segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Carlos Pereira - Nomeações de última hora

O Estado de S. Paulo

Indicações estratégicas no ocaso da elite política que se despede geram restrições

A cada transição de governo, com a chegada de uma nova elite política ao poder, surgem preocupações sobre a possibilidade de que a composição de vários órgãos de controle e de representação, como agência reguladoras, tribunais, comissões de ética, embaixadas etc, reflita estrategicamente as preferências da “velha” e não da “nova” elite.

A interpretação dominante é a de que a principal motivação do governo que se despede é a autoproteção. É racional supor que, ao nomear pessoas de confiança, a elite que sai estaria assim se protegendo contra potenciais retaliações da elite que entra. Será que a sociedade não poderia extrair algum benefício desse comportamento estratégico no crepúsculo de governos que perdem eleições?

Bruno Carazza* - Maldições da transição

Valor Econômico

Personagens ilustres mandam recado para Lula 3.0

Está sendo difícil a transição, especialmente para um economista tão famoso, sobre o qual se deposita muita esperança para a elaboração do programa econômico do novo governo.

O presidente eleito resolveu montar uma equipe eclética, com técnicos representando correntes econômicas distintas. No discurso, a proposta é explorar a diversidade de visões sobre os desafios brasileiros; na prática, porém, os diagnósticos e, pior ainda, os prognósticos entram sempre em conflito.

Para piorar, ninguém sabe muito bem o que se passa na cabeça do futuro presidente. Nas poucas vezes em que o economista teve oportunidade de se reunir com ele, a conversa é muito diferente da mensagem expressa em seus discursos e entrevistas.

A indefinição também vem da política. Para vencer a eleição, foi preciso construir uma frente ampla de apoio, que precisa ser contemplada no futuro ministério. Sobram pretendentes e faltam cargos de relevo. A briga nos bastidores do poder é sangrenta.

Sergio Lamucci - O rumo dos juros e o futuro de Lula

Valor Econômico

Uma política fiscal crível permitirá ao BC cortar a Selic mais cedo

Em janeiro, o novo governo vai assumir o comando do país enfrentando um cenário complicado na economia. Para lidar com esse quadro, criar condições para os juros caírem o quanto antes é a estratégia mais indicada para o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, exigindo que ele e sua equipe emitam sinais inequívocos de compromisso com a responsabilidade fiscal.

No início do ano que vem, a atividade deverá estar mais fraca, sofrendo especialmente o impacto do forte aumento da Selic, que desde abril de 2021 subiu de 2% para 13,75% ao ano. Além disso, haverá o efeito da desaceleração global e do esgotamento dos estímulos adotados pela administração de Jair Bolsonaro para tentar reverter a qualquer custo a sua baixa popularidade.

Celso Rocha de Barros - O golpolão do PL

Folha de S. Paulo

É preciso que o mundo político puna Valdemar e seu partido pela adesão ao golpismo

Quando o Partido Liberal de Valdemar Costa Neto resolveu apoiar o golpe de Estado de Jair Bolsonaro, todos os que acompanham política brasileira concluíram a mesma coisa: é por dinheiro. Ao mesmo tempo, todos se perguntaram: de onde está saindo o dinheiro para o Golpolão do PL?

A resposta é simples: em 2022, os fascistas de Bolsonaro concorreram pelo PL. Graças a isso, o partido, que sempre foi meio ladrão, mas até outro dia não era fascista, defensor de assassinato em massa por falta de vacina ou da legitimidade de que se "pinte um clima" entre adultos e meninas de 14 anos, tornou-se a maior legenda da Câmara.

Segundo a jornalista Maria Cristina Fernandes, se Valdemar não abraçasse o golpe, a ala bolsonarista do PL deixaria a legenda antes da posse do novo Congresso. O tamanho da bancada determina quanto cada partido vai receber dos fundos partidário e eleitoral. Por isso, Valdemar precisa segurar os fascistas no PL até que eles sejam contados a favor dele na divisão dessa grana.

Marcus André Melo* - O que explica o tamanho dos ministérios no Brasil?

Folha de S. Paulo

Só acordos programáticos e instituições de controle fortes impedirão que governos de coalização degenerem em predação

"Não se assuste, é o governo que cai." "Mas eu ouço aclamações..." "Então é o governo que sobe. Não se assuste. Amanhã é dia de cumprimentá-lo!"

A imprensa tem noticiado a criação de dez novas pastas ministeriais, um aumento de 40%, número que será provavelmente ampliado. Sim, os partidos da base potencial do governo "querem um carinho", como afirmou um senador do PT. A expectativa é que a distribuição das pastas irá reger-se pela realpolitik de governos de coalizão. Ou, pelo menos, deveria: dela dependerá a governabilidade futura.

Governos de coalizão são encontrados em 80% dos sistemas parlamentaristas e em mais da metade dos presidencialistas e semipresidencialistas; são a regra mais que exceção, ainda que para alguns analistas pareça uma patologia institucional. E ela implica em partilha de poder —o que na prática se manifesta na distribuição do portfólio ministerial e de postos de comando nas estatais.

Ana Cristina Rosa - O antirracismo e os negócios

Folha de S. Paulo

São Paulo promove nesta semana 1ª Conferência Empresarial ESG Racial

Quando será que as empresas em operação no país vão finalmente perceber que atuar de acordo com parâmetros ambientais, sociais e de governança —o chamado ESG, do inglês "environmental, social and governance"—, focando também em ações antirracistas, é bom para os negócios?

Nesta semana teremos um vislumbre do nível de maturidade do tema em nossas corporações. Nos próximos dois dias (29 e 30), acionistas de grandes empresas, representantes do terceiro setor, investidores institucionais, CEOs e integrantes dos movimentos sociais negros debaterão o tema em São Paulo na 1ª Conferência Empresarial ESG Racial.

Lygia Maria - A ética em primeiro lugar

Folha de S. Paulo

Respeito a costumes de culturas diversas não é argumento para solapar direitos humanos

A Copa no Qatar gerou uma intensa discussão sobre os direitos humanos, pois o regime teocrático do país reprime de forma dura, pela lei, comportamentos que vão do consumo de álcool à homossexualidade.

Durante o evento, foram proibidas manifestações de apoio à causa LGBTQIA+, como as bandeiras com as cores do arco-íris. Nem mesmo jogadores puderam usar braçadeiras com o símbolo.

Reacionários, tanto no Brasil como no exterior, justificaram a ação com o argumento de que se deve respeitar a cultura de outros países.

Fernando Gabeira - Neverlândia, o país do abismo cognitivo

O Globo

Precisamos de pelo menos algumas verdades consensuais, como a noção da forma da Terra

Não é a primeira vez que visito a Neverlândia. Mas agora vivemos um momento diferente. O país precisa de conciliação, mas é prisioneiro das muitas realidades paralelas.

Conciliação não significa ausência de discordância, luta política ou mesmo caneladas. Mas, para que o debate resulte em algo positivo, é preciso certa realidade consensual. Não sou especialista em planejamento de viagens aéreas. Mas creio que seria muito difícil conceber o tráfico planetário imaginando a Terra plana. Precisamos de pelo menos algumas verdades consensuais, como a noção da forma da Terra ou a certeza de que dois e dois são quatro.

O universo político brasileiro é dividido por um abismo cognitivo. Diante de pessoas rezando na porta dos quartéis, tentando contato com alienígenas ou mesmo cantando o hino nacional para um pneu, é fácil afirmar: vivem numa realidade alternativa. O interessante é observar que os debates bolsonaristas defendem exatamente o oposto. Diante da indiferença em relação ao drama na porta dos quartéis e às múltiplas manifestações ao longo do Brasil, afirmam: vivem numa realidade paralela.

Demétrio Magnoli - Três cenários de paz na Ucrânia

O Globo

Kremlin renunciou temporariamente às metas originais da guerra

A palavra “paz” ressurgiu após a reconquista ucraniana de Kherson, uma derrota estratégica da Rússia. A Ucrânia está “pronta para a paz; paz para todo o nosso país”, declarou Volodymyr Zelensky. Vladimir Putin “disse repetidamente que estamos prontos para negociações — mas elas, naturalmente devem levar em conta a situação militar”, replicou um porta-voz do Ministério do Exterior russo. Paz significa coisas diferentes para Ucrânia e Rússia.

Diante dos fracassos militares, o Kremlin renunciou temporariamente às metas originais da guerra. No lugar de uma Ucrânia inscrita no “mundo russo”, Putin almeja uma longa trégua baseada na “situação militar” atual. As hostilidades seriam suspensas com a continuidade da ocupação russa de Luhansk e parte de Donetsk, além da faixa de terras meridionais que formam uma “ponte terrestre” entre Rússia e Crimeia.

Fusões reduzem fragmentação na Câmara

Aumento da concentração é reflexo das mudanças na lei, que instituíram cláusulas de desempenho e acabaram com a possibilidade de coligações nas disputas proporcionais

Jan Niklas / O Globo

Com a implementação das federações e as três fusões anunciadas por partidos desde o resultado da eleição, a Câmara dos Deputados deve iniciar a próxima legislatura com 16 bancadas — a menor fragmentação partidária desde 1999, início do segundo governo de Fernando Henrique Cardoso.

O aumento da concentração é reflexo direto nas mudanças na lei, que instituíram cláusulas de desempenho (a partir de 2018) e acabaram com a possibilidade de coligações nas disputas proporcionais, novidade deste ano.

A consequência direta é a tendência de as negociações entre Executivo e Legislativo fluírem mais rapidamente, cenário que pode amenizar as adversidades para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) diante de um Congresso que saiu das urnas com o bolsonarismo fortalecido.

Na semana passada, o Podemos anunciou que vai incorporar o PSC, agremiação que não ultrapassou a cláusula de barreira. Na sequência do primeiro turno, em 2 de outubro, também já haviam anunciado fusões Solidariedade e o Pros, além do PTB com o Patriota — nenhuma dessas legendas cumpriu os requisitos estabelecidos pela legislação.

Disparada nos preços de alimentos é um desafio para o novo governo

Para conter alta de custos, que afeta população mais vulnerável, especialistas recomendam uso de políticas públicas, como recomposição de estoques reguladores

Carolina Nalin / O Globo

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva elegeu como prioridade em sua campanha reduzir a fome no país. Mas, para além do desafio urgente de recompor o Orçamento a fim de garantir um Bolsa Família de R$ 600, o novo governo terá de lidar com uma alta inédita nos preços de alimentos.

Desde 2018, o custo da comida vem subindo bem acima da inflação, refletindo uma alta nos preços internacionais, mas também mudanças em políticas públicas, como a redução dos estoques reguladores. E não há sinais de trégua no horizonte. A combinação de efeitos climáticos adversos, guerra na Ucrânia e dólar valorizado deve manter os alimentos sob pressão em 2023.

— A pandemia perturbou os preços relativos dos alimentos. Além disso, tivemos uma série de problemas climáticos, que afetaram a produção, e conflitos geopolíticos. Outra questão é a taxa de câmbio, que está muito desvalorizada no Brasil, o que afeta preço de trigo, milho e preço de insumos — explica o economista Heron do Carmo, professor sênior da FEA/USP.

Fernando Carvalho* - Alexandre o Grande pela democracia

O ministro Alexandre de Moraes tem se revelado como a principal pedra no coturno do capitão Bolsonaro. Uma das razões foi o fato de Alexandre de Moraes no dia 29 de abril de 2020 ter suspendido a nomeação de Alexandre Ramagem, amiguinho dos filhos do presidente, para a diretoria geral da Polícia Federal. Alexandre de Moraes nunca foi esquecido por causa disso, tanto que um ano e quatro meses depois, Bolsonaro entrou com um pedido de impeachment de Alexandre de Moraes. O presidente fez isso em caráter pessoal, não comprometeu nem sequer a Advocacia-Geral da União. O resultado foi um fracasso. O presidente do Senado Rodrigo Pacheco submeteu a denúncia à Advocacia do Senado segundo a qual o documento carecia de tipicidade e de justa causa. Pacheco justificou sua decisão em nome da preservação da independência entre os poderes e arquivou o pedido.  A pretensão de Bolsonaro foi repudiada pelo STJ Superior Tribunal de Justiça, por ex-ministros de Estado, por associações de magistrados, de procuradores da República e de advogados. por partidos políticos e membros do Congresso nacional. E praticamente um consenso da sociedade civil. 

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Apesar do silêncio, Bolsonaro corre para nomear aliados

Valor Econômico

É preciso acompanhar com atenção as indicações que Bolsonaro fará até deixar de vez o Palácio do Planalto

O silêncio de Jair Bolsonaro (PL) desde a derrota para o presidente eleito da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tem gerado expectativas entre aliados e chamado a atenção da equipe de transição. Em mais uma eloquente entrevista, o vice-presidente Hamilton Mourão, por exemplo, argumentou que Bolsonaro saíra do pleito concluído no último fim de semana de outubro com um capital político de 58 milhões de votos e, portanto, estava mais do que apto a liderar a direita.

Para que isso ocorra, todavia, Mourão fez uma ponderação: o chefe do Poder Executivo teria que sair da reclusão autoimposta no Palácio da Alvorada e trabalhar politicamente. “O presidente Bolsonaro, quando emergir do retiro espiritual dele, vai compreender que ganhou esse capital. Acho que ele tem que se posicionar no espectro político, trabalhar politicamente. Vai ser a primeira vez desde 1989 que ele não tem mandato. São 33 anos, é uma vida. É ele entender que agora ele terá uma posição dentro do PL, de presidente de honra. Ou seja, aqui em Brasília, articulando, tem todo o capital para voltar muito bem em 2026. Desde que ele saiba explorar bem isso aí”, declarou ao Valor Mourão, senador eleito pelo Rio Grande do Sul.

Poesia | Embriaga-te - Charles Baudelaire

 

Música | Brasil Jazz Sinfônica com Ná Ozzetti & Zeca Baleiro - Tem francesa no morro