quarta-feira, 5 de abril de 2017

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

Não se pode contar a história do pensamento e das práticas da democracia brasileira contemporânea sem que se considere a influência exercida pela obra de Antonio Gramsci tanto na política quanto na vida cultural. Vale o registro de que o ponto de partida para sua difusão não nos veio da academia, mas de círculos intelectuais que faziam parte da resistência ao regime ditatorial e que encontraram nele fonte de inspiração para a formulação de uma nova forma de pensar e de agir na política, em um movimento de rejeição crítica às concepções dominantes na esquerda brasileira. Foi a partir de suas obras, editadas por iniciativa de notáveis intelectuais, como Ênio Silveira, Leandro Konder, Carlos Nelson Coutinho e Luiz Gazzaneo, até então conhecidas por poucos, que a reflexão da esquerda teve acesso a categorias e a um sistema de pensamento que lhe permitiu descortinar os rumos em que se deveria empenhar na sua oposição ao regime militar.

*Luiz Werneck Vianna é sociólogo PUC-Rio. “À guisa de um prefácio” , do livro Modernidades alternativas – O século XX de Antonio Gramci

Reforma política do Senado recebe parecer favorável na CCJ

PEC veda as coligações entre partidos nas eleições para deputado e fixa cláusula de desempenho para o funcionamento parlamentar dos partidos

Lucio Bernardo Jr. | Câmara dos Deputados

BRASÍLIA - A proposta de reforma política do Senado recebeu parecer pela admissibilidade na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) nesta terça-feira (4). A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 282/16 veda as coligações entre partidos nas eleições para deputado e vereador a partir de 2020 e estabelece cláusula de desempenho para o funcionamento parlamentar das legendas.

Pelo texto, nas eleições de 2018, apenas os partidos que obtiverem 2% dos votos válidos em pelo menos 14 estados, com no mínimo 2% de votos válidos em cada um deles, terão direito ao funcionamento parlamentar. Isso significa que só essas legendas terão acesso a recursos do fundo partidário, ao tempo gratuito no rádio e na televisão e direito a funcionar como bancada, usando a estrutura própria e funcional nas casas legislativas. A partir de 2022, essa cláusula de desempenho subiria para 3% dos votos válidos.

O relator da matéria na CCJ, deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), acredita que seu parecer pode ser pautado para votação na comissão ainda nesta semana. Pelas regras regimentais da Casa, o texto pode ser incluído na pauta a partir de quinta-feira (6).

Reforma política: deputado apresenta relatório com foco no financiamento público

Lista fechada e fim das coligações também estão previstos no texto entregue nesta terça-feira por Vicente Candido à comissão especial que analisa mudanças no sistema político brasileiro

Janary Júnior | Câmara dos Deputados

BRASÍLIA - O deputado Vicente Candido (PT-SP) entregou nesta quarta-feira (4) seu relatório com propostas para alterar o sistema político brasileiro. O texto, apresentado à Comissão Especial de Reforma Política, sugere mudanças nas principais leis eleitorais (Lei das Eleições, Lei dos Partidos Políticos, Lei de Inelegibilidade e Código Eleitoral).

O foco do relatório é o financiamento público de campanha, combinado com doações de pessoas físicas, e a instituição de listas partidárias preordenadas para as eleições proporcionais (deputados estaduais, distritais e federais, e vereadores), associada com o fim das coligações partidárias.

A lista fechada será o único mecanismo de escolha de deputados e vereadores nas eleições de 2018 e 2022. A partir de 2026, o sistema será semelhante ao adotado na Alemanha: metade dos eleitos virá da lista fechada; e a outra metade, do sistema distrital, que é majoritário (vence o que levar o maior número de votos no distrito).

Presidente da Câmara quer votar reforma política ainda neste semestre

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, informou, nesta terça-feira (4), ao chegar à Casa que pretende discutir e votar a reforma política ainda neste semestre.

Luiz Gustavo Xavier | Câmara dos Deputados

BRASÍLIA - Maia adiantou ainda que pretende instalar, já na próxima semana, a comissão especial que vai analisar a Proposta de Emenda à Constituição aprovada no Senado (PEC 282/16) que acaba com as coligações nas eleições proporcionais e estabelece uma cláusula de desempenho partidário.

Dessa maneira, dois colegiados vão analisar o assunto: a Comissão da Reforma Política, já em andamento na Câmara, e a comissão especial que analisará a reforma sugerida pelos senadores.

Hoje o relator da matéria na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), apresentou parecer pela admissibilidade do texto do Senado.

Já o relator da Comissão Especial da Reforma Política, deputado Vicente Candido (PT-SP), pretende apresentar hoje seu parecer, propondo alterações no sistema eleitoral.

Cientista político defende lista fechada para viabilizar campanhas

Por Rosângela Bittar | Valor Econômico

"Uma eleição parlamentar no Brasil custa muitas vezes mais do que uma eleição em Portugal e Espanha"

BRASÍLIA - O sistema eleitoral que prevalece hoje, no Brasil, é produtor de impasses que vão desde obstáculos ao surgimento de candidaturas novas à impossibilidade de obter financiamento de campanha por vias limpas. Uma forma viável de resolver o problema, com a urgência necessária, é, segundo recomenda o cientista político e sociólogo Antonio Lavareda, aprovar o sistema de lista fechada, para 2018, com voto distrital a ser implantado só em 2022. Essa gradação daria ao Brasil logo, logo um sistema moderno, de moralidade comprovada, que superaria o gargalo da prática eleitoral atual explicitada na Operação Lava-Jato.

A lista fechada, segundo contas feitas por Lavareda, torna as eleições 70% mais baratas. "A gente tem o sistema partidário eleitoral mais caro do mundo que era financiado de forma irregular como a Lava-Jato revelou ao país. E agora a gente está fechando as torneiras mas continua com a mesma sede", afirmou. Seguem trechos de sua entrevista sobre as vantagens da lista fechada.

Valor: João Doria, Fernando Haddad, Henrique Meirelles, não são mais nomes novos na política, já fizeram campanhas pelo condenado sistema em vigor. A um ano e meio das eleições gerais não estão demorando a aparecer os nomes novos dessa política que condena os antigos às penas de cadeia e multa?

Antonio Lavareda: É difícil, mesmo nomes como Joaquim Barbosa, Sergio Moro, que nunca se candidataram, a rigor logo mais não serão propriamente novos.

Valor: No mínimo terão que entrar em um partido. Há tempo?

Lavareda: A nossa Constituição define que o partido tem monopólio da representação. Então, qualquer novidade dessas tem que transitar no partido primeiro. Precisa de um partido, e de expressão, que venha a ter tempo na televisão.

Valor: Há um múltiplo impasse, para surgimento de candidaturas, financiamento de campanhas e fortalecimento partidário?

TSE adia julgamento de Dilma-Temer

Mais testemunhas serão ouvidas, incluindo João Santana e Mônica Moura, que tiveram delação homologada

O julgamento do pedido de cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer foi adiado por tempo indeterminado pelo TSE antes mesmo de começar. Os ministros decidiram reabrir a fase de instrução para ouvir mais testemunhas, incluindo o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura, cuja delação foi homologada ontem pelo STF. Também foram concedidos cinco dias de prazo para as defesas dos partidos se manifestarem. A expectativa é que o julgamento não seja concluído antes do próximo semestre, e possa prosseguir até 2018, ano eleitoral.

Sem final à vista

TSE adia julgamento da chapa Dilma-Temer, que corre risco de ficar para 2018

Carolina Brígido, André de Souza, Letícia Fernandes e Renata Mariz | O Globo

BRASÍLIA - Antes mesmo de começar, o julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do processo que pede a cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer foi adiado por tempo indeterminado. Logo no início da sessão, os ministros decidiram reabrir a fase de instrução para ouvir mais quatro testemunhas. Também foi concedido mais cinco dias de prazo para as defesas dos partidos se manifestarem ao final. Não há data prevista para todos os novos depoimentos. Entre os ministros, a expectativa é que o julgamento não seja concluído antes do próximo semestre, dando mais fôlego para o governo. Há ainda possibilidade de que, após julgamento no TSE este ano, um novo recurso à Corte e outro ao Supremo Tribunal Federal, arraste o caso para 2018, ano eleitoral.

TSE adia julgamento e surpreende defesa de Temer

Decisão surpreende advogados de Temer

Novo prazo para julgamento da chapa agrada ao Planalto, mas convocação de novas testemunhas de acusação é vista como ‘inadequada’

Vera Rosa, Beatriz Bulla, Rafael Moraes Moura, Tânia Monteiro e Carla Araújo | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A suspensão do julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) agradou ao Palácio do Planalto, porque a estratégia do presidente Michel Temer é ganhar tempo para impedir que o desfecho do caso ocorra ainda neste ano. Mesmo assim, advogados do peemedebista não esconderam a contrariedade com a reabertura da fase de instrução do processo e a convocação de novas testemunhas de acusação.

Embora o prazo de mais cinco dias para as alegações finais tenha sido comemorado pelo núcleo político do governo, os pedidos de depoimento dos marqueteiros João Santana, Mônica Moura e André Reis Santana foram vistos pela defesa de Temer como inadequados.

“O processo tem começo, meio e fim, mas agora não há como prever o encerramento da ação”, disse Gustavo Guedes, advogado do presidente, após a sessão interrompida pelo TSE. “É esperar para ver as próximas surpresas.”

Supremo homologa delação de ex-marqueteiros do PT

Fachin homologa delação de João Santana e Mônica Moura

Casal de marqueteiros foi responsável pelas últimas campanhas petistas ao Planalto

Beatriz Bulla, Rafael Moraes Moura e Carla Araújo | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Relator dos processos da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin homologou nesta terça-feira, 4, o acordo de colaboração premiada do ex-marqueteiro do PT João Santana e de Mônica Moura, mulher e sócia do publicitário. A delação do casal foi firmada com o Ministério Público Federal.

Santana e Mônica foram os responsáveis pelas campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014. Quando a delação é encaminhada ao STF significa que os delatores mencionaram autoridades com foro privilegiado perante a Corte.

Santana e mulher detalham ilícito em campanhas do PT desde 2006

Jailton de Carvalho e André Souza | O Globo

Delação premiada de casal foi homologada ontem pelo ministro Fachin

-BRASÍLIA- O publicitário João Santana e a mulher dele Mônica Moura denunciaram, em acordo de delação premiada, movimentação irregular de dinheiro em todas as campanhas eleitorais que participaram no Brasil e em outros países da América Latina de 2006 até serem presos em fevereiro do ano passado. Os dois relataram ilegalidades nas campanhas dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, de Dilma Rousseff, ambos do PT, na mesma linha das acusações formuladas por ex-executivos da empreiteira Odebrecht, segundo disse ao GLOBO uma fonte vinculada ao caso.

Santana foi o marqueteiro das três últimas eleições presidenciais do PT: 2006, quando Lula venceu; e 2010 e 2014, quando Dilma Rousseff ganhou a disputa. Eles teriam relatado irregularidades também nas campanhas de Hugo Chavez, já falecido, e Nicolas Maduro, na Venezuela, de Maurício Funes, em El Salvador, de Danilo Medina, na República Dominicana e de José Eduardo dos Santos, em Angola. Nenhuma das campanhas das quais participaram ficou de fora das delações. As irregularidades estariam relacionadas aos pagamentos pelos serviços que prestaram.

Casal teve que chegar ao coração das ilegalidades

Thiago Herdy | O Globo

Até pouco tempo, era difícil encontrar alguém que apostasse na homologação do acordo

Imagine ganhar uma eleição de virada, no segundo turno, com uma diferença de menos de 1% dos votos. É mais ou menos o que representa a assinatura e homologação do acordo de delação premiada com o Ministério Público para João e Mônica Santana.

Até o início deste ano, era difícil encontrar quem ainda apostasse no sucesso da negociação do casal com a Lava-Jato, depois da homologação do acordo de 78 executivos da Odebrecht. O motivo era simples: a empreiteira entregou provas sobre atos controversos de três das principais figuras do cardápio oferecido pelos baianos aos investigadores: os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega e a ex-presidente Dilma Rousseff.

Para conseguir um acordo, o casal Santana teve que aumentar a oferta.

O desencanto de ex-eleitores do PT

Estudo de instituição ligada ao PT mostra o desencanto com o partido entre moradores da periferia de SP. A pesquisa revela ainda a descrença no Estado e a convicção de que a ascensão social vem do esforço de cada um.

Em SP, o vácuo entre PT e eleitorado

Pesquisa de fundação ligada ao partido mostra que bandeiras da esquerda ficaram datadas

Sérgio Roxo | O Globo

-SÃO PAULO- Uma pesquisa da Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT, com ex-eleitores do partido aponta um descolamento entre o discurso da legenda e o que pensam moradores da periferia de São Paulo. O levantamento qualitativo, feito entre novembro do ano passado e janeiro deste ano, revela que, para a população de favelas e de bairros afastados do Centro, o Estado é o grande adversário do cidadão. Também, ao contrário do que tem apregoado o PT, não existe disputa entre ricos e pobres.

O embate entre esquerda e direita, tão propagado pelos dirigentes petistas, é considerado inexistente.

— É visível que há uma desconexão muito forte entre o discurso petista e a periferia — avalia o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV.

Corrente de Lula escolhe Gleisi para presidir o PT

A escolha da senadora provocou embates durante reunião da corrente Construindo um Novo Brasil, majoritária no partido

Vera Rosa | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), majoritária no PT, escolheu a senadora Gleisi Hoffmann (PR) para ser candidata à presidência do partido. A ideia de lançar Gleisi foi do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desistiu de comandar o PT e quer uma “cara nova” na direção do partido.

A escolha da líder do PT no Senado e ex-ministra da Casa Civil no governo Dilma Rousseff provocou muitos embates durante reunião da CNB, realizada nesta segunda-feira, 3, em São Paulo. Diante da insistência de Lula em emplacar Gleisi, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha e o deputado federal Márcio Macedo (PT-SE) acabaram retirando suas pré-candidaturas.

Até agora, porém, o senador Lidndbergh Farias (PT-RJ) ainda é o nome do grupo Muda PT para enfrentar a corrente majoritária na eleição para a presidência do partido, que ocorrerá em junho, durante o 6.º Congresso Nacional da sigla, em Brasília. O grupo Muda PT abriga correntes de esquerda no espectro ideológico do petismo e faz oposição à CNB.

Gleisi e Lindbergh são investigados pela Operação Lava Jato. Os dois negam irregularidades.

Fundações ligadas a PT e PSDB abrem diálogo inédito

Encontro, no dia 18, em SP, vai discutir pesquisa feita na periferia e marca aproximação entre as duas siglas

Ricardo Galhardo e Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

Em um movimento classificado como inédito por petistas e tucanos, dirigentes dos braços teóricos do PT e do PSDB se reunirão no próximo dia 18 na Fundação Perseu Abramo, em São Paulo, para um debate político.

Partiu de Marcio Pochmann, presidente da Perseu Abramo, ligada ao PT, o convite para os Institutos Fernando Henrique Cardoso (IFHC) e Teotônio Vilela, ligados ao PSDB. A pauta será uma pesquisa qualitativa feita pela fundação entre ex-eleitores da sigla na periferia de São Paulo.

O resultado mostrou que, para uma parcela deste segmento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o apresentador Silvio Santos e o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), têm perfis semelhantes. O significado do encontro, porém, é mais amplo. “Precisamos de uma agenda para deixar o Brasil mais contemporâneo. Um dos pontos convergentes pode ser a reforma política”, disse José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela.

Atlas busca medir impacto do setor cultural no crescimento econômico

Roberto Freire, ministro da Cultura: "Até hoje só existiam estudos que falavam de empresas e empregos"

Por Jacilio Saraiva | Valor Econômico


SÃO PAULO - Os setores econômicos criativos representam cerca de 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, tiveram crescimento acumulado de quase 70% nos últimos dez anos e constituem 3,5% da cesta de exportação brasileira. Os dados constam do "Atlas Econômico da Cultura Brasileira", que será apresentado hoje, e levam o ministro da Cultura, Roberto Freire, a defender que o setor cultural também pode ajudar o país a sair da crise.

No estudo, elaborado pela pasta em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia criativa engloba negócios que se originam de produtos ou serviços ligados à cultura, moda, design, música e artesanato, além de tecnologia e inovação.

Os dois primeiros volumes da série, inédita no país, apresentam números de setores como audiovisual, editorial, jogos digitais, museus e música, além de pesquisas de outros países, como Espanha e Holanda. O investimento no projeto é de R$ 1,3 milhão e inclui a criação de uma plataforma digital para acesso e atualização de dados on-line. "Com esse material, poderemos medir o impacto das indústrias criativas sobre o crescimento econômico", diz Freire.

O livro de Giuseppe Vacca | Marco Aurélio Nogueira

A questão não é se proclamar marxista ou gramsciano, mas sim valorizar as categorias e a perspectiva filosófica e ético-política de Marx e Gramsci – dois gigantes do pensamento crítico moderno – para dialogar com o mundo contemporâneo e refinar o discurso teórico. Mais importante que reiterar convicções é manter viva a chama da inquietação intelectual e continuar em busca da renovação teórica, tarefa que tipifica as melhores tradições críticas.

Essa a mensagem que se pode extrair do denso livro de Giuseppe Vacca, um marxista que se dedica há décadas a fazer avançar a análise dos processos que organizam e revolucionam o mundo em que vivemos. Vacca não deseja repisar o terreno em que floresceram as ideias de Gramsci e seu profícuo diálogo com Marx, nem defender a validade e a atualidade da teoria gramsciana e do próprio marxismo. Tudo isso está, para ele, pressuposto.

Delações fundamentais | Merval Pereira

- O Globo

As delações premiadas do marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, homologadas ontem pelo ministro Edson Fachin no Supremo Tribunal Federal, vão esclarecer muitas coisas, e não apenas sobre a campanha eleitoral de 2014, cujo julgamento de contas iniciou-se ontem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas foi interrompido para que sejam ouvidas novas testemunhas — especialmente os dois novos delatores, que estão entre os cinco que receberam mais dinheiro ilegal da Odebrecht.

Quem fez essa avaliação foi o ex-coordenador do Departamento de Operações Estruturadas Hilberto Mascarenhas, o homem que controlava o fluxo das propinas. A primeira informação de que os responsáveis pela propaganda política do PT haviam feito as delações veio do vice-procurador eleitoral, Nicolao Dino, durante a primeira sessão do julgamento do TSE.

Dilma x Dilma | Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

Fala de Dilma antes do julgamento que pode levar à perda de seus direitos foi vista como desastre

Um dos únicos consensos entre ministros, advogados e procuradores na tumultuada sessão de ontem do Tribunal Superior Eleitoral era de que a entrevista concedida por Dilma Rousseff no dia do início do julgamento do pedido de cassação da chapa que encabeçava foi uma bomba. Para ela.

Advogados ligados ao PT já se arrepiaram de a ex-presidente abrir o verbo sobre o caso que pode levar à perda de seus direitos políticos justamente ontem.

Mais: quando diz que seu comitê financeiro custeou quase todas as despesas de Michel Temer, de jatinhos ao pagamento de salário de assessores, e foi responsável pelo grosso da arrecadação, Dilma praticamente corroborou a tese de que Temer não teve a chamada “responsabilidade objetiva” por eventuais irregularidades no caixa.

“É um desastre completo essa entrevista agora!”, espantava-se um jurista simpático ao PT diante das declarações de Dilma, dadas ao jornal Folha de S.Paulo. Dois ministros do TSE expressaram a mesma opinião.

A defesa de Temer não deixará passar o sincericídio da ex-presidente. Vai utilizar a entrevista como prova na nova manifestação que poderá fazer nos autos com a reabertura do prazo.

Nas entranhas do PT | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

A Polícia Federal e o Ministério Público já têm provas robustas de que a origem do dinheiro era a propina da Petrobras

O ministro Luiz Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), homologou ontem o acordo de delação premiada do ex-marqueteiro do PT João Santana, de sua mulher, Mônica Moura, e de André Luis Reis Santana, funcionário do marqueteiro. Agora, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pode avançar nas investigações sobre as campanhas eleitorais do PT de 2006, 2010 e 2014, nas quais o casal foi peça chave.

Em liberdade provisória, a delação premiada do casal é mantida em sigilo, mas é uma bomba para a cúpula do PT, que, desde o início da Operação Lava-Jato, vem sustentando a tese de que toda a campanha foi financiada por “doações legais”. A Polícia Federal e o Ministério Público, porém, já têm provas robustas de que a origem do dinheiro era a propina da Petrobras e de que parte da campanha foi financiada diretamente pelo caixa dois da Odebrecht. As delações premiadas de Marcelo Odebrecht e executivos da empreiteira, por exemplo, corroboram as informações.

Reformas: às favas a popularidade | Rosângela Bittar

- Valor Econômico

O governo Temer tem uma agenda dura e com ela ficará

Há coerência e relação de causa e efeito na declaração do presidente Michel Temer, feita ao Valor, de que decidiu enfrentar os problemas do país e deixar que seu curto governo se registre na história como um governo de reformas, sem paralisantes tensões com baixa popularidade. Para aprová-las, precisa do Congresso, onde construiu uma base de apoio inédita, formando um sistema de governo que denomina semiparlamentarista.

As reformas, porém, são, por natureza, impopulares, o que piora os conceitos atribuídos ao governo e ao presidente na avaliação da sociedade manifestada em pesquisas de opinião.

Teoricamente, essa combinação de fatores, ou choque, sempre foi uma explosiva combustão a minar o apoio de bases aliadas no Parlamento. Deputados e senadores não gostam de governos impopulares. Sem o seu apoio, não se aprovam as reformas.

A enjeitada | Míriam Leitão

- O Globo

Os interessados no adiamento do julgamento no TSE são muitos. O grupo reúne o presidente Michel Temer, a ex-presidente Dilma e até, por ironia, o PSDB, autor da ação. Os partidos da coalizão que ficaram com Dilma, e os que migraram para o governo Temer, os empresários e o mercado financeiro. Difícil é encontrar quem esteja interessado em que o processo ganhe celeridade.

Ontem, os ministros do TSE adiaram a leitura do voto do relator Herman Benjamin, que iniciaria o julgamento, depois dos pedidos dos advogados de Dilma e Temer para que houvesse mais prazo para as alegações finais. Em vez de dois dias, cinco dias. Três dias restantes para completar cinco, ou novos cinco? Valeu a segunda opção. Mas, antes das alegações finais dos advogados de defesa, será ouvida uma testemunha de defesa, o ex-ministro Guido Mantega. E outras testemunhas que o viceprocurador-geral eleitoral Nicolao Dino incluiu: Mônica Moura, João Santana e André Santana.

Amor pelo Estado arruína estatais | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

O investimento das estatais federais caiu pela metade de 2014 para 2016. O investimento direto do governo federal "em obras" caiu 39%.

Tudo somado e corrigido pela inflação, dá uns R$ 83 bilhões de queda, de 2014 para 2016. Muito, pouco? Bastante para explicar parte da ruína. Nos últimos 12 meses, o governo investiu apenas R$ 38 bilhões. No fim deste ano, talvez pífios R$ 26 bilhões.

O investimento total na economia em novos equipamentos, máquinas e instalações produtivas foi da ordem de R$ 1 trilhão em 2016. Para alguém menos dado a acompanhar essa numeralha, menos R$ 86 bilhões pode não parecer um desastre.

Em si, essa baixa já seria um desastre. Para piorar, o investimento federal teria efeito indutor (levaria empresas privadas a investir também) e multiplicador (o investimento afetaria de modo positivo o movimento de outros negócios).

2018 já chegou | Fábio Alves

- O Estado de S. Paulo

A tramitação da reforma da Previdência já está de mãos dadas com as eleições de 2018

As eleições presidenciais de 2018 ainda não estão no radar dos investidores, mas deveriam estar. O grande risco em relação aos ativos brasileiros, como as ações negociadas em bolsa e o câmbio, resume-se na seguinte questão: haverá continuidade da política econômica após 2018 ou poderemos ver uma guinada heterodoxa aos moldes da Nova Matriz Econômica adotada pelo governo Dilma Rousseff?

Indagado se os investidores já estavam preocupados com a corrida eleitoral para 2018, o gestor de um fundo estrangeiro com grande exposição ao Brasil disse que o único foco da atenção do mercado por enquanto é a aprovação da reforma da Previdência. Segundo ele, que pediu para não ser identificado, somente após a votação final da reforma é que o mercado passará a reagir mais às pesquisas de intenção de voto para 2018 e ao noticiário sobre potenciais candidatos à Presidência.

No país dos juros altos | Cristiano Romero

- Valor Econômico

Juro alto é resultado de "pacto" perverso da sociedade brasileira

Entre todos os problemas que assolam a economia brasileira, o juro alto parece ser o mais insolúvel. Mesmo em períodos de bonança, como o do boom de commodities entre 2004 e 2010, o juro ficou bem acima dos padrões internacionais. A conclusão à que se chega quando se verificam as razões para essa chaga é uma só: existe um "pacto" perverso na sociedade brasileira que impede a solução dos conflitos que tornam o Brasil, há décadas, o campeão mundial dos juros.

É bom lembrar que o juro é um preço da economia, a consequência e não a causa dos males que nos afligem; um sintoma do conflito distributivo que caracteriza o país desde os primórdios. Não se trata, como muitos acreditam, de valor estabelecido de forma discricionária pelo Comitê de Política de Monetária (Copom) do Banco Central (BC), responsável pela definição da taxa básica de juros (Selic).

Pezão foi condenado a viver a ruína | Elio Gaspari

- O Globo

Nada funciona no Rio, só o gabinete do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal, mas isso já é um consolo

Tendo vivido o esplendor da ilusão cabralina, quando foi secretário de obras e vice-governador, Luiz Fernando Pezão está condenado a viver sua própria ruína. Aquele teleférico do Morro do Alemão, que foi inaugurado duas vezes, está parado (Ele se entristecia quando era exposto ao ridículo das duas inaugurações). A política de segurança do xerife José Mariano Beltrame ruiu, as contas públicas jogaram o governador para a condição de pedinte, e os cidadãos a um período de decadência jamais visto. Sérgio Cabral está em Bangu, decidindo entre uma cana de 40 anos e a possibilidade de colaborar com a Viúva, cuja bolsa repetidamente assaltou. O coral dos poderosos da ilusão cabralina já tem dois doleiros, um ex-presidente do Tribunal de Contas, seu filho, e mais gente na fila.

Processo lento no TSE exige blindagem da economia – Editorial | O Globo

A perspectiva de um julgamento cujo desfecho se aproximará do calendário eleitoral de 2018 requer cuidados, para que a retomada seja blindada contra expectativas

Confirma-se, logo no início do julgamento da chapa Dilma-Temer, que a tramitação do processo no plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não será veloz, contra a visível vontade de o relator, ministro Herman Benjamin, de dar uma sequência mais rápida aos trabalhos. A sessão de abertura do julgamento, ontem, presidida por Gilmar Mendes, também ministro do Supremo, foi encerrada com a concessão de mais cinco dias para a defesa da ex-presidente Dilma acrescentar alegações finais ao processo. Prazo, porém, a ser contado apenas depois de novos testemunhos: a pedido de advogados de Dilma, do ex-ministro Guido Mantega, citado por Marcelo Odebrecht como substituto de Antonio Palocci nos contatos com a empreiteira para acertar contribuições eleitorais; e, por indicação do Ministério Público, o casal de marqueteiros políticos João Santana e Mônica Moura, pagos pela Odebrecht no exterior, bem como seu operador financeiro André Santana.

A contaminação dos TCs – Editorial | O Estado de S. Paulo

Três anos de ampla e diligente investigação sobre corrupção na gestão da coisa pública, trabalho de que a Operação Lava Jato é símbolo, revelam o óbvio a uma nação perplexa: a má política, incapaz de distinguir o público do privado e sempre disposta a colocar o interesse pessoal acima do interesse público, é a principal responsável pela roubalheira generalizada que se coloca como um dos entraves ao desenvolvimento econômico e social do País. Recentemente, um lamentável episódio confirmou essa triste realidade, no âmbito de uma instituição que existe exatamente para fiscalizar as contas dos governantes: cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio (TCE-RJ) foram presos numa operação policial de combate à corrupção. Longe de ser uma exceção, esse episódio revela o que parece ser a regra do funcionamento dos tribunais de contas (TCs) no País, de acordo com levantamento feito pela ONG Transparência Brasil.

Tensão sul-americana – Editorial | Folha de S. Paulo

Um pouco por coincidência, muito por fragilidade institucional, uma sucessão de crises e conflitos eclodiu na América do Sul ao longo dos últimos dias.

Os fatos mais graves, de novo, ocorreram na Venezuela, já vitimada por um colapso da economia —contração estimada em 10% no ano passado e inflação a caminho dos quatro dígitos.

Lá, o regime chavista ensaiou um golpe de Estado, com o fechamento, na prática, do Legislativo. A pressão internacional levou o governo de Nicolás Maduro a recuar, o que agora anima a oposição a promover manifestações de rua.

No Equador, o candidato governista à Presidência, Lenín Moreno, venceu a eleição por estreita margem, e o postulante derrotado, Guillermo Lasso, fala em fraudes e contesta o resultado do pleito.

No Paraguai, protestos violentos foram desencadeados por uma manobra parlamentar patrocinada pelo presidente Horacio Cartes, que aliou-se à oposição de esquerda para votar, sem a participação de outros partidos, emenda que permitiria a reeleição do mandatário.

Queda da Selic reduz gasto com juro, mas não o endividamento – Editorial | Valor Econômico

O mercado financeiro já dá como certo que o Copom vai reduzir os juros em um ponto percentual na reunião da próxima semana. Mais do que isso, a pesquisa Focus, divulgada anteontem, diminuiu ainda mais as previsões para a Selic. A mediana das estimativas da taxa básica para o fim do ano caiu para 8,75% em comparação com os 12,25% atuais, arrastada pelas perspectivas benignas para a inflação.

A aceleração do corte dos juros pelo Banco Central (BC) vai produzir forte impacto no custo da dívida e melhora no resultado nominal do setor público. Calcula-se que cada ponto a menos na Selic resulte em uma economia de R$ 26 bilhões nas despesas de juros ao longo de um ano. Levando-se em conta a redução prevista de 5,25 pontos chega-se ao redor de R$ 150 bilhões, valor relevante considerando-se que o saldo de juros nominais ficou ao redor de R$ 400 bilhões no ano passado.

Estão aqui as pobres coisas | Jorge de Lima

Estão aqui as pobres coisas: cestas
esfiapadas, botas carcomidas, bilhas
arrebentadas, abas corroídas,
com seus olhos virados para os que

as deixaram sozinhas, desprezadas,
esquecidas com outras coisas, sejam:
búzios, conchas, madeiras de naufrágio,
penas de ave e penas de caneta,

e as outras pobres coisas, pobres sons,
coitos findos, engulhos, dramas tristes,
repetidos, monótonos, exaustos,

visitados tão só pelo abandono,
tão só pela fadiga em que essas ditas
coisas goradas e órfãs se desgastam.

Invenção de Orfeu, Canto Quinto, trecho final do poema V

António Jobim - Orfeu Negro