"Em um País que ainda não conseguiu sequer envolver o cidadão, os partidos e o aparato estatal na prática coerente dos princípios democráticos elementares, aí se acha um tremendo desafio histórico. "
Florestan Fernandes, cf. "A sociologia como afirmação", do livro: A sociologia numa era de revolução social (1963).
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Reflexão do dia – Florestan Fernandes
Nossas elites :: Leôncio Martins Rodrigues
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
De tempos em tempos, a crítica às "nossas elites" volta a frequentar o discurso petista. Não fica claro quem são elas. Sabe-se, contudo, como denunciou recentemente o presidente Lula, que são capazes de muitos crimes contra o povo e contra o País, até mesmo de assassínio de quem morreu de morte morrida, como o ex-presidente Jânio Quadros. Getúlio Vargas - latifundiário, deputado estadual, deputado federal, governador do Rio Grande do Sul, ministro da Fazenda do presidente Washington Luís, 20 anos na Presidência da República (15 dos quais com poderes ditatoriais) -, classificado por Lula como uma das vítimas das "nossas elites", obviamente delas não poderia fazer parte.
Mas a referência às pérfidas elites antipovo, ainda que contenha incorreções históricas, tem um objetivo político-eleitoral. Não deve ser apreciada pela consistência teórica, com a qual, aliás, o ex-sindicalista não está preocupado. O importante é criar, na imaginação popular, um inimigo perigoso, de feições nebulosas, que não se sabe exatamente quem é. Repetida à saciedade, a acusação cria uma verdade.
Se aumentar a tensão social e/ou os cargos públicos correrem risco de passar para os adversários, uma nova categoria política poderia ser criada pelas alas petistas mais à esquerda: a de inimigo do povo. Mas para os novos-ricos que ascenderam sob as asas do ex-metalúrgico agitar a bandeira antielite traz a vantagem suplementar de ocultar a própria ascensão, isto é, fazer parte da elite sem parecer, sonho de todo político nesta época de democracia de massas.
Acontece que a popularização da composição da classe política e da elite no poder, ou seja, a ascensão de lideranças originárias das camadas médias, está fazendo menos convincentes e eleitoralmente pouco rendoso culpar as "nossas elites". Uma larga parcela dos ricos e poderosos está aliada ao PT. O presidente Lula poderia chamá-los de companheiros. A elite política brasileira, a alta cúpula do governo, dos que mandam e ocupam posições estratégicas na máquina governamental, é formada hoje pelos políticos, intelectuais de esquerda, apparatchiks, militantes e sindicalistas do PT. A maioria entrou para a política pelo trampolim de poderosos sindicatos da estrutura corporativa fascista, do catolicismo "progressista", das igrejas evangélicas, das ONGs e de outras organizações que servem de passagem para a classe política e dela para as instâncias de poder e ampliação do patrimônio. Na Câmara dos Deputados, para dar um exemplo, os ex-sindicalistas têm ocupado, nas últimas eleições, cerca de 10% das cadeiras.
Do ângulo socioprofissional, os componentes da nova classe ascendente dos políticos profissionais vêm dos segmentos das classes médias de nível relativamente alto de escolaridade, em que avultam os professores do ensino elementar e médio da rede pública, os bancários e técnicos, os servidores públicos e empregados do Estado, setores que poderíamos incluir - com a imprecisão habitual do conceito - nas classes médias-médias, a classe C. Não vêm tipicamente das camadas mais pobres que não dispõem de nível educacional que lhes possibilite passar de eleitor a eleito, ou seja, "entrar para a política". Seriam as classes D e E, com as quais os políticos da classe C, na disputa pelo voto dos pobres, têm mais facilidade de comunicação do que os das classes A e B.
Para captar o fenômeno da popularização da classe política e do declínio das elites tradicionais basta considerar os três principais competidores ao cargo máximo de presidente da República (duas mulheres). Todos vieram de fora da elite política tradicional. Marina Silva é quem veio mais de baixo. O pai era seringueiro. Alfabetizou-se aos 16 anos. José Serra é filho de feirante, imigrante italiano. Dilma Rousseff vem de uma família de classe média alta, mas não tradicional: o pai era engenheiro, nascido na Bulgária. Todos os três obtiveram diploma de nível universitário. Embora hoje possam ser classificados como membros da elite política, nenhum teve origem na própria elite. Entraram na política pela porta da esquerda, como é comum ocorrer com os pré-políticos de classe média e baixa que estão procurando entrar para a vida pública.
Não seria necessário ressaltar que grandes empresas e políticos de alta renda continuam a ter muito peso no interior dos órgãos de poder e da classe política. Ainda que o espaço que ocupavam no sistema decisório se tenha reduzido, as camadas empresariais continuam sendo uma peça importante na arena política. Talvez estejam mais participantes do que nunca, por meio, também, do financiamento dos candidatos de classe média e classe popular empenhados em ascender. Acontece que a popularização e a democratização marcham junto com a elevação astronômica dos custos das campanhas eleitorais. Esses custos se tornaram muito mais elevados do que na época do poder oligárquico, em que poucos votavam. Os ex-plebeus recém-chegados à classe política são, pois, forçados a recorrer às doações dos grandes financiadores de campanhas. A democracia de massas não elimina a influência do grande capital, das grandes empreiteiras e do sistema financeiro, particularmente. Expulsos pela porta, voltaram pela janela.
O resultado hoje é uma elite política heterogênea. Políticos das velhas oligarquias, que seriam a expressão mais típica das "nossas elites", confraternizam com os ex-plebeus ascendentes, os primeiros geralmente nos partidos ditos de direita, os segundo nos partidos ditos de esquerda.
Assim, a denúncia demagógica contra as nossas elites, mesmo que continue a habitar o discurso petista, tende a soar cada vez mais falsa, não só porque as classes altas tradicionais não têm mais o monopólio do poder político, como também porque as altas chefias petistas passaram a fazer parte da elite.
Ex-professor titular dos Departamentos de Ciência Política da USP e da UNICAMP, é autor de "Destino do sindicalismo"
De tempos em tempos, a crítica às "nossas elites" volta a frequentar o discurso petista. Não fica claro quem são elas. Sabe-se, contudo, como denunciou recentemente o presidente Lula, que são capazes de muitos crimes contra o povo e contra o País, até mesmo de assassínio de quem morreu de morte morrida, como o ex-presidente Jânio Quadros. Getúlio Vargas - latifundiário, deputado estadual, deputado federal, governador do Rio Grande do Sul, ministro da Fazenda do presidente Washington Luís, 20 anos na Presidência da República (15 dos quais com poderes ditatoriais) -, classificado por Lula como uma das vítimas das "nossas elites", obviamente delas não poderia fazer parte.
Mas a referência às pérfidas elites antipovo, ainda que contenha incorreções históricas, tem um objetivo político-eleitoral. Não deve ser apreciada pela consistência teórica, com a qual, aliás, o ex-sindicalista não está preocupado. O importante é criar, na imaginação popular, um inimigo perigoso, de feições nebulosas, que não se sabe exatamente quem é. Repetida à saciedade, a acusação cria uma verdade.
Se aumentar a tensão social e/ou os cargos públicos correrem risco de passar para os adversários, uma nova categoria política poderia ser criada pelas alas petistas mais à esquerda: a de inimigo do povo. Mas para os novos-ricos que ascenderam sob as asas do ex-metalúrgico agitar a bandeira antielite traz a vantagem suplementar de ocultar a própria ascensão, isto é, fazer parte da elite sem parecer, sonho de todo político nesta época de democracia de massas.
Acontece que a popularização da composição da classe política e da elite no poder, ou seja, a ascensão de lideranças originárias das camadas médias, está fazendo menos convincentes e eleitoralmente pouco rendoso culpar as "nossas elites". Uma larga parcela dos ricos e poderosos está aliada ao PT. O presidente Lula poderia chamá-los de companheiros. A elite política brasileira, a alta cúpula do governo, dos que mandam e ocupam posições estratégicas na máquina governamental, é formada hoje pelos políticos, intelectuais de esquerda, apparatchiks, militantes e sindicalistas do PT. A maioria entrou para a política pelo trampolim de poderosos sindicatos da estrutura corporativa fascista, do catolicismo "progressista", das igrejas evangélicas, das ONGs e de outras organizações que servem de passagem para a classe política e dela para as instâncias de poder e ampliação do patrimônio. Na Câmara dos Deputados, para dar um exemplo, os ex-sindicalistas têm ocupado, nas últimas eleições, cerca de 10% das cadeiras.
Do ângulo socioprofissional, os componentes da nova classe ascendente dos políticos profissionais vêm dos segmentos das classes médias de nível relativamente alto de escolaridade, em que avultam os professores do ensino elementar e médio da rede pública, os bancários e técnicos, os servidores públicos e empregados do Estado, setores que poderíamos incluir - com a imprecisão habitual do conceito - nas classes médias-médias, a classe C. Não vêm tipicamente das camadas mais pobres que não dispõem de nível educacional que lhes possibilite passar de eleitor a eleito, ou seja, "entrar para a política". Seriam as classes D e E, com as quais os políticos da classe C, na disputa pelo voto dos pobres, têm mais facilidade de comunicação do que os das classes A e B.
Para captar o fenômeno da popularização da classe política e do declínio das elites tradicionais basta considerar os três principais competidores ao cargo máximo de presidente da República (duas mulheres). Todos vieram de fora da elite política tradicional. Marina Silva é quem veio mais de baixo. O pai era seringueiro. Alfabetizou-se aos 16 anos. José Serra é filho de feirante, imigrante italiano. Dilma Rousseff vem de uma família de classe média alta, mas não tradicional: o pai era engenheiro, nascido na Bulgária. Todos os três obtiveram diploma de nível universitário. Embora hoje possam ser classificados como membros da elite política, nenhum teve origem na própria elite. Entraram na política pela porta da esquerda, como é comum ocorrer com os pré-políticos de classe média e baixa que estão procurando entrar para a vida pública.
Não seria necessário ressaltar que grandes empresas e políticos de alta renda continuam a ter muito peso no interior dos órgãos de poder e da classe política. Ainda que o espaço que ocupavam no sistema decisório se tenha reduzido, as camadas empresariais continuam sendo uma peça importante na arena política. Talvez estejam mais participantes do que nunca, por meio, também, do financiamento dos candidatos de classe média e classe popular empenhados em ascender. Acontece que a popularização e a democratização marcham junto com a elevação astronômica dos custos das campanhas eleitorais. Esses custos se tornaram muito mais elevados do que na época do poder oligárquico, em que poucos votavam. Os ex-plebeus recém-chegados à classe política são, pois, forçados a recorrer às doações dos grandes financiadores de campanhas. A democracia de massas não elimina a influência do grande capital, das grandes empreiteiras e do sistema financeiro, particularmente. Expulsos pela porta, voltaram pela janela.
O resultado hoje é uma elite política heterogênea. Políticos das velhas oligarquias, que seriam a expressão mais típica das "nossas elites", confraternizam com os ex-plebeus ascendentes, os primeiros geralmente nos partidos ditos de direita, os segundo nos partidos ditos de esquerda.
Assim, a denúncia demagógica contra as nossas elites, mesmo que continue a habitar o discurso petista, tende a soar cada vez mais falsa, não só porque as classes altas tradicionais não têm mais o monopólio do poder político, como também porque as altas chefias petistas passaram a fazer parte da elite.
Ex-professor titular dos Departamentos de Ciência Política da USP e da UNICAMP, é autor de "Destino do sindicalismo"
Alternativa difícil :: Merval Pereira
DEU EM O GLOBO
A candidatura da senadora Marina Silva pelo Partido Verde tem uma característica, que ficou evidenciada na entrevista que concedeu ao "Jornal Nacional" na terça-feira: ela ainda não consegue passar a sensação de que teria condições de governabilidade, caso fosse eleita presidente da República.
Esse foi o tema central da entrevista concedida pela candidata do Partido Verde ao "Jornal Nacional". E, no "Jornal das Dez" da Globonews, a candidata teve a oportunidade de se aprofundar na sua explicação.
Para ganhar a eleição, ela teria que ser um tipo de candidata voluntarista, assim como o Collor de 1989, que era de um partido inexistente, o PRN, e foi arrebatando o eleitorado ao longo da campanha com um estilo agressivo de fazer oposição tanto ao governo da época quanto a Lula e Brizola.
Mas os tempos são outros e, sobretudo, o estilo de Marina é outro, diametralmente oposto.
Ela é conciliadora, se expressa muito bem, é muito doce nas colocações. Tem uma história de vida admirável.
Mas, numa eleição polarizada que reflete a situação política que estamos vivendo há 20 anos entre PT e PSDB, dificilmente uma candidata com esse perfil consegue furar a barreira e aparecer como uma alternativa viável.
Sua utopia parece atraente: governar com os melhores de PT, PSDB, PMDB e DEM, um governo de coalizão nacional.
Ela concede que mesmo no PMDB e no DEM há "pessoas de bem".
Seria a República dos homens de bem.
Mas Marina não parece ser a liderança para viabilizar um governo dessa categoria.
O que ela pode tirar de melhor dessa campanha, pelo menos até o momento, é tentar crescer a ponto de provocar um segundo turno na eleição presidencial, para então negociar compromissos de um dos dois finalistas em relação ao meio ambiente.
Essa deveria ser a meta factível do Partido Verde, ser o fiel da balança num segundo turno.
Ela tenta abrir esse caminho através do diálogo, da negociação, por questão de estilo, e também por cálculo político.
Depois de 30 anos de PT, Marina tem claramente dificuldades de romper com seu antigo partido.
Ontem mesmo, alegou que não criticaria os erros do PT porque não é "antiética".
Se referia principalmente ao mensalão, outro tema levantado pelo "Jornal Nacional", que ela alega ter combatido por dentro, optando por uma ação oposta a alguns companheiros, que saíram do partido para fundar o PSOL.
Mas há um cálculo político por trás dessa atitude de Marina que, assim como Serra, não quer brigar abertamente com o governo Lula.
Todos imaginam ir para o segundo turno e ter alguns votos dos lulistas que, eventualmente, estejam insatisfeitos com a candidatura de Dilma Rousseff e se disponham a escolher uma alternativa.
Especialmente Marina, que tem uma história no PT.
O presidente Lula comparou Dilma a Mandela numa tentativa, que soou ridícula, de transformar seu passado de guerrilheira contra a ditadura militar em um episódio de heroísmo.
O estilo de fazer política de Marina, desde os tempos dos seringais do Acre junto com Chico Mendes, é o da "resistência pacífica" de Gandhi.
Mas Marina não é Gandhi, não exala aquela força interior que transforma a fragilidade em poder de ação.
Pelo menos nunca tentou se comparar a Gandhi.
Na coluna de terça-feira, comentando a entrevista da candidata oficial, Dilma Rousseff, ao "Jornal Nacional", critiquei o fato de ela ter anunciado investimentos de R$270 milhões em saneamento na Rocinha, afirmando que não existiam projetos de saneamento no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) daquela favela carioca.
Ontem, O GLOBO publicou uma reportagem em que afirma que os investimentos em saneamento na Rocinha foram de R$80 milhões e, portanto, tanto eu quanto a candidata petista estaríamos errados.
A aparente contradição entre meu comentário e a informação do GLOBO é explicada pela conceituação do que seja saneamento.
Em termos técnicos, existem dois tipos de "saneamento": o básico - água e esgoto - e o ambiental - água, esgoto, drenagem e lixo.
Nenhum dos dois foi aplicado na comunidade da Rocinha, cujo PAC é um projeto urbanístico que consta da construção de um complexo esportivo; um hospital tipo UPA; um centro de convivência; uma creche; construção de moradias para 500 famílias e a abertura da Rua 4, visando à passagem de carros, ambulâncias, etc, como alternativa à Estrada da Gávea, única via que corta a Rocinha.
Haverá também um plano inclinado na área conhecida como Roupa Suja. E urbanização, com pracinha e plantio de árvores, na Via Ápia.
É claro que nestas áreas onde houve a construção de edifícios, apartamentos e vila esportiva foram abertas redes de água e esgoto.
Seria simplesmente impossível o Estado fazer essas obras sem esse tipo de saneamento "básico".
Mas, se isso fosse considerado projeto de saneamento, qualquer edifício construído em qualquer lugar no Rio de Janeiro seria contabilizado como uma "obra de saneamento".
Além do mais, as obras do PAC não afetam nem 3% do território da Rocinha, que continua tendo os problemas estruturais de sempre e seríssimos: esgoto a céu aberto, sem política nenhuma de gestão do lixo e a maioria das áreas sujeitas a inundação.
Quando chove na Rocinha, entra água em 90% das moradias.
A sujeira desce pelo canal que termina em São Conrado e chega tudo até o mar.
Projeto de saneamento do governo federal é o de Sepetiba, esse sim, mexe com a rede estrutural de uma área imensa, fazendo rede de água, esgoto, drenagem e lixo.
A candidatura da senadora Marina Silva pelo Partido Verde tem uma característica, que ficou evidenciada na entrevista que concedeu ao "Jornal Nacional" na terça-feira: ela ainda não consegue passar a sensação de que teria condições de governabilidade, caso fosse eleita presidente da República.
Esse foi o tema central da entrevista concedida pela candidata do Partido Verde ao "Jornal Nacional". E, no "Jornal das Dez" da Globonews, a candidata teve a oportunidade de se aprofundar na sua explicação.
Para ganhar a eleição, ela teria que ser um tipo de candidata voluntarista, assim como o Collor de 1989, que era de um partido inexistente, o PRN, e foi arrebatando o eleitorado ao longo da campanha com um estilo agressivo de fazer oposição tanto ao governo da época quanto a Lula e Brizola.
Mas os tempos são outros e, sobretudo, o estilo de Marina é outro, diametralmente oposto.
Ela é conciliadora, se expressa muito bem, é muito doce nas colocações. Tem uma história de vida admirável.
Mas, numa eleição polarizada que reflete a situação política que estamos vivendo há 20 anos entre PT e PSDB, dificilmente uma candidata com esse perfil consegue furar a barreira e aparecer como uma alternativa viável.
Sua utopia parece atraente: governar com os melhores de PT, PSDB, PMDB e DEM, um governo de coalizão nacional.
Ela concede que mesmo no PMDB e no DEM há "pessoas de bem".
Seria a República dos homens de bem.
Mas Marina não parece ser a liderança para viabilizar um governo dessa categoria.
O que ela pode tirar de melhor dessa campanha, pelo menos até o momento, é tentar crescer a ponto de provocar um segundo turno na eleição presidencial, para então negociar compromissos de um dos dois finalistas em relação ao meio ambiente.
Essa deveria ser a meta factível do Partido Verde, ser o fiel da balança num segundo turno.
Ela tenta abrir esse caminho através do diálogo, da negociação, por questão de estilo, e também por cálculo político.
Depois de 30 anos de PT, Marina tem claramente dificuldades de romper com seu antigo partido.
Ontem mesmo, alegou que não criticaria os erros do PT porque não é "antiética".
Se referia principalmente ao mensalão, outro tema levantado pelo "Jornal Nacional", que ela alega ter combatido por dentro, optando por uma ação oposta a alguns companheiros, que saíram do partido para fundar o PSOL.
Mas há um cálculo político por trás dessa atitude de Marina que, assim como Serra, não quer brigar abertamente com o governo Lula.
Todos imaginam ir para o segundo turno e ter alguns votos dos lulistas que, eventualmente, estejam insatisfeitos com a candidatura de Dilma Rousseff e se disponham a escolher uma alternativa.
Especialmente Marina, que tem uma história no PT.
O presidente Lula comparou Dilma a Mandela numa tentativa, que soou ridícula, de transformar seu passado de guerrilheira contra a ditadura militar em um episódio de heroísmo.
O estilo de fazer política de Marina, desde os tempos dos seringais do Acre junto com Chico Mendes, é o da "resistência pacífica" de Gandhi.
Mas Marina não é Gandhi, não exala aquela força interior que transforma a fragilidade em poder de ação.
Pelo menos nunca tentou se comparar a Gandhi.
Na coluna de terça-feira, comentando a entrevista da candidata oficial, Dilma Rousseff, ao "Jornal Nacional", critiquei o fato de ela ter anunciado investimentos de R$270 milhões em saneamento na Rocinha, afirmando que não existiam projetos de saneamento no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) daquela favela carioca.
Ontem, O GLOBO publicou uma reportagem em que afirma que os investimentos em saneamento na Rocinha foram de R$80 milhões e, portanto, tanto eu quanto a candidata petista estaríamos errados.
A aparente contradição entre meu comentário e a informação do GLOBO é explicada pela conceituação do que seja saneamento.
Em termos técnicos, existem dois tipos de "saneamento": o básico - água e esgoto - e o ambiental - água, esgoto, drenagem e lixo.
Nenhum dos dois foi aplicado na comunidade da Rocinha, cujo PAC é um projeto urbanístico que consta da construção de um complexo esportivo; um hospital tipo UPA; um centro de convivência; uma creche; construção de moradias para 500 famílias e a abertura da Rua 4, visando à passagem de carros, ambulâncias, etc, como alternativa à Estrada da Gávea, única via que corta a Rocinha.
Haverá também um plano inclinado na área conhecida como Roupa Suja. E urbanização, com pracinha e plantio de árvores, na Via Ápia.
É claro que nestas áreas onde houve a construção de edifícios, apartamentos e vila esportiva foram abertas redes de água e esgoto.
Seria simplesmente impossível o Estado fazer essas obras sem esse tipo de saneamento "básico".
Mas, se isso fosse considerado projeto de saneamento, qualquer edifício construído em qualquer lugar no Rio de Janeiro seria contabilizado como uma "obra de saneamento".
Além do mais, as obras do PAC não afetam nem 3% do território da Rocinha, que continua tendo os problemas estruturais de sempre e seríssimos: esgoto a céu aberto, sem política nenhuma de gestão do lixo e a maioria das áreas sujeitas a inundação.
Quando chove na Rocinha, entra água em 90% das moradias.
A sujeira desce pelo canal que termina em São Conrado e chega tudo até o mar.
Projeto de saneamento do governo federal é o de Sepetiba, esse sim, mexe com a rede estrutural de uma área imensa, fazendo rede de água, esgoto, drenagem e lixo.
Iogurte natural :: Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
José Serra defendeu outro dia para uma plateia de empresários a ideia de que os candidatos devem se apresentar no horário eleitoral de televisão com menos aparato publicitário possível. Sem muita produção, sem maquiagem (lato e estrito sensos) e de preferência sem roteiro prévio.
"Chegar lá e falar o que pretende e se possível de improviso, sem nenhum tipo de truque. Com isso, a gente elimina custo e impede que os candidatos sejam vendidos como iogurtes ou o novo pão de centeio", disse o candidato a presidente pelo PSDB no auditório da Associação Comercial, aproveitando justamente um encontro ao qual a candidata Dilma Rousseff havia se recusado a comparecer.
No dia anterior Serra havia conversado com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a respeito da melhor maneira de se apresentar ao País nestes dois meses de intensa exposição três vezes por semana, duas vezes por dia, no horário eleitoral, nas inserções ao longo da programação das emissoras, nos debates e nas entrevistas pré-marcadas.
A conversa foi exatamente aquela. FH sugeriu e Serra concordou que sua melhor arma seria ele mesmo e, portanto, deveria argumentar junto à assessoria de propaganda que tentasse usar esse modelo mais despojado nos programas que começam na semana que vem.
Por uma razão simples e objetiva: em matéria de recursos técnicos e financeiros não haverá como competir com a candidatura oficial. Só a discrepância no volume de arrecadação até agora (algo como o quádruplo para a campanha de Dilma) já corrobora a constatação.
Na hora Serra achou que FH tinha razão, mas disse que não saberia se conseguiria convencer os assessores da área de que o estilo "cara lavada" seria o melhor.
Afinal, é como ele mesmo disse na ocasião: "É chato? É chato, mas a política é chata." E para quem disputa eleição talvez seja conveniente não exagerar na dose.
Laços. Na forma Marina Silva esteve irretocável no Jornal Nacional. Figura linda, português esplêndido, fluência invejável.
No conteúdo claudicou visivelmente. Excedeu-se nas concessões à utopia, mas falhou mesmo no contraste entre a firmeza dos gestos - até para interromper o entrevistador e ficar senhora do tempo - e a tibieza da fala sobre sua atitude em relação ao escândalo-mor do PT.
Chamou o mensalão, um crime, de "erro" e não convenceu sobre a decisão de permanecer no governo "combatendo por dentro". Inclusive porque saiu por ter perdido outra batalha, a do meio ambiente.
Mano a mano. O PT morre de vontade, mas sabe que não pode arrumar contencioso com a Rede Globo.
O presidente Lula deu um sinal, que nem de longe dá a dimensão do descontentamento real, ao reclamar do tratamento dado a Dilma Rousseff na entrevista do Jornal Nacional. Lula disse que faltou "gentileza".
Na verdade, Lula e o PT se ressentem mesmo é da falta de privilégio e do deslumbramento acrítico que havia quando Lula era o candidato, notadamente em 2002.
O PT reivindica o direito de "amadurecer" à medida que vive experiências governamentais, mas não dá aos outros o direito de amadurecer a maneira de lidar com o partido.
Petistas agem como pragmáticos e esperam ser tratados como ideólogos. Acham injustas quaisquer cobranças, pois acreditam que as pessoas têm a obrigação de olhá-los com a tolerância devida aos inimputáveis.
Mau jeito. Dizer que o presidente Lula ficou "contrariado" com a chancela do Brasil às sanções impostas pela ONU ao Irã vale tanto quanto afirmar que ele ficou "irritado" como ocorre sempre que há um fato desfavorável.
Ou seja, não vale nada, além do uso de um adjetivo. Voto vencido nas Nações Unidas, ou o Brasil assinava ou quedava-se ao isolamento sem resultados.
José Serra defendeu outro dia para uma plateia de empresários a ideia de que os candidatos devem se apresentar no horário eleitoral de televisão com menos aparato publicitário possível. Sem muita produção, sem maquiagem (lato e estrito sensos) e de preferência sem roteiro prévio.
"Chegar lá e falar o que pretende e se possível de improviso, sem nenhum tipo de truque. Com isso, a gente elimina custo e impede que os candidatos sejam vendidos como iogurtes ou o novo pão de centeio", disse o candidato a presidente pelo PSDB no auditório da Associação Comercial, aproveitando justamente um encontro ao qual a candidata Dilma Rousseff havia se recusado a comparecer.
No dia anterior Serra havia conversado com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a respeito da melhor maneira de se apresentar ao País nestes dois meses de intensa exposição três vezes por semana, duas vezes por dia, no horário eleitoral, nas inserções ao longo da programação das emissoras, nos debates e nas entrevistas pré-marcadas.
A conversa foi exatamente aquela. FH sugeriu e Serra concordou que sua melhor arma seria ele mesmo e, portanto, deveria argumentar junto à assessoria de propaganda que tentasse usar esse modelo mais despojado nos programas que começam na semana que vem.
Por uma razão simples e objetiva: em matéria de recursos técnicos e financeiros não haverá como competir com a candidatura oficial. Só a discrepância no volume de arrecadação até agora (algo como o quádruplo para a campanha de Dilma) já corrobora a constatação.
Na hora Serra achou que FH tinha razão, mas disse que não saberia se conseguiria convencer os assessores da área de que o estilo "cara lavada" seria o melhor.
Afinal, é como ele mesmo disse na ocasião: "É chato? É chato, mas a política é chata." E para quem disputa eleição talvez seja conveniente não exagerar na dose.
Laços. Na forma Marina Silva esteve irretocável no Jornal Nacional. Figura linda, português esplêndido, fluência invejável.
No conteúdo claudicou visivelmente. Excedeu-se nas concessões à utopia, mas falhou mesmo no contraste entre a firmeza dos gestos - até para interromper o entrevistador e ficar senhora do tempo - e a tibieza da fala sobre sua atitude em relação ao escândalo-mor do PT.
Chamou o mensalão, um crime, de "erro" e não convenceu sobre a decisão de permanecer no governo "combatendo por dentro". Inclusive porque saiu por ter perdido outra batalha, a do meio ambiente.
Mano a mano. O PT morre de vontade, mas sabe que não pode arrumar contencioso com a Rede Globo.
O presidente Lula deu um sinal, que nem de longe dá a dimensão do descontentamento real, ao reclamar do tratamento dado a Dilma Rousseff na entrevista do Jornal Nacional. Lula disse que faltou "gentileza".
Na verdade, Lula e o PT se ressentem mesmo é da falta de privilégio e do deslumbramento acrítico que havia quando Lula era o candidato, notadamente em 2002.
O PT reivindica o direito de "amadurecer" à medida que vive experiências governamentais, mas não dá aos outros o direito de amadurecer a maneira de lidar com o partido.
Petistas agem como pragmáticos e esperam ser tratados como ideólogos. Acham injustas quaisquer cobranças, pois acreditam que as pessoas têm a obrigação de olhá-los com a tolerância devida aos inimputáveis.
Mau jeito. Dizer que o presidente Lula ficou "contrariado" com a chancela do Brasil às sanções impostas pela ONU ao Irã vale tanto quanto afirmar que ele ficou "irritado" como ocorre sempre que há um fato desfavorável.
Ou seja, não vale nada, além do uso de um adjetivo. Voto vencido nas Nações Unidas, ou o Brasil assinava ou quedava-se ao isolamento sem resultados.
A segunda guerra :: Míriam Leitão
DEU EM O GLOBO
Coalizões eleitorais nem sempre são as coalizões de governo. Em geral, o eleito organiza seu governo, com uma federação de partidos, após as eleições. O PMDB concorreu contra Fernando Henrique em 1994 e entrou para o governo. Depois formou chapa com José Serra, em 2002, mas foi para o governo Lula. Aliás o que seria do PMDB se não pudesse mudar de posição entre campanha e posse?
Portanto, a candidata Marina Silva não proferiu nenhum despropósito quando disse ao Jornal Nacional que, se eleita, passaria então a construir seu governo chamando forças de outros partidos. Seria com uma coalizão formada a partir da eleição. A pessoa eleita e empossada no posto de presidente da República tem condições políticas de fazê-lo, independentemente do tamanho do partido pelo qual concorreu.
O difícil de executar, porque ainda não se viu no Brasil, é o projeto de "governar com os melhores" de cada partido, que ela defende. O PMDB não fisiológico é um animal praticamente extinto. São tão poucos, que não há reserva ecológica que proteja a espécie. Não há muitos Jarbas Vasconcelos no partido. E nem ele está concorrendo para o Congresso. O PT só entra em governo dele mesmo. Aos outros, faz oposição inflexível. É do tipo que expulsa quem contraria a vontade central. O PSDB, que nunca aprendeu a fazer oposição, que votou em propostas feitas pelo governo Lula, pode até ser que atendesse a um chamado de Marina.
Mas o que ela está avisando é que é a única com trânsito no PT, por ter passado lá 30 anos; com trânsito no PSDB, por ser um dos raros quadros, que quando petista, não hostilizava as propostas do governo tucano. Pelo contrário, em alguns projetos deu até apoio e lutou pela aprovação. Isso é raro no ambiente polarizado da política brasileira que opõe com ódios vicerais dois partidos que, nas suas ideias, têm mais em comum do que tolerariam admitir. Ela tem, de fato, trânsito suprapartidário mas isso não quer dizer que seria fácil construir uma coalizão dos melhores de cada partido. Nada é fácil e simples no Brasil. Fernando Collor de Mello saiu de um partido pequeno e efêmero e construiu uma enorme coalizão, o centrão, e com ele governou pelo seu curto e interrompido mandato. Mas ele, como se sabe, não procurou os melhores. Nem era essa a sua intenção. Bem ao contrário.
Confrontada com o fato de o PT estar hoje com os inimigos do passado, a candidata Dilma Rousseff afirmou no Jornal Nacional que o partido amadureceu. É uma boa resposta para justificar más escolhas. É inevitável construir coalizões para governar o Brasil, mas isso não é o mesmo que defender, até as últimas consequências, certas figuras emblemáticas da política brasileira em meio a escândalos, como José Sarney e Renan Calheiros; ou beijar a mão de Jader Barbalho. Isso sem falar no revelador jingle de campanha: É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma.
Governar a partir de primeiro de janeiro de 2011 será difícil para qualquer um. O eleito terá que ter capacidade de liderança e articulação. Dilma Rousseff nunca foi parlamentar, nem tem qualquer experiência como articuladora política. Ela mesma disse que sua fama de durona vem do fato de que cobrava, como mãe, os ministros do governo Lula. Essa não é uma relação que funcione com o Congresso, formado por pessoas que receberam mandato popular. José Serra tem fama de ser centralizador e também de ter um temperamento difícil. O que o favorece é a sua experiência de constituinte, deputado e senador. Sua base parlamentar tende a ser mais fragmentada do que a base a ser formada por Dilma, se ela for eleita. O PSDB e o DEM têm perdido peso parlamentar nas últimas eleições. Enfrentaria também feroz oposição do PT. Marina, na hipótese de que, a hoje terceira nas pesquisas de intenção de voto, seja eleita, teria também dificuldades para gerir a coalizão. Como todo mundo. Suas vantagens seriam a experiência parlamentar e o trânsito em vários partidos.
As dificuldades de governar o Brasil no próximo mandato não virão apenas dos desafios rotineiros de formação e administração da coalizão. Outros problemas terão que ser enfrentados. Como distribuir os cargos entre os partidos da base sem que pareça a repetição da escandalosa ocupação da máquina pública que ocorreu no governo Lula? O tema de como combater a corrupção pode estar ausente das campanhas dos candidatos, mas está cada vez mais presente na cabeça do eleitor, enfraquecendo sua confiança na democracia. Novos abusos como os que são revelados dia a dia, como o de fundos de pensão totalmente partidarizados; informações vazadas de órgãos públicos obrigados ao sigilo, tudo isso tem alimentado uma perigosa descrença nas instituições.
Algumas reformas são urgentes e precisarão de maioria coesa no Congresso e capacidade de articulação com os governadores. Desatinos fiscais do final do governo Lula deixarão um legado difícil de enfrentar. Cortes nos gastos públicos serão inevitáveis. Ao mesmo tempo há cronogramas inescapáveis em obras para preparar o país para os eventos internacionais. Há desafios antigos para serem enfrentados com novas fórmulas e ousadias.
Só após o resultado das eleições parlamentares a pessoa eleita saberá com que forças poderá contar para formar a maioria. As eleições parlamentares serão fundamentais para definir qual será a qualidade da coalizão a ser organizada pela pessoa que vencer as eleições deste ano. Qualquer que seja o vencedor ou a vencedora essa não será uma tarefa trivial.
Coalizões eleitorais nem sempre são as coalizões de governo. Em geral, o eleito organiza seu governo, com uma federação de partidos, após as eleições. O PMDB concorreu contra Fernando Henrique em 1994 e entrou para o governo. Depois formou chapa com José Serra, em 2002, mas foi para o governo Lula. Aliás o que seria do PMDB se não pudesse mudar de posição entre campanha e posse?
Portanto, a candidata Marina Silva não proferiu nenhum despropósito quando disse ao Jornal Nacional que, se eleita, passaria então a construir seu governo chamando forças de outros partidos. Seria com uma coalizão formada a partir da eleição. A pessoa eleita e empossada no posto de presidente da República tem condições políticas de fazê-lo, independentemente do tamanho do partido pelo qual concorreu.
O difícil de executar, porque ainda não se viu no Brasil, é o projeto de "governar com os melhores" de cada partido, que ela defende. O PMDB não fisiológico é um animal praticamente extinto. São tão poucos, que não há reserva ecológica que proteja a espécie. Não há muitos Jarbas Vasconcelos no partido. E nem ele está concorrendo para o Congresso. O PT só entra em governo dele mesmo. Aos outros, faz oposição inflexível. É do tipo que expulsa quem contraria a vontade central. O PSDB, que nunca aprendeu a fazer oposição, que votou em propostas feitas pelo governo Lula, pode até ser que atendesse a um chamado de Marina.
Mas o que ela está avisando é que é a única com trânsito no PT, por ter passado lá 30 anos; com trânsito no PSDB, por ser um dos raros quadros, que quando petista, não hostilizava as propostas do governo tucano. Pelo contrário, em alguns projetos deu até apoio e lutou pela aprovação. Isso é raro no ambiente polarizado da política brasileira que opõe com ódios vicerais dois partidos que, nas suas ideias, têm mais em comum do que tolerariam admitir. Ela tem, de fato, trânsito suprapartidário mas isso não quer dizer que seria fácil construir uma coalizão dos melhores de cada partido. Nada é fácil e simples no Brasil. Fernando Collor de Mello saiu de um partido pequeno e efêmero e construiu uma enorme coalizão, o centrão, e com ele governou pelo seu curto e interrompido mandato. Mas ele, como se sabe, não procurou os melhores. Nem era essa a sua intenção. Bem ao contrário.
Confrontada com o fato de o PT estar hoje com os inimigos do passado, a candidata Dilma Rousseff afirmou no Jornal Nacional que o partido amadureceu. É uma boa resposta para justificar más escolhas. É inevitável construir coalizões para governar o Brasil, mas isso não é o mesmo que defender, até as últimas consequências, certas figuras emblemáticas da política brasileira em meio a escândalos, como José Sarney e Renan Calheiros; ou beijar a mão de Jader Barbalho. Isso sem falar no revelador jingle de campanha: É Lula apoiando Collor, é Collor apoiando Dilma.
Governar a partir de primeiro de janeiro de 2011 será difícil para qualquer um. O eleito terá que ter capacidade de liderança e articulação. Dilma Rousseff nunca foi parlamentar, nem tem qualquer experiência como articuladora política. Ela mesma disse que sua fama de durona vem do fato de que cobrava, como mãe, os ministros do governo Lula. Essa não é uma relação que funcione com o Congresso, formado por pessoas que receberam mandato popular. José Serra tem fama de ser centralizador e também de ter um temperamento difícil. O que o favorece é a sua experiência de constituinte, deputado e senador. Sua base parlamentar tende a ser mais fragmentada do que a base a ser formada por Dilma, se ela for eleita. O PSDB e o DEM têm perdido peso parlamentar nas últimas eleições. Enfrentaria também feroz oposição do PT. Marina, na hipótese de que, a hoje terceira nas pesquisas de intenção de voto, seja eleita, teria também dificuldades para gerir a coalizão. Como todo mundo. Suas vantagens seriam a experiência parlamentar e o trânsito em vários partidos.
As dificuldades de governar o Brasil no próximo mandato não virão apenas dos desafios rotineiros de formação e administração da coalizão. Outros problemas terão que ser enfrentados. Como distribuir os cargos entre os partidos da base sem que pareça a repetição da escandalosa ocupação da máquina pública que ocorreu no governo Lula? O tema de como combater a corrupção pode estar ausente das campanhas dos candidatos, mas está cada vez mais presente na cabeça do eleitor, enfraquecendo sua confiança na democracia. Novos abusos como os que são revelados dia a dia, como o de fundos de pensão totalmente partidarizados; informações vazadas de órgãos públicos obrigados ao sigilo, tudo isso tem alimentado uma perigosa descrença nas instituições.
Algumas reformas são urgentes e precisarão de maioria coesa no Congresso e capacidade de articulação com os governadores. Desatinos fiscais do final do governo Lula deixarão um legado difícil de enfrentar. Cortes nos gastos públicos serão inevitáveis. Ao mesmo tempo há cronogramas inescapáveis em obras para preparar o país para os eventos internacionais. Há desafios antigos para serem enfrentados com novas fórmulas e ousadias.
Só após o resultado das eleições parlamentares a pessoa eleita saberá com que forças poderá contar para formar a maioria. As eleições parlamentares serão fundamentais para definir qual será a qualidade da coalizão a ser organizada pela pessoa que vencer as eleições deste ano. Qualquer que seja o vencedor ou a vencedora essa não será uma tarefa trivial.
Do jeitinho que Minas gosta :: Eliane Cantanhêde
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
BRASÍLIA - A eleição em Minas está como os mineiros gostam: dissimulada, cheia de brechas para variadas interpretações. Pelo que se lê, as sabatinas com os dois principais candidatos, Hélio Costa, do PMDB, e Antonio Anastasia, do PSDB, só reforçaram isso.
Ontem, Costa, que tem apoio de Lula e Dilma, foi pouco político ao falar que, depois das quedas de Dirceu e Palocci, Aécio só não foi candidato de Lula porque não quis. Dedução: foi Dilma porque não havia mais ninguém. É verdade, mas isso é lá coisa que aliado diga?
Anteontem, Anastasia não se saiu melhor ao falar sobre Aécio na disputa presidencial:
"Tenho certeza de que Serra está percebendo o nosso esforço", declarou, burocraticamente. Isso é tom de aliado convicto ou compulsório?
Faltaram a Hélio Costa e a Anastasia emoção e adjetivos típicos de campanha para falar de seus candidatos. Costa poderia dizer que Dilma é fantástica; Anastasia, que Serra é o mais preparado do planeta. Coisas assim, digamos, de quem dá o sangue pela vitória.
A relação de dependência de Dilma com Lula se reproduz, em Minas, na de Anastasia com Aécio e na de Costa com o PT: Dilma não iria a lugar nenhum sem Lula, Anastasia ficaria na universidade sem Aécio, Costa não teria chance sem a militância petista.
Ao apostarem tudo em Dilma e Costa, Lula e o PT cutucaram a onça com vara curta: a Aécio, só resta afiar as garras para defender tanto Anastasia quanto Serra. É a opção que ele tem, mesmo depois de jogar fora a vaga de vice de Serra e a dobradinha São Paulo-Minas.
Um dado curioso nessa selva, segundo o tucano Eduardo Azeredo, foi o comício de Dilma em Belo Horizonte. Lula já mobilizou multidões apaixonadas ali em outras épocas, mas, desta vez, fala-se em apenas 5.000 pessoas. Detalhe: quem encerrou o comício foi Lula, não a candidata. Como a gente sabe, os detalhes dizem muita coisa.
BRASÍLIA - A eleição em Minas está como os mineiros gostam: dissimulada, cheia de brechas para variadas interpretações. Pelo que se lê, as sabatinas com os dois principais candidatos, Hélio Costa, do PMDB, e Antonio Anastasia, do PSDB, só reforçaram isso.
Ontem, Costa, que tem apoio de Lula e Dilma, foi pouco político ao falar que, depois das quedas de Dirceu e Palocci, Aécio só não foi candidato de Lula porque não quis. Dedução: foi Dilma porque não havia mais ninguém. É verdade, mas isso é lá coisa que aliado diga?
Anteontem, Anastasia não se saiu melhor ao falar sobre Aécio na disputa presidencial:
"Tenho certeza de que Serra está percebendo o nosso esforço", declarou, burocraticamente. Isso é tom de aliado convicto ou compulsório?
Faltaram a Hélio Costa e a Anastasia emoção e adjetivos típicos de campanha para falar de seus candidatos. Costa poderia dizer que Dilma é fantástica; Anastasia, que Serra é o mais preparado do planeta. Coisas assim, digamos, de quem dá o sangue pela vitória.
A relação de dependência de Dilma com Lula se reproduz, em Minas, na de Anastasia com Aécio e na de Costa com o PT: Dilma não iria a lugar nenhum sem Lula, Anastasia ficaria na universidade sem Aécio, Costa não teria chance sem a militância petista.
Ao apostarem tudo em Dilma e Costa, Lula e o PT cutucaram a onça com vara curta: a Aécio, só resta afiar as garras para defender tanto Anastasia quanto Serra. É a opção que ele tem, mesmo depois de jogar fora a vaga de vice de Serra e a dobradinha São Paulo-Minas.
Um dado curioso nessa selva, segundo o tucano Eduardo Azeredo, foi o comício de Dilma em Belo Horizonte. Lula já mobilizou multidões apaixonadas ali em outras épocas, mas, desta vez, fala-se em apenas 5.000 pessoas. Detalhe: quem encerrou o comício foi Lula, não a candidata. Como a gente sabe, os detalhes dizem muita coisa.
Candidata não é bibelô:: Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - É totalmente despropositada a queixa do presidente Lula a respeito do tratamento dado à sua candidata, Dilma Rousseff, no "Jornal Nacional".
Primeiro, porque o comportamento de William Bonner e Fátima Bernardes foi, de fato, duro, mas respeitoso. Como tem que ser.
A queixa parece refletir o desejo do presidente de que todo o mundo estenda a Dilma um tapete vermelho. Não dá.
Mas nem é esse o despropósito principal. A queixa de Lula tem um substrato machista. Ao dizer que candidata mulher deve merecer "um pouco mais de gentileza", está indiretamente assumindo o preconceito machista que diz que mulher -candidata ou não- é animicamente mais fraca que homem e, portanto, não pode enfrentar questões duras.
Bobagem. Se eleita, os problemas que Dilma terá que enfrentar não olharão para o fato de ser mulher. Serão duros como serão se o eleito for homem. Simples assim.
O desagradável nesse machismo subliminar é que parte de quem teve a ousadia e a coragem de escolher uma mulher para candidatar-se à sua sucessão -o que demonstra que o presidente não é intrinsecamente machista.
Por mera coincidência, está em alta uma onda de pesquisas que procuram demonstrar que há um importante vínculo entre a segurança das mulheres e a dos Estados. Onde as relações homem/mulher são baseadas no domínio e na iniquidade, o padrão afeta o Estado e sua segurança.
A Estratégia Nacional de Segurança do presidente Obama chega a dizer que "a experiência mostra que países são mais pacíficos e prósperos quando as mulheres recebem plenos direitos e oportunidades iguais".
O ponto, pois, é que mulheres, candidatas ou não, não precisam de mais gentileza e, sim, de mais direitos e oportunidades.
SÃO PAULO - É totalmente despropositada a queixa do presidente Lula a respeito do tratamento dado à sua candidata, Dilma Rousseff, no "Jornal Nacional".
Primeiro, porque o comportamento de William Bonner e Fátima Bernardes foi, de fato, duro, mas respeitoso. Como tem que ser.
A queixa parece refletir o desejo do presidente de que todo o mundo estenda a Dilma um tapete vermelho. Não dá.
Mas nem é esse o despropósito principal. A queixa de Lula tem um substrato machista. Ao dizer que candidata mulher deve merecer "um pouco mais de gentileza", está indiretamente assumindo o preconceito machista que diz que mulher -candidata ou não- é animicamente mais fraca que homem e, portanto, não pode enfrentar questões duras.
Bobagem. Se eleita, os problemas que Dilma terá que enfrentar não olharão para o fato de ser mulher. Serão duros como serão se o eleito for homem. Simples assim.
O desagradável nesse machismo subliminar é que parte de quem teve a ousadia e a coragem de escolher uma mulher para candidatar-se à sua sucessão -o que demonstra que o presidente não é intrinsecamente machista.
Por mera coincidência, está em alta uma onda de pesquisas que procuram demonstrar que há um importante vínculo entre a segurança das mulheres e a dos Estados. Onde as relações homem/mulher são baseadas no domínio e na iniquidade, o padrão afeta o Estado e sua segurança.
A Estratégia Nacional de Segurança do presidente Obama chega a dizer que "a experiência mostra que países são mais pacíficos e prósperos quando as mulheres recebem plenos direitos e oportunidades iguais".
O ponto, pois, é que mulheres, candidatas ou não, não precisam de mais gentileza e, sim, de mais direitos e oportunidades.
Façam o que eu digo e esqueçam o que faço :: Villas-Bôas Corrêa
DEU NO JORNAL DO BRASIL
O presidente Lula acaba de bater todos os seus recordes de caradurismo nas duas últimas semanas, quando decidiu passar um pito nos ministros que descuidam das suas obrigações e exigiu que reajam com dobrada veemência aos ataques da oposição ao governo na campanha, com especial atenção nos debates e entrevistas na propaganda eleitoral gratuita em rede nacional de rádio e televisão.
Ora, não há registro na história deste país de um presidente mais relapso nos seus deveres. Para começo de conversa, não lê nem despacha processos, com o horror pelos livros e por qualquer rabisco.
Quando lê algum discurso, escrito pelos assessores, o texto em letras garrafais obriga a troca de páginas a cada parágrafo.
No gabinete, em Brasília, recebe visitas e assina papéis sem ler, confiando na ex-ministra chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, sua candidata. E, como adora um bom papo e é um con-versador desembaraçado e de bom humor, não faltam ouvintes do cordão que cada vez aumenta mais.
Nenhum presidente viajou tanto, seja nos voos domésticos para as visitas demagógicas às obras ou nos giros internacionais da sua prioridade como aspirante à liderança mundial. E, de fato, é dos líderes mais populares nos cinco continentes.
A maioria das suas viagens com todos os requintes de conforto, seja como hóspede dos visitados ou nos apartamentos de luxo dos melhores hotéis de cinco estrelas do mundoPois, na toada marota do faça o que eu digo e esqueçam o que faço, o presidente, na terceira reunião ministerial do ano, recomendou aos ministros que arregacem as mangas e se empenhem nas tarefas das suas áreas. O conselheiro bissexto advertiu os ministros e secretários para a ofensiva da oposição que tentará “desconstruir” o seu governo.
Enfatizou que não aceitará nenhuma falha que facilite um ataque da oposição que atinja a campanha da sua candidata. O pito atingiu em cheio o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se omitiu na recente crise aérea, com aeroportos superlotados e a bagunça dos cancelamentos e atrasos de voos.
Abrandou o tom no mordee-sopra. O governo deve responder a todos os ataques que atinjam a candidata Dilma.
A candidata tem que cuidar da sua campanha. E foi enfático: “Nunca perguntei a algum ministro se tinha candidato.
E vocês sabem que eu tenho candidata. Mas, o que eu quero é que os ministros defendam o governo”.
E o escândalo da gastança com os cartões corporativos? Pelo visto, não se fala mais num assunto delicado e inexplicável.
O presidente Lula acaba de bater todos os seus recordes de caradurismo nas duas últimas semanas, quando decidiu passar um pito nos ministros que descuidam das suas obrigações e exigiu que reajam com dobrada veemência aos ataques da oposição ao governo na campanha, com especial atenção nos debates e entrevistas na propaganda eleitoral gratuita em rede nacional de rádio e televisão.
Ora, não há registro na história deste país de um presidente mais relapso nos seus deveres. Para começo de conversa, não lê nem despacha processos, com o horror pelos livros e por qualquer rabisco.
Quando lê algum discurso, escrito pelos assessores, o texto em letras garrafais obriga a troca de páginas a cada parágrafo.
No gabinete, em Brasília, recebe visitas e assina papéis sem ler, confiando na ex-ministra chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, sua candidata. E, como adora um bom papo e é um con-versador desembaraçado e de bom humor, não faltam ouvintes do cordão que cada vez aumenta mais.
Nenhum presidente viajou tanto, seja nos voos domésticos para as visitas demagógicas às obras ou nos giros internacionais da sua prioridade como aspirante à liderança mundial. E, de fato, é dos líderes mais populares nos cinco continentes.
A maioria das suas viagens com todos os requintes de conforto, seja como hóspede dos visitados ou nos apartamentos de luxo dos melhores hotéis de cinco estrelas do mundoPois, na toada marota do faça o que eu digo e esqueçam o que faço, o presidente, na terceira reunião ministerial do ano, recomendou aos ministros que arregacem as mangas e se empenhem nas tarefas das suas áreas. O conselheiro bissexto advertiu os ministros e secretários para a ofensiva da oposição que tentará “desconstruir” o seu governo.
Enfatizou que não aceitará nenhuma falha que facilite um ataque da oposição que atinja a campanha da sua candidata. O pito atingiu em cheio o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se omitiu na recente crise aérea, com aeroportos superlotados e a bagunça dos cancelamentos e atrasos de voos.
Abrandou o tom no mordee-sopra. O governo deve responder a todos os ataques que atinjam a candidata Dilma.
A candidata tem que cuidar da sua campanha. E foi enfático: “Nunca perguntei a algum ministro se tinha candidato.
E vocês sabem que eu tenho candidata. Mas, o que eu quero é que os ministros defendam o governo”.
E o escândalo da gastança com os cartões corporativos? Pelo visto, não se fala mais num assunto delicado e inexplicável.
Promessa de campanha :: Teresa Costa D'Amaral
DEU EM O GLOBO
Na hora da campanha eleitoral o tema aparece, como se estivesse sempre ali, sendo cuidado. Mas não é assim. No primeiro debate dos candidatos à Presidência, o tema surgiu do nada, como se fosse uma preocupação presente na política. A verdade é que a grande maioria dos políticos só se lembra dele quando precisa de voto.
Estou falando das pessoas com deficiência. José Serra puxou o assunto. Há alguns anos trava-se uma guerra surda entre o MEC e as Apaes pelo direito de ser escola especial. As instituições especializadas sempre fizeram o possível e o impossível para atender as pessoas. O Estado sempre se omitiu. E só restava ao pai de uma criança com deficiência criar uma associação, procurar o prefeito, pedir ajuda, pedir e receber como favor o que o Estado devia lhe dar como direito: educação e reabilitação para seu filho.
Um dia o Estado decidiu corrigir a omissão. Que bom. Mas de repente resolveram consertar o erro desenhando um descaminho para a inclusão, impondo a ideia de que o passado não valia mais. E governos pensaram que resolveriam a omissão por resoluções de gabinete. As Apaes não seriam mais escolas, e as prefeituras assumiriam em um só momento o que não tinham feito nem aprendido a fazer.
É claro que toda escola tem a obrigação de receber o aluno com deficiência. É certo que só a educação inclusiva de qualidade pode dar conta de uma educação democrática. Será sempre necessário haver diálogo. É imprescindível que o Brasil trabalhe pela cidadania completa das pessoas com deficiência, e essa construção deve ser feita com a crença de que meia inclusão não existe, para que não tenhamos, como resultado inesperado, o reforço da segregação.
O candidato José Serra colocou a bola em campo, mas esqueceu que criando um Ministério da Deficiência segregará um tema que é interministerial, e que, para que seja vencida a exclusão secular, a ONU propõe a ação de órgão na Presidência da República encarregado da articulação das políticas e prioridades intersetoriais a serem executadas pelos ministérios.
A candidata Dilma Rousseff não soube chutar a gol porque não tinha nem bola nem artilheiro. Há oito anos, no Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), o presidente Lula prometeu quase tudo às lideranças do nosso movimento, assinou a "Carta às pessoas portadoras de deficiência" com 13 pontos básicos e nos disse que teríamos um ministro portador de deficiência. Os responsáveis pela coordenação do tema em seu governo ainda são os mesmos do governo FHC. Era tudo promessa de campanha.
Na hora da campanha eleitoral o tema aparece, como se estivesse sempre ali, sendo cuidado. Mas não é assim. No primeiro debate dos candidatos à Presidência, o tema surgiu do nada, como se fosse uma preocupação presente na política. A verdade é que a grande maioria dos políticos só se lembra dele quando precisa de voto.
Estou falando das pessoas com deficiência. José Serra puxou o assunto. Há alguns anos trava-se uma guerra surda entre o MEC e as Apaes pelo direito de ser escola especial. As instituições especializadas sempre fizeram o possível e o impossível para atender as pessoas. O Estado sempre se omitiu. E só restava ao pai de uma criança com deficiência criar uma associação, procurar o prefeito, pedir ajuda, pedir e receber como favor o que o Estado devia lhe dar como direito: educação e reabilitação para seu filho.
Um dia o Estado decidiu corrigir a omissão. Que bom. Mas de repente resolveram consertar o erro desenhando um descaminho para a inclusão, impondo a ideia de que o passado não valia mais. E governos pensaram que resolveriam a omissão por resoluções de gabinete. As Apaes não seriam mais escolas, e as prefeituras assumiriam em um só momento o que não tinham feito nem aprendido a fazer.
É claro que toda escola tem a obrigação de receber o aluno com deficiência. É certo que só a educação inclusiva de qualidade pode dar conta de uma educação democrática. Será sempre necessário haver diálogo. É imprescindível que o Brasil trabalhe pela cidadania completa das pessoas com deficiência, e essa construção deve ser feita com a crença de que meia inclusão não existe, para que não tenhamos, como resultado inesperado, o reforço da segregação.
O candidato José Serra colocou a bola em campo, mas esqueceu que criando um Ministério da Deficiência segregará um tema que é interministerial, e que, para que seja vencida a exclusão secular, a ONU propõe a ação de órgão na Presidência da República encarregado da articulação das políticas e prioridades intersetoriais a serem executadas pelos ministérios.
A candidata Dilma Rousseff não soube chutar a gol porque não tinha nem bola nem artilheiro. Há oito anos, no Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), o presidente Lula prometeu quase tudo às lideranças do nosso movimento, assinou a "Carta às pessoas portadoras de deficiência" com 13 pontos básicos e nos disse que teríamos um ministro portador de deficiência. Os responsáveis pela coordenação do tema em seu governo ainda são os mesmos do governo FHC. Era tudo promessa de campanha.
TERESA COSTA D"AMARAL é diretora do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD).
Eleição de Dilma Rousseff segue incerta mas já aponta cenários contraditórios:: Jarbas de Holanda
A liderança e a tendência de crescimento da candidata lulista na média das últimas pesquisas (a serem confirmadas, reduzidas ou hipoteticamente zerada nas do final desta semana, entre elas a do Datafolha), esses dados da disputa presidencial estão levando crescente número de analistas a anteciparem como quase ou praticamente certa uma vitória dela no segundo e, como provável, já em 3 de outubro. Avaliação que vai disseminando-se entre os diferentes atores políticos, inclusive em parte das lideranças da própria oposição e nos círculos empresariais, além de gerar a emergência de problemas no encaminhamento da candidatura oposicionista de José Serra – na relação dele com dirigentes do DEM e na consistência, fragilizada, de vários palanques estaduais,como os do Estado do Rio, da Bahia, de Pernambuco, do Ceará, do Amazonas. Tudo isso, obviamente (reiterando análise anterior), ainda podendo ser revertido por fatos políticos e/ou econômicos negativos para o campo governista desde que tenham forte impacto social, e porque Serra tem condições pessoais de qualificação e competitividade capazes de afirmar-se na fase decisiva da disputa – no rádio e na televisão.
Com o cálculo predominante de uma vitória de Dilma, delineiam-se duas perspectivas basicamente contraditórias sobre um novo governo, ao invés de uma só, com naturais diferenças de composição e de ênfase em prioridades. Eis os dois cenários básicos correspondentes (cada um dos quais desdobrável em vários outros): 1º - Um governo Dilma que dê sequência ao pragmatismo do de Lula, combinando populismo assistencialista a uma orientação macroeconômica responsável,e dosando posturas radicais na política externa, com a garantia de espaço e estímulos a investidores privados, de fora e domésticos (embora com o empenho de vinculá-los à associação ou ao controle estatais). E que na esfera político-institucional, após o desastre do mensalão, reduziu o peso do PT na máquina governamental e no relacionamento com o Congresso por meio de partilha do poder com o PMDB e de cargos com partidos menores não esquerdistas, o que inviabilizou a manutenção da CPMF, o projeto do terceiro mandato do presidente e propostas como as de manipulação dos direitos humanos para cerceamento da mídia e graves restrições à propriedade privada. Um governo com objetivos semelhantes deverá basear-se na aliança com o PMDB (cuja direção combina um pragmatismo centrista e moderadamente reformista a um fisiologismo abusivo com o qual agrega a federação de interesses regionais que representa) e contar com o ex-ministro reformista Antonio Palocci como uma de suas ações importantes. 2º cenário – Um governo Dilma dominado pelo petismo ou sem força para conter suas de-mandas de hegemonia. O que se traduzirá no enfraquecimento e progressivo abandono do realismo macroeconômico; na exacerbação do estatismo; no descarte completo de reformas indispensáveis; na retomada de propostas institucionais antidemocráticas; na tentativa de controle das duas casas do Congresso, especialmente do Senado, com o desencadeamento de conflitos com o PMDB e o vice-presidente Michel Temer.
O risco deste cenário será significativamente ampliado com a hipótese – ainda pouco provável de uma decisão pró-Dilma no primeiro turno. Que poderia ser lida como demonstração de força do petismo, de par com as implicações que teria no aumento das bancadas federais da legenda, em detrimento das do PMDB e dos partidos oposicionistas, bem como nas disputas pelos governos estaduais
Jarbas de Holanda é jornalista
Serra poupa Lula, mas ataca saúde, estradas...
DEU EM O GLOBO
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, poupou o presidente Lula em entrevista ao “Jornal Nacional” e concentrou seus ataques em setores de gestão petista, principalmente a saúde e as rodovias federais. Serra disse que, de cada dez estradas, sete estão esburacadas e que o governo Lula investiu no setor um terço dos recursos arrecadados para melhorar rodovias. O tucano afirmou que faltam hospitais e que o número de cirurgias eletivas caiu. Questionado sobre o apoio que recebeu de partidos como o PTB, envolvido no mensalão, disse que não tem compromissos com erros nem nomeações fisiológicas. Serra demonstrou tranquilidade e – sempre poupando Lula, mas numa alfinetada a Dilma Rousseff – disse que o próximo presidente terá de agir sozinho. “O próximo presidente não pode ir na garupa, tem de ter ideias.”
"Não se governa na garupa"
Serra poupa Lula, mas critica resultados de seu governo e também Dilma
Fábio Vasconcellos e Paulo Marqueiro
Em entrevista ontem ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, poupou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem altos índices de popularidade, mas fez duras críticas à atual gestão, atacando principalmente a qualidade da saúde pública e as condições das estradas.
Ao responder a William Bonner sobre o modelo de concessão de rodovias adotado em São Paulo, criticado pela tarifa e pela quantidade de praças de pedágio, Serra disse que existe um meio termo e que o modelo da rodovia Ayrton Senna, por exemplo, poderia ser estendido para todo o país. Disse ainda que as concessões do governo federal não estão funcionando. Segundo ele, a Régis Bittencourt continua sendo a "rodovia da morte" e que a Fernão Dias está fechada.
- De cada dez estradas federais, sete estão esburacadas. São as rodovias da morte: na Bahia, em Minas, Santa Catarina, enfim, por toda parte. O governo federal fez um tipo de concessão que não está funcionando - afirmou Serra. - Nunca o Brasil esteve com estradas tão ruins. De 2003 para cá foram arrecadados 65 bilhões reais na Cide (taxação sobre combustíveis). Sabe quanto foi gastado disso pelo governo federal? 25 (bilhões). Ou seja, foram 40 bilhões de reais arrecadados para investir em estradas do governo federal que não foram utilizados. A primeira coisa que vou fazer é utilizar esses recursos para melhorar as estradas. Não é o assunto de concessão que está na ordem do dia. É entender por que a cada três reais que o governo federal arrecadou, ele gastou um terço disso. É uma barbaridade. Por isso as estradas federais estão nessa situação.
As críticas à gestão da saúde no governo Lula também foram um tema recorrente durante a entrevista de Serra:
- A saúde nos últimos anos não andou bem. Diminuiu o número de cirurgias eletivas, pararam os mutirões, muita prevenção ficou para trás, faltam hospitais, tem problemas de consultas, problemas de demora, problemas relacionados à saúde da mulher.
Questionado sobre o fato de poupar críticas ao presidente Lula, Serra disse que é preciso olhar para o futuro:
- Lula fez coisas positivas, e outras deixou de fazer. A discussão não é Lula. É o que vem pela frente. Lula não é candidato. Quem estiver lá terá de ter condições de conduzir o Brasil. Não se pode governar na garupa, estou focando no futuro. O Brasil precisa e pode mais, na área de saúde, segurança, educação. O foco não é Lula.
Respondendo a Fátima Bernardes por que tem tentado evitar comparações entre os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, Serra argumentou que o atual governo seguiu muitos programas de seu antecessor:
- O governo anterior fez muitas coisas, entre eles o Plano Real, a quebra da espinha da inflação, e várias outras coisas que o governo Lula seguiu. (Antonio) Palocci nunca parou de elogiar Fernando Henrique Cardoso.
Serra diz que se sente bem com seu vice
Sobre a aliança do PSDB com o PTB de Roberto Jefferson, argumentou:
- O Roberto Jefferson é presidente do PTB. Ele não é candidato. Ele conhece muito bem meu programa de governo. Meu estilo de governar. O PTB está conosco dentro dessa perspectiva.
Eu não tenho compromisso com o erro. Aliás, nunca tive na minha vida. - disse Serra.
- Agora que está comigo, sabe o jeito que eu trabalho. Por exemplo, eu não faço aquele loteamento de cargos. Para mim, não tem um grupinho de deputados indicando diretor financeiro de uma empresa, ou indicando diretor de compras de outra.
Sobre a demora na escolha de seu vice (o deputado Índio da Costa, do DEM), Serra negou que ela tenha sido resultado de um estilo centralizador, como dizem alguns críticos.
- Eu não sou centralizador, sei que tenho fama, mas delego muito. O Índio estava entre os nomes cogitados. Foi um dos líderes da aprovação da Ficha Limpa no Congresso. Tem livros sobre administração. Se for pegar outros vices, cada um tem suas limitações. É um vice adequado, eu me sinto muito bem com ele. Tenho boa saúde, ninguém está sendo vice comigo achando que não vou concluir o mandato.
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, poupou o presidente Lula em entrevista ao “Jornal Nacional” e concentrou seus ataques em setores de gestão petista, principalmente a saúde e as rodovias federais. Serra disse que, de cada dez estradas, sete estão esburacadas e que o governo Lula investiu no setor um terço dos recursos arrecadados para melhorar rodovias. O tucano afirmou que faltam hospitais e que o número de cirurgias eletivas caiu. Questionado sobre o apoio que recebeu de partidos como o PTB, envolvido no mensalão, disse que não tem compromissos com erros nem nomeações fisiológicas. Serra demonstrou tranquilidade e – sempre poupando Lula, mas numa alfinetada a Dilma Rousseff – disse que o próximo presidente terá de agir sozinho. “O próximo presidente não pode ir na garupa, tem de ter ideias.”
"Não se governa na garupa"
Serra poupa Lula, mas critica resultados de seu governo e também Dilma
Fábio Vasconcellos e Paulo Marqueiro
Em entrevista ontem ao "Jornal Nacional", da Rede Globo, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, poupou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem altos índices de popularidade, mas fez duras críticas à atual gestão, atacando principalmente a qualidade da saúde pública e as condições das estradas.
Ao responder a William Bonner sobre o modelo de concessão de rodovias adotado em São Paulo, criticado pela tarifa e pela quantidade de praças de pedágio, Serra disse que existe um meio termo e que o modelo da rodovia Ayrton Senna, por exemplo, poderia ser estendido para todo o país. Disse ainda que as concessões do governo federal não estão funcionando. Segundo ele, a Régis Bittencourt continua sendo a "rodovia da morte" e que a Fernão Dias está fechada.
- De cada dez estradas federais, sete estão esburacadas. São as rodovias da morte: na Bahia, em Minas, Santa Catarina, enfim, por toda parte. O governo federal fez um tipo de concessão que não está funcionando - afirmou Serra. - Nunca o Brasil esteve com estradas tão ruins. De 2003 para cá foram arrecadados 65 bilhões reais na Cide (taxação sobre combustíveis). Sabe quanto foi gastado disso pelo governo federal? 25 (bilhões). Ou seja, foram 40 bilhões de reais arrecadados para investir em estradas do governo federal que não foram utilizados. A primeira coisa que vou fazer é utilizar esses recursos para melhorar as estradas. Não é o assunto de concessão que está na ordem do dia. É entender por que a cada três reais que o governo federal arrecadou, ele gastou um terço disso. É uma barbaridade. Por isso as estradas federais estão nessa situação.
As críticas à gestão da saúde no governo Lula também foram um tema recorrente durante a entrevista de Serra:
- A saúde nos últimos anos não andou bem. Diminuiu o número de cirurgias eletivas, pararam os mutirões, muita prevenção ficou para trás, faltam hospitais, tem problemas de consultas, problemas de demora, problemas relacionados à saúde da mulher.
Questionado sobre o fato de poupar críticas ao presidente Lula, Serra disse que é preciso olhar para o futuro:
- Lula fez coisas positivas, e outras deixou de fazer. A discussão não é Lula. É o que vem pela frente. Lula não é candidato. Quem estiver lá terá de ter condições de conduzir o Brasil. Não se pode governar na garupa, estou focando no futuro. O Brasil precisa e pode mais, na área de saúde, segurança, educação. O foco não é Lula.
Respondendo a Fátima Bernardes por que tem tentado evitar comparações entre os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, Serra argumentou que o atual governo seguiu muitos programas de seu antecessor:
- O governo anterior fez muitas coisas, entre eles o Plano Real, a quebra da espinha da inflação, e várias outras coisas que o governo Lula seguiu. (Antonio) Palocci nunca parou de elogiar Fernando Henrique Cardoso.
Serra diz que se sente bem com seu vice
Sobre a aliança do PSDB com o PTB de Roberto Jefferson, argumentou:
- O Roberto Jefferson é presidente do PTB. Ele não é candidato. Ele conhece muito bem meu programa de governo. Meu estilo de governar. O PTB está conosco dentro dessa perspectiva.
Eu não tenho compromisso com o erro. Aliás, nunca tive na minha vida. - disse Serra.
- Agora que está comigo, sabe o jeito que eu trabalho. Por exemplo, eu não faço aquele loteamento de cargos. Para mim, não tem um grupinho de deputados indicando diretor financeiro de uma empresa, ou indicando diretor de compras de outra.
Sobre a demora na escolha de seu vice (o deputado Índio da Costa, do DEM), Serra negou que ela tenha sido resultado de um estilo centralizador, como dizem alguns críticos.
- Eu não sou centralizador, sei que tenho fama, mas delego muito. O Índio estava entre os nomes cogitados. Foi um dos líderes da aprovação da Ficha Limpa no Congresso. Tem livros sobre administração. Se for pegar outros vices, cada um tem suas limitações. É um vice adequado, eu me sinto muito bem com ele. Tenho boa saúde, ninguém está sendo vice comigo achando que não vou concluir o mandato.
'O PT não me assusta', diz tucano
DEU EM O GLOBO
Aécio afirma que Anastasia vencerá no 1º turno e alavancará Serra em Minas
Após duas carreatas ao lado de seu candidato ao governo de Minas, o tucano Antonio Anastasia, o ex-governador Aécio Neves não escondia, na segunda-feira à noite, os sinais de cansaço depois de mais um dia de campanha intensa. Durante o voo entre Uberlândia e Belo Horizonte, Aécio admitiu, em entrevista ao GLOBO, que nunca se empenhou tanto numa campanha como na deste ano. Ele aposta na vitória em primeiro turno de Anastasia e numa virada que alavanque também a candidatura José Serra a presidente em Minas.
Adriana Vasconcelos
Dá para virar em Minas?
AÉCIO NEVES: Ganhamos a eleição com o Anastasia no primeiro turno. Estou otimista em relação ao Serra também. Especialmente com o início do horário eleitoral na TV, vai ficar claro aquilo que ainda não está, que há dois projetos que não têm a menor identidade um com o outro. O Anastasia representa a continuidade de um governo que prioriza o planejamento, os resultados. O outro traz consigo uma série de figuras públicas das quais Minas não tem saudade.
O que será mais difícil, virar o jogo para Anastasia ou para Serra?
AÉCIO: Uma coisa caminhará na sequência da outra. O crescimento de Anastasia em Minas favorecerá o Serra. Aqui será sempre uma eleição dura em nível nacional, mas tenho confiança de que o crescimento de Anastasia alavancará o de Serra. É importante fazer esse link com a campanha nacional e estamos fazendo esse esforço. Está muito claro que é bom para as duas partes. É bom para o Anastasia, é bom para o Serra, esse link.
O senhor vai participar do programa de TV de Serra?
AÉCIO: Estou à disposição. Fiz uma primeira gravação na semana passada, falei sobre a importância da eleição do Serra para Minas e o Brasil. Parte do programa deveria ser focada nos problemas regionais. O que se fala para São Paulo não atende a quem está em Alagoas ou no Vale do Jequitinhonha.
Qual sua avaliação da campanha de Serra?
AÉCIO: Começou com desencontros, um pouco centralizada demais. Mas está havendo um processo de abertura, de ampliação, democratização maior das decisões.
O que fazer para reverter o quadro, hoje favorável a Dilma?
AÉCIO: Nossos adversários talvez esperassem uma dianteira muito maior do que está havendo. O Serra, do ponto de vista do esforço pessoal, tem sido muito dedicado. Ele tem feito esforço enorme para viajar e conversar com as pessoas. Talvez tenhamos falhado ao longo da campanha na operacionalização. Também é preciso que haja uma atenção maior com os aliados, para que eles se mantenham envolvidos na campanha.
Não há temor em relação ao impacto da presença do presidente Lula no programa de TV de Dilma?
AÉCIO: O maior risco é o presidente se sobrepor demais a Dilma. E colocá-la num plano secundário pode ser um risco. O eleitor sabe que não vai votar no Lula. O apoio dele ajuda, mas não acredito que seja decisivo, como não é o meu aqui. A transferência de votos é relativa. O governante bem avaliado chama atenção para o candidato, mas não tem poder de decidir, se o candidato não demonstrar sua capacidade de governar o país e o estado.
A expectativa, a esta altura, não era de uma vantagem menor de Costa na disputa com Anastasia?
AÉCIO: Vamos chegar no início do horário eleitoral com curva ascendente e eles, com descendente. Mais de 60% não sabem que Anastasia tem meu apoio. Há dois anos, Lula está todo dia com Dilma no "Jornal Nacional". Nunca aparecemos para dizer que Anastasia é meu candidato. Os instrumentos do governo federal para fazer o link e popularizar seu candidato, não temos em nível local.
Qual o peso do ex-prefeito Patrus Ananias na chapa de Hélio Costa e a influência de Lula no estado?
AÉCIO: O PT se mobilizou nas duas últimas vezes com candidato próprio e perdeu para nós no primeiro turno. Não me assusta. A eleição não será disputa de pessoas, mas de projetos.
Aécio afirma que Anastasia vencerá no 1º turno e alavancará Serra em Minas
Após duas carreatas ao lado de seu candidato ao governo de Minas, o tucano Antonio Anastasia, o ex-governador Aécio Neves não escondia, na segunda-feira à noite, os sinais de cansaço depois de mais um dia de campanha intensa. Durante o voo entre Uberlândia e Belo Horizonte, Aécio admitiu, em entrevista ao GLOBO, que nunca se empenhou tanto numa campanha como na deste ano. Ele aposta na vitória em primeiro turno de Anastasia e numa virada que alavanque também a candidatura José Serra a presidente em Minas.
Adriana Vasconcelos
Dá para virar em Minas?
AÉCIO NEVES: Ganhamos a eleição com o Anastasia no primeiro turno. Estou otimista em relação ao Serra também. Especialmente com o início do horário eleitoral na TV, vai ficar claro aquilo que ainda não está, que há dois projetos que não têm a menor identidade um com o outro. O Anastasia representa a continuidade de um governo que prioriza o planejamento, os resultados. O outro traz consigo uma série de figuras públicas das quais Minas não tem saudade.
O que será mais difícil, virar o jogo para Anastasia ou para Serra?
AÉCIO: Uma coisa caminhará na sequência da outra. O crescimento de Anastasia em Minas favorecerá o Serra. Aqui será sempre uma eleição dura em nível nacional, mas tenho confiança de que o crescimento de Anastasia alavancará o de Serra. É importante fazer esse link com a campanha nacional e estamos fazendo esse esforço. Está muito claro que é bom para as duas partes. É bom para o Anastasia, é bom para o Serra, esse link.
O senhor vai participar do programa de TV de Serra?
AÉCIO: Estou à disposição. Fiz uma primeira gravação na semana passada, falei sobre a importância da eleição do Serra para Minas e o Brasil. Parte do programa deveria ser focada nos problemas regionais. O que se fala para São Paulo não atende a quem está em Alagoas ou no Vale do Jequitinhonha.
Qual sua avaliação da campanha de Serra?
AÉCIO: Começou com desencontros, um pouco centralizada demais. Mas está havendo um processo de abertura, de ampliação, democratização maior das decisões.
O que fazer para reverter o quadro, hoje favorável a Dilma?
AÉCIO: Nossos adversários talvez esperassem uma dianteira muito maior do que está havendo. O Serra, do ponto de vista do esforço pessoal, tem sido muito dedicado. Ele tem feito esforço enorme para viajar e conversar com as pessoas. Talvez tenhamos falhado ao longo da campanha na operacionalização. Também é preciso que haja uma atenção maior com os aliados, para que eles se mantenham envolvidos na campanha.
Não há temor em relação ao impacto da presença do presidente Lula no programa de TV de Dilma?
AÉCIO: O maior risco é o presidente se sobrepor demais a Dilma. E colocá-la num plano secundário pode ser um risco. O eleitor sabe que não vai votar no Lula. O apoio dele ajuda, mas não acredito que seja decisivo, como não é o meu aqui. A transferência de votos é relativa. O governante bem avaliado chama atenção para o candidato, mas não tem poder de decidir, se o candidato não demonstrar sua capacidade de governar o país e o estado.
A expectativa, a esta altura, não era de uma vantagem menor de Costa na disputa com Anastasia?
AÉCIO: Vamos chegar no início do horário eleitoral com curva ascendente e eles, com descendente. Mais de 60% não sabem que Anastasia tem meu apoio. Há dois anos, Lula está todo dia com Dilma no "Jornal Nacional". Nunca aparecemos para dizer que Anastasia é meu candidato. Os instrumentos do governo federal para fazer o link e popularizar seu candidato, não temos em nível local.
Qual o peso do ex-prefeito Patrus Ananias na chapa de Hélio Costa e a influência de Lula no estado?
AÉCIO: O PT se mobilizou nas duas últimas vezes com candidato próprio e perdeu para nós no primeiro turno. Não me assusta. A eleição não será disputa de pessoas, mas de projetos.
Serra vai lançar plano de governo aos poucos
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Ideia é eleger cidades estratégicas para sediar a apresentação de tópicos do programa; escolha dos temas levará em conta vocação e carência dos locais
Christiane Samarco / BRASÍLIA
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, não vai lançar um plano de governo com um pacote fechado de promessas. Em vez do programa produzido por especialistas, Serra prefere anunciar tópicos do seu plano, em visitas de campanha a localidades selecionadas de acordo com o tema a ser apresentado.
A ideia de eleger cidades estratégicas para sediar a apresentação em pílulas do programa tem serventia dupla. Além de multiplicar o fato político, Serra quer aproveitar os anúncios para se aproximar do eleitorado. Os temas serão escolhidos a dedo, de acordo com a vocação ou com as carências do local do anúncio.
Foi assim em Poços de Caldas (MG), na semana passada, quando Serra aproveitou a mobilização promovida pelo deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), que preside a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), para um encontro com lideranças onde anunciou a criação do Ministério da Defesa dos Direitos da Pessoa com Necessidades Especiais.
Serra deve apresentar suas ideias para melhorar a segurança pública, em locais com elevado índice de violência, como Rio de Janeiro, Pernambuco ou Bahia. O deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) foi um dos que pediu ao candidato que reserve uma novidade para anunciar em Salvador. No Ceará do senador Tasso Jereissati (PSDB), que criou o programa de agentes de saúde quando governou o Estado em 1987, Serra abordar o tema saúde. Os tucanos entendem que o novo formato é uma evolução de como foi a campanha do presidente dos EUA Barack Obama.
Ideia é eleger cidades estratégicas para sediar a apresentação de tópicos do programa; escolha dos temas levará em conta vocação e carência dos locais
Christiane Samarco / BRASÍLIA
O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, não vai lançar um plano de governo com um pacote fechado de promessas. Em vez do programa produzido por especialistas, Serra prefere anunciar tópicos do seu plano, em visitas de campanha a localidades selecionadas de acordo com o tema a ser apresentado.
A ideia de eleger cidades estratégicas para sediar a apresentação em pílulas do programa tem serventia dupla. Além de multiplicar o fato político, Serra quer aproveitar os anúncios para se aproximar do eleitorado. Os temas serão escolhidos a dedo, de acordo com a vocação ou com as carências do local do anúncio.
Foi assim em Poços de Caldas (MG), na semana passada, quando Serra aproveitou a mobilização promovida pelo deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG), que preside a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), para um encontro com lideranças onde anunciou a criação do Ministério da Defesa dos Direitos da Pessoa com Necessidades Especiais.
Serra deve apresentar suas ideias para melhorar a segurança pública, em locais com elevado índice de violência, como Rio de Janeiro, Pernambuco ou Bahia. O deputado Jutahy Júnior (PSDB-BA) foi um dos que pediu ao candidato que reserve uma novidade para anunciar em Salvador. No Ceará do senador Tasso Jereissati (PSDB), que criou o programa de agentes de saúde quando governou o Estado em 1987, Serra abordar o tema saúde. Os tucanos entendem que o novo formato é uma evolução de como foi a campanha do presidente dos EUA Barack Obama.
Senado chama ex-chefe da Previ para depor
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
CCJ também convidou o ex-gerente que acusou o fundo de ser "fábrica de dossiês"
Rosa Costa / BRASÍLIA
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) convidou ontem o ex-presidente da Previ Sérgio Rosa para depor sobre a suposta fábrica de dossiês montada no fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Também foi convidado Gerardo Xavier, ex-gerente de Planejamento do fundo.
Segundo declarações do ex-gerente à revista Veja, foram alvos do esquema o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA) e o senador Heráclito Fortes (PI), do DEM.
"Sérgio Rosa chefiava uma quadrilha, produzindo dossiês nojentos e vorazes, aproveitando-se do cargo de presidente do Previ", acusou a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), autora do pedido de convite, lembrando que o fundo movimenta mais de R$ 140 bilhões e investe nas 90 maiores empresas do País.
"Não pode haver apenas reprimenda pública para esses criminosos, como se fossem meninos pichadores, porque se trata de homens barbados, formadores de quadrilha", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), referindo-se ao caso de 2006, quando assessores do PT compraram um dossiê para prejudicar a campanha de Serra ao governo paulista.
Questionada sobre o convite ao ex-presidente da Previ, a presidenciável Dilma Rousseff (PT) disse repudiar qualquer vínculo entre sua campanha e denúncias ligadas a supostos dossiês contra adversários políticos. "Eu repudio completamente essas tentativas de levar esse tipo de problema para a minha campanha. Só serve para embaralhar."
De acordo com a petista, "as pessoas que acusarem esta campanha de qualquer coisa inadequada, sem esclarecimentos e provas, vão passar para a história como caluniadores e difamadores". "Não vou comentar procedimentos que ocorreram em campanhas alheias no passado."
Procurador-geral
Por iniciativa do senador Pedro Simon (PMDB-RS), foi aprovado requerimento encaminhando as denúncias ao procurador-geral da República para que abra investigação paralela ao trabalho da CCJ.
CCJ também convidou o ex-gerente que acusou o fundo de ser "fábrica de dossiês"
Rosa Costa / BRASÍLIA
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) convidou ontem o ex-presidente da Previ Sérgio Rosa para depor sobre a suposta fábrica de dossiês montada no fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Também foi convidado Gerardo Xavier, ex-gerente de Planejamento do fundo.
Segundo declarações do ex-gerente à revista Veja, foram alvos do esquema o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (BA) e o senador Heráclito Fortes (PI), do DEM.
"Sérgio Rosa chefiava uma quadrilha, produzindo dossiês nojentos e vorazes, aproveitando-se do cargo de presidente do Previ", acusou a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), autora do pedido de convite, lembrando que o fundo movimenta mais de R$ 140 bilhões e investe nas 90 maiores empresas do País.
"Não pode haver apenas reprimenda pública para esses criminosos, como se fossem meninos pichadores, porque se trata de homens barbados, formadores de quadrilha", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), referindo-se ao caso de 2006, quando assessores do PT compraram um dossiê para prejudicar a campanha de Serra ao governo paulista.
Questionada sobre o convite ao ex-presidente da Previ, a presidenciável Dilma Rousseff (PT) disse repudiar qualquer vínculo entre sua campanha e denúncias ligadas a supostos dossiês contra adversários políticos. "Eu repudio completamente essas tentativas de levar esse tipo de problema para a minha campanha. Só serve para embaralhar."
De acordo com a petista, "as pessoas que acusarem esta campanha de qualquer coisa inadequada, sem esclarecimentos e provas, vão passar para a história como caluniadores e difamadores". "Não vou comentar procedimentos que ocorreram em campanhas alheias no passado."
Procurador-geral
Por iniciativa do senador Pedro Simon (PMDB-RS), foi aprovado requerimento encaminhando as denúncias ao procurador-geral da República para que abra investigação paralela ao trabalho da CCJ.
Grandes grupos detêm 72% do crédito bancado pelo Tesouro
DEU NO VALOR ECONÔMICO
José Roberto Campos, de São Paulo
Dos R$ 180 bilhões concedidos pelo Tesouro ao BNDES e emprestados pelo banco a juros subsidiados, R$ 115,84 bilhões foram desembolsados até o início de julho. Eles se destinaram, na maior parte, às grandes empresas, que receberam 72% do total ou R$ 83,45 bilhões. Até agora, 29% do dinheiro foi encaminhado para projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ou R$ 33,2 bilhões. Os números mostram que os projetos do programa estão sendo financiados com emissão de dívida e bancados com subsídios, e, também, que as grandes companhias se sentiram atraídas por juros inferiores aos de mercado para participar de negócios lucrativos - os do governo ou os próprios.
No repasse de pelo menos R$ 100 bilhões de aporte do Tesouro, que emite títulos pagando a taxa Selic, o custo médio total para o tomador final do empréstimo do BNDES com recursos do Tesouro foi de 7,95% ao ano. A remuneração média do BNDES foi de 2,25% (inclui remuneração básica, taxa de risco de crédito e de intermediação financeira), um pouco menor para grandes empresas (2,18% ao ano), um pouco maior para as médias e pequenas empresas (2,68% e 2,67%, respectivamente).
O BNDES foi autorizado a receber o dinheiro do Tesouro por meio de duas medidas provisórias (MPs), que se transformaram nas leis 11.948, de 16 de junho de 2009, e 12.249, de 11 de junho de 2010. O banco trimestralmente presta conta exclusivamente do uso do dinheiro bancado pelos cofres públicos ao Congresso, mas não faz alarde sobre isso. A primeira prestação de contas do ano foi concluída em abril, a segunda, anteontem.
Há diferenças importantes entre elas. O relatório de abril aponta que o primeiro aporte do Tesouro foi integralmente desembolsado entre janeiro de 2009 e março de 2010. O segundo relatório inclui o aporte adicional de R$ 80 bilhões, que sustentou a prorrogação do Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), destinado a estimular a produção e exportação de bens de capital e inovações tecnológicas.
No repasse dos R$ 80 bilhões é obrigatória a destinação de 25% às micro, pequenas e médias empresas. Entre a primeira e a segunda prestação de contas foram desembolsados R$ 15 bilhões do dinheiro subsidiado, de modo que o primeiro relatório contém o destino da maior parte das verbas.
Por isso, na fatia de R$ 100 bilhões já emprestada, o grau de concentração é maior. As grandes companhias ficaram com 78% dos desembolsos, ou R$ 77,4 bilhões, e as restantes com 19% - 3% bancaram projetos de pessoas físicas. Quando se incluem recursos do segundo aporte, a concentração diminui ligeiramente e as demais empresas ficam com 23,5% dos R$ 115 bilhões.
A trilha do dinheiro segue a atual concentração regional. Do total de recursos subsidiados até agora, 41,2% ficaram com o Sudeste, 16,4% com o Sul e 15,8% com o Nordeste. Projetos da Petrobras, como gasodutos e aumento da produção de gás e petróleo, que beneficiam mais de uma região, consumiram 13% do dinheiro, ou R$ 15,1 bilhões.
Por meio do PAC, a União está subsidiando os investimentos da Petrobras, que fica com a parte do leão dos R$ 33,2 bilhões desembolsados - R$ 25,6 bilhões em empréstimos para a empresa e seus projetos na refinaria Abreu e Silva, em Pernambuco, na Transportadora Associada de Gás (TAG) e na Transportadora Gasene. As usinas hidrelétricas, como Jirau, Santo Antonio e Serra do Facão, compõem a maior parte dos financiamentos restantes, ao lado da concessionária de rodovias e projetos da Vale (R$ 332,4 milhões, em especial para a ampliação da capacidade de transporte da estrada de ferro Carajás-EFC de 70 milhões para 103 de milhões de toneladas), Alcoa (R$ 282,4 milhões) e CSN (R$ 215 milhões).
Os desembolsos com recursos do Tesouro contemplaram principalmente a indústria de transformação (43,1%) e a infraestrutura (39,4%). Por gênero de atividade, metade dos R$ 115 bilhões se agrupa em três setores: transporte terrestre (de cargas e passageiros, rodoviário, ferroviário e metroviário), que obteve R$ 30,43 bilhões, fabricação de produtos derivados de petróleo e biocombustíveis (R$ 22,2 bilhões) e eletricidade, gás e utilidades públicas (R$ 8,9 bilhões).
O banco não discrimina as empresas que tomaram os recursos, apenas menciona algumas que obtiveram empréstimos relevantes. Dos R$ 2,8 bilhões que o setor de telecomunicações recebeu no período, por exemplo, o relatório destaca que a Telemar Norte Leste, do grupo La Fonte e Andrade Gutierrez, ficou com quantia relevante para bancar seu programa de investimentos 2009-2011, da mesma forma que a Brasil Telecom, adquirida pela Telemar, para realizar a expansão da infraestrutura de rede e Tecnologia da Informação.
Participações significativas tiveram empréstimos para a Fibria, da Votorantim Papel e Celulose (para linha de produção de celulose branqueada de eucalipto em Três Lagoas), Anglo American Brasil, para a expansão da mina de Barro Alto, Cosan, para construção de unidade de produção de etanol e Thyssenkrupp Metalúrgica Campo Limpo, para financiamento de produção voltada à exportação.
Segundo o BNDES, os desembolsos de R$ 115,8 bilhões bancados pelo Tesouro Nacional se desdobraram em um total de R$ 172,1 bilhões, quando se incluem os recursos próprios. O banco financiou 100% de investimentos no montante de R$ 47,3 bilhões, emprestou R$ 8,3 bilhões para cobrir 90% de outros projetos e R$ 15,2 bilhões para até 80%. Por meio de cálculos utilizando como base o sistema de contas nacionais do IBGE, o banco chegou à conclusão que seus financiamentos mantiveram ou ajudaram a criar 4,136 milhões de empregos, somados os diretos e indiretos.
José Roberto Campos, de São Paulo
Dos R$ 180 bilhões concedidos pelo Tesouro ao BNDES e emprestados pelo banco a juros subsidiados, R$ 115,84 bilhões foram desembolsados até o início de julho. Eles se destinaram, na maior parte, às grandes empresas, que receberam 72% do total ou R$ 83,45 bilhões. Até agora, 29% do dinheiro foi encaminhado para projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ou R$ 33,2 bilhões. Os números mostram que os projetos do programa estão sendo financiados com emissão de dívida e bancados com subsídios, e, também, que as grandes companhias se sentiram atraídas por juros inferiores aos de mercado para participar de negócios lucrativos - os do governo ou os próprios.
No repasse de pelo menos R$ 100 bilhões de aporte do Tesouro, que emite títulos pagando a taxa Selic, o custo médio total para o tomador final do empréstimo do BNDES com recursos do Tesouro foi de 7,95% ao ano. A remuneração média do BNDES foi de 2,25% (inclui remuneração básica, taxa de risco de crédito e de intermediação financeira), um pouco menor para grandes empresas (2,18% ao ano), um pouco maior para as médias e pequenas empresas (2,68% e 2,67%, respectivamente).
O BNDES foi autorizado a receber o dinheiro do Tesouro por meio de duas medidas provisórias (MPs), que se transformaram nas leis 11.948, de 16 de junho de 2009, e 12.249, de 11 de junho de 2010. O banco trimestralmente presta conta exclusivamente do uso do dinheiro bancado pelos cofres públicos ao Congresso, mas não faz alarde sobre isso. A primeira prestação de contas do ano foi concluída em abril, a segunda, anteontem.
Há diferenças importantes entre elas. O relatório de abril aponta que o primeiro aporte do Tesouro foi integralmente desembolsado entre janeiro de 2009 e março de 2010. O segundo relatório inclui o aporte adicional de R$ 80 bilhões, que sustentou a prorrogação do Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), destinado a estimular a produção e exportação de bens de capital e inovações tecnológicas.
No repasse dos R$ 80 bilhões é obrigatória a destinação de 25% às micro, pequenas e médias empresas. Entre a primeira e a segunda prestação de contas foram desembolsados R$ 15 bilhões do dinheiro subsidiado, de modo que o primeiro relatório contém o destino da maior parte das verbas.
Por isso, na fatia de R$ 100 bilhões já emprestada, o grau de concentração é maior. As grandes companhias ficaram com 78% dos desembolsos, ou R$ 77,4 bilhões, e as restantes com 19% - 3% bancaram projetos de pessoas físicas. Quando se incluem recursos do segundo aporte, a concentração diminui ligeiramente e as demais empresas ficam com 23,5% dos R$ 115 bilhões.
A trilha do dinheiro segue a atual concentração regional. Do total de recursos subsidiados até agora, 41,2% ficaram com o Sudeste, 16,4% com o Sul e 15,8% com o Nordeste. Projetos da Petrobras, como gasodutos e aumento da produção de gás e petróleo, que beneficiam mais de uma região, consumiram 13% do dinheiro, ou R$ 15,1 bilhões.
Por meio do PAC, a União está subsidiando os investimentos da Petrobras, que fica com a parte do leão dos R$ 33,2 bilhões desembolsados - R$ 25,6 bilhões em empréstimos para a empresa e seus projetos na refinaria Abreu e Silva, em Pernambuco, na Transportadora Associada de Gás (TAG) e na Transportadora Gasene. As usinas hidrelétricas, como Jirau, Santo Antonio e Serra do Facão, compõem a maior parte dos financiamentos restantes, ao lado da concessionária de rodovias e projetos da Vale (R$ 332,4 milhões, em especial para a ampliação da capacidade de transporte da estrada de ferro Carajás-EFC de 70 milhões para 103 de milhões de toneladas), Alcoa (R$ 282,4 milhões) e CSN (R$ 215 milhões).
Os desembolsos com recursos do Tesouro contemplaram principalmente a indústria de transformação (43,1%) e a infraestrutura (39,4%). Por gênero de atividade, metade dos R$ 115 bilhões se agrupa em três setores: transporte terrestre (de cargas e passageiros, rodoviário, ferroviário e metroviário), que obteve R$ 30,43 bilhões, fabricação de produtos derivados de petróleo e biocombustíveis (R$ 22,2 bilhões) e eletricidade, gás e utilidades públicas (R$ 8,9 bilhões).
O banco não discrimina as empresas que tomaram os recursos, apenas menciona algumas que obtiveram empréstimos relevantes. Dos R$ 2,8 bilhões que o setor de telecomunicações recebeu no período, por exemplo, o relatório destaca que a Telemar Norte Leste, do grupo La Fonte e Andrade Gutierrez, ficou com quantia relevante para bancar seu programa de investimentos 2009-2011, da mesma forma que a Brasil Telecom, adquirida pela Telemar, para realizar a expansão da infraestrutura de rede e Tecnologia da Informação.
Participações significativas tiveram empréstimos para a Fibria, da Votorantim Papel e Celulose (para linha de produção de celulose branqueada de eucalipto em Três Lagoas), Anglo American Brasil, para a expansão da mina de Barro Alto, Cosan, para construção de unidade de produção de etanol e Thyssenkrupp Metalúrgica Campo Limpo, para financiamento de produção voltada à exportação.
Segundo o BNDES, os desembolsos de R$ 115,8 bilhões bancados pelo Tesouro Nacional se desdobraram em um total de R$ 172,1 bilhões, quando se incluem os recursos próprios. O banco financiou 100% de investimentos no montante de R$ 47,3 bilhões, emprestou R$ 8,3 bilhões para cobrir 90% de outros projetos e R$ 15,2 bilhões para até 80%. Por meio de cálculos utilizando como base o sistema de contas nacionais do IBGE, o banco chegou à conclusão que seus financiamentos mantiveram ou ajudaram a criar 4,136 milhões de empregos, somados os diretos e indiretos.
PSDB monta estratégia para enfrentar Lula na TV
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Raquel Ulhôa, de Brasília
O PSDB está preocupado com o impacto da participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no programa eleitoral gratuito de televisão da candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff. É o que um dirigente tucano chama de "Lula na veia". Para minimizar o estrago, aliados do candidato do PSDB, José Serra, avaliam que ele precisa ser mais "humanizado" em seu próprio programa eleitoral.
O foco da propaganda eleitoral de Serra será a apresentação do candidato e de suas propostas. Seus coordenadores gostariam de estimular no eleitor a comparação entre Serra e Dilma. A aposta é que, no conteúdo, a vantagem seria do tucano. No entanto, a expectativa é que o programa de Dilma venha com muita produção e emoção, despertada pela participação de Lula.
Envolvidos na campanha de Serra acreditam que a emoção pode causar grande impacto nos primeiros programas eleitorais, mas deve se diluir ao longo dos 45 dias do horário gratuito. Com o tempo, a comparação de conteúdo deve prevalecer, favorecendo a candidatura tucana.
Aliados de Serra no PSDB e no DEM ficaram apreensivos após o debate entre os presidenciáveis na televisão, realizado pela Band no dia 5. Havia muita confiança na experiência do candidato tucano e na falta de traquejo de Dilma. Avaliam, no entanto, que Serra "não foi decisivo" e não soube explorar os pontos fracos de Dilma. Como resultado, a candidata do PT, apesar do visível nervosismo, acabou saindo-se melhor do que era esperado pelos tucanos e temido pelos petistas.
Além do programa eleitoral, o PSDB está preocupado em reforçar a campanha em Minas e no Rio, Estados que devem decidir a eleição, na avaliação do partido. A razão é a falta de "solidez" nas intenções de voto até agora registradas pelas pesquisas nos dois Estados.
No caso de Minas, Serra tem mais votos que o governador Antonio Anastasia (PSDB), candidato à reeleição apoiado pelo ex-governador Aécio Neves. Há margem paracrescimento do governador e, à medida que ele conquistar fatia maior do eleitorado, consequentemente aumenta as intenções de voto em Serra. Para isso, a campanha estadual precisa ser mais compartilhada com a nacional. A avaliação é que, por enquanto, a preocupação dos mineiros é com a eleição de governador, senadores e deputados, havendo pouca integração com a disputa nacional.
O caso do Rio é diferente. Sem candidato a governador dos partidos da aliança (PSDB, DEM e PPS), a coordenação da campanha aposta na "independência" do eleitorado fluminense. O objetivo é que Serra adote um discurso que o aproxime do eleitor, sem depender da campanha do candidato a governador do PV, deputado Fernando Gabeira.
Há, ainda, o objetivo de aumentar a diferença de intenção de voto para Serra em São Paulo. Na avaliação dos tucanos, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) está pouco empenhado em fazer campanha, já que lidera as pesquisas. Como sua intenção de voto é maior do que a que Serra tem no Estado, a conclusão é que o presidenciável precisa colar mais em Alckmin - que, por sua vez, precisaria ir mais para a rua.
Raquel Ulhôa, de Brasília
O PSDB está preocupado com o impacto da participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no programa eleitoral gratuito de televisão da candidata do PT a presidente, Dilma Rousseff. É o que um dirigente tucano chama de "Lula na veia". Para minimizar o estrago, aliados do candidato do PSDB, José Serra, avaliam que ele precisa ser mais "humanizado" em seu próprio programa eleitoral.
O foco da propaganda eleitoral de Serra será a apresentação do candidato e de suas propostas. Seus coordenadores gostariam de estimular no eleitor a comparação entre Serra e Dilma. A aposta é que, no conteúdo, a vantagem seria do tucano. No entanto, a expectativa é que o programa de Dilma venha com muita produção e emoção, despertada pela participação de Lula.
Envolvidos na campanha de Serra acreditam que a emoção pode causar grande impacto nos primeiros programas eleitorais, mas deve se diluir ao longo dos 45 dias do horário gratuito. Com o tempo, a comparação de conteúdo deve prevalecer, favorecendo a candidatura tucana.
Aliados de Serra no PSDB e no DEM ficaram apreensivos após o debate entre os presidenciáveis na televisão, realizado pela Band no dia 5. Havia muita confiança na experiência do candidato tucano e na falta de traquejo de Dilma. Avaliam, no entanto, que Serra "não foi decisivo" e não soube explorar os pontos fracos de Dilma. Como resultado, a candidata do PT, apesar do visível nervosismo, acabou saindo-se melhor do que era esperado pelos tucanos e temido pelos petistas.
Além do programa eleitoral, o PSDB está preocupado em reforçar a campanha em Minas e no Rio, Estados que devem decidir a eleição, na avaliação do partido. A razão é a falta de "solidez" nas intenções de voto até agora registradas pelas pesquisas nos dois Estados.
No caso de Minas, Serra tem mais votos que o governador Antonio Anastasia (PSDB), candidato à reeleição apoiado pelo ex-governador Aécio Neves. Há margem paracrescimento do governador e, à medida que ele conquistar fatia maior do eleitorado, consequentemente aumenta as intenções de voto em Serra. Para isso, a campanha estadual precisa ser mais compartilhada com a nacional. A avaliação é que, por enquanto, a preocupação dos mineiros é com a eleição de governador, senadores e deputados, havendo pouca integração com a disputa nacional.
O caso do Rio é diferente. Sem candidato a governador dos partidos da aliança (PSDB, DEM e PPS), a coordenação da campanha aposta na "independência" do eleitorado fluminense. O objetivo é que Serra adote um discurso que o aproxime do eleitor, sem depender da campanha do candidato a governador do PV, deputado Fernando Gabeira.
Há, ainda, o objetivo de aumentar a diferença de intenção de voto para Serra em São Paulo. Na avaliação dos tucanos, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) está pouco empenhado em fazer campanha, já que lidera as pesquisas. Como sua intenção de voto é maior do que a que Serra tem no Estado, a conclusão é que o presidenciável precisa colar mais em Alckmin - que, por sua vez, precisaria ir mais para a rua.
TSE é contra propaganda verticalizada
DEU NO VALOR ECONÔMICO
Juliano Basile, de Brasília
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a uma maioria de votos contra a verticalização da propaganda eleitoral mas a decisão final só será tomada hoje, faltando cinco dias para o início do horário político na televisão e no rádio.
No fim da noite de terça-feira, quatro dos sete ministros do TSE concluíram que os candidatos à Presidência podem participar livremente dos programas de rádio e TV de candidatos ao governo do Estado e ao Senado.
Para o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, e os ministros Marco Aurélio Mello, Aldir Passarinho Junior e Marcelo Ribeiro, a permissão vale até para as aparições em programas de dois candidatos rivais ao governado do Estado.
Mas, Ribeiro fez ressalva para uma situação específica. Para ele, se os partidos forem adversários em âmbito regional, a participação do candidato à Presidência estaria limitada ao programa de seu partido.
Após o voto de Ribeiro, o ministro José Antonio Dias Toffoli pediu vista. Ele deverá levar o seu voto na noite de hoje. O horário político tem início na próxima terça-feira.
No fim de junho, o TSE chegou a vetar as aparições de candidatos à Presidência em horários destinados a aliados regionais que são de partidos adversários na chapa nacional. É o caso do candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PV, Fernando Gabeira. Ele conta com o apoio do tucano José Serra e de Marina Silva, do PV. Pela regra de junho, Gabeira não poderia ter o apoio de Serra no horário eleitoral.
Após protestos da classe política, o TSE decidiu não publicar aquela decisão e marcou novo julgamento. É esse o caso que vai ser decidido hoje.
O julgamento também pode estabelecer limites para a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em horários de aliados regionais. O TSE terá de responder se um cidadão que não é candidato, mas é filiado a um partido político, pode participar de programa de candidato de outro partido, mesmo que as legendas sejam rivais em âmbito regional. Até aqui, três ministros (Marco Aurélio, Ribeiro e Passarinho) responderam negativamente. E apenas um ministro (Lewandowski) foi a favor desse tipo de participação.
O presidente do TSE adotou a posição mais liberal da Corte com relação à participação de presidenciáveis nas campanhas regionais. Para Lewandowski, os partidos são livres para decidir sobre alianças regionais e "a liberdade assegurada na formação das coligações deve estender-se também à veiculação da propaganda eleitoral".
Juliano Basile, de Brasília
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) chegou a uma maioria de votos contra a verticalização da propaganda eleitoral mas a decisão final só será tomada hoje, faltando cinco dias para o início do horário político na televisão e no rádio.
No fim da noite de terça-feira, quatro dos sete ministros do TSE concluíram que os candidatos à Presidência podem participar livremente dos programas de rádio e TV de candidatos ao governo do Estado e ao Senado.
Para o presidente do TSE, Ricardo Lewandowski, e os ministros Marco Aurélio Mello, Aldir Passarinho Junior e Marcelo Ribeiro, a permissão vale até para as aparições em programas de dois candidatos rivais ao governado do Estado.
Mas, Ribeiro fez ressalva para uma situação específica. Para ele, se os partidos forem adversários em âmbito regional, a participação do candidato à Presidência estaria limitada ao programa de seu partido.
Após o voto de Ribeiro, o ministro José Antonio Dias Toffoli pediu vista. Ele deverá levar o seu voto na noite de hoje. O horário político tem início na próxima terça-feira.
No fim de junho, o TSE chegou a vetar as aparições de candidatos à Presidência em horários destinados a aliados regionais que são de partidos adversários na chapa nacional. É o caso do candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PV, Fernando Gabeira. Ele conta com o apoio do tucano José Serra e de Marina Silva, do PV. Pela regra de junho, Gabeira não poderia ter o apoio de Serra no horário eleitoral.
Após protestos da classe política, o TSE decidiu não publicar aquela decisão e marcou novo julgamento. É esse o caso que vai ser decidido hoje.
O julgamento também pode estabelecer limites para a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em horários de aliados regionais. O TSE terá de responder se um cidadão que não é candidato, mas é filiado a um partido político, pode participar de programa de candidato de outro partido, mesmo que as legendas sejam rivais em âmbito regional. Até aqui, três ministros (Marco Aurélio, Ribeiro e Passarinho) responderam negativamente. E apenas um ministro (Lewandowski) foi a favor desse tipo de participação.
O presidente do TSE adotou a posição mais liberal da Corte com relação à participação de presidenciáveis nas campanhas regionais. Para Lewandowski, os partidos são livres para decidir sobre alianças regionais e "a liberdade assegurada na formação das coligações deve estender-se também à veiculação da propaganda eleitoral".
Collor: 'Lula melhorou o que fiz'
DEU EM O GLOBO
Manifestantes contra e a favor do candidato se enfrentam em Alagoas
Odilon Rios*
MACEIÓ. O senador Fernando Collor (PTB), candidato ao governo de Alagoas, disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua opinião, é o melhor presidente da História do país. Em entrevista a uma rádio alagoana - durante a qual ostentava dois adesivos, um dele e outro da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff -, Collor elogiou Lula por ter seguido uma agenda que, segundo o senador, foi implantada por ele quando ocupou a Presidência, "e melhorando o que eu fiz":
- O presidente Lula, a meu modo de ver, é o melhor presidente que o Brasil já teve.
Na entrevista, Collor disse que, se ganhar as eleições, pode não concluir o mandato, para entrar em outra disputa eleitoral em 2014.
- Não sei dizer (se deixaria o mandato antes), depende das circunstâncias políticas, depende de muitos fatores. Mas o que desejo é fazer um governo à altura das expectativas dos alagoanos - disse.
Collor pediu desculpas por ter xingado o repórter Hugo Marques, da revista "IstoÉ", mas não ao jornalista:
- Ele cometeu má-fé (por ter divulgado um trecho da gravação de um telefonema, no qual Collor o chama de "filho de uma puta"). Já tenho apanhado tanto, sofro tanto, não perdi minha capacidade de me indignar.
Ontem, as ruas do Centro de Maceió foram palco de tensão e quase confronto durante um ato surpresa organizado pela Juventude do PTB a favor do ex-presidente e contra o protesto "Fora Collor", de movimentos sociais e representantes da sociedade civil organizada, marcado desde semana passada.
Um dos organizadores do ato dos colloridos era o prefeito de Traipu, Marcos Santos (PTB), preso por corrupção e solto graças a uma liminar. O local e a hora dos dois atos foram os mesmos. No encontro das passeatas, cada uma com cerca de 500 pessoas, foi necessária a presença do Centro de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar.
O TRE reforçou a segurança, para evitar quebra-quebra diante de sua sede, onde os manifestantes se encontraram. Carros de som do "Fora Collor" repetiam parte da conversa gravada entre Collor e o jornalista Hugo Marques. Mas não houve confronto.
* Especial para O GLOBO
Manifestantes contra e a favor do candidato se enfrentam em Alagoas
Odilon Rios*
MACEIÓ. O senador Fernando Collor (PTB), candidato ao governo de Alagoas, disse ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em sua opinião, é o melhor presidente da História do país. Em entrevista a uma rádio alagoana - durante a qual ostentava dois adesivos, um dele e outro da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff -, Collor elogiou Lula por ter seguido uma agenda que, segundo o senador, foi implantada por ele quando ocupou a Presidência, "e melhorando o que eu fiz":
- O presidente Lula, a meu modo de ver, é o melhor presidente que o Brasil já teve.
Na entrevista, Collor disse que, se ganhar as eleições, pode não concluir o mandato, para entrar em outra disputa eleitoral em 2014.
- Não sei dizer (se deixaria o mandato antes), depende das circunstâncias políticas, depende de muitos fatores. Mas o que desejo é fazer um governo à altura das expectativas dos alagoanos - disse.
Collor pediu desculpas por ter xingado o repórter Hugo Marques, da revista "IstoÉ", mas não ao jornalista:
- Ele cometeu má-fé (por ter divulgado um trecho da gravação de um telefonema, no qual Collor o chama de "filho de uma puta"). Já tenho apanhado tanto, sofro tanto, não perdi minha capacidade de me indignar.
Ontem, as ruas do Centro de Maceió foram palco de tensão e quase confronto durante um ato surpresa organizado pela Juventude do PTB a favor do ex-presidente e contra o protesto "Fora Collor", de movimentos sociais e representantes da sociedade civil organizada, marcado desde semana passada.
Um dos organizadores do ato dos colloridos era o prefeito de Traipu, Marcos Santos (PTB), preso por corrupção e solto graças a uma liminar. O local e a hora dos dois atos foram os mesmos. No encontro das passeatas, cada uma com cerca de 500 pessoas, foi necessária a presença do Centro de Gerenciamento de Crises da Polícia Militar.
O TRE reforçou a segurança, para evitar quebra-quebra diante de sua sede, onde os manifestantes se encontraram. Carros de som do "Fora Collor" repetiam parte da conversa gravada entre Collor e o jornalista Hugo Marques. Mas não houve confronto.
* Especial para O GLOBO
Fazenda erra dados e infla feitos de Lula
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Boletim com estatísticas econômicas tem números e conceitos errados e subestima resultados do governo FHC
Cálculo do crescimento da gestão tucana omitiu 1995, o que fez a média cair de 6,2% para 3,5%; site de Dilma usa dados
Gustavo Patu
Boletim com estatísticas econômicas tem números e conceitos errados e subestima resultados do governo FHC
Cálculo do crescimento da gestão tucana omitiu 1995, o que fez a média cair de 6,2% para 3,5%; site de Dilma usa dados
Gustavo Patu
DE BRASÍLIA - Boletim de estatísticas divulgado anteontem pelo Ministério da Fazenda apresenta números e conceitos errados ou distorcidos para inflar os feitos do governo Luiz Inácio Lula da Silva, subestimar resultados da gestão anterior e esconder fragilidades atuais da política econômica.
Repleto de quadros com títulos em tom otimista e gráficos destinados à exibição em slides, o documento de 136 páginas privilegia comparações com o passado e aborda temas que têm sido explorados pela campanha da candidata governista ao Planalto, Dilma Rousseff (PT).
Conforme a Folha noticiou ontem, a compilação de dados foi divulgada pelo próprio ministro Guido Mantega, algo inusual, como parte de uma agenda de eventos oficiais favoráveis à estratégia eleitoral petista.
Números relativos ao crescimento econômico, por exemplo, foram no mesmo dia para a página oficial da campanha de Dilma.
Em meio às centenas de cifras citadas no boletim, há desde informações negadas pelos próprios gráficos que as ilustram até erros de cálculo -e as contas erradas favorecem o governo.
Um caso evidente é o do quadro destinado a atestar a solidez das contas do Tesouro Nacional, cujo texto diz que, "até 2010, já são 12 anos de superavit acima de 2% [do Produto Interno Bruto]".
O gráfico logo abaixo mostra, neste ano, receitas de 19,9% e despesas de 18,5% do PIB ou, numa subtração simples, superavit de 1,4%.
LULA X FHC
Os números do ano passado não estão explicitados nas curvas coloridas, mas deveriam mostrar um superavit ainda menor, de 1,25%.
Mais importante, omite-se a meta oficial para o superavit federal, de 2,15% do PIB, que o governo não tem conseguido cumprir -pela primeira vez nesta década- mesmo com recordes de arrecadação tributária.
É falsa também a taxa de crescimento da renda per capita atribuída aos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), ou, seja, ao período 1995-2002.
O quadro informa o percentual de 3,5% nos oito anos, o que o texto descreve como "praticamente estável". O cálculo, no entanto, desconsidera o crescimento do primeiro ano tucano, que elevaria o percentual a 6,2%.
"Deficit de transações é passageiro e não compromete crescimento", diz título sobre o desempenho do país nas transações de bens e serviços com o exterior. Já o quadro mostra tendência de piora desde 2005.
Mesmo quando os números usados no boletim não estão errados, outros critérios utilizados ajudam a alavancar os resultados.
A evolução do salário mínimo, em dólares, aproveita a queda da moeda americana e produz um salto dos valores; o custo da máquina administrativa não contabiliza gastos com pessoal e fica abaixo dos investimentos em infraestrutura.
Chamado de "otário" em vídeo com Lula e Cabral, Leandro quer laptop
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Estudante é morador de favela em Manguinhos e não sabe da repercussão da gravação
Italo Nogueira
DO RIO - Autor e personagem de um vídeo que tomou conta da internet, em que é chamado de "otário" e "sacana" pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), além de ouvir do presidente Lula que tênis é "esporte da burguesia", o estudante Leandro dos Santos de Paula, 18, não tem ideia da repercussão da gravação.
Na favela onde mora, as imagens foram comentadas por "meia dúzia" de pessoas, mas ontem à noite o vídeo contabilizava mais de 430 mil exibições no YouTube."Não foi muita gente que viu não. Pouca gente tem internet", diz o jovem, que costuma gravar todos seus encontros com gente "famosa" e se tornou uma dor de cabeça na campanha de Cabral.
O estudante abordou o governador e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro do ano passado, após inauguração de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em Manguinhos, onde mora.
O vídeo trouxe à tona uma visão dos políticos muito diferente daquela de quando estão diante de repórteres.
Primeiro, o rapaz reclama da ausência de uma quadra de tênis no local, e Lula diz que isso é "esporte da burguesia". Leandro conta que precisou consultar o dicionário para entender o recado. "Acho que ele quis dizer que é coisa de gente rica."
O presidente então pergunta por que ele não "nada". Ao ouvir que a piscina fica fechada, Lula se dirige a Cabral: "O dia que a imprensa vier aí e vir isso fechado, o prejuízo político é infinitamente maior do que colocar dois guardas aí".
Em seguida, Leandro reclama do barulho do "Caveirão", o blindado da Polícia Militar, em sua rua. Cabral o interrompe e pergunta se "lá não tem tráfico não". Quando o jovem diz que não, o governador rebate: "Deixa de ser otário, está fazendo discurso de otário".
"Burguês" Leandro não é. Mora num barraco na favela Nelson Mandela, com três irmãos, a mãe, auxiliar de serviço gerais, e o padrasto, que é caminhoneiro.
Mas joga tênis nas ruas da favela. Tem três raquetes de madeira -uma delas com a tela furada- , compradas numa feira de antiguidades em São Cristóvão quando ainda tinha 14 anos.
"Para jogar, a gente molha o chão da rua e marca a quadra", diz Leandro, que tem a companhia de outros quatro "burgueses" da favela.
O estudante do 9º ano -repetiu três vezes- diz que não ouviu as ofensas do governador. "A conversa não era com ele. Era com o Lula."
DA FAVELA AO YOUTUBE
Desde aquele dia, o jovem persegue Cabral em eventos. Pede que o governador cumpra a promessa, feita no palanque no mesmo dia da gravação, de lhe dar um laptop.
Na quinta-feira da semana passada, Leandro aguardava Cabral no Shopping Leblon, a cerca de 20 km de sua casa, para cobrar a dívida.
Abordou Benedita da Silva, candidata a deputada, que em vídeo gravado por ele confirma a promessa. Ela também estava no palanque e, segundo Leandro, anotou seu telefone e endereço.
Foi no shopping que conheceu Ricardo Gama, blogueiro crítico a Cabral e que apoia o candidato Fernando Peregrino (PR), lançado por Anthony Garotinho.
O jovem contou que tinha filmado a visita com uma pequena câmera que costuma carregar. O blogueiro viu as imagens e pôs em seu site.
Leandro diz não ter vinculações político-partidárias, como acusa Cabral. O vídeo do governador divide espaço da memória da câmera com fotos do jovem com artistas. A última clicada foi a atriz Regina Duarte. "Gravo para guardar de recordação."
Estudante é morador de favela em Manguinhos e não sabe da repercussão da gravação
Italo Nogueira
DO RIO - Autor e personagem de um vídeo que tomou conta da internet, em que é chamado de "otário" e "sacana" pelo governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), além de ouvir do presidente Lula que tênis é "esporte da burguesia", o estudante Leandro dos Santos de Paula, 18, não tem ideia da repercussão da gravação.
Na favela onde mora, as imagens foram comentadas por "meia dúzia" de pessoas, mas ontem à noite o vídeo contabilizava mais de 430 mil exibições no YouTube."Não foi muita gente que viu não. Pouca gente tem internet", diz o jovem, que costuma gravar todos seus encontros com gente "famosa" e se tornou uma dor de cabeça na campanha de Cabral.
O estudante abordou o governador e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro do ano passado, após inauguração de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em Manguinhos, onde mora.
O vídeo trouxe à tona uma visão dos políticos muito diferente daquela de quando estão diante de repórteres.
Primeiro, o rapaz reclama da ausência de uma quadra de tênis no local, e Lula diz que isso é "esporte da burguesia". Leandro conta que precisou consultar o dicionário para entender o recado. "Acho que ele quis dizer que é coisa de gente rica."
O presidente então pergunta por que ele não "nada". Ao ouvir que a piscina fica fechada, Lula se dirige a Cabral: "O dia que a imprensa vier aí e vir isso fechado, o prejuízo político é infinitamente maior do que colocar dois guardas aí".
Em seguida, Leandro reclama do barulho do "Caveirão", o blindado da Polícia Militar, em sua rua. Cabral o interrompe e pergunta se "lá não tem tráfico não". Quando o jovem diz que não, o governador rebate: "Deixa de ser otário, está fazendo discurso de otário".
"Burguês" Leandro não é. Mora num barraco na favela Nelson Mandela, com três irmãos, a mãe, auxiliar de serviço gerais, e o padrasto, que é caminhoneiro.
Mas joga tênis nas ruas da favela. Tem três raquetes de madeira -uma delas com a tela furada- , compradas numa feira de antiguidades em São Cristóvão quando ainda tinha 14 anos.
"Para jogar, a gente molha o chão da rua e marca a quadra", diz Leandro, que tem a companhia de outros quatro "burgueses" da favela.
O estudante do 9º ano -repetiu três vezes- diz que não ouviu as ofensas do governador. "A conversa não era com ele. Era com o Lula."
DA FAVELA AO YOUTUBE
Desde aquele dia, o jovem persegue Cabral em eventos. Pede que o governador cumpra a promessa, feita no palanque no mesmo dia da gravação, de lhe dar um laptop.
Na quinta-feira da semana passada, Leandro aguardava Cabral no Shopping Leblon, a cerca de 20 km de sua casa, para cobrar a dívida.
Abordou Benedita da Silva, candidata a deputada, que em vídeo gravado por ele confirma a promessa. Ela também estava no palanque e, segundo Leandro, anotou seu telefone e endereço.
Foi no shopping que conheceu Ricardo Gama, blogueiro crítico a Cabral e que apoia o candidato Fernando Peregrino (PR), lançado por Anthony Garotinho.
O jovem contou que tinha filmado a visita com uma pequena câmera que costuma carregar. O blogueiro viu as imagens e pôs em seu site.
Leandro diz não ter vinculações político-partidárias, como acusa Cabral. O vídeo do governador divide espaço da memória da câmera com fotos do jovem com artistas. A última clicada foi a atriz Regina Duarte. "Gravo para guardar de recordação."
Aécio sobe o tom
DEU NO ESTADO DE MINAS
Aécio Neves rebate afirmação de Hélio Costa. Peemedebista tenta mudar o foco do debate
Bertha Maakaroun
A seis dias do início do horário eleitoral, sobe o tom na campanha ao governo de Minas com a troca de farpas entre o candidato ao governo Hélio Costa (PMDB) e o ex-governador e candidato ao Senado, Aécio Neves (PSDB). Pouco depois de ter declarado ontem que se Aécio tivesse deixado o PSDB, há dois anos, e se filiado ao PMDB, seria o candidato de Lula à Presidência da República, Hélio Costa foi chamado pelo tucano de "oportunista". Em nota, Aécio disparou: “Como muitas pessoas em Minas, eu tenho dificuldades em compreender como o senador não se constrange em caminhar de braços dados com quem já o atacou de forma tão violenta, como é o caso da CUT e do PT”.
As afirmações do peemedebista ocorreram durante sabatina promovida pela Folha/Uol um dia depois que o seu adversário, o governador e candidato à reeleição Antônio Anastasia (PSDB) ter sugerido que Hélio Costa não teria a ordem gerencial como prioridade e um eventual governo seu seria um retrocesso para o estado. O candidato tucano ao governo de Minas recebeu o troco. Afirmando que Deus não lhe deu "essa qualidade" de falar tão facilmente mal dos seus adversários, Hélio Costa considerou o governo Aécio "ótimo", mas fez questão de diferenciá-lo em relação ao governo Antonio Anastasia, iniciado em abril. "O candidato quer passar a imagem de que ele é o Aécio. E não dá. São duas coisas diferentes", disse Hélio Costa, sustentando que erros foram cometidos neste governo, principalmente na forma como as reivindicações dos professores, servidores públicos e policiais militares foram tratadas. Na sequência de críticas a Anastasia, Hélio Costa mudou o alvo do debate. Dirigiu mais elogios a Aécio, a quem chamou de seu "amigo", e anunciou uma revelação que seria inédita, um "furo de reportagem".
Segundo o peemedebista Aécio seria o candidato a presidente de Lula se tivesse deixado o PSDB e se filiado ao PMDB. "Nós todos em Minas achávamos que ele seria candidato a presidente da República. Eu cheguei a dizer, lá atrás, que se ele tomasse uma decisão, seria o candidato do presidente Lula. Faltou um pouco de desprendimento político, para não dizer coragem", disse Hélio Costa.
O peemedebista prosseguiu sustentando que, após a queda de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil e do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, houve um "vácuo" no poder. Já naquela ocasião, prosseguiu Hélio Costa, era sabido que se continuasse no PSDB, Aécio não derrotaria na disputa interna o ex-governador de São Paulo José Serra, destinado a ser o indicado do partido para concorrer à Presidência da República. "Quem conversava em São Paulo com políticos e empresários não via a possibilidade de Aécio emplacar a sua candidatura no PSDB com o Serra", afirmou Hélio Costa, acrescentando em seguida ter procurado Aécio para lhe dizer que, caso ele deixasse o PSDB e se filiasse ao PMDB, abriria mão de disputar o governo de Minas. "Se ele fosse candidato, eu estaria rigorosamente fora do processo político", disse Hélio Costa, assinalando ainda que apoiaria a candidatura de Aécio Neves “como todos os mineiros”.
As declarações de Hélio Costa provocaram a reação imediata de Aécio Neves. O tucano divulgou nota classificando as afirmações do peemedebista de equivocadas. "Coragem na vida pública é honrar compromissos assumidos com a população. É priorizar a coerência e a lealdade às próprias convicções e princípios. Por isso, sempre repudiei com veemência o oportunismo político como meio de ascensão política", sustentou a nota. Chamando para si o debate, Aécio Neves estranhou a aliança de Hélio Costa com o PT. "Como muitas pessoas em Minas, eu tenho dificuldades em compreender como o senador não se constrange em caminhar de braços dados com quem já o atacou de forma tão violenta, como é o caso da CUT e do PT, que num passado pouco distante, talvez até de forma injusta, chegou a pedir a impugnação da candidatura dele ao governo do estado".
Aécio Neves rebate afirmação de Hélio Costa. Peemedebista tenta mudar o foco do debate
Bertha Maakaroun
A seis dias do início do horário eleitoral, sobe o tom na campanha ao governo de Minas com a troca de farpas entre o candidato ao governo Hélio Costa (PMDB) e o ex-governador e candidato ao Senado, Aécio Neves (PSDB). Pouco depois de ter declarado ontem que se Aécio tivesse deixado o PSDB, há dois anos, e se filiado ao PMDB, seria o candidato de Lula à Presidência da República, Hélio Costa foi chamado pelo tucano de "oportunista". Em nota, Aécio disparou: “Como muitas pessoas em Minas, eu tenho dificuldades em compreender como o senador não se constrange em caminhar de braços dados com quem já o atacou de forma tão violenta, como é o caso da CUT e do PT”.
As afirmações do peemedebista ocorreram durante sabatina promovida pela Folha/Uol um dia depois que o seu adversário, o governador e candidato à reeleição Antônio Anastasia (PSDB) ter sugerido que Hélio Costa não teria a ordem gerencial como prioridade e um eventual governo seu seria um retrocesso para o estado. O candidato tucano ao governo de Minas recebeu o troco. Afirmando que Deus não lhe deu "essa qualidade" de falar tão facilmente mal dos seus adversários, Hélio Costa considerou o governo Aécio "ótimo", mas fez questão de diferenciá-lo em relação ao governo Antonio Anastasia, iniciado em abril. "O candidato quer passar a imagem de que ele é o Aécio. E não dá. São duas coisas diferentes", disse Hélio Costa, sustentando que erros foram cometidos neste governo, principalmente na forma como as reivindicações dos professores, servidores públicos e policiais militares foram tratadas. Na sequência de críticas a Anastasia, Hélio Costa mudou o alvo do debate. Dirigiu mais elogios a Aécio, a quem chamou de seu "amigo", e anunciou uma revelação que seria inédita, um "furo de reportagem".
Segundo o peemedebista Aécio seria o candidato a presidente de Lula se tivesse deixado o PSDB e se filiado ao PMDB. "Nós todos em Minas achávamos que ele seria candidato a presidente da República. Eu cheguei a dizer, lá atrás, que se ele tomasse uma decisão, seria o candidato do presidente Lula. Faltou um pouco de desprendimento político, para não dizer coragem", disse Hélio Costa.
O peemedebista prosseguiu sustentando que, após a queda de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil e do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, houve um "vácuo" no poder. Já naquela ocasião, prosseguiu Hélio Costa, era sabido que se continuasse no PSDB, Aécio não derrotaria na disputa interna o ex-governador de São Paulo José Serra, destinado a ser o indicado do partido para concorrer à Presidência da República. "Quem conversava em São Paulo com políticos e empresários não via a possibilidade de Aécio emplacar a sua candidatura no PSDB com o Serra", afirmou Hélio Costa, acrescentando em seguida ter procurado Aécio para lhe dizer que, caso ele deixasse o PSDB e se filiasse ao PMDB, abriria mão de disputar o governo de Minas. "Se ele fosse candidato, eu estaria rigorosamente fora do processo político", disse Hélio Costa, assinalando ainda que apoiaria a candidatura de Aécio Neves “como todos os mineiros”.
As declarações de Hélio Costa provocaram a reação imediata de Aécio Neves. O tucano divulgou nota classificando as afirmações do peemedebista de equivocadas. "Coragem na vida pública é honrar compromissos assumidos com a população. É priorizar a coerência e a lealdade às próprias convicções e princípios. Por isso, sempre repudiei com veemência o oportunismo político como meio de ascensão política", sustentou a nota. Chamando para si o debate, Aécio Neves estranhou a aliança de Hélio Costa com o PT. "Como muitas pessoas em Minas, eu tenho dificuldades em compreender como o senador não se constrange em caminhar de braços dados com quem já o atacou de forma tão violenta, como é o caso da CUT e do PT, que num passado pouco distante, talvez até de forma injusta, chegou a pedir a impugnação da candidatura dele ao governo do estado".
Comissão de Educação da Alerj discute educação inclusiva
Assessoria do gabinete
A Escola Estadual de Educação Especial Anne Sullivan, localizada em Niterói, não será extinta. Foi o que afirmou o presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio, deputado Comte Bittencourt (PPS), durante audiência pública realizada nesta quarta-feira (11/8). De acordo com Comte, é fundamental garantir que os cerca de 200 alunos matriculados, com necessidades especiais, tenham seus direitos respeitados. “Apesar dos ruídos na comunicação, o colégio não será extinto e deverá se transformar, como consta no Plano Estadual de Educação, aprovado no ano passado, num centro de referência”, afirmou o deputado. Para ele, questões como inclusão e municipalização também devem ser olhadas com atenção e seriedade nesses casos. “Quando a escola entender que é possível a inclusão de um aluno, ela poderá ser feita. Agora, os que forem indicados a permanecer na escola, continuarão a ser atendidos na instituição”, complementou.
A Anne Sullivan é uma das 15 unidades estaduais a oferecer ensino para crianças com necessidades especiais, atendendo alunos de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Segundo o diretor de integração educacional da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), Reinaldo Ferreira, a instituição é considerada de excelência pela comunidade escolar, sendo referência para estágios de universitários e visitações de outras instituições. “Se em algum documento enviado para a escola estiver a palavra extinção, garanto que foi equivocada. Defendo uma reflexão maior sobre o assunto, como até que idade um aluno deve permanecer na escola”, disse Reinaldo. Por outro lado, o diretor entende que a municipalização e a inclusão podem ser positivas na área da Educação. “O município é bem mais próximo da comunidade do que o estado. Além disso, a segregação de alunos com deficiência não ajuda em nada o seu desenvolvimento, mas deve ser feita com restrições”, afirmou.
Mesmo assim, a preocupação com a continuidade do funcionamento da escola foi o principal motivo de preocupação dos pais de alunos. Mãe de Gabriele, Maria Conceição Santos de Carvalho mostrou-se apreensiva com o futuro dos alunos da instituição: “Em seis anos, Gabriele já passou por outras escolas, tanto especiais quanto regulares, mas só na Anne Sullivan teve progressos. Tenho medo de que não se adapte à inclusão. Como faremos se isso não der certo?. A representante do Movimento Inclusão Legal (MIL), Sulmirani do Nascimento, mãe de outra aluna, declarou que na teoria a inclusão é positiva mas, na prática, não funciona.
Representante dos alunos da Anne Sullivan, a estudante Natália Fraga Rocha emocionou os presentes à audiência. “Já passei por situações de preconceito em outras escolas. Mas a nossa escola é uma família e não pode fechar”, pediu Natália. Para a presidente da União dos Professores Públicos no Estado (Uppes), Teresinha Machado, o Rio de Janeiro ainda não tem condições de promover a inclusão de alunos com necessidades especiais nas escolas regulares.
A Escola Estadual de Educação Especial Anne Sullivan, localizada em Niterói, não será extinta. Foi o que afirmou o presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Rio, deputado Comte Bittencourt (PPS), durante audiência pública realizada nesta quarta-feira (11/8). De acordo com Comte, é fundamental garantir que os cerca de 200 alunos matriculados, com necessidades especiais, tenham seus direitos respeitados. “Apesar dos ruídos na comunicação, o colégio não será extinto e deverá se transformar, como consta no Plano Estadual de Educação, aprovado no ano passado, num centro de referência”, afirmou o deputado. Para ele, questões como inclusão e municipalização também devem ser olhadas com atenção e seriedade nesses casos. “Quando a escola entender que é possível a inclusão de um aluno, ela poderá ser feita. Agora, os que forem indicados a permanecer na escola, continuarão a ser atendidos na instituição”, complementou.
A Anne Sullivan é uma das 15 unidades estaduais a oferecer ensino para crianças com necessidades especiais, atendendo alunos de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Segundo o diretor de integração educacional da Secretaria de Estado de Educação (Seeduc), Reinaldo Ferreira, a instituição é considerada de excelência pela comunidade escolar, sendo referência para estágios de universitários e visitações de outras instituições. “Se em algum documento enviado para a escola estiver a palavra extinção, garanto que foi equivocada. Defendo uma reflexão maior sobre o assunto, como até que idade um aluno deve permanecer na escola”, disse Reinaldo. Por outro lado, o diretor entende que a municipalização e a inclusão podem ser positivas na área da Educação. “O município é bem mais próximo da comunidade do que o estado. Além disso, a segregação de alunos com deficiência não ajuda em nada o seu desenvolvimento, mas deve ser feita com restrições”, afirmou.
Mesmo assim, a preocupação com a continuidade do funcionamento da escola foi o principal motivo de preocupação dos pais de alunos. Mãe de Gabriele, Maria Conceição Santos de Carvalho mostrou-se apreensiva com o futuro dos alunos da instituição: “Em seis anos, Gabriele já passou por outras escolas, tanto especiais quanto regulares, mas só na Anne Sullivan teve progressos. Tenho medo de que não se adapte à inclusão. Como faremos se isso não der certo?. A representante do Movimento Inclusão Legal (MIL), Sulmirani do Nascimento, mãe de outra aluna, declarou que na teoria a inclusão é positiva mas, na prática, não funciona.
Representante dos alunos da Anne Sullivan, a estudante Natália Fraga Rocha emocionou os presentes à audiência. “Já passei por situações de preconceito em outras escolas. Mas a nossa escola é uma família e não pode fechar”, pediu Natália. Para a presidente da União dos Professores Públicos no Estado (Uppes), Teresinha Machado, o Rio de Janeiro ainda não tem condições de promover a inclusão de alunos com necessidades especiais nas escolas regulares.
“Esperamos que a instituição continue sendo um pólo de excelência e de formação de alunos com necessidades especiais. O Rio tem um dos piores desempenhos no Ideb e nossos professores trabalham em péssimas condições. Se outros países já estão na fase da inclusão é porque podem. Infelizmente não é o nosso caso”, lamentou Teresinha. A coordenadora de Educação Especial da Fundação Municipal de Niterói, Nelma Pintor, apresentou ressalvas: ”A inclusão não se propõe a criar desajuste ou desestabilidade, e sim um movimento que se propõe a promover a ruptura com a exclusão social”. Ela disse ainda que Niterói já vem recebendo em escolas regulares esses alunos especiais.
Participaram também da audiência a assessora da Coordenadoria de Educação da Seeduc, Elaine Martins Dantas; a superintendente de Integração e Planejamento da Rede da Seeduc, Ana Paula Velasco; a superintendente de Gestão da Rede, Inês dos Santos; a representante da Uppes, Maria Lúcia Sardemberg; a diretora de gestão de escolar de Niterói, Eliane Cazeiro; o deputado Paulo Ramos (PDT); a professora da escola, Joana Pessanha; assim como outros alunos, representantes de pais de alunos e de outras instituições.
Participaram também da audiência a assessora da Coordenadoria de Educação da Seeduc, Elaine Martins Dantas; a superintendente de Integração e Planejamento da Rede da Seeduc, Ana Paula Velasco; a superintendente de Gestão da Rede, Inês dos Santos; a representante da Uppes, Maria Lúcia Sardemberg; a diretora de gestão de escolar de Niterói, Eliane Cazeiro; o deputado Paulo Ramos (PDT); a professora da escola, Joana Pessanha; assim como outros alunos, representantes de pais de alunos e de outras instituições.
EMBRIAGUEM-SE :: Charles Baudelaire
É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a
única questão. Para não sentirem o fardo horrível
do Tempo que verga e inclina para a terra, é
preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a
escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso, na solidão
morna do quarto, a embriaguez diminuir ou
desaparecer quando você acordar, pergunte ao
vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a
tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a
tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que
horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o
pássaro, o relógio responderão: "É hora de
embriagar-se! Para não serem os escravos
martirizados do Tempo, embriaguem-se;
embriaguem-se sem descanso". Com vinho,
poesia ou virtude, a escolher.
única questão. Para não sentirem o fardo horrível
do Tempo que verga e inclina para a terra, é
preciso que se embriaguem sem descanso.
Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a
escolher. Mas embriaguem-se.
E se, porventura, nos degraus de um palácio,
sobre a relva verde de um fosso, na solidão
morna do quarto, a embriaguez diminuir ou
desaparecer quando você acordar, pergunte ao
vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a
tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a
tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que
horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o
pássaro, o relógio responderão: "É hora de
embriagar-se! Para não serem os escravos
martirizados do Tempo, embriaguem-se;
embriaguem-se sem descanso". Com vinho,
poesia ou virtude, a escolher.
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