O Globo
Os dados rocambolescos e a incompetência de
golpistas não podem ser usados como atenuantes
Na minha idade, é impossível falar de golpe
de Estado no Brasil e se desvencilhar da memória. Ouço isso desde garoto.
Quando comecei a trabalhar no Rio, conheci um repórter veterano chamado Redento
Júnior. Ele cobria a Aeronáutica e estava sempre esperando algo: Aragarças,
Jacareacanga, movimentos em que um grupo aterrissava na selva amazônica para
derrubar o governo.
Era até um pouco romântico. Vi o capitão
Lameirão andando pelas ruas de Juiz de Fora, carregava a memória de rebeliões
fracassadas. Em 1961, aos 20 anos, no Rio, acompanhei eletrizado o sequestro do
transatlântico Santa Maria pelo capitão português Henrique Galvão e pelo
general Humberto Delgado. Era uma ação espetacular contra a ditadura
salazarista.
Em 1964, cobri com uma dor no coração o golpe que derrubou Goulart. Entrevistei o general Mourão e me vinguei no primeiro parágrafo da matéria: o comandante da marcha militar contra o Rio sofreu um enfarte depois de andar alguns quilômetros em Copacabana.