sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Opinião do dia – Sérgio Moro

Essa necessidade faz-se ainda mais presente diante da notória situação de ruína das contas públicas do Governo do Rio de Janeiro. Constituiria afronta permitir que os investigados persistissem fruindo em liberdade do produto milionário de seus crimes, inclusive com aquisição, mediante condutas de ocultação e dissimulação, de novo patrimônio, parte em bens de luxo, enquanto, por conta de gestão governamental aparentemente comprometida por corrupção e inépcia, impõe-se à população daquele Estado tamanhos sacrifícios, com aumentos de tributos e corte de salários e de investimentos públicos e sociais. Uma versão criminosa de governantes ricos e governados pobres.

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Sérgio Moro, Juiz Federal da 13ª Vara Federal de Curitiba. Despacho/Decisão da prisão do ex-governador Sérgio Cabral e outros.

CABRAL É DESCOBERTO

• Corrupção teria desviado R$ 224 milhões

• ‘Oxigênio’, ou mesada, era de até R$ 500 mil

• Propina pagou joias, lanchas e vestidos de luxo

Governador do Rio por dois mandatos (2007-2014) e que chegou a ser cotado para disputar a Presidência, Sérgio Cabral (PMDB) foi preso ontem por ordem de dois juízes, Sérgio Moro (Curitiba) e Marcelo Bretas (Rio), sob a acusação de chefiar esquema de corrupção que “saqueou” o estado, hoje na penúria. A prisão aconteceu menos de 24 horas depois de outro ex-governador, Anthony Garotinho, ser detido por compra de votos. Alvo da Operação Calicute, referência à expedição fracassada de Pedro Álvares Cabral às Índias, Cabral é acusado de cobrar propinas milionárias de empreiteiras em troca de contratos de obras e isenções fiscais, com desvio de R$ 224 milhões dos cofres públicos. Segundo a Lava-Jato, o ex-governador recebia mesadas de empreiteiras de até R$ 500 mil, usadas para pagar viagens, carros, lanchas, joias e vestidos de festas. Outras nove pessoas foram presas, entre elas os ex-secretários Wilson Carlos (Governo) e Hudson Braga (Obras).

ACABOU O ‘OXIGÊNIO’

• Termo era usado para designar propina, segundo investigadores da Operação Calicute, que prendeu o ex-governador e mais nove acusados de desviar R$ 224 milhões em contratos com empreiteiras

- O Globo

No momento em que o Estado do Rio vive uma profunda penúria em suas contas públicas, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal do Rio, em parceria inédita com a Justiça de Curitiba, desvendaram um esquema criminoso no qual o ex-governador Sérgio Cabral é apontado como líder de um grupo responsável por desviar pelo menos R$ 224 milhões em contratos com empreiteiras. Elas eram obrigadas a pagar uma taxa de 5% sobre qualquer valor repassado pelo governo. Chamadas de “oxigênio” pelos envolvidos no esquema de corrupção, as propinas bancaram viagens e itens de luxo.

PF: ex-governador recebia mesada de até R$ 500 mil

• Segundo investigação, Sérgio Cabral era o líder do núcleo político do esquema de corrupção

Chico Otavio e Daniel Biasetto - O Globo

O esquema de corrupção comandado pelo exgovernador Sérgio Cabral, no qual teriam passado mais de R$ 220 milhões, foi organizado a partir de quatro núcleos básicos: o econômico, formado pelos executivos das empreiteiras estruturadas em cartel (entre as quais a Andrade Gutierrez e a Carioca Engenharia); o administrativo, composto por gestores públicos; o financeiro-operacional, destinado a garantir o recebimento e a lavagem do dinheiro; e o político, integrado pelo líder da organização, Cabral.

As empreiteiras eram obrigadas a pagar uma taxa de 5% em propina para cada pagamento recebido do governo estadual (contratos e aditivos), que resultavam em mesadas de até R$ 500 mil. No núcleo financeiro, o dinheiro era entregue em espécie a operadores de confiança, que muitas vezes o recebiam na sede das empreiteiras — houve casos de pagamentos em doações eleitorais. A etapa seguinte, sempre segundo a investigação, consistia na lavagem do dinheiro, que seguia caminhos variados até chegar ao destino final.

PMDB tenta se descolar de prisão

O Planalto e o PMDB tentaram se distanciar de Sérgio Cabral, alegando que o ex-governador era mais próximo do ex-presidente Lula do que da cúpula do partido. A ex-presidente Dilma disse que Cabral “jamais foi aliado”, apesar de terem mantido acordo político.

Aliados, agora, negam antiga proximidade

• PMDB não deve ser julgado por poucos, diz Temer; Dilma contesta aliança, que teve o bordão ‘Estamos juntos’

Júnia Gama, Simone Iglesias, Eduardo Barretto Geralda Doca - O Globo

-BRASÍLIA- A prisão do ex-governador Sérgio Cabral teve o efeito de afastar, imediatamente, seus antigos aliados, que ensaiaram uma versão de que ele não era tão próximo assim. Enquanto no Planalto e no PMDB o discurso sustentado ontem era de que não havia proximidade de Cabral com o governo ou com o partido, a ex-presidente Dilma Rousseff teve reação similar e negou ser aliada do ex-governador. Para ministros do presidente Michel Temer, Cabral era mais próximo do ex-presidente Lula, e agia isoladamente.

‘Acredito que ele provará sua inocência’, diz Picciani, presidente da Alerj

• Prefeito Eduardo Paes se cala, e governador Pezão divulga nota de 14 palavras sobre prisão

Ruben Berta - O Globo

No dia da prisão de Sérgio Cabral, a defesa mais ferrenha do ex-governador no Rio ficou por conta de dois caciques do PMDB: o atual e o ex-presidente da Alerj, deputados Jorge Picciani e Paulo Melo. Os dois comandaram a Casa, respectivamente, na primeira e na segunda gestão de Cabral.

A postura dos deputados contrastou com um clima de afastamento por parte de outros parlamentares da base do governo e do prefeito Eduardo Paes, que não quis se manifestar sobre o caso. O governador Luiz Fernando Pezão divulgou uma nota de apenas 14 palavras: “Espero que tudo seja esclarecido, a partir da garantia do amplo direito de defesa”.

O presidente da Alerj participou de reuniões fechadas ontem para discutir a situação financeira do estado e tentou se esquivar da imprensa ao entrar no plenário da Casa. Ao ser perguntado sobre Cabral, porém, ele não titubeou.

— Decisão judicial não se discute. Ele terá a defesa dele, e acredito que provará sua inocência — afirmou Picciani.

Por que Moro mandou prender Sérgio Cabral

Leia a integra do documento/despacho

POR QUE MORO MANDOU PRENDER SÉRGIO CABRAL   PDF

Cabral é preso sob acusação de receber mesada de até R$ 500 mil de empresas

• Delatores disseram que ex-governador do Rio chefiava esquema que desviou R$ 224 milhões

• Ele foi o segundo dirigente do Estado detido em menos de 24 horas

• Juízes relacionam corrupção em obras a crise no governo fluminense

• Atual governador pede ampla defesa

O ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB) foi preso na Opera- ção Calicute, um desdobramento da Lava Jato. Alvo de dois mandados de prisão simultâneos, expedidos pelos juízes Marcelo Bretas, do Rio, e Sérgio Moro, de Curitiba, ele é acusado de liderar um esquema que rendeu pelo menos R$ 224 milhões em recursos desviados de contratos de quatro grandes obras públicas (Maracanã, Arco Metropolitano, PAC das Favelas e Comperj) assinados com a Carioca Engenharia e a Andrade Gutierrez entre 2007 e 2014. Delações de ex-executivos e só- cios das empreiteiras revelam pagamentos mensais de R$ 200 mil a R$ 500 mil para Cabral em seus dois mandatos. Investigadores e juízes relacionaram a corrupção à grave crise financeira no Estado. A soma dos supostos R$ 224 milhões em propina e de R$ 450 milhões em impostos sonegados equivale a 34% da folha mensal de servidores. Cabral foi o segundo ex-governador do Rio preso em menos de 24 horas – anteontem, Anthony Garotinho (PR) foi detido por ordem de um juiz eleitoral. Em nota, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) pediu “amplo direito de defesa” ao padrinho político.

Cabral é preso por chefiar desvios de R$ 224 milhões

• Operação Calicute. Ex-governador é detido preventivamente em desdobramento da Lava Jato; fato acentua derrocada do PMDB fluminense em meio à crise financeira do Rio

RIO - A prisão preventiva ontem do ex-governador do Rio Sérgio Cabral acentuou a derrocada do PMDB fluminense em meio à gravíssima crise política e financeira que enfrenta o Estado chefiado pelo peemedebista Luiz Fernando Pezão. Em 24 horas, foi o segundo ex-governador do Rio preso – anteontem, Anthony Garotinho (PR) foi detido por ordem de um juiz eleitoral.

Governador pede ‘ampla defesa’ para padrinho

• Pezão divulga nota protocolar 10 horas após a prisão; defesa de Cabral não se manifesta

Vinicius Neder, Roberta Pennafort, Constança Rezende – O Estado de S. Paulo

/ RIO Aliado do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB), do qual foi vice, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) se manifestou ontem por meio de nota dez horas depois de o correligionário ser preso. “Espero que tudo seja esclarecido, a partir da garantia do amplo direito de defesa”, disse Pezão.

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB), afirmou ontem que crê que Cabral provará sua inocência. “Decisão da Justiça se cumpre, tem a ampla defesa, e ele (Cabral) vai provar a inocência dele”, disse Picciani, ao deixar a Alerj pouco menos de uma hora depois de abrir a sessão ordinária que debateu projetos do pacote de ajuste fiscal enviado pelo governo fluminense.

Prisão de Cabral é baque para PMDB do Rio e revés para Lula

• Detenção do ex-governador fluminense traz novo transtorno para o partido no Estado e ainda complica a situação do ex-presidente, um dos principais parceiros

Ricardo Brito e Adriana Fernandes - O Estado de S. Paulo

A prisão do ex-governador do Rio Sérgio Cabral em nova fase da Operação Lava Jato é um baque para o já combalido PMDB fluminense e um revés para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi o principal parceiro do peemedebista quando esteve à frente do Palácio do Planalto.

O PMDB do Estado vinha sofrendo nos últimos meses uma forte perda de expressão política e dificilmente vai se reerguer em curto prazo. A cassação e detenção do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha – que já almejou planos presidenciais -, o fato de o prefeito da capital, Eduardo Paes, não ter conseguido fazer o sucessor nas eleições municipais e os protestos contra o ajuste fiscal do atual governador, Luiz Fernando Pezão, são o pano de fundo da legenda.

PMDB tem um grande futuro pelas costas

Wilson Tosta - O Estado de S. Paulo

RIO - Derrotado nas urnas, questionado nas ruas e agora com parte de sua liderança na cadeia, o PMDB do Rio tem um grande futuro pelas costas.

Até recentemente, como mais importante seção do partido no País, chegou a ser cogitado para indicar Sérgio Cabral Filho como vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff em 2010 e para ter o prefeito do Rio, Eduardo Paes, como possível candidato (próprio) a presidente da República.

Agora, se prepara para deixar o Palácio da Cidade, no fim de 2016, e o Palácio Guanabara, quando acabar 2018, sem nenhuma perspectiva próxima de retorno ao poder local. Pior: tem a Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça em seu encalço, além da incerta possibilidade de mais prisões.

Com raízes no velho MDB chaguista, o PMDB fluminense viveu, de 2007 em diante, um ciclo aparentemente longo de poder. Depois de ganhar a filiação do casal Garotinho, quando Rosinha Matheus era a governadora, o partido elegeu Sérgio Cabral Filho duas vezes governador (2007 e 2010) e Paes duas vezes prefeito da capital (2008 e 2012). Dominava a Assembleia Legislativa e prefeituras e mantinha linha direta com o Palácio do Planalto. Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Cabral conseguiu o apoio federal para projetos como a realização da Olimpíada no Rio de Janeiro e um vistoso pacote de obras. UPA , UPP e PAC viraram a siglas-símbolo da gestão peemedebista.

Cabral, ex-governador do Rio, é preso em desmembramento da Lava Jato

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, RIO, BRASÍLIA - O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) foi preso na manhã desta quinta (17) em seu apartamento no Leblon, zona sul da capital fluminense.

A prisão ocorreu na Operação Calicute, uma ação conjunta das forças-tarefas da Lava Jato no Rio e em Curitiba. Os investigadores apuram o desvio mais de R$ 220 milhões de recursos públicos federais em obras realizadas pelo governo do Estado, que passa por uma crise fiscal e, por isso, teve R$ 170 milhões bloqueadas pela União. São investigados também corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.

Também tiveram mandados de prisão expedidos Hudson Braga, ex-secretario de obras e braço direito do atual governador, Luiz Fernando Pezão, e Wilson Carlos, que coordenou a campanha de Cabral e é ex-secretário de Governo.

A mulher de Cabral, Adriana Ancelmo, foi alvo de condução coercitiva.

Segundo a Polícia Federal, foram identificados fortes indícios de cartelização de grandes obras executadas com recursos federais com pagamento de propinas a agentes estatais, entre eles, um ex-governador do Estado do Rio de Janeiro.

Rio de Janeiro enfrenta ressaca política e econômica

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - Tendo como origem a corrupção na Petrobras, a Operação Lava Jato finalmente chegou à "capital do petróleo", onde o auge do setor significou esperança de retomada econômica, e sua debacle, a expectativa de ruína.

A ascensão e queda do Rio tem uma intrincada relação entre o "boom" da indústria do petróleo e sua retração após a operação, e a aliança pragmática do peemedebista Sérgio Cabral e o petista Lula (PT), que escolheu o Rio como uma de suas vitrines na Presidência.

Os efeitos dessa combinação também possibilitaram o esquema de corrupção apontado pela Operação Calicute, ligada à Lava Jato.

A aliança entre Cabral e Lula viabilizou convênios para execução de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nas favelas do Rio e o Arco Metropolitano. Já o crescimento na arrecadação dos royalties da produção de petróleo conseguiu manter o pagamento de aposentados.

Dessa forma, o Estado pôde destinar recursos próprios para ampliação de serviços públicos que se tornaram símbolos eleitorais, como as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e UPPs (Unidade de Polícia Pacificadora). Contudo, essa expansão sempre foi criticada pela falta de planejamento.

'Taxa de oxigênio' foi cobrada em comitê de Pezão, dizem executivos

Italo Nogueira, Lucas Vettorazzo, Estelita hass Carazzai – Folha de S. Paulo

RIO, CURITIBA - Depoimentos de executivos da Carioca Engenharia apontam que a "taxa de oxigênio", como era chamada a propina no governo do Rio na gestão Cabral, foi alvo de cobrança dentro do comitê de campanha do governador Luiz Fernando Pezão.

A cobrança foi feita por José Orlando Rabelo, segundo o Ministério Público Federal, operador de Hudson Braga, à época coordenador de campanha do peemedebista ao governo do Estado em 2014. O MPF afirma que não há indícios de participação de Pezão.

"José Orlando em, pelo menos, duas oportunidades, uma delas na sala de Hudson Braga no Palácio Guanabara, e outra no diretório de campanha do PMDB em Jacarepaguá entrou com uma planilha em mãos dizendo o quanto a Carioca estava devendo de 'taxa de oxigênio", afirma Roberto José Teixeira Gonçalves, diretor-geral da Carioca Engenharia, em delação premiada.

Crise do PMDB do Rio torna futuro de Paes mais incerto

Marco Aurélio Canônico – Folha de S. Paulo

RIO - Prefeito do Rio por oito anos, no período mais glorioso da cidade em décadas, Eduardo Paes (PMDB) esperava deixar o cargo no auge, com uma Olimpíada bem-sucedida (o que conseguiu), obras de infraestrutura concluídas (o que fez parcialmente) e seu sucessor eleito (sua grande derrota até agora).

Em vez disso, vê que seu auge não foi tão alto e duradouro quanto sonhava.

A prisão de seu mentor e correligionário Sérgio Cabral, nesta quinta (17), foi mais um soco que lhe devolve à lona em que está desde o fim do primeiro turno, quando seu candidato foi derrotado.

Era evidente que a capital não escaparia ilesa à falência que o PMDB legou ao Estado após uma década no poder.

Por ora, Paes está razoavelmente ileso na Lava Jato. Dada a metástase no sistema político nacional, no entanto, parece difícil que não seja atingido de alguma forma.

CPIs na Alerj vão apurar isenções fiscais

• Às voltas com o pacote anticrise do governo Pezão, a Alerj sentiu os efeitos da prisão do ex-governador Cabral: a oposição conseguiu apoio até de governistas para abrir duas CPIs, uma sobre isenções de ICMS desde 2008 e outra sobre a obra do Maracanã

Duas CPIs a jato

• Após Cabral ser preso, deputados dão aval para investigar isenções de ICMS e obra do Maracanã

Carina Bacelar, Elenilce Bottari - O Globo

A prisão do ex-governador Sérgio Cabral teve efeito imediato na Assembleia Legislativa do Rio. Ontem, dois pedidos de CPI saíram da geladeira e conseguiram número suficiente de assinaturas para serem instaladas. A mais importante vai fazer uma varredura nas isenções de ICMS concedidas desde 2008, nos governos Cabral e Luiz Fernando Pezão. Outra vai apurar possíveis irregularidades nas obras de reforma do Maracanã. Os benefícios tributários são importante pano de fundo da crise financeira do estado. O Ministério Público entrou com uma ação para impedir novas isenções, alegando possíveis irregularidades nas concessões que atingiram, entre 2010 e 2015, R$ 150 bilhões. O governo estadual alega que foram R$ 38,7 bilhões. Já o Tribunal de Contas do Estado (TCE) dá outro número: R$ 138 bilhões.

CONSTRANGIMENTO NO PLENÁRIO
Para obter apoio para a CPI das isenções de ICMS, a bancada do PSOL precisou de pouco mais de uma hora, tempo em que reuniu 28 assinaturas. A instalação de uma comissão parlamentar de inquérito exige 24. O deputado Marcelo Freixo, um dos autores do pedido, disse que, desde 2011, vinha tentando investigar as isenções fiscais. A oposição também se beneficiou do efeito Cabral em outra frente. A deputada Zeidan, líder do PT, também conseguiu assinaturas para instalar uma CPI que investigará a obra do Maracanã, alvo da Operação Lava-Jato e que está no bojo do inquérito que levou ontem o ex-governador para a cadeia.

MP diz que maior parte de pacote contraria lei

• Segundo o procurador-geral de Justiça do estado, 17 dos 22 projetos são inconstitucionais

Carina Bacelar, Dayana Resende - O Globo

Em meio à dificuldade do estado para conseguir o apoio de deputados ao seu pacote de austeridade, o Palácio Guanabara ganhou outro motivo de preocupação. O procurador-geral de Justiça do Rio, Marfan Vieira, entregou ontem a Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), um dossiê contra as medidas propostas pelo governo: segundo ele, 17 dos 22 projetos apresentados são inconstitucionais. Além disso, o Ministério Público deu entrada na 14ª Vara de Fazenda Pública a uma ação na qual pede que a votação do ajuste fiscal seja aberta à população.

Marfan criou uma comissão especial de procuradores para avaliar a legalidade do pacote. Cópias do relatório sobre as conclusões do Ministério Público também foram entregues a vários deputados. Entre os projetos criticados está uma proposta que começou a ser discutida ontem na Alerj: o aumento da alíquota previdenciária de 11% para 14%. Segundo Marfan, o projeto é inconstitucional porque falta um estudo atuarial (que investiga problemas relacionados ao cálculo de seguros numa coletividade).

Por um Brasil parlamentarista - Roberto Freire

- Diário do Poder

Com a recente instalação de uma comissão especial na Câmara dos Deputados, a reforma política voltou à pauta do Congresso Nacional. Após o desfecho do grave impasse político enfrentado pelo país, com o processo democrático e constitucional do impeachment que levou ao fim do governo de Dilma Rousseff, este é um bom momento para que os parlamentares se debrucem sobre mudanças necessárias que tornem o sistema político-eleitoral brasileiro mais avançado e dinâmico. A principal delas é justamente aquela que permite a superação de crises agudas sem traumas institucionais: o parlamentarismo.

No ano passado, participei de algumas sessões e audiências públicas em uma outra comissão especial da Câmara que analisava propostas para a reforma política. Lamentavelmente, na ocasião, houve pouquíssimos avanços e quase nenhuma alteração substancial – apenas algumas modificações pontuais ou propostas descabidas que configuravam uma verdadeira “contrarreforma”.

Enlouquecer calmamente - *Fernando Gabeira

- O Estado de S. Paulo

• É duro substituir Dilma nos desastres verbais, mas Temer está fazendo todo o possível

No mundo que enlouquece rápido, o Brasil tem feito seu dever de casa. Nem tudo aqui parece fazer sentido. Sou, por exemplo, favorável ao avanço das investigações da Operação Lava Jato até que o tema seja esgotado. Sou também contra o abuso de autoridade, do guarda da esquina ao presidente da República. No Brasil esses temas parecem contraditórios. A sensação que nos passa é de uma tragédia, no sentido que Hegel deva a essa palavra: um inevitável choque do certo contra o certo, situações em que, independentemente da escolha, sempre cairemos num erro.

Estado acéfalo - Merval Pereira

- O Globo

A prisão do ex-governador Sérgio Cabral, chefe do grupo político do PMDB que governava o Estado do Rio e sua capital há quase uma década, é um golpe praticamente fatal na capacidade do governador Pezão de negociar um arrocho nas contas públicas do Rio. Sucessor de Cabral e sabidamente seu tutelado político, o governador não tem credibilidade para exigir sacrifícios para resolver questões econômicas geradas por irresponsabilidade fiscal e também por desmoralização de governos na mesma linha sucessória, perdulários e corruptos. Mesmo que por enquanto nada tenha sido denunciado contra Pezão, ele não pode se eximir de culpa tendo sido por quase oito anos o mais próximo aliado político de Cabral.

Pobre Rio, pobre Brasil - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

• Com a prisão de Garotinho e Cabral, políticos de Norte a Sul estão de barbas de molho

O Rio de Janeiro continua lindo, como na música de Gilberto Gil, mas as prisões dos ex-governadores Anthony Garotinho, num dia, e Sérgio Cabral, menos de 24 horas depois, escancaram um cenário horrendo em que se misturam corrupção, populismo, empreguismo, gastança e irresponsabilidade. Sem contar aquele terceiro personagem que nasceu no Rio e virou tudo o que virou no Estado: Eduardo Cunha.

Todas essas mazelas não são exclusividade do Rio, mas se somam aos erros da era Lula e ao desastre dos anos Dilma Rousseff e explicam cristalinamente o resultado das eleições municipais. Com o PMDB ladeira abaixo e o PSDB e o PT praticamente fora de combate no Estado, só podia dar no que deu: uma forte rejeição aos partidos “tradicionais”, com uma disputa entre o PRB de Marcelo Crivella e o PSOL de Marcelo Freixo.

Rio, 40 graus - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Agora, a Operação Calicute investiga a conexão entre o escândalo da Petrobras e a política do Rio de Janeiro

Com dois ex-governadores na cadeia, Anthony Garotinho (PR) e Sérgio Cabral Filho (PMDB), em menos de 48 horas, e um governador que ninguém sabe como terminará seu mandato, Luiz Fernando Pezão (PMDB), seja em decorrência da Operação Lava-Jato (ele também é investigado, mas tem foro privilegiado), seja em razão do colapso financeiro, o Rio de Janeiro chegou ao fundo do poço. É o fim melancólico de um projeto concebido para ser a sede do capitalismo de Estado no Brasil, no auge do sonho de Brasil potência do governo Geisel. E da tentativa de revivê-lo, durante os governos Lula e Dilma, para se contrapor e neutralizar o peso econômico e político de São Paulo.

Peça as contas, Pezão! - Ricardo Noblat

- O Globo

• Com a queda de Cabral, Pezão perderá o apoio que lhe restava para seguir no cargo

A prisão de Sérgio Cabral promoveu o governador Luiz Fernando Pezão à condição de Dilma do Rio de Janeiro.

O mensalão foi descoberto em meados de 2005, mas Dilma, a então ministra das Minas e Energia, não sabia de nada.

Tudo bem: se Lula não sabia e não reconhece até hoje a existência do mensalão, por que Dilma haveria de saber? Tampouco José Dirceu.

Como substituta de Dirceu na Casa Civil, Dilma foi “traída” por funcionários que montaram um dossiê sobre gastos com cartão corporativo do casal Fernando Henrique Cardoso. Ela pediu desculpas ao casal.

Justiça poética - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Enquanto as finanças do Rio de Janeiro vão se desmilinguindo e a Assembleia Legislativa local vira palco de confrontos campais, a Justiça determina a prisão preventiva dos ex-governadores Anthony Garotinho e Sérgio Cabral.

Não sei se o "timing" das operações policiais foi ajustado para coincidir com o agravamento da crise. Também não sei se as prisões preventivas, que em tese servem apenas para garantir o bom andamento do processo, não para punir criminosos, foram aplicadas segundo a melhor interpretação da lei. O que eu sei é que o encarceramento dos ex-mandatários, especialmente o de Cabral, oferece à população fluminense um pouquinho de justiça poética. Num momento em que autoridades propõem cortar até um terço dos salários e aposentadorias de servidores públicos, não deixa de ser reconfortante ver pelo menos um dos responsáveis pelo descalabro econômico sofrer um pouquinho.

Rio em chamas - Míriam Leitão

- O Globo

Dois ex-governadores presos num período de 24 horas. Um ex-governador que recebe duas ordens de prisão ao mesmo tempo: uma do Rio e outra de Curitiba. Tudo isso em um estado em penúria, cujos servidores estão cercando o Legislativo em protesto contra um pacote de ajuste. O Rio de Janeiro está vivendo fortes emoções nas últimas horas e há muito o que refletir sobre o momento do país e do estado.

A obra de demolição das finanças do Rio teve muitas mãos. O ex-governador Anthony Garotinho sempre usou as políticas públicas para construir uma rede de compra de votos. Foram muitos os flagrantes em que ele esteve envolvido. O ex-governador Sérgio Cabral aumentou as despesas públicas numa época de crescimento da receita, como se o bom tempo fosse durar para sempre. Os dois, inimigos na vida pública, cometeram erros administrativos que levaram o estado ao descontrole das suas contas.

Entorno de ex-governador é atingido - Cristian Klein

- Valor Econômico

Foi Cabral quem comandou o grupo que a Operação Lava-Jato tratou de colocar ontem atrás das grades. O ex-governador do Rio é a face mais conhecida, mas por trás dele, no entanto, estão grandes colaboradores como o ex-todo-poderoso secretário de Governo Wilson Carlos, o influente Hudson Braga, que se tornou secretário de Obras, como havia sido o atual governador na administração Sergio Cabral e por isso chamado de "Pezão do Pezão", e Carlos Miranda, sócio de Cabral na empresa SCF Comunicação e suspeito de ser o seu operador. O grupo é acusado de receber propina de obras públicas bilionárias realizadas no Estado nos últimos anos como o Arco Metropolitano, a reforma do Maracanã e o PAC Favelas, projeto de urbanização de comunidades como Rocinha e Complexo do Alemão.

Cabral chegou por acaso? - Fernando Gabeira

-O Globo

• Com todo respeio pelos atônitos, há muitos anos Cabral já deveria ter sido desmascarado

Com todo o respeito pelas pessoas que ficaram atônitas com a prisão de Sérgio Cabral, para muitos de nós, ela já estava demorando.

Os indícios de que Cabral enriquecia e os habitantes do estado ficavam mais pobres não datam de hoje, quando se tornaram escandalosamente visíveis. As imagens que se repetem hoje, dos homens usando guardanapos na cabeça após jantares luxuosos, ou das mulheres ostentando os sapatos Christian Louboutin, foram divulgados há alguns anos. As relações promíscuas com o empresário Fernando Cavendish também ficaram explícitas com um desastre de helicóptero na Bahia.

Prisão de Cabral na Lava Jato gera apreensão no Planalto – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

A prisão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) já era esperada pela cúpula da política brasiliense, mas mesmo assim gerou muita apreensão não só no PMDB como também em outros partidos governistas, deixando preocupado o Palácio do Planalto por causa do que pode vir pela frente e fragilizar a atual base aliada de Michel Temer.

A avaliação de assessores presidenciais é que a Operação Lava Jato entrou em uma nova fase com prisão de Cabral, que pode ser a primeira de outros ex-governadores e até de atuais chefes de executivos estaduais.

Nesta etapa, a equipe do presidente Temer avalia que o PT deixa de ser o principal alvo das investigações, que migram também para nomes ligados ao PMDB, PSDB, DEM e PSB, entre outros, podendo causar, a médio prazo, estrago politico nos maiores partidos da base de apoio do governo atual.

Cabral, o humorista que imita os políticos, deve estar fazendo chacota de si mesmo - Jorge Bastos Moreno

- O Globo

• É exagero falar que a prisão abala o PMDB que governa o país. Cabral nunca deu bola para o comando nacional do partido — que nunca deu bola para Cabral

O Planalto e o PMDB tentaram se distanciar de Sérgio Cabral, alegando que o ex-governador era mais próximo do ex-presidente Lula do que da cúpula do partido. A ex-presidente Dilma disse que Cabral “jamais foi aliado”, apesar de terem mantido acordo político. Os especialistas dizem que o rombo na Petrobras se deu mais pela má gestão do que pela corrupção em si, apesar da sua grandiosidade. No Rio de Sérgio Cabral, a gestão do primeiro mandato fez com que ele ganhasse a reeleição ainda no primeiro turno sem sair de casa. Mas seu governo foi uma versão moderna do adhemarismo: faz, mas rouba.

O PT e seu faz de conta – Editorial/O Estado de S. Paulo

O partido que veio para mudar a cara do Brasil não consegue mais se entender e os motivos pelos quais seu projeto de poder jogou o País no caos transparecem claramente nas divergências cada vez mais insanáveis em torno das quais se engalfinham os vários grupos que compõem a legenda. Enquanto o PT esteve no poder, bem ou mal havia uma razão para sustentar alguma coesão entre suas principais correntes. Mas, a partir do momento em que, refletindo a sentença implacável dos brasileiros – ao final contundentemente confirmada nas urnas municipais –, as instituições republicanas apearam o lulopetismo do pedestal em que pretendia se perpetuar, o PT não conseguiu mais se livrar do estigma que persegue a esquerda populista, de modo especial, nas democracias do chamado Terceiro Mundo: a incapacidade de articular suas várias tendências em torno de um objetivo político comum. É claro que essa conjectura depende de que se aceite o discutível princípio de que o lulopetismo, facção dominante do PT, constitui efetivamente um movimento político de esquerda.

Sinais de alerta – Editorial/Folha de S. Paulo

Seria rematada tolice, não resta dúvida, atribuir demasiada importância ao grupelho que invadiu o plenário da Câmara dos Deputados na quarta-feira (16).

Seria imprudência, porém, deixar de ver no ocorrido um sintoma de exasperação de setores sociais com a política tradicional, que aqui e ali eclode em atos de violência.

O Brasil se encontra a léguas de distância, decerto, da deterioração do convívio democrático presenciada em nações como a Venezuela, para citar um exemplo vizinho.

Ocorre que esse tipo de desagregação nunca se inicia de chofre. Mais comum é uma gestação lenta, cujos sinais surgem aos poucos.

Rio só tem a ganhar, se políticos entenderem a mensagem – Editorial/O Globo

• Prisões de Cabral e Garotinho mostram que o caso fluminense é especial, mas não é único. Abre chance para ampla renovação na política local, baseada na ética

O Rio é um caso especial, mas não é único. É o que sinalizam as prisões dos ex-governadores Anthony Garotinho e Sérgio Cabral, em menos de 24 horas, numa ação peculiar, sequencial e articulada de juízes no âmbito dos inquéritos sobre corrupção.

As investigações, inicialmente agrupadas na Operação Lava-Jato, agora avançam pelos governos federal, estaduais e municipais. Em cada estado, exuma um modelo arcaico de práticas políticas, exacerbado sob Lula e Dilma. Mais políticos devem ser atingidos.

As prisões dos ex-governadores representam um golpe profundo na política fluminense. No episódio anterior, em outubro, fora preso Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados. Ele, Garotinho e Cabral compartilham a origem e a trajetória no poder local, a partir de um mesmo núcleo político-partidário, hegemônico no estado desde os anos 90.

Equipe de transição indica rumos polêmicos de Trump -Editorial/Valor Econômico

Algumas das mais importantes escolhas políticas do presidente eleito Donald Trump já foram feitas e elas não prometem nem harmonia nem moderação no staff da Casa Branca. A nomeação dos encarregados para a escolha de quem ocupará cargos no governo revela prevalência de membros do segundo escalão do governo de George W. Bush e, especialmente para as agências reguladoras, defensores de interesses especiais que já trabalharam para indústrias que estarão sujeitas às normas concebidas pelos reguladores. O centro de gravidade pode mudar um pouco, para posições menos extremas, quando forem conhecidos os indicados para comandar o Tesouro, os conselheiros econômicos do presidente e os que vão lidar com o comércio exterior. Janet Yellen, presidente do Fed, disse ontem que pretende cumprir integralmente seu mandato, até janeiro de 2018.

Misticismo - Ascenso Ferreira

Na paisagem da rua calma,
tu vinhas vindo… vinhas vindo…,
e teu vestido era tão lindo
que parecia que tu vinhas envolvida na tu’alma…
Alma encantada;
ama lavada
e como que posta ao sol para corar…
E que mãos misteriosas terão feito o teu vestido,
que até parece o de Maria Borralheira,
quando foi se casas…!
─ Certamente foi tecido
pelas mãos de uma estrela fiandeira,
com fios de luz, no tear do luar…
no tear do luar…
O teu vestido era tão que parece o de Maria Borralheira
quando foi se casar…
─ “Cor do mar com todos os peixinhos…!
─ Cor do céu com todas as estrelas…!
E vinhas vindo… vinhas vindo…
na paisagem da rua calma,
e o teu vestido era tão lindo
que parece que tu vinhas envolvida na tu’alma…

Alceu Valença - "Voltei Recife" (Luiz Bandeira)