sábado, 1 de fevereiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: Jürgen Habermas

O que mais me inquieta é a injustiça social gritante que consiste no fato de os custos socializados do malogro do sistema atingirem da maneira mais dura os grupos sociais vulneráveis. Agora a massa dos que já não constam de todo modo dos ganhadores da globalização é mais uma vez cobrada pelas consequências, sentidas na economia real, de um distúrbio funcional previsível do sistema financeiro. E isso não como com os proprietários de ações, em valores monetários, mas na moeda dura da sua existência cotidiana. Também em escala global esse destino castigador aflige os países economicamente mais fracos. É um escândalo político. Mas eu considero uma hipocrisia apontar o dedo agora para os bodes expiatórios. Mesmo os especuladores se comportaram, no quadro das leis, de maneira consequente, segundo a lógica socialmente reconhecida da maximização dos lucros. A política se torna irrisória se ela moraliza em vez de apoiar-se no direito de coerção do legislador democrático. Ela, e não o capitalismo, é responsável pela orientação do bem comum.

Jürgen Habermas, Entrevista realizada por Thomas Assheuer e publicada em 6 de novembro de 2008 no semanário Die Zeit (p.53). Título original “Nash dem Bankrott”. .[Cf. Sobre a constituição da Europa, São Paulo, Unesp, 2012].

Com crise, Bolsa tem pior janeiro em 19 anos

Brasil e outros países emergentes sofrem fuga de US$ 12 bi no mês

Fundos de investimentos em ações foram a pior aplicação financeira do mês, com perdas maiores que 5%

Investidores de fundos cambiais - que aplicam em moedas, principalmente dólares - tiveram ganhos de 2,73%

Bruno Villas Bôas

RIO - Num início de ano marcado por turbulência nos mercados emergentes, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) acumulou um dos piores desempenhos do mundo: queda 7,51% no mês pelo Ibovespa, seu principal índice de ações, a maior perda para janeiro em quase duas décadas, desde 1995 (quando caiu 10,76%). Novos sinais de desaceleração da economia da China e, sobretudo, a redução gradual dos estímulos monetários nos Estados Unidos sacudiram os mercados de ações, moedas e títulos pelo mundo. O resultado foi uma perda de valor de mercado das empresas brasileiras de R$ 220 bilhões no mês passado, para R$ 2,2 trilhões. E o dólar comercial continuou sua escalada frente ao real, com alta de 2,33% no mês, a R$ 2,41.

Segundo Alberto Ramos, co-diretor de pesquisa econômica para emergentes do Goldman Sachs, os grandes fundos de investimentos globais promovem no primeiro mês do ano uma grande realocação de recursos entre países, seguindo estratégias traçadas para o ano. O Brasil e outros emergentes em situação mais frágil acabaram deixados de lado nesse processo.

— O corte nos estímulos do Fed (banco central dos EUA) para US$ 65 bilhões mensais é ruim para todos os emergentes, mas alguns sofrem mais. No Brasil, há desequilíbrios óbvios na economia, com inflação alta, crescimento baixo, déficit em conta corrente. Na hora de decidir onde aplicar, o investidor percebe isso e descarta — diz o economista. — Isso também vale para Turquia e África do Sul, que vivem problemas parecidos e políticos. A Argentina é um caso mais específico e inclusive sistêmico, que preocupa a todos.

Mercados emergentes: fuga de US$ 12 bi
Segundo dados da EPFR Global, consultoria americana especializada em rastrear US$ 1 trilhão de fundos globais,os mercados de ações de países emergentes sofreram saques de US$ 6 bilhões em sete dias até a última quarta-feira. Foi o maior ritmo de resgastes semanais desde agosto de 2011. No mês, a cifra vai a US$ 12,2 bilhões. Os fundos globais de títulos de dívida de emergentes também sofreram: foram US$ 2,7 bilhões na semana e US$ 4,6 bilhões no ano.

O reflexo foi o desempenho das ações de empresas. O Ibovespa foi o sexto pior do mundo no mês, numa lista de 94 principais índice de ações acompanhados pela Bloomberg News, melhor apenas que emergentes como Rússia (-9,82%), Turquia (-8,77%), Colômbia (-8,57%) e Chile (7,73%). A Bolsa de Tóquio caiu 8,75% em janeiro, e o Dow Jones perdeu 5,30%. Mas são casos à parte porque tiveram valorização de 56% e 26% em 2013, respectivamente.

Segundo o diretor da Máxima Corretora José Costa Gonçalves, o tombo da Bolsa brasileira foi puxado principalmente pelas perdas das ações preferenciais (sem direito a voto) da Petrobras, que se desvalorizaram 14,17% no período, e dos papéis preferenciais da Vale, que recuaram 9,07%. Segundo dados da consultoria Economatica, a relação entre valor de mercado e patrimônio líquido da Petrobras está em 53,9%, uma relação que não era vista desde 1999.

— A defasagem de preços dos combustíveis da Petrobras e os indicadores ruins da China afetaram as companhias. O índice ainda depende muito delas e nada conspira a favor — afirma Gonçalves, lembrando que a ameaça de corte da nota de risco do Brasil pela Standard & Poor’s (S&P) ainda é uma “espada na cabeça” do mercado. — Claro que existe sempre algum exagero nas percepções: o Brasil era coqueluche e agora virou o patinho feio. Mas o país ainda tem reservas cambiais de US$ 300 bilhões, uma situação privilegiada em relação aos outros mercados.

Se as Bolsas estão em queda, o dólar vem ganhando valor frente às moedas pelo mundo. Subiu no mês contra o rand sul-africano (5,99%), lira turca (5,04%) e lira indiana (1,39%). Tanto que os bancos centrais (BCs) de Turquia, África do Sul e Índia elevaram suas taxas de juros no mês. Frente ao rublo russo, a alta foi de 6,95%, e o BC russo se comprometeu a realizar intervenção ilimitada se o rublo russo sair da faixa ideal.

Para o economista Rodolfo Oliveira, da consultoria Tendências, o prazo de pessimismo dos investidores com as economias emergentes vai depender da resposta dos governos dessas nações aos problemas enfrentados. Nesta sexta-feira, por exemplo, o banco central russo voltou a elevar a faixa de variação do rublo, promovendo uma correção de 0,25 centavos na moeda.

— A elevação de juro foi uma resposta imediata ao nervosismo dos investidores. Estes países têm problemas estruturais mais sérios, como deterioração das contas públicas, fruto de uma política fiscal expansionista, déficits em transações correntes. A alta do juro ajuda a trazer capital externo de curto prazo, mas não resolve os problemas — diz Rodolfo Oliveira.

Câmbio lidera aplicações do mês
Segundo Tony Volpon, economista da Nomura, o Brasil precisa passar a corrigir sua trajetória para recuperar a confiança dos investidores. O caminho seria elevar a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,5% ao ano, para níveis mais altos, como 13%. A medida ajudaria a trazer a inflação de volta ao centro da meta de 4,5%. O IPCA fechou o ano passado em 5,91%.
— A aproximação das eleições infelizmente constrange reações de política monetária em muitos países. O BC não quer aumentar a Selic para 13%. Mas na atual dinâmica dos mercados, nenhum banco central de país emergente é senhor do seu destino — afirma Volpon.

Nesta sexta, o Ibovespa fechou em alta de 0,84% aos 47.638 pontos. O dólar comercial fechou em queda de 0,12%, a R$ 2,412.

Com a maior queda da Bovespa para meses de janeiro em quase duas décadas, os fundos de investimentos em ações foram as piores aplicações financeiras neste início de ano. Os fundos Ibovespa Ativo perderam 6,44% em janeiro até o dia 28, segundo dados da Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). Os fundos Ações Livre — categoria que não segue um benchmark (padrão) específico — tiveram perdas de 5,87%. Já os investidores de fundos cambiais — que aplicam principalmente no dólar americano — tiveram a melhor aplicação do mês, com retorno de 2,73%.

Fonte: O Globo

Governo prepara campanha para defender realização da Copa no País

Estratégia será a primeira tarefa do novo comando da Secretaria de Comunicação Social da Presidência; intenção é mostrar que obras deixarão um legado positivo para o Brasil

Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura

A presidente Dilma Rousseff planeja realizar uma ampla campanha publicitária para defender a importância da realização da Copa do Mundo no Brasil. O tema fará parte, a partir de agora, dos discursos oficiais e ações nas redes sociais. Assim, o governo pretende enfraquecer as críticas ao evento e esvaziar eventuais manifestações durante os jogos, entre junho e julho.

Uma onda negativa poderá ter reflexo nas eleições de outubro, avaliam auxiliares da presidente. No ano passado, a série de manifestações em meados do ano derrubou a popularidade de Dilma.

A preocupação com a Copa e eventuais reflexos na eleição já integrava a pauta do Palácio do Planalto. O Ministério da Justiça planeja, por exemplo, fazer uma série de visitas aos Estados que vão sediar jogos a fim de conversar com os comandos das polícias militares e ressaltar a importância de se evitar conflitos com manifestantes – foram ações violentas da PM paulista que engrossaram os protestos de junho de 2013.

Novo comando. A nova estratégia de comunicação será a primeira tarefa do novo comando da Secretaria de Comunicação Social. Ontem foi anunciada oficialmente a saída da ministra Helena Chagas. O cargo será agora ocupado pelo também jornalista Thomas Traumann.
Já havia uma pressão de dentro e de fora do governo para que o Planalto reagisse com firmeza às críticas que vinha recebendo contra a realização da Copa. A contraofensiva tem por objetivo tentar convencer a população de que a Copa trará benefícios à população. O governo pretende atacar em três linhas para tentar "desarmar" os argumentos contrários à Copa: a primeira, a de que grande parte dos financiamentos é de fontes privadas, e não públicas; a segunda, a de que essas obras serão um legado para o País – os estádios, por exemplo, serão usados para shows e outros eventos depois da Copa; a terceira, a de que obras de mobilidade urbana, mesmo que não sejam entregues a tempo, foram "aceleradas".

A estratégia governista é não deixar que a população "se deixe levar pela loucura", nas palavras de um assessor direto da presidente. Pelas redes sociais, há grupos que se mobilizam com a bandeira de "Não Vai Ter Copa". Já houve protestos violentos no fim de semana passado. O PT chegou a criar uma campanha "Vai Ter Copa" para rebater o movimento. Agora terá ajuda do governo.

Integrantes do governo reconhecem, em conversas reservadas, que há de fato um desgaste por causa da associação como Fifa e Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mas acreditam que há tempo suficiente para reverter esse cenário.

O Planalto aposta no argumento de geração de empregos por causa do megaevento. Também já levanta os preços dos estádios de outras edições do torneio a fim de compará-los com os custos do caso brasileiro.

A Secretaria de Comunicação Social informou ontem que "as ações de comunicação institucional para este ano estão em fase de planejamento". O Ministério do Esporte, por sua vez, informou que "ainda não há definição sobre o assunto".

Estádios. Dilma esteve presente na inauguração oficial de todos os estádios da Copa que já ficaram prontos – a última solenidade foi em Natal, onde abriu a Arena das Dunas, no dia 22 de janeiro. "O Brasil tem de apostar a seu favor, e não contra", afirmou a presidente em entrevista a jornalistas, ao ser questionada sobre a possível exclusão de Curitiba por causa de atrasos nas obras da Arena da Baixada. "Essa é o tipo da pergunta que mostra aquilo que o Nelson Rodrigues dizia: ‘não é possível apostar no pior’. Pelo contrário. Eu acredito que todo governador, prefeito e os empresários que são responsáveis pelo estádio de Curitiba irão fazer o estádio no prazo. É algo que eu tenho certeza", disse Dilma na ocasião.

Além da Arena da Baixada, faltam ser inaugurados os estádios Itaquerão (São Paulo), Arena Pantanal (Cuiabá), Arena da Amazônia (Manaus) e Beira Rio (Porto Alegre).

Fonte: O Estado de S. Paulo

Em carta de demissão, Helena Chagas rebate críticas do PT

Ex-chefe da Secretaria de Comunicação diz que critério foi técnico na distribuição de publicidade; PT pede verbas para blogs

Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura

Em sua carta de demissão do cargo de ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República, entregue nesta sexta-feira, 31, à presidente Dilma Rousseff, a jornalista Helena Chagas fez questão de responder às críticas do PT, que cobrava mais espaço na verba publicitária do governo para as chamadas mídias alternativas.

O PT reclamava que essas mídias não estavam sendo contempladas à altura. A expectativa é que agora, com a mudança no comando da Secretaria de Comunicação Social, as publicações que atuam em defesa do governo serão mais contempladas.

Ao reagir ao PT, Helena Chagas disse que o critério adotado para distribuição das verbas de publicidade é de "mídia técnica, que herdamos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que soubemos preservar e aprimorar".

Helena afirmou ainda que "propiciou a oportuna e equilibrada publicidade governamental de tais ações públicas, trazendo ao cidadão informação clara e objetiva a respeito de seus direitos e das oportunidades que lhe eram postas".

Segundo ela, atualmente há 9.963 veículos cadastrados para receber investimentos de mídia do governo, cadastro esse que foi ampliado na sua gestão.

Só que no PT e dentro do próprio governo, há quem ache que este critério "técnico" adotado por Helena não atendia às novas modalidades de comunicação, particularmente os blogs divulgados na internet, que defendem a presidente e o modelo petista. Para eles, alguns dos chamados "blogs sujos" podem ser muito mais lidos e ouvidos do que muitos meios de comunicação tradicionais e que isso não era aferido pela Secom.

Ontem, a presidente Dilma informou, por meio de nota, que aceitou o pedido de demissão de Helena, agradeceu "a dedicação e os relevantes serviços prestados" e confirmou a sua substituição por Thomas Traumann, que ocupava o posto de porta-voz do Planalto.

Ao substituir o comando da Secom, Dilma optou por dar um novo estilo à pasta, considerada estratégica na campanha à reeleição. A intenção é que a Secretaria de Comunicação Social da Presidência seja mais atuante e preparada para a artilharia pesada que o governo acredita que enfrentará na eleição. A Secom deverá adotar o modelo de responder com veemência as críticas que receber, adotando uma espécie de estilo bateu, levou.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Preço da energia atinge o teto em fevereiro, e conta de luz pode subir até 10%

Custo do megawatt dobra e vai a R$ 822

Bruno Rosa, Ramona Ordoñez

RIO - O consumidor vai pagar caro pelo calor do último mês e pelo baixo volume de chuvas. Além dos gastos com a geração das usinas térmicas, que custam mais que a energia das hidrelétricas, os brasileiros ainda vão arcar com as despesas das distribuidoras com a compra de energia no mercado livre. O preço para o início de fevereiro é o maior desde setembro, quando mudou a forma de calcular o valor da energia. Para primeira semana de fevereiro, atingiu R$ 822,83, o teto estabelecido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em janeiro esse valor era quase a metade: R$ 466. Com isso, as contas de luz podem subir até 10% na data anual do reajuste.

De acordo com estimativa da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), se todos esses custos permanecerem no atual patamar, as distribuidoras poderão pedir à Aneel, que autoriza os reajustes, repasse do custo mais alto nas contas de luz.

As distribuidoras têm de recorrer ao mercado livre, pois não vêm conseguindo obter toda a energia necessária para atender à demanda nos leilões feitos pelo governo federal. Atualmente, elas precisam comprar 3,3 mil megawatts (MW) médios adicionais e, assim, acabam tendo que arcar com preços elevados.

A Abraceel diz ainda que, se os valores no mercado livre se mantiverem nesse patamar durante todo o mês de fevereiro, o gasto extra das distribuidoras chegará a R$ 1,6 bilhão. Segundo especialistas, o preço no mercado livre é balizado principalmente pela expectativa de chuvas e pelo nível dos reservatórios. No último dia 30, diz o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), as hidrelétricas da Região Sul chegaram a 58,6% de sua capacidade, número menor que no dia anterior, de 59,4%. Entre as regiões Sudeste e Centro-Oeste, o nível caiu de 40,8% para 40,6%. No Nordeste, o volume ficou igual, em 42,5%. Só na região Norte houve alta: de 59,6% para 60%.

— As distribuidoras estão descontratadas. Nos leilões feitos pelo governo, os empreendimentos (como hidrelétricas e usinas eólicas) vêm atrasando e a energia não entra no sistema. Por isso, elas têm que recorrer ao mercado livre. E esse custo vai chegar ao consumidor do mercado cativo. Estima-se alta em torno de 10% nas contas para 2014 — disse Reginaldo de Medeiros, presidente da Abraceel.

A conta mais alta pode chegar aos consumidores do Rio em novembro, quando acontece o reajuste da Light. O da Ampla, que opera em Niterói e outros municípios do Estado do Rio, é em março. Em Minas, o reajuste da Cemig é em abril, assim como o da CPFL, em São Paulo. Na paulista Eletropaulo, a revisão acontece em julho.

Governo estuda novo socorro
Fonte da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), diz que o governo estuda uma solução para evitar um impacto nas contas de luz. Uma das hipóteses é um novo socorro via Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), com recursos do Tesouro Nacional:

— Em dezembro, o governo fez leilão adicional e cortou pela metade a necessidade das distribuidoras.

Para Cristopher Alexander, presidente da comercializadora Comerc Energia, as distribuidoras são as maiores prejudicadas:

— Há risco de inadimplência no setor. As distribuidoras poderão repassar esses custos, mas o Tesouro pode socorrer essas companhias.

Hoje, a maior parte das indústrias de grande porte que recorrem ao mercado livre assina contratos de longo prazo, que variam de três a cinco anos, para evitar as oscilações do mercado. Acredita-se que algumas indústrias, para aproveitar os preços, poderão reduzir atividades e “vender” o excedente no mercado livre.

— Algumas empresas podem usar óleo combustível em seus processos e contribuir com o setor elétrico liberando energia, liquidada a R$ 822 o MWh — disse Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais e de Energia de Consumidores Livres (Abrace).

Fonte: O Globo

Aliado de Marina se lança ao governo paulista e desafia PSB de Campos

'Rede não nasceu para ser subserviente aos projetos políticos tradicionais', diz Ricardo Young

Isadora Peron

SÃO PAULO - Aliado político da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, o vereador paulistano Ricardo Young (PPS) lançou, durante um jantar com integrantes da Rede Sustentabilidade, seu nome ao governo de São Paulo. "A Rede não nasceu para ser subserviente aos projetos políticos tradicionais. Nós não nascemos para passar em branco nessas eleições. Então eu queria dizer para vocês que vou me colocar à disposição da candidatura para governo do Estado", discursou na quinta-feira, 30, sob aplausos dos marineiros.

Young iria para a Rede, mas, como Marina não conseguiu reunir assinaturas suficientes para registrar o partido no ano passado, resolveu permanecer no PPS. Boa parte daqueles que tentaram fundar o partido acabou migrando para o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato Palácio do Planalto.

Para ser vice na chapa presidencial, Marina colocou como condição a Campos abandonar o projeto de apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB) e lançar candidato próprio em São Paulo. O empecilho é que a máquina do partido é controlada pelo deputado Márcio França, que tem reivindicado para si o posto de candidato. Integrantes da Rede temem que uma candidatura de França, que foi secretário de Alckmin e mantém uma relação de proximidade com o tucano, seja apenas de "fachada" e não represente o movimento da nova política defendido por Marina.

"Eu acho que a política também se faz com coragem e insubordinação. Nós estamos muito comportados. Nós não criamos a Rede para sermos comportados, nós criamos para fazer avançar a política, para puxar o PSB e o PPS para o nosso campo. Se a Rede considerar que o meu nome pode contribuir para o tensionamento dessa situação, contem comigo", afirmou Young.

A ideia inicial de Marina era lançar a deputada Luiza Erundina (PSB) ao governo. Ela, no entanto, recusou a oferta e complicou a negociação. Assim como o nome de França não é bem visto pelo grupo da ex-ministra, o PSB também não mostra disposição em aceitar um quadro ligado à Rede, como o deputado Walter Feldman.

Desponta como uma opção mais neutra o nome do advogado Pedro Dallari, filiado ao PSB. Para concorrer, no entanto, ele teria de deixar o posto de coordenador da Comissão Nacional da Verdade.

A chance de Young conseguir sair candidato, pelo menos no momento, é baixa. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire, afirmou que o projeto do partido é permanecer aliado aos tucanos paulistas e apoiar a reeleição de Alckmin.

Minas. Não é apenas em São Paulo que a montagem das alianças regionais está indefinida. Na semana passada, a Rede de Minas emitiu uma nota defendendo o rompimento com o PSDB. No dia seguinte, o comunicado foi desautorizado pela Executiva nacional da sigla, que afirmou que a situação ainda estava em discussão.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Aliado de Marina afronta PSB

Vereador do PPS se lança como candidato ao governo pela Rede, mas Campos tem outro nome

SÃO PAULO. Aliado político da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, o vereador paulistano Ricardo Young (PPS) lançou, durante um jantar com integrantes da Rede, seu nome ao governo de São Paulo. “A Rede não nasceu para ser subserviente aos projetos políticos tradicionais. Nós não nascemos para passar em branco nessas eleições. Então eu queria dizer para vocês que vou me colocar à disposição da candidatura para governo do Estado”, discursou sob aplausos dos marineiros.

Young iria para a Rede, mas, como Marina não conseguiu assinaturas suficientes para registrar o partido no ano passado, resolveu permanecer no PPS. Boa parte daqueles que tentaram fundar o partido acabou abrigada no PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato à Presidência – a exemplo de Marina.

A ex-ministra fechou um acordo com Campos segundo o qual o PSB teria candidato próprio em São Paulo e desistiria do projeto de apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin (PSDB). O problema é que a máquina do partido quer indicar o deputado Márcio França para o posto de candidato. França é muito próximo dos tucanos, e os integrantes da Rede temem que uma candidatura dele seja apenas de fachada.

“Eu acho que a política também se faz com coragem e insubordinação. Nós estamos muito comportados. Nós não criamos a Rede para sermos comportados, nós criamos para fazer avançar a política, para puxar o PSB e o PPS para o nosso campo. Se a Rede considerar que o meu nome pode contribuir para o tensionamento dessa situação, contem comigo”, afirmou Young.

A ideia inicial de Marina era lançar a deputada Luiza Erundina (PSB) ao governo. Ela, no entanto, recusou a oferta e complicou a negociação. Assim como o nome de França não é bem visto pelo grupo da ex-ministra, o PSB também não mostra disposição em aceitar um quadro ligado apenas à Rede, como o deputado Walter Feldman. Desponta como uma opção mais neutra o nome do advogado Pedro Dallari, filiado ao PSB. Para concorrer, no entanto, ele teria que deixar o posto de coordenador da Comissão Nacional da Verdade.

Programa. A saída mágica para evitar um confronto dos chamados “sonháticos” da Rede Sustentabilidade com os pragmáticos do PSB na elaboração das bases do programa comum de governo que serão lançadas em grande ato político na próxima terça-feira, é permear em todo o texto a expressão “sustentável”.

O foco será recuperação e investimento pesados em infraestrutura e logística como ponto de partida para a retomada do crescimento econômico.

Vacinas
Padilha. O ministro da saúde e pré-candidato ao governo paulista, Alexandre Padilha (PT), rebateu ontem críticas do PSDB de que teria feito propaganda eleitoral antecipada ao fazer pronunciamento em cadeia nacional sobre a campanha de vacinação.

Oposição. Na quinta-feira, o PSDB paulista disse que vai entrar com um processo na Justiça Eleitoral contra o ministro por propaganda eleitoral antecipada.

Defesa. Padilha nega que tenha usado a máquina pública para fazer campanha. “Não sei o que eles (a oposição) têm contra a divulgação de uma vacina. Nós fizemos o pronunciamento porque começaram as aulas esse mês”, disse o pré-candidato.

Entrave
Cúpula. A chance de Young sair candidato é baixíssima. O presidente do PPS, Roberto Freire, afirmou que o projeto do partido é permanecer aliado aos tucanos e apoiar a reeleição de Alckmin.

Fonte: O Tempo (MG)

Bolívar Lamounier diz que eleição será afetada por fator "imponderável"

Sociólogo e cientista político avalia que a espontaneidade dos movimentos de junho os tornou mais fortes que ações organizadas

Há uma corrente de conceituados pensadores apontando que as eleições tendem a ser opacas, com fraca participação dos movimentos populares que convulsionaram o país no inverno de 2013. O sociólogo e cientista político Bolívar Lamounier vai na contramão.

Prevê uma campanha eleitoral “acirrada” e interpreta que os rebeldes de junho “se robusteceram” ao não perderem tempo com reuniões, escolha de líderes e discussões sobre estratégias. A espontânea agilidade foi o seu trunfo.

Atual membro do Comitê Assessor Acadêmico do Clube de Madri (criado em 2002 para promover a democracia no mundo), Lamounier concedeu entrevista a ZH, por e-mail. Ele chama a atenção para o que chama, em um eco de Nelson Rodrigues, de “Imponderável de Almeida”, o ente sobrenatural que representa a indignação dos brasileiros.

Como deve influir na próxima eleição a herança das manifestações de 2013

Zero Hora – Que tipo de eleições se pode esperar para 2014, a partir dos megaprotestos de junho de 2013 e dos questionamentos atuais às obras da Copa do Mundo?

Bolívar Lamounier – Vamos ter uma eleição aberta e acirrada. Dilma começa com uma vantagem muito grande nas pesquisas, quanto a isso não há dúvida. E não se faz de rogada quando se trata de usar o gasto público e a máquina do Estado com o objetivo de se reeleger. Lembro, no entanto, que ela não venceu com folga o segundo turno de 2010, quando a economia estava muito mais forte e não havia uma onda de protestos como a atual. Com todos os desgastes sofridos, a oposição levou o pleito para o segundo turno e foi bem votada. Esquematicamente, podemos portanto afirmar que a campanha começará com três peças relevantes no tabuleiro. Primeiro, Dilma Rousseff, contando com a máquina do Estado e uma ampla aliança governista. A oposição, agora ampliada, com Aécio Neves pelo PSDB e Eduardo Campos pelo PSB. E o "Imponderável de Almeida”, representado pelo descontentamento geral, com uma indignação muito grande contra os gastos da Copa e com a economia rateando a olhos vistos.

ZH – Quais as vantagens, legítimas e ilegítimas, do atual governo?

Lamounier – Entre as legítimas, estar na presidência é em si uma grande vantagem; ter o apoio do Lula e do PT, é outra grande vantagem; ter um eleitorado cativo no Nordeste e no Norte, graças ao bolsa-família, outra vantagem importante. Entre as ilegítimas, a gastança, que é real, e o lançamento de novos programas na base do SPP – “Se Pegar, Pegou”. Tudo somado, a presidente tem uma rampa de lançamento em torno de 35%, o que parece imbatível à primeira vista.

ZH – E como qualifica a oposição?

Lamounier – Faz anos que o PSDB é duramente criticado por certas parcelas da classe média (basta olhar as redes sociais) que não o consideram suficientemente oposicionista, avaliam que Aécio Neves não tem “carisma” e discordam do cronograma: acham que a campanha já devia estar na rua. Tudo isso mereceria ser discutido, mas vamos ao essencial: o PSDB começa com um índice de intenções de voto que mal chega à metade da rampa da Dilma. Ainda assim, convém lembrar que as três últimas eleições foram para o segundo turno. Em 2010, o José Serra fez uma campanha muito ruim, mas Dilma não venceu o segundo turno com folga.

ZH – Os movimentos que foram às ruas em junho podem influenciar nas eleições?

Lamounier – As manifestações iniciadas em junho nada tiveram a ver com o PT. Ao contrário, foram contra ele em grande parte. Em alguns casos, os manifestantes hostilizaram os petistas e rasgaram bandeiras do partido. Se voltarem por ocasião da Copa, os protestos serão certamente autônomos. Não se deixarão dominar pelo PT, até porque o seu alvo será o governo Dilma, responsável por esses gastos absurdos: essa absoluta distorção de prioridades que a Fifa impôs ao país.

ZH – Esses movimentos conseguirão se articular ou são forças esparsas?

Lamounier – É verdade que os protestos de junho-julho não tiveram uma liderança nem objetivos bem definidos. Mas, naquele caso em especial, isso não foi um fator de enfraquecimento, ao contrário, foi de robustecimento. Se vários grupos se sentassem à mesa para definir objetivos e escolher líderes, teriam gasto meses nisso, e as manifestações não teriam acontecido. Sem esquecer que os líderes teriam constituído um alvo fácil para o PT, que trataria de desqualificá-los. O PT bateria o bumbo dizendo que eles não representavam ninguém, que tinham objetivos políticos escusos e por aí afora.

ZH – Poderia ser diferente em 2014?

Lamounier – Não sei, vamos ver. Em princípio, eu acho que não vai ser muito diferente.

ZH – O brasileiro estaria desencantado com a política e as eleições?

Lamounier – O tema do desencanto retorna a cada ano eleitoral, mas, na hora H, os eleitores comparecem e votam. O envolvimento popular poderia ser melhor, mais intenso? É claro que poderia, mas também é verdade que nós analisamos esse assunto numa ótica muito idealizada, imaginando um padrão de civismo e participação que não existe em parte alguma do mundo.

Fonte: Zero Hora (RS)

Foco em educação e sustentabilidade

PSB e Rede divulgam na próxima semana as diretrizes do programa para a disputa da eleição em outubro

Aline Moura

O governador Eduardo Campos (PSB) dará mais um passo, nesta próxima terça-feira, para se consolidar como presidenciável. Ele e a ex-senadora Marina Silva lançam, às 10h, em Brasília, as diretrizes do programa de governo para nortear os discursos do PSB/Rede na disputa eleitoral. A divulgação da plataforma política antes da oficialização do nome do candidato será uma novidade criada a partir da aliança entre Eduardo e Marina. O caminho natural era sempre o inverso, mas o PSB e a Rede serão os primeiros a apresentar o que querem para o futuro. O destaque será dado à educação e ao desenvolvimento sustentável.

Embora Marina Silva tenha dito a alguns jornalistas que aceita ser candidata a vice de Eduardo, ela não deve oficializar a decisão nesta terça-feira, segundo avaliação de seus companheiros. Há muito em jogo para ser discutido nos estados, Marina quer que o PSB rompa alianças com o PSDB em locais estratégicos, como São Paulo, e uma eventual antecipação de sua candidatura a vice lhe tiraria força política. Até o dia 10 de março, prazo estipulado pelo governador, as lideranças nos estados têm de debater alianças, redirecionar rumos e ver onde pode ou não haver consenso. Os casos mais difíceis serão arbitrados pela executiva nacional do PSB a partir do dia 25.

O evento programático, como chamam Eduardo e Marina, será transmitido ao vivo pela TV João Mangabeira e pelos sites do PSB nacional e da Rede Sustentabilidade. O discurso em cena deve ser novamente num tom crítico à gestão da presidente Dilma Rousseff (PT), a qual Eduardo vê como um retrocesso, um modelo que “já deu o que tinha de dar”. O de Marina Silva seguirá o mesmo ritmo.

Segundo o deputado federal Walter Feldman (SP), visto como um dos principais escudeiros de Marina, o documento vai trazer o compromisso do PSB e da Rede, por exemplo, de investir 10% do Produto Interno Bruto em educação. Também será mais claro em relação ao que as legendas pensam sobre o desenvolvimento sustentável. Feldman falou com o Diario por telefone, após passar três dias em Pernambuco.

“Vamos sair do campo do discurso. A questão central será a educação e o desenvolvimento sustentável. Eu vou citar um exemplo: o agronegócio tem uma produção gigante, mas aberta à devastação. Mas é possível ocupar um espaço na agricultura com mais qualidade, sem devastação.

No tocante à educação, reconhecemos que houve avanço quantitativo, mas não tem qualidade para o Brasil dar um salto. Pretendemos investir 10% do PIB na educação”, observou, citando alguns pontos do que será divulgado.

Fonte: Diário de Pernambuco

Oposição ainda avalia qual discurso adotar no Mundial

Grupo busca discurso ideal, tendo em vista que muitos dos seus governadores receberão jogos, colocaram recursos públicos na construção de estádios e terão de lidar com manifestações

Débora Bergamasco

A realização da Copa do Mundo no Brasil acabou se tornando motivo de preocupação para boa parte dos governantes do País. A oposição ainda articula o discurso ideal, tendo em vista que muitos dos seus governadores receberão jogos, colocaram recursos públicos na construção de estádios e terão de lidar com o risco de violência em manifestações.

Das 12 capitais que serão sede da Copa, cinco estão localizadas em Estados governados pela oposição: São Paulo, Minas Gerais, e Paraná, pelo PSDB; Rio Grande do Norte, pelo DEM; e Pernambuco, pelo PSB.

Em Minas Gerais, governado por Antonio Anastasia (PSDB) e reduto eleitoral do presidenciável Aécio Neves (PSDB), o Mineirão recebeu R$ 295 milhões de recursos estaduais e R$ 400 milhões de financiamento federal.

O governador e também presidenciável Eduardo Campos (PSB) colocou R$ 132,6 milhões na Arena Pernambuco, que se somaram aos R$ 400 milhões do financiamento federal.

Além dos gastos públicos questionados nos protestos de rua, há obras de mobilidade urbana – boa parte delas com recursos estaduais – atrasadas em praticamente todas as cidades-sede.

Outro problema para os governadores oposicionistas é que as polícias militares que eventualmente terão de reprimir manifestantes na Copa são subordinadas a eles. Na hipótese de o Brasil vencer o torneio, a oposição terá dificuldade em elaborar um discurso crítico que seja absorvido pela população.

‘Sagrado’. Em razão disso, a saída, por ora, analisada pela oposição é jamais questionar a escolha do Brasil para sediar o campeonato mundial do esporte mais popular do País.
De acordo com líderes ouvidos pelo Estado, o assunto futebol é visto como "sagrado". Nas palavras dos oposicionistas, o governo federal será atacado nos quesitos "falta de planejamento" e "incapacidade de gestão". A intenção é mostrar que o Brasil não está conseguindo aproveitar a oportunidade de sediar a Copa para dar um salto na infraestrutura, desenvolvimento e legado social.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Rolf Kuntz: Se a economia vai mal, mude-se a comunicação

O governo gastou demais, desperdiçou bilhões com incentivos errados, ajeitou as contas com receitas extraordinárias e chega a fevereiro sem meta fiscal e com perspectiva de mais um ano de baixo crescimento, inflação alta e resultado pífio no setor externo. Mas a presidente mostra-se muito menos preocupada com a qualidade e os resultados da administração federal do que com a imagem de sua política e, é claro, com os arranjos eleitorais. Todos os ministros substituídos, exceto um, saem do governo para cuidar de suas candidaturas. A exceção é a ministra Helena Chagas, da Secretaria de Comunicação (Secom). Seu sucessor será o atual porta-voz do Executivo, Thomas Traumann, escolhido, segundo se informa em Brasília, para enfrentar com mais vigor as notícias negativas e cuidar melhor dos interesses partidários. Esta mudança é a mais, com perdão da palavra, emblemática. A ideia, tudo indica, é transformar a Secom num Ministério da Imagem. Os principais condutores da fracassada política econômica permanecerão nos postos.

É cedo para dizer como funcionará no dia a dia o novo Ministério da Imagem, como serão distribuídas as verbas publicitárias, como serão orientados os blogueiros chapa-branca e como se apresentará o próprio ministro, mas um ponto é certo: nenhum esforço de comunicação será suficiente para neutralizar os efeitos reais de uma política econômica abaixo de medíocre. Não há como imputar à ministra Helena Chagas a inflação de 5,91%, o déficit em conta corrente de US$ 81,4 bilhões, a estagnação da indústria, o investimento ainda inferior a 20% do produto interno bruto (PIB) e a baixa disposição dos empresários, indicada em pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de investir neste ano.

Para muitos desses empresários, a ministra Helena Chagas e seu sucessor devem ser figuras desconhecidas ou vagamente lembradas. Mas com certeza todos são capazes de citar o nome do ministro da Fazenda, dos presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) e do Banco Central (BC) e de outras personagens associadas, para o bem ou para o mal, às condições, em geral ruins, da economia brasileira. Os muito atentos talvez até se lembrem do assim chamado ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Mas quem vinculará os percalços econômicos do País à Secom?

Há, de fato, problemas de imagem e de credibilidade, associados, por exemplo, à famosa contabilidade criativa, à promiscuidade entre o Tesouro e os bancos federais, ao desastrado controle de preços e de tarifas e ao uso - discutibilíssimo, embora legal - das exportações fictícias de plataformas de petróleo para reforçar o saldo comercial. Sem esse expediente o resultado do comércio de 2013 teria sido um déficit de US$ 5,18 bilhões, em vez de um superávit de US$ 2,56 bilhões. A perda de credibilidade expõe o Brasil ao risco de rebaixamento de sua nota de crédito. Essa é uma das preocupações evidentes da presidente Dilma Rousseff e foi uma das motivações de sua viagem a Davos, depois de três anos esnobando o Fórum Econômico Mundial.

Mas nenhuma estratégia de informação ou propaganda apagará os números publicados pelo governo ou descobertos por analistas ou repórteres atentos. O último relatório do BC sobre as contas fiscais, divulgado na sexta-feira, confirma a redução do superávit primário do setor público de 2,39% do PIB em 2012 para 1,9% em 2013, a menor proporção da série iniciada em 2001. O déficit nominal (incluída, portanto, a conta de juros) aumentou de 2,48% para 3,28% do PIB.

As contas do Tesouro divulgadas no dia anterior são igualmente ruins. O resultado primário de R$ 77,07 bilhões só foi obtido com grande volume de receitas extraordinárias, ou atípicas, como R$ 22,07 bilhões correspondentes a bônus de concessões. A soma de todos os extras chega a 79% do superávit primário, isto é, do dinheiro destinado ao pagamento de juros da dívida pública. Não houve, de fato, economia para a geração desse resultado. A despesa do governo central foi 13,6% maior que a do ano anterior, enquanto a receita líquida, isto é, descontadas as transferências a Estados e municípios, cresceu 12,5%.

Funcionários do Ministério da Fazenda têm consultado especialistas do mercado financeiro sobre a meta fiscal desejável e crível para este ano. Um superávit primário equivalente a 2% do PIB deve parecer adequado, segundo avaliações divulgadas nos últimos dias. Mas ainda é incerto se a presidente Dilma Rousseff estará disposta a assumir um compromisso dessa proporção.

Ao tomar a decisão, a presidente levará em conta, quase certamente, as agências de classificação de risco, os interesses eleitorais e os perigos associados às novas condições do mercado financeiro, resultantes da redução gradual dos estímulos monetários nos Estados Unidos. A política de comunicação poderá influenciar uma parte do eleitorado. Mas dificilmente afetará as avaliações dos especialistas e do público mais informado. Além do mais, as informações - espera-se - continuarão disponíveis.

Parte dessas informações é de origem oficial. O BC continua prevendo inflação bem acima da meta pelo menos até o próximo ano. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fornecerá, se nada mudar, informações mensais sobre produção industrial, emprego, renda e consumo, e a cada trimestre deverá atualizar os dados do PIB. Especialistas do setor privado serão consultados semanalmente pelo BC sobre suas previsões. Por enquanto, são ruins: crescimento econômico próximo de 2%, inflação perto de 6% e contas externas fracas. O governo da presidente Cristina Kirchner tem sido mais direto. Além de pressionar a imprensa e proibir a divulgação de cálculos privados de inflação, interferiu nas estatísticas oficiais. Deve haver em Brasília defensores desse modelo. Terão sucesso?

Jornalista

Fonte: O Estado de S. Paulo

Demétrio Magnoli: O Graal de Tarso Genro

O Santo Graal dos comunistas foi a URSS e seu sistema de "repúblicas populares". As insurreições na Hungria (1956), na Tchecoslováquia (1968) e na Polônia (1980) secaram o poço do encantamento. A queda do Muro de Berlim e a implosão da URSS quebraram o cálice sagrado. No último quarto de século, desorientados, os filhos do "socialismo real" empreendem a busca por um novo Graal. Como tantos outros, Tarso Genro encontrou-o na China (em "Uma perspectiva de esquerda para o Quinto Lugar", artigo escrito numa língua estranha, longinquamente aparentada com o português). As suas elucubrações teóricas não têm interesse intelectual, mas merecem um exame político.

O governador do Rio Grande do Sul enxerga na experiência recente da China uma inspiração para a marcha do Brasil rumo ao estatuto de potência mundial. O que a China tem de especial? Um "sujeito político (Partido-Estado)" que "cria o mercado e suas relações", num processo em que "estas relações novas recriam o sujeito (Partido-Estado), que será permanentemente outro". É isso, explica-nos, que falta ao Brasil: um ente de poder capaz de reinventar a sociedade e guiar o povo até o futuro.

Décadas atrás, um tanto tristonhos, incontáveis socialistas deploravam o poder totalitário do Partido Comunista da URSS, mas o justificavam como um mal necessário pois, no fim das contas, aquele era o motor político da economia socialista. Genro, pelo contrário, não apela ao socialismo (uma "fantasia histórica") para justificar o poder absoluto do Partido-Estado: basta-lhe um horizonte "chinês" de crescimento econômico e progresso social. E a democracia? A China triunfa graças a um "regime político não democrático para os nossos olhos", ensina o líder petista, reproduzindo os argumentos oficiais do Partido Comunista Chinês, que justifica a tirania pela invocação ritual da cultura e da tradição.

A democracia é o regime no qual os governantes não podem tudo –e aí está o problema do Brasil, na opinião de Genro. Na sua descrição, o "mercado" malvado sabota a redução dos juros, a abominável "grande imprensa" bloqueia o aumento do IPTU e os demoníacos "cronistas no neoliberalismo abrigados na grande mídia" manipulam a opinião pública. A expressão política de opiniões conflitantes e interesses divergentes que nos acostumamos a chamar de democracia representa, aos olhos de Genro, uma intolerável balbúrdia. É preciso, para libertar a "utopia concreta presa com âncoras pesadas no fundo real da sociedade capitalista", instaurar uma ordem nova na qual o sujeito da História (o "Partido-Estado") possa conduzir a nação até o futuro redentor.

O "levantar âncoras", propõe Genro, encontra-se na convocação de "uma nova Assembleia Nacional Constituinte no bojo de um amplo movimento político inspirado pelas jornadas de junho", mas "com partidos à frente". Esqueça, por um momento, que as "jornadas de junho" não seriam as "jornadas de junho" se tivessem "partidos à frente". Nosso pequeno, mas esperançoso, pretendente a Duce sonha com uma "marcha sobre Brasília" liderada pelo partido que exerce o poder.

"Penso que as esquerdas no país devem abordar programaticamente estas novas exigências para o futuro, já neste processo eleitoral". Genro sabe perfeitamente que sua "utopia concreta" terá impacto nulo sobre a campanha de Dilma, que continuará focada em firmar alianças com o PMDB, o PP e o PSD, renovar os compromissos com as altas finanças e reforçar a parceria com os "movimentos sociais" estatizados. O vinho de seu cálice sagrado destina-se, exclusivamente, ao consumo interno do PT e de sua área de influência militante: é um antídoto ideológico contra as imprecações lançadas por correntes esquerdistas inquietas com o "giro à direita" do lulismo. Mas serve, ainda, para iluminar o lado escuro da alma do partido que nos governa.

Demétrio Magnoli, doutor em geografia humana, é especialista em política internacional. Escreveu, entre outros livros, 'Gota de Sangue - História do Pensamento Racial' (Contexto).

Fonte: Folha Online

Denise Rothenburg: Lula, o dono do apito em 2014

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ser o dono do apito nas eleições deste ano. Pelo menos é assim, como um árbitro, que ele se apresenta no vídeo divulgado na última quinta-feira nas páginas petistas das redes sociais. Tal qual um juiz tentando se mostrar imparcial, o petista diz acreditar no poder da internet para a democracia, se mostra contrário a vetos ou censura e defende que as pessoas devem ser responsabilizadas pelos próprios atos.

Até aí, o óbvio, algo como uma nota de rodapé num livro de discursos de Lula. Da boca para fora, todos os políticos poderiam repetir as palavras. Mas Lula, durante o vídeo de quase sete minutos, fala mais. Alerta para a necessidade de fundamento no ato de criticar. "Não fazendo o jogo rasteiro, da calúnia ou do baixo nível." O recado está dado, claríssimo. A dúvida é para quem Lula está falando.

O vídeo, antes de ser divulgado pelos jornais, foi publicado na página pessoal do ex-presidente — pessoal, sim, mesmo que alimentada pela equipe dele — e no perfil do Partido dos Trabalhadores. Assim, o petista parece inicialmente ter mirado para a própria militância, o que faria todo o sentido. Um cacique político, principalmente em tempos de campanha, precisa orientar os seguidores.

Militância
Se Lula pensou em falar para os petistas ao produzir o vídeo, ponto para ele, afinal, de alopração, a rede está cheia. Nesse sentido — se é que o sentido é esse —, o ex-presidente chega a dar conselhos, pedindo que as pessoas não fiquem chateadas com o debate. "Quando alguém lhe criticar também, aceite. Isso faz parte da democracia", diz ele, com ar professoral. A confusão, entretanto, começa exatamente no momento em que o ex-ocupante do Palácio do Planalto faz críticas ao tal "jogo rasteiro".

Aí Lula começa a fazer proselitismo com o "baixo nível". "Quando você calunia, você não politiza, não produz um fruto", diz ele, trocando as velhas analogias futebolísticas pela botânica. "Eu acho que a internet é uma árvore que pode produzir frutos novos todo santo dia se a gente tiver, ao sentar na frente de um computador, interesse de que alguém aprenda algo mais." Depois, passa a referências automobilísticas: "Eu tenho liberdade de pegar uma estrada e fazer uma viagem com minha família, mas, se eu for irresponsável, posso matar alguém ou posso morrer".

Discurseira
Por mais que Lula tenha decidido falar para a militância, o discurso vai e volta, com as críticas à bandalheira na internet. E, assim, o texto toma duas outras formas: a pura e simples provocação contra adversários e a tentativa dele de se tornar o árbitro das eleições. Esses dois aspectos mostram como o petista pretende se posicionar ao longo da campanha. Um misto de provocador e de messiânico, alguém acima do bem e do mal, pronto para apontar o erro.

Os dois papéis são incompatíveis, como se sabe. Uma coisa é Lula anunciar, como fez em entrevista a este Correio em outubro do ano passado, que vai percorrer o país fazendo campanha para Dilma Rousseff. Outra é acreditar que pode fazer críticas aos adversários da presidente sem ser parcial. Lula tem um lado, queira ou não. E este lado é o do PT e de Dilma, é o da defesa dos últimos 12 anos de gestão de um partido no comando de um país. Isso não se faz pela metade. É impossível defender a zaga ou vestir a camisa de atacante no primeiro tempo e, nos 45 minutos finais, pegar o apito e se transformar em juiz.

Baixarias
Entre políticos e marqueteiros, há uma expectativa de que a eleição deste ano seja uma das mais duras em se tratando de provocações e baixarias, não necessariamente saídas da cabeça dos núcleos da campanha de candidatos da oposição ou do governo. Os primeiros atos já estão na rede, supostamente produzidos por militantes. Mediar tais ações será uma das missões mais complicadas para os tribunais eleitorais. A tarefa caberá a juízes e a ministros. Lula está fora dessa arbitragem.

Fonte: Correio Braziliense

Víctor Lapuente Giné e Johan Sandberg: Robin Hood na América Latina

A aposta em políticas sociais segmentadas, em vez de reduzir, contribui para reproduzir a forte divisão social na região. O verdadeiro desafio da esquerda reformista é optar por políticas que sejam universalistas

A esquerda moderada da América Latina está na moda. Desde o começo do século ouvimos inumeráveis louvores ao Chile de Bachelet, ao Uruguai de Mujica e ao Brasil de Lula e Rousseff por parte de um grande número de analistas internacionais, incluindo vozes tão liberais como as de Vargas Llosa ou o semanário The Economist. Como cereja do bolo, este declarou o Uruguai como o país do ano, para regozijo do primeiro – que escreveu O Exemplo Uruguaio (EL PAÍS, 29/12/2013), elogiando as reformas empreendidas pelo “simpático estadista” Mujica, que “vive muito modestamente”. É que, com razão, os apologistas dessa esquerda “inteligente” contrapõem seus bons resultados – em liberdades civis, crescimento econômico e eliminação da pobreza – ao desastroso socialismo bolivariano.

Entretanto, tal comparação entre as esquerdas latino-americanas, tão salientada pela imprensa, é totalmente insuficiente, sobretudo se levarmos em conta o nível de desenvolvimento da região no ano de 2014. Deveríamos comparar os progressos da esquerda latino-americana com os da esquerda reformista que universalizou os Estados de bem-estar na Europa durante o século XX – os da Suécia nos anos trinta, dando lugar ao modelo paradigmático, a Espanha nos oitenta, dando lugar a uma versão mais adocicada (e que parece na atualidade se esfumar a passos largos). A chave dessa esquerda reformista européia – em contraste com experiências prévias, como a atrapalhada esquerda da República espanhola ou com a esquerda dominante no continente americano (dos EUA para baixo) – foi romper com uma concepção de Estado mantida, histórica e intuitivamente, pelo pensamento progressista: o Estado como uma espécie de Robin Hood, cuja função seria tirar dos ricos para dar aos pobres.

Obviamente, a esquerda tradicional expôs variantes muito diversas de Robin Hoods: de um Estado “bolcheviquizado” (ou bolivariano) que ataca os capitalistas violando as regras do Estado de direito, até outro que transfere dinheiro ou cestas básicas para os mais desfavorecidos, com a aquiescência do xerife de Nottingham. O segundo Robin Hood é muito melhor que o primeiro em todos os sentidos, mas nem um nem outro representam a garantia de criação de uma sociedade equitativa em longo prazo, algo que podemos ver na América Latina. Como mostra um recente relatório do Banco Mundial, embora a população latino-americana vivendo abaixo da linha da pobreza extrema tenha se reduzido pela metade nas duas últimas décadas (graças ao forte crescimento econômico e aos programas sociais postos em execução), a desigualdade econômica continua em níveis muito altos.

Uma primeira razão é que a esquerda moderada latino-americana governa Estados com uma capacidade arrecadadora muito pequena. Agora, como as pequenas bolsas recolhidas por esses amáveis Robin Hoods são redistribuídas inteligentemente entre os mais desfavorecidos (e alguns grupos eleitoralmente estratégicos), elas são suficientes para escorar os Governos de esquerda no poder.

Em segundo lugar, há dúvidas sobre a eficácia em longo prazo das suas políticas contra a exclusão social. Fixemo-nos nos resultados do programa mais elogiado – as transferências condicionadas a contrapartidas, como, por exemplo, que as crianças passem por consultas médicas e frequentem a escola (programas que abrangem, em distintas versões, mais de 113 milhões de latino-americanos) –, no país mais elogiado (o Uruguai). Apesar de óbvios benefícios imediatos em termos de redução da pobreza, essas transferências geraram incentivos perversos. Por exemplo, a criança se matricula na escola, mas não frequenta as aulas. As transferências tampouco enfrentam as causas de fundo da desigualdade, como a alarmante taxa de evasão escolar (que se traduz no fato de que 70,8% dos uruguaios procuram seu primeiro emprego tendo só a educação primária), uma forte segmentação do mercado de trabalho e uma segregação urbana que separa as classes sociais em bairros específicos, os quais, por sua vez, também têm escolas que oferecem oportunidades de aprendizagem muito diferentes.

Aqui radica um problema essencial dessas políticas tão difundidas. Elas atuam sobre a demanda da educação, dando incentivos econômicos aos pais; mas à custa, porque os recursos são sempre limitados, da oferta educacional. Ou seja, de dotar o país de escolas públicas da máxima qualidade para todos, que é o que, afinal de contas, pode romper a intensa transmissão geracional da pobreza sofrida pela região.

Em nível geral, as pesquisas de cientistas sociais como Bo Rothstein mostram os efeitos contraproducentes e indesejados das políticas sociais condicionadas às necessidades individuais: quem recebe as ajudas fica estigmatizado (e isso pode afetar a sua posterior integração social); quem por pouco não as recebe se zanga (ou recorre à fraude para “entrar de penetra” entre os beneficiários. É importante sublinhar que a corrupção pode ser um efeito colateral dos programas sociais seletivos); e quem nem de longe as recebe se deixa convencer facilmente por demagogos segundo os quais ajudar os outros equivale a esbanjar. Além disso, todos perdem a confiança social, que é a cola, delicada e imprescindível, que mantém uma sociedade coesa. Como resultado, os cidadãos não se sentem partícipes de um projeto comum, e sim identificados com seu grupo social mais próximo.

Isto é o que tememos que esteja ocorrendo na América Latina: uma aposta em políticas sociais segmentadas que, em vez de reduzirem, ajudam a reproduzir a forte segmentação social na região. Mas qual é a alternativa? Uma esquerda mais revolucionária?

Certamente não. Garantir uma verdadeira igualdade de oportunidades só é possível com uma esquerda reformista que, reprimindo a tentação de ser Robin Hood (que é muito atraente), opte por políticas verdadeiramente universalistas. Educação, saúde, políticas de assistência familiar e outras que atendam a todos, ou à imensa maioria dos cidadãos. Se as políticas estão baseadas na concepção de que diferentes cidadãos compartilham um mesmo destino, geraremos coesão social. 

Em vez do ideal de Robin Hood (que sobrepõe a justiça distributiva a outras considerações), poderíamos dizer que o ideal dessa esquerda reformista é o dos mosqueteiros (ou seja, dar preferência à solidariedade social): o um por todos, e todos por um.

A esquerda reformista européia aprendeu que renunciar hoje a uma redistribuição direta (impostos para os ricos e gasto social para os pobres) pode facilitar uma redistribuição mais sustentável amanhã, porque o bolo do público cresce. É mais fácil induzir as classes médias a pagarem impostos elevados – e a se envolverem na incessante e árdua tarefa de melhorar a eficiência dos serviços públicos – quando elas também se beneficiam das políticas sociais.

Entretanto, o caráter eleitoreiro da esquerda na América Latina impede o desenvolvimento desse tipo de política universalista. Por exemplo, quando em 2007 a Frente Ampla uruguaia, então recém-eleita, discutia os contornos do seu Plano de Equidade, alguns quantos “mosqueteiros” propuseram aumentar o número de beneficiários para mais tarde universalizar o programa, assegurando assim o financiamento do mesmo através dos impostos de todos os uruguaios. 

Mas foram derrotados por aqueles “Robin Hoods” que preferiam recursos mais generosos para os mais necessitados. Foi uma decisão compreensível do ponto de vista orçamentário (é difícil defender transferências para os ricos em tempos de crise) e político (como comentou alguém: “Onde estavam as classes médias durante a ditadura?”), mas com efeitos duvidosos sobre a exclusão social em longo prazo.

O atrativo midiático de Lula, Rousseff, Bachelet e Mujica é maior que o dos certamente mais tediosos arquitetos históricos dos Estados europeus do bem-estar, que hoje consideramos emblemáticos. Mas é preciso se perguntar se as suas políticas sociais não estão tão repletas de gestos simbólicos quanto os seus comportamentos individuais. Devemos exigir-lhes mais.

O predomínio dos Robin Hoods não é só um problema latino-americano. Tanto aqui como no resto do mundo a nova esquerda que parece emergir desta crise econômica enfatiza de forma raivosa a justiça distributiva – pensemos no ubíquo lema de “Somos os 99%” – em detrimento do ideal de solidariedade social. Necessitamos com urgência do retorno dos mosqueteiros, porque, para construir sociedades equitativas, não bastam políticas para os 51% nem para os 99%. São necessárias políticas para todos.

Víctor Lapuente Giné é professor na Universidade de Gotemburgo, e Johan Sandberg é professor na Universidade de Lund, ambas na Suécia.

Fonte: El País, 30/1/2014

Diário do Poder- Cláudio Humberto

• ‘Comandante’ Dilma se diverte alterando rotas
Habituados aos desvios de rota determinados pela presidenta Dilma nas viagens ao exterior, o Itamaraty e a Força Aérea Brasileira (FAB) agora elaboram planos de voo detalhando apenas a ida, e deixando a volta ao Brasil em aberto, a cargo da chefa. Diplomatas são obrigados a ficar de plantão, aguardando decisão de madame, para providenciar de última hora a estrutura e autorizações de sobrevôo nos países.

• Poderia ser pior
O pernoite de Dilma em Portugal, no hotel Ritz, embora previsto e o governo português ciente, só foi confirmado por ela dois dias antes.

• Sai caro
Além do mal-estar diplomático, devido à comunicação sempre em cima da hora aos governos locais, os gastos da viagem multiplicam.

• Diversão
O ex-presidente Lula também se divertia mudando os planos de voo, como Dilma, mas com regularidade bem menor que a sucessora.

• Previsível
Já o ex-presidente FHC, segundo palacianos, decidia tudo com antecedência, e cumpria à risca os planos de voo de ida e volta.

• Agnelo decide punir PMs amotinados no DF
Após reunião com o secretário de Segurança Pública e o comando da Polícia Militar do Distrito Federal, o governador do DF, Agnelo Queiroz, decidiu instaurar processos administrativos para eventualmente punir os policiais que fazem corpo mole, em “operação tartaruga”, para deixar a população à mercê dos bandidos. Pelo menos cinco policiais militares já foram identificados e serão punidos até com demissão.

• Ano de eleição
O comando da Policia Militar do DF se convenceu de que os líderes da “operação tartaruga” estão em campanha para deputado, em outubro.

• Faltou gente
O governo do DF e a Polícia Militar decidiram colocar na rua até os coronéis, “para garantir a segurança da população”.

• Vítimas da leviandade
Nos 31 dias de janeiro, 75 pessoas foram assassinadas em Brasília, a capital da 7ª maior economia do mundo, 41% a mais que em 2013.

• Demissão de Pirro
O ex-ministro Franklin Martins celebrou a demissão da ministra Helena Chagas (Comunicação), quinta à noite, no bar Expand, em Brasília. Deve ter sido uma luta: ele parece ter envelhecido uns vinte anos.

• Ironia do destino
O novo ministro da Comunicação, Thomas Traumann, atuou na Veja, conquistando reputação de profissional competente e bem preparado. Ironia do destino: hoje, os petistas devotam ódio incurável pela revista.

• Agenda positiva
O Solidariedade organiza um encontro mundial de partidos ligados a questão trabalhista no fim de março, na Itália, onde os líderes tentarão, de quebra, agendar uma visitinha ao Papa Francisco, no Vaticano.

• #vemprarua
O corpo mole proposital de PMs, que provocou a explosão de crimes no DF, despertou a população: tem protesto marcado, neste sábado, em frente à residência oficial do governador Agnelo Queiroz (PT).

• Medo de perder
Diante da popularidade do governador Eduardo Campos (PSB), o deputado João Paulo (PT-PE) disse a amigos que avalia até abrir mão da candidatura ao Senado e disputar nova reeleição à Câmara.

• Nem pensar
O governador Sérgio Cabral (PMDB) nem cogita negociar palanque a Eduardo Campos (PSB), a quem não perdoa pelas críticas a Luiz Pezão e por ter “lutado contra o Rio”, na questão dos royalties.

• Recesso prolongado
Apesar de o recesso parlamentar acabar na segunda (3), deputados se preparam para voltar aos trabalhos só na segunda quinzena, após o presidente Henrique Alves e os líderes definirem cargos nas comissões

• Força evangélica
O Pastor Everardo se reunirá com lideranças do PSC em fevereiro para discutir candidatura à Presidência. Pesquisas internas apontam que, com 30 milhões de evangélicos no País, ele despontaria com 5 pontos.

• Olho no 2º turno
Dilma mandou flores para Miguel, filho de Eduardo Campos, e Lula até verteu lágrimas sinceras pela Síndrome de Down do bebê.

Fonte: Diário do Poder

Panorama Político – Ilimar Franco

A bola da vez
Integrantes do núcleo político do governo Dilma temem o efeito eleitoral da inevitável inflação de produtos e serviços estimulada pela vinda de torcedores estrangeiros na Copa. Os aumentos de preços já ocorrem nas cidades-sede, sobretudo no Rio. Não é à toa que o ministro Gastão Vieira (Turismo) e o presidente da Embratur, Flávio Dino, fazem constantes críticas aos abusos do comércio.

Quem sabe faz a hora
O ministro Gilberto Carvalho anunciou ontem que o governo fará campanha publicitária para falar dos benefícios da Copa no Brasil. E que essa providência estaria atrasada. Mas ela não saiu ainda por orientação de João Santana, responsável pelo marketing do governo. Com base em pesquisas, que mostravam forte rejeição à Copa, Santana sustentou que não havia chegado a hora de realizá-la. Por isso, tal campanha, já sugerida pelo ministro Aldo Rebelo (Esportes), não saiu. O chefe do marketing do ex-presidente FH, Nizan Guanaes, quando esteve com Dilma, propôs o mesmo e é dele a frase “A Copa das Copas”, adotada como mantra pela presidente.

“Ou a presidente Dilma vai no palanque de todos ou não vai no de nenhum. Já fiz, mas não posso mais fazer declaração de amor sem reciprocidade”
Carlos Lupi
Presidente do PDT, sobre as eleições para os governos estaduais

Agora é oficial
O candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, acertou ontem com Paulo Vasconcelos, da Vitória CI, que ele será o coordenador de marketing de sua campanha. Ele comandou as três eleições do PSDB para o governo mineiro.

A costura
O PSDB e o DEM chegaram a entendimento pelo lançamento de Paulo Souto (PSDB) ao governo da Bahia. Agora, os dois partidos trabalham para convencer Geddel Vieira Lima (PMDB) a concorrer ao Senado, porque querem evitar duas candidaturas de oposição. Usam como argumento o fato de ser tradição na Bahia o governador eleger o senador.

Perdidos no espaço
Um integrante da Executiva Nacional do PT anda falando por aí que o objetivo do partido é ampliar sua bancada no Senado em outubro. E que a meta é pular de 12 para 24 senadores. Mas, até o momento, só seis candidatos são competitivos.

De volta?
O general Gonçalves Dias, chefe da segurança pessoal do ex-presidente Lula, pode voltar ao Planalto. Ele foi afastado pela presidente Dilma em 2012, mas ela ficou assustada com protesto quando chegava à Arena das Dunas, em Natal. Carros da comitiva foram apedrejados. Dilma tem reclamado da proximidade dos manifestantes.

Acredite se quiser
Em conversa, um membro do staff da candidatura Eduardo Campos, afirma: “A nossa grande perocupação é com a desidratação do Aécio“. E depois pergunta: “Você acha que o Lula vai apoiar quem: esta Dilma ou o galeguinho (Eduardo)?“ Cai o pano.

Jogo pesado
A Abert está preocupada com agressões a repórteres, fotógrafos e cinegrafistas em protestos da Copa. Em 2012, houve 52 casos. Ano passado, 136. A associação quer a garantia dos governos de que os profissionais serão respeitados.

O jornalista Eduardo Oinegue vai comandar o marketing da campanha do candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha.

Fonte: O Globo

O que pensa a mídia - editoriais de alguns jornais

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Michel Zaidan Filho: Carnaval no-brega

Em carnavais passados, a FUNDARPE - quando ainda estava sob o comando de Luciana Azevedo - resolveu promover um debate preparatório sobre a participação do Estado na promoção do carnaval do Recife. Para este evento, foram convidados vários palestrantes ora vinculados à universidade ora ao meio artístico. 

Entre estes, estava o professor Severino Vicente, que se saiu com um achado surpreendente: o carnaval do Recife era um misto de "brega" com "nobrega", ou seja, nem era só brega nem era nobre...ga. 

No carnaval seguinte, enquanto a Prefeitura entregava um cheque em branco para Lenine convidar suas musas para um show particular, Antonio Carlos Nóbrega dava uma entrevista ao caderno C do JC, afirmando a necessidade de uma transformação do carnaval, que segundo ele, estava dominado por esteriótipos e convenções tradicionais e pseudo-populares. Era preciso renovar o Carnaval.

A trajetória artística e carnavalesca de Nobrega é emblemática do percurso que realizam vários artistas independentes, autonomos e criativos. Nobrega abandonou a Universidade para se tornar um criador cultural inspirado em raízes eruditas, sem perder sua relação com o povo, as sugestóes do imaginário e do gosto popular. Fêz parte do quinteto armorial, criado pelo escritor "pernambucano" Ariano Suassuna, e depois seguiu carreira solo. 

Uma certa vez, o encontrei no Rio de Janeiro aprendendo a dançar capoeira. Estudioso e sério como era, tornou-se um artista singular no ambiente da cultural popular de raízes, fazendo uma síntese entre o erudito e o simples. Ficou famoso através de seus espetáculos, a ponto de A Folha de São Paulo lhe dedicar muitas reportagens na Folha Ilustrada. Aí veio a indústria cultural e tomou conta de nosso artista.

A partir daí, Nobrega tornou-se uma celebridade de aldeia. Virou figurinha carimbada no carnaval do Recife e nas vinhetas de Televisão alusivas ao folguedo momesco.

Deixou de ser uma referência culta na área da criação cultural-popular e tornou-se um "garoto propaganda" do carnaval do Recife, mais um esteriótipo, um "reader make", como o Carangueijo com antenas, dos mangueboys. A estrela do artista começou a ser ofuscada por outros artistas - não tão bons como ele - mas de apelo pop e consumivel pela grande massa. Foi quando se fêz ouvir a voz da crítica do velho Nóbrega pedindo mudanças no carnaval do Recife.

A pergunta que resta sem uma resposta clara é: será que o carnaval do "Galo da Madrugada" mudou tanto assim que o antigo artista experimental e erudito tenha aceito se tornar " a marca" do carnaval deste ano? Ou mudou o artísta, com o peso da idade e do esquecimento?

PS; Lembrar que, segundo a Prefeitura do Recife, o carnaval é o seu principal produto turístico a ser vendido aos visitantes estrangeiros. E que os artistas voluntaria ou involuntariamente se vendem ou são vendidos junto com o produto e a gestão municipal que o promove.

Michel Zaidan Filho, sociólogo e professor da Universidade de Pernambuco (UFPE)

Edu Lobo: No cordão da saideira

Pablo Neruda (1904 -1973):A noite na Ilha

Dormi contigo toda a noite
junto ao mar, na ilha.
Eras doce e selvagem entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.

Os nossos sonos uniram-se
talvez muito tarde
no alto ou no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento agita,
em baixo como vermelhas raízes que se tocam.

0 teu sono separou-se
talvez do meu
e andava à minha procura
pelo mar escuro
como dantes,
quando ainda não existias,
quando sem te avistar
naveguei a teu lado
e os teus olhos buscavam
o que agora
— pão, vinho, amor e cólera —
te dou às mãos cheias,
porque tu és a taça
que esperava os dons da minha vida.

Dormi contigo
toda a noite enquanto
a terra escura gira
com os vivos e os mortos,
e ao acordar de repente
no meio da sombra
o meu braço cingia a tua cintura.
Nem a noite nem o sono
puderam separar-nos.

Dormi contigo
e, ao acordar, tua boca,
saída do teu sono,
trouxe-me o sabor da terra,
da água do mar, das algas,
do âmago da tua vida,
e recebi teu beijo,
molhado pela aurora,
como se me viesse
do mar que nos cerca.

Pablo Neruda, in "Os Versos do Capitão"