Cientista político americano diz que Lula deveria ter feitos acenos a empresariado no 1º turno
Por Alex Ribeiro / Valor Econômico
SÃO PAULO - O professor da Universidade de
Harvard Steven Levitsky diz que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
precisa fazer acenos à classe média e ao setor privado, com maior detalhamento
de sua agenda econômica, para ampliar o apoio no segundo turno das eleições.
“Penso que o Lula foi excessivamente
confiante no primeiro turno, presumindo que iria vencer com uma vantagem maior
do que ele venceu”, afirma em entrevista ao Valor Levitsky, coautor do
livro “Como as Democracias Morrem”, com Daniel Ziblatt, que identificou o novo
padrão usado pelos autocratas para subverter os regimes democráticos.
“Sem dúvida, [Lula] precisa de acenos para
obter o apoio da classe média e do empresariado de que ele precisa para vencer
a eleição e para governar”, afirma. “Ele deveria ter feito todas essas coisas
no primeiro turno.”
Já na eleição de 2018 Levistsky disse que
Jair Bolsonaro é uma ameaça à democracia e, agora, ele vem sustentando que um
novo mandato permitirá ao presidente ganhar o controle sobre instituições como
o Supremo Tribunal Federal (STF). “Acho que a democracia brasileira é robusta
para sobreviver a isso que passou”, afirma ele. “Mas, oito anos, não sei. Acho
que o Brasil pode perder a democracia.”
Alguns empresários e setores da Faria Lima
vêm citando receios de retrocessos na agenda econômica, como o risco da volta
do populismo, para não apoiar Lula. Levitsky acha que o petista, caso seja
eleito, vai pegar uma situação econômica difícil. Mas, pondera, é “experiente e
pragmático” e deverá responder à crise da mesma forma como fez de 2003 a 2010,
“com responsabilidade na área macroeconômica”.
Ainda assim, diz, considera “legítimo” que
o setor privado tenha desconfiança sobre a futura agenda de Lula, depois da
crise ocorrida no governo Dilma Rousseff - por isso a necessidade de dar
garantias de responsabilidade macroeconômica para o eleitorado.
Corrupção é outro tema que Lula deveria
assumir mais compromissos. “É muito importante, se o PT quiser se manter como
um dos mais importantes partidos políticos, fazer uma autocrítica e se renovar,
desenvolvendo compromissos públicos e críveis para combater a corrupção”,
afirma. “Não os vi fazendo isso.”
Levitsky considera uma “desonestidade”
afirmar que Lula se assemelha a Bolsonaro na falta de credenciais democráticas,
porque o partido defende a regulação da mídia ou porque o ex-presidente ensaiou
deportar um jornalista estrangeiro.
“Não sei como essas pessoas defendem esses
argumentos, se você olhar o que aconteceu de 2003 a 2010”, afirma. “Não existe
um cientista político na Terra que acha que o Lula é comparável ao Bolsonaro.”
A seguir, os principais trechos da entrevista.