segunda-feira, 16 de setembro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso: “decifra-me ou te devoro!”

Como no passado dos oráculos, a história nos pregou uma peça: “decifra-me ou te devoro!” é o enigma que as ruas, sem o proclamar, deixam entredito sobre a democracia atual. Cabe a todos nós, políticos, artistas, escritores, cientistas ou, simplesmente, cidadãos que prezam a liberdade, passarmos da escuta à ação, para tecer os fios institucionais pelos quais possam fluir os anseios de liberdade, participação e maior igualdade dos que clamam nas ruas."

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. In “Cidadãos não são representados na política”. Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, 10/9/2013

Último voto do STF pode livrar réus do mensalão

A retomada do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal, na quarta-feira, poderá iniciar uma nova etapa do processo que já dura 8 anos. Se o ministro Celso de Mello votar pela admissão do embargo infringente, previsto no regimento interno do tribunal, desempatando o placar de 5 a 5 da última sessão, abrirá a possibilidade da reanálise de crimes de 12 dos 25 condenados. Entre os beneficiados por um novo julgamento estão o petista José Dirceu e o empresário Marcos Valério.

Mensalão no STF vira "jogo de xadrez"

Felipe Recondo, Ricardo Brito

BRASÍLIA - A retomada do julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal na próxima quarta-feira, abrirá uma nova etapa do processo que há 8 anos tramita na Corte se o ministro Celso de Mello votar favoravelmente - como sinalizou - à possibilidade da reanálise de crimes de 12 dos 25 condenados. Aceitos os embargos infringentes, o caso deve se transformar numa espécie de "jogo de xadrez".

Pelas manifestações recentes - dos ministros, as condenações por quadrilha podem ser revertidas, penas impostas a determinados réus podem ser reduzidas e a decisão sobre a cassação imediata dos mandatos dos deputados envolvidos, alterada.

Ministros contrários ao novo julgamento não necessariamente votarão pela manutenção de todas as condenações e penas. A ministra Cármen Lúcia, por exemplo, foi contrária à admissibilidade dos chamados embargos infringentes, mas julgou, no ano passado, não haver provas para condenar os réus por formação de quadrilha e considerou que o STF não tem poder para cassar mandatos de deputados condenados.

Por essa posição, ela se perfilará aos ministros que agora votaram a favor dos embargos -Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli, Rosa Weber, Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso. Os dois últimos, apesar de não terem participado do julgamento no ano passado, já encamparam as mesmas teses sobre quadrilha e perda de mandato.

Na soma dos votos, o tribunal poderá reverter a condenação de oito réus acusados de formação de quadrilha, dentre eles o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Da mesma forma, a decisão do tribunal no julgamento do mensalão de ordenar ao Congresso a cassação imediata dos parlamentares condenados seja revertida. Cármen Lúcia também se alinha, nesse tema, aos ministros que votaram a favor dos embargos infringentes e que entendem que compete à Câmara cassar os mandatos.

Além de Cármen Lúcia, o ministro Marco Aurélio votou contra a possibilidade de nova chance para os réus do mensalão, mas admitiu reduzir as penas nas últimas semanas, quando o tribunal julgou os primeiros re; cursos. Marco Aurélio poderia, na nova fase do processo, votar novamente pela redução das penas. Dependendo da mudança, prescrever. A queda de punições levaria réus como Dirceu e Delúbio a um regime de cumprimento de pena mais favorável: de inicialmente fechado, em que têm de passar o dia inteiro na cadeia, para o semiaberto, no qual são obrigados apenas a dormir na penitenciária.

Barroso já criticou o cálculo das penas para parte dos réus, mas irão quis, nos primeiros recursos, alterá-las. Na nova fase do julgamento, pode abandonar a contenção e propor também a diminuição das penas. A mesma postura deve ter o ministro Teori Zavascki.

Em 2012, Celso de Mello foi dos mais enfáticos ao defender a condenação dos réus. Mesmo aceitando os embargos, como indicou, poderá manter o peso das condenações.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Amigos de Celso de Mello preveem aposentadoria

Conterrâneos do ministro dizem ter ouvido dele que seu plano é voltar a viver em Tatuí, sua cidade natal, ainda neste ano

Ermo Pires

Dois amigos do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, dizem ter ouvido dele diversas manifestações de que planeja se aposentar até o fim do ano e voltar para sua cidade natal, Tatuí, no interior de São Paulo.

O advogado criminalista José Rubens do Amaral Lincoln, que começou amizade com o decano do Supremo antes de ambos serem alfabetizados, diz ter "absoluta certeza" de que o ministro se aposentará ainda em 2013. E acredita que ele o fará independentemente da prorrogação do julgamento do mensalão. O Estado não conseguiu contato com o ministro para checar a informação.

Na quarta-feira, Celso de Mello dará o voto definitivo sobre a aceitação ou não dos embargos infringentes, recursos que podem permitir nova chance de defesa para 12 dos 25 condenados no processo do mensalão.

A confiança de Lincoln é tamanha que ele já prepara um escritório para o ministro em Tatuí. Já retirou parte dos livros da sala onde trabalha, em um casarão na Rua Quinze de Novembro, e reforma uma sala nos fundos para ficar. Na placa da frente, diz que já vislumbra o nome "Celso de Mello", "Estou reservando ao ministro a sala que ocupo há 40 anos. Espero que ele se satisfaça, humilde como é, se ele nos der a honra de vir trabalhar aqui."

Outro amigo do ministro, o cirurgião-dentista José Erasmo Peixoto, reforça que o desejo transmitido pelo ministro aos amigos é o de voltar. São 43 anos no serviço público desde a posse como promotor de Justiça de São Paulo, 24 anos no Supremo Tribunal Federal "Ele daria um ótimo parecerista", diz.

Lincoln e Peixoto, que costumam se reunir com Celso de Mello nas férias e em visitas esporádicas, divergem sobre o voto que ele dará 11a sessão de quarta-feira.

O dentista acredita que Celso de Mello reafirmará a defesa que já fez da admissão dos embargos infringentes no Supremo Tribunal Federal no início do processo do mensalão, em agosto de 2012. Já Peixoto entende que o ministro modificará seu posicionamento e recusará esse tipo de recurso.

"Celso me enviou um e-mail no qual mostrava a capa do jornal Correio Braziliense com a manchete "Um país à espera de Justiça". Pelo que recebi dele, eu interpreto que vá votar contra a aceitação dos embargos", disse Peixoto. "Acredito que esse clamor popular nunca antes visto na história do Judiciário brasileiro vai pesar muito na sua decisão, pois 99% (dos brasileiros) querem por um fim ao processo e acabar a. impunidade", comentou.

Além do escritório oferecido por Lincoln, o ministro Celso de Mello já tem um apartamento na cidade, próximo ao colégio Barão de Sumi, onde estudou na infância. Fica no mesmo prédio do amigo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Governo e oposição querem fim do mensalão ainda em 2013

Celso de Mello diz que aprofundou sua convicção sobre embargos

Guilherme Amado, Jailton de Carvalho e Luiza Damé

BRASÍLIA - A dois dias do fim da análise sobre a validade dos embargos infringentes, que pode colocar um ponto final ou prolongar por tempo indeterminado as dezenas de sessões do julgamento do mensalão, oposição e governo já começam a fazer o cálculo político sobre as conseqüências que a decisão do Supremo Tribunal Federal pode trazer. Enquanto petistas apostam na aceitação dos embargos, integrantes da oposição acreditam que o ministro Celso de Mello — o encarregado de desempatar o placar de 5 a 5 — votará contra os recursos. Os dois lados defendem porém que, seja qual for a decisão, o STF deve concluir todo o processo ainda em 2013.

Caso o recurso não seja aceito, a prisão dos mensaleiros não deve demorar. Mas, se houver nova análise dos casos, não existe previsão de quando o julgamento terminará. Essa etapa seria mais rápida, por serem menos réus e menos crimes sendo analisados, mas não existe data para que ela termine.

Este fim de semana, Celso de Mello disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" que o adiamento da sessão, "longe de significar qualquer possibilidade de pressão externa, aprofundou ainda mais minha convicção". O ministro afirmou que, apesar do que se fala no noticiário, não sente "nenhum tipo de pressão". E completou: "Após 45 anos, seja como promotor ou juiz, é uma experiência que você tem e supera tranquilamente".

O senador Jorge Viana (PT-AC), que aposta no reconhecimento dos embargos por Celso de Mello, cobrou celeridade na conclusão do julgamento. Setores do PT e o Planalto não querem ver a sombra do processo sobre as eleições de 2014.

— É uma possibilidade (o acolhimento dos embargos) de o Supremo ser mais zeloso na busca de justiça. Isso não significa que o julgamento não vá manter o rigor. Mas a condenação, exemplar para a classe política, está decidida. Minha expectativa é que conclua rápido e comece o julgamento do mensalão do PSDB — avaliou.

Candidato à presidência do PT e ex-líder do partido na Câmara dos Deputados, Paulo Teixeira (PT-SP) defende a aceitação dos embargos, mas quer a conclusão do caso ainda em 2013:

— O processo começou com 40 envolvidos e terminou com 25 condenados. Um último olhar para ver se foi aplicada a justiça de forma correta é importante, mas acredito que o processo deve terminar este ano.

Embora Celso de Mello já tenha se manifestado a favor dos embargos infringentes, integrantes da oposição esperam que a decisão seja pela recusa.

— Todos já percebemos que este deixou de ser um julgamento comum. É um julgamento que envolve a sociedade brasileira. A posição do ministro Celso tem um peso nacional. O Brasil não quer mais o prolongamento deste caso — defendeu o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).

Líder do DEM no Senado, José Agripino (RN) espera que os embargos não sejam acolhidos, mas crê que Celso de Mello votará a favor do reconhecimento. Ainda assim, Maia defende que pouco mudará em relação à condenação dos réus:

— O que está em jogo é a credibilidade das instituições. Se os embargos forem aceitos, a maioria votará pela manutenção das sanções.

No PT, a esperança é que os embargos resultem na mudança da sentença, com ministros revendo alguns votos.

— O caso começou com 40 e teve 25 condenados. Os votos podem ser aperfeiçoados. Com os embargos, tudo é possível — avaliou Teixeira.

Fonte: O Globo

Benefício a réus não é automático, diz Mello

Ministro do Supremo afirma que aceitação de recurso não significa absolvição ou redução de pena para condenados

Para responsável pelo voto de desempate, pressão popular é 'absolutamente irrelevante' no STF

Severino Motta

BRASÍLIA - Responsável pelo voto de desempate que definirá se 12 dos 25 condenados no mensalão terão direito à reanálise de parte de sua condenação, o ministro do Supremo Tribunal Federal Celso de Mello afirmou ontem que, ainda que a corte permita nova chance para os réus, isso não implicará necessariamente alteração das suas penas.

"Todo recurso demanda a formulação de dois juízos. Um preliminar, se é cabível ou não. Se for cabível, aí depois você vai julgar o mérito e dizer se o recurso tem ou não razão. Entender cabível não significa que se vá acolher o mérito", disse o ministro à Folha.

"Da maneira que está sendo veiculado dá a impressão que o acolhimento vai representar absolvição ou redução de pena automaticamente, e não é absolutamente nada disso", afirmou.

Mello disse ainda que não se sente pressionado pela opinião pública e destacou que a decisão de um ministro é "solitária" e "eminentemente pessoal". "[Pressão popular] é absolutamente irrelevante. Ouvi claramente as razões de ambos os lados. Respeito todas as posições, mas a decisão é eminentemente pessoal."

A Folha conversou com o ministro na livraria de um shopping de Brasília. Ele tomava café com a filha. Durante a entrevista, foi abordado por duas mulheres que pediram que ele "não decepcione" na decisão desta semana.

Na quarta, Mello dirá se aceita ou não os recursos chamados embargos infringentes, que permitem reanalisar o julgamento de crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro nos casos de condenações por placar apertado.

A previsão está expressa no regimento do STF. Contudo, não há menção ao recurso na lei de 1990 que regulou os processos no Supremo e no Superior Tribunal de Justiça.

Até agora, cinco ministro entenderam que a lei deve prevalecer. Outros cinco querem fazer valer o regimento.
Sobre a responsabilidade do voto de desempate, Mello disse considerar qualquer decisão na corte importante.

"Vou expor minhas razões e praticar a decisão, algo que é exigido de nós todos os dias. A responsabilidade é própria do ofício jurisdicional mesmo quando se tem uma votação unânime."

Fonte: Folha de S. Paulo

Apuração liga mulher de ministro a verba irregular

TCE de Santa Catarina constatou despesa "ilegítima" em convênio firmado com recurso do Trabalho

O Tribunal de Contas de Santa Catarina pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar denúncias que ligam a mulher e o chefe de gabinete do ministro do Trabalho, Manoel Dias, a irregularidades em convênios firmados no Estado e abastecidos por dinheiro da própria pasta, informam os repórteres Fábio Fabrini e Andreza Matais. Santa Catarina é a base eleitoral de Dias. Relatórios do órgão apontam suposto dano ao erário e favorecimento de três entidades, uma delas ligada ao PDT, partido do ministro, em parcerias de R$ 2,1 milhões, firmadas nas gestões de Dalva Maria de Luca Dias, como secretária estadual de Assistência Social, e de Rodrigo Minotto, então coordenador do Sistema Nacional do Emprego (SINE) no Estado. A investigação foi solicitada no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu três funcionários do ministério acusados de desviar recursos. Dalva Dias nega irregularidades e diz que "não há no Brasil um gestor público que não tenha processo".

Investigação liga mulher de ministro do Trabalho a convênios irregulares

No mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu três funcionários do Ministério do Trabalho acusados de desviar recursos da pasta? o Tribunal de Contas de Santa Catarina decidiu pedir ao Tribunal de Contas da União investigação de denúncias que ligam a mulher e o chefe de gabinete do ministro do Trabalho e Emprego? Manoel Dias (PBT-SC), a irregularidades em convênios abastecidos por dinheiro do ministério em Santa Catarina. O Estado é a base eleitoral de Dias, Relatórios do órgão apontam suposto dano ao erário e favore-cimento de três entidades, uma delas ligada ao PDT, em parcerias de 11$ 2,1 milhões, firmadas nas gestões de Dalva Maria de Luca Dias, como secretária estadual de Assistência Social, Trabalho e Habitação do Estado, e Rodrigo Minotto, então coordenador do Sistema Nacional do Emprego (Sine) no Estado. Dalva Dias, atual presidente do PDT em Florianópolis (SC), foi secretária estadual de maio de 2007 a julho de 2010. Rodrigo Minotto, o chefe de gabinete do ministro, ocupou vários cargos públicos indicado por Manoela Dias, entre eles o de superintendente regional do Trabalho em Santa Catarina,

Na última segunda-feira, o TCE-SC determinou o envio das. auditorias e da documentação dos convênios ao TCU, que fiscaliza e pune irregularidades no uso de verbas federais, Dos R$ 2,1 milhões previstos, 83% vinham do Ministério do Trabalho, na época comandado por Carlos Lupi (PDT-RJ), padrinho político de Dias, que liderava o partido em Santa Catarina,

O TCU já havia "deliberado apenas sobre formalidades da contratação das três entidades por dispensa de licitação, 0 que considerou legal. Mas diante de novas constatações, como eventual dano aos cofres públicos, informou ao Estado que voltará a avaliar o caso e, se necessário, aprofundará as investigações.

Até o início das investigações pelo Tribunal de Contas de Santa Catarina, em 2008, ao menos R$ 1,5 milhão havia sido repassado às entidades. Cabia a elas dar cursos profissionalizantes variados a trabalhadores, de vigia a costureiro, por meio do Programa Estadual de Qualificação Profissional, mantido pela secretaria e executado pelo Sine. Segundo o TCE-SC, houve aprovação de despesas sem "caráter público", "ilegítimas e genéricas" Os auditores constataram que nem sequer houve menção aos tipos de aula que as contratadas dariam no edital de convocação das entidades.

"Quais critérios foram adotados para a escolha. Se não havia nos autos esses elementos mínimos, pergunta-se: como a secretaria distribuiu entre os institutos os cursos que pretendia contratar?", questiona um dos relatórios. As disciplinas e os materiais necessários foram apresentados pelos institutos contratados, e não pela secretaria, que demandava os serviços.

Destino de R$ 393 mil em pagamentos, o Instituto Wilson Picler é do ex-deputado federal pelo PDT Wilson Picler. A entidade chegou a gastar R$ 16 mil com a compra de 82 bicicletas para distribuir como brindes, Para os auditores, "despesa que não possui caráter público" A defesa da ex-secretária alegou, porém, que as bicicletas foram compradas pelo instituto sem consentimento da pasta.

As auditorias mostram que as despesas eram genericamente descritas. Na proposta de preços da Associação de Desenvolvimento Econômico, Social e Cultural de Santa Catarina (Adesc), gastos de R$ 196,8 mil, aprovados por Dalva, aparecem como "outros materiais necessários". A entidade recebeu R$ 836 mil. Na Ame a, contemplada com 362 mil, ao menos R$ 82,4mil foram apresentados como "Mt material", "diversos" ou "matérias-primas"

Ao todo, a secretaria autorizou ou fez gastos de quase R$ 400 mil indevidamente, segundo o TCE-SC. O órgão, porém, focou sua análise só nos recursos estaduais dos convênios.

As irregularidades foram apuradas em 2008 e confirmadas em mais dois relatórios, mesmo após esclarecimentos de Dalva e Minotto. "As alegações de defesa e documentos apresentados são insuficientes para elidir todas as irregularidades", concluíram os auditores.

O tribunal catarinense diz que só aguarda a assinatura de suas autoridades para remeter o processo ao TCU. Na decisão tomada na última segunda-feira, entendeu que a responsabilidade pela apuração de danos e aplicação de punições é do órgão federal, pois a maior parte dos recursos dos convênios é proveniente da pasta do Trabalho.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PF detecta lobby de ONG sobre Gilberto Carvalho

A organização criminosa que desviou M$ 18 milhões de um convênio com. o Ministério do Trabalho buscou apoio e incentivo do mínistro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para tentar obter aditamentos e novos repasses de verbas para o Centro de Atendimento ao Trabalhador (Ceat), ONG que teria se transformado no recinto da quadrilha.

Relatório .da Operação Pronto Emprego, da Polícia Federal, deflagrada dia 3 em São Paulo, revela que o ministro era tratado pela quadrilha como seu "interlocutor" na pasta do Trabalho, Interceptações telefônicas mostram que, em maio, o grupo estava preocupado com perda de espaço no ministério e com uma divisão na cúpula da pasta. "Gilberto Carvalho irá resolver isso" diz Jorgette Maria Oliveira, presidente da ONG, em ligação gravada.

Carvalho recebeu em seu gabinete muitas vezes padre Líeio de Araújo Vale, a queima PF atribui papel destacado na quadrilha, "articulador dos constam tes aditamentos irregulares junto ao Ministério do Trabalho", Outros dois personagens centrais da trama foram recebidos, por Carvalho - Jorgette eo advogado Alessandra Rodrigues Vieira, diretor jurídico da ONG.

O relatório da PF - 192 páginas com fotos, organogramas e planilhas da evolução patrimonial dos investigados - descreve os movimentos da organização e o assédio sobre o ministro, "É bastante comum a dupla. (Vieira e Padre Lício) ir a Brasília para tratar dá renovação junto a funcionários de alto escalão do " Ministério do Trabalho e da Secretaria-Geral da Presidência da República", diz o documento, à página 82.

A ONG foi criada pela Arquidiocese de São Paulo, em 2002.

Depois, desvinculou-se da Cúria e virou Organização da Sociedade Civil de Interesse Público para capacitação de trabalhadores. Em 2008, firmou convênio com o Ministério do Trabalho. O escoadouro do dinheiro público, diz a PF, se deu por meio de aditamentos. Nessa fase a organização pediu colaboração de Carvalho e corrompeu assessores do Trabalho Gleide Santos Costa, da Secretaria de Políticas Públicas do ministério, foi preso em flagrante com 30 mil que recebera de Jorgette.

Grampo de 20 de maio, pegou Jorgette e Gleide, Ela diz que irá a uma reunião no gabinete de Carvalho. Às 12h42, Jorgette conversa com Alessandro Vieira. Ele conta que se encontrou com o secretário executivo do Trabalho, Paulo Roberto dos Santos - que caiu na Operação. Esopo e que este pediu a Gleide que providenciasse a renovação do convênio. Vieira diz que seria melhor ganhar a simpatia do ministro Manoel Dias (Trabalho) por intermédio de Gilberto Carvalho.

Vieira diz que Paulo Roberto seria ao gatilho5 do ex-ministro Carlos Lu pi dentro do Ministério do Trabalho". A PF diz que padre Lício é a sacerdote e empresário, sócio do Centro Brasil do Trabalho, que não existe de fato, e recebeu R$ 1,26 milhão do Ceat, recursos desviados por meio de prestação de serviços fictícios". A pagina 62, o relatório mostra que Jorgette foi informada de fiscalização do TCU na ONG e ficou tensa , "A minha grande questão e: eles vão so na gente ou vão nos clientes também, nos terceirizados?"

É citado Rodolfo Torelly, diretor do Departamento de Emprego e Salário do Trabalho. Ele alerta Jorgette "sobre resistências dentro do ministério, entre o grupo de Paulo Roberto e o grupo do Manoel Dias". Ressalta a "importância de se aproximar de Manoel Dias"", Ela se diz confiante, "Gilberto Carvalho irá resolver isso."

No dia 4 de junho, às 15h25, Jorgette comenta com o padre que Manoel Dias "não está se aproximando" do Ceat porque seriam, ligados a Lupi. "Está na hora do Gilberto Carvalho falar com o Manoel Dias e informar que o Ceat é do governo", diz a presidente da ONG. Ela orienta o religioso a falar com Carvalho e pedir que os ajudem porque "existe uma divisão no ministério e, de alguma forma equivocada, os associaram ao Lupi". Jorgette recomenda ao padre que diga aCarvalho que "não são ligados a ninguém, a não ser ao próprio governo, ao ministro e ao ex-presidente Lula".

Dia 5, da antessala de Carvalho, Lício telefona para Jorgette e diz que, enquanto aguardava ser atendido, encontrou-se com Manoel Dias e o convidou para visitar a entidade. O padre afirma que "o interlocutor do Ceat é Gilberto Carvalho" Depois, comenta que pediu a Carvalho para "dar um toque no Manoel Dias, pois ele acha que o Ceat é ligado ao Lupi"

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sob pressão, PSB protela saída do governo

Aliados de Eduardo Campos não cogitam deixar ministérios agora; Lula entra em campo para acalmar Dilma e o PT

Partido comanda hoje as pastas da Integração Nacional e dos Portos; aproximação com o PSDB irrita o Planalto

Natuza Nery

BRASÍLIA - O governador Eduardo Campos (PSB-PE) determinou silêncio temporário ao partido diante das ameaças veladas de expulsão de seus afilhados políticos com cargos no governo federal. Por ora, o pré-candidato à Presidência não cogita retirar os aliados instalados na Esplanada dos Ministérios.

Em privado, o pessebista mostra incômodo com o movimento liderado por uma ala do PT que defende o desembarque imediato da sigla --que integra a base aliada de Dilma Rousseff-- do primeiro escalão do governo.

A pressão é encorajada pelo PMDB, de Michel Temer, que deseja ampliar o espaço na administração e se consolidar como parceiro preferencial petista no projeto reeleitoral de Dilma em 2014.

Hoje, o PSB, que integra a coalizão governista no Congresso, controla duas pastas: Integração Nacional, ocupada por Fernando Bezerra Coelho (PE), da cota de Eduardo Campos, e a Secretaria dos Portos, chefiada por Leônidas Cristino (CE), indicado pelos irmãos Cid e Ciro Gomes.

Eduardo Campos passou o fim de semana ao telefone avaliando o que fazer. Por ora, a orientação no PSB é deixar que a presidente tome a decisão da separação.

Setores do partido defendem a entrega dos cargos, mas outras alas querem transferir esse ônus ao Palácio do Planalto e fechar o quanto antes um pacto com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), outro possível candidato presidencial, de apoio mútuo em um eventual segundo turno contra a petista.

É justamente contra essa antecipação dos acordos eleitorais desfavoráveis ao projeto de reeleição que Lula tem operado. Na última sexta-feira, durante reunião com a presidente e demais integrantes do núcleo político, o assunto foi tratado.

Segundo a Folha apurou, não houve decisão de rompimento. Por esforço do ex-presidente, ficou acertado que é prudente esperar um pouco mais para agir.

No PT e no governo, sobra pressão para que Campos seja riscado da lista de aliados. A própria Dilma nunca esteve tão sensível a essa ideia.

Conforme revelou a coluna "Painel", ela ficou contrariada ao ver o governador aparecendo em foto posada com Aécio durante um jantar na residência do pernambucano no mês passado.

A presidente interpretou a imagem como o sinal de que PSB e PSDB farão dobradinha contra ela em 2014, em eventual segundo turno.

A correligionários, Eduardo Campos tem dito que ninguém pode proibi-lo de conversar com políticos, muito menos recebê-los, da mesma forma que Lula foi à casa de Paulo Maluf (PP-SP) em 2012.

O governador coloca na conta do Planalto o vazamento de versões segundo as quais ele estaria se rendendo "a setores de direita" para viabilizar sua candidatura nacional no ano que vem.

Fonte: Folha de S. Paulo

Eduardo deve ir falar com Dilma em Brasília

Articulações e ações do governador e presidenciável Eduardo Campos podem precipitar saída do PSB do governo. Reunião com presidente prevista para esta semana

Deflagrado o clima de guerra entre PT e PSB no cenário nacional, um capítulo importante da aliança entre os dois partidos deve ser definido esta semana. Presidente nacional do PSB e presidenciável, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, deve ser chamado a Brasília até sexta-feira (20) para tratar da situação de seu partido enquanto aliado do governo federal. Com a iminente decisão da presidente Dilma Rousseff (PT) de tirar dos socialistas a pasta da Integração Nacional, um ultimato poderá ser dado pela petista para que o governador deixe claro, ao menos para ela, que postura deve adotar em 2014.

Dois episódios levaram a presidente a tentar forçar a saída do PSB do governo. O primeiro foi o jantar entre Eduardo e o senador e presidenciável da oposição, Aécio Neves (PSDB), na residência do socialista, há duas semanas, de onde saiu um pacto de não agressão para a corrida sucessória. É de domínio público que PT e PSDB - que historicamente polarizam as eleições presidenciais no Brasil - sempre protagonizaram disputas agressivas, com trocas de acusações intensas.

Outro motivo que levou a presidente a optar pela estratégia de forçar a saída dos socialistas foram queixas externadas por lideranças petistas do Nordeste à ministra de Relações Institucionais do governo, Ideli Salvatti (PT). Os petistas alegam que o titular da pasta da Integração, Fernando Bezerra Coelho (PSB), estaria priorizando nos Estados convênios e projetos que beneficiam eventuais aliados do seu partido para eleição do próximo ano.

Dilma Rousseff já externava o desejo de romper a aliança com o PSB desde o ano passado. A presidente irritou-se também porque Eduardo defendeu o diplomata Eduardo Saboia no episódio da fuga cinematográfica do senador boliviano Roger Pinto Molina da embaixada brasileira em La Paz. Entretanto, o ex-presidente Lula tinha a expectativa de fazer o governador recuar (do projeto presidencial), por isso pedia à presidente mais paciência.

A estratégia inicial era a de que o presidente nacional do PT, Rui Falcão, em parceria com o senador Humberto Costa (PT), dariam declarações públicas a fim de constranger o PSB. Mas o conteúdo da reunião entre Lula e Dilma - que durou mais de cinco horas, na última sexta-feira - terminou vazando para a imprensa. Antes disso, Rui Falcão, em entrevista a Revista Piauí, chegou a dizer que não acreditava na candidatura de Eduardo. O mesmo fez ontem o senador Humberto Costa, que disse à coluna Painel, da Folha de S. Paulo, não acreditar no voo presidencial do governador. Rui e Humberto devem se reunir esta semana em Brasília para amarrar nova estratégia de pressão até que se dê o desfecho do caso.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

PSB quer tratar como especulação

Do lado socialista, o momento é de cautela. O governador Eduardo Campos determinou aos secretários, aliados e defensores da candidatura presidencial no PSB que tratem o episódio como simples especulação. O presidente socialista, apesar de saber por interlocutores que a presidente Dilma Rousseff (PT) vem irritada com a sua postura de críticas ao governo federal, foi pego de surpresa com a versão de que seu partido seria "demitido" do governo. A estratégia para este primeiro momento é deixar que o PT acumule o desgaste pela decisão.Os secretários estaduais petistas - Isaltino Nascimento (Transportes) e Fernando Duarte (Cultura) - estão avisados de que, até aqui, nada muda. Está prevista esta semana a ida do governador à capital federal para tratar de assuntos ligados à sucessão.

O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, que tem se mostrado fiel à presidente e defensor da sua reeleição e da continuidade da aliança PSB-PT, foi procurado desde sábado (14) pela reportagem para comentar o suposto beneficiamento de adversários do PT no Nordeste. Sua secretária informou que o ministro está em viagem de trabalho. A assessoria de imprensa do ministro também não retornou aos contatos do JC.

Na última sexta-feira (13), em longa reunião na Granja do Torto, em Brasília, Dilma e o ex-presidente Lula teriam tratado - segundo versão que vazou - da questão das alianças para 2014, principalmente a relação entre o governo e o PSB, que insiste em difundir a candidatura de Eduardo. De acordo com fontes, Dilma está disposta a tirar do PSB o Ministério da Integração e entregá-lo ao PMDB, que ganharia mais espaço no governo e força no Nordeste. A secretaria dos Portos, nas mãos dos irmãos Cid e Ciro Gomes, dependeria da ratificação do apoio que têm dado à presidente. B.S.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Partido de Marina depende de cartada jurídica

Isadora Peron

A 20 dias do prazo final para obter registro no Tribunal Superior Eleitoral, a Rede Sustentabilidade já admite que não conseguirá cumprir o requisito de 492 mil assinaturas validadas de eleitores. Para formalizar a criação do partido, o grupo ligado à ex-senadora. Marina Silva prepara uma última cartada jurídica.

Na quarta-feira, o partido apresentará um lote de 150 mil fichas de apoio certificadas. Com isso, terão conseguido levantar pouco mais de 450 mil. Para alcançar o mínimo necessário, a Rede entrara com um. recurso no TSE pedindo para. que sejam validadas cerca de 90 mil assinaturas que foram recusadas pelos cartórios eleitorais sem justificativa.

Nesta semana, a ministra relatora do caso, Laurita Vaz, encaminhará o processo para o Ministério Público Eleitoral O órgão, tem dez dias para analisar o pedido e deve recomendar que o registro seja deferido somente se todos os requisitos legais tiverem, sido cumpridos.

O discurso adotado pela Rede desde que deu entrada, com o pedido no TSE, em 26 de agosto, é de que a sigla foi aí d ma da lentidão e da.burocracia da Justiça. Eleitoral Alegam que os cartórios descumpriram o prazo de 15 dias para analisaras assinaturas e que os índices de fichas rejeitadas ultrapassaram os níveis aceitáveis em Estados estratégicos, como São Paulo.

Nos bastidores, porém, articuladores da Rede começam a admitir que, se a decisão de criar a legenda tivesse sido tomada antes, os obstáculos na reta final seriam menores.

Um dos integrantes.Executiva provisória da Rede, que concordou em da entrevista, desde que sua identidade fosse preservada, afirmou que o grupo não se decidiu antes pela criação do partido e a consequente coleta de assinaturas por causa da própria Marina Silva. Segundo o organizador da legenda, o "timing" foi considerado o mais democrático pela ex-senadora e ex-candidata à Presidência.

Passos. Quando saiu do PV, em 2011, Marina se dedicou à formação de um.grupo supra-partidário, que ficou conhecido como Nova Política. Até o início deste ano, no entanto, o movi mento ainda não havia decidido oficialmente se viraria ou não um partido político. O martelo foi batido somente em fevereiro, num encontro em Brasília. Foi nesse momento que começou a coleta das 492 mil assinaturas necessárias para pedir o registro da sigla no TSE.

Há também os que, sem perder a esperança, defendem, que tudo foi feito no tempo necessário para. amadurecer o projeto, pois muitas pessoas tinham dúvidas sobre a transformação do movimento em partido. "Teria sido um sonho de uma noite de verão termos começado a coleta de assinaturas antes, mas, diante da coerência necessária, nós não tivemos condições", defende o vereador Ricardo Young (PPS-SP), um dos idealizadores do movimento Nova Política.

Caso a Rede não consiga, o registro a tempo, Marina, que hoje se encontra em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, teria, de buscar outra legenda, para poder concorrer à Presidência, Ela, no entanto, tem dito que não trabalha com. plano B, C ou D.

Requisito

492 mil
É o número necessário de assinaturas validadas de eleitores para a Rede Sustentabilidade pedir o registro da sigla no Tribunal Superior Eleitoral.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Saliência na sabatina

Berenice Seara

O aspira a inquilino do Palácio Guanabara Antony Garotinho (PR) aproveitou uma sabatina promovida pelo PPS, na última quinta-feira, para paquerar o partido e seu presidente estadual, o deputado Comte Bittencourt.

Depois de falar sobre a secretaria de Educação e a necessidade de contar com um especialista em seu comando, Garotinho deu uma olhadinha saliente para Comte, arrancando muitos risos da platéia.

Os próximos encontros do PPS serão com Luiz Fernando Pezão (PMDB), Alfredo Sirkis (PV) e Miro Teixeira (PDT)

Fonte: Jornal Extra (Rio)

Concessões - Aécio Neves

Na última semana, com o fracasso do leilão do primeiro lote de rodovias a serem concedidas à iniciativa privada --o trecho da BR-262 não teve sequer um interessado--, a gestão petista recebeu um duro recado: o mercado gosta de regras claras e desconfia do governo.

Para quem estava prestes a celebrar o sucesso do primeiro dos muitos leilões previstos no setor de transportes, foi uma lição inesperada. A rendição do PT à realidade de uma governança pública mais responsável com os destinos do país requer ainda longo aprendizado.

Em entrevista publicada ontem no jornal "O Globo", o ministro Guido Mantega afirmou que os investimentos em infraestrutura vão alavancar o crescimento do país. A aposta no programa de concessões revela uma guinada e tanto no receituário do partido governista.

Ao longo de sua história, o PT fez do combate ferrenho às privatizações uma de suas bandeiras mais ostensivas. Nos pleitos, vendeu ao eleitorado, com hipocrisia, a certeza de que as privatizações seriam um crime de lesa-pátria, uma entrega do patrimônio nacional a preços aviltantes.

Assumido o poder, a ação do partido se descolou do discurso. Agora, para assegurar o sucesso dos leilões, o governo não poupa esforços na concessão de incentivos. Grande parte dos financiamentos das obras virá do BNDES, com empréstimos concedidos a taxas subsidiadas pelo Tesouro Nacional.

O grau de comprometimento do BNDES é tão elevado que o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore declarou ontem, nesta Folha, que "o leilão de Dilma visa mais o eleitor que a sociedade".

Mas o uso de tais anabolizantes não tem sido suficiente para sensibilizar o mercado como o governo gostaria. Armadilhas jurídicas e constantes mudanças de regras parecem também ameaçar as futuras concessões.

A verdade é que pagamos um alto preço pela ineficiência dos últimos anos. Com a infraestrutura deteriorada, o país vem perdendo competitividade no cenário internacional. Por questões ideológicas, o PT impôs um calendário de atraso ao país.

É preciso agora correr contra o tempo. O programa de concessões para desenvolver o setor de infraestrutura parece ser a única carta que o governo tem nas mãos para mudar o rumo da economia. Mais uma carta, aliás, que o PT tomou de empréstimo ao programa do PSDB.

Não tenho dúvida de que a abertura ao investimento privado é o caminho certo para a recuperação da nossa combalida infraestrutura. É nessa trilha que o governo deve perseverar. Mas é necessário que o programa seja mais transparente, equilibrado e, sobretudo, livre de ideologia e preconceitos. Assim ele pode dar certo, como todos esperamos, e o país precisa.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Mais um fracasso. Vai chegar ao fim melancolicamente – Alberto Goldman

Frequentemente os nossos dirigentes públicos na órbita federal se mostram completamente alienados da realidade em que todos nós vivemos no Brasil. Vivem em um mundo de fantasia e dizem tantas coisas desconexas que parece que querem convencer a si próprios – e pior, convencer a população - de uma realidade que só se encontra em seus devaneios.

Ainda preso ao discurso eleitoral, Lula e o governo petista, apenas no final do seu segundo mandato, decidiram que não poderiam levar adiante qualquer programa mais sério e consistente de investimentos na infraestrutura logística se não procurassem trazer recursos privados para atender às necessidades do país. Tergiversando chegaram a dizer que as concessões não eram privatizações, que estradas, aeroportos e portos não poderiam ser privatizados como se alguém pudesse imaginar privatizar bens públicos inalienáveis. Concessões são privatizações, sim. Tiveram que se vergar diante do inevitável.

Enfim, Lula começou o processo de privatização. Mas de forma envergonhada e, como tudo que faz, com o viés demagógico: mostrar que era possível obter tarifas dos serviços menores dos que estavam sendo praticados em privatizações feitas por governos estaduais, em especial, pelo governo de São Paulo. Para isso escolheu algumas grandes rodovias, de grande fluxo de veículos, já duplicadas em quase toda a extensão, sem investimentos expressivos para a sua melhoria e com poucas exigências no que respeita à operação. Como resultado obteve baixas tarifas de pedágio, porém sem qualquer melhora da qualidade das estradas.

Dilma manteve o mesmo discurso, mas depois de dois anos lança um plano ousado de privatização – o Programa de Investimentos em Logística. Nele procura determinar taxas de rentabilidade do dinheiro privado e agora exige altos investimentos em melhorias e duplicações de rodovias. Tenta viabilizar durante meses esse programa, com financiamentos do BNDES e Bancos privados, participação da União que realizaria parte das obras e dos fundos de pensão das estatais comandadas pelo PT que participariam das próprias sociedades constituídas para cumprir o contrato de concessão. Dinheiro privado já não seria tanto.

Eis que o país entra em crise. Os investimentos privados se retraem. A presidente intervém nas relações contratuais com os agentes privados. As tarifas de pedágio são congeladas ao arrepio dos contratos vigentes. Aumenta a insegurança jurídica. A credibilidade do governo federal vai ao fundo do poço.

Ainda assim Dilma e seu ministro da Fazenda mostram otimismo. Informam que esperam muitos concorrentes para duas rodovias colocadas prioritariamente em licitação, escolhidas a dedo como sendo o filé das concessões e que o deságio das empresas poderia atingir 40% de desconto em relação ao preço teto das tarifas de pedágio. Resultado: para uma delas 8 consórcios concorrentes se apresentam – nenhum estrangeiro - na outra, a Br 262 ligando Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal,“deu vazio”, isto é, ninguém comparece. Um fracasso. Para Guido Mantega, uma surpresa. Só ele não sabia.

Esse Programa – o conjunto de licitações - era fundamental para o governo Dilma recuperar a confiança abalada e poder acenar com a retomada do crescimento econômico. Nada dá certo. Não há nada que a salve. Até aí, que se dane. O problema é que o país e todos nós sofremos com a incompetência desse governo. Vai chegar ao fim melancolicamente.

Alberto Goldman é vice-presidente nacional do PSDB

Julgamento sem pedagogia - Renato Janine Ribeiro

Esta semana saberemos se terminou o processo do mensalão ou se ele comportará uma espécie de instância recursal. Ao contrário do que quase todos sustentam, creio que o melhor cenário para, pelo menos um dos acusados, é não ter apreciado seu recurso. Exporei por que e direi qual acusado.

O julgamento, embora longo, não mudou a opinião das pessoas. Teria sido um sucesso pedagógico se os favoráveis aos acusados ou em dúvida sobre sua culpa ficassem convencidos de que eles mereciam ser condenados. Alguém pode ser petista e continuar sendo, mas se persuadir, por provas e argumentos, de que líderes de seu partido agiram mal.

Só que isso não sucedeu. Fui atrás. Conversei, usei o Facebook, indaguei. Você mudou de opinião em função do julgamento? Entender a pergunta já era difícil. A maior parte reclamava dos crimes dos corruptos petistas ou do caráter tendencioso do julgamento. Quando eu refazia a pergunta, descendo à terra, à banal questão: mudou de ideia graças ao que ouviu?, verificava que não tinham mudado. Disso fica a constatação de que o julgamento falhou numa função básica da Justiça, e sobretudo da TV Justiça, que é convencer, especialmente os neutros ou os reticentes, de que justiça foi feita. Por quê?

Julgar os embargos dará mais peso à sentença final

Um intervalo sobre a divergência na democracia. Sabemos que na democracia deve prevalecer a vontade do povo e que a melhor forma de apurá-la é identificá-la à voz da maioria. Mas um elemento sutil da democracia, nem óbvio nem trivial, é: quem legitima a vitória do candidato vitorioso são os partidários dos derrotados. Não basta ganhar com a maior parte dos sufrágios. É preciso que o eleitor derrotado concorde, ainda que de má ou péssima vontade, que perdeu. Não há democracia que funcione sem esse acordo, que no fundo significa: primeiro, as regras do jogo foram respeitadas; segundo, essas regras são justas; terceiro, um dia eu posso ganhar.

Por isso o Brasil vai melhor que a Venezuela. Desde a vitória de Hugo Chávez em 1998, a cada pleito a oposição venezuelana denuncia fraude e nega legitimidade ao vencedor. Isso é um desastre institucional. Daí à desobediência civil, daí mesmo à rebelião, é um passo. Não importa quem tenha razão ou não: com isso o governo precisa das baionetas, para se manter, mais do que o desejável. Um apagão, em vez de falha técnica ou falta de investimento, vira crime, ato de traição - como estamos vendo.

No Brasil, não temos isso. Lula aceitou duas vitórias tucanas, o PSDB reconheceu três petistas. E isso depois de Collor se eleger, em 1989, deslegitimado pela oposição. O fato de recorrer a um golpe sujo no final da campanha, acusando Lula de tentativa de aborto, deu-lhe a vitória, mas lhe custou a reputação. Os escândalos que derrubaram Collor da Presidência, três anos depois, só completaram essa falha de legitimidade inicial.

Volto ao julgamento do mensalão, e retomo o ponto: na hora em que um julgamento tem forte impacto político - porque entre os réus estão o ex-primeiro-ministro (de fato) e o ex-presidente do partido do governo - é fundamental se ter a sensação de que foi feita justiça. Vencer no voto não basta. É necessário mostrar que o réu teve todas as oportunidades de se defender. Não se pode dizer que é do réu o ônus da prova, como afirmou um dos juízes. Nem ofender quem vota diferentemente do relator.

Recomendo um episódio da série "Law and Order", de nome "Jihad americana", em que é julgado um muçulmano fanático. Ele ofende a juíza e difama os judeus - mas a própria magistrada lhe garante o direito de falar, afirmando que a defesa deve ter liberdade de expressão maior que a acusação. Isso fará uma condenação final ser mais convincente, mais reconhecida. Ou, aqui, o julgamento dos Nardoni, acusados de matar a filha do réu. Foi horrível a defesa pedir que a mãe da menina assassinada fosse retirada do plenário e mantida incomunicável. Mas o juiz deferiu o pedido, para cortar pela raiz qualquer ulterior alegação de cerceamento da defesa. É isso o que convence os não convencidos.

Como os próprios defensores da punição presta e severa dizem que o julgamento é político, eu afirmo: político é dar a máxima chance de defesa aos réus, não só porque individualmente têm esse direito, mas porque apenas assim a sociedade se convence de sua culpa. Não sendo assim, a sociedade sai do julgamento como entrou: uns os acham inocentes vítimas, outros detestáveis culpados, e outros, ainda, discordam do que acham ter sido um teatro. Não ganha a Justiça.

E quem talvez mais ganhe seja José Dirceu. Ele, mesmo condenado, tem planos. A seu modo, repetirá o discurso de Fidel Castro em 1953, diante dos tribunais do ditador Batista, "A História me absolverá". Não importa que lá fosse uma ditadura e, aqui, uma democracia. É que, justamente porque o julgamento foi convertido em acusação ao PT como um todo, em projeto de criminalizar o partido inteiro do governo, ele falhou. Dirceu nunca será presidente da República, mas lhe deram de presente a politização do julgamento. Ou seja, a conversão do processo do mensalão em processo político. Neste campo, ele tem condições de refazer sua biografia. Certamente, isso é o que seus inimigos menos queriam. Mas eles lhe ofereceram isso ao fazer, de um julgamento que devia ter um foco preciso, uma guerra.

Contudo, se os embargos infringentes forem admitidos, se a defesa for apreciada, ficará mais difícil alegar-se que o processo foi político ou injusto. Dar aos réus o direito de contestar as sentenças, quer sejam as penas mantidas ou reduzidas, protegerá a sentença final da acusação de ter sido política e não jurídica.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

O caleidoscópio brasileiro: confuso e imprevisível - Marcus Pestana

Um vendaval varreu o Brasil a partir das ruas. O ambiente político se agitou. A população assiste com preocupação aos desdobramentos. Grupos radicalizados tomam a cena com atitudes cheias de vandalismo e violência, espantando a maioria silenciosa que foi às ruas. Paralelamente, nuvens negras se avolumam no horizonte da economia. As grandes transformações sociais são precedidas sempre por períodos de turbulência. Nesses momentos, anos valem décadas, meses valem anos, dias condensam meses.

O 7 de Setembro frustrou a expectativa de levar às ruas centenas de milhares de pessoas, reeditando as jornadas de junho. Os Black Blocs, os Anarcopunks e os violentos de todos os matizes inibiram o movimento da maioria desorganizada. As forças policiais cometem excessos diante de situação complexa: cumprir seu papel e manter a ordem ou se omitir? Não acredito em jovens que precisam esconder os rostos para se manifestar. Quem luta contra o voto secreto no Congresso não deve se mascarar para exercer a cidadania. Caetano, em mensagem pacifista, glamourizou em foto a estética Black Bloc. Acontece que os black blocs, mundialmente, defendem a violência contra “símbolos” do capitalismo como sua essência. Fico com Cacá Diegues: “Vamos tirar as máscaras” e assumir nossos papéis e compromissos recíprocos e coletivos. Fico com Cazuza: “Brasil, mostra a tua cara!”.

Enquanto as ruas borbulham, a economia brasileira se deteriora. Um quadro difícil se desenha. Inflação alta, baixo crescimento, valorização do dólar – boa para as exportações, ruim para a inflação –, perda de confiança dos investidores, quebra dos “campeões” eleitos pelo governo, intervenções desorganizadoras do mercado.

Até o setor cultural entrou na dança. Renúncia fiscal para financiar desfile de moda em Paris. O Cirque du Soleil e artistas consagrados precisam de recursos públicos? A Lei Rouanet não era para museus, centros culturais, patrimônio histórico, arte popular e novos artistas? Revisão já!

Dilma mais uma vez ocupa abusivamente a rede nacional de rádio e TV, misturando espaço público com interesses eleitorais e partidários, apresentando a ilha da fantasia longe do Brasil real. Pactos não feitos, vitórias que não saíram do papel, confrontos desnecessários, nenhuma liturgia do cargo. Contra a agressão à soberania nacional, perpetrada pelo governo norte-americano, estamos todos juntos.

O PT, mergulhado em problemas com o desfecho do julgamento do mensalão e com denúncias internas de compras de votos na eleição da nova direção nacional. O PSOL debutando no Rio em grave crise, acusado de caixa dois e uso irregular de recursos de sindicatos.

O PSDB tenta se distanciar dessa agenda negativa, lançando o site “Conversa com os brasileiros” e o Portal Social do Brasil. Cassa, em decisão liminar do Supremo, o deputado condenado e preso. E discute aperfeiçoamentos e correções no programa Mais Médicos.

Aonde vamos chegar? Qual o rumo, qual o caminho?

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB –MG)

Fonte: O Tempo (MG)

Teses em debate - Denise Rothenburg

Vetos, embargos infringentes, MPs, as novelas de criação do Solidariedade e da Rede... A semana promete. O Brasil vive um momento de alta ansiedade e é preciso avaliar os caminhos num momento em que o Judiciário e o Legislativo estarão com a maioria dos holofotes. No caso do Judiciário, há quem considere que é hora de repensar essa geração espontânea de partidos provocada pela garantia de acesso a tempo de tevê e fundo partidário. O mesmo vale para os tais embargos infringentes. Quanto ao Legislativo, a lição da semana passada é a de que o país precisa com urgência criar mecanismos mais eficazes em relação às MPs. E aqui vale incluir o Poder Executivo.

Os juristas estão boquiabertos com o que veem nos poderes. Quanto aos embargos, o assunto em discussão, sem dúvida será fartamente analisado depois do voto do ministro Celso de Mello na quarta-feira. Portanto, que se vença esse período de comoção em relação aos mensaleiros para, de cabeça fria, estudar a tese.

Enquanto o STF faz a sua parte, seria de bom-tom os demais poderes fazer a deles. A forma como os congressistas e o próprio governo abusam das medidas provisórias está constrangendo muitos parlamentares e servindo para colocar mais piche na combalida imagem do Legislativo. Se antes o problema era o fato de o relatório ser feito em plenário, às pressas, agora, com um pouco mais de tempo para avaliar os textos, os congressistas transformam essas MPs em verdadeiros monstrengos.

O caso mais emblemático foi o da MP 615, aprovada na semana passada pelo Senado. A medida chegou ao Congresso com 16 artigos, incluindo o "esta MP entra em vigor na data da sua publicação" e o "revogam-se todas as disposições em contrário". Saiu de lá com 47, sem contar esses dois artigos de praxe. De três assuntos, pulou para 21, incluindo oito solicitações do próprio governo e 10 dos parlamentares, sendo quatro do relator, o senador Gim Argello (PTB-DF).

Não vamos entrar no mérito dos pedidos, porque há algumas causas que podem ser justas. Mas a forma incomoda a muitos congressistas. Não é possível o país conviver mais com esses "trens" ou "jumbões" que abrigam tudo. A 615 tratou de subvenção aos canaviais do Nordeste a porte de armas, hereditariedade da concessão de táxis e atendimento a mulheres vítimas de violência.

A própria Casa Civil da Presidência da Republica foi quem pediu que se incluísse nessa MP a digitalização de documentos e o financiamento do Banco do Brasil para as instituições que vão abrigar o atendimento integral a mulheres vítimas de violência. A tese é válida, mas isso numa MP sobre subvenção de cana-de-açúcar e arranjos de pagamentos a cargo do Banco Central? Depois, nós, brasileiros, reclamamos quando os estrangeiros nos dizem que o Brasil é o país do jeitinho. Hoje, a impressão que se tem é a de que os poderes constituídos, encarregados de zelar pelo fim do jeitinho, entraram nessa foto. Para sair dela, é preciso atitude. E rápido. Esta semana há mais três MPs na pauta. Pode ser um começo.

Enquanto isso, na Câmara...
Os partidos se mobilizam para mandar um recado à presidente Dilma Rousseff e derrubar o veto à Lei Anticorrupção, aprovada pelo Congresso como uma resposta aos protestos de junho. Quando da votação no Parlamento, houve acordo para que as penalidades legais somente fossem aplicadas se houvesse comprovação de que a empresa teve a intenção de fraudar ou corromper. Dilma vetou esse dispositivo.

A intenção dos deputados, além de, obviamente, restabelecer o texto que eles acordaram com o setor empresarial e o próprio governo, é deixar claro ao Planalto que acordo, depois de fechado, é para ser mantido. Ou seja, os líderes do governo não podem fechar um acordo no Congresso e, depois, no Planalto, a presidente vetar o que foi defendido pela equipe dela no Parlamento.

Esse recado só será possível graças ao novo rito dos vetos. Até aqui, quando eles não entravam na pauta do Legislativo em 30 dias, rompiam-se acordos sem grandes consequências. O governo corria o risco de vetar um dispositivo acordado numa legislatura, porque sabia que o veto seria analisado muitos anos depois, quando o acordo estava esquecido. Agora, com a memória dos acordos fresquinha, o Poder Executivo terá que ser mais zeloso com o que aceita do Parlamento, sob pena de surpresas desagradáveis.

Por falar em surpresas...
Veremos o que a vida reserva a Paulinho da Força esta semana no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É bem provável que ele consiga sair com a criação do Solidariedade e levar, pelo menos, uns 20 parlamentares. Falta a Rede de Marina, cada vez mais frágil por conta dos prazos. Faltam 20 dias e, enquanto isso, Lula observa e diz à presidente Dilma que se segure firme, mantenha o diálogo direto com o eleitor nas ruas e nas solenidades palacianas, e não provoque ninguém, nem mesmo o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Mas essa, certamente, é outra história.

Fonte: Correio Braziliense / Estado de Minas

Nunca se acaba - Vinicius Mota

O STF está a um voto de reforçar nos brasileiros a impressão de que, para ricos e poderosos, há meios em cópia de protelar a consumação da Justiça. Não se trata só de validar um recurso para que 12 réus tenham direito a novo juízo em casos cuja condenação se deu por maioria apertada.

Trata-se de suspender, sabe-se lá até quando, a execução de todas as penas desses 12 réus, mesmo da parcela da punição da qual não cabe mais recurso.

Marcos Valério foi condenado a 40 anos na prisão. Livrando-se do crime de quadrilha, que será revisto caso o ministro Celso de Mello confirme a inclinação pelo recurso, a reclusão cairia para 37 anos.

Valério não tem como evitar o regime fechado, aplicado aos condenados a mais de 8 anos. Mas não será preso até que seja julgado novamente por quadrilha.

O advogado de Valério não torcerá pela sua absolvição no segundo julgamento. Almejará a condenação parcial, com ao menos quatro votos dissidentes. Assim, poderá pleitear novo embargo infringente, a fim de postergar uma vez mais a execução penal.

Para os defensores de José Dirceu, João Paulo Cunha e Delúbio Soares, a absolvição do crime de quadrilha interessa, pois o trio petista assim escaparia do regime fechado de prisão. Mas uma condenação apertada tampouco seria o final do jogo.

Eis o labirinto em que o Supremo está prestes a se meter. Julgamentos que nunca se acabam. Cumprimento de penas postergado à exaustão. Absolvições, na prática, arrancadas por minoria de votos.

O tribunal teria mostrado mais equilíbrio se tivesse definido penas menores na fase anterior, mas fosse inflexível agora, colocando um ponto final nessa história.

Frustraria a média da opinião pública na sua sede de cadeia. Mas honraria seu desejo por uma Justiça que responda em tempo hábil aos escândalos nacionais.

Fonte: Folha de S. Paulo

Pluralidade desconexa - José Roberto de Toledo

O debate sobre o Mais Médicos nas redes sociais é um Fla-Flu de vôlei. Os flamenguistas ficam de um lado da rede, e os tricolores do outro. Não se tocam. Não se misturam. Cada um na sua torcida e com coro próprio, Repetem-se uns aos outros, sem atravessar a fronteira para o território adversário. Não há exatamente troca ideias. E um monólogo coletivo.

São os laços que caracterizam tanto a comunidade flamenguista quanto a fluminense. São alianças formadas por interesses ou pontos de vista comuns. Não necessariamente seus componentes dividem a mesma origem social ou geográfica. Por isso essas redes são temáticas e flexíveis, não são estruturais.

Cada lado tem seus próprios "hubs", os nós mais importantes, de onde parte e para onde converge o fluxo de informação. Esses "hubs" seriam outros se o tema da pesquisa fosse, por exemplo, os protestos de rua em vez do Mais Médicos.

E o que mostra o mapa construído, a pedido do Estadão Dados, pelo Labic.net (Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo) com tudo o que foi publicado no Twitter com a expressão- "Mais Médicos" entre 13 de agosto e 3 de setembro, São dezenas de milhares de tuítes, escritos ou retransmitidos por milhares de usuários.

Para dar sentido a essa massa de dados, os pesquisadores construíram um mapa de relações, onde cada usuário se liga a outro toda vez que cita-o de alguma maneira: seja "retuitando" uma mensagem que o outro publicou, comentando-a ou interagindo no que poderia ser chamado de uma conversa entre ambos.
O mapa é dominado por duas manchas compactas de pontos muito interrelacionados. Elas ocupam lados opostos do mapa. Uma está pintada por pontos azuis, e a outra por pontos verme-" lhos. As manchas são homogêneas: seus pontos tendem a se relacionar quase que exclusivamente entre si, A comunicação com pontos fora de cada uma das redes existe, .mas é excepcional

Pintados aleatoriamente de azul, os usuários que formam a maior dessas comunidades são, em geral, a favor do Mais Médicos. O ponto com maior centralidade desse grupo é o Ministério da Saúde (@minsaude). Ele se conecta a 566 usuários, quase todos azuis, que ajudam a propagar mensagens a favor do programa. Há outros "hubs" azuis, muitos deles blogueiros pró-governo.

A mancha vermelha, contra o Mais Médicos, não tem um "hub" dominante, mas vários de menor alcance que, juntos, formam uma rede extensa. Os perfis são variados. Pode ser o do deputado oposicionista Ronaldo Caiado (@deputadocaiado), conectado a 194 usuários, ou o do Conselho Federal de Medicina (@medicina_cfm), com 148 conexões.

Em ambos os lados, usuários sem compromisso com um dos lados podem ter papel central Basta que uma mensagem sua tenha tido repercussão em. uma das comunidades.

O resultado mostrado pelo mapa é que não há propriamente um debate. A maior parte do fluxo de mensagens ocorre dentro da rede azul ou dentro da rede vermelha. Isso acaba por reforçar os pontos de vista de cada um. Há pluralidade, mas desconexa.

Os únicos que conseguem furar o bloqueio e passar a bola de um lado para o outro são os veículos da chamada velha mídia, principalmente jornais. O perfil do Estado (@estadao) teve a maior "autoridade": suas mensagens sobre Mais Médicos foram retransmitidas ou comentadas por 1.541 usuários, tanto do lado vermelho quanto do azul - e de outras cores. Mas não há engajamento, não há "conversa" com os usuários.

É o que o coordenador do Labic.net, Fabio Malini chama de "autoridade sem centralidade". A velha mídia é muito mencionada, mas não tem capacidade de mobilização. As reportagens servem de matéria prima para a discussão, são citadas de um lado ou outro, cada um interpretando seu significado de acordo com seu viés. Melhor assim.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Painel - Vera Magalhães

Segura aí
Durante encontro com Dilma Rousseff na sexta-feira, Lula pediu à presidente que adie a destituição dos cargos do PSB no governo até que ele tenha uma nova conversa com Eduardo Campos. Segundo auxiliares da petista, Lula avalia que, se o governador do Pernambuco se mantiver no patamar atual de intenção de voto, entre 5% e 6%, ele não será candidato. Assim, se o Planalto romper prematuramente com o PSB, pode jogar o partido no colo de Aécio Neves, rival do PT.

Combinado O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), diz que os cargos do partido estão "100% à disposição" de Dilma. "O senador Humberto Costa deveria tomar a mesma atitude em relação aos cargos que o PT ocupa em Pernambuco e na prefeitura do Recife."

Assim pode Aécio Neves incluiu emenda à minirreforma eleitoral, que deve ser votada amanhã, disciplinando o uso de rede nacional de rádio e TV por governos, para que só possa ser usada em casos de utilidade pública.

Como está Acordo selado entre a oposição e o relator da minirreforma, Valdir Raupp (PMDB-RO), deve retirar do texto o artigo que encurta as campanhas, contra o qual se insurgiram o senador tucano e Eduardo Campos.

Com... Governadores de 11 Estados, entre eles Cid Gomes (CE), Roseana Sarney (MA) e Sérgio Cabral (RJ), estão de olho na pauta de julgamentos do Tribunal Superior Eleitoral que ocorre amanhã.

...lupa É que os ministros devem decidir, no julgamento do deputado Assis Carvalho (PT-PI), acusado de compra de votos, se os recursos que pedem a cassação de mandatos dos 11 chefes de Executivos estaduais terão andamento ou serão arquivados de uma só vez.

Do contra 1 Às vésperas do julgamento do pedido de registro do Solidariedade, o TSE recebeu três solicitações de impugnação contra o novo partido articulado por Paulinho da Força (SP). Um deles foi protocolado pelo PDT.

Do contra 2 Marcílio Dias, advogado que acompanha a criação da legenda, diz que o protesto é "extemporâneo" e só serve para "tumultuar" o registro do partido.

Grifado O memorial em defesa dos embargos infringentes entregue por Castellar Guimarães, que defende Cristiano Paz no mensalão, chamou atenção de membros do Supremo Tribunal Federal.

Verão passado A defesa cita pronunciamento de Luiz Fux em julgamento de um habeas corpus. "No âmbito do Supremo, a matéria está disciplinada no regimento interno, admitindo-se os infringentes como via adequada para impugnar decisão condenatória, não unânime, proferida em ação penal''.

Cadê? Integrantes da corte estranharam a não entrega de memorial sobre o tema de Márcio Thomaz Bastos.

Magoei Dias Toffoli foi alvo de Reginaldo Rossi no fim de semana, após deixar casamento de Nicole, filha do prefeito Arthur Virgílio, no Rio de Janeiro. Rossi, que sempre brinca com autoridades no show, disse que, pela primeira vez, tinha sido "traído" por um ministro do STF.

Despedida Na última visita de José Genoino a Luiz Gushiken, na semana retrasada, o ex-ministro, que morreu na sexta-feira, apertou a mão do amigo e disse: "Foi dura e linda a nossa luta".

No papel A lista de solidariedade a Genoino, que, segundo os organizadores chega a 5 mil pessoas, ganhou nos últimos dias as adesões do ex-ministro Nelson Jobim e de Chico Buarque.

Tiroteio
"Decepciona ouvir Marco Aurélio Mello, que já soltou pessoas impopulares, como Cacciola, dizer que o STF deve seguir a opinião pública."
DE ALBERTO TORON, advogado de João Paulo Cunha no mensalão, sobre o ministro e Roberto Barroso discutirem a influência da sociedade no processo.

Contraponto
Ideia fixa
Em uma concorrida solenidade, Ciro Gomes (PSB) assumiu na quinta-feira a Secretaria de Saúde do Ceará, a convite do governador Cid Gomes, seu irmão. Ele discursou ao lado do ex-secretário da Fazenda, Mauro Filho, que é cotado para suceder Cid no governo e deixou o cargo na semana passada para se preparar para a eleição.
Quando Ciro prometeu aumentar gastos no setor, Filho gesticulou negativamente, mas o recém-empossado secretário reagiu, em tom de brincadeira:
-Você não é nem secretário, não está mais nem aí. A não ser que já esteja pensando naquilo...

Com Andréia Sadi e Bruno Boghossian

Fonte: Folha de S. Paulo

Política - Cláudio Humberto

Saúde dos deputados
A Câmara dos Deputados gasta por ano R$ 2,7 milhões em convênios com os hospitais Sírio-Libanês e Albert Einstein, de São Paulo, para atender deputados e ex-deputados, apesar de manter um completo e dispendioso Departamento Médico (Demed) - praticamente um hospital de primeira linha, com atendimentos ambulatorial e de emergência, dotado de laboratórios de análise e com capacidade de fazer cirurgias. O contribuinte paga tratamento médico no Sírio-Libanês e no Albert Einstein também para servidores efetivos da Câmara e dependentes. A assessoria da Câmara esclareceu que não foi necessário fazer uma licitação porque os hospitais tem "notória especialização". Ah, bom!

Fritura
O ex-jornalista Franklin Martins tenta "fritar" a ministra Helena Chagas (Comunicação - foto), que chegou ao cargo com sua ajuda, mas cometeu o "erro" de ganhar brilho próprio. Ele jura a amigos que não quer o cargo.

Suspeito
O Ministério da Defesa diz que "acompanha" a investigação da denúncia protocolada em março no Ministério Público do Rio e na Controladoria-Geral da União, de suposto superfaturamento de contrato sem licitação da FAB para modernizar 50 aviões C-95 (Bandeirantes). Com os aditivos, o contrato de R$ 84,4 milhões, assinado em 2008, chegou a R$ 84,9 milhões, mas só seis aeronaves foram modernizadas.

Ficou de fora
Fabricante dos aviões, a Embraer ficou fora do projeto de "prestação de serviços e fornecimento de equipamentos para aeronaves militares".

Tim-tim!
A denúncia sublinha a data do contrato: 30 de dezembro, com o serviço público quase parado com as comemorações do feriado de Ano-Novo.

Rumo 2014
O PSD tenta convencer hoje (16) o empresário Josué Gomes, filho do falecido José Alencar, a ser vice de Fernando Pimentel (PT) em Minas.

Ameaças
A Polícia Federal será acionada para investigar a origem de e-mails ameaçadores a ministros do STF (e a familiares), como Luiz Fux, às vésperas das sessões sobre embargos infringentes. Celso de Mello, o fiel da balança, também seria uma das vítimas.

Nacionalista
Sindicatos de petroleiros procuraram senadores da ala "independente" pedindo um Decreto Legislativo suspendendo o leilão do campo petrolífero de Libra. Alegam que Petrobras pode fazer o serviço: tem tecnologia, dinheiro e já descobriu "60 bilhões de barris no pré-sal".

Metralhadora
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, atira para todos os lados em busca de apoio para sua reeleição 2014. O tucano negocia o vice com o PMDB, o PSB, e até com o PRB de Celso Russomanno.

Paciência
Presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), recuou da declaração de que está cansado de esperar por José Serra, que ameaça ir e disfarça: "Estou ansioso pela decisão de sua vinda".

Frase
"Na essência houve uma condenação por atos malfeitos"
Ex-presidente Fernando Henrique, sobre o julgamento dos mensaleiros

Boicote
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) acusa cartórios de boicotar a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, após reprimenda da ministra Laurita Vaz (TSE): "Em São Bernardo, a rejeição a assinaturas chega a 80%".

A pacificadora
O vice Michel Temer não desistiu de tentar convencer a senadora Kátia Abreu (PSD) a se filiar ao PMDB para colocar ordem no Estado de Tocantins, onde só se acirra a briga entre Marcelo Miranda e Júnior Coimbra.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

A voz do mercado - Valdo Cruz

Não é jogo de cena. O governo Dilma ficou, de fato, surpreso e sem entender o fracasso do leilão de concessão da BR-262 (ES-MG), um trecho classificado como um dos filés do programa.

Algo saiu errado na comunicação entre o Palácio do Planalto e o mercado. Logo na largada do programa no qual o governo aposta todas as suas fichas para reativar, de vez, a cambaleante economia brasileira.

Dilma e assessores ficaram para lá de irritados e inconformados com os empresários do setor, que deixaram o leilão da rodovia dar vazio.

Um assessor fez o seguinte desabafo: "Demos tudo o que eles queriam, melhoramos a rentabilidade, criamos financiamentos atrativos, até parece armação contra nós".

O tom do comentário mostra como esse governo não compreende muito bem, ou não aceita como funciona, a lógica do empresariado.

Apesar da inflexão comandada pelo ministro Guido Mantega nos últimos meses, quando o governo deixou de satanizar o desejo de lucro dos empresários, ainda reina no Palácio do Planalto certa visão hostil ao mundo empresarial.

Aqui e ali, assessores presidenciais deixavam escapar, antes do início dos leilões, que o governo cedeu mais do que devia aos pleitos dos investidores e que, agora, eles tinham de cumprir sua parte.

Em outras palavras, garantir o sucesso dos leilões. Só que, no da BR-262, os empresários não fizeram o jogo palaciano. Para eles, o modelo da rodovia tem riscos demais e viabilidade econômica de menos.

Aí está a razão do fracasso do leilão da rodovia entre o Espírito Santo e Minas. Nada de armação nem de interferência política, como imagina o governo, que, pelo visto, não entendeu muito bem a voz do mercado.

Claro que não dá para atendê-la em tudo, seria um crime contra os cofres públicos. Mas algo é essencial ser levado em conta. Empresário só coloca seu dinheiro em projeto que dá retorno. Ponto final.

Fonte: Folha de S. Paulo

O começo do fim da crise de 2008 - Luiz Carlos Mendonça de Barros

A reunião rotineira do Fed, a ser realizada na próxima quarta feira, deve entrar para o rol dos chamados eventos históricos. Quando no futuro os olhos dos analistas se voltarem para o texto das minutas desta reunião encontrarão nele muito mais do que a decisão de reduzir, em alguns bilhões de dólares, o volume de compras de títulos públicos e vinculados a hipotecas. Eles estarão consultando um documento que passará a ser conhecido como aquele que relatou o começo do fim da grande crise econômica e financeira iniciada em fins de 2007.

Muitos leitores vão mais uma vez achar que eu estou me antecipando ao declarar hoje o fim da crise financeira que vivemos. Mas fui treinado a ser mais ousado do que os analistas convencionais na previsão de acontecimentos econômicos futuros. Mas sempre dou este passo baseado em fatos concretos e em convicções de natureza ideológica que moldaram meu olhar para a economia. É o que pretendo fazer nesta coluna, na semana em que a falência do Lehman Brothers completa cinco anos e a atenção da maioria dos analistas se volta ainda para o passado.

O ponto de apoio mais importante desta minha previsão vem da convicção que tenho de que o capitalismo é um sistema econômico voltado para o crescimento. Mas rapidamente, antes de ser criticado, quero introduzir uma pitada de Keynes nesta leitura afirmando que as crises cíclicas de curto prazo também fazem parte de seu script. Aliás, a economia brasileira hoje é prova disto. A desaceleração do crescimento e a pressão sobre os preços que estamos vivendo estão previstas em qualquer bom livro texto de macroeconomia.

Superados os momentos de irracionalidade e covardia dos homens públicos, a economia retomará o crescimento

Neste quadro analítico em que acredito e trabalho, as crises como a que vivemos nestes últimos cinco anos só aparecem quando os pecados de liberais extremados na gestão de algumas economias âncoras do mundo atingem níveis extremos. Como o que aconteceu nos Estados Unidos depois da virada do século passado. São, portanto, eventos aleatórios e de ocorrência muito pouco frequente como nos mostra a história recente. Felizmente, desta vez, tínhamos no comando do Fed um especialista neste tipo de evento e que soube aplicar - no ambiente institucional do século XXI - os conhecimentos acumulados desde os anos em que Keynes iniciou uma reflexão sobre este fenômeno.

Portanto, para mim é uma coisa natural que, uma vez superados estes momentos de irracionalidade e covardia dos homens públicos, a economia mundial volte a seu leito do crescimento. Um subproduto desta minha convicção é que vamos voltar a ter a macroeconomia como a referência central dos mercados nos próximos anos.

Mas antes de chegarmos a esta situação de normalidade, vamos passar ainda por um período de volatilidade irracional dos mercados financeiros. A partir do momento em que o Fed sinalizou o início de uma redução cautelosa da política de monetização do déficit fiscal nos Estados Unidos, o mercado entrou em mais uma de suas crises histéricas. A maioria dos analistas e especuladores, com o tsunami monetário que irrigava de dólares as economias emergentes invertendo seu sentido, agiram como se estivéssemos à beira de uma nova crise financeira no mundo emergente.

Nesta situação as moedas emergentes sofreriam forte desvalorização e a fuga de capitais deixaria os países, que operam com elevados déficits em sua conta corrente externa, em situação muito difícil. O passo seguinte seria um aumento brutal dos juros internos nestas economias, com reflexo negativo sobre o crescimento econômico e os lucros das empresas. O Brasil - junto com outras economias como a da Austrália - sofreria um choque adicional com o colapso dos preços das commodities, que com certeza ocorreria a partir da desaceleração da economia chinesa. Um perfeito cenário para os que começaram a apostar contra o real e contra o IBovespa e que levou o real a se desvalorizar em quase 20% e a Bovespa a namorar com os 45.000 pontos.

Felizmente, neste mês de setembro, o bom senso de um grupo crescente de analistas começa a colocar as coisas nos eixos. Em primeiro lugar o próprio Fed, por meio das palavras de alguns diretores, passou a mandar o recado de que a redução no volume de compras de títulos nos mercados seria muito menor do que as estimativas iniciais do mercado. Com isto, houve uma acomodação nos juros de prazo mais longo e, principalmente, uma volta nos juros de prazos curtos e intermediários para os níveis anteriores a este chilique.

Esta correção retirou um pouco da pressão sobre os emergentes, fazendo com que as cotações das ações e o valor das moedas nacionais tivessem uma recuperação importante. Este movimento reforçou-se na medida em que os dados sobre a atividade econômica na China mostraram a inconsistência do cenário de quase catástrofe de muitos.

Na próxima quarta feira o Fed vai tomar sua decisão de iniciar o processo de retirada dos estímulos extraordinários dos últimos anos e o mercado vai acordar no dia seguinte sem esta ameaça. E mais uma vez vamos provar a máxima que todos no mercado financeiro conhecem: compre no boato e venda no fato.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

Fonte: Valor Econômico