quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

Hoje estamos vivendo uma retomada golpista que não se poderia imaginar estar na raiz da morte de Eduardo Campos. Vemos se fazerem comparações (de Marina) com personalidades políticas que, por irresponsabilidade, provocaram interrupção do processo democrático, como se a substituta de Eduardo Campos estivesse levando o país a aventuras como aquelas que o Brasil viveu (na ditadura).

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em discurso na Câmara Federal, de homenagem à Eduardo Campos, referindo-se aos ataques do PT a Marina Silva , Brasília, 2 de setembro de 2014.

Dilma sobe 3 pontos, mas Marina venceria no 2º turno

• Presidente sobe de 34% para 37% e está em empate técnico com candidata do PSB, que venceria na votação definitiva por 46% a 39%; Aécio cai para 15%

José Roberto de Toledo, Daniel Bramatti - O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma Rousseff (PT) recuperou três pontos em uma semana e chegou a 37% das intenções de voto. Ao mesmo tempo, Marina Silva (PSB) cresceu quatro pontos e foi a 33%. As duas estão empatadas tecnicamente, no limite da margem de erro: Dilma teria no mínimo 35%, que é o máximo a que Marina poderia chegar. Na simulação de segundo turno, Marina lidera com sete pontos de vantagem: tem 46% contra 39%. Antes, estava 45% a 36%.

É o que mostra pesquisa Ibope feita para o Estado e para a Rede Globo. As entrevistas foram feitas entre domingo e terça-feira.

Aécio Neves (PSDB) caiu quatro pontos em uma semana, de 19% para 15%. O Pastor Everaldo (PSC) continua com 1%. Nenhum outro candidato atingiu 1%, mas os nanicos somados chegam a 2%. Os votos brancos e nulos continuam em 7%, e os indecisos caíram de 8% para 5%.

Avaliação. A recuperação de Dilma se explica por mais uma pequena melhora na avaliação de seu governo. A taxa de ótimo e bom passou de 34% para 36% em uma semana, segundo o Ibope. Os que consideram a administração ruim ou péssima oscilaram de 27% para 26%, e os que a veem como regular passaram de 36% para 37%.

Se for considerada a pesquisa de julho do Ibope, feita antes do início do horário eleitoral na TV e no rádio, a aprovação ao governo subiu cinco pontos porcentuais, de 31% para 36%. Enquanto isso, a taxa de ruim e péssimo caiu sete pontos, de 33% para 26%. Tudo isso provavelmente por efeito da propaganda da petista, que ocupa quase metade do horário eleitoral.

Outro sinal no mesmo sentido é que a rejeição a Dilma caiu cinco pontos na última semana, de 36% para 31%. Ao mesmo tempo, a de Marina foi de 10% para 12%, e a de Aécio permanece em 18%.
Dilma e Marina estão rigorosamente empatadas no eleitorado feminino: 35% a 35%. Entre os homens, porém, a petista ainda tem oito pontos de vantagem: 39% a 31%.

A candidata do PSB colhe seus melhores resultados no eleitorado de até 24 anos (37%), com curso superior (37%) e da região Sul (40%). Entre os evangélicos, ela chega a 43%. Já a atual presidente tem melhor desempenho entre os que têm 55 anos ou mais (41%), quatro anos de estudo (50%) e vivem no Nordeste (48%).

A pesquisa Ibope também mostra uma consolidação das intenções de voto. Na pesquisa espontânea, feita antes de o entrevistador mostrar ao eleitor a cartela circular com os nomes dos candidatos, Dilma cresceu de 27% para 31%, e Marina, de 18% para 25%. Aécio passou de 12% para 11%. Os eleitores sem candidato (brancos, nulos e indecisos) caíram de 40% para 34%. É mais difícil mudar o voto de quem diz o nome do seu candidato espontaneamente.

A pesquisa foi feita entre domingo e terça-feira. Foram feitas 2.506 entrevistas face a face, em 175 municípios de todas as regiões do Brasil. A margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, em um intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo Estado e pela Rede Globo. Está registrada no TSE com o número BR-00514/2014.


Marina para de crescer, mas venceria Dilma no 2º turno

• Com 34%, candidata do PSB mantém-se empatada com petista, diz Datafolha

• Estabilização das intenções de voto na ex-ministra ocorreu após críticas no noticiário e na propaganda eleitoral

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha finalizada nesta quarta-feira (3) mostra que as intenções de voto em Marina Silva (PSB) pararam de crescer, mas ela continua favorita em simulações de segundo turno.

Se o primeiro turno da eleição presidencial fosse hoje, a presidente Dilma Rousseff (PT) teria 35% dos votos contra 34% da ex-ministra do Meio Ambiente, uma situação de empate um técnico.

No levantamento anterior do Datafolha (28 e 29 de agosto), elas já estavam empatadas, cada uma com 34%. Naquela ocasião, porém, Marina vinha de um crescimento de 13 pontos em relação à investigação de 14 e 15 de agosto.

Na atual pesquisa, Aécio Neves (PSDB) tem 14%. Outros candidatos somam 4%. Indecisos ou dispostos a votar nulo ou em branco são 13%.

Na simulação de segundo turno, Marina vence Dilma por 48% a 41%. É uma vantagem um pouco mais estreita que a apurada na semana passada (50% a 40%).

Contra Aécio, Dilma vence o turno final por 49% a 38%. Neste caso, a distância está três pontos mais larga que a observada anteriormente.

Pela primeira vez, o Datafolha testou uma hipótese de confronto final entre Marina e Aécio. A candidata do PSB vence por 56% a 28%.

A estabilização das intenções de voto em Marina foram apuradas após alguns dias de críticas contra a candidata no noticiário, nos debates e na propaganda eleitoral.

As principais foram a respeito da substituição de trechos de seu programa de governo no capítulo sobre homossexuais. Um dia depois da publicação do material, Marina divulgou uma errata retirando o apoio ao projeto de lei que criminaliza a homofobia, entre outros pontos.

Nos debates e no horário eleitoral, Dilma e Aécio procuraram mostrar Marina como alguém com propostas inconsistentes e que teria pouco apoio no Congresso.

A propaganda do PT chegou a compará-la com Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello, presidentes que não concluíram o mandato.

Marina foi acusada ainda de plagiar em seu programa de governo trechos de um documento sobre direitos humanos elaborado no governo Fernando Henrique Cardoso.

O Datafolha também investigou a aprovação do governo Dilma. A situação é de estabilidade. Eleitores que julgam o governo bom ou ótimo passaram de 35% para 36%. A avaliação regular oscilou de 39% para 38%. A soma de ruim e péssimo recuou de 26% para 24%.

A margem de erro da pesquisa é de dois pontos para mais ou para menos. Foram ouvidos 10.054 eleitores entre segunda (1º) e esta quarta. É um trabalho de campo mais recente que o da pesquisa Ibope recém-divulgada, cujas entrevistas foram feitas de 31 de agosto a 2 de setembro.

Dilma reage nas pesquisas e agora fala em mudar equipe

• Para Dilma, seria melhor que país estivesse crescendo mais depressa

Thiago Herdy – O Globo

BELO HORIZONTE- Em discurso para empresários e dirigentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ontem, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, admitiu problemas no ritmo de crescimento da economia e na política industrial e disse que, se reeleita, fará mudanças em sua equipe de governo e em algumas políticas públicas.

É a primeira vez, na campanha eleitoral, que a presidente admite realizar mudanças nos quadros que integram o governo. Dilma admitiu considerar a situação atual da indústria "complexa", e disse que gostaria de ver o Brasil "crescendo em ritmo muito mais acelerado". Mas ela também defendeu a política industrial e reafirmou o compromisso de criar um conselho de desenvolvimento vinculado diretamente a ela.

- É possível que alguns de vocês, na atual conjuntura, quando a incerteza do cenário internacional se mistura com o debate eleitoral, questionem a eficácia dessa nossa política. Mas, apesar de respeitar essa posição - acho que em um país democrático como o nosso posições têm que ser respeitadas - eu gostaria que o Brasil tivesse crescendo em ritmo muito mais acelerado - admitiu Dilma aos empresários.

- Devemos fazer esse balanço não para ficarmos satisfeitos com o que já fizemos, mas para continuarmos a fazer. Estive na CNI há um tempo atrás e declarei que considerava tão importante a política industrial e de desenvolvimento em geral, que faria um Conselho de Desenvolvimento ligado diretamente à Presidência. Reitero esse meu compromisso. Obviamente, novo governo, novas e, necessariamente, atualização das políticas e das equipes.

Dilma admitiu que ainda há muito a fazer e disse que não quer dar a impressão de que acha que tudo já foi feito em seu primeiro mandato. Ela gastou 11 dos 27 minutos de seu discurso na abertura da Olimpíada do Conhecimento - evento realizado por empresas do Sistema S e institutos federais de tecnologia - para defender as políticas de seu governo, recorrendo a texto preparado por assessores.

A presidente defendeu medidas de sua administração, como políticas de compras públicas, baseada em conteúdo local, e também a concessão de crédito subsidiado para a indústria.

- Me pergunto o que seria se nós não tivéssemos tomado medidas na área industrial e no reconhecimento que a indústria é estratégica para o país - afirmou ela.

Mais críticas a Marina
Sem citar diretamente a candidata Marina Silva (PSB), com quem está tecnicamente empatada nas pesquisas, Dilma criticou o programa de governo da adversária, que prevê incentivo ao crédito voluntário, oferecido por bancos privados, no lugar de subsídios dados atualmente pelo Tesouro Nacional, por meio de bancos públicos. Para Marina, a nova proposta seria uma forma de fazer com que o governo deixe de ser "controlador para tornar-se servidor dos cidadãos".

- Muito me preocupa a questão dos bancos públicos, pois eles cumprem papel muito importante - rebateu Dilma, citando "condições e prazos" oferecidos pelo BNDES no setor industrial, pelo Banco do Brasil, no setor agrícola, e pela Caixa Econômica Federal, nos programas de habitação.

- Se não não tiver crédito subsidiado, crédito de longo prazo, crédito que assegure as condições de expansão, teremos um problema muito sério - disse Dilma.

Para a presidente, "é muito importante ter os bancos privados fazendo isso também". No entanto, segundo ela, "enquanto não fizerem nas mesmas condições que os bancos públicos fazem, não há justificativa para retirada dos bancos públicos dessa atividade".

Em ataque indireto a Marina Silva, que defende diminuir o poder dos bancos públicos, Dilma disparou:

- Não há condição de fazer habitação popular a preço de mercado. A pessoa que recebe R$ 1,6 mil não tem como comprar apartamento ou casa de R$ 60 mil. Ou ela tem uma complementação de sua prestação, ou ela não compra.

Presidente da CNI defende
No evento, a presidente foi tratada pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, como se já estivesse reeleita.

- Aproveito para convidar a presidente Dilma para fazer a abertura do WorldSkills no ano que vem, em 2015 - disse Andrade, mencionando o maior torneio de educação profissional do mundo, que será realizado em São Paulo.

Andrade recebeu aplausos da ala petista, entre eles o candidato do PT ao governo de Minas, Fernando Pimentel, e do coordenador da campanha presidencial no estado, o ex-ministro Walfrido Guia.

Em seu discurso, Robson Andrade defendeu Dilma:

- Temos absoluta certeza de que os investimentos que a senhora tem feito, como o Pronatec, com o apoio que o governo deu através do BNDES, de R$ 1,5 bilhão, ajudam na construção de centros de tecnologia e centros de inovação no país.

Disputa acirrada

• Dilma reage, crescimento de Marina estabiliza, mas ex-senadora mantém vantagem em 2º turno

Juliana Castro, Júnia Gama e Fernanda Krakovics – O Globo

RIO e BRASÍLIA - Duas pesquisas de intenção de voto divulgadas ontem apontam que a presidente Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) mantêm a disputa acirrada pelo Palácio do Planalto. A ex-senadora, no entanto, segue como favorita nas simulações de segundo turno. No Ibope, a petista recuperou três pontos percentuais em relação ao último levantamento e chegou a 37% no primeiro turno. Já Marina cresceu quatro pontos e alcançou 33% das intenções. No Datafolha, a presidente oscilou um ponto percentual para cima e chegou a 35%, enquanto a candidata do PSB manteve os 34%. Como as duas pesquisas têm margem de erro de dois pontos percentuais, Marina e Dilma aparecem em empate técnico em ambos os casos.

Nas pesquisas Ibope de julho e do início de agosto, num cenário ainda com Eduardo Campos, a presidente tinha 38%. No levantamento seguinte, já com Marina, Dilma caiu quatro pontos e só agora retoma o crescimento. Na simulação do segundo turno feita pelo Ibope, Marina venceria com sete pontos de vantagem: 46% a 39%. Antes, a diferença era de nove pontos: 45% a 36%.

No caso do Datafolha, a candidata do PSB venceria Dilma por 48% a 41%. No levantamento anterior, o índice de Marina era de 50% e o da presidente, de 40%. As pesquisas têm intervalos diferentes. O último Ibope havia sido feito entre os dias 23 e 25 de agosto. Já o Datafolha anterior foi realizado em 28 e 29 de agosto.

Alívio no comitê petista
Diante do cenário, os aliados dos presidenciáveis acreditam que o cenário eleitoral começa a estabilizar. A campanha à reeleição de Dilma recebeu com alívio as pesquisas. O temor era que a candidata do PSB ultrapassasse a presidente já no primeiro turno, o que não se confirmou. A análise feita no comitê eleitoral da presidente é que surtiu efeito a estratégia de tentar desconstruir a candidatura de Marina e apontar contradições no discurso da adversária, principalmente questionando como iria implementar suas propostas.

Apesar do alívio, integrantes da campanha à reeleição afirmam que é preciso esperar as próximas pesquisas para ver se Marina atingiu seu teto. De qualquer forma, as sondagens divulgadas ontem deram fôlego e ânimo aos petistas.

Aliado de Marina Silva, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) avalia que os números mostram que o quadro eleitoral está se estabilizando, mas que a candidata mantém a preferência no segundo turno devido a um desejo de "mudança" entre os eleitores.

- As pesquisas mostram que a Marina está consolidada no segundo turno e apresenta grande alternativa de mudança. O fenômeno Marina é um grande desejo de mudança, a maioria das pessoas quer isso. Marina vai para o segundo turno e é a grande favorita para ganhar a eleição. Isso a gente percebe pelo desespero dos adversários, usando a tática de disseminar o terror para conter o crescimento. Marina ainda pode crescer mais, mesmo com pouquíssima televisão - afirmou o senador.

Terceiro colocado nas duas pesquisas, Aécio Neves (PSDB) viu seu índice despencar quatro pontos percentuais no Ibope, chegando a 15%. No Datafolha, o tucano variou dentro da margem de erro, de 15% para 14%. Desde que os levantamentos apontaram a consolidação de sua campanha em terceiro lugar, Aécio tem atacado Marina, referindo-se à candidatura dela como improvisada.

Nas simulações de segundo turno feitas com o nome de Aécio, o tucano perderia em todas. No Ibope, o senador aparece com 34%, bem atrás de Dilma, que tem 47%. No Datafolha, o índice é de 38% para Aécio e de 49% para a presidente. Pela primeira vez o instituto pesquisou o cenário de um eventual segundo turno entre o tucano e Marina. A candidata do PSB aparece com 56%, 11 pontos percentuais à frente do ex-governador.

Em nota divulgada pouco depois dos resultados das duas pesquisas, a assessoria de Aécio disse que o candidato recebeu os números com tranquilidade:

"A campanha eleitoral está entrando na fase em que os candidatos apresentam suas propostas ao país. O senador tem absoluta confiança que o seu programa é o melhor e mais seguro para o Brasil. O reconhecimento dessa proposta levará a Coligação Muda Brasil à vitória".

Aliado de Aécio, o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) disse acreditar que o quadro ainda pode mudar:

- Essa pesquisa pode nos mostrar que houve uma estabilização das mudanças ocorridas desde a entrada da Marina na disputa. É agora, de fato, que a campanha começa, falta um mês. Vamos manter nosso ritmo porque acreditamos que o quadro pode mudar.

Rejeição de Dilma cai, mais ainda é a mais alta
No Ibope, a presidente é a candidata com a maior taxa de rejeição: 31%. Ainda assim, o índice caiu cinco pontos percentuais em relação à última pesquisa. Ao todo, 12% dos entrevistados disseram que não votariam em Marina de jeito nenhum, enquanto o percentual anterior era de 10%. A taxa de rejeição de Aécio permanece em 18%. O jornal "Folha de S. Paulo" e a TV Globo, contratantes da pesquisa Datafolha, não haviam divulgado as taxas de rejeição dos presidenciáveis até ontem à noite.

Tanto o Ibope quanto o Datafolha trazem índices semelhantes na avaliação do governo Dilma. Em ambas, 36% dos entrevistados apontaram a gestão da petista como ótima ou boa. No Ibope, 37% disseram que a administração da presidente é regular e 26% a consideram ruim ou péssima. No Datafolha, o percentual de entrevistados que apontaram o governo da petista como regular é de 38% e os que disseram ser ruim ou péssimo é de 24% . Os índices se mantiveram estáveis com variação dentro da margem de erro.

Integrantes da campanha petista também ficaram satisfeitos com a avaliação do governo e a queda na taxa de rejeição de Dilma. Para a equipe da presidente, os levantamentos mostram que a petista tem um voto consolidado em torno de 35%.

- É natural esse resultado. O que acontece é que, até a entrada definitiva de Marina, ela estava completamente fora de qualquer questionamento. Começou a campanha defendendo as ideias genéricas que ela tem e isso fez com que a população tivesse associado a ela a coisa do novo, da mudança - avaliou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE). - A partir do momento em que começaram a ficar claras as propostas concretas que ela defendia, as pessoas pararam para refletir. A tendência agora é a recuperação de Dilma, e Marina tende a perder espaço.

Onda interrompida

• Especialistas afirmam que ataques de Dilma seguraram crescimento de Marina e que passividade de Aécio é prejudicial

Marco Grillo e Raphael Kapa – O Globo

Após divulgação de nova rodada das pesquisas Ibope e Datafolha de intenções de votos para as eleições presidenciais, especialistas ouvidos pelo GLOBO apontam que os ataques da campanha da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) estancaram o crescimento de Marina Silva (PSB) e divergem sobre como serão as próximas semanas eleitorais.

- A pesquisa (Ibope) contribui para sustentar a candidatura da Dilma. Ela interrompeu a queda e ainda cresceu três pontos - avalia o cientista político Pedro Arruda, da PUC-SP.

Sonia Fleury, professora da FGV, diz que a diminuição do crescimento de Marina pode estar ligada às suas mudanças de posicionamento.

- Talvez ela tenha decepcionado seus eleitores mais históricos. Temáticas como meio ambiente foram reduzidas, dando espaço a questões mais macroeconômicas.

Professor da UFMG, o cientista político Carlos Ranulfo acredita que os levantamentos inauguram a terceira fase da campanha, após o primeiro momento, quando Eduardo Campos estava na disputa, e depois, a etapa que registrou a subida de Marina.

- O crescimento da Marina estancou. Pode ser um esgotamento natural ou um efeito dos contra-ataques - afirma, em referência às declarações de Dilma e Aécio Neves (PSDB).

O cientista político Felipe Borba, da UniRio, aponta que Dilma pode atrair eleitores que, hoje, votam em Marina.

-Eleitores que consideram o governo de Dilma regular estão votando na Marina. É um eleitorado que tem medo de arriscar e, geralmente, vota pela permanência. Ao mostrar que o risco está em Marina, Dilma pode atrair votos - afirma Borba.

Para Pedro Arruda, mesmo que Aécio esteja em terceiro lugar desde a entrada de Marina, a candidatura do PSDB não pode ser descartada.

- O eleitorado é volátil. O PSDB tem uma estrutura partidária mais bem organizada, governa estados e municípios importantes. Não é o cenário provável, mas não dá para descartar Aécio.

Já Felipe Borba afirma que a passividade da campanha de Aécio está sendo prejudicial para o tucano.

- Aécio não está partindo para o ataque. Deveria fazer como (José) Serra fez com o Ciro (Gomes) em 2002. Aécio está agindo como quem disputa um amistoso - afirma o professor.

O historiador Marcus Dezemone, da Uerj e da UFF, concorda e diz que o tucano é o que mais perde no pleito.

- Aécio perde votos se não bater na Marina. A tendência é Dilma estacionada, Marina contendo a empolgação e Aécio estancando a sangria.

Marina acusa PT de ‘ressuscitar o medo’

• Ex-senadora acusa Dilma de reeditar estratégia usada contra Lula; presidente diz alertar para riscos

Sérgio Roxo e Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO e BELO HORIZONTE - Diante da polarização apontada pelas pesquisas, as candidatas Dilma Rousseff e Marina Silva trocaram acusações ontem evocando a propagação do medo na eleição presidencial. A presidenciável do PSB disse que a petista esquece os ataques feitos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Já a presidente alegou que fala apenas a "verdade" quando destaca os riscos de um governo da adversária.

Pela manhã, em entrevista realizada pelo site G1, em São Paulo, Marina foi questionada sobre a estratégia adotada pela campanha do PT, que levou ao ar no horário eleitoral gratuito um programa a comparando aos ex-presidentes Fernando Collor de Mello (1990-1992) e Jânio Quadros (1964), que não possuíam base política consistente no Congresso Nacional e acabaram não concluindo os mandatos.

- Acredito profundamente que a esperança venceu o medo. A sociedade brasileira, quando faziam todo esse terrorismo contra o Lula, repetia essa frase. Infelizmente, quem está querendo ressuscitar o medo é a presidente Dilma.

Marina afirmou que considera a estratégia "a pior forma de se fazer política".

- Eu prefiro fazer política pelas duas coisas que orientaram a minha vida: a esperança e a confiança.

A candidata acredita que os petistas adotaram a tática por medo de perder o poder.

- O povo brasileiro tem, acima de tudo, esperança e confiança na sua democracia, que, a duras penas, foi conquistada. Obviamente, a sociedade não vai se deixar amedrontar por qualquer tipo de fraqueza que aqueles, no medo de perder o poder, praticam, inclusive esquecendo o que defenderam.

PSB não vai rebater
A campanha do PSB não pretende rebater a propaganda de Dilma no horário eleitoral. A candidata gravou um vídeo em que afirma estar sendo vítima de ataques, mas que prefere debater propostas porque possui pouco tempo de propaganda (2 minutos e 3 segundos).

No começo da tarde, em Belo Horizonte, Dilma voltou a atacar o programa de governo de Marina, mas negou que seu partido esteja comandando uma "campanha do medo".

- Não é uma questão de medo, mas de verdade - afirmou a petista, para em seguida acrescentar que as propostas de Marina ameaçam o emprego:

- Eu acredito que os empregos dos brasileiros, se você tomar essas medidas que estão sendo propostas, correm risco, sim.

Questionada sobre a comparação entre Collor e Jânio apresentadas no horário eleitoral, a petista disse que se referia à governabilidade:

- O que nós dissemos não é que as pessoas são iguais. O que nós dissemos é que se você não tem número suficiente de deputados você não aprova nenhum projeto. Na democracia, a gente perde e a gente ganha. Inclusive, eu quero dizer que eu perdi algumas vezes, mas ganhei outras tantas no Congresso Nacional e, portanto, a necessidade de negociar é inexorável.

Um dos pontos criticados por Dilma é o que diz respeito à redução dos subsídios dos bancos públicos à economia.

- É absolutamente temerário, inacreditável, que alguém proponha reduzir o papel dos bancos públicos - disse Dilma, que completou:

- O papel dos bancos não é algo que simplesmente se coloca, se escreve que ele vai ser assim, assim, assado. É bom conhecer primeiro como é que funciona, para depois propor. Se não, desestrutura a economia brasileira.

Riscos ao agronegócio
Se na semana passada Marina acenou com incentivos à indústria do etanol, ontem Dilma disse que o corte dos subsídios afetaria diretamente o setor.

- Todos os juros (do Plano Safra) são subsidiados. Sem exceção. Quem banca esse subsídio é o governo federal via Banco do Brasil. Ora, se pararem com isso, o agronegócio brasileiro não tem as mesmas condições não só de gerar a mesma produção, mas de garantir o nosso saldo na balança comercial.

Ao lado do candidato ao governo de Minas pelo PT, Fernando Pimentel, Dilma participou de uma atividade de campanha na periferia de Belo Horizonte. Foi recepcionada por eleitores e jovens contratados para a campanha petista. Enquanto concedia entrevista coletiva, mostrou incômodo com os gritos e cantos da militância. Alguns jovens que acompanhavam o pronunciamento da presidente chegaram a gritar "Marina". Outros, quando a presidente passeava em um carro aberto por uma avenida comercial, pediram a legalização da maconha.

‘Tenho de confiar’, mas ‘eleições se perdem’

• Tucano reafirma, porém, confiança em seu projeto de governo e na vitória

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO - Há duas semanas no terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse ontem, em entrevista à rádio CBN, que "eleições se perdem". Foi a primeira vez, desde que perdeu a vice-liderança na disputa para Marina Silva (PSB), que o presidenciável falou sobre derrotas eleitorais. Apesar disso, reafirmou confiança na vitória.

- Eu tenho que confiar. Mas não estou dizendo que vou ganhar todas as eleições. Eleições se perdem. Já perdi eleições, inclusive, e acho que se aprende muito com isso. Agora, o que não se pode perder é a capacidade de defender aquilo em que se acredita. Eu vou até o último dia dessa eleição defendendo um Brasil diferente, eficiente e ético - disse o candidato.

A afirmação foi feita após Aécio ser questionado sobre a situação eleitoral em Minas Gerais, onde a campanha tucana tinha planos de abrir uma grande vantagem de votos em favor de Aécio. Com a entrada de Marina na eleição, as pesquisas apontam para um cenário menos favorável ao tucano.

Aécio disse ser precipitada qualquer análise neste momento:

- Vencemos todas as últimas eleições em Minas Gerais e não ganhamos pelo meu sorriso. Mas porque temos uma equipe qualificada.

Boatos desmentidos
O candidato voltou a falar sobre derrota em um outro momento da entrevista, quando criticava projeções de resultados da eleição feitas com base nos levantamentos de intenção de votos. Ontem, nova rodada de pesquisas Datafolha e Ibope mostraram outra queda de Aécio, se distanciando ainda mais de Marina e Dilma Rousseff.

- Essa pressa em fazer o diagnóstico não faz bem à boa política. Ganhar ou perder é normal, é do processo - disse, para completar: - Eu acredito que vou vencer por uma razão: tenho o melhor projeto para o Brasil.

Para o presidenciável, ele vencerá se "a razão prevalecer".

A campanha de Aécio enfrentou nesta semana o seu pior momento até agora. Apesar das pesquisas desfavoráveis, ele teve que convocar uma entrevista para desmentir boatos de que renunciaria à campanha - eles continuam circulando nas redes sociais. Aécio também foi surpreendido por uma declaração do coordenador-geral de sua campanha, José Agripino Maia (DEM), com acenos de apoio a Marina no segundo turno. O candidato desautorizou Agripino publicamente anteontem.

Lideranças tucanas em estados onde a vitória de Aécio era considerada certa já admitem, nos bastidores, que pouco podem fazer para frear Marina.

- Você não vê um adesivo ou santinho dela aqui no estado e, mesmo assim, ela assumiu a frente das pesquisas - afirmou um tucano do Paraná.

Anteontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que a campanha, diante do "inevitável", tem que contar com o "inesperado".

Segunda divisão
Ontem, o tucano manteve a carga sobre as adversárias. Em uma das críticas, disse que ambas teriam equipes de "segunda e terceira divisão", enquanto ele, uma "seleção".

O tucano priorizou o embate com a candidata do PSB, a quem voltou a classificar como "aventura e incerteza". Ele também reagiu ao discurso de Marina de que irá, se eleita, governar com os melhores de todos os partidos:

- Eu não estou olhando por cima da cerca do vizinho para encontrar quadros que possam me ajudar lá na frente.

À tarde, um tumulto provocado por integrantes de programas humorísticos da TV Bandeirantes impediu o presidenciável de fazer uma caminhada em Santos, no litoral de São Paulo. O vice do tucano, senador Aloysio Nunes Ferreira, chegou a discutir e pedir respeito às equipes dos programas "Pânico" e "CQC".

- Respeitem seus colegas e o candidato que está fazendo campanha - disse Aloysio.

Em meio ao empurra-empurra, uma mulher caiu e quase foi pisoteada.

Aécio estava acompanhado do governador Geraldo Alckmin e conseguiu caminhar apenas alguns minutos pela praça do Centro da cidade. Aécio praticamente não conversou com eleitores. Para evitar ainda mais confusão, entrou em uma tradicional pastelaria da cidade, comeu um pastel, tomou um refrigerante e um suco e foi embora.

A entrevista à imprensa local teve que ser encerrada depois de apenas três perguntas por causa do empurra-empurra. O candidato prometeu, se eleito, decentralizar a gestão do setor portuário:

- Isso permitirá que os investimentos voltem aos portos brasileiros. Eu tenho convicção de que nossa proposta, no que diz respeito à logística, busca diminuir o custo Brasil.

Aécio voltou a dizer que Dilma será derrotada e que Marina, apesar de boas intenções, não teria condições para governar.

- Estou convicto de que Dilma vai perder e vejo que a candidata Marina elenca um conjunto de boas intenções, mas não consigo ver ali as condições adequadas para que a mudança, que a grande maioria dos brasileiros espera, aconteça.

Tucano afirma que incertezas de 2002 não se repetirão

• No "Jornal da Globo", candidato diz que sua vitória melhoraria o ambiente econômico

- O Globo

A economia foi um dos principais temas da entrevista que o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, deu ontem ao "Jornal da Globo". Questionado pelo apresentador William Waack sobre como conter a inflação e se está disposto a trabalhar com uma alta brutal dos juros, Aécio afirmou que, se for eleito, o ambiente econômico irá melhorar, pois ele terá uma política fiscal transparente e apostará na previsibilidade. O tucano citou a vitória do presidente Lula em 2002 e disse que as incertezas da época não se repetirão:

- A nossa vitória, eu acredito, gerará um efeito oposto àquele que nós tivemos em 2002, com a vitória do presidente Lula, cercada de incerteza. Nós tivemos uma disparada do dólar, a inflação, que era em torno de 7% chegou a 12%. No momento em que o presidente incorpora os pilares macroeconômicos herdados do governo anterior, esquecendo obviamente o discurso da campanha, há uma estabilidade. A nossa vitória, certamente, já sinalizará claramente para a diminuição dos juros a longo prazo.

Aécio também foi perguntado pela apresentadora Christiane Pelajo sobre o realinhamento de preços públicos e criticou a posição do governo Dilma Rousseff, de conter a inflação represando reajustes, o que, segundo ele, dá errado desde a década de 80.

- Nós temos hoje preços represados de combustíveis, de energia elétrica e de transportes públicos. Tem que haver regras claras e isso não será feito do dia para noite, mas com regras claras que permitam à economia se mover sem sustos. Nós temos que soltar a tampa dessa panela de pressão, mas sem sustos.

Salário mínimo e Previdência
Durante a entrevista, o candidato do PSDB foi perguntado se iria tentar tirar o salário mínimo como fator indexador da Previdência, e foi taxativo.

- Não, nós não cogitamos isso. Inclusive, nós apresentamos um projeto que prorroga até o ano de 2019 o reajuste real do salário mínimo - respondeu.

O candidato foi também questionado sobre a pressão que recebe das centrais sindicais, suas aliadas, para que acabe com o fator previdenciário, o que, segundo especialistas, tornaria o déficit da Previdência ainda menos controlável.

- Olha, eu quero discutir com as centrais sindicais. Não estou assumindo esse compromisso. Eu poderia até fazê-lo, mas seria leviano da minha parte fazê-lo neste momento. Na verdade, o que nós temos discutido com as centrais, com a Força Sindical em especial, são formas de garantir ao aposentado algum ganho real. Nós, inclusive, apresentamos uma proposta que permite acrescentar à correção que já existe hoje, já prevista, um cálculo baseado no aumento médio da cesta de medicamentos, que obviamente são consumidos em maior escala pelos aposentados.

Christiane Pelajo perguntou se isso não iria pioras as contas da Previdência e ele respondeu que o custo é muito pequeno, "algo em torno de R$ 1,5 bilhão ao ano, nada que impacte na Previdência como um todo".

Aécio também afirmou que não pretende mexer nos direitos trabalhistas estabelecidos na CLT, mas está estudando como reorganizar o seguro-desemprego. Aécio também comentou o resultado das pesquisas de intenção de voto, nas quais aparece na terceira posição.

- Eu venho de uma terra que ensina muito cedo que em eleição e mineração, o resultado só vem depois da apuração. Continuo extremamente confiante no projeto que temos para o Brasil, porque é o melhor para o Brasil.

Aécio criticou Dilma Rousseff, dizendo que "o Brasil comprou um bilhete falsificado de loteria" ao apostar que ela seria uma boa gestora, e também Marina Silva.

- Tenho dúvida exatamente sobre isso. Sobre a capacidade que ela (Marina) terá de implementar, no prazo que propõe, o conjunto de medidas ou bondades que apresenta à população.

Dilma cancela sua entrevista ao 'Jornal da Globo'

• Participação tinha sido confirmada pela assessoria da presidente

Chico Otavio e Leticia Fernandes- O Globo

Perguntas sobre recessão econômica, inflação, gastos públicos, preços de combustíveis e outros pontos sensíveis da agenda governamental ficaram sem resposta, na noite da última terça-feira, quando a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT, deixou de comparecer à entrevista na bancada do "Jornal da Globo", da Rede Globo.

O cancelamento de sua entrevista aos apresentadores William Waack e Christiane Pelajo, no momento em que a candidata petista se vê pressionada pelo crescimento de Marina Silva (PSB) nas pesquisas de opinião, pode ter mostrado certa hesitação para reagir ao novo quadro eleitoral, como analisou ontem Gabriel Rossi, especialista em mídia digital.

Foi a primeira vez, desde 2002, que a série de entrevistas com os presidenciáveis do telejornal sofreu a ausência de um candidato. William Waack explicou no ar que a ordem de participação, decidida por sorteio, também tinha sido aprovada por um representante da campanha de Dilma.

Oito pontos de média
O "Jornal da Globo", que vai ao ar por volta de meia-noite, marca em média oito pontos de audiência (cerca de 520 mil aparelhos de TV ligados por minuto) na Grande São Paulo. Esse patamar supera a maior audiência das TVs SBT e Band, que já fizeram debates entre os candidatos ao Planalto com a presença de Dilma Rousseff. A entrevista de Marina Silva, candidata do PSB, na segunda-feira, teve sete pontos de audiência na Grande São Paulo.

"Entendemos essas entrevista como uma ajuda ao eleitor para que ele faça suas escolhas. A entrevista de hoje (ontem) seria com a candidata do PT, Dilma Rousseff, mas ela se recusou a dar entrevista. Naturalmente, um direito dela", disse William Waack durante o telejornal.

Os dois apresentadores então fizeram no ar as perguntas que seriam feitas à candidata do PT, se ela tivesse comparecido. "Em respeito aos telespectadores, vamos apresentar algumas perguntas que seriam feitas a ela. Infelizmente, sem as réplicas que se fariam necessárias. Os telespectadores ficarão sem resposta, mas saberão o que nós pretendíamos tornar mais claro", completou Christiane Pelajo.

Para Gabriel Rossi, o impacto negativo que recai sobre a petista se dá pela imagem que a ausência passa aos telespectadores, que, analisa ele, respondem mal à hesitação e ao fato de a presidente, que tenta se reeleger, deixar perguntas sem respostas.

- Mostra confusão da campanha, deixa o público sem resposta. Na política, quando você hesita, é um pecado capital. Tem um peso pela característica da eleição, com o fenômeno Marina, e porque a televisão tem influência. As pessoas querem mudança e querem ver quem está apto a encarnar essa mudança, mesmo que seja quem já é presidente - afirmou Rossi.

Ontem à noite, o entrevistado do "Jornal da Globo" foi o candidato do PSDB, Aécio Neves.

Aécio diz que manterá conquistas trabalhistas

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, afirmou que se for eleito manterá as conquistas trabalhistas já existentes no País. "Jamais serei o presidente que irá tirar o direito dos trabalhadores." Em entrevista ao Jornal da Globo, o tucano voltou a dizer que já anunciou o nome do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga para a pasta da Fazenda para mostrar que suas propostas têm previsibilidade e que ele conta com um grande time de colaboradores, capazes de mudar o Brasil.

"Nossa vitória gerará o efeito oposto ao de 2002, na vitória do ex-presidente Lula (o petista Luiz Inácio Lula da Silva), cercado de incertezas, com a disparada do dólar, a inflação chegando à casa dos 12%", citou. E disse que sua eventual conquista da Presidência irá sinalizar para a redução dos juros a longo prazo. "O Brasil precisa retomar o ciclo de crescimento sustentável e ninguém, melhor do que nós, tem a capacidade de fazer o Brasil voltar a crescer, pois só crescendo vamos gerar empregos de maior qualidade e melhorar os investimentos na saúde, segurança e educação."

Questionado como pretende combater a inflação rapidamente, o senador mineiro disse apenas que "uma simples chegada" de sua candidatura ao poder é uma sinalização adequada com relação à inflação. "Seremos um governo de previsibilidade e não de sustos ou grandes planos, mas um governo que sinalizará de forma clara ao mercado as regras, inclusive de reajuste de preços eu serão respeitadas."

Aécio disse que vai resgatar os investimentos, fortalecer as agências reguladoras e recuperar a capacidade de investimento do País. E atacou a adversária do PT, Dilma Rousseff, evitando falar na adoção de medidas amargas. "Suor, sofrimento e aperto os brasileiros já estão sentindo na pele, com a inflação de volta, a de alimentos está em dois dígitos há mais de um ano e ela corrói os salários", argumentou.

Questionado sobre o fim do fator previdenciário, bandeira das centrais sindicais para recompor o salário dos aposentados, o candidato tucano evitou entrar em detalhes, dizendo apenas que vai conversar muito com a classe trabalhadora sobre este e outros temas.

"Estamos com as centrais formas de garantir ganhos reais para os aposentados", emendou. E disse que pretende ter uma relação transparente com os trabalhadores, "porque se o Brasil crescer, todos ganham." Mas, adiantou que pretende reorganizar o seguro desemprego, dizendo que isso constará do seu programa de governo que será divulgado em breve.

Na entrevista, Aécio disse novamente que é candidato mais bem preparado e com a melhor equipe para colocar o Brasil nos trilhos do crescimento. E voltou a atacar o governo petista, classificando-o de intervencionista e dizendo que ele custou muito caro ao País porque afugentou os investidores e não trouxe a confiança necessária ao crescimento da economia.

O tucano falou também que pretende cortar, para cerca de metade, o atual número de ministérios. Indagado sobre as pastas que cortaria, disse apenas que pretende criar um ministério do Agronegócio, agrupando setores como agricultura e pesca e um "superministério" de infraestrutura.

Para Marina, Dilma quer ressuscitar o ‘medo’

• Ex-ministra recicla slogan de Lula e diz que ‘esperança venceu’; petista cobra consistência

Isadora Peron, Pedro Venceslau, Suzana Inhesta e Ana Fernandes – O Estado de S. Paulo

Tecnicamente empatadas nas pesquisas de intenção de voto, as candidatas à Presidência Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) trocaram críticas nesta quarta-feira, 3, durante seus compromissos de campanha. Enquanto Marina acusou Dilma de usar a “tática do medo” contra ela, a petista negou a estratégia e afirmou que apenas está cobrando consistência da adversária.

Marina disse nesta quarta que a petista tenta “ressuscitar o medo na campanha eleitoral”, estratégia que foi usada contra Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições em 2002. “Eu acredito profundamente que a esperança venceu o medo. Infelizmente, quem está querendo ressuscitar o medo é a presidente Dilma. E a pior forma de se fazer política é pelo medo”, afirmou Marina durante entrevista ao site G1.

O bordão escolhido por Marina, “a esperança venceu o medo”, foi justamente o usado por Lula no passado.

Desde que encostou em Dilma nas pesquisas de intenção de voto, Marina tem sofrido ataques tanto da petista quanto do tucano Aécio Neves. A presidente, no entanto, é a que tem feito as críticas mais duras contra a candidata do PSB.

Na terça-feira, a campanha de Dilma comparou Marina aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor no horário eleitoral da TV. Os dois não concluíram seus mandatos - Jânio renunciou e Collor sofreu impeachment.

Na própria terça, Marina já havia reagido à propaganda. Ao participar da série Entrevistas Estadão, ela disse que quem deveria ser comparada a Collor era Dilma, que chegou ao Palácio do Planalto sem sequer ter sido eleita vereadora.

Marina foi orientada por seus sucessores a revidar os ataques que vêm sofrendo. A avaliação da campanha, porém, é que a comparação com Collor não vai prejudicar Marina, já que ela é bastante conhecida e tem uma longa trajetória política.

‘Verdade’. Quando questionada sobre o tom mais agressivo adotado pela sua campanha depois da subida de Marina nas pesquisas de intenção de voto, Dilma negou que esteja colocando em prática a “tática do medo”. “Não é uma questão de medo, mas de verdade. É a hora que você tem de mostrar o que você vai fazer, como vai fazer e com quanto dinheiro você vai fazer”, afirmou a presidente, que cumpriu agenda em Belo Horizonte.

Dilma também falou sobre os comerciais de TV que comparam Marina a Collor. “Não é que as pessoas são iguais. O que nós dissemos é que, se você não tem um número suficiente de deputados, você não aprova nenhum projeto.”

As campanhas de Dilma e Aécio têm batido na tecla de que uma eventual vitória da candidata do PSB levaria a uma crise de governabilidade, já que Marina afirma que, se eleita, vai governar com a ajuda dos “melhores” quadros de todos partidos, mesmo os que não sejam da base aliada.

Outra crítica recorrente é em relação ao conteúdo apresentado por Marina em seu programa de governo, Ontem, a candidata do PT voltou a dizer que se forem implementadas as propostas da adversária, os empregos dos brasileiros correm risco. Ela destacou também a necessidade de apontar a origem dos recursos para colocar em prática as medidas apresentadas.

Plágio. Marina também rebateu ontem a acusação de Aécio de que o seu programa de governo plagiou partes do Plano Nacional de Direitos Humanos lançado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 2002.

“A defesa dos direitos humanos não deve ser privatizada por nenhum partido”, disse a candidata, após participar de evento na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista.

Marina citou como exemplo o Bolsa Família, implementado pelo governo do ex-presidente Lula, e que, de acordo com ela, deve ser considerado uma conquista da sociedade e não de um governante. “Essa é uma visão pouco generosa (do PSDB) em relação a conquistas da sociedade brasileira, que não podem ser fulanizadas. A luta pelos direitos humanos é uma conquista da humanidade”, disse.

Eleitor tucano vai optar por Marina no 2º turno, diz vice

• Para Beto Albuquerque (PSB), Aécio aderirá à ex-ministra se ficar em 3º

• Deputado diz que será buscada nova relação com Congresso e afirma que não há "obrigação" de Marina ficar no PSB

Fernando Rodrigues - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Candidato à Vice-Presidência pelo PSB, Beto Albuquerque acha que 8 em cada 10 eleitores de Aécio Neves deverão votar em Marina Silva para presidente num eventual segundo turno. Os outros dois "talvez votariam em Marina".

Em entrevista à Folha e ao UOL, Beto, 51, deputado federal do Rio Grande do Sul há quatro mandatos, diz não pretender ser "desrespeitoso com nenhuma das candidaturas", até por se declarar amigo de Aécio Neves, o nome do PSDB nesta eleição.

Para justificar a possível transferência dos votos tucanos para Marina, o gaúcho diz que isso vai ocorrer "porque são eleitores que querem mudar o país". E Aécio, também iria de Marina? "É natural. Seria até incoerência pensar o contrário. Acho que ninguém pode ficar neutro."

Beto fala sempre de maneira cuidadosa sobre rivais. Pontua com ressalvas assertivas a respeito de um eventual segundo turno. Quando cita o eventual futuro aliado PSDB, usa um tom ameno.

"Desejo ao Aécio êxito na empreitada dele. [Mas] no segundo turno, para quem pregou na campanha inteira mudar o Brasil, o lugar é um lado só. Não há dois lados."

A entrevista foi concedida na terça (2) à noite --não eram ainda conhecidos os números do Datafolha divulgados nesta edição. Beto ainda estava sob efeito da grande euforia a respeito da chance de crescimento de Marina.

Para ele, "pode, sim, alguém ganhar no primeiro turno" a disputa pelo Planalto. Quem? "Neste momento, Marina Silva". Ele pondera, porém: "Há espaço para ela crescer mais. Mas há também espaço para cair, se a gente não continuar de forma humilde, com os pés no chão".

Apoio no Congresso
Se eleita, Marina procurará apoio da maioria dos partidos. Mas ela própria escolherá, diz Beto, as pessoas de legendas aliadas para estarem no governo. Ou seja, muitas siglas poderão estar numa eventual gestão marinista, só que será sempre a presidente quem decidirá quais quadros quer ao seu lado.

Como hoje essa prática não funciona, o candidato a vice crê que possa ocorrer "um ou outro impasse", mas um novo modelo de relação com o Congresso será perseguido.

O PSB espera fazer uma bancada próxima a 50 deputados nesta eleição. Hoje, tem apenas 24 cadeiras na Câmara. E quando a Rede Sustentabilidade, partido montado por Marina, tiver registro na Justiça Eleitoral? "Ela não está obrigada a continuar no PSB. Pactuamos isso com ela. Ela pode e continuará tendo apoio irrestrito do partido."

Nesta quinta (4), Marina estará no Rio Grande do Sul, num dos maiores eventos agropecuários do ano, a Expointer. A ideia é que a candidata faça um discurso de conciliação para o público local.

Segundo Beto, em síntese, Marina dirá que não vai atrapalhar o agronegócio e manterá o crédito para o setor.

Planalto e campanha de Dilma recebem declarações de Sauer com reserva

• Avaliação interna é que afirmações não terão influência na campanha porque a palavra do ex-diretor não teria credibilidade

Tânia Monteiro, Rafael Moraes Moura e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

No Palácio do Planalto e no comitê de campanha da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT), as declarações do ex-diretor da Petrobrás Ildo Sauer foram recebidas com reservas e pouco caso. A avaliação interna é a que as afirmações de Sauer não terão influência na campanha de Dilma porque sua palavra, avaliam os auxiliares da presidente, não tem credibilidade.

"Ele é um poço de mágoa mais profundo que o pré-sal", afirmou um dos interlocutores da presidente, ao lembrar que toda semana o ex-dirigente procura a mídia para fazer uma acusação contra Dilma e a diretoria da empresa. "Ele está parecendo buscapé, atirando para todo lado", emendou esse interlocutor.

Em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, Sauer disse que o governo de coalizão do ex-presidente Lula permitiu que grupos de parlamentares se reunissem com dirigentes da estatal para obter "ajuda" e acusou a presidente Dilma Rousseff de "procurar um culpado sempre que aparece um problema".

O ex-diretor classificou de "piada" o argumento Dilma de que aprovou a aquisição da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), quando presidia o conselho de administração da Petrobrás, com base em um resumo executivo falho, conforme afirmado ao Estado em março.

No governo, assessores palacianos lembram que atacar a presidente é uma forma de Sauer se livrar das acusações que pesam contra ele. Auxiliares de Dilma também não acreditam que esse tipo de ataque possa atingir a imagem da petista, ainda mais que outros diretores concordaram que o resumo preparado para a diretoria da Petrobrás para a aprovação de Pasadena foi, de fato, falho e omisso em vários pontos.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República não se pronunciou.

CPI. No Congresso, o líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), defendeu a aprovação imediata de convocação, na CPI Mista da Petrobrás, do ex-diretor de Gás e Energia da estatal. "A entrevista de Ildo Sauer reforça o que já alertávamos na CPMI. O governo do PT aparelhou a maior empresa brasileira para que ela pudesse servir aos interesses escusos do PT e de seus aliados. Não é à toa que a empresa sofreu enormes prejuízos e perdeu 50% de seu valor de mercado desde 2010. O depoimento dele na CPMI é fundamental para que possamos esmiuçar os bastidores da interferência política dentro da Petrobrás", disse o líder do PPS, em nota, ao classificar como graves as acusações dele.

Governabilidade é essencial

• Para analistas, crítica de Dilma a Marina é legítima, mas ressaltam que presidente não é melhor exemplo de comando de coalizão

Julianna Granjeia e Germano Oliveira – O Globo

SÃO PAULO - Analistas políticos apontam que a presidente Dilma Rousseff tem legitimidade para questionar a governabilidade da candidata Marina Silva (PSB). Porém, afirmam que seu governo, diante de problemas enfrentados na relação com diferentes partidos, não pode ser considerado um exemplo de boa coalizão.

- Não acredito que o futuro presidente tentará governar sem apoio da maioria no Congresso, isso nós sabemos que não dá certo. Agora, Dilma falando da falta de habilidade de Marina é o roto falando do esfarrapado - afirma Rubens Figueiredo, do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação (Cepac).

O sociólogo membro do Observatório Internacional da Democracia Participativa Rudá Ricci lembra que Dilma teve tanta dificuldade no início de sua gestão que precisou contar com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

- A presidente teve muita dificuldade em manter a bancada, até por isso tem legitimidade para falar disso. Se consultar o segundo ano de governo dela, a Dilma distribuiu mais dinheiro para o DEM do que para o PDT, que é da base dela. Tem havido essa distribuição de verba numa inabilidade da Dilma de fazer política porque ela é muito gerentona. Até o Lula apagar incêndios e sair um acordo com o PMDB, tiveram várias ameaças.

Efeito bumerangue
Ricci afirma ainda que Dilma, ao criticar a falta de governabilidade de Marina, acaba apontando falhas na sua própria gestão.

- Muitos dos ataques que a Dilma faz à Marina são como bumerangue e se voltam pra ela. O Collor, por exemplo, apoia o governo dela e ela o está atacando. Não diria que Marina teria muito mais dificuldade do que a Dilma. Um bom político não é exatamente bom gestor, ele tem que ser muito hábil. Gestor que grita demais, como a Dilma, demonstra pouco poder.

Carlos Melo, cientista político do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), diz que, apesar da renovação natural do Congresso, sua composição não deverá ser muito alterada com a próxima eleição. Com isso, Marina, se eleita, deverá mostrar uma habilidade política que Dilma não mostrou.

- A questão é como Marina vai construir a governabilidade. Ela tem afirmado que pretende construir sua base de forma diferente. Ela precisa dizer como, isso não está claro no discurso dela, que é muito vago.

Para Fernando Abrucio, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a questão também não é de ter experiência para governar.

- Dilma também não tinha. Falar que Marina não tem experiência é só uma suposição, porque ela ainda não está no governo. O que é importante é montar uma base de governo com os partidos e não só com os bons, como diz Marina. Levar Eduardo Suplicy e José Serra para o governo não quer dizer que terá o PT e o PSDB com ela - disse Abrúcio.

José Álvaro Moisés: Os paradoxos não resolvidos da campanha eleitoral

- O Estado de S. Paulo

As tentativas de desconstrução da candidatura de Marina da Silva é algo até certo ponto normal. Campanhas eleitorais têm sempre a função de mostrar diferenças entre os candidatos, comparar vícios, virtudes, desempenhos e propostas. O esforço é para os candidatos se apresentarem ao eleitor e, ao mesmo tempo, se distinguirem uns dos outros. Contudo, no caso da atual campanha é notório que quanto mais batem em Marina – algo que o PT e Dilma Rousseff estão fazendo de forma desonesta, intolerante e às vezes brutal – mais ela se consolida e cresce na opinião dos eleitores. Sem deixar de responder aos ataques, Marina rebate mostrando que, em realidade, os verdadeiros problemas estão do outro lado, quer dizer, do lado de quem se revela incapaz de reconhecer erros e apontar caminhos confiáveis para o país, como Dilma.

A nova pesquisa do IBOPE consolidou o crescimento de Marina. Os resultados confirmam a possibilidade de ela vencer as eleições, senão no primeiro, no segundo turno. Isso tem várias implicações, mas a primeira, embora não seja a mais importante, indica que a tradicional polarização PT X PSDB pode ter perdido sentido para os eleitores – ao menos nessas eleições – e que, para além dessas alternativas, o cenário político brasileiro conta com um novo polo, aquele que associa a posição de uma esquerda moderada, comprometida com a estabilidade econômica e com o aprofundamento das políticas sociais, às teses do desenvolvimento sustentável. Não é pouca coisa, isso coloca os eleitores brasileiros, e toda a sociedade, em face de uma nova leitura dos principais desafios estratégicos enfrentados pelo país na atual conjuntura nacional e internacional.

O fato é que, depois do acidente que vitimou Eduardo Campos, a campanha presidencial foi invadida por um novo fenômeno político. Esse fenômeno, representado ou vocalizado por Marina Silva, diz respeito ao mal estar que acomete a democracia brasileira há anos e que desde junho do ano passado passou a ocupar as ruas das principais cidades do país. O mal estar tem dois lados: por uma parte, diz respeito à frustração com o governo do PT, incapaz de manter o crescimento econômico, a modernização social e a melhoria dos costumes e métodos políticos, aí incluídas a eficiência e a competência da gestão de políticas de segurança, educação e saúde públicas. Por outra, se refere à crise da representação e, em especial, ao sentimento de amplos segmentos sociais de que, para além da corrupção que atinge todas as esferas da vida pública, seus interesses e problemas não são levados na devida consideração pelos partidos políticos e pelo Congresso Nacional. Isso pode ser devido a déficits de informação e de cognição, mas as taxas de desconfiança quanto aos partidos e o parlamento são muito altas e crescentes no país, colocando em questão a legitimidade dessas instituições – algo que as pesquisas que tenho conduzido nas últimas décadas comprovaram.

Um dos aspectos mais interessantes – e paradoxais – dessa situação é que o mal estar da política está sendo canalizado por um movimento que é quase um outsider do sistema político brasileiro. Marina, embora tendo o PSB como coadjuvante, não tem, contudo, um partido próprio por trás de si; mas diferente de outras lideranças ou partidos políticos, ela tem sido capaz de dialogar com os protestos que deram voz às avaliações negativas da política e que galvanizam milhões de brasileiros. Como mostraram pesquisas recentes, mais de 70% de entrevistados declaram desejar mudanças na política, nos seus rumos e nos seus procedimentos; ou seja, como diria Norberto Bobbio, a questão não é apenas quem governa, mas como se governa. Até recentemente, no entanto, nenhum partido ou liderança política tinham sido capazes de se conectar com esse sentimento de frustração com os rumos da política, e menos ainda de oferecer uma saída construtiva para o impasse. As tentativas de Dilma Rousseff nesse sentido foram desastrosas, e Aécio, do PSDB, apesar de defender uma gestão moderna, até agora não disse nada de efetivo que o ligasse com os sentimentos de perda e frustração de milhões de eleitores com os rumos da política; andou bem em garantir a continuidade das políticas sociais, mas sobre o modo de fazer política, o papel dos partidos e o enfrentamento da corrupção – que também atingiu o seu partido – não disse sequer uma palavra; isso talvez explique porque, desde o início de agosto, ao invés de crescerem, seus índices de apoio eleitoral só fazem diminuir.

Isso remete a outro paradoxo da atual situação. Em certo sentido, o fenômeno que está assolando a campanha de 2014 é uma espécie de indicador da crise do sistema partidário brasileiro. O que isso quer dizer? Quer dizer que, em que pese o fato de os partidos continuarem atuando no Congresso Nacional – ou seja, na chamada arena decisória -, na hora de sinalizarem rumos para a sociedade padecem de sentido, perdem a eficácia ou emudecem; é sinal de um semi-colapso. Senão, como explicar que tanto o PT, depois de 12 anos na direção do Estado, e o PSDB, com sua experiência no governo federal e em vários governos estaduais importantes, não consigam reagrupar os seus apoiadores para continuarem ou voltarem ao governo? O que explica que não consigam mais mobilizar as suas bases tradicionais de apoio, nem serem capazes de motivar novos segmentos do eleitorado? Isso sem falar do PMDB que, apesar de sempre encontrar meios para se aliar a qualquer governo que se forme, demonstra pouca ou nenhuma vocação para influir na disputa pelo principal cargo majoritário do país.

A crise do sistema partidário pode ser vista por diversos ângulos, mas aqui importa chamar a atenção para a sua incapacidade de operar eficazmente na chamada arena societária, ou seja, para o significado que eles têm para a função de representação política da sociedade. A democracia representativa só funciona bem – e com qualidade – quando os partidos significam, para os eleitores, algo mais do que a simples luta pelo poder e sua permanência nele; em última análise, se não representarem atalhos adequados para as difíceis escolhas dos eleitores sobre as políticas públicas, isso significa que os cidadãos têm pouca ou nenhuma importância no funcionamento da democracia. O risco dos partidos que perdem conexão com a sociedade é de se transformarem em facções fechadas ou oligarquias desvinculadas dos interesses públicos e, assim, rebaixarem a qualidade da democracia.

Uma terceira observação sobre o quadro político também é necessária. Em certo sentido, o atual cenário eleitoral desenha outro paradoxo de difícil solução. Marina e a avalanche de apoios que está recebendo sinalizam claramente a necessidade e o desejo da sociedade por mudanças na política brasileira – e um estrategista do mundo dos negócios já disse que, por isso, talvez ela seja “o nosso Obama”, ou seja, a alternativa que defende, apesar de tudo, que “yes, we can”, isto é, que podemos mudar o nosso modo de fazer política e podemos melhorar a qualidade da nossa democracia. Isto, por um lado, tem a capacidade de sugerir a possibilidade de um novo começo, o que não é pouco em situações que envolvem a descrença e a desesperança de muitos. O problema, contudo, é que isso é insuficiente para assegurar que déficits e distorções institucionais e de comportamento que afetam a democracia brasileira serão enfrentados a partir de 2015.

Mudanças na governança e mesmo nas orientações quanto a políticas estratégicas – como a retomada do crescimento econômico e o aprofundamento das políticas sociais – sempre são possíveis se forem adotadas logo de partida e se o novo governo for capaz de negociar os apoios necessários à sua aprovação. Ao contrário dos ataques que tem recebido, Marina tem indicado que deseja adotar uma perspectiva ampla, capaz de convocar a participação dos melhores quadros de vários partidos.

Embora não vá ser uma negociação fácil, se vier a ocorrer, isso não é impossível, em especial, se a nova liderança política for capaz de conduzir os entendimentos em torno de objetivos claros, transparentes e que tenham amplo apoio da opinião pública. Riscos como os representados pela experiência Collor são menores agora porque todos aprenderam com as lições do passado, e Marina não parece ser alguém que repete erros de mais de 20 anos atrás, seus olhos estão voltados para frente.

Outra coisa, no entanto, é a efetiva concretização da chamada nova política. Por tudo que se viu nos debates – e nos protestos de 2013 -, isso não diz respeito apenas à necessária mudança de comportamento das lideranças. Claro, novas atitudes são indispensáveis e alguns aspectos ficaram evidentes no curso desta campanha: a necessidade de os líderes não mentirem e falarem claramente sobre os problemas do país, de reconhecerem seus erros e se responsabilizarem por eles, e de o país enfrentar – como lembrou Eduardo Jorge – os temas espinhosos que, permanecendo em silêncio, continuam a vitimizar milhares de pessoas: o aborto sem assistência, a realidade das prisões, a violência doméstica contra crianças e mulheres, os assassinatos e agressões contra homossexuais e outras minorias.

Uma nova política, no entanto, é muito mais do que isso, e deve envolver mudanças substanciais no funcionamento das instituições e no modo como as decisões relevantes são tomadas no país. Aqui entramos em um território diferente, que foi tocado apenas de leve nos debates, mesmo por Marina: diz respeito a como aumentar a participação dos cidadãos, a como dar-lhes mais poder na democracia e a como melhorar tanto as instituições de representação como a justiça. A pauta é ampla e complexa e não se resumem ao mero enunciado de que as decisões de políticas públicas devem ser submetidas a controle social. As propostas têm de responder às distorções do financiamento de campanhas eleitorais, à distância que existe entre representados e representantes, às necessárias mudanças no sistema de representação proporcional, à dificuldade de acesso à justiça pelas pessoas comuns, à assimetria das relações entre Executivo e Legislativo, e assim por diante – mas nada disso entrou, de fato, no debate dos candidatos.

Dilma Rousseff, embora tenha retomado a tese do plebiscito para fazer a reforma política, pouco disse sobre o conteúdo da reforma que proporia caso seja reeleita. Aécio, diferente dos demais, quase não se referiu à necessidade da reforma política, a não ser no que se refere ao fim do instituto da reeleição, e nem mesmo sobre o tema da corrupção indicou, por exemplo, como enfrentaria a questão da impunidade, caso eleito. Marina foi quem mais avançou no tema das mudanças, mas mesmo assim a sua defesa da nova política não é suficiente para esclarecer o impulso que ela daria à reforma das instituições democráticas. Além dos conselhos criados pela Constituição de 1988, dos referendos e plebiscitos, como melhorar a participação dos cidadãos e a sua representação política? Como aumentar a presença das mulheres e outros outsiders nos parlamentos? O voto distrital, majoritário ou misto, entrará na pauta? A cláusula de barreira para o funcionamento dos partidos será retomada?
E no caso dos partidos políticos, muitas vezes dominados por oligarquias, haverá alguma preocupação com a sua necessária democratização interna? O país deveria adotar o sistema de primárias para aumentar a influência dos eleitores nas disputas eleitorais?

Todas essas questões permanecem sem esclarecimento ou debate, na atual campanha eleitoral, apesar de que um de seus impulsos mais importantes esteja sendo, precisamente, a defesa da necessidade de o país fazer mudanças na vida política. Ainda há tempo para que esses paradoxos sejam enfrentados, mas não está inteiramente claro quem vai assumir, de fato, a missão de esclarecer melhor a sociedade sobre tudo isso e que liderará o país na direção das mudanças.

José Álvaro Moisés, cientista político e professor da USP

Merval Pereira: A resiliência de Dilma

- O Globo

Enfim, uma série de notícias boas para a presidente Dilma, apesar de as pesquisas continuarem mostrando uma tendência de que seja derrotada no 2º turno por Marina. Até mesmo nesse caso, porém, a distância dela para sua principal competidora está sendo reduzida, uma consequência da melhora da avaliação de seu governo.

As pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas ontem mostram um movimento ascendente da candidata à reeleição, mesmo que leve, e no mínimo uma paralisação do crescimento de Marina, que todos os indícios levavam a crer que continuaria seu movimento ascensional, tendo crescido no Rio e em São Paulo nos últimos dias.

O resultado dá novo fôlego para a campanha de Dilma e mostra que, a esta altura da corrida presidencial, uma desconstrução de Marina não beneficiará o candidato do PSDB Aécio Neves, que não dá mostras de poder se recuperar. O PSDB não construiu um discurso conectado com os anseios das ruas, embora possa oferecer um projeto mais consistente aos descontentes.

Tudo indica que a propaganda mais agressiva da campanha oficial está tendo resultado, colocando uma dúvida na cabeça de parte do eleitorado sobre as condições de Marina exercer a Presidência da República, seja pela inexperiência ou pela falta de apoio político. É uma situação paradoxal, porque já está comprovado que apoio político como o que tem Dilma não lhe garantiu condições de governar bem.

O eleitor que fica em dúvida sobre Marina busca em Dilma segurança que ela não pode oferecer, ao passo que Aécio, que tem sem dúvida experiência exitosa no governo de Minas, não consegue atrair para sua candidatura os eleitores que querem tirar o PT do governo.

Tudo indica que a previsão do ex-presidente Lula se realizará: teremos o segundo turno mais longo das últimas eleições. Uma melhora contínua da avaliação de seu governo está sendo obtida por meio da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, atingindo uma taxa de 36% de ótimo/bom, que equivale aos índices de votação que recebe nos dois institutos: 37% no Ibope e 35% no Datafolha.

O eleitor petista é mais firme do que o dos seus adversários: segundo o Ibope, 61% dos que votarão em Dilma se dizem decididos em definitivo; já nos de Marina, essa convicção é de 50%, e, nos de Aécio, 46%. Em ambas as pesquisas, a diferença no 2º turno de Marina para Dilma está em sete pontos percentuais, o que mostra redução da distância entre as adversárias, mais um dado da recuperação de Dilma.

As menções a Marina crescem mais na Região Sul (de 27% para 40%), onde apresenta seu melhor desempenho. Entre eleitores cuja renda familiar é maior que 5 salários mínimos, o crescimento das intenções de voto em Marina (de 28% para 37%) é acompanhado pela queda das menções a Aécio (de 32% para 24%). A preferência por Dilma aumenta nos municípios de periferia, indo de 29% para 38%.

Também no Nordeste a diferença a favor de Dilma vem caindo, com a presidente marcando em média 45% das intenções de voto, quando já teve um piso maior, de cerca de 60%. Marina aparece com uma votação homogênea na região, em torno de 30% dos votos, o que obriga a presidente Dilma a melhorar sua atuação em outras regiões do país.

Dos poucos números ruins para a presidente é a expectativa de vitória entre os eleitores, independentemente de suas intenções de voto. Menos da metade (47%) hoje considera que ela será a vencedora, índice que já foi de quase 60%. Mesmo assim, os que creem em uma vitória de Marina, embora tenham crescido de 17% para 28%, ainda não representam a maioria, o que demonstra que a "onda Marina" ainda não convenceu.

Até mesmo a rejeição à presidente caiu, segundo o Ibope, embora ela continue tendo a taxa mais alta: já foi de 36%, agora é de 31%. O que ficou demonstrado nestas últimas pesquisas é que a candidatura de Dilma, apesar do sentimento de mudança que domina o eleitorado e dos resultados pífios de seu governo, continua tendo uma resiliência marcante, que se deve à estrutura partidária que a apoia.

Não é por acaso que também ela já admite mudanças num eventual segundo governo. É graças a sua máquina partidária, que representa o que há de mais distorcido no sistema de coalizão brasileiro, que a presidente está resistindo ao ataque da "nova política", que se apresenta ainda como favorita no segundo turno - apesar de todas as contradições e fragilidades de Marina Silva.

Dora Kramer: Motor acelerado

• Movimento das pesquisas sinaliza desejo de decidir eleição no primeiro turno

- O Estado de S. Paulo

Para cima e para baixo os índices das intenções de votos captados pelas pesquisas estão se mexendo com rapidez. O aumento do ritmo não se deve à influência do horário eleitoral.
Políticos e especialistas na análise desse tipo de consulta popular concordam num ponto: o sentimento de rejeição à presidente Dilma Rousseff, o desgaste do PT e o desejo de mudança encontraram em Marina Silva um canal de expressão e por meio dele sinalizam o desejo de encerrar o jogo no primeiro tempo.

O apressado, como se sabe, corre o risco de comer cru e quente. Mas vontade é coisa difícil de segurar. Orienta-se pelo emocional. Não passa pelo rigor do crivo intelectual. As palavras ditas não precisam ter alcance muito profundo. Basta que façam algum sentido aos ouvidos do senso comum.
Mal comparando, algo como a "quase-lógica" muito bem detectada pela cientista política Luciana Veiga nos discursos do então presidente Lula logo nos primeiros momentos de governo. Por esse critério, a comunicação não precisa ter compromisso com a exatidão nem com a lógica formal. Convence porque é verossímil.

E pelo que estamos vendo no movimento do eleitorado, uma quantidade considerável de brasileiros vê em Marina Silva uma saída perfeitamente viável para consertar "tudo isso que está aí". Assim é porque lhe parece ser, conclui o eleitor.

Aécio Neves, com toda substância programática, equipe experiente, cancha de governo, respaldo político e empresarial não desperta esse sentimento. Representa a alternativa lógica, mas pelo visto as pessoas necessitam de fascínio. O real é combatente frágil ante a força do imaginário.

De onde analistas de pesquisas e políticos não estão enxergando espaço para mudanças no cenário. Ressalvada a ocorrência de algo grave que atinja Marina na pessoa física ou jurídica, como diz o cientista político Antonio Lavareda, e mantida a tendência paulatina de subida nas pesquisas ao ponto de abrir uma dianteira de 13 pontos em relação a Dilma, uma decisão em primeiro turno "pode ser fortemente cogitada".

É uma impressão que já faz parte das conversas de bastidores em todas as campanhas. Justamente pelo fato de o eleitorado ter visto em Marina a possibilidade concreta de derrotar a presidente e o PT, hipótese que o eleitor não identificava tão firmemente em Aécio Neves.

Muito bem, mas se a rejeição ao PT e a Dilma é tão grande, por que ela está em segundo lugar e não em terceiro? Duas explicações. Saulo Queiróz, secretário-geral do PSD e leitor arguto de pesquisas, aponta que a presidente tem percepção positiva nas regiões Norte e Nordeste, onde se concentra um terço do eleitorado. "É o que segura, porque o mau humor se espalha pelo Sul, Sudeste e Centro-Oeste."

Lavareda também parte dessa base nítida de apoio social e acrescenta o volume de propaganda do governo. Mas, atribui esse patamar, sobretudo, ao "lulismo". É a sustentação do ex-presidente quem garante hoje à presidente a vaga no segundo turno.

O grande problema para ela é justamente a vantagem de Marina: o índice de rejeição. Supondo que a pressa sinalizada pelo eleitorado não se consolide e haja uma segunda etapa, esse fator torna quase impossível uma virada na final.

A menos que Dilma conseguisse tirar a diferença de mais de 20 pontos porcentuais que a separam de Marina no quesito "não voto de jeito nenhum".

Bateu mal. Um petista candidato a governo de Estado esteve com Lula e não ouviu boa avaliação sobre a comparação que a campanha de Dilma fez de Marina com Collor.
Segundo relato, considerou o ataque pueril e de fácil rebate. "É só dizer que Collor não caiu por falta de apoio no Congresso, caiu por corrupção".