quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Giuseppe Vacca: formação da subjetividade

Para falar sobre nós, os pontos salientes da análise podem ser sintetizados do seguinte modo: a convicção de que se produzira uma mudança radical nos processos de formação da subjetividade, cujo traço principal era a “mundialização”; a percepção de que os Estados Unidos se encaminhavam para a derrota no Vietnã, o que iria produzir uma crise da sua hegemonia; a convicção de que, consumada a ruptura definitiva entre a URSS e a China, a repressão da “Primavera de Praga” marcava o fim de qualquer possibilidade residual para o comunismo soviético de exercer uma atração mundial e uma função internacional progressista.

Numa escala menor, com a qual se media nossa ação, os dados salientes foram as posições que o PCI assumiu quanto ao movimento estudantil e à intervenção soviética na Tcheco-Eslováquia. Quanto ao movimento estudantil de 1968, o PCI assumiu uma posição de abertura, afirmando querer unir lutas de classe e movimentos antiautoritários na perspectiva de uma transformação socialista original, baseada na difusão da política e na expansão progressiva da democracia articulada pelo reconhecimento da autonomia dos movimentos coletivos e da sua subjetividade política.

In. Giuseppe Vacca, ‘Por um novo reformismo’, pág. 35. Fundação Astrojildo Pereira / Contraponto, 2009.

Manchetes de alguns dos principais jornais do país

O GLOBO
Só agora, Vaticano revela problema cardíaco do Papa
Auxílio-moradia é pago sem controle
Campos dirá a Lula que será candidato

FOLHA DE S. PAULO
Bento 16 não vai interferir em sucessão, diz Vaticano
Burocracia do Brasil prejudica investimentos, afirma ministra
Infraestrutura vai liderar aplicação de recursos no país até 2016, prevê BNDES
Coreia do Norte faz novo teste nuclear, e ONU promete reagir
EUA vão tirar metade dos soldados do Afeganistão
Agricultura fez lobo 'virar' cão, mostra pesquisa

O ESTADO DE S. PAULO
Disputa de poder foi um dos motivos da saída de Bento XVI
MP investiga desvio de verba para tragédias

VALOR ECONÔMICO
Concessão de ferrovias terá 'gatilho' para ampliações
Desvalorização do bolívar afeta pouco o Brasil
Limites para manobra com os dividendos
União ativa as vendas de máquinas
Fux diz que não sabia dos 3 mil vetos

BRASIL ECONÔMICO
CEF revê sistema que avalia preços de imóveis e obras em licitações
Dilma vai anunciar a desoneração da cesta básica na festa do dia 1ºde maio
Fornecedores criticam o valor da energia eólica
O preço da natureza

CORREIO BRAZILIENSE
Novo papa terá de evitar fuga de fiéis
ONU reage a teste nuclear e Coreia ameaça

ESTADO DE MINAS
O jogo do poder no Vaticano - Quem vai calçar as sandálias do pescador?

O TEMPO (MG)
Comarcas de Minas sofrem com a falta de promotores
Governo propõe parceria para ampliar áreas irrigadas

GAZETA DO POVO (PR)
Despedida do Papa Bento XVI começa hoje em missa aberta
Samba, fila e temporal encerram o feriadão
Alta de insumos leva a R$ 3 custo por passageiro
Empresas assinam documento com princípios ambientais
Morte de Oviedo afeta vantagem de colorados na eleição paraguaia

ZERO HORA (RS)
Trânsito gaúcho matou 28 pessoas no feriadão
Santa Maria : As três frentes de investigação
Etanol deve voltar a ser vantajoso

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Esta quarta é cinza
A frágil saúde de Bento XVI
Carnaval a todo vapor na agenda do PSB

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do país

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

O alimento da inflação

Em dez anos, feijão subiu 197%, ante IPCA de 76%. Em 2012, preço do arroz disparou 36%

Eliane Oliveira, Cristiane Bonfanti

Dieta. O aposentado Marcelo Moreira do Bonfim reclama da alta das frutas e do leite de soja, que dobrou de preço no ano passado

BRASÍLIA - Os consumidores estão sem saída na hora de escolher a cesta de produtos que vão à mesa. Com a produção abalada por quebras de safras e problemas climáticos, nem mesmo os itens mais tradicionais do prato brasileiro escaparam da onda de aumentos registrada nos últimos dez anos, acentuada nos últimos meses. Dados do IBGE mostram que, no acumulado de 2003 a 2012, os reajustes do preço do feijão chegaram a quase 200%, ante uma inflação de 76,62% no período. O arroz, embora tenha permanecido com preço estável nos primeiros nove anos do governo petista, ficou 36,67% mais caro somente em 2012. Na década, subiu 38,55%. No ano passado, os valores da dupla arroz e feijão subiram mais de 30%, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 5,84%.

O item da cesta que mais aumentou foi o feijão mulatinho, 197,22% desde 2003, mais que o dobro da média não apenas da inflação oficial medida pelo IPCA, mas de todo o grupo alimentação, que teve alta de 90,27%. O preço do feijão carioca (rajado) sofreu reajuste de 94,61% e o do preto, de 48,24% no mesmo período.

Salomão Quadros, superintendente adjunto de inflação da Fundação Getulio Vargas (FGV), atribuiu esse movimento, sobretudo, aos problemas na produção e à diminuição da área plantada. Nos momentos em que o cultivo de feijão fica menos vantajoso, os produtores migram para soja e milho.

- Há um deslocamento na produção. A de feijão, por exemplo, está sujeita a riscos. Se em um ano ela não está boa, no outro, melhora - destacou.

Sem vislumbrar um alívio no orçamento, a diarista Ivone Maria de Sousa faz pesquisa em, pelo menos, quatro supermercados antes de encher o carrinho. Ela lembrou que há dois anos pagava entre R$ 6 e R$ 7 por um pacote de cinco quilos de arroz, hoje o preço ultrapassa R$ 10.

- Além de realizar muita pesquisa, procuramos os dias de promoções específicas nos supermercados - disse.

A dona de casa Maria José Dias trocou as marcas dos alimentos. O pacote de feijão, que antes custava cerca de R$ 2, agora não sai por menos de R$ 4. A saída, disse ela, é andar de mercado em mercado e acompanhar as ofertas pela televisão para encontrar alimentos mais baratos. Com uma dieta especial, o aposentado Marcelo Moreira do Bonfim notou que o preço do litro de leite de soja mais do que dobrou em um ano, de R$ 2,50 para R$ 5,19. As cestas de frutas e legumes também pesaram muito mais no bolso.

- Eu aproveito as promoções para comprar. Mesmo assim, em um ano, passou de R$ 32 para R$ 70 o meu gasto com esses alimentos.

A comerciante Tânia Barros reclamou do preço da farinha de mandioca. Não sem motivos. Segundo o IBGE, o item ficou em quarto lugar no ranking da inflação de alimentos na última década, com reajuste de 273,09% desde 2003, atrás do sal, do caranguejo e da mandioca.

- Custava R$ 4 no ano passado. Agora, pago R$ 7.

A gerente do IPCA, Irene Machado, observou que, para quem come fora de casa, os reajustes foram ainda mais salgados. Enquanto a alimentação no domicílio aumentou 77,15% em dez anos, as pessoas que comem na rua passaram a pagar, em média, 134,52% mais caro. A maior elevação foi no caso do tradicional cafezinho, que sofreu reajuste de 142,24% em uma década. O café da manhã aumentou 134,06%; a refeição, 139,82%; e o lanche, 141,50%.

- Com a melhoria da renda, muitas pessoas absorvem esse aumento. Mas pode ser que outras até voltem a comer mais em casa - disse Irene..

O feirante Florentino Raimundo da Silva almoça cinco vezes por semana na rua. O prato, que no início de 2012 custava R$ 7, agora não sai por $ 9,50:

- Só como em casa duas vezes na semana.

Para atender à crescente demanda, o Brasil importa esses alimentos e tem hoje a China como principal fornecedor. As compras do país asiático cresceram 175% em valor e 132,4% em quantidade. Os chineses tiraram a liderança da Argentina. O diretor de política agrícola da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Silvio Porto, espera uma queda nos preços do arroz e do feijão, graças ao aumento da produção. Ele lembrou que, no ano passado, a colheita de arroz diminuiu dois milhões de toneladas:

- Serão mais de 12 milhões de toneladas de arroz e 3,3 milhões de feijão.

Fonte: O Globo

Preço mais baixo da energia não chega a indústria de base

Eduardo Rodrigues

BRASÍLIA - Passado o pacote de redução do preço das contas de luz de residências e indústrias abastecidas pelas distribuidoras de energia, a medida que o governo qualificou diversas vezes como "reforma estrutural" pode ficar capenga porque não estabeleceu regras claras para beneficiar também as indústrias de base do País. Embora se esperasse que a eletricidade vendida no chamado mercado livre também viesse a ficar mais barata, as companhias de uso mais intensivo de energia devem continuar pagando caro pela energia consumida.

Desde o início da formulação do pacote, o consenso dentro do governo era de que o ataque às altas tarifas acabaria beneficiando os consumidores ligados no chamado mercado regulado - ou cativo, no jargão do setor elétrico -, ou seja, todos que recebem a energia diretamente das distribuidoras. Imaginava-se que, com a queda nos preços de geração e transmissão, a energia comercializada no mercado livre -negociada diretamente entre quem gera e quem consome a eletricidade - também pudesse ter algum desconto.

Mas executivos do setor de siderurgia têm reclamado da dificuldade em renegociar contratos de venda de energia a preços mais em conta após o pacote do governo. De acordo com uma fonte do ramo de produção de alumínio, a Eletronorte sequer aceitou marcar uma reunião até o momento para rediscutir o custo que vem sendo pago pelo setor, enquanto o desconto para as indústrias no mercado regulado foi de até 32%.

"Durante a tramitação das medidas provisórias que formavam o pacote, nós defendíamos que parte das cotas de energia com custo reduzido pudessem ser repassadas para o mercado livre, o que garantiria também um desconto para esses consumidores", afirmou o presidente executivo da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa.

Dificuldades. Na avaliação do executivo, agora será difícil para a indústria negociar contratos mais em conta com os produtores de energia, porque as companhias do setor já perderam muitas receitas com as medidas do governo ejá passam por um processo de reestruturação. A maior delas, a Eletrobrás, deve concluir em até 30 dias um plano para cortar radicalmente custos e aumentar receitas onde for possível.

"As empresas de energia já estão pressionadas e devem buscar seu reequilíbrio justamente 110 mercado livre. Está muito complicado conseguir negociar algo nesse momento", completou Pedrosa.

Ainda assim, ele aposta que dificilmente os consumidores do mercado livre migrarão em massa para o mercado cativo em busca do desconto. "Essa é uma alternativa, mas com certeza é somente a última das opções. O mercado regulado é menos previsível para as grandes indústrias, que precisam de condições especiais de fornecimento", explicou.

Segundo Pedrosa, o resultado do pacote para a economia já está garantido, mas o impacto das medidas não será completo porque os custos das indústrias que operam no mercado livre acabam reverberando em toda a cadeia produtiva do País. "O governo tem uma agenda clara de buscar a competitividade da indústria nacional, mas, no cenário atual, todo o esforço não parece ter sido suficiente para ser um fator de decisão para novos investimentos", concluiu.

Sem obrigação. Procurada pela reportagem, a Eletronorte respondeu, por meio de sua assessoria, que não há "obrigação regulatória" para conceder a redução de preços nos contratos originados pelos leilões do mercado livre. "Esses contratos são vinculados ao preço, e não à tarifa. Dessa forma, reiteramos decisão do Governo Federal de manutenção dos contratos vigentes". O Ministério de Minas e Energia não comentou o assunto.

Fonte: o Estado de S. Paulo

Collor cobiça comissão pretendida por PSDB

Raquel Ulhôa

BRASÍLIA - A pretensão do senador Fernando Collor (PTB-AL) de voltar a presidir a Comissão de Serviços de Infraestrutura do Senado (CI) é a principal dificuldade que o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e os líderes partidários estão encontrando para concluir a divisão das presidências das 11 comissões técnicas para o biênio 2013-2014. As definições serão feitas após o Carnaval. Nos casos em que não houver acordo, poderá surgir disputa. O PSDB corre o risco de ser prejudicado.

Os comandos desses colegiados permanentes são preenchidos pelo critério da proporcionalidade partidária. Os líderes indicam presidente e vice-presidente, mas é preciso uma eleição na comissão para formalizar as escolhas.

Pela regra da proporcionalidade, o PMDB, que tem a maior bancada (20 senadores), faz a primeira escolha, o PT (com 12) faz a segunda e assim sucessivamente. O PMDB manterá a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), considerada uma das duas mais importantes. A outra é a de Assuntos Econômicos (CAE), que será presidida pelo PT. Os escolhidos para ocupar os cargos são, respectivamente, Vital do Rêgo (PMDB-PB) e Lindbergh Farias (PT-RJ).

As propostas em tramitação nas comissões do Senado estão paradas, aguardando a instalação delas. No Senado, todas as Propostas de Emenda Constitucional (PECs) passam apenas pela CCJ antes da decisão no plenário. Atualmente, tratando do rito de votação dos vetos presidenciais, há três PECs na Casa. A CAE, por sua vez, é responsável por analisar as propostas relativas às questões econômicas, financeiras e tributárias e aquelas envolvendo operações externas dos Estados e municípios. Também cabe à CAE realizar audiências públicas com presidentes e diretores do Banco Central. Uma das primeiras propostas que a CAE terá de examinar em 2013 é a resolução que unifica as alíquotas interestaduais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para 4%, em 12 anos.

Outra decisão a ser tomada logo pela CAE será a votação de requerimento da senadora Ana Amélia (PP-RS) convidando a presidente da Petrobras, Graça Foster, para participar de audiência pública, para explicar a atual política de preços e de investimentos da empresa e a venda de ativos na Argentina e em outros países.

Os problemas da repartição das comissões começam a partir da terceira escolha. O direito é do PSDB, com 11 senadores. Por conversas iniciais, a expectativa dos demais partidos era que os tucanos optassem pela Comissão de Relações Exteriores (CRE), e Aloysio Nunes Ferreira (SP) seria apontado para comandá-la.

Mas, com a escolha do senador paulista para líder da bancada, o escolhido para representar o PSDB no comando das comissões foi Cyro Miranda (GO), que tem outras preferências: a Comissão de Educação, Cultura e Esportes (CE) ou a de Infraestrutura (CI) - esta presidida por tucanos nas últimas gestões. A presidente mais recente foi Lúcia Vânia (PSDB-GO).

No entanto, durante as articulações feitas pelo grupo de Renan para levá-lo à presidência da Casa, ficou combinado que Ricardo Ferraço (PMDB-ES) - que integrava o grupo dos "independentes" - presidiria a CE. E Collor - que está deixando a presidência da CRE e, pelo regimento, não pode ser reeleito para o mesmo cargo no mandato seguinte - voltaria ao comando da Infraestrutura, cargo que ocupou de 2009 a 2010.

Aliás, Collor foi eleito para o cargo após vencer a então senadora Ideli Salvatti (PT-SC), que havia sido indicada pelo PT. A vitória no colegiado, por 13 votos a 10, resultou de acordo feito para garantir a eleição de José Sarney (PMDB-AP) para a Presidência do Senado, derrotando Tião Viana (PT-AC).

Agora, está criado um impasse entre a base de Renan e o PSDB, que não quer ocupar a CRE e reivindica o direito de fazer a terceira escolha de presidência de comissão, pelo tamanho de sua bancada. "O PSDB não vai ficar com a CRE. Essa comissão está descartada. A terceira escolha é nossa e estamos avaliando a Comissão de Educação ou a de Infraestrutura", afirma Cyro Miranda. "Não aceitamos dizer que houve acordo. Os partidos não podem ceder o que não têm", completou.

À oposição interessa a CI principalmente por causa da fiscalização das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da Copa do Mundo de 2014. Além disso, uma das principais tarefas da CI é realizar as sabatinas dos indicados da Presidência da República para compor as agências reguladoras.

A Comissão de Educação também interessa, por causa da discussão do Projeto de Lei do Plano Nacional de Educação (PNE), que está tramitando no Senado. A bancada do PSDB vai se reunir logo após o Carnaval, em Brasília, para fazer a escolha, segundo Miranda. Se os tucanos optarem pela CI e os tucanos insistirem, o cenário é de nova disputa. O mesmo pode acontecer na CE, se for a escolha do PSDB e o PMDB mantiver a indicação de Ferraço.

Além da CCJ, para Vital, e a CE, para o senador capixaba, o PMDB quer a presidência da Comissão de Assuntos Sociais (CAS), para a qual o indicado, por enquanto, é Waldemir Moka (MS).

O PT, além da CAE, deve manter a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), para a qual foi escolhida Ana Rita (ES). Para presidir a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), o indicado é Benedito de Lira (PP-AL), que integra o Bloco da Maioria (PMDB-PP-PV). Pode haver disputa, caso o PDT decida confirme a indicação de Zezé Perrella (MG) para a vaga.

A Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização (CMA) deve ser presidida por Blairo Maggi (PR-MT), caso o senador não seja nomeado pela presidente Dilma Rousseff para compor sua equipe ministerial, como está sendo cogitado.
O PSB pode ficar com a presidência da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação (CCT) e o indicado é Antonio Carlos Valadares (SE). O comando da Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) ainda está em aberto.

Fonte: Valor Econômico

Sete dias para destravar o Orçamento

Findo o carnaval, o Palácio do Planalto cobrará dos aliados eleitos para os comandos da Câmara dos Deputados e do Senado a aprovação das contas para o ano, tendo como trunfo a reforma ministerial

Paulo de Tarso Lyra e Adriana Caitano

Passado o retiro de carnaval na base naval de Aratu, na Bahia, a presidente Dilma Rousseff retornará a Brasília com alguns nós a desatar para que o ano de 2013 comece de maneira efetiva. O primeiro desafio será a votação do Orçamento, remarcada pelo presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), para a próxima terça-feira, 19 de fevereiro. Além disso, ela deverá deflagrar a reforma ministerial necessária para incorporar o PSD ao governo, acomodar insatisfações no PMDB e reabilitar o PR.

Dilma queria que o Congresso tivesse aprovado o Orçamento em 5 de fevereiro passado. Afinal de contas, foi o segundo adiamento provocado por falta de consenso entre a base aliada e a oposição — no fim de dezembro, a peça orçamentária já havia batido na trave ao ir à votação. Contaminado pela polêmica na apreciação dos vetos presidenciais, a análise foi transferida para 5 de fevereiro, data subsequente à eleição de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para a presidência da Câmara.

Não deu certo. Mais uma vez, a presidente entendeu o adiamento. Segundo conversas com pessoas próximas, ela interpretou a mudança na votação à necessidade de Renan e de Henrique darem uma demonstração de força para seus eleitores, provando que o Legislativo, daqui para frente, “não vai mais se subordinar integralmente aos interesses do Executivo”. Ambos foram eleitos em primeiro turno, fizeram discursos ´para dentro do Congresso´. Era natural que adotassem uma postura corporativista no primeiro dia.

Agora, espera o Planalto, será diferente. “Tudo bem, passou a folia, passou a eleição, temos que começar a trabalhar para que o país volte a crescer”, afirmou ao Correio um interlocutor da presidente. Embora acreditem que, do ponto de vista econômico, a não votação do Orçamento até o momento não chega a ser um desastre — a Medida Provisória liberando R$ 42,8 bilhões para investimentos supre as necessidades imediatas do governo —, nunca é bom governar sem uma peça orçamentária aprovada pelo Congresso.

Além disso, os tempos de rebeldia são curtos, analisam os aliados do Planalto. O Congresso está espremido entre uma presidente com índices astrônomicos de popularidade e um Supremo Tribunal Federal (STF) em estado de graça após o julgamento do mensalão, presidido por um ministro — Joaquim Barbosa — galgado à condição de herói nacional. “Eles (os parlamentares) não vão querer passar a impressão que remam contra a opinião pública”, disse uma pessoa próxima da presidente.

Dilma também está preocupada com os rumos da base aliada. Por precaução, durante a visita feita por Henrique Eduardo Alves — protocolar e formal, sem grandes emoções —, ela perguntou ao peemedebista o que esperar do novo líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha. Ouviu um desanimado Henrique Alves responder: “não sei”. Há muito os antigos aliados não falam a mesma língua. E o deputado potiguar ficou assustado com a celeridade com que o peemedebista fluminense exonerou Francisco Bruzzi, assessor direto da liderança do PMDB, que teria sido flagrado pela Operação Navalha, em 2007, recebendo R$ 20 mil de propina da empreiteira Gautama.

Segundo apurou o Correio, no entanto, Henrique Alves pode ficar tranquilo, mesmo que Eduardo Cunha cometa loucuras na liderança. Não é dele que a presidente Dilma Rousseff vai cobrar a fidelidade do PMDB na Câmara. Os alvos, se o caldo entornar, são o vice-presidente Michel Temer e o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O primeiro empenhou a palavra à presidente de que “qualquer líder eleito seria fiel ao Planalto”. E Cabral foi ainda mais específico. “Se eleito, Eduardo Cunha será fiel ao Planalto.”

PR reabilitado

A presidente também ensaiou, na semana passada, uma reaproximação com PR. Recebeu primeiramente o senador Blairo Maggi (MT), que presidirá a Comissão de Agricultura, Meio Ambiente e Fiscalização e sempre foi o nome preferido por Dilma caso o PR retorne à Esplanada. Depois, recebeu o atual presidente da legenda, senador Alfredo Nascimento (AM), e o líder do partido na Câmara, Anthony Garotinho (RJ). Sinalizou que deseja ter o partido mais perto do governo, mas ainda não prometeu nada. “Foi uma conversa muito tranquila. A ideia do partido é esperar a reforma ministerial e ver se ela vai nos colocar em algum ministério. Se sim, o partido vai colher os nomes possíveis que tenham o perfil do ministério que ela escolher”, declarou ao Correio o deputado Lincoln Portela (MG).

O atual titular do Transportes, Paulo Sérgio Passos, sempre foi visto como um “forasteiro pelo PR”, por não ter militância partidária. Dilma, no entanto, gosta dele. Mas Passos tem se sentido desprestigiado nos últimos tempos, esvaziado com a criação da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), responsável por conduzir as concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. “Dilma não prometeu nada para ninguém. Eles (Alfredo e Garotinho) vieram aqui porque Maggi foi recebido em uma dia e eles não queriam parecer desprestigiados um ano antes das eleições”, desconversou um aliado da presidente.

Fonte: Correio Braziliense

Conter desafetos é o desafio de Henrique

Com a missão de manter a Câmara alinhada ao Planalto, deputado terá de retomar o diálogo com ex-aliados

Karla Correia

Reconhecido como um dos mais experientes articuladores políticos da Câmara dos Deputados, o recém-eleito presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), terá de lidar com um rastro de descontentes dentro do próprio partido e na base aliada. Parte deles, fruto da movimentação pela presidência da Câmara. Prova disso é o diagnóstico, feito por aliados peemdebistas, sobre a sucessão de denúncias surgidas contra Henrique, justamente na reta final da corrida pelo cargo. “Foi fogo amigo”, vaticinou um apoiador do peemedebista, já acostumado à convivência com rachaduras dentro do partido. “Henriquinho”, como é tratado pelos amigos, está longe de ser uma unanimidade dentro do PMDB, reconhece o aliado.

A dedução tem seus motivos. Desde que assumiu o atual mandato, em 2011, Henrique se concentrou na disputa pela presidência da Câmara. Acabou cultivando inimizades em troca de posições que beneficiariam a candidatura ao cargo, dentro e fora do PMDB.

A última disputa pela vaga da Câmara no Tribunal de Contas da União (TCU), em 2011, foi um exemplo de atuação que deixou feridas. Henrique passou por cima do próprio partido, que tinha como candidato o deputado Átila Lins (AM), para apoiar Ana Arraes (PSB-PE), mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Já na época, mirava a presidência da Câmara — ao apoiar a deputada, tentava conquistar o apoio do PSB para sua causa pessoal. Ana Arraes foi eleita com 222 votos. Membro de uma bancada de 80 deputados, Átila Lins obteve apoio de 47 votos. Não escondeu sua mágoa e deixou o partido. Desembarcou no PSD.

Ex-amigo

Situação parecida envolve a escolha do líder do partido na Câmara. Discípulo de Henrique, com quem costumava compor uma dupla praticamente inseparável nos corredores da Casa, o deputado Eduardo Cunha (RJ) foi abandonado por seu mentor na disputa pelo comando da bancada. Ao tomar conhecimento da resistência do Palácio do Planalto ao nome de seu pupilo — visto com especial desconfiança pela presidente Dilma Rousseff —, Henrique recuou imediatamente e passou a apoiar Sandro Mabel (PMDB-GO) para o posto. E voltou a mudar de posição, adotando a neutralidade, quando Cunha se consolidou como o favorito da bancada.

A mudança não aconteceu sem sequelas. A ala ligada a Eduardo Cunha se irritou com o então candidato à presidência da Câmara e a tensão interna do partido por conta da disputa pela liderança chegou a tal ponto que, quando surgiram as primeiras denúncias atingindo Henrique, Cunha se apressou em deixar claro para o aliado de velhos tempos que ele não era a origem dos ataques. Companheiro de partido e um dos apoiadores do parlamentar fluminense, Geddel Vieira Lima adotou estratégia oposta. Defendeu publicamente, em seu perfil no Twitter, que o ex-assessor e braço direito de Henrique, Francisco Bruzzi, fosse afastado do gabinete do peemedebista.

Outra fonte de possíveis problemas são as bancadas do PP, PR e PT. Se durante a campanha Henrique chegou a dizer que levaria ao plenário uma possível decisão sobre cassar o mandato dos condenados no mensalão, ao assumir a cadeira, o discurso foi modificado.

Ao encontrar o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, o novo chefe da Câmara garantiu que cumpriria a determinação da Corte de retirar os mandatos dos parlamentares, sem a necessidade de votação no plenário da Casa. A decisão deixou descontentes os deputados dos três partidos — PP, PR e PT —, que descarregaram votos no peemedebista.

Quatro cassados

O julgamento da Ação Penal 470, conhecida porpularmente como mensalão, resultou na condenação de quatro deputados federais: Valdemar Costa Neto (PR-SP), João Paulo Cunha (PT-SP), José Genoino (PT-SP) e Pedro Henry (PP-MT). Tão logo saia o acórdão e se encerre a apreciação dos últimos recursos possíveis à defesa, os parlamentares terão de cumprir penas variadas — e devem perder automaticamente as cadeiras na Câmara. João Paulo foi condenado a 9 anos e 4 meses; Valdemar, a 7 anos e 10 meses; Henry, a 7 anos e 2 meses; e Genoino, a 6 anos e 11 meses.

Fonte: Correio Braziliense

Depois de 10 anos de poder, PT quer mudar relação com empresariado

Cristian Klein

SÃO PAULO - Em meio às comemorações de seus dez anos no poder, o PT vai preparar um estudo sobre a estrutura de classe no país, algo que o partido não faz desde o fim dos anos 1980. O objetivo é entender o perfil de novos segmentos sociais, como a chamada "nova classe média", e qual a relação da legenda com o empresariado.

Depois de uma década à frente do governo federal, o Partido dos Trabalhadores se aproximou de empresários de grandes companhias - envolvidos em projetos liderados pelo Estado ou beneficiados pela ampliação do mercado interno - mas ainda vê resistências no setor. A intenção é identificar "quem está do nosso lado, quem não está", como diz o presidente da sigla, Rui Falcão, e rever as estratégias de aliança e de discurso.

"É preciso atrair o empresariado para o modelo de desenvolvimento que nós estamos conduzindo, mas você precisa quebrar essa mudança que a oposição extrapartidária fez agora", diz Falcão, referindo-se ao que chama de aliança entre empresários, altos funcionários de Estado e grupos de comunicação.

O presidente do PT refere-se a uma alteração que teria ocorrido no discurso da oposição. Falcão afirma que, depois de o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) não ter produzido todos os efeitos esperados pelos adversários, a oposição passou a desqualificar a presidente Dilma Rousseff como má gestora. Primeiro, afirma o dirigente, diziam que Dilma era técnica, mas não política, e "agora precisam dizer que não é uma boa técnica". A inflexão teria pavimentado o caminho para uma série de críticas em relação ao aumento da inflação, à falta de investimento e à capacidade de o governo resolver o gargalo da infraestrutura.

A preservação da imagem de Dilma como boa gestora e o estreitamento das relações com o empresariado passaram, por sua vez, a fazer parte do contra-ataque petista. Em setembro, Dilma anunciou a redução das tarifas de energia, mas seu pronunciamento em rádio e TV se baseou muito menos nos benefícios para a população do que nas consequências para o setor produtivo. Toda a agenda do empresariado e, em especial, dos pontos defendidos pelo Movimento Brasil Competitivo (MBC), estava ali representada, como a busca por competitividade, em letras garrafais, a logística e a redução de custos. O fundador do MBC é o empresário do setor siderúrgico Jorge Gerdau, que se transformou em conselheiro de Dilma, incentivou a criação e integra a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, ligada à Presidência da República.

Além disso, nos dois últimos meses, Dilma intensificou os contatos com o empresariado e vem realizando reuniões individuais no Planalto. Esteve com Gerdau; Eike Batista, do Grupo EBX; Luiz Trabuco, do Bradesco; Marcelo Odebrecht, do Grupo Odebrecht; Emilio Botin, do Santander; Bruno Lafont, do Grupo Lafarge; Rubens Ometto, da Cosan, entre outros.

Rui Falcão lembra que desde 1987 o PT concluiu que para desenvolver a economia brasileira, em primeiro lugar, "não pode ter partido único", e, em segundo, é preciso ter associação no meio empresarial. "Você faz um tipo de aliança. Umas são mais permanentes, outras são episódicas. O Gerdau atua numa área que se não tiver apoio vai sucumbir", defende Falcão.

O relacionamento do governo com o comandante do Grupo Gerdau, que tem atuação em 14 países, é visto por Márcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo, do PT, como uma necessidade. "Diante de uma economia mundial concentrada em 500 corporações transnacionais, que mandam em qualquer setor de atividade e que interviriam na política, financiando partidos", diz Pochmann, o Brasil também precisa ter capitalistas à altura

"Há uma crítica constante no Brasil para a tal das escolhas dos campeões. Todo mundo elogia a Coreia. O que a Coreia fez? Também elegeu campeões. Talvez com metas, com compromissos um pouco diferentes dos nossos. Mas o caminho é esse", defende.

Rui Falcão, em princípio, diz não concordar com a afirmação, mas é a favor da associação com empresários que ajudem a criar uma nação soberana, forte, com um Estado indutor do desenvolvimento, e que tenham planejamento de longo prazo.

"Eu quero estar junto com estes empresários. Ah, é o empreiteiro, é o Eike, é não sei quem, [diz-se] pô, o PT junto com eles... [Mas] isso ajuda a levar o projeto nacional numa direção que, no meu entender, favorece o projeto do PT. A aliança não é só com partidos", afirma Falcão.

E do mesmo modo que a relação com os partidos aliados às vezes passa por turbulências, os atritos também se dão com o empresariado. Mas a compreensão é menor. A percepção é de ingratidão quando setores do capital beneficiados pelas políticas do PT se juntam ao que chamam de oposição extrapartidária.

O secretário de Organização do PT, Paulo Frateschi, verbaliza este sentimento. "Mesmo com o avanço do capitalismo - fizemos um mercado de massa, a democratização do crédito - uma pergunta que fica é: por que aumenta tanto a oposição, por que não nos tragam de jeito nenhum, por que não nos aceitam? Temos exemplos históricos. Mas vamos nos debruçar para entender porque a classe dominante, mesmo sendo beneficiada, age assim. Por que a Fiesp faz propaganda com você [em apoio ao governo] para abaixar a luz e, no outro momento, se arma contra. Ela se sente vitoriosa junto com a gente e, ao mesmo tempo, radicaliza na oposição", diz.

A queixa, no entanto, tem limites. Frateschi em seguida pondera: "Se a gente vive uma contradição com isso, imagino que a dele [do empresariado] deva ser bem maior".

Rui Falcão, questionado se o ideário do interesse nacional não camufla o que há de interesse próprio dos empresários aliados, vai além e reconhece que a parceria envolve ganhos mútuos. "Não tem só ideias generosas. Tem base material. Até entre nós", admite.

O PT, desde que chegou ao poder federal, viu crescer exponencialmente as doações para suas campanha eleitorais.

Outro ganho esperado com a aproximação com determinados setores empresariais é a criação de um eleitorado sensível às propostas do PT. Falcão cita o caso da área ligada à exploração de petróleo e da discussão a respeito da obrigatoriedade da produção nacional, como na contratação de sondas e de plataformas. Ele afirma haver divergências sobre o assunto e que há funcionários da Petrobras que defendem alugá-las, por exemplo, em Cingapura, para agilizar a produção e porque é melhor a relação custo/benefício. "Mas sou a favor que elas sejam produzidas no Brasil. Em primeiro lugar, cria uma cadeia enorme de fornecedores e ajuda o país a ter domínio de uma área estrutural e estratégica, que gera empregos. E, em segundo lugar, é um emprego qualificado, de um proletariado que tende a ser consciente, organizado e portanto sensível às nossas propostas", diz.

Fonte: Valor Econômico

Carnaval a todo vapor na agenda do PSB

2014. Geraldo e Eduardo: agendas "frenéticas" na folia

Bruna Serra

O primeiro Carnaval do prefeito Geraldo Julio (PSB) foi na rua. O socialista, que tomou o poder há pouco mais de 40 dias, aproveitou a folia de momo para estar próximo à população. Quem também estava em ritmo frenético neste Carnaval foi o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). De olho em 2014, ele cumpriu uma extensa agenda por todo o Estado. O líder socialista acompanhou o Carnaval no Recife e em Olinda, mas também foi a Nazaré da Mata, Tracunhaém, Carpina, Paudalho e Aliança, dividindo seu tempo entre apresentações carnavalescas e conversas com populares e lideranças comunitárias.

Os holofotes deste Carnaval estiveram voltados para Geraldo. Buscando consolidar sua imagem, o prefeito fez o passo, já que até a campanha eleitoral do ano passado era um ilustre desconhecido dos recifenses. O objetivo é não depender do tutor, Eduardo Campos, para ser reconhecido pelos eleitores. Uma verdadeira maratona que começou ainda na quinta-feira pré-carnaval, quando participou da abertura da folia em Olinda.

Desde a sexta-feira (8), ele tem caminhado pelas ruas do Recife Antigo ao lado da primeira-dama, Cristina Melo, e dos dois filhos mais velhos, Rodrigo e Eduardo. Posou para fotos com artistas que fizeram a programação da folia, conversou com anônimos, concedeu milhares de entrevistas. Sorriso 24 horas no ar. Além de comandar o camarote da prefeitura no Galo da Madrugada e na Central do Carnaval no Marco Zero, Geraldo circulou pelos polos da folia, sempre com figurinos festivos e exaltando seu amor pela cidade, mote da primeira campanha institucional de seu governo.

O prefeito não descuidou das bases marcando presença nos polos descentralizados do Carnaval, herança petista. Prestigiou os shows em Jardim São Paulo - onde dançou forró no palco com Cristina ao som de Nando Cordel - e nos bairros da Várzea, Casa Amarela, Chão de Estrela, Bomba do Hemetério e Água Fria.

Na segunda-feira, pousou exaustivamente para fotos nas ladeiras de Olinda, quando levou os filhos para o bloco Eu Acho é Pouquinho. Não esqueceu de fazer política. Por isso, esteve ao lado do governador na Noite dos Tambores Silenciosos, no Pátio do Terço, e no desfile da Escola de Samba Unidos do Escailabe, que homenageou o ex-vereador Liberato Costa Júnior (PMDB). Tudo devidamente registrado nas redes sociais para disseminar toda disposição do primeiro casal também para quem está em casa acessando a internet.

Como em anos anteriores, Eduardo procurou estar presente nos principais polos de animação do Estado. Fechou sua agenda ontem, com a participação no 23º Encontro Estadual dos Maracatus de Baque Solto, em Aliança.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Após carnaval, Campos dirá a Lula que será candidato em 2014

PSB pode até abrir mão de ministérios de Dilma, afirmam aliados

Maria Lima

BRASÍLIA - Figura mais presente nas polêmicas da política nacional nas últimas semanas, desde que deu o sinal verde para aliados entrarem em campo, o governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, só aguarda agora que o ex-presidente Lula marque a data do encontro pedido para depois do carnaval - quando deverá comunicar-lhe, pessoalmente, que não está disponível para vice na chapa de Dilma Rousseff e que é irreversível o desejo do partido de lançá-lo presidente já em 2014. Mesmo com encontros previstos com Lula e no palanque ao lado de Dilma dia 18, em Pernambuco, Eduardo Campos já tem uma extensa agenda para seu projeto pessoal de tornar-se conhecido nacionalmente. E a grande estreia de sua caravana pelos estados será em um ambicioso evento dia 9 de abril, quando pretende falar para cerca de 5 mil empresários em Porto Alegre.

Nessa palestra, tratará dos problemas da política econômica do governo Dilma e apontará caminhos, tudo que o empresariado nacional quer ouvir. A nomes do Instituto Empresarial Michel Gralhas, vai falar da necessidade de investimentos para frear a queda da economia e fazer outras análises que inevitavelmente vão tocar nos pontos fracos da criticada política econômica de Dilma.

- Mas ele vai fazer de uma forma cuidadosa, apontando caminhos, de forma propositiva, para evitar agudizar o conflito. Eduardo é um aliado que tem coragem de dizer com franqueza o que está errado quando algo não vai bem, apontando soluções, que é o que a oposição não faz - afirmou um aliado do governador.

Sobre a disposição já anunciada de Campos de continuar na base do governo oficialmente em 2013, no comando de dois ministérios, a estratégia é não tocar no assunto. Mas, se houver uma cobrança de apoio em 2014 para que continuem nas mãos do PSB os ministérios da Integração Nacional, com Fernando Bezerra Coelho, e dos Portos, com Leônidas Cristino, o partido dirá à presidente Dilma que fique à vontade para fazer as substituições necessárias na reforma prevista para março.

- Não tratamos deste assunto em nenhum momento. Nem internamente nem nas conversas com a presidenta - disse Eduardo Campos.

Antes do evento em Porto Alegre - que será completado por uma grande festa partidária para comemorar o aniversário do líder Beto Albuquerque (PSB-RS) -, Eduardo Campos irá a dois estados do Nordeste e a outro do Centro-Oeste para receber homenagens e aproveitar para fazer eventos partidários. Dilma, que também está acelerando seu palanque, estará ao seu lado no dia 18 inaugurando uma adutora que levará água do Rio São Francisco para o sertão do Pajeú, "uma obra que dialoga com a seca", diz esse aliado. Com Lula, o convite foi feito para uma conversa depois do carnaval, e só falta ser agendado o dia.

Recentemente, o PSB e o próprio Campos mostraram irritação com notícias de que Lula estaria articulando tirar o PMDB de Michel Temer da chapa de Dilma para dar a vice ao governador, impedindo sua candidatura em 2014.

- Ficou parecendo que Lula está fazendo o seguinte: vou dar uma balinha àquele menino para ele ficar calmo. Não é assim. Eduardo não tem o que ganhar não indo em 2014. É um caminho sem volta. Está tudo confluindo muito bem para esse homem. E ele vai atrás, não espera as coisas acontecerem, não - completa seu interlocutor próximo.

Também começou a azedar a relação com o PSDB do senador Aécio Neves (MG), provável candidato tucano a disputar a Presidência da República em 2014. Nas eleições municipais, Aécio e Campos apareceram juntos na campanha e seus partidos fizeram dobradinha em algumas cidades importantes, como Campinas. As eleições para o comando da Câmara e do Senado provocaram alfinetadas dos dois lados.

- Se esses tucanos mineiros atacassem o governo como atacam o PSB, certamente não estariam com tantos problemas como têm tido - disse um socialista da cúpula do PSB.

Disposto a se posicionar de forma mais forte nas grandes polêmicas nacionais, principalmente para se diferenciar de seus prováveis adversários em 2014 - PT, PSDB e PMDB -, Eduardo Campos entrou na briga contra o pedido de impeachment do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. A ideia de pedido de impedimento surgiu após Gurgel ter enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).

Fonte: O Globo

As cartas nas mangas no pôquer do poder - José Neumanne *

As circunstâncias que cercaram a eleição e a posse de Renan Calheiros na presidência do Senado e de Henrique Eduardo Alves na da Câmara e a eventual diferença entre o que este disse a seus pares e depois aparentemente, e só aparentemente, contradisse à imprensa à saída do Supremo Tribunal Federal (STF) exibem cartas escondidas nas mangas dos poderosos da República. E a verdade que não quer calar se impõe: os políticos, especialmente os detentores de mandatos parlamentares, não abrem mão de uma prerrogativa que acham inerente à própria condição no Estado Democrático de Direito à brasileira - a de estarem acima da lei que eles mesmos aprovam e serem mais iguais do que os outros cidadãos perante a dita-cuja.

Desde a promulgação da Constituição de 1988 foi-se adotando a regra consuetudinária e nunca explicitada de que os políticos profissionais se arrogam o direito de gozar privilégios negados ao zé-ninguém do populacho. Até o histórico julgamento pelo STF do escândalo do mensalão, o grupo que se assenhoreou do poder sob as barbas do profeta Lulinha Paz e Amor deixou claro que se sentia no direito consagrado por Deus e pelo Partido dos Trabalhadores (PT) de praticar um crime contábil, o caixa 2, pelo simples fato de que os adversários também o cometiam impunemente. Era algo similar à declaração de inocência de um assassino confesso sob o argumento de que desde o fratricida bíblico Caim inúmeros homicidas não foram punidos pelo delito.

Não são lanas caprinas a obviedade de que o apelo ao crime menor era um jeitinho à brasileira para gozar a prescrição num costume ancestral de processos prolongados por infinitas apelações de plena defesa. No entanto, no julgamento, alguns ministros do STF, com destaque para Cármen Lúcia, não deixaram de reclamar do acinte cínico de quem apelava para o falacioso caixa 2 e declarar que crime é crime e não pode ficar sem punição. No mensalão, o Judiciário acabou por jogar no lixo a pretensão estapafúrdia dos políticos da licença para delinquir.

Ao longo da mais desastrada gestão na presidência da Câmara dos Deputados da História, Marco Maia (PT-RS) fez coro às reclamações dos mandatários mensaleiros condenados contra a "indevida" interferência do Supremo na decisão de cassar, ou não, seus mandatos, cabendo a decisão, a seu ver, aos colegas. A ideia de que o Parlamento é um clube fechado em que os sócios se reservam o direito de dar bolas brancas, vermelhas ou pretas a sócios forçados a deixar seu convívio por condenações judiciais dá bem uma ideia da democracia extravagante que nossos representantes no Congresso têm do exercício dessa representação. Teria Henriquinho a avalizado ao reivindicar a "última palavra" no caso?

Sim e não. De fato, como lembrou com clarividência o ministro do STF Gilmar Mendes, o Supremo é que condena e cassa, cabendo à Câmara providenciar o afastamento dos membros condenados, et pour cause, impedidos de exercer mandato de representação popular. Então, o novo presidente não mentiu aos pares ao lhes atribuir a "última palavra" nem ao presidente do Supremo e relator do mensalão, Joaquim Barbosa, ao negar qualquer tentativa de não dar provimento à decisão judicial em última instância, quando ela for tomada (ainda falta julgar recursos). Com o devido respeito, seria o caso de usar aqui o estratagema do marido que diz ter sempre a última palavra em casa. E ela é: "Sim, senhora". A eventualidade do atrito entre Poderes resultou de açodamento de quem a noticiou.

Henriquinho não desafiou a Justiça, mas os colegas que o elegeram, como os que sufragaram Renan Calheiros no Senado, passaram um recado mais preocupante à Nação: o de que se dispõem a usar os mandatos de representação como se fossem cartas brancas, sem dar a mínima para eventuais queixas da sociedade por suas escolhas. As denúncias contra ambos contrastadas com as margens da vitória afastam dúvidas quanto a isso.

Renan deu-se ao luxo de apresentar a candidatura à undécima hora e Henriquinho se fez de vítima, ajudado pelo surgimento de um dossiê anônimo reunindo acusações que todos os votantes já conheciam, porque foram tiradas do noticiário impresso dos dias anteriores. Tal noticiário expõe a hipocrisia do Poder Executivo, que ao longo do processo de escolha dos dignitários fez prosperarem indícios de que preferia candidatos de currículo menos polêmico na linha sucessória da presidente da República. Talvez seja mais fácil acreditar que o PT blefa no pôquer do poder com duas cartas: ou aproveita as denúncias para enfraquecer os interlocutores na presidência das duas Casas do Congresso ou espera que as denúncias os arranquem das cadeiras. Nesta hipótese, dois companheiros ascenderiam aos postos: André Vargas (PT-PR), da tropa de choque de José Dirceu, e Jorge Vianna (PT-AC), irmão de Tião, que há cinco anos ascendeu ao posto de Renan, vergado este ao peso do "denunciômetro".

Papel ainda mais hipócrita - e no caso, ridículo - foi feito pelos opositores. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), tido e havido como a bola de vez da oposição para evitar a reeleição de Dilma Rousseff, rompeu sua longa ausência da tribuna para fazer um apelo aos correligionários tucanos para que não optassem por Renan. Ou discursou para os anais sem contar com as consequências de suas palavras vazias, sendo sonso, ou, de tão ausente na obrigação de liderar o dissenso na Casa, ninguém lhe deu atenção alguma, fazendo ele as vezes de bobo da Corte.

Com Dilma dando prioridade à reeleição sobre a gestão e a oposição fingindo se fingir de morta para evitar que se perceba que já morreu e se esqueceram de enterrá-la, segue o País à deriva. Resta à cidadania confiar em que mais uma vez o único Poder que não escolhe, o Judiciário, consiga impor-se sobre as tentativas que na certa o Legislativo fará para adiar o quanto for possível a inevitável cassação dos quatro congressistas condenados por corrupção e formação de quadrilha.

* José Neumanne é jornalista, poeta e escritor.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Governabilidade e desenvolvimento - Fernando Filgueiras

É velha conhecida a fórmula do presidencialismo de coalizão brasileiro. O presidente eleito compõe a sua base de apoio no Congresso leiloando aos partidos políticos pastas ministeriais e posições de poder dentro da burocracia pública. Por meio do fisiologismo e do clientelismo, os presidentes obtêm maioria no Congresso e asseguram, assim, as bases para o exercício do governo. Ou seja, assegura-se que os presidentes brasileiros poderão levar seus projetos de políticas públicas à frente, não encontrando no Congresso um empecilho para o exercício do governo.

As bases da governabilidade brasileira, nos termos do presidencialismo de coalizão, possibilita a manutenção do regime democrático e sustenta a capacidade institucional do Executivo. A governabilidade brasileira, nesses termos, supera as flutuações históricas do regime democrático no Brasil, uma vez que o governo pode, de fato, governar o país.

O presidencialismo de coalizão permitiu superar o dilema institucional brasileiro. Porém, tornou-se uma regra institucional em que os seus supostos resultados para a governabilidade escamoteiam problemas institucionais relativos tanto ao exercício do poder, per se, quanto aos resultados de políticas públicas essenciais ao desenvolvimento. Dessa forma, as bases da governabilidade brasileira permitiram resolver em parte o nosso dilema institucional, mas não asseguraram que o exercício do poder, no contexto da democracia, ocorra de maneira mais qualificada e voltada para o interesse público.

Presidencialismo de coalizão despolitiza o desenvolvimento

Em primeiro lugar, porque o Congresso sucumbiu ao Executivo fugindo do seu papel primordial de controle do governo e da administração pública, permitindo que o governo dite a sua agenda e varrendo para escanteio a oposição. Em segundo lugar, no plano federativo, onde o Senado deveria exercer o seu papel de representação dos estados, a União dita as regras, concentra a maior parte dos recursos e opera com Estados e municípios na base de clientelas, quando determinado projeto de política pública depender da descentralização de recursos; ou na base do insulamento burocrático, mantendo sob controle tecnocrático políticas essenciais ao desenvolvimento.

O resultado desse processo é a manutenção da corrupção, do fisiologismo e do clientelismo como problemas crônicos, impactando negativamente a eficiência das políticas públicas. O atual cenário político e econômico acende o sinal amarelo para o problema da inflação. Ela retornaria ao cenário mais cedo ou mais tarde no contexto de uma economia em crescimento pela via do consumo, mas sem a presença de investimentos que possibilitem a criação de novas oportunidades de negócios e solidez estrutural do crescimento do consumo. O esgotamento desse modelo é premente, à medida que não permite consolidar uma rota sustentável de desenvolvimento econômico e social.

No que diz respeito ao desenvolvimento, os investimentos esbarram em problemas de implementação das políticas dos governos. Pelo modelo do presidencialismo de coalizão, resolvemos o dilema institucional do processo decisório, mas esquecemos dos problemas de implementação. Grandes obras que envolvam intervenção esbarram nos velhos problemas de uma burocracia sem controle, em diversas oportunidades de corrupção e ineficiência na condução dos projetos.

No que tange ao desenvolvimento social, investimentos importantes como nas áreas de saúde, educação básica e saneamento patinam na incapacidade de Estados e municípios levarem a cabo obras públicas, programas e projetos de intervenção. O Bolsa Família promoveu uma forte inclusão social, mas não resolve o problema estrutural da pobreza. Ademais, não é possível pensar um cenário de desenvolvimento social, no qual mais de 60% dos municípios estão impedidos de firmar convênios com a União, segundo dado da Confederação Nacional dos Municípios. Somem-se a isso os empecilhos burocráticos e teremos um cenário no qual governos estabelecem decisão, mas não conseguem implementá-las, ou, quando implementam, os resultados são ineficazes e tangenciados pela corrupção.

Nesse contexto, é necessário pensar não apenas as condições da governabilidade, mas condições de governança que possibilitem que as políticas de governo sejam implementadas de modo eficaz e fiscalizadas de forma a assegurar que respeitem ao interesse público. Assim sendo, devemos avançar em reformas que fortaleçam o papel institucional do Poder Legislativo, fortalecendo a representação política e as capacidades institucionais de fiscalização sobre os governos e sobre a administração pública. Também é necessário que se fortaleça a capacidade institucional da burocracia, buscando equilibrar a busca pela eficiência das políticas com os ditames da moralidade administrativa calcada na capacidade de controle por parte das instituições.

O desenvolvimento brasileiro, nesse contexto, encontra-se diante de uma bifurcação. Ou superamos as barreiras estruturais ao investimento, a ineficiência do setor público e o oportunismo do setor privado, ou manteremos o ciclo vicioso da ineficiência, da corrupção e do fisiologismo, pelo qual a disponibilidade de recursos não redunda em melhorias qualitativas das políticas públicas e do bem-estar social. Nessa bifurcação, qualquer que seja o caminho, a decisão deverá ser política.

Esse quadro exige que para além das condições do desenvolvimento econômico e social, a liderança se faça presente e seja capaz de levar a causa do desenvolvimento brasileiro a termo. Em um cenário em que o presidencialismo de coalizão enfraquece a representação política exercida no Legislativo, despolitizando o problema do desenvolvimento, é mais do que necessário que as condições de governança sejam estabelecidas. Como a decisão deve ser política, líderes devem se fazer presentes na arena pública e devem estar dispostos a debater e convencer os cidadãos que as nossas condições estão dadas. Ou não.

Fonte: Valor Econômico

É preciso cuidar da Petrobrás - Adriano Pires

O ano de 2012 para a Petrobrás deve ser registrado para não ser repetido. A produção de petróleo caiu 2,3%; o lucro, 36%; o Ebitda, 14%; e a empresa chegou a registrar prejuízo de R$ 1,35 bilhão no 2.0 trimestre. A situação difícil é resultado de anos de interferência governamental na empresa. O governo do PT usou e abusou da Petrobrás - na prática, privatizou a empresa em seu benefício próprio, transformando-a em instrumento de política econômica, de política industrial e de política partidária. Esta foi a 4.a vez em que o lucro da empresa apresentou queda no governo do PT (2004,2007 e 2009), e foi o pior resultado desde 2004. Aliás, 2012 guarda semelhança com 2004, quando a produção de petróleo também apresentou queda de 3,1%. É importante chamar a atenção: a deterioração observada deu-se num ambiente que seria considerado um cenário perfeito para qualquer empresa petrolífera, com preço do petróleo alto, demanda por derivados crescente e quase monopólio do mercado.

O principal motivo para o péssimo resultado da empresa em 2012 foi o controle dos preços dos combustíveis, que os manteve fortemente defasados em relação ao mercado internacional. Num ambiente de forte crescimento da demanda, a Petrobrás se viu obrigada a ele-var vigorosamente suas importações de gasolina e diesel, ocasionando um prejuízo de R$ 34,2 bilhões na área de abastecimento. De fato, o prejuízo dessa área cresceu 136% em relação ao ano de 2011. Aumentos de custos, baixa de poços secos e a estagnação da produção, tanto doméstica quanto internacional, foram outros fatores determinantes do frustrante resultado operacional.

O resultado de 2012 só não foi pior por causa de R$ 2,6 bilhões em receitas financeiras, oriundas de operações contábeis com títulos públicos e reconhecimento de juros de depósitos judiciais. Esse é o famoso jeitinho brasileiro, que tem sido muito utilizado pela equipe econômica.

Com a piora da geração de caixa da empresa e o efeito da desvalorização cambial sobre a dívida, a relação dívida líquida/Ebitda elevou-se para 2,77 (em 2011 a relação era de 1,66), fato que pode provocar um futuro rebaixamento da classificação de risco da empresa, o que dificultaria e encareceria, ainda mais, o financiamento. Essa questão se toma ainda mais grave quando se leva em consideração a necessidade de caixa da empresa para fazer face aos investimentos dos próximos anos, em particular a produção no pré-sal.

Aparentemente, a empresa pretende elevar seu caixa e financiar seus investimentos à custa do acionista minoritário, por meio da diminuição do pagamento de dividendos, o que representa um retrocesso de governança. Pela primeira vez o dividendo dos papéis ON será muito menor do que o dos PN, R$ 0,47 e R$ 0,96 por ação, respectivamente.

Para 2013, as perspectivas também não são nada boas. Após o aumento insuficiente no preço da gasolina e do diesel concedido no final de janeiro, não há expectativa de novo reajuste por causa das preocupações com a inflação e da proximidade do período das eleições presidenciais. A manutenção da política de preços domésticos controlados e defasados da gasolina e do diesel se dará num contexto de aumento da demanda doméstica e elevação do preço do petróleo no mercado internacional em razão da recuperação econômica americana. Ou seja, os problemas de geração de caixa continuarão se agravando.

A presidente da Petrobrás procurou não dar falsas esperanças ao mercado ao declarar que 2013 será um ano difícil, com baixas de poços secos equivalentes às de 2012 e queda na produção por causa da necessidade de manutenção das plataformas, o que reforça a ideia de que há um longo trabalho para consertar as falhas de gestão dos últimos dez anos.. Boas notícias, quem sabe, só em 2014. Mas, como a Petrobrás é um transatlântico, e, portanto, a mudança de rota é lenta, o mais provável é que a estatal só volte a encontrar os caminhos da eficiência e da lucratividade em 2016. Isso se o acionista majoritário passar a respeitar os interesses dos minoritários.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Defensor da fé e da reforma, Bento XVI é contra ruptura

Teólogo progressista, Ratzinger é tachado de conservador pelos adversários

Marcelo Godoy e Alexandre Gonçalves

O Papa Bento XVI pouco mudou a Igreja. Ele quis renová-la sem romper com o passado. A busca de respostas para o catolicismo diante dos desafios da modernidade e da secularização marcam sua vida. Ratzinger é considerado um homem profundamente ligado ao seu tempo.

E se pode dizer que esse tempo foi inaugurado em 1900 por uma autora marxista: Rosa Luxemburgo. Ao escrever Reforma ou Revolução, a teórica polonesa anunciou o conflito que marcaria o século 20 e a vida do futuro papa. Bento XVI escolheu o lado da reforma, de uma mudança que não significasse ruptura, que respeitasse a tradição e a continuidade da fé cristã.

Nasceu na Marktl am Inn, na Baviera (Alemanha), em 16 de abril de 1927. Era sábado de Aleluia e um presságio acompanhou a criança: ela foi a primeira a ser batizada com a nova água batismal. A adolescência passou em um seminário regional onde viu os potentados marrons - como chamava os nazistas - dominarem seu país e levá-lo à guerra. Arrolado no Exército, o jovem desertou. Depois da guerra, voltou aos estudos de teologia.

Padre por pouco tempo em uma paróquia de Munique, foi lecionar em diversas universidades alemãs até concluir o doutorado. Professor em Tübingen, renunciou à cátedra diante da agitação estudantil que tomou conta do lugar em 1968. Trocou-a por Ratisbona, onde mais tarde voltou, já como Bento XVI, para dar uma aula em uma das viagens símbolos de seu papado.

Na ocasião, defendeu o diálogo entre fé e razão. Mas se valeu da história de um imperador bizantino que acusava o Islã de impor a fé pela espada para argumentar que agir contra a razão é contra a natureza de Deus. Uma tempestade de protestos muçulmanos seguiu-se ao uso desse exemplo para apoiar sua tese.

Agostinho

Bento XVI é rotulado por adversários de conservador e até de reacionário. Dizem que, por enxergar o mundo por meio de Santo Agostinho, a visão dele é pessimista. "Ratzinger pensa que só a Cidade de Deus tem o discernimento sobre onde está Deus e acha que a modernidade radicalizou de tal modo a razão que não deixou espaço para Deus", afirmou o teólogo Leonardo Boff.

Acusam-no de abalar o diálogo ecumênico ao afirmar a primazia da função salvífica de Cristo sobre outras religiões e a superioridade da Igreja Católica em relação às outras cristãs. Dizem que mantém a Igreja imóvel, apesar de sua tentativa de recuperar, depois do fracasso do comunismo, o papel de esperança desempenhado pelo catolicismo na história ocidental.

Mas era capaz de compartilhar o diagnóstico de Horkheimer e de Adorno, em Dialética do Esclarecimento, que criticava a razão moderna - transformada em dominação, ela levaria ao totalitarismo e à barbárie. Ao visitar Auschwitz, em uma das primeiras viagens como papa, perguntou-se diante do campo nazista: "Como isso foi possível?"

Debateu com o filósofo Jürgen Habermas, questionando a eficácia da razão comunicativa como base de uma ética e de uma moral universal. Acredita que a resposta à ameaça da barbárie são os instrumentos tradicionais do cristianismo - a oração, o amor e a fé -, dada a insuficiência das instituições humanas.

Não fez nenhuma concessão aos que pregavam a ruptura com a tradição como continuidade do aggiornamento da Igreja. Não mudou o veto à comunhão dos descasados nem permitiu aos padres o matrimônio - tentando evitar o nascimento de padres divorciados. Combateu os autores da Teologia da Libertação, como o brasileiro Leonardo Boff, porque acreditava que a ação caridosa e não a política traria a verdadeira libertação.

Marxismo

Vê no marxismo a versão materialista da esperança cristã que, no lugar de Deus, busca a redenção no partido. Para ele, a "adoração ateísta" sacrifica à ideologia o humanismo. Seus adeptos, diz, rejeitam as considerações morais como burguesas, como Bertolt Brecht, para quem a única virtude de quem luta pelo comunismo.

Bento XVI manteve a preocupação com o marxismo mesmo depois de papa. Hoje não há mais revolucionários na Europa transformando igrejas em sessões eleitorais, como na Paris de 1793, do pintor Evariste Gamelin de Os deuses têm sede, de Anatole France. Não. Nem os revolucionários frequentam as igrejas no velho continente. Vazias, elas fecham. O papa tampouco vê no liberalismo a resposta para a renovação dos fiéis.

Esse homem aparentemente contraditório é, na verdade, de uma coerência férrea. Está entre os jovens teólogos que sacudiram Roma e sua Cúria no Concílio Vaticano 2º. Lutou contra os tradicionalistas. Em 1966, identificou o que achava ser as primeiras tendências inquietantes na renovação da Igreja. Um "certo espírito partidário" levava para a igreja o dilema do século: reforma ou revolução.

Preocupa-se com a mudança da liturgia ocorrida também sob Paulo VI - a antiga, fixada pelo Concílio de Trento, foi abandonada e proibida. Ratzinger enxerga nessa ruptura uma ameaça à fé e à unidade da Igreja. Diz que não há como mudar a forma de orar dos fiéis sem alterar sua crença.

Foi nomeado para a Comissão Teológica Internacional, na qual trabalhou com dois dos pensadores que mais o influenciaram: Henri de Lubac ("um decidido lutador contra tudo o que ameaçava fundamentalmente a fé") e Hans Urs von Balthasar. Os três colaboraram com a revista Communio em parceria com d. Luigi Giussani, fundador do movimento Comunhão e Libertação.

Bento se tornou cardeal de Munique pelas mãos de Paulo VI, em 1977. Participou da escolha de João Paulo I e de João Paulo II, de quem seria um dos principais colaboradores - em 1981, nomeou-o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé. Em 2005, foi sua vez de se tornar papa.

Mufti

Visitou em 2007 o Brasil e canonizou Frei Galvão. Ratzinger é um papa de poucas viagens, se comparado a seu antecessor, João Paulo II. Além de Ratisbona e Auschwitz, as de Londres e à Turquia marcaram o papado. A última pela oração ao lado do grande mufti de Istambul, Mustafá Cagrici. A primeira pela aproximação com os anglicanos e pela presença em um dos mais secularizados países da Europa.

Ratzinger é o homem que pediu a Deus que tivesse piedade da Igreja. "Senhor, frequentemente a Tua Igreja se parece com uma barca que está para afundar". Enfrentou escândalos de pedofilia e viu o irmão Georg ser alvo de acusações de conivência com castigos aplicados às crianças do coro de Ratisbona.

Não se preocupa em administrar a Igreja como uma empresa. Não mede o sucesso de sua ação pastoral pela quantidade de fiéis que conquista. Lega uma Igreja mais unitária e distante das ameaças de cisma nascidas após o Concílio Vaticano 2º.

Política: ênfase deixou de ser na ação

Joseph Ratzinger acha que o papado deve preparar a Igreja para uma nova realidade: a de ser minoria. E desde os tempos de cardeal repetia a parábola do grão de mostarda para justificar qual seria o papel dos cristãos no mundo secularizado. Uma igreja de poucos para preparar o futuro e diferente da Igreja militante dos tempos de Paulo VI, que em 1967 publicou a encíclica Populorum Progressio.

Esta pregava o acolhimento dos desvalidos, a divisão das terras, o imposto sobre grandes fortunas e foi um divisor de águas. Ao escrever que havia "soado a hora da ação", Paulo VI parecia trazer para a Igreja a 11.ª das Teses sobre Feuerbach, de Karl Marx ("Os filósofos só interpretaram o mundo diferentemente; importa é transformá-lo").

Aos católicos cumpria mudar a realidade injusta dos países subdesenvolvidos. Comparada a essa Igreja, a de Ratzinger foi conservadora. Ele fez uma releitura da Populorum Progressio em sua encíclica Caristas in Veritate. A ênfase da ação cristã, apesar de ainda defender a reforma agrária, passou para a caridade

O Papa Caiu. O Sentido de Renúncia - José Eisenberg

Joseph Ratzinger, momentos antes que a lucidez lhe faltasse e a senilidade lhe tirasse o discernimento e a lembrança das decisões e hesitações pretéritas, fez-se herói. Em uma era como a de peixes, em que papas perecem em seus cargos até se tornarem marionetes na mão de conclaves — o próprio Ratzinger já contribuíra inúmeras vezes para esta farsa periódica do Vaticano –, renunciar ao pontifício adquire um sentido próprio, um repente da vontade humana (o papa pulou fora), dotado de enorme demonstração de liberdade e desprendimento (e não importam as razões).

Intelectual, Ratzinger foi um dos ideólogos da renovação conservadora que permitiu que o catolicismo europeu derrotasse as idéias pretensamente libertárias do Concilio Vaticano II (1962), e os papados tecnicamente progressistas de Paulo VI e João XXIII. Esteve próximo ou dentro do Vaticano desde a década de setenta, quando o “desmanche” começou. No lugar da “vocação preferencial pelos pobres”, tão cara a sociologia da América Latina que a inteligência do catolicismo produzia no continente, emergia uma concepção comedida, e bem menos intervencionista do papel da igreja na vida social e da Santa Sé na construção da política e moralidade dos países onde vivem os fieis. Até a morte de João Paulo II, esta subtração da estrutura eclesiástica da vida dos fieis, menos ajuda e menos intervenção moral, dominou a agenda teológica do Vaticano, e quando Ratzinger assumiu, sabia desde sempre que seu papado seria um momento de transição para a igreja, que precisaria necessariamente fazer um aggiornamento para fazer frente ao crescimento da cultura laica na Europa e das denominações neopentecostais na América Latina.

Lúcido, Benedictus XVI — Bento, Benedito, tanto faz — reclama em sua carta de renuncia que suas “forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino.” Mais do que uma declaração com candura de falência da razão, as palavras de Bento XVI expressam uma percepção revigorada de que a demanda por uma renovação da fé católica chegou ao bispo de Roma e nele ecoou. A idade, marco pétreo do lugar de cada ser humano na matemática complexa das transformações geracionais, apresenta-se como causa suficiente para a subtração de idoneidade para exercer o ministério de maneira adequada. Há material para reflexão na escolha destes dois termos. Mas não quero perder o foco desta reflexão.

“no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado.”

Este é o trecho da carta mais pleno de sentido histórico, o momento cândido deste gesto de renuncia ao ministério. O mundo é o de hoje, diferente, de mudanças rápidas, agitado, cheio de questões de grande relevância para o Vaticano. A barca a ser governada exige além de fé, devoção, obras e palavras, vigor, muito vigor da alma e do corpo. Do corpo. A fragilidade do corpo de Cristo, inscrito em sua humanidade e reinscrito da finitude da vida de cada portador do cetro de Pedro, enfrentada de uma perspectiva humanista, pragmática.

Vigor, atributo exclusivo da juventude, em cuja ausência a jovialidade pode ocasionalmente iludir. Vigor da alma, cuja melhor descrição ainda seja a virtú do Principe descrito por Maquiavel, e vigor do corpo, diante da qual a religião, nos dias de hoje, se curva diante a medicina e busca, pragmaticamente, a justa medida e hora de parar.

A hora de parar. O gesto quase singelo deste papa é uma afirmação contundente do caminho que a Santa Sé trilhará nas próximas décadas: é um caminho de reaproximação com os jovens e de juvenilização do clero. Sofrimento, devoção, obras e palavras guardarão seu sacro lugar na hierarquia das virtudes cristãs. Mas será o vigor, acima de tudo o vigor, a virtude que a igreja de Roma precisará mobilizar nesta nova fase. A hora é de “reconhecer incapacidade” e reorganizar a nova geração para a missão aristotélica de “administrar bem” o legado de Cristo.

A era de Peixes conheceu disputas sangrentas pelo papado e papas que definharam em sua função. Oficialmente somente quatro papas renunciaram, sendo que o último papa a fazê-lo foi Gregório XII em 1415, quando a Renascença e o Humanismo já fertilizavam uma trajetória de crise e reconstrução da Igreja Católica. Dois séculos e meio depois, um concilio em Trento mudaria para sempre a história do Cristianismo.

Para resistir à Reforma, Roma fez uma revolução. A renuncia do papa Benedictus XVI pode ser o prenuncio de uma nova revolução. O neopentecostalismo e a ciência contemporânea já se mostraram adversários difíceis. Será preciso muita virtú, digo, vigor, para levar este novo empreendimento adiante. Talvez ele tenha que esperar pela era de Aquário. Talvez não. Bento certamente quer precipitar os eventos.

Fonte: Pittacos - Revista de Cultura e Humanidades

Vem aí um conclave inesquecível - Elio Gaspari

É possível que se acabe a época de papados eurocêntricos que começou em 1978 com João Paulo II

Tudo o que se pode esperar da escolha do sucessor de Bento 16 é o fim de um Vaticano eurocêntrico. Desde que Karol Wojtyla tornou-se João Paulo 2º a Europa é o centro das atenções da Cúria. O papa polonês cumpriu uma fenomenal missão histórica ajudando a desmontar décadas de tolerância com as ditaduras comunistas. Seu sucessor teve um pontificado medíocre enrolado pela tolerância com escândalos sexuais e financeiros de sacerdotes. Um deles passou de raspão pelo Brasil, num trambique do namorado da atriz Anne Hathaway, sócio do sobrinho do atual decano do Colégio de Cardeais, o poderoso ex-secretário de Estado Angelo Sodano. A moça micou em US$ 135 mil e o rapaz foi preso nos Estados Unidos.

As dificuldades do Vaticano com suas finanças são antigas. Foi Pio 9º quem avisou: "Posso ser infalível, mas estou falido." Já os desempenhos sexuais de alguns sacerdotes, mesmo sendo coisa antiga, tornou-se uma encrenca recente, com a qual João Paulo 2º e Bento 16 nunca conseguiram lidar direito, envenenando a missão pastoral de dioceses europeias e americanas.

O eurocentrismo da Cúria Romana refletiu-se no Brasil. Durante o pontificado de Paulo 6º, Pindorama passou de dois para oito cardeais. Hoje tem cinco. Bento 16 deixou sem o barrete cardinalício as arquidioceses de Rio e Brasília. Porto Alegre teve cardeal e está sem. Recife, a primeira sé cardinalícia do país, está na segunda divisão desde os anos 60, quando a ditadura hostilizava d. Helder Câmara e não queria vê-lo cardeal. Se foi econômico com os barretes brasileiros, Bento 16 foi generoso aspergindo-os pela Europa. Elevou a diocese de Valência (800 mil habitantes), na Espanha, mas não confirmou o barrete de Porto Alegre (1,4 milhão de habitantes).

Quem especular o nome do sucessor de Ratzinger pode jogar cara ou coroa. Nos seis últimos conclaves elegeram-se três favoritos (Ratzinger, Paulo 6º e Pio 12) e três azarões (João Paulo 2º, João Paulo 1º e João 23, um gorducho que mal cabia nas vestes preparadas pelos alfaiates que trabalharam no conclave).

Pode-se esperar que depois de um papa saído da academia de teólogos e da burocracia de Roma, venha um pastor, como os dois João Paulo e João 23. Um administrador de diocese do Terceiro Mundo uniria o útil ao agradável. É assim que entra nas listas, com um sopro romano, o cardeal de São Paulo, d. Odilo Scherer, pastor de uma das maiores arquidioceses do mundo. Aos 63 anos, teria um longo pontificado. Ele tem uma característica anfíbia. É brasileiro, mas, como quatro outros cardeais brasileiros (Cláudio Hummes, Paulo Evaristo Arns, Aloísio Lorscheider e Vicente Scherer, seu parente distante), descende da imigração alemã. A mola mestra da eleição dos dois últimos papas foi a capacidade de articulação da hierarquia alemã.

D. Odilo lidera a facção conservadora do clero brasileiro, derrotada na última eleição da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e nas eleições gerais em que se meteu. Para consumo mundial, preenche o requisito de um papa do Terceiro Mundo, condição só superável pela escolha de um africano como Francis Arinze, de Lagos, na Nigéria. Mais que africano, Arinze tem 80 anos e passou 25 em Roma. Seria um papa de transição.

Com uma eleição marcada para o fim de março e um papa vivo, vem aí um conclave inesquecível.

Fonte: O Globo

Conservador heterodoxo - Fernando Rodrigues

Ao anunciar sua renúncia para o dia 28 deste mês, o papa Bento 16 empurra, de maneira inédita, a Igreja Católica para uma governança mais moderna. Coube justamente a um papa conservador essa atitude avançada.

A história está cheia de exemplos semelhantes na política. Foi o conservador Richard Nixon o responsável por reatar as relações dos EUA com a China comunista de Mao Tse-tung. Agora, o tradicionalista alemão Joseph Ratzinger demonstra arrojo ao renunciar aos 85 anos.

Especulações não faltam sobre as motivações reais da renúncia. Mas não é um despautério supor que ele tenha sucumbido ao racionalismo. Sente-se debilitado fisicamente pela idade. Sem vigor para comandar uma das mais bem-sucedidas franquias religiosas do planeta. Seguiu o caminho óbvio para qualquer outro político ou administrador de uma grande corporação: a aposentadoria.

No exercício perfeito de suas faculdades mentais, ele terá como influir em sua sucessão. Cria também de maneira tácita um padrão sucessório: papas futuros terão de considerar a renúncia em algum momento, evitando ficar no cargo até a morte.

Para quem olha de fora pode parecer pouco. Para uma instituição milenar como a Igreja Católica é uma revolução. A escolha de papas tende, agora, a ser discutida de maneira cada vez mais aberta, com o incumbente vivo e influindo.

A Igreja Católica pode se oxigenar. Postulantes ao papado aumentarão sua exposição. Talvez ainda diferente de um político em campanha, mas certamente assumindo mais compromissos. Até porque estão todos numa conjuntura menos desconfortável em comparação com as sucessões papais recentes -quando o titular morria, os candidatos obrigavam-se a um comportamento ostensivamente compungido.

Não haverá mudanças bruscas nem de dogmas, por óbvio. Mas a Igreja Católica já parece menos encapsulada no tempo.

Fonte: Folha de S. Paulo

Carnaval da surpresa - Míriam Leitão

A gente pensa que todo carnaval vai ser uma pasmaceira: notícias sobre o desfile das escolas de samba - mais as do Rio que as de São Paulo. Informações sobre os blocos, orientações sobre a volta de quem viajou, e as notícias que alguns heroicos plantonistas nos jornais descolam. E aí aparece o inesperado: a renúncia do Papa. Foi um carnaval histórico, e não pelos motivos que se espera.

O papa, que ainda não se sabe quem é, e cujo nome sairá só quando houver uma fumaça branca nos céus de Roma, visitará o Brasil em junho. Não é um espanto? Nem foi escolhido e já se sabe que estamos bem no comecinho da fila dos compromissos papais, na Jornada Mundial de Juventude.

Então, para quem descrê do inesperado no jornalismo, ele está aí fazendo mais um dos seus milagres. A quarta-feira de cinzas, normalmente, é dia de noticiar o resultado do desfile de São Paulo, falar da expectativa para o resultado do sambódromo e contar as piadas de sempre sobre o fato de que agora sim o ano vai começar. Mas, nesta quarta, tem ainda novas especulações vindas diretamente de Roma e informações de que o presidente Obama decidiu tirar 34 mil dos 66 mil soldados do Afeganistão no prazo de um ano. É o desembarque, afinal.

O papa teve um pontificado breve, se comparado ao de João Paulo II, mas não tão breve. Afinal, sete anos, dez meses e dez dias representam quase dois mandatos presidenciais no Brasil e nos Estados Unidos.

As análises dos especialistas são de que ele estava dando sinais de cansaço, de que não exercia o poder com gosto, porque prefere seus estudos e trabalhos intelectuais. O que é uma colunista de economia para negar as variáveis dessa equação religiosa? Mas o cardeal Ratzinger sempre esteve próximo do poder, sempre o exerceu mesmo antes do pontificado, nunca foi o intelectual desapegado que alguns analistas o apresentam. Ele certamente tentará exercer sua influência na escolha do sucessor.

O pontificado é diferente de qualquer outro poder. É mais do que um líder religioso e diferente de um chefe de Estado; apesar de ser os dois ao mesmo tempo e ter os seus mais de um bilhão de seguidores espalhados por vários países. Se o de João Paulo II foi o de intensas viagens pelo mundo para tentar usar sua inegável capacidade de comunicação e seu carisma na luta contra a tendência de redução do número de fieis, o de Bento XVI foi introduzido como sendo uma afirmação do setor mais conservador da Igreja.

Os vaticanólogos tentam dizer que o inesperado era bem previsível, mas na verdade foi espantosa a notícia da segunda de carnaval. Entre os fatos lembrados como fonte do desgosto papal está o vazamento da sua correspondência, cujo culpado foi seu mordomo; e a insuficiente reação ao mais forte desafio da Igreja que são as sucessivas denúncias de pedofilia. Há os que garantem haver mesmo sinais de problemas de saúde, o que aos 85 anos parecem bem prováveis. E há até quem fale da reação ao ajuste no orçamento do Vaticano, que foi feito com mão de ferro através da revisão de contratos de fornecimento, gestão e construção da cidade-Estado. Essas revisões teriam transformado déficit em superávit, mas desagradado muito os que aceitavam os altos preços cobrados pelos fornecedores. O autor da façanha fiscal, o arcebispo Carlo Maria Viganò - sonho de várias ordens econômicas - acabou sendo enviado para longe de Roma. Foi ser embaixador do Vaticano nos Estados Unidos. Poderia até ser convocado pela burocracia do país no qual serve, mas no orçamento dos EUA não há santo que dê jeito.

Uma das formas de reduzir o gasto americano será certamente reduzir a máquina de guerra. O que o presidente Barack Obama decidiu anunciar no Estado da União, o discurso anual no Congresso, é um passo tardio e insuficiente para reduzir uma das fontes da ruína do orçamento do país.

Para uma colunista que tem que escrever até na terça-feira gorda não posso me queixar deste carnaval. Desta vez, não tive que falar de mais um erro da política econômica. E se fosse falar do Brasil, esta coluna poderia se debruçar sobre mais um inesperado: já atingiu 1% do eleitorado o movimento popular de assinaturas pelo impeachment do presidente do Senado. Uma coisa é certa, jornalista não pode desta vez se queixar de falta de notícia para ocupar o seu espaço.

Fonte: O Globo