "Em cada voz enxergue através dela 51 milhões de brasileiros atentos, acordados, vigilantes. Vamos fazer a mais vigorosa oposição que esse Brasil já teve em defesa dos brasileiros, da ética e da moral", discursou.

Aécio reforçou o embate contra o PT, apontado por ele como um partido que fez "o diabo" para ganhar as eleições, utilizando a máquina pública para vencer. "O diabo se envergonharia de muitas coisas que foram feitas nesta eleição", declarou. "Sempre que o PT teve de optar pelo PT, ele optou e o Brasil perdeu", disse, citando a oposição petista ao Plano Real e à Lei de Responsabilidade Fiscal.

O tucano disse que o governo está "envergonhado" pela forma como administrou a campanha eleitoral e por tomar medidas que acusou ele, Aécio, de tomar se fosse eleito, como o aumento da taxa básica de juros (Selic) e da gasolina. "Eles nos acusavam de ser os grandes patrocinadores do capital financeiro. O que aconteceu poucos dias depois da eleição foi a taxa de juros aumentar para combater uma inflação que para eles não existia", disse.

Aécio voltou a afirmar que, durante a campanha, foi atacado com "armas que não são decentes, não são honradas". "Fizeram da mentira sua principal arma de luta e isso não dignifica quem ganhou", disse, ressaltando que ele, Eduardo Campos e Marina Silva (ambos do PSB) passaram pelos "mais torpes ataques".

Urna eletrônica. O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), candidato derrotado na disputa pelo governo da Paraíba, reforçou o discurso tucano de que o PT utilizou método de desconstrução de oponentes no campo estadual. "Não se pode aceitar o método que foi praticado e precisa ser combatido de forma eloquente e veemente para o Brasil", disse.

O senador subiu à tribuna do auditório da Câmara também para questionar a urna eletrônica usada na votação. "Precisamos colocar na pauta do Brasil, sim, o sistema da urna eletrônica, porque não pudemos estar submetidos a algo que não está sujeito à auditoria", disse. "A urna eletrônica passou a ser um dogma, agora temos nas nossas crenças a liberdade, a vida e a urna eletrônica", ironizou.

Apesar da crítica, Cunha Lima afirmou que não estava questionando o resultado das eleições. "Não se questionou sequer o resultado da eleição, porque o próprio Aécio telefonou para a presidente (Dilma) e a cumprimentou pelo resultado", observou.

Máscara. Em rápida entrevista coletiva após o ato, Aécio disse que a "máscara" do governo está caindo rapidamente. O tucano afirmou que não estava "surpreso" com medidas impopulares anunciadas pelo governo logo após o resultado das eleições. "Não estou muito surpreso, mas muitos brasileiros, sim, com a máscara caindo de forma tão rápida, apenas 10 dias após as eleições", afirmou.

Freire: Vamos derrotar o PT na luta democrática

Assessoria de Imprensa do PPS

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), conclamou, nesta quarta-feira, as oposições para que elas não se dispersem no período pós-eleição. Foi durante discurso feito no primeiro ato político de partidos que apoiaram o senador Aécio Neves (PSDB) na disputa presidencial. O encontro ocorreu no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados.

Além da união para enfrentar o governo nos próximos anos, Freire cobrou da oposição que o combate aos desmandos petistas ocorra democraticamente. Citou a derrota de Dilma Rousseff, na Câmara, na votação do decreto que cria os chamados conselhos populares.

“Para nós, militantes do velho Partido Comunista Brasileiro e que lutamos contra a ditadura, a história nos revela que não precisamos nos render a uma indignação que perca a dimensão da luta democrática. Derrotar o governo petista é na luta democrática. Não pensem eles que vão nos colocar em qualquer desvio desta luta. Temos histórias neste campo. Talvez eles, não”, disse Freire, se dirigindo a Aécio.

Para o presidente do PPS, a recente disputa presidencial foi muito “renhida” e Aécio está credenciado pelas urnas eleitorais para coordenar o movimento oposicionista no Parlamento.

Freire pediu a Aécio que busque também forças políticas próximas ao governo que estão descontentes com a administração de Dilma.

“Busque coordenar as oposições sem restrições, sem limitações, com aqueles que estão próximos e com aqueles que estão distantes e que podem se aproximar. Este é o nosso desafio. Somos iguais na sociedade e podemos ser iguais no Parlamento se tivermos a capacidade que hoje estamos demonstrando e que você demonstrou na disputa eleitoral”, declarou Roberto Freire.

O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR); o vice-líder Arnaldo Jardim (SP) e o deputado Sandro Alex (PR), vice-líder da Minoria, também participaram do encontro.

Durante o ato, estiveram presentes, além de lideranças do PPS, do DEM, do PSDB, do PP e do Solidariedade.

Em discuso no Senado, Aécio cobra do governo apuração do ‘Petrolão’

• Senador voltou a criticar o que considerou uma campanha de “mentiras e infâmias”

Júnia Gama e Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - Em seu primeiro discurso na tribuna do Senado após as eleições, que durou cerca de meia hora, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) condicionou o diálogo com o governo à apuração do escândalo de corrupção na Petrobras, que ele chamou de "o maior do país":

– Os que foram intolerantes por 12 anos agora falam de diálogo. Mas qualquer diálogo será condicionado especialmente ao aprofundamento das investigações e exemplares punições daqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção do país, conhecido como Petrolão – disse Aécio, que foi aplaudido pelos senadores que estavam no plenário.

O senador voltou a criticar o que considerou uma campanha de “mentiras e infâmias” por parte de seus adversários e destacou que, logo após as eleições, a presidente Dilma Rousseff começou a tomar as medidas que dizia que Aécio tomaria se fosse eleito.

– Na campanha, eles diziam que elevar os juros era tirar comida do prato dos pobres, pois bem, foi o que ela fez logo que se elegeu. O governo escondeu o rombo das contas públicas o quanto pode.
Escondeu reiteradamente que havia necessidade de ajustes e agora antecipa que eles serão duríssimos no ano que vem, em um país que já não cresce. A candidata oficial também negou reajuste de tarifas públicas, ela já está fazendo aquilo que disse que não faria. Na próxima semana já teremos aumento da gasolina e também de energia – disse Aécio.

– Quem falou a verdade foi taxado de pessimista, de ser contra o Brasil. Mas a história rapidamente mostrou o contrário – pontuou Aécio.

O senador também criticou o documento publicado pela Executiva do PT esta semana que, segundo o senador, propõe um "projeto de poder hegemônico", contrariando preceitos democráticos.

Aécio condiciona diálogo com governo a investigações da Petrobrás

• Candidato derrotado à Presidência discursou por cerca de 30 minutos na tribuna do Senado, onde voltou a criticar a corrupção

Ricardo Brito e Nivaldo Souza - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O candidato derrotado à Presidência da República, senador Aécio Neves (PSDB-MG), afirmou nesta quarta-feira, 5, que qualquer tentativa de conversa entre o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e a oposição está condicionado à investigação e à punição das denúncias de corrupção que atingem a Petrobrás. Em pronunciamento de meia hora da tribuna do Senado, o tucano disse que os governos do PT foram "intolerantes" durante 12 anos e agora defendem o diálogo. Ele disse que é preciso saber se as propostas do governo atendem às necessidades dos brasileiros.

"Qualquer diálogo tem que estar condicionado ao aprofundamento das investigações e exemplares punições daqueles que protagonizaram o maior escândalo de corrupção do País conhecido como 'petrolão'", afirmou o tucano, que foi efusivamente aplaudido em plenário.

Segundo Aécio, o esquema só veio à tona porque não foi possível abafar os delatores do esquema da Petrobrás. Ele disse que esconder e camuflar foi a tônica do atual governo, embora não tenha conseguido esconder a corrupção. Ele mencionou que a corrupção chegou a níveis nunca antes atingidos no País.

O escândalo de desvio de recursos na estatal investigado pela PF teria envolvido, segundo relatos dos delatores do esquema, partidos da base aliada do governo, como PP e PMDB, e também o opositor PSDB e o PSB, além do próprio PT.

O senador disse ainda que o governo escondeu que havia a urgência da necessidade de se fazer ajustes econômicos. Citou que, dias depois da eleição, houve um aumento da taxa básica de juros da economia e deu aval para reajuste do preço dos combustíveis. Durante a campanha, ele lembrou que Dilma negava que havia a alta de preços e a carestia.

Na quarta-feira da semana passada, 29, em uma decisão totalmente inesperada, o Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros, para 11,25% ao ano, na primeira ação depois da reeleição da presidente Dilma Rousseff. Desde abril, a Selic estava em 11,00% ao ano. No comunicado que se seguiu à decisão, a diretoria da instituição avaliou que seria oportuno ajustar as condições monetárias para garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016.

Após reconhecer a derrota das urnas, o tucano PSDB destacou os "mais pobres"e os nordestinos no discurso. Ele criticou o fato de que o a campanha de Dilma tentou dividir o País entre ricos e pobres, Norte e Nordeste. "Travamos nessas eleições uma disputa desigual, em que os detentores do poder usaram despudoradamente o aparato estatal para se perpetuarem por mais quatro anos", afirmou o tucano.

O tucano disse ter se colocado nos últimos meses como alternativa de um Estado mais eficaz e moderno. Disse ainda que propôs a reaproximação do Brasil com o resto do mundo, ao qual "demos as costas". E que atualmente os brasileiros convivem com um modelo econômico estagnado e pesado.

Aécio disse que subia à tribuna após as eleições com a carga de responsabilidade que teve com a votação e o projeto político do qual faz parte. Mas criticou, em vários momentos, a candidatura adversária. "A mentira foi a principal arma. Mentira sobre o passado, para desviar a atenção do presente", afirmou, ao dizer que a oposição foi acusado de propostas que nem sequer fizeram.

Limites institucionais no exercício da oposição – O Globo / Editorial

Uma das análises consensuais do resultado das eleições é que a trajetória do candidato tucano Aécio Neves o credencia a ser o grande líder das oposições a partir de sua cadeira no Senado, na qual representará Minas por mais quatro anos.

Desacreditado no primeiro turno assim que o destino colocou Marina Silva em posição privilegiada na disputada direta pela Presidência, Aécio continuou a acreditar na sua candidatura. Talvez fosse o único.

Conseguiu unir o PSDB em torno de si — algo que se pensava impossível —, enquanto resgatava a figura simbólica de FH, e, sem se envergonhar das reformas econômicas empreendidas pelo partido, foi para o segundo turno e perdeu para o rolo compressor aético da campanha da reeleição da petista Dilma Rousseff por apenas três pontos percentuais.

O desembarque do senador mineiro em Brasília, terça-feira, e seu primeiro discurso no Senado, ontem, começaram a justificar expectativas com relação ao papel de Aécio na oposição, a partir de agora.

Recepcionado como vitorioso ao chegar em voo comercial, o líder tucano se pronunciou, em entrevista, de forma certeira, sobre manifestações descabidas pelo impeachment da presidente Dilma e de apoio a um golpe militar. No fim de semana, em São Paulo, houve uma passeata em que se destacaram cartazes com mensagens descabidas como estas.

— Eu respeito a democracia permanentemente e qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso terá a nossa mais veemente oposição — declarou na terça.

Da tribuna do Senado, numa sessão cercada de grande expectativa, Aécio se colocou como representante de um "movimento", não de um partido ou aliança partidária, que nas urnas teve o apoio de 51 milhões de brasileiros, apenas 3 milhões a menos que Dilma.

Acertadamente, não deixou de reconhecer o resultado das urnas, algo essencial para o jogo da democracia. Impeachment não existe para servir de "terceiro turno" eleitoral. E golpe militar, como aprendeu o Brasil, é uma porta aberta para o precipício do arbítrio e tentações de perpetuação no poder. Essas duas tresloucadas bandeiras apenas repetem o pior de algumas falanges petistas: quando, no início do segundo mandato de Fernando Henrique, pregaram o "Fora FHC", e, nos tempos que correm, buscam se manter no poder por meio de atalhos golpistas, como o da "Constituinte exclusiva", convocada sob pretexto de fazer uma reforma política de conveniência, sem obedecer os trâmites previstos no Estado de Direito.

Depois do que disse Aécio, fica ainda mais claro que o Planalto deve se preparar para enfrentar uma oposição dura, agora com maior respaldo na sociedade, mas sempre dentro dos marcos legais. A recíproca deveria ser verdadeira.

Lula em cena contra poder de atração de tucano no Senado

João Domingos - O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu montar um esquadrão anti-Aécio Neves no Senado, na tentativa de conter a atuação do presidente nacional do PSDB. Ontem, o tucano fez seu primeiro pronunciamento na tribuna do plenário depois de perder o 2.º turno para a petista Dilma Rousseff. Lula vai receber hoje de manhã, em São Paulo, os atuais senadores do PT e os que foram eleitos no mês passado e tomarão posse em fevereiro.

O ex-presidente está empenhado em ajudar a montar uma sólida base aliada no Senado para o segundo mandato de sua afilhada política. Na avaliação de Lula, se Dilma não se aproximar dos senadores daqui para a frente, há o risco de Aécio atrair parte deles para a oposição, principalmente os de partidos que registram rachas em suas bancadas, como o PMDB, o PP e o PDT.

"O presidente Lula tem preocupação com a relação entre o novo governo da presidente Dilma e os senadores. E nós também temos essa preocupação. Então, juntamos a fome com a vontade de comer", disse o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). De acordo com o parlamentar, Lula acredita que poderá comandar algumas mudanças nos rumos do PT daqui para a frente. Na reunião de hoje, o ex-presidente deve falar de suas ideias para o futuro do partido.

Lula não vai restringir sua atuação ao próprio partido. O ex-presidente vai procurar os senadores de legendas da base aliada. Alguns já foram contatados, como os peemedebistas Eunício Oliveira, derrotado na disputa pelo governo do Ceará pelo petista Camilo Santana; o amazonense Eduardo Braga, que também perdeu a eleição para governador, e Valdir Raupp (RO). Lula preparou o discurso de que o novo mandato será de boas relações com todos. Na atual gestão, os senadores contam nos dedos as vezes em que foram recebidos por Dilma. O queixume é dirigido também aos ministros que, de acordo com os parlamentares aliados, não os recebem.

Temer pede a Cunha que não se caracterize como oposição

• Em jantar para eleitos, delação e economia são os pratos principais

Cristiane Jungblut, Simone Iglesias e Leticia Fernandes – O Globo

BRASÍLIA - Depois do anúncio de que o blocão teria uma postura mais beligerante em relação ao governo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) teve um encontro demorado com o líder do PMDB na Câmara e candidato à presidência da Casa, deputado Eduardo Cunha (RJ), convocado para "acertar os ponteiros". Cunha disse que esteve com Temer antes do jantar oferecido na noite de terça-feira para parlamentares e governadores eleitos pelo partido. O encontro durou cerca de duas horas e serviu para discutir a estratégia de Eduardo Cunha na disputa pela Presidência da Câmara.

Pressionado pela presidente Dilma Rousseff, Temer pediu a Cunha para dialogar também com alguém do governo, como ministros, e não se caracterizar como um candidato de oposição. Cunha foi aconselhado a conversar com Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) ou Aloizio Mercadante (Casa Civil). Peemedebistas afirmam que, pelo fato de ser vice, Temer estaria numa posição desconfortável com Cunha se apresentando como um candidato mais próximo à oposição e disposto a votar temas que incomodam o Planalto.

Na conversa com Temer, Eduardo Cunha disse que não podia ser apenas um candidato de governo e que estava construindo sua candidatura, com o blocão (PMDB, PR, PTB, PSC e Solidariedade).

- Nunca quis ser um candidato de oposição. Mas vou ser um candidato do Parlamento, da Casa. Não vou ser um candidato nem do governo e nem da oposição - disse Cunha.

Jantar em clima de velório
Na noite de terça-feira, Temer recebeu no Palácio do Jaburu governadores, senadores e deputados eleitos para uma confraternização que, segundo participantes, teve mais jeito de velório. Três assuntos dominavam as conversas nas rodinhas e mesas espalhadas pela residência oficial do vice: a expectativa com o envolvimento de mais peemedebistas e integrantes do governo na delação premiada de Paulo Roberto Costa; o cenário econômico ruim; e as derrotas do PMDB nos estados.

- A comida e a bebida estavam ótimas, mas os assuntos, muito difíceis de digerir - contou um parlamentar, acrescentando que há uma apreensão geral com a piora do quadro econômico.

- A expectativa com a economia é péssima daqui para a frente. Já começaram as medidas impopulares, aumento de combustível e de energia, muito ruim isso tudo - disse um senador.

Nas conversas, houve muita reclamação com os embates estaduais com o PT. Peemedebistas criticaram o comportamento do partido e disseram que os problemas terão reflexo na relação do PMDB com o governo Dilma. Um governador afirmou que ninguém defendeu o PT ou Dilma, mas que é fundamental uma convivência mínima.

Outro tema que dominou as conversas foi a Operação Lava-Jato e a delação premida do ex-diretor de Paulo Roberto Costa e de Alberto Youssef. Segundo um parlamentar, os comentários eram de preocupação com integrantes do partido envolvidos e sobre a possibilidade de as investigações atingirem o coração do governo, incluindo Dilma e Lula.

Os convidados discutiram, ainda, a necessidade de o partido lançar uma candidatura própria à Presidência em 2018. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, é o mais cotado. Os peemedebistas concordaram com o nome de Cunha para a presidência da Câmara, chancelados pelo anfitrião do jantar, o vice-presidente Michel Temer. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, aliado da presidente Dilma Rousseff (PT), também defendeu o nome de Cunha.

- Será uma mudança de ciclo em 2018. O PMDB já cumpriu muito o papel de âncora da governabilidade. Está na hora de assumir um protagonismo digno de seu tamanho - disse um deputado.

Tensão com o governo Dilma
Os congressistas que estiveram no Jaburu concordaram que há uma tensão com o governo federal, centrado principalmente na figura de Dilma. Para mudar isso, o PMDB quer que o governo retire de pauta o plebiscito para implementar a reforma política e mude a condução da economia. Dos nomes cogitados no Planalto para assumir a Fazenda, o que mais agrada aos peemedebistas é o de Nelson Barbosa, um quadro técnico com traquejo político. O nome de Aloizio Mercadante (Casa Civil) enfrenta enorme resistência no PMDB. Ele é visto como muito próximo da "cozinha" do governo.

Tucano faz críticas à resolução divulgada pelo PT

• Senador contesta pontos como regulação da mídia, plebiscito para a reforma política e ampliação dos conselhos populares

Isadora Peron, Nivaldo Souza e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves (MG), rebateu nessa quarta-feira, 5, na tribuna do Senado a resolução política aprovada na segunda-feira pela cúpula do PT. O texto, uma espécie de guia para a militância, defende a regulação dos meios de comunicação, a política de ampliação dos conselhos populares e o plebiscito para promover a reforma política, além de pregar a "construção da hegemonia na sociedade".

"Nós estamos atentos aos nossos adversários que, poucos dias depois das eleições, divulgam um documento oficial ao País que mostra a sua verdadeira face: a da intolerância, a da supressão das liberdades, a dos ataques às instituições. Mais que isso, nossos adversários de novo não se constrangem em propor um projeto que se pretende hegemônico, o oposto daquilo que a democracia pressupõe: liberdade de escolha, alternância de poder", disse Aécio.

A resolução do PT reafirma o compromisso de criar uma "Lei da Mídia Democrática", tradicional bandeira do partido. Sem entrar em detalhes, o texto defende que é preciso acabar com o "oligopólio da mídia".

O tucano afirmou que, como fez a Câmara dois dias após a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o Senado vai derrubar o decreto que amplia os conselhos populares. A resolução petista defende a continuidade da "participação social na definição das políticas públicas" e medidas por parte do governo para reverter a "derrubada da Política Nacional de Participação Social".

Antes de subir na tribuna, Aécio classificou o decreto como "bolivariano". Questionado pelo Estado se concordava com esse termo, desconversou e disse que o havia empregado somente porque ouvira de seus correligionários, em ato pela manhã em um auditório da Câmara com outros partidos de oposição ao governo.

Referendo. Ao falar da proposta de plebiscito para convocação de uma Constituinte exclusiva para a reforma política, defendida pela resolução do PT, Aécio afirmou que o governo precisa expor qual é o seu projeto para que o Congresso possa debater o assunto. Mas o tucano já adiantou preferir a realização de um referendo. Por esse modelo, os parlamentares votam propostas para depois submeterem suas decisões aos eleitores.

"É hora de conhecer as bases da reforma política que o governo defende, até agora omitida, porque deverá ser debatida e aprovada por este Congresso, legitimamente eleito, e depois sim, ser submetido através do referendo ao crivo da sociedade brasileira", afirmou.

Citado pela resolução do PT, Aécio contra-atacou: "Dizem no documento que a minha candidatura representou o machismo, o racismo, o preconceito, o ódio, a intolerância, a nostalgia da ditadura militar. Não, senhoras e senhores! Esses atributos que jogam sobre mim, na verdade, eles os jogam sobre 51 milhões de homens e mulheres; eles é que são verdadeiramente atacados pelo PT nesse instante em um documento oficial".

Estelionato eleitoral, 2º e 3º atos

• A campanha à reeleição foi toda baseada em mentiras. Depois do aumento dos juros, agora é a vez da gasolina, da conta de luz e até a possibilidade de apagões no próximo verão

- Instituto Teotônio Vilela

A cada dia que passa, fica mais claro que a campanha que levou Dilma Rousseff à reeleição foi toda baseada em mentiras. Se a candidata disse que não faria ou acusou o adversário de pretender fazê-lo, pode ter certeza: seu governo vai se encarregar de executar. O estelionato eleitoral segue a todo vapor.

Na primeira semana após a vitória, a bomba-relógio do governo disparou o aumento da taxa básica de juros. Segundo o marketing da campanha petista, isto equivaleria a tirar comida da mesa das pessoas. Se é assim, foi justamente o que Dilma ora fez...

Em seguida, revelou-se ao país o maior rombo nas contas públicas de que se tem notícia. Em decorrência, o governo terá que rever suas metas fiscais, sob pena de ter que responder por crime. Durante toda a campanha, estas possibilidades foram sempre rechaçadas. Agora os responsáveis pelo Tesouro dizem que agem fazendo "o melhor para o país".

A lista de maldades guardadas para depois das eleições é, porém, bem mais extensa. A próxima delas será o aumento dos preços dos combustíveis, admitido ontem pelo governo. O reajuste deve sair na semana que vem - tão logo a Petrobras retome a reunião de seu conselho interrompida com o fito de defenestrar um de seus dirigentes flagrado em corrupção...

As diabruras que Dilma nos reservou para este pós-eleições também incluem reajustes assustadores nas tarifas de energia, que, de resto, já vinham ocorrendo desde o primeiro semestre. As mais novas vítimas são os cariocas, que pagarão entre 17% e 22% a mais pela eletricidade a partir de sexta-feira.

Com isso, o reajuste médio das tarifas de energia no país será de 18% - apenas neste ano! Estará anulada toda a queda resultante da intervenção determinada pela presidente da República no setor em setembro de 2012. Para não dizer que a desastrada operação deu em nada, gerou uma conta a ser paga por consumidores e contribuintes que já chega a R$ 105 bilhões.

Mas, acredite: tem coisa ainda pior. Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), quando o verão chegar poderemos ser brindados com apagões durante as madrugadas. O segundo mandato de Dilma - a "especialista" em energia - vai começar no escuro, a despeito de todos os alertas feitos pelos entendidos e sempre rechaçados pelo governo nos últimos meses.

Os brasileiros têm na memória o destino de governantes que se elegeram enganando o povo. Dilma Rousseff logo verá que, ao contrário do que sustenta seu marketing, o vale-tudo tem limites. São expedientes que a sociedade não aceita. Principalmente quando percebe que foi enganada.

A reforma política em foco - O Estado de S. Paulo / Editorial

Encerrado o período eleitoral, a reforma política emerge como tema inquestionavelmente prioritário na agenda política. Mas o sólido consenso a respeito da urgência dessa discussão se esgota nele mesmo. Em torno de praticamente todas as questões pontuais que compõem o amplo espectro dessa reforma impera o dissenso. E existe um grande divisor de águas: de um lado, a tentativa populista do PT de conformar a reforma a seu projeto de poder; de outro, a resistência a esse golpe para incluir o Brasil no seleto grupo das repúblicas "populares" da América Latina. Flutuando entre as duas tendências, as velhas raposas, poderosas e nanicas, tentam preservar o grande balcão de negócios.

O elenco das medidas reformistas é amplo. Uma delas é a proibição do financiamento dos partidos por pessoas jurídicas, que caminha para uma solução satisfatória: está na pauta do Supremo Tribunal Federal (STF), onde a maioria dos ministros, 6 em 11, já votou pela proibição. Sua homologação acabará com uma das maiores distorções do sistema eleitoral, a que contraria o princípio de "um cidadão, um voto" ao permitir que quem não vota, as pessoas jurídicas, especialmente empreiteiras interessadas em negócios com o governo, influa com muito mais do que "um voto" no processo eleitoral.

Aqui o problema está naquilo com que o PT sonha: o financiamento público, como se já não existisse com o Fundo Partidário e o chamado horário gratuito.

Mas há outras distorções importantes que reclamam atenção, como as que comprometem a legitimidade da representação popular pelos partidos políticos. Em qualquer país democrático, a existência de um grande número de partidos é a regra, protegida pelos fundamentos democráticos da liberdade de opinião e de associação. Mas o casuísmo que sempre determinou as reformas pontuais do sistema eleitoral e partidário no Brasil acabou criando uma aberração: nada menos do que 28 legendas partidárias ocupam hoje as 513 cadeiras da Câmara dos Deputados.

Essa é uma das consequências das coligações nas eleições proporcionais. Em reportagem do jornal O Globo, o cientista político Jairo Nicolau, da UFRJ, explica: "Há dois problemas nisso. O primeiro é que a coligação transfere voto sem que o eleitor tenha informação disso. Então, a pessoa pode ter votado em um partido da situação para deputado federal, mas, pela composição da coligação estadual, acaba elegendo um deputado de oposição. O segundo é que o modelo favorece a dispersão dos partidos. (...) Essa fragmentação dificulta a aprovação de leis e favorece chantagens e achaques".

Além da proibição das coligações, a maneira mais efetiva de reduzir os efeitos nocivos da grande fragmentação partidária no Parlamento é o estabelecimento da chamada cláusula de barreira. Esse mecanismo criado pelos alemães permite que qualquer partido legalmente existente apresente candidatos, mas estabelece um mínimo de votos para que a legenda conquiste uma cadeira no Parlamento. Hoje, no Brasil, na eleição para a Câmara dos Deputados, por exemplo, qualquer partido que alcance o coeficiente eleitoral na soma dos votos dados a todos os seus candidatos num Estado tem direito a uma cadeira. Mesmo que não tenha obtido 1 voto sequer nos demais Estados.

A cláusula de barreira estabelece que, para fazer jus a uma cadeira, o partido terá de conquistar uma porcentagem mínima de votos num número mínimo de Estados.

A reportagem de O Globo mostrou que, se nas eleições deste ano as coligações não fossem permitidas, 5 dos 28 partidos não teriam assento na Câmara. E, se houvesse cláusula de barreira (por exemplo, 5% dos votos válidos em pelo menos 9 Estados), 182 cadeiras não seriam ocupadas pelos atuais eleitos e apenas 7 partidos permaneceriam representados na Câmara: PT, PMDB, PSDB, PSD, PP, PSB e PR.

Isso tudo demonstra que a reforma política de que o País precisa pode se tornar refém não apenas das manipulações do lulopetismo obcecado por se perpetuar no poder, mas também do fisiologismo de partidos e políticos nanicos pouco dispostos a largar o osso.

Aprovado relatório que mostra sobrepreço em 'mini-Pasadena'

Murillo Camarotto - Valor Econômico

BRASÍLIA - Apelidada de "mini-Pasadena", a aquisição de uma usina de biodiesel pela Petrobras foi questionada ontem pelo plenário do Tribunal de Contas da União (TCU). O colegiado aprovou por unanimidade o relatório do ministro José Jorge, que, conforme antecipou o Valor na última terça-feira, apontou indícios de sobrepreço no negócio, realizado em 2009. O documento convoca representantes da estatal para prestarem esclarecimentos.

Entre os citados está o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, cotado para assumir uma pasta de maior relevância no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. À época do negócio, ele era presidente da Petrobras Biocombustível (PBio), que pagou R$ 55 milhões por metade da usina Marialva, localizada no município de mesmo nome, no Paraná.

Dois meses antes, entretanto, a mesma unidade - que produz biodiesel a partir de esmagamento de soja e sebo de bovinos - tinha sido integralmente adquirida pelo grupo gaúcho BSBios por uma quantia bem menor: R$ 37 milhões. Dado por José Jorge, o apelido de "mini-Pasadena" se deve à característica semelhante entre os dois negócios, apesar da sensível diferença nos valores envolvidos.

De acordo com o relatório, a subsidiária da Petrobras não fez as pesquisas prévias necessárias para "obter a parceria mais vantajosa para a estatal na exploração de biodiesel na região". O documento diz que o negócio não obedeceu critérios do Sistema Petrobras para realizar a aquisição, que teria colocado a empresa "em risco" ao se associar com um parceiro "de capital inexpressivo e alto endividamento".

A fiscalização sobre o negócio tem origem em um requerimento da Comissão de Agricultura da Câmara, que em março deste ano pediu que fosse investigada a sociedade entre a Petrobras e a BSBios. Depois da unidade Marialva, a estatal adquiriu, em 2011, 50% de participação na usina Passo Fundo, também pertencente ao grupo gaúcho. O negócio foi fechado por R$ 200 milhões.

O TCU, entretanto, não viu indícios de sobrepreço na segunda transação. Ainda assim, José Jorge ressaltou que a aquisição da usina de Passo Fundo também representou riscos para o caixa da Petrobras Biocombustível.

A hipótese de ilegalidade foi rechaçada com veemência por Rossetto. Ao Valor, o ministro disse ter acesso a um relatório técnico-operacional do TCU que descarta indícios de sobrepreço em ambas as aquisições. Ele também garante que quaisquer eventuais riscos para a PBio ou para a Petrobras foram devidamente mitigados pelas garantias apresentadas pelos sócios gaúchos.

Sem referir-se especificamente ao voto de José Jorge, Rossetto disse que avalia o relatório do TCU como "abonatório" para a PBio. A seu ver, os pedidos de esclarecimentos são "processuais" e serão respondidos.

Os representantes da Petrobras têm dez dias para fornecer as informações solicitadas. A depender do teor das justificativas da estatal, será convocada uma audiência com Rossetto. A assessoria de imprensa da BSBios se comprometeu a enviar uma nota, mas não havia o feito até o fechamento desta edição.

Oposição responsável – Zero Hora (RS) / Editorial

A vigilância e a crítica são atribuições dos oposicionistas, desde que exercidas nos limites determinados pela civilidade e pela democracia.

O retorno do ex- candidato Aécio Neves ao Senado, saudado por pares e simpatizantes como o principal líder da oposição, foi marcado por manifestações de rejeição aos ocupantes do governo e também por uma declaração sensata. Disse o pretendente derrotado à Presidência que, em nome dos mais de 51 milhões de votos obtidos nas urnas, iria articular o PSDB e seus aliados para que exerçam a vigilância crítica dos atos do Executivo, desde que isso não signifique radicalismos. "Eu respeito a democracia permanentemente e qualquer utilização dessas manifestações no sentido de qualquer tipo de retrocesso à democracia terá a nossa mais veemente oposição", afirmou o senador mineiro, para completar: "Eu fui o candidato das liberdades, da democracia, do respeito. Aqueles que agem de forma autoritária e truculenta estão no outro campo político, não estão no nosso campo político".

É o melhor caminho para uma oposição responsável num regime democrático. Acabou a eleição, acabou o antagonismo eleitoral, que neste ano assumiu proporções preocupantes. Agora, o governo tem que governar e a oposição deve assumir o papel fiscalizador, sempre dentro dos limites da civilidade e da legalidade. Ontem, derrotados e vitoriosos ouviram os primeiros pronunciamentos de seus líderes depois do segundo turno. Aécio Neves e Dilma Rousseff discursaram para parte dos liderados, que passam a ser orientados a respeitar os resultados do pleito, sob pena de o país estender para além do razoável o debate que deveria se resumir ao período eleitoral.

Isso não significa que a oposição deva abrir mão de seu papel, mas adequar suas atribuições à normalidade democrática. Que o senador cumpra, como anuncia, a tarefa que cabe aos oposicionistas, e que o governo procure atender compromissos assumidos durante a campanha. Ontem mesmo, a presidente reeleita voltou a dizer que irá se empenhar pela realização das reformas política e tributária, pela implementação da nova política de segurança pública e pelo combate à corrupção.

Esses e outros pontos, incluindo os que não fazem parte da pauta em que oposição e governo convergem, terão de ser enfrentados. A democracia brasileira atingiu grau de maturidade capaz de evitar que se confundam, num clima ainda tenso, o natural empenho da oposição e as manifestações mais radicais que tentam levantar dúvidas sobre a legitimidade de um governo eleito. A manutenção de retóricas eleitorais, por parte de oposicionistas ou governistas, não contribui para o aperfeiçoamento das instituições.

Marco Aurélio Nogueira - A direita extremada, esta ameaça mal conhecida

- O Estado de S. Paulo

Trajando suas mais típicas vestes maximalistas, provocadoras e golpistas, a direita extremada está querendo ir para a rua.

Não que estivesse desde sempre ausente dela. Em junho de 2013, tentou mostrar as garras nas manifestações que tomaram conta da cidade, usando os expedientes que a caracterizam: o destempero verbal, a provocação, o autoritarismo, a violência. Foi repelida pelos manifestantes, que não se intimidaram diante dela, mas algum modo ajudou a desmobilizá-los.

A direita extrema que está buscando agora se exibir é um grupo dentre outros, um subgrupo de um grupo maior, mas não se articula com ele. É algo à parte, que tenta ostensivamente se apropriar da alma daqueles que votaram contra o PT nas últimas eleições. Quer ser a vanguarda belicosa do antipetismo, este estado de espírito que cresceu como mato de uns anos para cá.

Procura capturar o sentimento de cansaço, descontentamento e desilusão que há em várias franjas da população contra a má qualidade da política, as falhas da representação e os desacertos governamentais. Quer pegar carona na frustração dos que acharam que Aécio venceria as eleições.

A direita extremada tenta fazer isto a seu feitio: valendo-se do histrionismo, da demagogia barata e da ameaça autoritária, chegando ao limite de falar em golpe e intervenção militar. Faz o jogo sujo de sempre, insuflando pessoas para a “caça aos comunistas” e para a desvalorização da democracia. Descobre até mesmo uma estratégia detalhada para que o comunismo se implante no País e no continente. É uma direita que parou no tempo. Sua linha de frente é integrada por provocadores, alguns abertamente grotescos.

Tanto quanto criticá-la e repeli-la, precisamos compreendê-la. Vê-la como parte da rua, mas não como toda a rua. Esta direita virulenta não é sequer toda a direita, mas um pedaço dela, de tamanho não conhecido. Há muitas “direitas” no mundo, não faz sentido tratá-las como se fossem uma única coisa e sair por aí carimbando liberais e neoliberais como “direitistas”, indiscriminadamente. É muita pobreza intelectual e muita cegueira política.

Em suma, devemos olhar a floresta, não um ou outro galho podre.

Precisamos antes de tudo decifrar o enigma: quem são e o que pensam os que animam esta direita extremada? Qual seu alimento, que chances tem de crescer? Sua cultura pode ser conhecida, mas suas possíveis traduções não o são necessariamente. O fenômeno não é novo no Brasil, mas sua irrupção pública é. Não temos estudos que nos forneçam o identikit desta direita.
Em segundo lugar, uma sociologia das ruas nos ajudaria muito. Quem (indivíduos, grupos, classes) se mobiliza hoje, por quais motivos, quem se deixaria levar por palavras de ordem demagógicas e abertamente regressistas? O que sensibiliza e motiva tais pessoas? Todos os que protestam, hoje, podem ser acomodados numa caixinha escrita “direita”, só porque se manifestam contra Dilma ou o PT?

Disto deriva, em terceiro lugar, a questão de saber por que há pessoas hoje, no Brasil, que estão “desorganizadas” mas dispostas a protestar e a fazer ouvir sua voz. Estas pessoas não aplaudem plataformas antidemocráticas. Podem pedirimpeachment num momento inadequado, sem se dar conta de que este instrumento constitucional precisa ser devidamente processado, não pode ser usado para extravasar suspeitas ou insatisfações. Mas não são “direitistas”. São quando muito pessoas comuns, insatisfeitas, irritadas. Têm todo o direito de ir às ruas. E até de falar em impeachment caso a situação política assim indique.

Por que então ninguém consegue organizá-las em sentido democrático? Onde estão o PT, o PSDB, o PSB, a Esquerda Democrática que não conseguem atrair cidadãos que, em princípio, não concordam com o regressismo da direita extremada mas que poderão se deixar levar por ele?

Eleitores frustrados e, em parte, revoltados com a perspectiva de que tudo continue como dantes e de que o sistema político siga envenenado, são personagens democráticos como outros quaisquer. Fazem bem à democracia, funcionando como um mecanismo de controle social e de crítica ao poder. Mas precisam ter referências e recursos de mobilização e ação.

Os que foram à rua no último sábado, em São Paulo, não são “de direita”. Também não são tucanos, ainda que possam ter votado em Aécio Neves. Não sabemos bem quem são e deveríamos humildemente reconhecer isto, no mínimo para evitar generalizações. O que sabemos é que um pequeno grupo de direitistas extremados procurou manipulá-los, roubando-lhes a indignação para impulsionar propostas antidemocráticas.

Estes direitistas, seus intelectuais de plantão, seus ícones, assim como os que aceitam suas modalidades de pensamento e ação, não integram a oposição democrática. Não são do PSDB, nem do PSB, nem do PPS ou do PSol. Fazem bem, portanto, os partidos democráticos em se dissociarem claramente deles. Como fez Xico Graziano, por exemplo: “Existe no Brasil uma ideologia própria da direita que se encontra desamparada do sistema representativo, quer dizer, sem partido político. Sua força se mostra na rede da internet. Essa corrente luta para destruir o PT, acusando-o de querer implantar o comunismo por aqui. Defendem as liberdades individuais, combatem a corrupção organizada no poder, desprezam as lutas sociais, mostrando-se intolerante com o direito das minorias. (…) Na complexidade do mundo contemporâneo anda difícil rotular os partidos, e as pessoas, como de “direita” ou de “esquerda”, categorias válidas no século passado, mas ultrapassadas hoje em dia.

 De qualquer forma, quem concordar com as teses dessa turma aguerrida que vê o comunismo chegando, é contra os benefícios sociais, sonha com a ordem militar, por favor, deixem o PSDB.”

Que se multipliquem manifestações como estas. Que se separem e se distingam as posições. Isto é decisivo para que se ponha um pouco mais de ordem nos alinhamentos políticos e ideológicos.
Isto deve valer para todos, vencidos e vencedores.

Moderação, sensatez e disposição para dar direção política à sociedade devem ser exigidas do PSDB e de seus aliados. Eles precisam mostrar determinação para ocupar um espaço e organizar o debate público. Devem atuar democraticamente como oposição política ativa, colar-se aos movimentos e humores da sociedade, colaborar para que se resolvam os problemas do País. Aécio Neves, ao voltar ao Senado, disse integrar “um grande exército a favor do Brasil e pronto para fazer a oposição que a opinião pública determinou”. Um exército faz guerra, não amor.

Deveria suavizar a linguagem.

Mas o PT e sua combativa militância precisam dar idêntica contribuição. Parar, por exemplo, de distribuir acusações, de estigmatizar seus adversários e de atribuir a eles a responsabilidade pela emergência da direita extremada. Quanto menos sectarismo e intolerância, melhor. Deveriam também fazer o possível para segurar seus próprios extremistas, que não são muitos mas costumam fazer muito barulho. E desativar o discurso maniqueísta que separa o Brasil em “povo petista” e “elites tucanas”, que foi incorporado por muita gente e só ajuda a emburrecer e a excitar, além de ser paralisante.

Deste ponto de vista, nada mais surpreendente e prejudicial do que a nota do PT (04/11/2014) conclamando a militância “às armas “ para combater os “fantasmas do passado” que buscam criar um “terceiro turno” na eleição presidencial. Serve somente para colocar a tropa nos cascos, “armando-a” com argumentos e estímulos “para rebater a ignorância nas redes e nas ruas”.

Contrapõe-se frontalmente ao mandato e à responsabilidade que o partido recebeu das urnas.

Em seus primeiros passos como presidente reeleita, Dilma parece estar inclinada a fazer tudo aquilo que abominou e criticou em seus adversários (Marina e Aécio): cortes de despesas, elevação de juros e preços, empresários e banqueiros no comando da economia. Há um anticlímax no ar. Ela terá de mastigar o mesmo veneno que inoculou nos adversários. Neste quadro, a insatisfação tenderá a crescer. A militância dilmista poderá se frustrar e sair em busca de um bode expiatório, pondo mais fogo nas ruas.

Democracia é conflito, tensão e luta. É ruído, não silêncio. Ação, não passividade. Contudo, sem um mínimo de cálculo político, organização e bom senso a vida democrática não se sustenta e pode terminar por embalar seu pior pesadelo: a violência e o autoritarismo sem freios.

A extrema-direita está aí, buscando ganhar espaço. Como os democratas podem enfrentá-la? A tática de hipertrofiá-la, de apresentá-la como se estivesse em forte e categórica expansão, não é somente um equívoco político: é um desrespeito à realidade e à verdade dos fatos. É agitação, não análise política.

 Faz uma clonagem ao reverso da fraseologia direitista que vê o comunismo como prestes a ser instalado no País. Agiganta e estimula um ator que somente respira em condições de exacerbação dos espíritos.

Opor-se à direita extremada é algo que depende de fortalecimento democrático, no plano institucional, político e cultural. Passa por convergências e consensos que funcionem como filtros, divisores de águas e anteparos. Quanto mais polarizado o quadro, maior será o campo de ação para a direita, menos isolada se sentirá ela.

As ruas estão sempre sendo disputadas. A direita extremada é somente um dos protagonistas.

Ela cresce no vácuo. Se os demais deixarem, a disputa enveredará por caminhos que não interessam à democracia.

Cientista político e professor da teoria política na UNESP

Merval Pereira - Sem tranquilidade

- O Globo

Tendo ainda pela frente mais alguns meses do primeiro mandato, e outros quatro anos de um segundo, a presidente Dilma não conseguiu ainda sair das cordas, apesar de vitoriosa nas urnas. Para seu azar, vai terminar o ano com um crescimento pífio, talvez abaixo de 0,5%, e engatar outro ano de economia débil, faça ou não as mudanças necessárias.

Mesmo se as fizer, vai aprofundar a recessão da economia e terá que conviver com pelo menos mais um ano ou dois de crise para tentar chegar ao final do mandato com a situação mais ou menos controlada. A herança maldita que herdou de si mesma afetará não apenas o seu governo, mas os projetos futuros de Lula e do PT, especialmente se Dilma quiser dobrar a aposta em seus métodos. Se por um lado não tem o que perder nesse segundo mandato, pois não alimenta nenhum projeto político futuro, a presidente reeleita terá que lidar com as angústias de seu partido de adoção e, sobretudo, com um Lula disposto a mudar o jogo para não afundar o projeto de poder que tanto alimenta, com ou sem ele no governo.

A insistência de Lula para que Dilma coloque no Ministério da Fazenda Henrique Meirelles ou o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, mostra que o ex-presidente sabe exatamente o tamanho da encrenca em que o governo petista está metido, e sabe também o caminho a ser seguido, como fez em 2002 ao ser eleito pela primeira vez. Como Dilma não é Lula, nem na capacidade de negociação nem na arte da dissimulação, é improvável que nomeie para a Fazenda alguém com luz própria. Lula ter á então a possibilidade de se afastar de sua protegida com boas razões para criticá-la, surgindo como uma alternativa em 2018 para o PT.

Dilma ter á que tourear neste 2º mandato um Congresso muito mais inquieto, até mesmo pelas ameaças que as delações premiadas estão produzindo, com uma base aliada muito mais infiel, e uma oposição re forçada pelas urnas. Pela primeira vez em 12 anos, o PT ter á uma oposição sistemática ao seu governo, sem re ceio de ser jogada contra "a vontade popular". Simplesmente por que essa oposição atual representa quase tantos eleitores quantos os que votaram na continuidade do governo Dilma. O maior aliado do PT no governo é o PMDB, também seu pior adversário.

Saído das urnas com boa parte de seus quadros trabalhando com a oposição em diversos estados do país, o PMDB chega ao segundo mandato disposto a assumir o papel de fiel da balança, colocando-se mais como um contraponto do que um aliado do PT. Lula, como sempre, atua dialeticamente, tentando levar a economia para o campo ortodoxo, mas propondo uma guinada à esquerda na política, inclusive para suprir uma eventual falta dos partidos de centro-direita que, mesmo na base aliada, já sentem o vento soprar em outra direção.

O PMDB já anunciou que apresentará sua versão da reforma política, o que prenuncia um embate dentro da base aliada em torno de temas fundamentais, como financiamento público de campanha, constituinte exclusiva, democratização da mídia, conselhos populares, tem as caro s aos petistas que encontram no PMDB forte resistência. Por isso, não se sabe a quem a presidente Dilma enviou uma mensagem cifrada em sua fala de ontem, quando afirmou quer "há de saber ganhar , há de saber perder.

A atitude do ganhador não pode ser de soberba, nem pretensão de ser o último grito em matéria de visão política. Saber perder é saber em que ponto você está e não significa que vamos construir um muro no Brasil". Palavras ponderadas de quem vê dificuldades pela frente. Já o PT, num documento de sua Executiva Nacional, deixou de lado as sutilezas para abrir o jogo: "É urgente construir hegemonia na sociedade, promover re formas estruturais, com destaque para a re forma política e a democratização da mídia" (...)

"Para transformar o Brasil, é preciso combinar ação institucional, mobilização social e revolução cultural". São palavras de um partido que quer retomar seu viés revolucionário, depois do susto de ser quase derrotado nas eleições presidenciais. Diante da disposição da oposição de não dar trégua aos petistas, no Congresso e nas ruas , pode-se prever os "tempos interessantes " da maldição atribuída a Confúcio, em que os riscos e os sofrimentos não cessam, impedindo a tranqüilidade.

Dora Kramer - Ao perdedor, o festejo

- O Estado de S. Paulo

Mesmo depois de virar água passada, a eleição de 2014 continua produzindo fatos inusitados. Passado o baque daquela noite de domingo (26), em que o PT mais uma vez tirou o PSDB da rota de volta da planície ao Planalto, a oposição não faz outra coisa a não ser comemorar a derrota.

O entusiasmo, a unidade de ação e o pensamento dos perdedores contrastam com os reclamos, as divergências e a desorientação dos vencedores que ficaram com o governo, mas herdaram uma oposição cujos primeiros acordes sinalizam que será completamente diferente daquela que saiu das três eleições anteriores.

E a razão não está apenas no aumento do número de votos. Inclusive porque não foi assim tão significativa: José Serra teve 44% em 2010 e Aécio Neves, 48,4% agora.

A diferença está no entendimento por parte dos oposicionistas de que a eles cabe o papel de vocalizar o contraditório e se expressar em nome de parcelas da sociedade não apenas nos momentos em que precisam de votos.

A volta do senador Aécio Neves à cena, com seus discursos ontem na reunião da Executiva do PSDB e na tribuna do Senado, resume o que já vinha sendo dito e escrito por lideranças do partido: a oposição promete ser combativa, vigilante, contundente, incansável e não se limitar ao ambiente do Congresso.

Aécio deixou isso muito claro quando alertou ao governo para que não olhasse a oposição apenas pela ótica do tamanho de suas bancadas no Parlamento, mas na perspectiva dos 51 milhões de cidadãos que optaram pela candidatura dele e em nome dos quais, anunciou, "vamos fazer a mais vigorosa oposição que este Brasil já assistiu".

A cena fez lembrar outra, cerca de quatro anos atrás, quando Aécio Neves recentemente eleito senador subiu à mesma tribuna para fazer um discurso a fim de se apresentar (era a expectativa) como líder da oposição. Palavras brandas, foi aparteado por senadores do PT um após o outro em saudações elogiosas, no tom algo irônico de quem recepciona o oposicionista que pediu a Deus.

Retraído, pouco combativo, assim se comportou. É possível que isso tenha feito a diferença agora entre a vitória e a derrota. E por isso a entonação ontem foi outra: a começar por lembrar que a presidente Dilma Rousseff está tomando medidas que durante a campanha dizia que o adversário iria tomar.

Discurso que ela agora gostaria que fosse esquecido.

Extremos. Os protestos pós-eleitorais que degeneram para a defesa da volta dos militares são a outra face da moeda de gestos, tais como a recente assinatura de convênio entre o MST e o governo da Venezuela para troca de conhecimentos sobre os fundamentos da "revolução social".

Os primeiros foram repudiados pela oposição; de bom alvitre seria que, em relação ao intercâmbio bolivariano, o governo brasileiro pudesse dizer que não tem nada com isso.

Nada impede. Passada a eleição, perdeu a validade o argumento do ex-presidente Luiz Inácio da Silva para não atender ao convite da Polícia Federal que, desde fevereiro, tenta ouvi-lo sobre um depoimento de Marcos Valério de Souza apontando a interferência de Lula e de Antônio Palocci em repasse de R$ 7 milhões da empresa Portugal Telecom ao PT.

O inquérito foi aberto em abril de 2013 e a PF aguarda o depoimento do ex-presidente (como testemunha) para concluí-lo. O convite foi feito reiteradas vezes, mas só respondido de forma indireta pelo advogado Márcio Thomaz Bastos dizendo que iria tentar marcar uma data.

Quando o assunto veio a público, em setembro último, a alegação foi a de que no curso da campanha eleitoral não seria o período mais conveniente.

Eliane Cantanhêde - O último bastião

- Folha de S. Paulo

Se eu fosse a presidente Dilma, acenderia dezenas de velas no Palácio da Alvorada para o emprego não começar a cair. Todos os indicadores econômicos, ladeira abaixo, ameaçam puxar também esse último bastião da campanha e do primeiro mandato de Dilma.

Nem o combate à miséria resistiu a esses quatros anos. Curiosamente atrasada, nos chega agora a notícia de que, pela primeira vez em dez anos, há uma interrupção na redução do total de miseráveis. O número caía ano a ano, mas passou a apresentar um leve movimento de alta. Os 10,08 milhões de brasileiros que em 2012 não tinham renda suficiente nem para uma cesta mínima de alimentos cresceram 3,7% e passaram a 10,45 milhões em 2013.

Trata-se de notícia oficial, de órgão oficial (Ipea), baseada em dados oficiais (do IBGE). Mas foi adiada para depois das eleições, sabe-se lá por quê. Ou será que a gente sabe? Em 2010, quando eram bons para Lula, os dados foram anunciados no meio das eleições. Em 2014, quando são ruins para Dilma, só são depois, e discretamente.

O quadro é o seguinte: estagnação da economia, alta dos juros, inflação no teto --ou acima do teto-- da meta, contas públicas no vermelho pela primeira vez em décadas, contas externas muito desfavoráveis ao Brasil, redução de importações de máquinas e equipamentos essenciais à indústria --que vem caindo.

Era óbvio, portanto, que o número de miseráveis pararia de cair, indicando que pode até subir. Como é óbvio que os empregos --que se seguram com os menos qualificados, que menos colaboram para o aumento da produtividade-- também deverão sofrer os efeitos dessa confluência nefasta na economia.

Depois de ouvir Lula longamente, Dilma defendeu nesta quarta (5) que é hora de todo mundo descer do palanque. É mesmo, tem toda razão, até porque ganhar a eleição já não foi fácil, mas corrigir rumos e tirar o país do buraco vai ser mais difícil ainda.

Luiz Carlos Azedo - Os Miseráveis

• Ontem foram revelados os dados da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que o Palácio do Planalto proibiu que fossem divulgados antes das eleições: a extrema pobreza voltou a subir

- Correio Braziliense

Obra monumental do escritor francês Victor Hugo, Os Miseráveis (Saraiva, 2 volumes) foi um sucesso literário desde o lançamento simultâneo, em 1862, nas cidades de Paris, Leipzing, Bruxelas, Budapeste, Milão, Roterdã, Varsóvia e Rio de Janeiro. Narra a corrupta política francesa entre a derrota de Napoleão em Waterloo, em 1815, e os motins de junho de 1832, no conturbado reinado de Luís Felipe, início da uma crise que resultou na brevíssima Segunda República e, depois, no 18 Brumário de Luís Bonaparte (1851), a grande farsa restauradora da aristocracia francesa, já ultrapassada pela burguesia e pelo capitalismo.

Os Miseráveis rasga ao véu que encobria a pobreza, a miséria, a exploração da criança, o abandono dos idosos. É um livro triste, constrangedor, que mostra a pobreza de forma nua e crua e transforma em grandes personagens da saga humana pessoas que viviam na ignorância, sem possibilidades de estudos nem oportunidades de trabalho, numa monumental descrição do outro lado de uma sociedade que gostava de opulência e ostentação, mas dava os primeiros passos para a modernidade, no rastro das ideias do Iluminismo e da Revolução Francesa de 1789.

O herói do livro é Jean Valjean, um homem muito pobre que para salvar a família da fome é forçado a roubar um simples pão. Desde então é condenado e preso pela polícia. Porém, quando está terminando de cumprir a pena, ele foge e acaba sendo condenado novamente. Fez isso algumas vezes e acaba passando 19 anos preso por ter roubado apenas um pão.

A saga de Valjean pautou a questão social para sempre e o tema da miséria passou a ser um dos eixos da luta política até os nossos tempos. Na recente disputa eleitoral, toda a estratégia de campanha da presidente Dilma Roussff apostou na contradição entre pobres e ricos e na bandeira do combate à miséria, que o PT procurou monopolizar, com um discurso no qual acusava a oposição de apresentar propostas que aumentariam os indicadores de pobreza no país.

A miséria censurada
Ontem foram revelados os dados da pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que o Palácio do Planalto proibiu que fossem divulgados antes das eleições. Após uma década de queda na miséria, o número de brasileiros em condição de extrema pobreza voltou a subir em 2013. O país tinha 10,08 milhões de miseráveis em 2012, contra 10,45 milhões um ano depois, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O aumento é de 3,7%.

Durante a campanha, Dilma vetou a divulgação dos resultados porque isso poderia desconstruir seu discurso eleitoral e desnudar o fato de que o baixo índice de crescimento econômico pode colocar em risco as conquistas sociais proporcionadas por programas de transferência de renda do governo, como o Bolsa Família. O fato provocou uma crise no órgão.

O cálculo leva em conta o número de indivíduos extremamente pobres com base nas necessidades calóricas — aquelas com renda insuficiente para consumir uma cesta de alimentos com o mínimo de calorias para suprir uma pessoa de forma adequada, com base em recomendações da FAO e da OMS. Essa é a primeira alta da série histórica do indicador, com início em 2004. Desde 2003 — quando o Brasil possuía 26,24 milhões de pessoas na miséria, o número de miseráveis caía continuamente, chegando a uma queda de 61% até 2012.

No decreto do plano Brasil sem Miséria — nele, a renda familiar de até R$ 77 por mês, per capita, é o limite da extrema pobreza no país. Por esta estimativa, os dados do Ipea mostram que a proporção de miseráveis, em relação a outras faixas, cresceu de 3,6%, em 2012, para 4% no ano passado. Em compensação ao aumento da miséria, o número de pessoas pobres caiu de 30,35 milhões em 2012 para 28,69 milhões em 2013 — uma redução de 5,4%. Esse é o lado bom, pois revela que uma parcela da população, aquela que consegue manter algum nível de atividade produtiva, consegue escapar da iniquidade social. Uma parte dos que deixaram de ser pobres, porém, pode ter voltado à miséria, mas a pesquisa não esclarece isso.

O principal fator de redução da pobreza no Brasil não é o Bolsa Família, é a recuperação do salário mínimo, que serve de referência para mais 45 milhões de pessoas no Brasil e deve passar de R$ 724 para R$ 779,79 a partir de janeiro de 2015. O percentual de correção do salário mínimo, pela proposta do governo, será de 7,71% no próximo ano. O governo previa que o salário mínimo superasse a barreira dos R$ 800 em 2015, mas o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficou abaixo do que se esperava. É mais um resultado negativo do primeiro mandato de Dilma.