quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Merval Pereira: No centro do ringue

O Globo

O ex-juiz Sergio Moro não consegue chegar a dois dígitos nas pesquisas eleitorais para presidente da República, mas provoca reações raivosas em seus adversários. É “canalha”, segundo Lula; “ladrão e desonesto”, para Ciro Gomes, e “traidor”, para Bolsonaro. Mobiliza altas rodas do Judiciário, e centenas de advogados criminalistas reunidos na guilda autointitulada “Prerrogativas”, que querem vê-lo destruído moralmente e, se possível, atrás das mesmas grades em que colocou o ex-presidente Lula.

Malu Gaspar: Quem protege Jair Bolsonaro?

O Globo

As conclusões dos últimos inquéritos da Polícia Federal sobre os atos de Jair Bolsonaro deixaram a impressão de que ele conta com salvo-conduto para cometer a barbaridade que quiser sem ser incomodado.

A primeira investigação buscava saber se o presidente da República prevaricou — ou seja, deixou de cumprir seu dever como servidor público — ao não tomar providência sobre as denúncias dos irmãos Miranda, que o procuraram para relatar irregularidades na compra de vacinas pelo Ministério da Saúde.

A segunda apuração investigou Bolsonaro por usar sua live para vazar um inquérito sigiloso da própria PF sobre uma invasão de hackers ao sistema do TSE, em 2018. Além de violar o sigilo do inquérito e divulgar a íntegra em suas redes sociais, o presidente ainda sugeriu que o papelório comprovava fraudes nas urnas eletrônicas, o que nunca aconteceu.

Nos dois casos, os delegados concluíram que Bolsonaro fez mesmo tudo aquilo de que era acusado. Mas não propuseram nenhum tipo de punição.

Luiz Carlos Azedo: Acidente no metrô paulista não feriu ninguém, exceto a candidatura de Doria

Correio Braziliense

O PSDB anunciou entendimentos com o MDB para formar uma federação que envolveria ainda o Cidadania, na linha de articulação de um bloco político capaz de pôr de pé a chamada terceira via

A estrada que liga São Paulo ao Palácio do Planalto é tortuosa e cheia de obstáculos. Para o governador tucano João Doria, os problemas começaram na Marginal Tietê, onde um acidente supostamente provocado pelo “tatuzão” das obras do metrô abriu uma enorme cratera, ao romper uma galeria de esgoto ao lado do poço de ventilação construído entre as futuras estações de Santa Marina e Freguesia do Ó.

Não houve feridos, mas as obras foram interrompidas, o esgoto invadiu o túnel do metrô, o equipamento de escavação foi seriamente danificado e a marginal acabou bloqueada, no sentido Ayrton Sena. Segundo o secretário dos Transportes Metropolitanos, Paulo José Galli, a galeria de esgoto que passava 3 metros acima do “tatuzão” se rompeu e a pista desmoronou, por volta das 9h de ontem. O presidente Jair Bolsonaro, que na véspera havia visitado Franco da Rocha, ironizou a situação: “Semana que vem a gente conclui a transposição do São Francisco. Em São Paulo, eu vi a transposição do Tietê”, afirmou à saída do Palácio do Alvorada, ontem.

O acidente é tudo o que Doria não precisava num momento delicado de sua pré-candidatura. O governador tucano está sendo pressionado pelos correligionários a deixar o Palácio Bandeirantes mais cedo e andar pelo país, mas não haveria momento pior do que esse para se desincompatibilizar do cargo.

Hamilton Garcia*: O plebiscito de Ciro

Folha da Manhã (Campos (RJ)

O movimento estratégico de Lula na direção do centro político, tanto para consolidar seu favoritismo e tentar catapultá-lo à Presidência já no primeiro turno, como para construir uma alternativa parlamentar ao Centrão, em caso de vitória, parece ter mexido com o tabuleiro eleitoral.

Nesta quarta (26/01), o candidato do PDT, Ciro Gomes, ensaiou uma escapada pela esquerda diante do congestionamento do centro político provocado por Lula, que também embaraça a ascensão de Moro e pode inviabilizar as pretensões de Dória. Percebendo a impossibilidade de furar a fila nesta disputa, onde Moro tem maiores credenciais, Ciro radicalizou o discurso acenando para um pacote de reformas a ser apresentado nos seis primeiros meses de seu virtual governo e referendado diretamente pelo eleitorado por meio de um plebiscito.

Maria Hermínia Tavares*: Populismo em baixa no mundo

Folha de S. Paulo

A doença insidiosa pôs freios à onda mundial desse gênero de autoritarismo

Quando a pandemia de Covid-19 começou, estudiosos da política e da sociedade temeram que seus efeitos pudessem ir além da destruição de vidas. Imaginaram que o vírus viesse a fortalecer o populismo —de direita ou de esquerda—, dotando os seus líderes de pretextos para concentrar poder e atropelar as liberdades e as instituições da democracia, em nome, bem entendido, da defesa da saúde coletiva.

O receio —embora plausível— não se confirmou. É o que mostra o abrangente estudo do Centro para o Futuro da Democracia, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, divulgado na semana passada, sob o título "The great reset - public opinion, populism and pandemic" (A grande reconexão: opinião pública, populismo e pandemia).

Vinicius Torres Freire: Sinais da elite para Lula

Folha de S. Paulo

Centrão e até donos do dinheiro dão sinais de que podem aderir ao petista

Partidos do centrão, quase o Congresso inteiro, e gente "do mercado" dão sinais de que Lula da Silva (PT) pode ser também para eles a alternativa incontornável, se por mais não fosse porque a opção, até agora, é Jair Bolsonaro (PL).

Ainda é muito cedo, em especial para políticos e "o mercado", que precisam de perspectivas menos incertas antes de fazerem seus arranjos. Faltam oito meses para o primeiro turno, mas algumas características da política e da economia destroçadas do Brasil talvez induzam certa precipitação ou conformismo.

Bruno Boghossian: Uma campanha paralela

Folha de S. Paulo

Articulações envolvendo Lula e Bolsonaro incluem cálculos para presidências da Câmara e do Senado

As articulações da corrida presidencial deram início a uma campanha paralela para definir o comando do Congresso a partir de 2023. A negociação de alianças envolvendo Lula e Jair Bolsonaro passou a incluir cálculos dos partidos interessados em ocupar as presidências da Câmara e do Senado num futuro governo.

Nas últimas semanas, os petistas voltaram a investir no apoio do PSD a Lula já no primeiro turno. Aliados do ex-presidente indicam que, em troca, podem oferecer à sigla um patrocínio à reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na chefia do Senado.

O acordo interessa a Pacheco, que foi lançado ao Planalto, mas aparece com apenas 1% nas pesquisas. O PT ganharia mais: ampliaria a sua aliança eleitoral e agregaria um partido à base de Lula em caso de vitória.

Ruy Castro: Bolsoriarty ou Mabusonaro

Folha de S. Paulo

Até que ponto os cúmplices que Bolsonaro implantou no sistema impedirão que ele pague por seus crimes?

Jair Bolsonaro acaba de nomear mais um aliado para um cargo-chave na administração. Desta vez, trata-se de um indivíduo com autoridade para bloquear, ignorar ou mesmo apagar as investigações contra um de seus filhos pela extorsão de funcionários chamada "rachadinha". Qual é a novidade? Todo dia, Bolsonaro infiltra em cargos-chave elementos de sua confiança. É sua prerrogativa, mas nunca um presidente amarrou tão bem o sistema visando a proteger-se, assegurar impunidade ou eternizar-se no cargo.

William Waack: Rivais têm dúvidas se Bolsonaro vai concorrer

O Estado de S. Paulo

Adversários de Bolsonaro se perguntam se ele vai tentar a reeleição

Jair Bolsonaro é no momento o fator imponderável das próximas eleições. O comportamento de Lula, seu principal adversário, é o que se esperava e previa. Idem para os demais concorrentes, nenhum deles até aqui uma formidável surpresa – mesmo considerando o “efeito Moro”, em parte já dissipado.

O imponderável associado ao presidente tem menos a ver com a possibilidade de uma “ruptura” institucional, como a pantomima ensaiada no último 7 de setembro. E muito mais com seu notório desequilíbrio pessoal, pautado em grande medida pelo medo de ele ou de seus filhos acabarem presos em caso de derrota eleitoral. Temer foi preso quando deixou a Presidência, e Bolsonaro acha que corre o mesmo risco.

Maria Cristina Fernandes: A fila do confessionário

Valor Econômico

Lula diz que não é candidato do PT mas de um “movimento”. Adesismo só não é maior que a resistência à conta a pagar

Foi com ares de Arenão que o União Brasil foi anunciado. Alçaria à condição de maior partido da Câmara pela junção do PSL, legenda que elegeu o capitão, com o DEM, herdeiro do partido de sustentação da ditadura dos generais. Quatro meses depois, a UB, que ainda não foi formalizada, passou de legenda disputada pela terceira via, para agrupamento dos que têm dinheiro e TV mas é incapaz de canalizar um ou outro para a conquista do poder.

Também foi com pompa de partido oficial que o PL de Valdemar Costa Neto filiou o presidente da República. Com os planos de arregimentar os candidatos do bolsonarismo raiz à Câmara, passou a acalentar o sonho de fazer uma bancada robusta o suficiente para suceder ao deputado Arthur Lira (PP-AL) em 2025 - sim, porque não colocavam em dúvida a recondução do presidente da Câmara na próxima legislatura.

Cristiano Romero*: Vão chamar o Meirelles novamente?

Valor Econômico

Bem-sucedido, ex-presidente do Banco Central sempre foi subestimado

Quando o jornalista Chico Mendez criou o bordão “Chama o Meirelles”, o maior achado de marketing político da eleição presidencial de 2018, o ex-presidente do Banco Central (BC) e ex-ministro da Fazenda já havia sido “chamado” pelo menos três vezes por governantes para socorrê-los. Goiano de Luziânia, cidade a menos de 50 Km de Brasília, engenheiro formado pela Poli, a prestigiosa Escola Politécnica da USP, Henrique Meirelles é, ao mesmo tempo, o homem público mais subestimado da história do país e um dos mais bem-sucedidos.

Em novembro de 2002, quando ainda beliscava o braço para ter certeza de que vencera mesmo a eleição para Presidente depois de chegar em segundo lugar nos três pleitos anteriores, Luiz Inácio Lula da Silva foi logo pressionado pelo coordenador do programa de governo de sua campanha e futuro ministro da Fazenda, Antonio Palocci, a iniciar as consultas para a escolha do presidente do Banco Central.

Alvaro Gribel: A ‘torre’ de volta aos dois dígitos

O Globo

O Banco Central subiu a Selic para 10,75% e já se comprometeu com mais um aumento na reunião de março

A “torre” dos juros que o ministro Paulo Guedes tanto propagou ter derrubado está de volta aos dois dígitos. O Banco Central subiu a Selic para 10,75% e já se comprometeu com mais um aumento na reunião de março, ainda que em ritmo menor, a grande novidade na decisão. Agora, haverá uma guerra de interpretações no mercado, na tentativa de prever a taxa final deste ciclo. Ela deve ficar em torno de 12% — um pouco mais, um pouco menos — mas o importante é entender que os juros nesse patamar terão um forte impacto sobre a economia e esse é um dos principais motivos para que as projeções de crescimento deste ano estejam tão baixas.

A verdade é que o Banco Central está sozinho no combate à inflação, já que neste ano eleitoral o governo relaxou as regras fiscais para gastar mais. Por duas vezes no curto comunicado de ontem o BC falou desse assunto. Primeiro, disse que é um risco para a inflação “se houver impulso adicional” da demanda agregada. Depois, que a “incerteza em relação ao arcabouço fiscal” está afetando as projeções para os índices de preços. No modelo do Banco, o IPCA fechará este ano em 5,4%, acima do teto da meta, e em 3,2% no ano que vem. Mas no mercado a estimativa de 2023 está em alta, e por isso o BC avisou que irá “perseverar” até que consiga controlar as expectativas.

Mario Mesquita*: Condições para a convergência

Valor Econômico

O aumento de gastos públicos tipicamente implementado no Brasil tende a apreciar a taxa de câmbio real

Em coluna anterior, registrei o pífio desempenho da economia brasileira nos últimos 50 anos, que confirma um padrão histórico pouco encorajador, que vem sendo observado desde a independência, com um interregno dinâmico em parte do século passado.

O objetivo aqui é ampliar o foco, e considerar os casos de sucesso, isto é, as economias que conseguiram, nas últimas décadas, sair da renda média e alcançar patamar de ingresso mais próximo (em alguns casos superior) ao observado nos EUA.

É claro que classificar uma economia como “desenvolvida” ou “avançada” é algo que abrange várias dimensões, mas para os propósitos desta coluna, vou estabelecer, de forma arbitrária, que convergência significa atingir um nível de renda per capita de pelo menos 60% daquele observado na economia americana.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Supremo dá valioso recado ao país em ano eleitoral

O Globo

A solenidade que abre os trabalhos do Judiciário no começo de cada ano é sempre motivo de atenção para a sociedade. A sessão solene do Supremo Tribunal Federal (STF) realizada por videoconferência na terça-feira teve um atrativo a mais por se tratar de 2022, um ano de eleições gerais. Ao presidente do STF, ministro Luiz Fux, coube a tarefa de proferir o discurso de abertura. De forma firme e serena, ele mandou recados claros e sensatos. Em tempos normais, muitos comentários poderiam ser classificados como obviedades. Não em 2022.

Fux reconheceu que debates inflamados são parte do jogo democrático, consequência de um ambiente onde circulam diferentes visões sobre os problemas do país e como solucioná-los. Isso tudo é válido. Campanhas que incentivam a polarização extremada não são. “A democracia não comporta disputas baseadas no ‘nós contra eles’”, disse o presidente do STF, que pediu tolerância e moderação nos embates entre os candidatos e seus apoiadores, mas não apenas nesses casos.

Após três anos de governo Bolsonaro, Fux foi categórico: “Não há mais espaços para ações contra o regime democrático e para violência contra as instituições públicas”, declarou. O magistrado não chegou a citar o nome de Jair Bolsonaro, provavelmente porque são de conhecimento público todas as investidas do presidente contra órgãos de controle do Estado.

Poesia | Joaquim Cardozo: Chuva de caju

Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?
Como te chamas, dize, chuva simples e leve?
Teresa? Maria?
Entra, invade a casa, molha o chão,
Molha a mesa e os livros.
Sei de onde vens, sei por onde andaste.
Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos
Onde as mangueiras florescem, onde há cajus e mangabas,
Onde os coqueiros se aprumam nos baldes dos viveiros
e em noites de lua cheia passam rondando os maruins:
Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.
Invade a casa, molha o chão,
Muito me agrada a tua companhia,
Porque eu te quero muito bem, doce chuva,
Quer te chames Teresa ou Maria.

Música | Paulinho da Viola: Eu canto samba / Quando bate uma saudade