quarta-feira, 1 de maio de 2019

Cida Damasco: Mais desemprego, novos “bicos” e menos esperança

- O Estado de S. Paulo

Se depender do fortalecimento do mercado de trabalho, não há grande esperança de reanimação do consumo a curto prazo. E, na mão inversa, se depender da reanimação do consumo e, em consequência, da atividade econômica, também não há grande esperança de fortalecimento do mercado de trabalho.

Os números divulgados pelo IBGE nesta terça-feira mostram um quadro preocupante, expresso nessa espécie de ciclo vicioso. O Brasil fechou o primeiro trimestre com 13,4 milhões de pessoas desocupadas, o que corresponde a 12.7% da força de trabalho, 1,1 ponto ponto porcentual acima da taxa registrada no quarto trimestre de 2018.

Dentro do conceito de mão-de-obra subutilizada, que inclui quem trabalha menos do que poderia ou gostaria e também quem não está à procura de emprego, por desalento, esse contingente mais do que dobra — chegando a 28,3 milhões de pessoas. Praticamente empatado com a soma dos habitantes das cinco capitais mais populosas do País. Mais: nenhum setor apresentou um saldo positivo de contratações, nesse período.

Diante dessa dura realidade, é perfeitamente compreensível que o temor do desemprego volte a aumentar, como mostra o índice calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) — depois de recuo observado no fim do ano passado, acompanhando as expectativas otimistas manifestadas com a troca de governo, que, se imaginava, traria pelo menos uma redução de incertezas.

Fábio Alves: Apostas às cegas

- O Estado de S.Paulo

Ainda faltam informações para afinar as previsões sobre a reforma da Previdência

Por mais que analistas e investidores esmiúcem os detalhes técnicos da proposta de reforma da Previdência, as estimativas em relação ao prazo de aprovação desse projeto no Congresso e, principalmente, à economia fiscal em dez anos com as mudanças na aposentadoria e em outros benefícios previdenciários não passam hoje de mero exercício especulativo.

A reforma da Previdência acabou de entrar num estágio bastante crítico: o da tramitação na Comissão Especial da Câmara, quando os parlamentares podem fazer modificações no texto, podendo diluir em menor ou maior magnitude a economia fiscal em dez anos gerada com as novas regras.

Desde que o governo Jair Bolsonaro apresentou o seu projeto de reforma da Previdência, o mercado financeiro vem oscilando ao humor das estimativas para o prazo de aprovação no Congresso e para a economia fiscal em dez anos com as mudanças propostas. Basicamente, essas oscilações refletem a temperatura política em Brasília, ou melhor, o sentimento sobre a articulação do governo com as lideranças partidárias.

Somente na semana passada o Ministério da Economia divulgou mais detalhes sobre os números e os parâmetros que embasaram os cálculos dos diversos itens da proposta, chegando a uma nova estimativa de economia de R$ 1,236 trilhão entre 2020 e 2029.

Mesmo assim, faltam a analistas e investidores informações cruciais para afinar os seus cálculos sobre a reforma da Previdência. Ninguém no mercado financeiro tem acesso a dados como o número completo de contribuintes do INSS na ativa e suas respectivas idades e rendimentos.

Não à toa que com estimativas no mercado financeiro para a economia fiscal em dez anos da reforma da Previdência variando entre R$ 500 bilhões e R$ 900 bilhões, ou seja, com uma disparidade nos cálculos de nada menos que R$ 400 bilhões, alguém vai acertar a projeção quando o texto final for aprovado no Congresso.

Bruno Boghossian: Governando com puxa sacos

- Folha de S. Paulo

Auxiliares escancaram ideias bizarras para agradar e enterram critérios técnicos

Nenhum governante quer ter uma equipe que trabalha na contramão das diretrizes estabelecidas por sua gestão. Se um ministro não quiser seguir a linha determinada pelo presidente, por exemplo, pode tentar convencer o chefe a mudar de rumo ou, então, voltar para casa.

Jair Bolsonaro deixou essa orientação clara para seus subordinados. Depois de demitir um diretor do Banco do Brasil por causa de uma propaganda que tinha atores negros, ele passou o recado: “Quem indica e nomeou o presidente do banco? Sou eu? Não preciso falar mais nada”.

O presidente quer assessores afinados com suas visões. É normal que ele busque se livrar de dissidentes, mas o objetivo final é outro. Bolsonaro se move para eliminar focos de moderação e limpar terrenopara suas ideias mais radicais.

Na prática, o governo estimula a formação de um time de puxa-sacos. Nesse programa de incentivo à bajulação, pouco importam critérios técnicos ou avaliações sobre os projetos de um ministério. O importante é dizer “sim” para o chefe.

Ricardo Rangel*: Um governo do contra

- O Globo

Na semana passada, a reforma da Previdência foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Ainda que sem brilho (a proposta demorou oito semanas para passar, enquanto ade Temer passou em apena suma), foi uma vitória importante, mas ofuscada pela série de brigas em que o governo se meteu.

Ao publicar um vídeo em que Olavo de Carvalho diz, entre outros impropérios, que “os milicos só fizeram cagada”, Bolsonaro comprou briga com os militares. O vídeo foi apagado, e o presidente soltou nota afirmando que as declarações do guru “não contribuem para a unicidade de esforços e consequente atingimento dos objetivos” do governo, mas o assunto não está superado.

No mesmo dia em que o governo mostrou com unicidades e atingimentos como é culto, o ministro Osmar Terra anunciou um corte de 98% note topara projetos culturais. Não explicou qual seu objetivo nem como a medida contribuirá para seu “atingimento”. Comprou briga com artistas e com agente de cultura.

Na quarta-feira, soube-se que quem publicou o tal vídeo do guru foi Carlos Bolsonaro, e que isso redundou em uma briga com o pai. Magoado, Carluxo parou de atender os telefonemas do presidente e sequestrou sua senha, impedindo-o de soltar tuítes. Jair Bolsonaro chegou a cancelar um café da manhã com a imprensa, mas voltou atrás.

No encontro, Bolsonaro afirmou que “o Brasil não pode ser um país de turismo gay: temos famílias” (é preciso avisar ao presidente que gays também têm famílias). Concluiu dizendo que estamos de braços abertos para o turismo sexual (desde que heterossexual). Comprou briga com a comunidade LGBT, suas famílias e todos os brasileiros razoáveis.

No mesmo encontro, o presidente afirmou que se a reforma da Previdência ficar abaixo de R $800 bilhões ,“o Brasil ficará em situação parecida com a da Argentina ”. Ao dar a senha para que os deputados sangrem a reforma—o de legado Waldir, líder do partido do presidente, já disse que vai apoiar três (!) emendas que desidratam a proposta—comprou briga coma equipe econômica.

Em seguida, descobriu-se que Bolsonaro vetou um comercial do Banco do Brasil e mandou demitir seu diretor de marketing: a presença de negros, pessoas tatuadas e uma transexual ofendeu o presidente, que decidiu que a publicidade das estatais agora deve ser controlada pela Secom. Comprou briga com Deus e o mundo.

Merval Pereira: A importância política do Censo

- O Globo

No mundo moderno, é possível dizer que o censo é o termômetro de uma gestão democrática. É a partir dele é que políticas públicas podem ser planejadas

Foi aprovado ontem o processo de contratação dos temporários para o Censo, tendo sido o ato publicado no Diário Oficial da União. Espera-se que um outro, referente aos recenseadores, seja publicado até sexta.

O perigo de não realizar o Censo ano que vem parece estar superado, o que nos colocaria em situação similar à Etiópia, que não fez o censo, mas está em guerra civil há duas décadas. Esse é o tipo de país que não consegue fazer um censo. Foi o nosso caso em 1990, no governo Collor, cuja desorganização acabou transferindo o censo, que se realiza de dez em dez anos, para o ano seguinte.

Não é à toa que se considera que a realização de um censo mostra a capacidade de gestão de uma sociedade. No mundo moderno, é possível dizer que o censo é o termômetro de uma gestão democrática, pois uma das suas funções básicas é medir a densidade populacional de um país e seu perfil econômico e social. A partir dele é que as políticas públicas podem ser planejadas.

Sendo o próximo ano de eleições municipais, não ter um censo, que alimenta diretamente o Fundo de Participação dos Estados e Municípios, provocaria mais crise nas políticas governamentais. Estimar esse denominador corretamente é o alicerce de todas as políticas públicas (FPE e FPM), e também serve para calcular a amostra de todas as pesquisas importantes, como a Pesquisa Nacional por Domicílios (PNAD).

Eliane Cantanhêde: Juan Guaidó foi o grande derrotado na Venezuela

- O Estado de S.Paulo

O autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, blefou e perdeu feio. Assim como Jânio Quadros imaginou ser carregado nos braços do povo em São Paulo, após a renúncia, em 1961, Guaidó pensou que bastaria convocar novas manifestações para o dia 1.º de Maio e puxaria uma deserção em massa nas Forças Armadas. Jânio ficou sozinho.

Guaidó demonstrou fraqueza. Assim, a crise na Venezuela vive seu pior momento, mas uma solução parece cada vez mais distante. “Vai demorar”, lamentou ontem à noite o vice-presidente brasileiro, Hamilton Mourão, que acompanha de perto as idas e vindas venezuelanas e analisou que Guaidó “foi para o tudo ou nada”. Só restam duas alternativas: ou Maduro sai, ou os opositores são presos.

O chanceler Ernesto Araujo conversou, em Washington, justamente na segunda-feira, com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeu, e com o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, e um dos temas foi a Venezuela. Todos sabiam que Guaidó convocaria manifestações de rua, mas o governo brasileiro jura que não sabia que o opositor se aquartelaria de véspera numa base militar, esperando um apoio das Forças Armadas que não veio.

Na avaliação de oficiais brasileiros, há um forte motivo para os militares manterem o apoio ao presidente oficial, Nicolás Maduro: eles são cúmplices, que vêm comprando as Forças Armadas ao longo dos anos, até mesmo dando mais de mil patentes de general para eles. Logo, não acreditam nas promessas de anistia, que seriam demolidas em questão de meses.

Vera Magalhães: Arroubos x cautela

- O Estado de S.Paulo

Reações do presidente Jair Bolsonaro contrastam com o tom da ala militar do governo sobre a crise na Venezuela

Diante da exortação de Juan Guaidó a que as pessoas fossem às ruas para depor o ditador Nicolás Maduro na Venezuela, seguiram-se dois tipos de reação de autoridades brasileiras. Jair e Eduardo Bolsonaro desde cedo usaram as redes sociais para manifestar a torcida pela transição democrática no país e associar, em seguidos posts, a ditadura chavista ao PT de Lula e Dilma Rousseff.

Já a ala militar adotou tom mais cauteloso. Desde cedo, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, evitava exagerar no entusiasmo diante da exortação de Guaidó e sua afirmação de que as Forças Armadas, agora, estariam com a oposição a Maduro. Disse que essa avaliação dependeria da “qualidade” e da “quantidade” desse apoio entre os militares do país vizinho.

Ambas as reações demonstram que o Brasil recebeu algum tipo de informação prévia de que o grupo de Guaidó tentaria nova ofensiva. Mas o pé atrás de Heleno mostra que também falta “qualidade” a esses informes, dada a interdição de canais entre o governo brasileiro e o regime de Maduro.

Por isso, é acertada a posição reiterada por Heleno e pelo vice-presidente Hamilton Mourão: descartar qualquer possibilidade de intervenção militar brasileira no vizinho.

Mas ela parece ter irritado o presidente, que à noite foi de novo ao Twitter dizer que qualquer decisão seria tomada EXCLUSIVAMENTE por ele, ouvido o Conselho de Defesa. Arroubo despropositado. Levou uma invertida do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que precisou lembrá-lo de que qualquer decisão dessa natureza depende de aval do Congresso.

Míriam Leitão: Venezuela encurralada

- O Globo

Guaidó fez uma aposta arriscada e perdeu, mas é questão de tempo para que chegue ao fim o poder do ditador venezuelano

O fracasso do movimento de ontem de Juan Guaidó não muda o fato de que o governo Nicolás Maduro está no fim. Não há poder que sobreviva a uma hiperinflação de dez milhões por cento e um PIB em queda livre há cinco anos. É uma questão de tempo. Maduro tem permanecido, apesar de ter demolido a economia, porque entregou o governo aos militares e montou uma máquina de guerra com as Forças Armadas, a Guarda Nacional Bolivariana, as milícias e os coletivos. Contudo, não há saída fácil para a Venezuela.

Os líderes militares brasileiros acompanharam com atenção cada evento no país vizinho ontem, mas desde cedo se convenceram de que o silêncio da cúpula militar e as informações contraditórias não confirmavam a garantia que Guaidó dera de que as Forças Armadas tinham mudado de lado. O líder da oposição fez uma aposta alta e perdeu. No fim do dia, já se ouvia em fontes diplomáticas que ele poderia ser preso. Por contraditório que pareça, a fraqueza de Guaidó não revela força de Maduro.

O ditador venezuelano demorou a dominar os acontecimentos, teve que esperar horas pela declaração do seu próprio ministro da Defesa, Vladimir Padrino López. Teve que dar mais uma volta no ferrolho das comunicações, tirando do ar os últimos canais não oficiais. Teve que reprimir manifestantes com o absurdo de um atropelamento por blindado.

A Operação Acolhida, do governo brasileiro em Roraima, tinha sido reforçada há dois dias com o envio de 500 soldados da Força Nacional para a fronteira. Os 25 militares que pediram asilo à embaixada tiveram imediatamente seu pedido aceito. A chegada deles foi um sinal de que Guaidó estava perdendo a capacidade de continuar o jogo. Do contrário, os militares não pediriam abrigo no Brasil. Venezuelanos vêm para o Brasil às centenas, a cada ano, jogando sobre o estado de Roraima um peso que ele não pode carregar sozinho.

Hélio Schwartsman: Golpe ou revolução?

- Folha de S. Paulo

O caso da Venezuela é suficientemente ambíguo

Enquanto a situação na Venezuela não se define, e torcendo para que o embate não degenere em guerra civil, podemos nos perguntar se o movimento deflagrado por Juan Guaidó deve ser classificado como tentativa de golpe ou como revolução para pôr fim a uma usurpação. A imprensa mundial se dividiu sobre a designação, e não apenas segundo as linhas ideológicas esperadas.

A definição menos polêmica de golpe, como ruptura institucional, em geral pela força, funciona bem até a página 1. Quando temos um governo legítimo que tem seu funcionamento suspenso de forma não prevista em lei, estamos inegavelmente diante de um golpe. É o caso da deposição de João Goulart em 1964.

É raro, porém, que o mundo nos presenteie com situações tão claras. Ora, nem todo governo é legítimo, mas todo governo impõe uma ordem jurídica passível de violação. Se nos centrarmos no critério formal, teríamos de considerar golpista, por exemplo, a resistência francesa ao nazismo, que, ao fim e ao cabo, agia contra a lei vigente com o objetivo de depor o regime.

O caso da Venezuela é suficientemente ambíguo, pois, embora os partidários de Guaidó tenham buscado uma ruptura, dá para afirmar que o governo de Nicolás Maduro tornara-se ilegítimo seja quando se utilizou de uma artimanha não prevista em lei para esvaziar os poderes da Assembleia Nacional em 2017 ou, de modo mais polêmico, quando fraudou o pleito que o reelegeu em 2018. Se aceitamos isso, faz sentido enquadrar Guaidó não como golpista, mas como resistente.

Vinicius Torres Freire: Para entender a miséria da Venezuela

- Folha de S. Paulo

Preço do ovo, salário e petróleo contam um pouco da vida impossível no vizinho

A vida cotidiana parece impossível na Venezuela. Parece inviável até quando a gente compara a dureza dos vizinhos à situação terrível das famílias muito pobres no Brasil, que recebem em média R$ 186 por mês do Bolsa Família e pagam R$ 2,50 pelo quilo do arroz mais barato. Pode ser pior.

Uma dúzia de ovos em Caracas sai por 6.400 bolívares. Um quilo de arroz, por 8.000 bolívares. O salário mínimo, mais o bônus alimentação, é de 65 mil bolívares, US$ 12,50, pelo câmbio oficial. Um frango custa uns 25 mil bolívares. Uma banana (uma unidade), 1.200 bolívares. Mais da metade dos trabalhadores do setor formal ganha um salário mínimo, mas as estatísticas são precárias.

É difícil entender a economia de um país em que a inflação em março era de 1.623.656% ao ano. Baixou um pouco. Havia chegado a 2.688.670%, em janeiro.

No auge do horror, a inflação brasileira foi a 6.821% ao ano, em 1990. Diferença de milhares para milhões, favor prestar atenção.

A inflação é calculada pela Assembleia Nacional, pois faz muitos anos ninguém acredita nas mentiras do governo (quando os números existem). É preciso recorrer a estimativas privadas ou a instituições internacionais para saber algo tão básico quanto o valor da produção nacional, o PIB.

Os números da ONU (Cepal) e do FMI divergem um pouco, mas desde 2013 a economia encolheu pelo menos 45%. O PIB do Brasil, que vive uma depressão, diminuiu 4,2% no mesmo período. Nos chutes para este ano, a recessão venezuelana deve ser de 10% a 25%.

Monica De Bolle*: Volver

- O Estado de S.Paulo

Talvez seja possível, como mostra a eleição espanhola, reconstruir o centro político e eliminar a radicalização

Os temas são sombrios, mas as cores vibram. As mulheres são excêntricas e absolutamente normais na excentricidade. A volta da matriarca que já havia morrido é nada mais do que fato corriqueiro na vida bruta daquelas mulheres. Ao acompanhar os resultados das eleições na Espanha, me veio à cabeça o filme de Pedro Almodóvar. Enquanto o xará Pedro Sánchez liderava seu partido para a vitória, pensava em Volver. Talvez a associação tenha vindo da presença feminina – 65% do ministério de Sánchez fora formado por mulheres após as eleições que removeram Mariano Rajoy do cargo de primeiro-ministro em 2018, o que repercutiu mundo afora na ocasião. No entanto, é mais provável que a associação tenha vindo do título do filme: Pedro Sánchez voltou fortalecido após a rejeição de sua proposta orçamentária que resultou nessas últimas eleições.

A vitória do PSOE de Sánchez e o enfraquecimento do Partido Popular (PP) de Mariano Rajoy, além da ascensão do partido de extrema-direita VOX, ainda serão esmiuçadas à exaustão por cientistas políticos e analistas diversos. Evidentemente, as eleições da Espanha têm marcas profundamente espanholas – os movimentos separatistas da Catalunha, o referendo inconstitucional sobre a independência da região, e tantos outros temas mais tiveram peso sobre o resultado. Contudo, é possível identificar traços mais gerais com implicações interessantes para a política e para a política econômica em tempos de extremismos. No caso da política, a ameaça do radicalismo neofascista do VOX pode ter sido bastante importante para mobilizar os impressionantes 76% de eleitores que compareceram às urnas no último domingo.

Mas tão interessante quanto refletir sobre como a Espanha pode ajudar o centro político a volver é pensar sobre quais as políticas econômicas que podem frear a sanha nacionalista ultraconservadora. Durante o curto governo iniciado em maio do ano passado, o PSOE conseguiu promover alguns avanços importantes no combate às desigualdades – tanto de renda, como de gênero – priorizando o aumento do salário mínimo, do investimento público, e a adoção de medidas para diminuir as disparidades entre homens e mulheres – sem comprometer a sustentabilidade das contas públicas no médio prazo. Não custa lembrar que a população espanhola já estava farta da austeridade, do desemprego elevado, da estagnação da qualidade de vida, da sensação de injustiça social provocada tanto pela crise econômica, quanto pelas revelações de corrupção no PP, tradicional partido de centro-direita. 

Luiz Carlos Azedo: “Guerra fria” na nossa fronteira

- Nas entrelinhas / Correio Braziliense

“Com apoio da China, Putin tem se colocado como aliado incondicional de Maduro no Conselho de Segurança da ONU e desloca a fronteira de sua disputa com os Estados Unidos para a Venezuela”

A Venezuela está à beira de guerra civil, o que não é nada bom para o Brasil. Os últimos acontecimentos mostram que a “dualidade de poderes” que o país vive — desde que o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se proclamou presidente interino, com apoio dos Estados Unidos, do Brasil e dos principais países do Ocidente — está próxima de um desfecho. Em circunstâncias normais, o presidente Nicolás Maduro já teria caído, mas ele tem o apoio da cúpula das Forças Armadas de seu país, além de Cuba, da Rússia e da China. Os acontecimentos de ontem, quando a Guarda Nacional Venezuelana reprimiu violentamente os manifestantes, mostram que a situação é cada vez mais crítica.

Quem quiser ter uma ideia da tragédia que é uma guerra civil pode assistir, na Netflix, a uma série russa intitulada O Caminho dos Tormentos, dirigida por Konstantin Khudyakov, lançada em novembro de 2017, quando a Revolução Russa completou 100 anos. É inspirada na trilogia que lhe empresta o nome, de autoria de Alexei Tolstoy (não confundir com Leon Tolstoy, o gigante de Guerra e Paz e Anna Karenina). O romance narra a própria experiência do autor, um aristocrata russo que transitou de um lado a outro da guerra civil. A realização da série pela RWS (Russian World Studios), grande produtora privada de cinema e televisão, teve apoio financeiro do Ministério da Cultura da Rússia.

A série faz parte do esforço do presidente Vladimir Putin no sentido de resgatar a história e o espírito da Grande Rússia, mostrando os sacrifícios pelos quais o povo passou durante a guerra civil. Os fatos históricos que contextualizam o drama de duas irmãs que pertenciam à aristocracia russa durante o conflito são rigorosamente verdadeiros. Se Putin não deseja uma guerra civil em seu próprio território, está sempre metido em outros conflitos nos quais os interesses geopolíticos da Rússia podem ser ameaçados pelos Estados Unidos. Nesse grande jogo, seu poder de intervenção está suficientemente demonstrado na divisão da Ucrânia, com a independência da região carbonífera de Dombass, e na Síria, onde manteve no poder o ditador Bashar Hafaez al-Assad, que governa o país desde 2000 (a Rússia mantém uma grande base naval na Síria, para abrigar sua frota do Mediterrâneo).

Dissidência militar
A novidade é a presença russa na Venezuela, que troca petróleo por armamento e assistência técnica e militar. A presença numerosa de médicos e técnicos cubanos na Venezuela não tem a mesma importância. Com apoio da China, Putin tem se colocado como aliado incondicional de Maduro no Conselho de Segurança da ONU e parece interessado em deslocar a fronteira de sua disputa com os Estados Unidos para a Venezuela, numa espécie de nova “guerra fria”. Ontem, fez mais uma advertência de que a Rússia condena uma intervenção militar dos Estados Unidos no país vizinho.

Hubert Alquéres*: A Blitzkrieg dos ideológicos

- Blog do Noblat / Veja

Bolsonarismo
Os tanques da ala ideológica do governo Bolsonaro avançam em todas as áreas a uma velocidade que faria inveja às divisões panzer do general Heinz Guderian. O movimento de pinça é comandado diretamente pelo presidente ou por seus filhos interpostos. Essa ofensiva adquiriu ares de grande operação, nos últimos dias, tendo como objetivo tático o cerco e aniquilamento do general Carlos Alberto dos Santos Cruz, Ministro da Secretaria de Governo, e como objetivo estratégico assegurar o caráter permanente da “revolução conservadora”, como defende o guru Olavo de Carvalho.

Vamos aos fatos.

Na Educação, o novo ministro Abraham Weintraub confirma que entrou no teatro de operações para retirar do papel a agenda ideológica, coisa que Ricardo Vélez foi incapaz de fazer. Weintraub ameaça cortar verbas de “universidade que promover balbúrdia”. Por balbúrdia entenda-se “manifestações políticas e festas inadequadas”. No primeiro momento três universidades federais (UNB, UFF e UFBA) sofreram contingenciamento de 30% em suas verbas, sem que o ministro tenha especificado o motivo. Poucas horas após a decisão, expandiu a medida para todas as universidades federais, ainda sem motivo concreto.

O filtro ideológico pôs na alça de mira os cursos de filosofia e sociologia, que receberão menos verbas. Ele nos faz lembrar de desatinos cometidos na História como os que levaram a se queimar -em praça pública- livros de filosofia, história, sociologia, literatura.

No meio ambiente, o presidente em vez de mediar conflitos entre o pessoal do agronegócio e o da sustentabilidade, tomou um lado. Mandou fazer uma limpa no Ibama e no Instituto Chico Mendes, elegendo os agentes de fiscalização como inimigos da pátria. Em uma feira do agronegócio anunciou que encaminhará um Projeto de Lei que dará direito de atirar a quem tiver sua terra invadida. É uma clara violação da Constituição, pois o excludente de ilicitude se aplica em defesa da vida. Jamais em defesa da propriedade.

Novos protestos mostram ditadura mais debilitada: Editorial / O Globo

Indefinição na Venezuela reforça saída de Maduro como única opção para evitar mais violência

A ofensiva da oposição Venezuelana abriu novo ciclo na crise institucional em que submerge a ditadura de Nicolás Maduro. Nenhum líder oposicionista pode assegurar que essa etapa da rebelião seja a “fase final”, como qualificam. O conflito na Venezuela é um jogo de paciência política, exaustivo e de altíssimo custo socioeconômico.

O ditador Maduro, também, não consegue demonstrar que ainda controla o país. Ou mesmo que seus apelos às Forças Armadas por “total lealdade” estejam ecoando para além dos gabinetes refrigerados da Defesa e do Serviço de Inteligência.

As cenas de caos nas ruas da capital e das maiores cidades da Venezuela, ontem, sugerem precisamente o oposto: uma ditadura se esvaindo, com perda de capacidade de mobilização militar em defesa do regime.

Forças policiais, como a Guarda Nacional, retomaram os choques violentos, com deserções episódicas para o lado oposicionista. As tropas militares permaneceram inertes, silenciosas e aquarteladas.

Sem reforma, sobra o atoleiro: Editorial / O Estado de S. Paulo

Com dinheiro curto, orçamento engessado, investimentos comprimidos e gastos sem freio na Previdência, o setor governo continua preso no atoleiro das contas públicas, com déficit total de R$ 81,14 bilhões no primeiro trimestre, soma equivalente a 4,64% do Produto Interno Bruto (PIB). Com o rombo previdenciário funcionando como um buraco negro, têm sobrado cada vez menos verbas para investimentos em obras e até para a operação da máquina pública no dia a dia. O saldo negativo total inclui os juros vencidos.

Sem perspectiva de resultados melhores nos próximos meses, a equipe econômica do governo central batalha agora para fechar o ano com um déficit primário (sem juros) de R$ 139 bilhões. Essa é meta original definida no Orçamento, mas o pessoal do Ministério da Economia chegou a mencionar, em alguns momentos, a esperança de um resultado melhor, talvez próximo do obtido no ano passado, quando o déficit das contas primárias foi contido em R$ 120,2 bilhões, bem abaixo da meta de R$ 159 bilhões.

Enquanto a economia derrapa e a arrecadação fraqueja, o governo central arranja-se como pode, com R$ 30 bilhões de gastos congelados e cortes nas chamadas despesas discricionárias. Mas esse nome é enganoso, porque o grupo das discricionárias inclui despesas essenciais, como o pagamento de bolsas de estudo, as subvenções ao programa Minha Casa, Minha Vida e investimentos em educação e saúde.

O maior desajuste é o do governo central, formado por Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central (BC). O governo central teve déficit primário de R$ 20,40 bilhões em março, de R$ 5,40 bilhões no primeiro trimestre e de R$ 113,576 bilhões em 12 meses. O saldo contabilizado no trimestre inicial de 2019 foi atenuado por um superávit em janeiro.

Laranja ostentação: Editorial / Folha de S. Paulo

PF vê indícios concretos de fraude em candidaturas femininas do PSL, mas Bolsonaro mantém ministro

Pode-se apontar na Polícia Federal alguma falta de sentido de urgência, mas não de senso de humor. Dois meses após abrir inquérito sobre o escândalo das candidatas laranjas do PSL revelado por esta Folha em fevereiro, a PF fez na segunda-feira (29) a primeira operação de busca e apreensão e batizou-a como Sufrágio Ostentação.

Não que caiba fazer troça com a investigação, da maior seriedade. O PSL, cumpre assinalar, é o partido pelo qual se elegeu o presidente da República, Jair Bolsonaro.

Ademais, no centro da fraude eleitoral encontra-se ninguém menos que seu ministro de Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, então presidente da sigla em Minas Gerais.

O engodo constitui um exemplo acabado dos efeitos imprevistos das boas intenções, no caso a imposição de cota de 30% do fundo partidário para campanhas de candidatas, a fim de promover maior participação feminina na política.

Legítima defesa: Editorial / O Estado de S. Paulo

Diante de uma plateia formada por produtores rurais na abertura da Agrishow, feira anual do agronegócio, em Ribeirão Preto, o presidente Jair Bolsonaro abordou de forma simplória o problema da violência no campo. O tratamento raso e irrefletido de questões que só assumem grau inusitado de importância na construção intelectual que o presidente faz do País conduz apenas a pretensas soluções de falsos problemas.

É o caso do projeto que Bolsonaro pretende enviar ao Congresso prevendo a isenção de punição para o proprietário rural que repelir à força uma eventual invasão de sua propriedade, incluindo o ato no rol dos excludentes de ilicitude. “O projeto vai dar o que falar. Mas é uma maneira que nós temos de ajudar a combater a violência no campo. É fazer com que, ao defender a sua propriedade privada ou a sua vida, o cidadão de bem entre (sic) na excludente de ilicitude, ou seja, ele responde (por eventual crime cometido), mas não tem punição.” Para Bolsonaro, “a propriedade privada é sagrada e ponto final”.

A proposta revela não só a feição populista do governo de turno, como também a ignorância do presidente da República – acidental ou deliberada – da legislação penal vigente. O Código Penal já define que não há crime quando se age em “estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito”, como se pode ler no artigo 23 do referido diploma legal. Isto vale para o campo e para a cidade, para a proteção de direito próprio ou alheio em uma fazenda situada no interior do País ou em uma rua do centro da cidade de São Paulo. O que pretende, então, o chefe do Executivo ao propor um projeto de lei que reitera matéria penal já suficientemente definida e pacificada?

Emprego em crise: Falta vaga para um em cada 4 trabalhadores brasileiros, diz IBGE

Falta vaga para um em cada quatro trabalhadores. Já são 28,3 milhões no país

Daiane Costa e Pedro Capetti / O Globo


RIO E BRASÍLIA - Falta emprego para um em cada quatro trabalhadores no Brasil, informou o IBGE ontem. Segundo dados da Pnad Contínua, há 28,3 milhões de brasileiros nessa situação, o maior patamar já registrado na pesquisa. São desempregados, pessoas que desistiram de procurar diante da dificuldade de encontrar uma vaga, trabalhadores que fazem uma jornada semanal inferior a 40 horas e gostariam de ter uma carga horária maior, e pessoas que procuraram trabalho, mas não estavam disponíveis para começar por razões diversas, como não ter com quem deixar o filho.

No primeiro trimestre deste ano, nenhum setor da economia contratou. A falta de disposição do empresariado para abrir vagas elevou o número de desempregados para 13,4 milhões — patamar semelhante ao deu mano antes—e fez a taxa dedes empregos ubira 12,7%.

Segundo Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, o grupo de 28,3 milhões dos chamados subutilizados alcançou este patamar em razão do número de desempregados e do aumento dos desalentados, que chegaram a 4,8 milhões.

ESPERA PELA PREVIDÊNCIA
Os três primeiros meses do ano historicamente têm taxas de desemprego mais elevadas, devido à dispensa de trabalhadores temporários, do comércio e do serviço público. Mas, quando 2019 começou, as expectativas eram de melhora da atividade econômica e, consequentemente, de geração de vagas. Como o setor produtivo e os agentes do mercado condicionaram essa expansão da atividade à aprovação da reformada Previdência, e a tramitação da proposta na Câmara está levando mais tempo do que o esperado, a confiança do empresariado foi abalada. As empresas não só continuam congelando vagas como voltaram a demitir. E, agora, seguem em compasso de espera.

— Como a aprovação da reforma deve ficar para o segundo semestre, e não se sabe que texto vai passar, os investimentos serão postergados. Com isso, melhora no mercado de trabalho, só em 2020 — afirma Maria Andréia Parente Lameira, economista do Ipea.

Ontem, a fila que se formou na feira de empregos organizada pela ONG Gerando Vidas, no Maracanã, Zona Norte do Rio, dava uma dimensão do problema. Ela começou na tarde do dia anterior.

Elizete Aguiar Vieira, de 56 anos, e o filho Bruno Aguiar Vieira, de 35, foram tentar uma das 970 vagas oferecidas. Há três anos sem emprego, ela buscava um emprego como camareira. Ele, há nove meses na mesma situação, queria oportunidade na área de serviços. Um cenário que poderia ser pior, não fosse a renda mensal de R$ 3 mil do marido.

Morre a sambista Beth Carvalho aos 72 anos

Beth Carvalho estava internada no Rio de Janeiro e morreu nesta terça-feira, 30

Adriana Del Ré / O Estado de S. Paulo

Beth Carvalho, de 72 anos, morreu às 17h33 desta terça-feira, 30, no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo (zona sul do Rio), onde estava internada desde 8 de janeiro. A artista foi vítima de infecção generalizada (sepse, também conhecida como septicemia), segundo nota divulgada depois das 19h pela unidade de saúde.

O velório da cantora será realizado na sede do clube Botafogo, no bairro homônimo da zona sul do Rio, a partir das 10h de quarta-feira, 1.º. A cantora era torcedora do clube e chegou a gravar músicas de apoio ao time.

O velório deve se estender até as 16h e em seguida, segundo informações ainda não confirmadas à reportagem pela família, o corpo será conduzido para cremação na zona norte do Rio. Amigos e artistas lamentaram a morte de Beth Carvalho.

Havia pelo menos dez anos, Beth Carvalho estava com problemas de coluna. Em 2012 ela fez uma cirurgia, mas o problema persistiu. Por conta disso, no ano passado Beth Carvalho fez um show no Rio deitada em um sofá.

A cantora iria se apresentar em 5 de maio, dia em que completaria 73 anos, no Vivo Rio, no Rio de Janeiro, mas nesta segunda-feira, 29, o show foi cancelado por recomendação médica.

Grande intérprete, Beth Carvalho ficou conhecida carinhosamente como a 'madrinha do samba', pelos talentos que descobriu e apadrinhou ao longo de sua carreira, como Zeca Pagodinho e o grupo Fundo de Quintal. A sambista nasceu Elizabeth Santos Leal de Carvalho, no Rio, em 1946. A paixão pela música, ela herdou da família. Sua avó tocava bandolim e violão. Desde criança, ouvia Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso e Aracy de Almeida, que eram grandes amigos de seu pai e que ele recebia em sua casa. E ali Beth Carvalho ouvia, atenta, aos convidados do pai - e à cantoria.

Na adolescência, cantava bossa nova e outros ritmos em festas e, para ajudar a família, após o pai ser perseguido na ditadura por seus pensamentos de esquerda, ela passou a dar aulas de violão. Não por acaso, herdou do pai a postura engajada por toda a vida.

Bernardo Mello Franco: Beth, a voz do trabalhismo

- O Globo

Beth Carvalho era presença certa nos comícios de Primeiro de Maio. Ela admirava Prestes e Getulio, mas sua grande paixão política foi Leonel Brizola

Beth Carvalho, a grande artista brasileira, nunca separou o palco do palanque. Filha de um advogado perseguido pela ditadura, era presença certa nos comícios de Primeiro de Maio.

Estreou em 1979, em apoio à greve dos metalúrgicos do ABC. Dois anos depois, estava no show do Riocentro que a linha dura tentou explodir. “O samba é mais de esquerda, é o povo”, justificou, numa entrevista recente.

A cantora ajudou a embalar a campanha das Diretas. Transformou “Virada”, de Noca da Portela, em hino contra os militares: “Vamos lá, rapaziada / Tá na hora da virada / Vamos dar o troco”. A emenda não passou, mas Tancredo Neves se curvou para beijar sua mão.

Beth admirava Getulio, Jango e Prestes. Mas sua grande paixão na política foi Leonel Brizola. De lenço vermelho no pescoço, ela apoiou todas as candidaturas do líder trabalhista. Virou presidente de honra do PDT.

Em 2000, quando Brizola contrariou aliados e insistiu em disputar a prefeitura do Rio, a cantora voltou a pedir votos na TV. O velho caudilho amargou um quarto lugar, mas foi presenteado com o melhor jingle da campanha: “Faz um 12 aí!”.

Ferreira Gullar: Cantiga para não morrer

Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.

Beth Carvalho - O mundo é um moinho & As rosas não falam