segunda-feira, 23 de junho de 2014

Opinião do dia: Luiz Werneck Vianna

Nessas condições, a ativação do "grande número", a que se assiste desde junho do ano passado e, ao que parece, não vai recuar nem mesmo diante da Copa do Mundo, tem encontrado à sua frente um terreno político desertificado. Nada a surpreender quanto à sua descrença na política e à selvageria de muitas de suas manifestações, fato que o governo do PT reconhece agora, de modo tardio, atabalhoado e, como sempre, vertical, com a criação por decreto dos conselhos populares de participação na administração pública.

Seja lá o que o destino reserva a essa iniciativa discricionária, que não nos chega em momento propício, já está na hora de fazer ouvidos moucos aos ideólogos do economicismo, confessos ou encapuzados, que confundem o consumidor com o cidadão e a política com o cálculo eleitoral.

Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador da PUC-Rio. No artigo “O 'grande número' e a política”, O Estado de S. Paulo, 22 de junho de 2014

Abreu e Lima: Petrobras já sabia que projeto era inviável em 2009

• Diretoria recebeu avaliação técnica há cinco anos que apontava falta de ‘atratividade econômica’ da refinaria

José Casado, Danielle Nogueira e Vinicius Sassine - O Globo

BRASÍLIA e RIO — Desde 2009, a Petrobras sabia que o projeto da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, era economicamente inviável. A diretoria executiva da empresa recebeu um claro alerta, por escrito, na segunda quinzena de novembro daquele ano: “Sob a ótica empresarial, sem considerar as análises complementares, o projeto não apresenta atratividade econômica”, informaram os técnicos da estatal encarregados das análises de estratégia, desempenho empresarial, planejamento financeiro e de risco.

Conforme essa avaliação, a Petrobras não perderia dinheiro, mas também não lucraria, caso limitasse o investimento em Abreu e Lima em US$ 10,4 bilhões. Naquele ano, porém, a previsão de gastos com obras e equipamentos já estava em US$ 13,4 bilhões.

Na rotina de procedimentos da Petrobras, esse aviso técnico representaria obstáculo para a diretoria executiva avançar no empreendimento, mas as regras da “Sistemática de Aprovação de Projetos” da estatal vinham sendo contornadas desde 2007, quando foram realizadas contratações por convite sem um projeto básico aprovado.

Artifícios para montar outro cenário
Sob o comando de José Sergio Gabrielli, a diretoria da estatal precisava formalizar a execução do plano de obras — a “fase quatro”, na nomenclatura interna. Por isso, ao alerta foram anexadas “análises complementares”. Nelas, recorria-se a uma série de artifícios para montagem de um cenário de sinal invertido, no qual Abreu e Lima emergia como um projeto economicamente viável.

O problema estava no indicador de viabilidade, o “Valor Presente Líquido” (VPL). Ele mostra se um projeto é viável: VPL negativo sinaliza perda; positivo é lucro; e nulo significa que o investimento não vai dar prejuízo, mas também não será rentável. No caso de Abreu e Lima, concluíram os técnicos, “o valor de investimento que torna o VPL nulo é de US$ 10,4 bilhões”. Como os gastos já estavam 30% acima desse teto, restava mudar o resultado da equação.

Imaginou-se ajuda extra do governo federal, com incentivos de US$ 1,2 bilhão por ano — além de US$ 4,2 bilhões em empréstimos baratos do BNDES.

Em seguida, considerou-se no cálculo o valor da “perda potencial” de mercado. Ou seja, quanto a Petrobras poderia vir a perder em receita, caso um concorrente qualquer decidisse refinar petróleo no Nordeste. O dano potencial foi estimado em US$ 722 milhões.

Por fim, incluiu-se na tabulação o conceito contábil de perpetuidade. O documento levado à diretoria explica: “Significa, em outras palavras, dizer que o negócio não terá fim, ou, ainda, operará até o ‘infinito’. Em termos práticos, significa estender indefinidamente o fluxo de caixa do projeto além dos 25 anos considerado tradicionalmente nas avaliações do refino”.

No papel, Abreu e Lima começava a virar uma refinaria em funcionamento pela eternidade, imutável na tecnologia e inesgotável como fonte de receita.

Só assim o bilionário investimento em Pernambuco poderia vir a ser considerado economicamente viável. A conta ficou positiva em US$ 76 milhões de “Valor Presente Líquido”. Isso representaria 0,4% de lucro em um empreendimento que há 11 anos foi orçado em US$ 2,3 bilhões, consumiu US$ 18,5 bilhões até abril passado e pode chegar a US$ 20,1 bilhões na inauguração, segundo projeções da estatal.

Embora irreal, o cenário positivo era o que a diretoria precisava para formalizar a execução do plano de construir a refinaria — a “fase quatro”, no jargão interno. A aprovação aconteceu numa quarta-feira, 25 de novembro de 2009.

“A construção da refinaria estava prevista no Plano de Negócios 2007-2011”, argumentou a Petrobras em nota, na última sexta-feira. Acrescentou: “Em 2009, na aprovação da Fase 3 (etapa Projeto Básico), e consequente autorização para construção da refinaria Abreu e Lima, foram realizadas análises de sensibilidade e avaliação empresarial que apontaram para atratividade econômica positiva. A refinaria Abreu e Lima incrementa o resultado operacional da Petrobras através da ampliação da capacidade de refino para atender o crescimento da demanda de derivados e da redução da importação de derivados. Com seu sistema flexível de processamento, baseado em dois trens de refino, a refinaria pode receber tanto cargas de petróleo pesado nacional de menor valor, quanto cargas de petróleo mais leve, liberando as demais unidades do parque de refino para processar outros tipos de petróleo mais convenientes e atrativos”.

Custo de US$ 87 mil por barril
Abreu e Lima se tornou um dos mais caros projetos da indústria mundial de petróleo: vai gastar US$ 87 mil por cada barril de petróleo que refinar, mais que o dobro da média internacional. A escalada de aumento de custos (mais de 770%, em dólares) motiva múltiplas investigações, dentro e fora do país.

Semana passada, o gerente de Engenharia de Custos da Petrobras, Alexandre Rabello, prestou depoimento em uma das comissões parlamentares de inquérito. Pediram-lhe para explicar as razões de o custo ter aumentado nove vezes a partir de uma “conta de padeiro”, como definiu o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, preso sob suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.

O chefe de Engenharia de Custos foi lacônico: “Não participamos de todas as fases do projeto. A única coisa que eu sei é que foi um processo que levou cerca de nove meses, se não me engano, pelo que tenho visto aí nos outros depoimentos”.

Collor e Renan formam aliança em Alagoas para combater chapa de Teotônio Vilela

• Briga política da atualidade contra tucano une antigos inimigos dos tempos de PC Farias, há 24 anos

Chico de Gois – O Globo

MACEIÓ — Em 1990, inconformado com a derrota para o governo de Alagoas, Renan Calheiros trouxe à tona um nome até então desconhecido da maioria da população: Paulo Cesar Farias. Renan estava irritado com Fernando Collor de Mello, então presidente da República, porque, em sua opinião, Collor, por meio de PC Farias, havia privilegiado a candidatura de Geraldo Bulhões ao governo, em detrimento da de Renan. Derrotado nas urnas, Renan, então líder de Collor na Câmara, abandonou o cargo e acusou PC de fazer um governo paralelo. O resto da história é de conhecimento nacional: Collor acabou sofrendo impeachment, no qual Renan Calheiros foi um dos principais articuladores, e o então deputado só fez aumentar sua influência nos governos, chegando a ser ministro da Justiça de Fernando Henrique e presidente do Senado em duas ocasiões.

Desde aquela época, Renan e Collor situaram-se em lados opostos em Alagoas. Em 2010, Collor tentou voltar a ser governador, mas Renan apoiou Ronaldo Lessa (PDT), que perdeu para Teotônio Vilela (PSDB). Este ano, porém, as arengas viraram coisa da história. Renan não é candidato, mas seu filho e herdeiro político, sim. O deputado federal Renan Filho (PMDB) concorre ao governo numa chapa que tem Collor como senador. Os dois, mais o ex-governador Ronaldo Lessa e 11 partidos, formaram uma aliança que denominaram Frente de Oposição ao grupo de Teotônio. O PT faz parte do bloco. A família Calheiros agora é toda elogios a Collor.

— Entendemos que, neste momento, ele (Collor) é o melhor para Alagoas — disse Renan Filho, para continuar nos afagos: — Alagoas reconhece que Collor tem feito um bom trabalho em Brasília.

Renan Filho reconhece que, desde 1990, as duas famílias não se relacionavam. Mas em 2012, nas eleições para a prefeitura de Maceió, os dois grupos estiveram do mesmo lado, ao apoiar Lessa.

Foi a praticidade política que juntou este ano Collor e Renan Filho. O senador não conseguiu reunir partidos que lhe dessem apoio para o governo e sabia que dificilmente conseguiria vencer o pleito. Decidiu disputar o Senado, mas sabia que precisava de apoio. Renan Filho também necessitava de aliança forte. E o PTB de Collor é um dos partidos que têm bom tempo de TV. Daí fluiu para a aliança.

Collor: “estamos com o mesmo propósito”
Collor não dá entrevista para a mídia nacional. Em seu site, postou um texto: “Todos estamos com o mesmo propósito: unir forças para resgatar Alagoas desse caos que se observa na Saúde, na Educação, na Segurança e em todas as áreas. O povo deseja mudanças reais, que tragam os ideais de uma nova geração que tem a gana de ver seu estado melhor.”

Renan procura colar na imagem da candidatura do filho e na de Collor a ideia de novidade. Renan Filho tem dito que, embora seja filho de um político tradicional do estado, representa a renovação.

— É natural o filho de um político seguir os caminhos do pai, como acontece em outras profissões.

Renan Calheiros era o nome preferido pelo governo para dar sustentação à campanha da presidente Dilma no estado governado pelo tucano Teotônio Vilela, mas ele declinou. Renan acha importante continuar no Senado, onde tem um poder como poucos. Além disso, considera importante aumentar a influência da família no estado.

Teotônio ficou isolado. Lançou para suceder a ele seu secretário de Ação Social, o ex-procurador Eduardo Tavares, prontamente apelidado pela oposição de ET. Mas o governador acha que a alcunha pode cair no gosto popular:

— O ET está em sintonia com o desejo das pessoas, de ter um jeito novo de fazer política — disse.

DEM entra na chapa de Pezão e fortalece Aécio no Rio de Janeiro

• Ex-prefeito Cesar Maia desiste de candidatura ao governo e vai disputar Senado na chapa do PMDB fluminense, que apoia tucano

Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

RIO – Em resposta à aliança do PSB com o PT no Rio, que fortaleceu a candidatura do senador petista Lindbergh Farias ao governo do Estado, o PMDB fluminense atraiu para a chapa à reeleição do governador Luiz Fernando Pezão o ex-prefeito Cesar Maia, do DEM, que deve ser anunciado nesta segunda-feira, 23, candidato a senador. Para viabilizar a coligação, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) abrirá mão da disputa pela vaga única no Senado.

Com a inclusão de Cesar Maia, o candidato do PSDB a presidente, Aécio Neves, ganhou um aliado na chapa majoritária do PMDB e fortaleceu sua candidatura no terceiro colégio eleitoral do País, com 12 milhões de votantes. Embora ala expressiva do PMDB tivesse lançado a chapa Aezão (Aécio e Pezão), Pezão e Cabral prometem apoio à reeleição da presidente Dilma Roussseff.

Como pré-candidato a governador pelo DEM, partido aliado de Aécio no plano nacional, Cesar Maia vinha negando categoricamente a proposta de Aécio para que desistisse da disputa e se aliasse ao PMDB. No entanto, segundo aliados do ex-prefeito, a oferta para disputar o Senado mudou o cenário e possibilitou a entrada do DEM na aliança de Pezão, que já soma 16 partidos.

Também hoje o PSDB deverá anunciar a entrada formal na coligação com o PMDB. A convenção estadual do partido, realizada ontem, aprovou apenas a coligação proporcional com o PPS e deixou a decisão sobre apoio a governador para a executiva estadual.

A costura para a ampliação da aliança com o PSDB e o DEM, principais partidos de oposição a Cabral e Pezão até ontem, foi feita entre a noite de sábado, 21, e a tarde de domingo, 22, e envolveu Aécio, Maia e o presidente do PMDB-RJ, Jorge Picciani, líder da dissidência peemedebista. Os aliados concordaram que era preciso uma ofensiva de reagisse à aliança do PT com o PSB e fortalecesse o movimento "Aezão".

Nesse novo desenho, Dilma terá de dividir palanques no Rio com dois adversários na disputa presidencial. De um lado, o PSB do pré-candidato a presidente Eduardo Campos ganhou espaço importante com a candidatura do ex-jogador e deputado Romário ao Senado, na chapa de Lindbergh. De outro, Maia fará campanha para Aécio no palanque de Pezão.

"Nossa prioridade total e absoluta é a eleição de Aécio presidente. Goste eu ou não, a decisão do partido está voltada para o plano nacional, já que não temos candidato majoritário no Rio", disse o presidente do PSDB-RJ, deputado estadual Luiz Paulo Correa da Rocha, um dos principais opositores de Cabral e Pezão na Assembleia Legislativa.

Outra consequência do acerto com o DEM foi a desistência de Cabral da disputa pelo Senado. A hipótese já vinha sendo discutida desde a formalização da chapa PT-PSB, por causa da candidatura de Romário ao Senado, que tem grandes chances de vitória, por ser muito popular. Na tarde de sábado, Cabral havia dito, na convenção do PSD-RJ, que não abandonaria a candidatura.

Depois de deixar o governo com baixos índices de popularidade, Cabral decidiu se candidatar ao Senado, apesar das chances reais de derrota, com o argumento de que ajudaria a eleger Pezão. O ex-governador chegou a abrir mão da candidatura para o PSD, mas Picciani reagiu e Cabral voltou a ser candidato. Ainda não está definido se Cabral será candidato a deputado ou se ocupará apenas a coordenação da campanha de Pezão. A assessoria do ex-governador disse que ele "está conversando com todas as forças políticas com vistas a desdobramentos que sejam importantes no cenário da campanha da reeleição do governador Pezão".

Lindbergh e Pezão enfrentam no Rio os adversários Anthony Garotinho (PR), que ainda não anunciou quem apoiará para presidente, e Marcelo Crivella (PRB), que apoia a reeleição de Dilma.

Cesar Maia será candidato ao Senado na chapa de Pezão

• Sérgio Cabral abre mão da candidatura. Anúncio será oficializado nesta segunda-feira no Rio

Paulo Celso Pereira, Cássio Bruno e Letícia Fernandes – O Globo

BRASÍLIA e RIO - O ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) vai anunciar nesta segunda-feira que abrirá mão da candidatura ao Senado na chapa do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) para o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) ocupá-la, dando caráter formal ao movimento “Aezão“. A informação foi antecipada pelo colunista do GLOBO, Merval Pereira, em seu blog.

A articulação foi selada pelos três na manhã deste domingo junto com o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, e o presidenciável Aécio Neves (PSDB), no apartamento do tucano, na Zona Sul do Rio. Assim, a tendência é que Cabral não dispute qualquer cargo público este ano e assuma formalmente a coordenação da campanha de Pezão.

Pelo acordo, embora Pezão mantenha a posição de pessoalmente pedir votos para a presidente Dilma Rousseff, seu palanque ficará aberto para o presidenciável tucano já que a ampla maioria dos candidatos a deputado estadual e federal que integram sua base estará fazendo campanha nacional para Aécio.

Formalmente, o ex-prefeito Cesar Maia será o candidato majoritário do tucano no estado, mas a expectativa é que a formalização da aliança, que dará quase três minutos de TV a mais para Pezão, faça o "Aezão" se alastrar pelos palanques de deputados no estado. Pelas contas peemedebistas, a chapa de Pezão tem cerca de 1.400 candidatos a deputado federal e estadual que poderiam abraçar a candidatura nacional tucana.

O movimento é uma reação formal à aliança do PT com o PSB no Rio. Cabral e Pezão guardam mágoas do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, outro pré-candidato à Presidência, que durante anos aprovou a presença de seu PSB no governo estadual, mas passou a atacar a dupla no ano passado.

Lindbergh: 'essa chapa representa a velha política'
Candidato ao governo do Rio pelo PT, o senador Lindbergh Farias, adversário de Pezão, reagiu:

- A eleição caminha para uma polarização entre dois blocos: a chapa Lindbergh e Romário (deputado federal e candidato ao Senado pelo PSB), que simboliza um novo rumo, de mudanças, e a chapa Pezão e Cesar Maia, que simboliza a velha política, o continuismo e o mais do mesmo no Rio.

Romário seguiu o mesmo discurso do petista:

- A chapa Romário e Lindbergh é o novo da política. Quando a gente fala de Cabral, Pezão e Cesar Maia trata-se da política antiga. O povo carioca e fluminense têm a tendência de querer mudanças no estado.

O presidente regional do PPS, deputado estadual Comte Bittencourt, afirmou que fará uma reunião ainda neste domingo com integrantes do partido para avaliar o caso. Mas, segundo ele, a tendência é apoiar Pezão e Cesar Maia.

- É uma informação nova. Vamos avaliar este cenário. O PPS quer derrotar a presidente Dilma Rousseff. No Rio, o movimento do PSB (de apoiar Lindbergh) e a desistência do deputado Miro Teixeira de concorrer ao governo (pelo PROS) nos deixa com pouca alternativas. Eu e o deputado Luiz Paulo Correa da Rocha (presidente regional do PSDB) sempre fomos oposição ao Cabral na Assembleia Legislativa. Estamos numa encruzilhada. Agora, o "Aezão" está fortalecido e abre palanque para o campo de oposição a Dilma e ao PT. Há chances (de apoiar o PMDB). Na verdade, vamos é seguir o PSDB - declarou Comte.

O presidente do PSDB fluminense, deputado Luiz Paulo, afirmou que as conversas dos tucanos com Cesar Maia já aconteciam há muito tempo, e se disse feliz com a notícia:

- A posição do PSDB do Rio sempre sólida nessa questão: aqui faremos o que for melhor para eleger o Aécio presidente da República. Essa conversa com o Cesar Maia já se tinha há muito tempo, fico feliz com a notícia.

Aécio sela união com PMDB no Rio e divide base de Dilma

Adriano Barcelos, Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - Alianças políticas costuradas nos últimos dias obrigarão a presidente Dilma Rousseff a dividir com seus principais adversários na corrida presidencial o apoio dos dois maiores palanques montados para as eleições deste ano no terceiro maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro.

No domingo (22), o senador mineiro Aécio Neves, candidato do PSDB à Presidência da República, fechou acordo com o PMDB do Rio para entrar na chapa do governador Luiz Fernando Pezão, um eleitor declarado de Dilma, que concorre à reeleição com o apoio do PMDB.

O acordo foi fechado no apartamento de Aécio no Rio, com a presença de Pezão e seu padrinho político, o ex-governador Sérgio Cabral. O apoio do PSDB garantirá a Pezão mais tempo para fazer propaganda no rádio e na televisão e a Aécio, estrutura para fazer campanha no Rio.

O acerto deverá ser anunciado nesta segunda-feira (23) por Pezão e pelo presidente do diretório estadual do PMDB, Jorge Picciani, principal mentor da aproximação com Aécio. No início de junho, ele reuniu 1.500 pessoas num ato de apoio ao presidenciável tucano no Rio.

Com o PSDB a seu lado, Pezão ampliará de 9 minutos para cerca de 12 minutos o tempo de sua coligação em cada bloco de 25 minutos de propaganda no horário eleitoral, que começa em agosto.

O acordo com o PMDB é o segundo golpe sofrido pela base governista no Rio em poucos dias. Na sexta (20), o PSB do ex-governador Eduardo Campos, outro rival de Dilma na eleição presidencial, selou aliança com o candidato do PT ao governo estadual, o senador Lindbergh Farias.

As duas alianças enfraquecem a campanha de Dilma, reduzindo o empenho que os candidatos dos dois maiores partidos da base governista poderiam ter na campanha da presidente se não tivessem se unido a seus adversários.

Embora a cúpula do PMDB esteja comprometida com a candidatura de Dilma à reeleição, o partido se distanciou do PT em vários Estados, num sinal do desconforto que a longa parceria com os petistas causa nas bases do partido.

O acordo de Pezão com Aécio abriu espaço na chapa do PMDB para outro adversário dos petistas, o vereador e ex-prefeito César Maia (DEM), que deverá concorrer ao Senado no lugar do ex-governador Cabral, que deixou o cargo com a popularidade em baixa e agora desistiu da disputa.

Com a aliança de Campos e Lindbergh Faria, o candidato da chapa petista ao Senado será o deputado e ex-jogador de futebol Romário (PSB), que já declarou que não votará em Dilma para presidente.

Contrário à aliança do PMDB com os tucanos e defensor do alinhamento com o governo federal, mas minoritário dentro do partido, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), divulgou nota em que classificou o acordo como um "bacanal eleitoral".

"O conjunto de avanços que o Rio e a população vêm colhendo nos últimos anos é resultado de uma soma de forças políticas que têm trabalhado de maneira coerente", afirmou Paes na nota.

Ele fez referência a declaração anterior do deputado Alfredo Sirkis (PSB-RJ), que na semana passada chamou de "suruba" a aliança feita por Campos com Lindbergh. "Depois da suruba, o que se vê agora é o bacanal eleitoral, e o Rio não pode ser vítima dele", disse Paes.

Por bancadas, PSB derrota Marina e adere a tucanos e petistas em SP e RJ

Cristian Klein, Renata Batista e Guilherme Serodio – Valor Econômico

SÃO PAULO e RIO - O pragmatismo do PSB venceu os "sonháticos" e derrotou o grupo da ex-senadora e pré-candidata a vice-presidente da República Marina Silva nas convenções realizadas entre sexta-feira e sábado nos maiores colégios eleitorais do país.

De olho na eleição das bancadas de deputados estaduais e federais, o partido homologou alianças com o PSDB, para reeleger o governador Geraldo Alckmin, em São Paulo, e com o PT, para apoiar a candidatura do senador Lindbergh Farias, no Rio de Janeiro.

Em Minas Gerais, uma convenção tensa delegou a decisão sobre a candidatura ao governo estadual para a Executiva regional, que terá até o dia 30 para definir o rumo. O adiamento aumentou o racha entre os integrantes do PSB e o Rede Sustentabilidade, grupo ligado à Marina Silva que defende a candidatura própria. A delegação da decisão para a Executiva estadual foi interpretada pelo Rede como uma manobra para que o PSB apoie a candidatura do ex-ministro Pimenta da Veiga, do PSDB.

Com isso, o pré-candidato dos "marineiros", o ambientalista Apolo Heringer, retirou-se da disputa e disse que se desfiliará da legenda.

"Eu acreditei em Marina e Eduardo, acreditei que eles queriam uma terceira via em Minas. PT e PSDB compram as pessoas", afirmou Apolo, numa referência à adesão da sigla às candidaturas de Alckmin, em São Paulo, e Lindbergh Farias, no Rio.

Em outros Estados, o PSB também estará ao lado de tucanos e petistas - o que, na visão do grupo ligado à Marina, enfraquece o discurso de terceira via e a candidatura ao Planalto dela e do cabeça de chapa, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, presidente nacional do PSB, que está baseada em críticas à "velha política".

As pressões das bases do partido, no entanto, explicam a tendência ao aliancismo. Pré-candidatos a deputados estaduais e federais preferem associar suas campanhas a nomes mais competitivos na corrida a governador - ainda que de legendas adversárias na disputa presidencial - a embarcar numa uma candidatura estadual própria com pouca chance.

Em São Paulo, o presidente regional do PSB, deputado federal Márcio França, provável candidato a vice de Alckmin, afirmava ao Valor, na convenção de sexta-feira, que uma das vantagens da coligação com o PSDB é o maior tempo de propaganda eleitoral no rádio e TV que a sigla terá para divulgar a chapa proporcional com 250 candidatos a deputado federal e estadual que o PSB acabava de homologar. "Sozinhos [com uma candidatura própria] teríamos só 54 segundos para atender a todo esse pessoal aí. Coligados, nosso tempo será maior. A aliança do governador [Alckmin] tem mais de dez minutos", disse, sem precisar para quantos segundos aumentaria a exposição dos candidatos proporcionais do PSB no horário eleitoral.

A meta da agremiação é aumentar a bancada de sete deputados federais eleitos em 2010 para nove neste ano, e de seis - três deles foram filiados durante a legislatura - para nove estaduais.

Preocupado com os efeitos da cisânia para a sua candidatura, Eduardo Campos frisou, em discurso na convenção, a necessidade de união do partido.

Braço-direito de Marina Silva e um dos coordenadores do Rede, Bazileu Margarido, no entanto, reage à decisão do PSB de se aliar aos tucanos. "O Rede tem definição clara de não apoiar coligações com o PSDB. Não fará campanha [para Alckmin], o que inclui o Márcio França, como vice", afirmou ao Valor.

A demanda do Rede, agora, ressalta Margarido, é de indicar um nome independente para concorrer ao Senado. Durante a convenção, Márcio França levou o tema à deliberação dos delegados, que o aprovaram. Mas em entrevista coletiva, logo em seguida, ao lado do secretário estadual da Casa Civil, Edson Aparecido (PSDB) - que leu a carta-convite em que Alckmin oferecia a vaga de vice ao PSB - o dirigente minimizou a possibilidade de haver mais de um candidato da base ao Senado. O mais cotado a concorrer é o ex-governador José Serra.

Em Minas Gerais, o presidente estadual do PSB, Julio Delgado, ele mesmo um pré-candidato a governador, mas muito ligado aos tucanos, procurou reduzir a tensão com o Rede. Disse que prorrogar a decisão é apenas uma "estratégia" para tentar garantir bons espaços para a legenda neste ano e que não haverá necessariamente desistência do PSB de lançar um nome.

"Pão com pão não dá. PSB com PSB só não dá. Temos que pensar na nossa chapa proporcional, em uma coligação que não vá prejudicar a nossa chapa de deputados federais e estaduais", justificou, citando que lançar uma chapa puro sangue reduziria "significativamente" o número de parlamentares eleitos pela legenda.

O principal defensor de uma aliança entre PSB e PSDB em Minas, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), compareceu à convenção e considerou "prudente" o adiamento da decisão. "O PSB fez acordo com o PT no Rio de Janeiro, com o PSDB em São Paulo, e a turma aqui está se sentindo pressionada. Por que aqui tem que ir para o sacrifício? Os deputados querem uma boa coligação proporcional. Candidatura própria tornaria isso realmente quase impossível", afirmou.

No Rio de Janeiro, a base do PSB tanto fez que levou o deputado federal Miro Teixeira (Pros) - ligado a Marina Silva - a desistir da pré-candidatura, por falta de apoio, às vésperas da convenção. Com isso, os concorrentes a deputado da legenda farão campanha a governador para o senador petista Lindbergh Farias, numa reviravolta de última hora. Eleito na convenção presidente estadual da sigla, o deputado Glauber Braga, por exemplo, ameaçava concorrer a deputado estadual, em vez de tentar a reeleição, caso a sigla apoiasse Miro Teixeira. De acordo com o parlamentar, seria difícil a legenda atingir o quociente eleitoral necessário.

O PSB participará da chapa majoritária com o deputado federal e ex-jogador Romário, que concorrerá ao Senado. O vice de Lindbergh Farias é Roberto Rocco, do PV, numa coligação que conta ainda com o PCdoB.

O discurso da coligação é de que a oposição ao PMDB - cujo candidato é o governador Luiz Fernando Pezão - e a preocupação em fortalecer as bancadas está conseguindo, no Rio, o que nem a ditadura conseguiu: unir a esquerda.

O vice-presidente nacional pessebista, Roberto Amaral, afirmou que a coligação com o PT no Estado atende aos interesses do PSB. "Estamos em um processo de reorganização partidária que coincide com essa formação à esquerda. Todos temos objetivos particulares e a prioridade para nós é a eleição para o Senado. A candidatura do Romário é o encontro da esquerda com o povo, com a antiga geral do Maracanã que está sendo expulsa dos estádios", comentou. "Temos a pretensão de fazer o máximo possível com a bancada".

Na convenção, a aliança com o PT recebeu 113 votos. Houve 24 votos contrários, quatro nulos e um branco. Em discurso, Lindbergh disse apostar que o ex-governador Sérgio Cabral vai desistir de concorrer ao Senado agora que a disputa está polarizada entre ele e Romário. A previsão está prestes a acontecer. O presidente do PMDB fluminense, Jorge Picciani, convocou para a manhã de hoje uma entrevista na qual deve ser anunciada a adesão do DEM à coligação de Pezão e a candidatura do ex-prefeito Cesar Maia ao Senado, no lugar de Cabral. O prefeito Eduardo Paes (PMDB), desafeto de Maia, chamou a proposta de "bacanal eleitoral".

Dilma recorre a propostas antigas para se opor a Aécio

• PT busca reafirmar compromisso de manter e ampliar programas de governo

• Ao adiantar promessas, presidente acena para eleitores que dizem desejar mudanças no próximo governo

Valdo Cruz e Tai Nalon - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - De olho no desejo de mudança do eleitorado e buscando alfinetar o candidato tucano Aécio Neves, a presidente Dilma Rousseff decidiu incluir no discurso que oficializou sua candidatura à reeleição propostas para um segundo mandato.

Uma delas, o Plano de Transformação Nacional, reúne várias promessas feitas na última campanha e ao longo do mandato, mas com cara nova.

Segundo a Folha apurou, a cúpula da campanha petista quis fazer um contraponto com Aécio, cuja candidatura foi lançada duas semanas atrás, para explorar as diferenças entre as convenções dos dois partidos.

"Aécio fez um discurso superficial, não mostrou nenhuma proposta concreta, enquanto a Dilma já mostrou ao eleitorado um plano", disse um integrante da campanha.

O gesto é um aceno aos eleitores que dizem desejar mudanças no próximo governo --74%, segundo a última pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 2 e 5 de junho.

Além disso, a equipe da campanha dilmista busca desassociar nomes da oposição da mudança desejada pelo eleitorado.

No Datafolha, Aécio aparece à frente de Dilma como o mais capaz de mudar a cara do governo. O tucano, porém, fica atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontado por 35% dos entrevistados como o mais preparado. Aécio é mencionado por 21%, enquanto Dilma é citada por 16% e o ex-governador Eduardo Campos, por 9%.

No governo, a avaliação é que Dilma e sua equipe precisam enfatizar os ganhos sociais das gestões petistas, uma vez que a área econômica sofreu desgaste com uma série de más notícias.

Ao aglutinar projetos já viabilizados ao longo dos últimos anos, o Plano de Transformação Nacional emerge como uma oportunidade de "vender" o compromisso petista de não só manter iniciativas como Luz Para Todos, Bolsa Família e Minha Casa, Minha Vida, mas ampliá-las.

Além da ênfase na mudança, a fala da presidente e, principalmente, as do ex-presidente Lula e do presidente do PT, Rui Falcão, miraram no sentimento de parcela do eleitorado que passou a vincular o governo e o PT a atos de corrupção.

Pesquisas internas do partido captaram essa percepção, que fragilizou não só a imagem do PT, mas também a da presidente Dilma, principalmente no episódio envolvendo a Petrobras.

Foi por isso que o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) passou a afirmar que o estigma da corrupção pegou. Pelo mesmo motivo, Lula e Falcão pediram na convenção que a militância vá às ruas e defenda o PT.

Velhas propostas
Quase todas as medidas anunciadas por Dilma na convenção são propostas antigas ou remodeladas.

Parceria com empresas de telefonia do setor privado, o Banda Larga para Todos é, na prática, a segunda fase de um programa do governo, com a novidade de propor maior velocidade de conexão à internet. O programa aguarda aprovação da presidente.

Dilma também voltou a anunciar a reforma política, que ela tentou emplacar, sem sucesso, como resposta às manifestações de junho do ano passado.

As reformas urbana e dos serviços públicos, incluídas no Plano de Transformação Nacional, são ideias nascidas de iniciativas já em curso, tais como melhorias na oferta da casa própria, no saneamento básico e na qualidade da saúde da população.

PT busca mais espaço na campanha de Dilma para forçar discurso à esquerda

• Partido aposta na polarização com o PSDB e, para isso, quer mais influência no núcleo que vai traçar a tática da corrida eleitoral; inclusão de temas como regulação da mídia e reforma política reforça a tese do ‘nós contra eles’ adotada pela sigla

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Depois da convenção que oficializou a candidatura de Dilma Rousseff ao segundo mandato, a cúpula do PT quer ampliar a influência na campanha da presidente. O partido já decidiu criar um grupo de trabalho, formado por cinco dirigentes, para fazer a “ponte” entre a Executiva Nacional e o comitê de Dilma. Duas correntes internas, consideradas mais radicais, também reivindicam espaço na coordenação da campanha.

Lula da Silva querem, na prática, imprimir um tom mais à esquerda na disputa. É por isso que polêmicas como a regulação dos meios de comunicação e a reforma política terão papel de destaque, reforçando o discurso do “nós contra eles” que tem sido adotado pela sigla.

Com a popularidade em queda, Dilma aceitou sugestões para incorporar em seu programa de governo assuntos para os quais não dava atenção antes, como a chamada “democratização” da mídia. Um projeto sobre o tema foi preparado pelo então titular da Comunicação Social, Franklin Martins, no governo Lula, mas acabou engavetado por ordem de Dilma. O ex-ministro hoje integra o núcleo da campanha dilmista.

Atualmente, o comando responsável pela estratégia da disputa abriga só o PT. A coligação de apoio à presidente, no entanto, deve reunir dez partidos. Todos cobram assento na coordenação da campanha, em especial os dirigentes do PMDB.

Na quinta-feira, a Executiva petista vai decidir se inclui ou não mais dois secretários do PT no grupo de trabalho que atuará como uma espécie de “comitê operacional”. Os indicados de correntes radicais são Bruno Elias (Movimentos Populares), da Articulação de Esquerda, e Maristella Mattos (Mobilização), da Militância Socialista.

Os outros cinco nomes já aprovados, de tendências moderadas, são Geraldo Magela (secretário-geral do PT), Carlos Henrique Árabe (Formação Política), Florisvaldo Souza (Organização), Mônica Valente (Relações Internacionais) e Alberto Cantalice (vice-presidente). O PT também quer que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho - responsável pelo diálogo com movimentos sociais -, integre a coordenação da campanha. Até o fim da Copa, porém, ele fica no Planalto.

Estratégia. Tanto o governo quanto o PT trabalham com a polarização da disputa contra o candidato do PSDB, Aécio Neves. O partido vai insistir na comparação entre as duas siglas e tentar associar o tucano às hostilidades contra o governo Dilma.

“Nós estamos preparados para enfrentar a eleição apresentando o projeto de um novo ciclo de desenvolvimento. Agora, o tom da campanha transparece quando um grupo grande do poder econômico xinga a presidente, destilando ódio e tentando obter ganho eleitoral com isso”, disse o presidente do PT, Rui Falcão, coordenador-geral da campanha de Dilma.

O ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, reforça a tese da comparação ao destacar o “processo intenso de disputa política entre dois projetos”. “Um que vem transformando a realidade da maioria do povo e outro que, quando governou o Brasil, expressou aquilo que o brasileiro menos gosta: desemprego, salário sem aumento e arrocho tributário.”

A candidatura de Eduardo Campos (PSB) tem sido tratada com certo desdém pelo PT. “Acho que a terceira via precisa se expressar. Não se expressou até agora”, ironizou Berzoini.
Aécio, por sua vez, rebate as comparações e diz que os petistas estão “desesperados” e não sabem qual estratégia adotar. “Até eles agora resolveram falar em mudanças. É um governo que está nos seus estertores.”

Slogan. Sob o mote “Mais Mudanças, Mais Futuro”, a convenção do PT que aclamou Dilma candidata à reeleição, no sábado, deu indícios do tom mais agressivo para a campanha. “O discurso do PT vai ser mais ideológico e o tom, mais à esquerda”, disse Jorge Coelho, vice-presidente do PT e tesoureiro do comitê de Alexandre Padilha, candidato ao governo de São Paulo.

Até a cor vermelha, marca petista escondida em outras eleições sob alegação de que lembrava o radicalismo, foi resgatada. “Se você ficar pondo tudo amarelinho na propaganda da Dilma, eu não vou pagar essa convenção”, avisou o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ao marqueteiro João Santana. Vaccari disse depois que era uma brincadeira. Pelo sim, pelo não, foi atendido.

Alianças eleitorais viram um verdadeiro vale-tudo

• Em nome do sucesso eleitoral, antigos inimigos se unem e velhos parceiros se afastam, mostrando pouca coerência política.

Marcelo Moraes – O Estado de S. Paulo

Na reta final para a definição de todas as candidaturas pelo País afora, alianças e rompimentos inimagináveis estão sendo fechados pelos partidos políticos. Velhos adversários, considerados irreconciliáveis, se acertam e tradicionais parceiros se afastam. Tudo em nome de aumentar as possibilidades de vitórias nas eleições de outubro.

Só essa necessidade explica, por exemplo, os acordos fechados no Rio de Janeiro. O PMDB local apóia oficialmente a reeleição da presidente Dilma Rousseff, mas já embarcou quase na sua totalidade na campanha do tucano Aécio Neves, principal candidato de oposição. O último movimento nesse sentido mostra o ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB) topando abrir mão da disputa pela vaga no Senado em favor de seu ex-inimigo César Maia (DEM) para atrair o apoio do DEM para a campanha de Luiz Fernando Pezão (PMDB), seu candidato à sucessão. E a costura de toda a operação foi organizada justamente por Aécio, interessado em fazer do PMDB fluminense seu palanque no Estado.

Essa aliança fica mais explicável a partir do momento em que foi facilitada pela parceria firmada entre o PT e o PSB locais, com o ex-jogador Romário se aliando ao candidato petista ao governo Lindberg Farias. Pouco importa se no plano nacional Lindberg pede votos para Dilma e Romário para Eduardo Campos (PSB). Afinal, em tese, Dilma também apoiaria vários candidatos de sua base no Rio, como os próprios Lindberg e Pezão, além de Marcelo Crivella (PRB) e Anthony Garotinho (PR).

A questão é simples: na ponta da cadeia eleitoral, os candidatos regionais estão cuidando da própria vida e priorizando suas campanhas em detrimento dos interesses nacionais de seus partidos. Essa luta pela própria sobrevivência política explica porque numa semana o PMDB nacional faz uma convenção na qual decide apoiar a aliança com Dilma e, nos dias seguintes, vários de seus diretórios acertam alianças em vários Estados para pedir voto para Aécio Neves.

O vale-tudo político também justifica o surpreendente desembarque do PTB da aliança nacional com o governo para formalizar acordo em torno de Aécio. Até poucas semanas atrás, o presidente da legenda, Benito Gama, ocupava uma você-presidência do Banco do Brasil e negociava até mesmo a entrada formal no primeiro escalão de Dilma, recebendo um ministério. Essa negociação não deu certo, as alianças regionais se distanciaram do PT e o PTB se mudou de malas e bagagens para o lado adversário.

Partido de Dilma, o PT também aumentou seu interesse pelas disputas regionais em detrimento da eleição presidencial. Em 2010, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sabia que precisava concentrar seus esforços para eleger a desconhecida Dilma Rousseff como sucessora. Para isso, convenceu o comando do PT a abrir mão de projetos estaduais em favor de aliados que reforçassem o palanque de sua ministra da Casa Civil.

Com isso, em 2010, o PT teve candidatura própria aos governos em apenas dez Estados, o que representa menos que a metade das unidades federativas do País. Cedeu a cabeça de chapa até mesmo em locais importantes como Rio de Janeiro, priorizando o projeto nacional. Agora, a previsão é que o partido lance nomes em 16 disputas, complicando bastante a montagem dos palanques pró-Dilma nos Estados.

É exatamente esse modelo de comportamento que explica ser ainda possível, por exemplo, que partidos como PSD e PP, integrantes da base de Dilma, ainda possam mudar de lado e se alinharem com Aécio. Continua na mesa de negociações do PSD, por exemplo, a possibilidade de indicar o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para a vaga de vice presidente na chapa do senador mineiro. Ao mesmo tempo, o presidente do partido, Gilberto Kassab, participa da convenção do PT, que homologou a candidatura de Dilma, para anunciar seu apoio à reeleição. Como tempero de toda essa confusão, os petistas, que sabem da importância do apoio do PSD de Kassab para o projeto de reeleição de Dilma, brindaram sua presença no encontro com uma vaia.

Um ano atrás, manifestantes ocuparam as ruas em todo o País, cobrando não apenas melhoras nós serviços públicos, mas também um comportamento mais adequado da classe política. Pelo que se vê, a mensagem parece não ter sido compreendida.

Paes critica articulação do PMDB com Cesar Maia

Luciana Nunes Leal - Agência Estado

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, reagiu à articulação do PMDB para se aproximar do DEM, oferecendo a vaga de candidato ao Senado Federal ao ex-prefeito Cesar Maia, na chapa de reeleição do governador Luiz Fernando Pezão. Em nota, Paes defendeu que o senador Francisco Dornelles (PP) ocupe o lugar na chapa do ex-governador Sérgio Cabral Filho, que deve anunciar nesta segunda-feira, 23, a desistência de concorrer ao Senado.

A reação de Paes se justifica pelo fato de Cesar Maia, atual vereador, ser seu principal opositor na Câmara Municipal. "Depois da suruba, o que se vê agora é o bacanal eleitoral, e o Rio não pode ser vítima dele", afirmou o peemedebista. Paes fez uma alusão às recentes críticas do deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ) à aliança entre o seu partido e o PT, ao qual chamou de "suruba". Em nota, Paes ressaltou os benefícios obtidos desde 2009 com a parceria entre os governos federal, estadual e municipal. "Para que o Rio de Janeiro não corra o risco de voltar a ser um campo de batalha onde o maior prejudicado é o cidadão, eu continuo defendendo a chapa Dilma", disse.

Cesar Maia formaliza hoje adesão à chapa de Pezão

• Pelas contas de dirigentes da aliança, dos seis maiores partidos da chapa, apenas PDT terá candidatos apoiando a presidente Dilma

Paulo Celso Pereira – O Globo

BRASÍLIA e RIO — Após semanas de negociação, o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) formaliza nesta segunda pela manhã, em um encontro no Hotel Guanabara, a adesão à chapa à reeleição do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), levando o DEM, o PSDB e o PPS a ingressarem oficialmente na aliança peemedebista. Assim, o movimento “Aezão”, de apoio à candidatura presidencial de Aécio Neves (PSDB) e à de Pezão ao governo, ganha caráter oficial. A notícia foi dada em primeira mão pelo jornalista Merval Pereira, em seu blog. Em nota oficial, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, desafeto de Cesar, chamou a adesão de “bacanal eleitoral”.

Pelo acordo, o ex-governador Sérgio Cabral cederá a candidatura ao Senado para Cesar e assumirá a coordenação da campanha de Pezão, sem disputar qualquer cargo público. A articulação foi selada ontem de manhã no apartamento de Aécio, em Ipanema, em uma reunião que incluiu o tucano, Cabral, Pezão, Cesar e o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani.

Formalmente, o ex-prefeito Cesar Maia será o candidato majoritário do tucano no estado, mas a expectativa é que a formalização da aliança, que dará quase três minutos de TV a mais para Pezão, faça o “Aezão” se alastrar pelos palanques de deputados no estado. Pelo acordo, embora Pezão mantenha a posição de, pessoalmente, pedir votos para a presidente Dilma Rousseff, seu palanque ficará aberto para o presidenciável tucano. Os peemedebistas ainda não definiram se, na convenção regional do partido, que acontece esta semana, será fechada a questão em torno do apoio a Aécio para os candidatos a deputado federal e estadual.

— O “Aezão” caminhava para ser uma informalidade, mas agora será orgânico. O PT colocou em risco a candidatura da Dilma. Sabíamos que a aliança do Lindbergh com Romário ia incitar o “Aezão”, e não deu outra. A Dilma é a grande prejudicada, porque dividiu o palanque do PT, perdeu o do PMDB e não vai ter mais a classe política levando o nome dela. O Aécio ganhou a maior estrutura de poder do estado e uma parte significativa da oposição. Assim, ele vai conseguir coesão com os 18 partidos que vão formar aliança do Pezão, espalhando seu nome pelo estado — afirmou o deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ), um dos principais aliados do prefeito Eduardo Paes.

Acordo pegou tucanos de surpresa
Pelas contas de dirigentes da aliança, dos seis maiores partidos da chapa — PMDB, PSD, PP, SDD, PTB e PDT —, apenas este último terá candidatos apoiando a presidente Dilma. Assim, a ampla maioria dos cerca de 1.400 candidatos a deputado federal e estadual da chapa de Pezão passaria a apoiar Aécio. O movimento foi uma reação explícita à aliança do PT com o PSB no Rio. Cabral e Pezão guardam mágoas do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, que, durante anos, aprovou a presença de seu PSB no governo estadual, mas passou a atacar a dupla no ano passado, após os protestos de rua.

Diante da crise de popularidade de Cabral após as manifestações, Campos sacramentou em reunião da Executiva do PSB, em agosto passado, que não deixaria o partido apoiar Pezão. Uma frase do líder de Campos na Câmara, Beto Albuquerque, ao sair do encontro com o pernambucano, ficou guardada pelos peemedebistas do Rio:

— Não há a menor hipótese de ficar perto do pau que afundou: Sérgio Cabral, Pezão e companhia — disse Albuquerque na época.

Em nota oficial ontem, o prefeito Eduardo Paes reafirmou apoio a Dilma e criticou a escolha de Cesar, seu ex-padrinho político e hoje adversário.

“Eu continuo defendendo a chapa Dilma, Pezão e (o senador Francisco) Dornelles (PP). Depois da suruba, o que se vê agora é o bacanal eleitoral, e o Rio não pode ser vítima dele”, disse o prefeito, numa referência à declaração, na última sexta-feira, do deputado federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ), que chamou de “suruba” a aliança entre o PSB e o PT no estado.

O acordo entre PMDB, PSDB e DEM surpreendeu até mesmo vereadores e deputados estaduais. Com as inúmeras garantias dadas por Cabral ao longo das últimas semanas de que sua candidatura era irreversível, parlamentares tucanos, por exemplo, começaram a encomendar material de campanha em que apareciam ao lado de Cabral. Houve quem tenha reclamado do dinheiro gasto.

— Nós vamos ter que começar do zero — disse a vereadora Teresa Bergher (PSDB-RJ).

No PPS, que vai compor a mesma chapa, também houve revolta.

— Não vou entrar em apoio clandestino. “Aezão” não existe. Para apoiar Pezão, é preciso que ele rompa com a Dilma oficialmente. Caixa dois eleitoral, não! — disse o deputado federal Stepan Nercessian (PPS-RJ).

Cabral embarca no Aezão

Correio Braziliense

Numa reação à aliança firmada entre o PT e o PSB, no Rio de Janeiro, o ex-governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB) desistiu de se candidatar ao Senado na chapa do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). O embarque na caravana do senador mineiro e presidenciável Aécio Neves (PSDB) será anunciado hoje. No lugar de Cabral, que liderava as pesquisas de intenção de voto, entra o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia (DEM). Com a adesão de Cabral ao movimento chamado Aezão, a presidente Dilma Rousseff (PT), que já tinha sinalizado que não pediria voto para nenhum candidato no Rio, fará campanha ao lado do petista Lindberg Farias (PT).

A decisão foi tomada ontem pela manhã numa reunião no apartamento de Aécio Neves, no Rio de Janeiro. Além do tucano, participaram do encontro Sérgio Cabral, Pezão, Cesar Maia e o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, responsável pela organização do Aezão. No início do mês, Picciani fez um almoço festivo para pregar o voto em Aécio Neves e na reeleição de Pezão. Prefeitos de oito cidades fluminenses aderiram. O evento ocorreu na mesma semana da convenção nacional do PMDB, que oficializou o nome de Michel Temer como vice na chapa da presidente Dilma Rousseff.

Com a nova aliança, o governador do Rio de Janeiro ganha aproximadamente três minutos na propaganda eleitoral gratuita. De acordo com o balanço peemedebista, mais de mil candidatos a deputado federal e estadual podem aderir à candidatura tucana na corrida presidencial. Em nota, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), aliado de Cabral, disse que a decisão do ex-governador formava um "bacanal eleitoral".

Nos bastidores, especula-se que Sérgio Cabral avaliou que poderia perder a eleição para Romário, candidato ao Senado na chapa de Lindberg Farias, que ocupava a segunda colocação nas pesquisas. A aliança entre PT e PSB foi anunciada na sexta-feira.

Divergências
O desejo de Marina Silva, vice na chapa encabeçada por Eduardo Campos, era de que o PSB apoiasse o deputado Miro Teixeira (Pros) na corrida eleitoral fluminense. No entanto, após pressão da cúpula do PSB, o parlamentar desistiu de se candidatar. Com a aliança, o petista ampliará o tempo de tevê. Campos minimizou as divergências. "O partido viveu democraticamente todo esse processo que nos trouxe até aqui.

O bom é que vivemos esse processo de forma democrática e saímos unidos para ir às ruas e vencermos as eleições em São Paulo e no Brasil", destacou o presidenciável.

Marina Silva alegou que a decisão nos estados é de Campos. "Ele ficará responsável pela escolha, já tínhamos acertado esses pontos", amenizou a ex-ministra.

Campanha à reeleição terá Dilma light e Lula no ataque

- Zero Hora (RS)

O papel dos principais líderes petistas na corrida presidencial ficou evidente na convenção que oficializou Dilma Rousseff como candidata à reeleição. Enquanto a presidente adotou tom ameno, dizendo que a disputa deve ser uma "festa da paz" e "sem ódio", o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do PT, Rui Falcão, partiram para o ataque aos adversários.

Falcão pediu a volta "do entusiasmo e da paixão da campanha de 1989", a primeira eleição presidencial de Lula. Para motivar a plateia, fez críticas duras ao que chamou de "arautos do pessimismo", simbolizados pela mídia que, segundo ele, "golpeia, falseia, manipula, distorce, censura e suprime fatos no intento de nos derrotar".

Inflamado, o público respondeu: "O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo". E seguiu: "Mídia fascista, sensacionalista".

– Este país foi a vida inteira governado por doutores, engenheiros, intelectuais – disse Lula, numa referência velada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e ao PSDB.

– O que vai ganhar nas eleições não é o tempo de televisão, não é só a qualidade da propaganda, é a adrenalina que a gente for capaz de demonstrar cada vez que sair nas ruas – defendeu o ex-presidente.

A sofisticação foi uma das marcas do evento, preparado pelo marqueteiro João Santana. Enquanto os petistas discursavam, imagens eram projetadas em seis telões e no púlpito.

– Esta é uma convenção "elite branca" – reclamou um petista integrante do governo, vestindo uma camiseta antiga, puída, que usara na convenção de 2002.

No mesmo dia em que a convenção do PT consagrou Dilma, o PTB anunciou sua saída da coligação e o apoio ao tucano Aécio Neves. A mudança de lado pegou os petistas de surpresa, já que, em maio, dirigentes petebistas haviam recebido a presidente para um almoço que celebrava a aliança.

– O PTB sempre foi muito bem tratado por nós do governo. Desejo boa sorte – afirmou o vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE), ironizando a decisão.

Aécio comemorou o apoio, o que deve lhe garantir 1 minuto e 15 segundos a mais nas propagandas de TV.

Fabio Wanderley Reis: "Não se ganha eleição sem entrar no povão"

• Entrevista - Fabio Wanderley Reis Cientista político e professor emérito da UFMG

Quem quiser ganhar a eleição presidencial deste ano terá que conciliar, na campanha, políticas macroeconômicas efetivas com a continuidade do atendimento aos interesses da população mais pobre, sentencia o professor Fábio Wanderley Reis, doutor em Ciência Política pela Universidade de Harvard e docente emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em sua análise, a correlação estabelecida pelo governo Lula, a partir de 2006, entre programas sociais (como o Bolsa Família) e uma parcela considerável da população, será o maior desafio dos candidatos da oposição. "É algo muito forte, a ponto de as oposições não conseguirem encontrar um discurso alternativo". Apesar de apontar erros estratégicos do governo Dilma Rousseff, como a dificuldade da presidenta para exercer liderança, Reis — estudioso de temas como a transição democrática, o processo eleitoral e os partidos políticos — vê o cenário favorável à petista, sobretudo com a entrada de Lula na campanha: "Com o lastro da memória do apoio de Lula, as chances são claramente favoráveis a ela". Sobre o principal adversário de Dilma, Aécio Neves (PSDB), Reis acha que seu crescimento nas pesquisas "ainda não é suficiente para impor uma derrota a Dilma".

Eduardo Miranda, Paulo Henrique de Noronha –Brasil Econômico

Como o sr. avalia o cenário para as eleições presidenciais?
Temos que ir, basicamente, para as pesquisas, que continuam a dar, apesar de pequenas variações entre os institutos, uma mensagem de vitória de Dilma Rousseff. Em alguns casos, como no Vox Populi, ela aparece ganhando no primeiro turno. Mas, como tem sido ressaltado, as coisas vão começar a se definir depois da Copa e com o programa eleitoral gratuito nas TVs, que normalmente tem importância decisiva. As perspectivas do governo federal e de Dilma como candidata são favoráveis também desse ponto de vista, já que ela terá um tempo maior de televisão e, até aqui, o que teve de avanço na oposição é algo bem relativo.

Como o sr. vê as perspectivas para o candidato do PSDB, senador Aécio Neves?
Estava claro que o crescimento de Aécio iria acontecer, na medida em que ele se tornou o candidato do PSDB e conseguiu resolver os problemas do partido em consagrar sua candidatura num cenário em que tínhamos José Serra como candidato virtual. E o PSDB é um partido com perspectiva de disputar com vigor a eleição presidencial. A tendência é de crescimento do Aécio, embora até aqui não haja indícios muito claros de que isso venha a ser suficiente para impor propriamente a derrota a Dilma.

E a candidatura de Eduardo Campos, do PSB?
A situação dele é mais negativa, pelo fato de que o lugar em que ele supostamente teria apoio natural e forte, o Nordeste, é fiel a Lula há muito tempo e tem sido fiel a Dilma, como vimos na última eleição. É uma briga contra Lula para conseguir se viabilizar como candidato. Do ponto de vista das pesquisas, tem ficado muito claro o que há de problemático nessa candidatura. Apesar da aproximação com a Marina, Eduardo Campos está onde sempre esteve. Não evoluiu.

Há quem diga que vice não elege ninguém. Isso é verdade?
Alguma ajuda a Marina terá dado, pelo menos no sentido de aumentar a visibilidade de Eduardo Campos como candidato. Mas acho que não há razão para apostar que ela veio a ser decisiva, pelo simples fato de ter ficado restrita a vice e de que ela mesma é uma candidata que tem seus problemas — o caráter evangélico e as condições efetivas de uma liderança numa perspectiva mais ampla, além da questão ambiental. A Marina tem, claramente, aspectos positivos, uma certa respeitabilidade. Mas, por outro lado, apesar dos 20 milhões de votos que ela recebeu nas últimas eleições, ela tem que dar provas disso. E, do jeito que ficaram as coisas na aproximação com Eduardo Campos, nem tudo ficou muito tranquilo, houve divergências importantes e, até aqui, não há nenhum impacto muito representativo no que se refere a aumentar o peso da candidatura de Eduardo Campos.

Apresidenta Dilma continua como favorita, mas há um movimento gradual de perda de pontos a cada nova pesquisa. Essa queda tende a continuar?
No momento em que a gente tenha o programa eleitoral na televisão, com o tempo muito maior que ela terá e com o lastro da memória do apoio de Lula, que se tornará mais claro, acho que as chances ainda são claramente favoráveis a ela — apesar de ela ser uma candidata difícil. Em princípio, ela é, antes de mais nada, um poste do Lula, uma criação dele. Há implicações relevantes do ponto de vista da liderança real que ela tem dificuldade de exercer, e esse fim de mandato tem deixado isso muito claro. Apesar disso, do ponto de vista do processo eleitoral, como candidata à reeleição, as chances são maiores para ela. E aí nós temos um conjunto de programas relacionados com a sociologia política e eleitoral do país, que são relevantes na discussão.

Programas como Bolsa Família, Minha Casa, Minha Casa, Pronatec e Prouni são cacifes eleitorais da Dilma?
São, sem dúvida, importantes. Isso toca o que eu chamo de sociologia eleitoral do país. É o fato de a questão social ter se tornado decisiva no processo da política eleitoral a partir de 2006, quando passamos a ter uma nítida correlação entre a disposição de votos dos eleitores e sua situação socioeconômica, com as posições geográficas e regionais. Dilma é fortemente apoiada no Nordeste, como o Lula era, em conexão com o próprio movimento lulista. Obviamente, houve, de modo bem claro, a emergência do PT, que conseguiu juntar uma mensagem de conteúdo ideológico, uma retórica radical, com a figura do Lula, de forte apelo popular, de origens sindicais, e ligando-se a movimentos sociais. O resultado foi a experiência inédita de ver um líder operário chegar à Presidência da República, o que seria impensável em circunstâncias mundiais um pouco antes.

Que condições proporcionaram essa mudança?
A mudança do cenário internacional é um aspecto importante dessa dinâmica. Nas condições e circunstâncias em que se criou o período lulista — com uma certa moderação e um aprendizado realístico na aproximação com os meios empresariais; moderação de perspectivas; e uma redefinição social-democratizante independente do discurso, da forma de atuação; e de programas como Bolsa Família e correlatos, que resultaram em avanços efetivos de determinadas frações do eleitorado, a questão da chamada nova classe média — tudo isso representou algo importante do ponto de vista da dinâmica eleitoral. Essa correlação que a gente passou a ter a partir de 2006 é a evidência mais nítida em termos de dados que continuam a se manifestar no apoio a Dilma, na medida em que o país cresce nos níveis de renda, educação, e se desloca de São Paulo para o Nordeste. É algo muito forte, aponto de as opo-sições não conseguirem encontrar um discurso alternativo.

A oposição não tem esse apelo?
Ainda que vejamos Aécio falar em medidas impopulares a serem adotadas, é impossível repudiar o Bolsa Família. De alguma forma, o discurso é o de incorporar. Todos os candidatos têm, de alguma forma, que entrar nisso. Nos Estados Unidos, há a expressão política do "eu também", para quando há uma política eleitoral muito forte e o que resta à oposição é incorporar isso e acrescentar algo que seja atraente. É dizer que "eu também" faço e farei isso. O que chegou a ser formulado por Fernando Henrique Cardoso, a tese de que o PSDB não tinha que se dirigir ao povão, tinha que falar com setores emergentes, já envolve o reconhecimento de que, bem ou mal, há setores emergentes em políticas que deram certo, ainda que com limitações e problemas. Não se ganha eleição, sobretudo majoritária, sem entrar no povão, porque é aí que está a maioria. O discurso e a política devem se dirigir a ele. Medidas como o Bolsa Família ou as que permitem o acesso ao crédito e aumento do salário mínimo são decisivas. O desafio administrativo que tem que ser enfrentado, pelo menos na campanha dos candidatos, é o de conseguir executar políticas que sejam economicamente efetivas e que evitem o "pibinho", que consigam criar uma dinâmica econômica mais forte, e que concilie isso a algo que dê continuidade ao atendimento direto e imediato dos interesses da população mais pobre. É muito problemático para a oposição conseguir ser efetiva no discurso que afina com a continuidade do compromisso social.

Mas temos uma insatisfação crescente no Sul e no Sudeste, que contrasta com a realidade do Nordeste que apoia Dilma...
Desde a eleição do Lula, essa po -larização vem se intensificando. Tenho visto o crescimento da oposição a Dilma em São Paulo, em níveis socioeconômicos mais altos. Essa é a própria expressão da correlação da qual falávamos. O que pode decorrer dessa insatisfação e dessa polarização do ponto de vista eleitoral? Os setores em que Dilma tem maior apoio são populares e majoritários. Por isso, há uma certa precariedade na aposta de que, na medida em que se intensifica a polarização, aumenta a chance de Dilma vir a ser derrotada. Na medida em que a briga se intensifica, setores mais baixos do eleitorado estarão propensos a trazer apoio, e não é só uma questão de ganhos materiais. Trata-se de um eleitorado via de regra desinformado, desatento politicamente, e isso envolve uma imagem tosca que contrapõe elite e povão, mesmo antes da emergência do PT como fenômeno novo que se inseriu de maneira eficaz nesse quadro. A vitória do MDB, em 1974, pode ser interpretada como uma identificação do partido com a melhoria nos níveis de renda. Em Belo Horizonte, a cada 10 votos, 9 eram para o MDB. O MDB conseguiu criar a imagem de partido do povo, partido popular.

Essa relação entre o social e as eleições teria começado com Getúlio Vargas?
Ele é parte dessa história. Muitos anos depois do desaparecimento do Getúlio, os dados ainda o mostravam como uma figura muito popular, pela consolidação das leis trabalhistas, pela imagem de "Pai dos pobres". E um ingrediente importante disso continua posto na política brasileira, embora analistas discutam até que ponto o lulismo-petismo representaria algo de natureza mais ideológica, no sentido nobre da expressão, versus essa identificação meramente pessoal. Essa é uma questão importante para se entender até que ponto, para a consolidação da estrutura partidária, a identificação lulista e sua mescla com a identificação petista — sob aspectos negativos do mensalão e a passagem pelo governo — pode se transformar numa identificação estável com partidos, de maneira a estabelecer marcas partidárias. No caso do Brasil, o PT é o grande vitorioso.

Mas ainda não surgiu o"dilmismo"...
Não. Dilma é criação do Lula, e é importante para as perspectivas eleitorais dela que o povão continue sentindo a presença do Lula.

As manifestações na Copa podem influenciar as eleições?
A leitura do significado das manifestações tem sido muito equivocada, com interpretações volun-taristas e pessoas vendo o que querem ver. Acho que houve certa mistificação disso, algo que me parece que é pura e simplesmente o resultado de novos meios de comunicação disponíveis, as redes sociais, o telefone celular etc., que têm produzido situações parecidas mundo afora. Inclusive, no momento em que aconteciam as manifestações daqui, ocorriam também as da Turquia. Em boa medida, elas são meramente uma imitação e são confusas do ponto de vista político. Não merecem a leitura de algo que significasse uma afirmação democrática. Há um claro caráter antipartidário, antipolítico e anti-institucional, sem falar da violência. Tivemos o Palácio do Itamaraty quebrado, houve uma disposição de confronto associada ao antipoliticismo. Dificilmente poderíamos falar de um componente liberal ou republicano nessas manifestações. Fica difícil imaginar que minorias dentro do movimento conseguirão se afirmar, também pelo fato deatenta-tiva rechaçada de se trazer o tema dos partidos para o movimento, por gente que entendia que era um tema relevante. E há um aspecto das reivindicações: já que o celular e o Facebook estão disponíveis, vamos imitar. Não vejo densidade em nada disso.

Mas não havia uma insatisfação com os serviços públicos?
Essa é a dimensão consistente da coisa, e foi o que deu partida a tudo. É o caso do Movimento do Passe Livre, que depois resistiu a se identificar com as outras manifestações que vieram na cauda. O que não quer dizer associar a ocorrência das manifestações à emergência das questões sociais que falamos antes. Quem está se mobilizando através das redes sociais é gente que se torna mais presente nos níveis socioeconômicos mais altos, e não tenho dúvidas de que esse fator da disponibilidade dos meios de comunicação foi decisivo na ocorrência da coisa, associada à confusão da banalidade que leva às manifestações. É muito claro que o que houve de mais quente nas manifestações mixou, quase desapareceu. Hoje, há gatos pingados, Black Blocs, gente que está quebrando vitrines contra o capitalismo e, ao lado disso, uma movimentação de categorias profissionais e suas reivindicações que criam embaraços no contexto da Copa. O fato é que a Copa está acontecendo sem dar atenção a isso. Como consequência das reivindicações nos protestos, a presidenta Dilma tentou implantar por decreto a Política Nacional de Participação Social, mas o Congresso e a oposição têm reagido, argumentando que o PT tem domínio sobre os movimentos sociais.
A palavra domínio é um pouco exagerada. O PT tem melhores condições que outros partidos para estar presente em conselhos sociais, essa é a história do partido. É presumível que o PT venha a ter capacidade maior de influência em movimentos análogos, mas não vejo nada muito além disso. Por outro lado, faz sentido que uma questão como essa não seja iniciativa do Executivo, que o Legislativo se manifeste a respeito. Era mais adequado que tivéssemos um projeto de lei, e não um decreto.

Mas o Congresso não deu sinais favoráveis às demandas das manifestações, nem à proposta da reforma política...
Isso é complicado, e não é de hoje. É precário supor que as pessoas beneficiárias do processo político viessem a transformar significativa e substancialmente esse processo, mudar as regras. É preciso mudar, mas temos que contar realisticamente com os embates envolvidos. Não será num estalar de dedos que se colocará uma reforma política consistente nesse país. Há algo indicativo do clima geral: a comissão criada no Congresso por Ronaldo Caiado (Comissão Especial da Reforma Política, em 2011) trouxe temas importantes e poderia estar tomando decisões sem que ninguém prestasse atenção, porque a grande imprensa divulgava as façanhas do Renan Calheiros diariamente. O clima é esse, e isso não ajuda. Os políticos votavam numa direção a tudo o que é contrário ao que acontecia de positivo no Congresso, mas os jornais contavam as falcatruas de Renan Calheiros. É o que vende jornal.

O sr. acha que o Congresso não nos representa, como muito se falou nas manifestações?
Isso é besteira. É, novamente, a manifestação do antipoliticismo. Os políticos que estão aí podem, evidentemente, ser objeto de uma denúncia, de que são corruptos, de que não nos representam. Mas não é possível prescindir deles. Não vai ser brigando e saindo no tapa no meio da rua que vamos resolver nossos problemas. Precisamos das instituições. Não adianta vir comaretó-rica que sonha com a democracia direta num país que tem 200 milhões de habitantes. Precisamos, sim, aprimorar a transição constitucionalista, em que a gente bem ou mal se insere, e contempla direitos civis nos quais a baderna na rua supostamente aparece como ponto negativo. Sair por aí jogando coquetel molotov nas pessoas, quebrando lojas, bens públicos, tudo isso é uma maneira tosca e inaceitável de definir a atuação política, não adianta começar por uma postura anti-institucional.

Em 2003, quando o presidente Lula assumiu, a CUT e o MST eram parceiros fortes. Hoje, o PT não controla mais o MST e a CUT perdeu força...
Quanto ao MST, as razões e irrelevância dele são bem claras. Não somos mais um país agrário há muito tempo. O tema da reforma agrária não é mais tão relevante. O MST, que já contou com a simpatia da opinião pública, perdeu esse apoio, na medida em que assumiu posições violentas, e tende a se tornar irrelevante. Ninguém imagina que o MST vai tomar de assalto o Estado. Quanto aos movimentos sindicais, esse deram para trás no mundo inteiro, não foi apenas no Brasil.

Porque?
Há bastante tempo que nos países social-democratas e nos Estados Unidos eles têm sido enfraquecidos por más razões. A leitura geral da dinâmica do capitalismo leva na direção do neoliberalismo, no sentido das crises econômicas, como a de 2008, um cenário antissindicato, anticorporativa, antiestatal. O que acontece é a política da economia da oferta versus a economia da demanda. Foi preciso criar condições para que os empresários pudessem jogar seu jogo livremente. E o fato é que não dá para pensar em fazer social-de-mocracia sem ter um Estado atuante e com movimentos sociais que deem organicidade.

O debate eleitoral corre o risco de ser moralizado por uma pauta com temas como aborto e drogas?
Uso disso, acredito que haverá. Seguramente, Aécio andou por aí fumando sua maconhazinha, experimentando ou usando com alguma assiduidade. Mas há razões respeitáveis para ser a favor do uso da maconha de forma mais ampla. Temos a figura do ex-presidente Fernando Henrique se movendo em torno da descriminalização das drogas, temos o caso do Uruguai. Ao que tudo indica, isso tende a se tornar um tema irrelevante, embora complicado de se administrar em termos de saúde pública e repressão. No nosso caso específico, teremos alguma tentativa de uso disso, mas acho que dificilmente teríamos algo como em 2010, quando se falou de maneira baixa sobre aborto.

E o mensalão?
Vai ficar para trás. Ficou até para o Joaquim Barbosa (presidente do Supremo Tribunal Federal) , que não quer saber mais disso. Existe a possibilidade de se ver o mensalão como algo positivo, na perspectiva de mostrar um braço mais comprido da atuação da Justiça brasileira, contra aquela tese de que ela só pune os três "pês" — preto, pobre e puta. Mas o que estamos vendo começa a ficar negativo até nessa perspectiva. O Joaquim Barbosa se desgastou no desdobramento das coisas e nos excessos que cometeu.

O desinteresse do cidadão no processo eleitoral, como as pesquisas mostram, tem relação com as manifestações?
Acho que as manifestações têm ajudado, sim, nessa direção. Há muita gente que se relaciona de maneira distante com a política, que não presta atenção. A medida que se começa a ter dias de manifestações supostamente an-titudo na televisão, é natural que as pessoas sejam afetadas.

O número de eleitores que querem votar branco ou nulo é alto? Os indecisos podem beneficiar algum candidato?
Sobre os anos anteriores, sim, é alto. Mas é bom esperar a campanha eleitoral e o programa de TV. E não vejo qualquer indicação de que esse pessoal vá majoritariamente para o lado de Dilma, Aécio ou Campos.

Ricardo Noblat: O problema é o elenco, estúpido!

- O Globo

“Futebol é muito simples: quem tem a bola ataca; quem não tem defende” Neném Prancha

O que os políticos e a Seleção Brasileira têm em comum? Ambos se preocupam mais com a defesa.

Compreende-se que os políticos procedam assim. Afinal, inocentes ou culpados, antes de tudo são suspeitos de prometerem o que não fazem, de trambicagens inimagináveis e de traírem o voto que os elege.

Só há um motivo para que a Seleção aposte mais na defesa: o medo que seus dirigentes têm da derrota.

O medo deriva de outra coisa que aproxima políticos e Seleção: a carência de uma ideia nova. O Plano Real foi a ideia nova que marcou o período de oito anos do presidente Fernando Henrique Cardoso. E a inclusão social, a que marcou o período de oito anos do presidente Lula.


Agradecido, o povo quer mais. E por ora nada surgiu capaz de satisfazê-lo. Ocorre o mesmo com a Seleção. Que nova proposta sustenta o futebol que ela apresentou na Copa até aqui? Ou nos amistosos que a precederam?

O exercício da política entre nós só tem feito se deteriorar desde o fim da ditadura militar de 64.
Nos anos 80, por exemplo, quando se reclamava da qualidade do Congresso, o deputado Ulysses Guimarães, então presidente do PMDB, respondia: “Espere o próximo”. Quanto à Seleção...

A rigor o futebol servido por ela não surpreende o mundo desde o tri no México em 1970.

Esta tarde, em Brasília, não basta que a Seleção vença a dilacerada Seleção de Camarões. Nem mesmo que a goleie.

É preciso que exiba um futebol capaz de resgatar pelo menos parte da confiança da torcida abalada por seu desempenho mediano até aqui.

Contra a Croácia, demos graças ao Senhor. Ou melhor: ao juiz japonês que viu um pênalti onde não houve. Contra o México, o medo venceu a esperança.

Na maioria das vezes só ganha quem não tem medo de perder.

É verdade que fomos tetras na Copa de 1994 exibindo um futebol de segunda categoria. Ou de terceira. Fomos penta em 2002 quando o brilho de três ou quatro jogadores se impôs a um esquema burocrático de jogo.

Mas o que é pior: a melhor lembrança do futebol de 1958, 1962 e 1970 está, hoje, nos pés e na imaginação de alguns dos nossos adversários.

Salve a Alemanha do futebol compacto pontuado de estrelas que trocam de posição e que não se desesperam nem mesmo se estiverem em desvantagem no placar. Foi o que ocorreu no último sábado quando empatou com Gana. Sem falar do extravagante 4 x 0 aplicado em Portugal de Cristiano Ronaldo.

Salve a Holanda que ocupa todos os espaços do campo, sobe e desce em bloco e dispõe de um contra ataque mortal.

Salve o Uruguai que fez contra a Inglaterra um dos melhores jogos desta Copa. Exibiu a garra que falta à Seleção Brasileira desde a final da Copa das Confederações.

Salve a França que desencantou em cima da Suíça e que mais de uma vez já foi a nossa algoz.

Cuidado com a Itália e a Argentina. Estão um degrau a baixo das que merecem ser louvadas. Em todo o caso, A Argentina tem Messi. A Itália, o maestro Andrea Pirlo.

Que temos? Temos Neymar. Que como Messi pode decidir uma parada. Mesmo ele, porém, se apagou no jogo contra o México.

É tal seu apetite pela bola que com frequência não a compartilha. Tem quatro anos a mais do que tinha Pelé quando jogou uma Copa pela primeira vez. Está longe de lembrá-lo.

O que se espera dele está além do que tem para dar. Corre o risco de ser esmagado pela expectativa nacional.

Assim na política como no futebol, o problema está no elenco, estúpido! Infelizmente, a pobreza é geral.

José Roberto de Toledo: Foto, filme, flashback

- O Estado de S. Paulo

Com 39% das intenções de voto na pesquisa Ibope/CNI da semana passada, Dilma Rousseff (PT) está onde estava quatro anos atrás, no mesmo mês, no mesmo instituto, na mesma corrida eleitoral. As taxas são quase iguais, mas pesquisa não é foto, é filme. E, embora o recorte de um fotograma possa servir à propaganda, até o mais fervoroso petista sabe que a história eleitoral de 2014 é muito diferente da que elegeu Dilma.

Em junho de 2010, o governo Lula tinha 75% de ótimo/bom e sua aprovação só aumentava. O otimismo econômico se espraiava por todos os lados: a maioria aprovava não apenas o combate à fome e à pobreza, mas à inflação e ao desemprego. A percepção de que o noticiário era mais favorável ao governo era três vezes maior do que as percepção de más notícias. Quase uma euforia.

Naquele contexto, a estratégia da campanha de Dilma era elementar. Bastava associá-la a Lula na cabeça do eleitor. À medida que o nome da petista ia sendo reconhecido como a candidata do presidente, Dilma subia nas pesquisas. Naquele mês de junho, ela, pela primeira vez, alcançava a liderança isolada: 38%, contra 32% de José Serra (PSDB). Apenas dois meses antes, o tucano tinha 11 pontos de vantagem sobre ela.

Nas semanas seguintes, Dilma foi vendo aumentar sua intenção de voto: 43% em agosto de 2010, 51% no começo de setembro. Na inversa proporção, Serra caía de 40% em abril para 32% em meados de agosto e 27% em setembro. Ainda assim houve segundo turno, mas o resultado final da eleição é conhecido.

Corta para 2014. Qualquer semelhança entre o flashback de quatro anos atrás e o cenário atual resume-se aos 39% de Dilma no Ibope. A taxa de ótimo/bom do governo não é nem metade do que era quando Dilma foi candidata pela primeira vez. Os 31% atuais são, talvez, a linha de resistência da petista, mas são também seu patamar mais baixo desde que ela chegou ao poder.

Ao contrário de 2010, o pessimismo econômico é que se espraia para outras áreas de avaliação do governo. Combate à inflação e ao desemprego, saúde, segurança, educação, todos têm avaliações mais negativas do que positivas. Até o combate à fome e pobreza, maior símbolo petista, tem sua maior taxa de desaprovação desde que o PT assumiu o governo em 2003:53%.

A agenda é quase toda negativa para Dilma. A percepção de que as notícias são ruins para o governo é quatro vezes mais forte entre os eleitores do que a percepção do noticiário positivo. A euforia virou depressão.

Em função de tudo isso, o desejo de continuidade que regeu a eleição de 2010 transformou-se em desejo de mudar para pelo menos dois terços do eleitorado. Ao ponto de o marketing da petista incorporar o termo "mudança" ao seu vocabulário.

Nesse cenário, é até surpreendente que Dilma se sustente há quatro meses no patamar entre 37% e 40% das intenções de voto, segundo o Ibope. Ao contrário de 2010, a presidente segura-se no eleitorado mais pobre e menos escolarizado. Assim ela se mantém no jogo até que a propaganda comece na TV, e Lula possa, mais uma vez, atuar como seu principal cabo eleitoral.

Mas há uma diferença fundamental em relação a 2010. Há quatro anos, bastava Lula dizer que Dilma era sua candidata. Agora, ele precisa convencer o eleitor de que ela, a despeito da piora das expectativas e do desejo de mudança, é a melhor para fazer aquilo que o eleitor quer. É um desafio muito maior.

Se o cenário é esse, por que a oposição não avança mais? Questão de tempo, dirão Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Talvez. Mas é sintomático que os nanicos tenham chegado a 9% das intenções de voto antes de se tornarem conhecidos pela propaganda de TV. É sinal de que o eleitor está insatisfeito com as cartas que lhe deram e busca um curinga. Pode rir por último.