terça-feira, 9 de janeiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais /Opiniões

Eleições tornam urgente regulação das redes sociais

O Globo

Congresso deve reduzir riscos trazidos por desinformação e inteligência artificial às campanhas

No primeiro aniversário da tentativa de golpe de 8 de janeiro, é salutar o país avaliar o que foi feito nos últimos 12 meses para evitar novos ataques à democracia e urgente destacar o que falta fazer. Um ponto parece unir as principais autoridades da República: a necessidade de regular as redes sociais, principais focos de conspirações golpistas.

Em entrevista ao GLOBO, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes foi categórico: “A prioridade é impedir a continuidade dessa terra sem lei das redes sociais”. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também defendeu a regulação em entrevista recente: “Esse movimento de uma vida paralela, não analógica, uma vida digital muito rápida, vai exigir de nós, congressistas, que algumas modificações aconteçam”.

Faltando sete meses para o início da propaganda eleitoral, o Congresso deve dar atenção ao tema. Passou da hora de deputados e senadores deixarem de ser reféns das fabulações espalhadas pelas grandes plataformas digitais. A falta de regras transformou as redes sociais e os aplicativos de comunicação em centros de disseminação de desinformação. Repetidas vezes, as empresas de tecnologia falharam. Quando vídeos, áudios ou memes fraudulentos são removidos, milhões já os viram, e o estrago já está feito.

Merval Pereira - Polarização corrói a democracia

O Globo

Na noite em que Tancredo Neves se internou em Brasília e ficou claro que não poderia tomar posse no dia seguinte como presidente da República, quem decidiu que o vice José Sarney assumiria foi o general Leônidas Pires Gonçalves, já escolhido como novo ministro do Exército.

Os juristas se dividiam entre Sarney e o presidente da Câmara, deputado Ulysses Guimarães, e Leônidas desempatou. O senador Pedro Simon perguntou, indignado, a Ulysses por que ele não reagira àquela decisão:

— Não podia, meu Pontes de Miranda estava me cutucando com a espada dizendo que seria o Sarney.

Trinta e oito anos depois, na baderna insurrecional que tomou conta da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, houve uma reunião em que ficou decidido que seria aberto um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar a tentativa de golpe.

Míriam Leitão - A dúvida entre punir e apaziguar

O Globo

O que os discursos e as conversas de bastidores mostraram é que há necessidade de punir os responsáveis antes de se superar esses atos

Estive ontem nos dois eventos que lembraram a tentativa de golpe de um ano atrás. O que ficou das conversas de bastidores e dos discursos é que há muito a fazer para garantir que agressões como as de 8 de janeiro de 2023 não se repitam. A sensação que colhi foi que é preciso esclarecer muita coisa e punir muita gente antes de se considerar que o risco passou. Foi muito caro mobilizar tantas pessoas, trazê-las do país inteiro, manter acampamentos por dois meses, com infraestrutura, e coordenar atos daquela dimensão, além de bloqueios em diversas estradas e refinarias do país. O que se sabe até agora da origem do grosso do dinheiro é muito pouco.

O presidente do Superior Tribunal Militar, brigadeiro Joseli Camelo, me disse que militares que forem condenados a mais de dois anos pela Justiça Federal serão também julgados pela Justiça Militar. E podem ser condenados à “indignidade para o oficialato” e expulsos das Forças Armadas.

Vera Magalhães – Risco de politizar ato é que haverá o dia seguinte

O Globo

Atos como o desta segunda-feira, para marcar efemérides históricas, sejam elas virtuosas ou infames, como o 8 de Janeiro, são benéficos para a Histórica e educativos para a sociedade. Assim, feriados em datas de grandes tragédias ou guerras, ou museus como o do Holocausto, o de Hiroshima ou de diferentes ditaduras mundo afora têm o caráter de evitar que esses eventos sejam esquecidos, minimizados ou repetidos.

O grande problema é quando o caráter cívico e institucional descamba para a partidarização, porque isso tisna o objetivo e dá munição aos que tentam desvirtuar os fatos. A solenidade desta segunda-feira teve o mérito de se inscrever na primeira modalidade, mas teve momentos em que incorreu na armadilha da politização.

Malu Gaspar - Bolsonaro é sujeito oculto dos discursos de Moraes e Lula

O Globo

Embora não tenham mencionado diretamente Jair Bolsonaro em seus discursos, tanto Lula como o ministro do Supremo Tribunal Federal (STFAlexandre de Moraes procuraram deixar claro em suas falas, no ato realizado no Congresso Nacional para lembrar o 8 de janeiro, que não desistiram de responsabilizar o ex-presidente da República por seu envolvimento nos atos golpistas.

Moraes disse que "não haverá impunidade, apaziguamento ou esquecimento" aos envolvidos na trama golpista, e que "não haverá qualquer tipo de anistia aos personagens envolvidos nos ataques".

Já Lula afirmou que "não haverá perdão para quem atenta contra a democracia, seu país e contra seu próprio povo”, em um discurso em que falou o tempo todo do antecessor.

“Adversários políticos e autoridades constituídas poderiam ser fuziladas ou enforcadas em praça pública, a julgar por aquilo que o ex-presidente golpista pregou em campanha e seus seguidores tramam nas redes sociais”, disse o petista.

Carlos Andreazza - Crítica construtiva, ministro

O Globo

Alexandre de Moraes deu entrevista ao GLOBO. Um ano do 8 de Janeiro. Documento já histórico; em que justifica o afastamento de governador com o argumento de “evitar que pudesse ocorrer algo extremista em outros estados, eventualmente outro governador apoiar movimento golpista”.

Ibaneis Rocha, eleito, afastado para dar exemplo; para que, o Supremo monocrata se antecipando a pretenso “efeito dominó”, nenhum outro governante se animasse. E tudo bem. Pela democracia, à margem do Direito.

Não ornará, não em linguagem compatível com a República, um arranjo em que, para desmontar o 7 de Setembro permanente de Bolsonaro, prospere este estado de vigília; que, sob a inatacável defesa das instituições democráticas, legitime medidas de exceção e interdite o debate público — a ser fascista, trabalhando pela volta do capeta, aquele que criticar o governo Lula e as extravagâncias xandônicas.

Pedro Cafardo - O papel das missões na nova política industrial

Valor Econômico

Plano de reindustrialização do país deve envolver cooperação entre governo e setor privado, pautando-se por direções, prioridades e instrumentos para alcançar objetivos econômicos e sociais no longo prazo

Não há mais muitas divergências nem conflitos ideológicos significativos sobre a necessidade de lançamento de uma nova política industrial no país. Ficou para trás a ideia de que o setor de serviços, apesar de sua importância na estrutura produtiva, viria a comandar o crescimento econômico. E isso é um entendimento global.

A discussão do problema da desindustrialização e das formas de correção desse processo maligno se tornou dominante nas economias, inclusive nos países desenvolvidos. O pensamento majoritário sugere que a indústria de transformação continuará sendo a principal propulsora do crescimento econômico e difusora do progresso tecnológico.

Andrea Jubé - O encontro re-marcado de Haddad com o diálogo

Valor Econômico

Ministro tem recebido críticas veladas até de aliados

A primeira coluna do ano é sobre ódio, diálogo e esperança. O ódio foi tema de uma carta de Clarice Lispector ao amigo Fernando Sabino em maio de 1956, na qual ela confidenciou seu especial interesse no conto “O búfalo”, que havia acabado de escrever. O texto continha “uma violência que me faz tremer”, descreveu.

A escritora revelou que tomada por um “ódio muito forte”, sentimento que lhe era incomum, sentiu necessidade de criar aquela história. A protagonista é uma mulher abandonada que decide fazer uma visita ao Jardim Zoológico para aprender com os animais enjaulados como odiar.

Em sua busca, subitamente, a mulher se depara com um búfalo negro e imponente, e ambos passam a se encarar. “Ela não olhou a cara, nem a boca, nem os cornos. Olhou seus olhos... Olhos pequenos e vermelhos a olhavam... Lentamente a mulher meneava a cabeça, espantada, com o ódio com que o búfalo, tranquilo de ódio, a olhava”. A personagem então conclui que a busca chegou ao fim, até que sua mão alcança o punhal que guardava no bolso do sobretudo.

César Felício - Ataques golpistas permitiram a Lula ultrapassar barreiras da polarização

Valor Econômico

Documentários mostram participação decisiva de Janja na rejeição à GLO

Um traço marcante dos dois documentários divulgados nesse domingo (7) sobre o 8 de Janeiro, com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi o bastidor sobre a decisão do governo de rejeitar na ocasião uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Tanto na produção levada ao ar pela GloboNews quanto na peça publicada pelo site do jornal “Folha de S.Paulo” destaca-se o papel decisivo da primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, de ter afastado o presidente dessa solução, em reunião feita na Prefeitura de Araraquara (SP), onde o presidente estava por ocasião dos ataques em Brasília.

Fernando Exman - Oposição erra ao boicotar ato do 8 de Janeiro e Lula se equivoca ao citar PT em discurso

Valor Econômico

Ao falar de improviso, presidente resolveu citar, ainda que indiretamente, Bolsonaro e seus três filhos

Histórico, o ato em memória ao 8 de Janeiro poderia ter sido ainda mais bem-sucedido se governo e oposição tivessem deixado de lado seus interesses partidários pelo menos por um dia.

A ausência da oposição estava dada. Situação que contrastava, aliás, com a garantida presença dos comandantes das Forças Armadas. No fim do ano passado, o ministro da Defesa, José Múcio, contou em evento realizado no Comando da Marinha que havia garantido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, confirmada a realização do evento, os três oficiais seriam os primeiros a chegar ao local.

Já alguns líderes de partidos do Centrão, inclusive integrantes das mesas diretoras da Câmara e do Senado, haviam anunciado que não interromperiam o recesso parlamentar para prestigiar a solenidade. Muitos dependem dos votos de eleitores mais radicais nas eleições, e argumentavam que o ato, originalmente concebido para registrar a reação institucional em defesa da democracia empreendida no dia 8 de janeiro de 2023, seria transformado num evento político capturado pelo Palácio do Planalto. A orientação era “sumir” de Brasília nessa segunda-feira.

Eliane Cantanhêde - Dois pra lá, dois pra cá

O Estado de S. Paulo

Um ministério só para Justiça e Segurança Pública, mas com comando duplo

Em 8 de janeiro de 2023, o secretário-geral do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, almoçava tranquilamente, enquanto esperava a mulher e o filho chegarem de mala e cuia para Brasília, quando estourou a invasão das sedes dos três Poderes. Ele correu para o gabinete do ministro Flávio Dino e, depois de virar interventor do Distrito Federal quase por acaso, poderá assumir agora um, digamos assim, meio Ministério da Justiça e Segurança Pública.

O presidente Lula não vai dividir a pasta em duas, como foi no governo Michel Temer, mas pode redefinir as duas funções, na prática, dentro do mesmo ministério. O ex-presidente do Supremo Ricardo Lewandowski como ministro e Cappelli como um supersecretário executivo, com carta-branca para cuidar da Segurança Pública.

Bruno Boghossian - Força tarefa contra golpismo se renova, e ausentes passam recibo

Folha de S. Paulo

Autoridades reforçam punições e fazem campanha por regulação de redes, em data com inevitáveis interesses políticos em jogo

Além dos esperados desagravos e adjetivos carregados, as cerimônias em memória dos atos golpistas de 8 de janeiro serviram para renovar uma espécie de força-tarefa formada por algumas das autoridades mais poderosas de Brasília.

O evento principal, que reuniu chefes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, repetiu o caráter simbólico das primeiras reações aos ataques, ainda no início de 2023. Um ano depois, a reunião desses mesmos atores também foi palco da defesa de uma agenda mais concreta.

Boa parte dos discursos passou por um tripé que se consolidou como linha mestra da resposta aos ataques: a punição exemplar aos envolvidos nos atos, a regulação das redes sociais em que se cultivou o caldo dos ataques e um isolamento dos grupos políticos que alimentaram os desejos golpistas.

Joel Pinheiro da Fonseca - 8 de janeiro foi uma tentativa de golpe?

Folha de S. Paulo

Última linha de defesa dos atos é dizer que houve apenas vandalismo desesperado

A última linha de defesa dos atos de 8 de janeiro de 2023 é dizer que não foram uma tentativa de golpe, mas apenas um vandalismo desesperado. Será? Vamos aos fatos.

O dia 8 de janeiro não nasceu do nada. Foram anos de discursos mentirosos acusando nosso sistema eleitoral e meses de acampamentos golpistas em frente a quarteis clamando aos militares por um golpe de Estado. Foi a esses manifestantes que Braga Netto disse em novembro: "Tenham fé". Foi com eles que Michelle Bolsonaro orou. Dos mesmos acampamentos saíram os atos de vandalismo da noite de 12 de dezembro em Brasília e ainda a tentativa de explodir um caminhão tanque no aeroporto de Brasília em 24 de dezembro. Mais do que o suficiente para criar o clima de pânico que poderia justificar uma intervenção militar.

Esse era o objetivo único. A invasão do dia 8, já desesperada porque a troca de poder ocorrera sem obstáculos, buscava promover um tumulto tal que provocasse a intervenção militar para garantir a ordem e, na sequência, sob algum pretexto qualquer, tirar Lula do poder.

Hélio Schwartsman - Sob o espectro do golpe

Folha de S. Paulo

Apaziguamento de militares evita crises no presente, mas dificulta normalização democrática das Forças Armadas

Se eu estivesse na pele do Lula também faria o possível para evitar problemas com os militares. A última coisa de que o governo precisa é uma quartelada ou uma crise institucional. Mas é importante ressaltar que a opção pela política de apaziguamento tem um preço, que não é baixo.

Neste primeiro aniversário da tentativa de golpe bolsonarista, os incorrigivelmente otimistas destacam que a intentona fracassou porque a cúpula das Forças Armadas se recusou a patrocinar a aventura. Verdade, mas, considerado o quadro geral, não vejo motivos para celebração. Militares, incluindo alguns oficiais-generais, participaram ativamente das tramas democraticidas, se é que não constituíam a espinha dorsal do movimento. E, ao que tudo indica, serão poupados dos rigores da lei.

Dora Kramer - Da boca para fora

Folha de S. Paulo

A pacificação não interessa à direita nem à esquerda porque não é eleitoralmente sexy

De verdade a direita nem a esquerda têm interesse na pacificação dos ânimos na política. Pelo simples fato de que a moderação não é eleitoralmente sexy. Políticos se movem ao ritmo da demanda dos que lhes dão votos e estes não se mostram inclinados a aderir à calmaria celebrada na teoria, mas na prática rejeitada.

As pesquisas comprovam. Em dezembro, o Datafolha mostrou que com erros e acertos, derrotas e vitórias de um lado e de outro, 90% dos eleitores de Luiz Inácio da Silva e de Jair Bolsonaro continuam apegados às escolhas de 2022.

Alvaro Costa e Silva -Zeladoria versus ideologia

Folha de S. Paulo

Com Lula e Bolsonaro consolidados como cabos eleitorais, debate está desvirtuado

Em 1985, pressionado pelo Partidão, João Saldanha —cartola, técnico e comentarista de futebol, além de comunista de carteirinha— aceitou sair candidato a vice-prefeito do Rio na coligação de esquerda encabeçada pelo advogado Marcelo Cerqueira. Ele cumpriu a ordem e depois resmungou: "A lagoa Rodrigo de Freitas é do estado, só o peixe podre é da prefeitura. O Theatro é municipal, mas quem manda é o estado. Eu vou fazer o quê? Pegar o lixo?".

Poesia | O Teu Riso | Pablo Neruda

 

Música | O Pinto da Madrugada - Alceu Valença