“[..} Os mineiros, como políticos, têm o seu
perfil. É o perfil de moderação, ponderação,
busca de consensos, conciliação, mas que não confundam esse perfil de mineiro de
se fazer política com inércia ou tolerância em relação àquilo que não
transigimos. Porque quem objetivar mitigar o estado de direito ou estabelecer
retrocessos à democracia terá o pulso firme e forte da política de Minas Gerais
para resistir” (declarações de Rodrigo Pacheco, em evento promovido pela UFMG,
publicadas em matéria da jornalista Luciana Amaral, UOL em 17.09.21)
A declaração do presidente do Senado transmite
sensação de segurança institucional, pelo cargo que ocupa. Além disso, ao
recorrer ao simbolismo da “mineiridade” política, reforça de modo importante,
como faz desde que chegou ao cargo, o coro de vozes que pregam a pacificação do
país. Trata de pacificação como algo bem distinto da mera conciliação com
Bolsonaro, pois a disposição conciliadora compartilhada pelo senador mineiro,
em seu conservadorismo republicano genuíno, significa, por definição, uma
não-conciliação com o golpismo do presidente. Ambas as dimensões do
posicionamento (a institucional e a política) agradam a este comentarista, mas
não é disso que trata a coluna de hoje.
O intuito é analisar a declaração sob o
ângulo de seu aparente sentido de posicionar o presidente do Senado na discussão
pré-eleitoral que transcorre, contra o relógio, dentro do campo político que
integra. As assim chamadas direita e centro-direita precisarão, nos próximos
meses, definir-se por um caminho eleitoral próprio ou por contribuir a uma
agregação mais ampla, que englobe o centro do espectro ideológico, podendo
chegar à soleira da porta da assim chamada centro-esquerda. A premissa de que
parto para considerar apenas essas duas possibilidades é o desvanecimento
prático da opção de renovar, pela aposta na reeleição de Bolsonaro, o pacto
regressista vencedor em 2018.
Sob esse enquadramento, a declaração parece
mais um toque de reunir do que um chega para lá. Acena à reconfiguração
republicana do governismo, mais do que ao nascimento de uma oposição
conservadora ao governo. Do seu posto de observação privilegiado, Pacheco
constata todos os dias que o fantasma da orfandade ronda a nuvem política que
se agarrou no mito em 2018 e percebe seu esfarelamento a um ano das próximas
eleições. Mas que mensagem será capaz de reunir proativamente essas forças hoje
perdidas no varejo e dispersas no atacado? A da firme resistência institucional
é, sem dúvida, um bom e nobre começo, capaz de reparar, na prática, o malfeito
anterior.
O pulso forte do republicanismo
mineiro-nacional, no entanto, além de espantar o perigo que ronda a nação e sua
democracia, construirá o que? Sua agenda positiva será a das chamadas
"ilhas de racionalidade" do atual governismo, quase invisíveis a olho
nu enquanto Bolsonaro estiver sentado na sela em que transformou a cadeira
presidencial? Que acenos concretos uma centro-direita racional, como a que
Pacheco ensaia encarnar, pode fazer aos quase náufragos da aventura populista,
para tomarem o barco governista das mãos nada limpas e ainda por cima ineptas do
capitão e dos tripulantes mais chegados, ou para o abandonarem à deriva e
tomarem assento em outra embarcação?