Primeiro encontro entre postulantes à Prefeitura de São Paulo ocorre amanhã, data em que análise do caso começa no Supremo
Julia Duailibi, Bruno Boghossian, Fernando Gallo, Felipe Frazão e Ricardo Chapola
O julgamento do mensalão, que começa amanhã no Supremo Tribunal Federal (STF), deve entrar na pauta dos candidatos a prefeito de São Paulo por questão de data. O primeiro debate na TV entre eles ocorrerá às 21h30, apenas duas horas e meia após a previsão de término do primeiro dia de sessões no STF sobre o caso.
Os líderes nas pesquisas de intenção de voto, José Serra (PSDB) e Celso Russomanno (PRB), dizem oficialmente que não pretendem levar o assunto ao encontro entre os candidatos na noite de amanhã, na TV Bandeirantes. O petista Fernando Haddad, porém, já prepara argumentos a fim de se defender de eventuais questionamentos sobre o tema, já que o caso surgiu durante a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, padrinho político de Haddad.
Caso seja provocado, Haddad argumentará que os governos Lula e da presidente Dilma Rousseff valorizam a democracia, que o caso é uma prova de que as instituições funcionam no País e que o STF dará a palavra final.
O candidato se prepara desde sábado, 28, para o debate, assessorado na parte política pelos vereadores Antonio Donato e José Américo, coordenadores da campanha, e na parte técnica pelo marqueteiro João Santana. Usa brechas nas gravações do seu programa eleitoral na TV para simular a performance no debate. Haddad disse na terça-feira, 31, não temer o tema. "Qualquer assunto é bem-vindo", comentou.
A equipe do petista avalia que um ataque pode partir do candidato Carlos Giannazi (PSOL) ou de um dos quatro jornalistas da Band, no terceiro bloco do debate, quando farão perguntas diretas aos postulantes ao cargo.
"Logicamente esse tema vai entrar, não só o mensalão, mas a corrupção e outros escândalos", disse Giannazi. "Aí vou cobrar do PT o mensalão, a CPI do Cachoeira, o mensalão do DEM, o mensalinho mineiro do PSDB, a privataria tucana do Serra, as máfias da Prefeitura de São Paulo", acrescentou. "Vou tentar mostrar esse conjunto de denúncias e casos de corrupção que envolvem quase todos os partidos. Vai sobrar pra todo mundo, menos pro PSOL", completou.
Para Serra e Russomanno, que estão empatados na liderança, segundo a mais recente pesquisa Datafolha, não é interessante veicular as críticas sobre o escândalo da gestão Lula. Como líderes, a estratégia é debater propostas para a cidade e evitar críticas.
Serra também não quer polarizar com Haddad, de modo a não dar visibilidade para o candidato, que precisa de exposição para se tornar mais conhecido entre o eleitor. Os tucanos também avaliam que, se explorarem o assunto, o eleitor pode achar que o mensalão é questão de briga política entre partidos.
"Nem tinha percebido que o debate seria no mesmo dia do início do julgamento. Mas queremos falar sobre as nossas propostas para São Paulo no debate", afirmou Serra na terça-feira.
Russomanno seguiu a mesma linha: "Vamos discutir os problemas de São Paulo. O povo quer saber como vamos resolver os problemas e melhorar a qualidade de vida das pessoas".
Nos bastidores, no entanto, integrantes das campanhas avaliam que será positiva a exploração do tema no debate por outros candidatos, pois coloca Haddad como alvo. O petista está empatado em terceiro lugar com a candidata Soninha (PPS), que também disse não pretender explorar o tema. "Se me perguntarem, vou responder, mas não vou puxar o assunto", afirmou.
Os outros candidatos também afirmam que querem discutir São Paulo. "Da minha parte não vou levar a questão para o debate, porque não quero nacionalizar a disputa", afirmou Gabriel Chalita (PMDB). "Vou tratar das propostas", resumiu Paulinho da Força (PDT).
Chalita é vaiado por professores
O candidato do PMDB a prefeito de São Paulo, Gabriel Chalita, enfrentou ontem resistência, durante palestra a professores e diretores de escolas, à sua proposta para acabar com as filas por vagas em creches da rede pública municipal. Chalita foi vaiado duas vezes no encontro do Sindicato dos Especialistas de Educação do Ensino Público Municipal (Sinesp), na região central da cidade. Ele contrariou a plateia ao dizer que planejava zerar o déficit de vagas em creches, atualmente de 145 mil, promovendo convênios com faculdades privadas. A proposta é uma das principais do programa de governo do peemedebista. Ele diz que só assim conseguiria acabar com a falta de vagas em dois anos.
Os servidores, no entanto, são contra o aumento de creches conveniadas, porque alegam que os salários são baixos e a estrutura precária – o que comprometeria a qualidade do ensino. “Queremos que o poder público seja responsável diretamente”, cobrou o diretor Paulo Roberto da Silva. “Quem é ele para falar que esse é o único jeito de acabar com a fila? Ele sentou para conversar com a gente?”, questionou.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO