segunda-feira, 2 de maio de 2011

Reflexão do dia – Rubens Ricupero

"O problema é que ninguém se dispõe a ocupar o vazio criado pela retração de Washington, a começar pela China que, fora dos negócios de seu direto interesse, demonstra inapetência ainda maior que a americana pelos assuntos globais. Não era diferente a atitude do Japão na época em que parecia destinado a rivalizar com os EUA. O que impõe pergunta perturbadora, ainda que a deriva do eixo do mundo em direção à Ásia demore décadas: como seria uma ordem internacional pós-ocidental? A não ser quando é imposta pela força, a hegemonia tem de ser cultural e moral, cimentada por ideais e valores partilhados por culturas e países diversos. Sabemos quais são os valores e ideais universais do Ocidente. Quem é capaz de dizer quais seriam os da China?"

RICUPERO, Rubens. Cansado de ser líder. Folha de S. Paulo, 1/5/2011

Fantasma da inflação ocupa palanque do 1º de Maio

Aécio acusa governo de omissão no combate à alta dos preços; em carta, Dilma diz que poder aquisitivo será mantido

Silvia Amorim

SÃO PAULO. A festa organizada pelas centrais sindicais, sob comando da Força Sindical, para comemorar o 1º de Maio ontem, em São Paulo, foi marcada por um embate entre governo e oposição sobre o retorno da inflação no país. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), um dos líderes da oposição, acusou o governo de omissão na tarefa de evitar a escalada inflacionária. Ausente da comemoração por estar com pneumonia, a presidente Dilma Rousseff mandou mensagem, lida pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, garantindo que o poder aquisitivo do trabalhador não será afetado pela alta de preços.

"Não permitirei, sob nenhuma hipótese, que a inflação volte a corroer o poder aquisitivo dos trabalhadores", disse Dilma no texto lido por Carvalho.

Pouco antes, no mesmo palanque, Aécio pediu atenção dos trabalhadores para a postura do governo em relação à inflação. O tema é uma aposta do PSDB para desgastar o governo Dilma.

- Venho aqui, como companheiro da oposição, para dizer que vamos estar firmes denunciando a omissão do governo em relação ao retorno da inflação, que penaliza principalmente a classe trabalhadora - disse Aécio, que lançou provocações:

- Eu quero dizer aos petistas de todo o Brasil: apertem os cintos e sejam muito bem-vindos ao maravilhoso mundo das privatizações - disse Aécio, em entrevista, referindo-se a concessões de aeroportos.

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, defendeu Dilma:

- Acho que vamos gerar mais de 2,5 milhões de empregos, chegando a 3 milhões. Nós vamos trabalhar para isso, controlando a inflação.

Foi a segunda vez em uma semana que Dilma reforçou publicamente o compromisso de controlar uma onda inflacionária. O centro da meta fixado pelo governo é de 4,5%, com tolerância de dois pontos percentuais, podendo chegar, no máximo, a 6,5%. A inflação acumulada dos últimos 12 meses chega a 6,3%.

Durante o ato político, promovido por Força Sindical, UGT, CGTB, Nova Central e CTB, parte da estrutura metálica de sustentação de um dos telões cedeu parcialmente, comprometendo a área destinada a deficientes físicos. O setor foi evacuado pelo Corpo de Bombeiros. Ninguém ficou ferido. Houve shows e sorteios de 20 carros. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), recebeu vaias ao iniciar o seu discurso, mas minimizou o fato, alegando ter partido de um "pequeno grupo".

A festa da Central Única dos Trabalhadores (CUT), no Centro de São Paulo, reunião menos de 300 pessoas. Foi promovida à tarde, sob chuva e no horário da semifinal do campeonato paulista de futebol. Em São Bernardo, o evento do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, reuniu de cerca de 10 mil pessoas.

FONTE: O GLOBO

Bin Laden está morto

O líder da al-Qaeda, Osama bin Laden, responsável pelos atentados de 11 de Setembro, há dez anos, foi morto ontem no Paquistão, numa operação de 40 minutos comandada diretamente pela Casa Branca, com apoio paquistanês. O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou amorte do terrorista mais procurado do mundo num pronunciamento no fim da noite. Militares americanos estariam com o corpo de Bin Laden. “Em noites como esta”, afirmou Obama, “podemos dizer que a justiça foi feita”. O presidente americano frisou que “os Estados Unidos não esqueceram seus mortos” e que sua guerra é contra o terror, e não contra o islamismo.

EUA matam Bin Laden

Dez anos após o 11 de Setembro, líder terrorista é morto em operação no Paquistão

Fernando Eichenberg
Correspondente

A longa e incessante caça ao inimigo no -1 dos Estados Unidos desde o ataque de 11 de setembro de 2001, Osama bin Laden, foi encerrada ontem no Paquistão. O principal líder da organização terrorista al-Qaeda foi morto num complexo residencial na localidade de Abbottabad, próximo à cidade de Islamabad. O anúncio de sua morte foi feito ontem às 23h35m (hora local) pelo presidente dos EUA, Barack Obama, em um pronunciamento na TV direto da Casa Branca.

— A justiça foi feita. Foi um trabalho muito duro, muitas famílias tiveram que pagar um preço alto,mas esta noite elas viram o resultado — disse o presidente, afirmando que os EUA “não esquecem seus mortos” e conclamando os americanos a retomarem o sentimento de união demonstrado após os ataques terroristas de 2001. Obama revelou que informações de maior credibilidade sobreo paradeiro de Bin Laden haviam sido coletadas pelos serviços de inteligência no início do mês de agosto. Há uma semana, o governo avaliou que havia dados suficientes para que uma operação fosse deflagrada. Segundo o presidente, um pequeno grupo de soldados atacou oesconderijo, e o combate de 40 minutos resultou na morte do líder terrorista, sem vítimas pelo lado americano. Seu corpo foi colocado sob custódia das forças dos EUA. Segundo informações divulgadas, outras pessoas também foram mortas junto com o líder terrorista, inclusive uma mulher . O presidente ressaltou que os EUA não estão em guerra contra o Islã, afirmando que Bin Laden não era um líder religioso muçulmano, mas sim “um assassino em massa”, responsável pela mortes de um grande número de muçulmanos. De acordo com altos funcionários do governo, investigações mais aprofundadas sobre a possível localização de Bin Laden começaram em setembro do ano passado. Em março e abril deste ano, a CIA forneceu um dossiê mais completo à Casa Branca, e Obama deu sinal verde para que a operação fosse levada a cabo.

Obama ligou para ex-presidentes

Ontem, antes de falar à nação, Obama telefonou para os ex-presidentes George W. Bush eBill Clinton. Bush, que estava na Presidência no momento dos atentados de Nova York, considerou a morte de Bin Laden como “uma vitória para os EUA”. Diante da Casa Branca, uma multidão se reuniu mesmo antes do anúncio presidencial, exibindo a

bandeira nacional americana e celebrando a esperada, histórica e simbólica vitória sobre o arquiteto dos atentados em Nova York, ao Pentágono, em Washington, e ao avião na

Pensilvânia que causaram a morte de quase 3mil pessoas. Além dos ataques que derrubaram as Torres Gêmeas echocaram omundo, Bin Laden era também acusado por comandar dezenas de outros atentados, incluindo as explosões em duas embaixadas americanas na África, em 1998. Obama conseguiu o que seu antecessor,George W. Bush, tentou por todos os meios em seus dois mandatos, eentrará para aHistória como o presidente que eliminou um dos mais temíveis terroristas do glo-bo e uma das maiores ameaças para o país. Em um momento difícil para o governo, ainda envolvido com embates no Iraque, na guerra do Afeganistão e no recente conflito na Líbia, a morte de Bin Laden deverá alterar o tabuleiro na luta contra o terrorismo internacional e nos conflitos em que os EUA estão envolvidos. Ontem, os EUA colocaram suas missões diplomáticas pelo mundo em estado de alerta máximo, temendo represálias após oanúncio da morte do líder terrorista.

FONTE: O GLOBO

A honestidade do PT:: Fernando de Barros e Silva

No longínquo ano de 2000, Lula publicou um artigo histórico na "Gazeta Mercantil". Chamava-se "A honestidade como vantagem comparativa". Na ocasião, o PT o recomendou a todos os que disputavam as eleições municipais, como arma de campanha.

Citei essa peça de museu há três anos, neste espaço. Volto a fazê-lo sem a pretensão de recomendá-la ao partido que acaba de reincorporar Delúbio Soares a seus quadros.

A honestidade há muito deixou de ser uma "vantagem comparativa" do PT (a despeito de vários bons sujeitos que lá estão). Mas tampouco a desonestidade se tornou uma desvantagem na comparação com as demais legendas, como a oposição, no seu moralismo cínico e à falta do que dizer, pareceu apostar. Aos olhos do eleitorado, nenhum partido tem hoje o monopólio da ética (o PSOL talvez pudesse reivindicar o troféu, mas é irrelevante).

Isso não significa que a opinião pública seja indiferente à gatunagem. Pelo contrário. O mensalão, que quase derrubou Lula, e o caso da "famiglia Erenice", que comprometeu a campanha de Dilma, no ano passado, são bons exemplos de que grande parcela da sociedade repudia e reage à corrupção.

Ocorre que até agora a melhoria das condições de vida dos pobres foi suficiente para "compensar" as falhas morais do PT. O partido também ficou cínico. Mas corre o risco de confundir a popularidade de Lula com aprovação à roubalheira.

Ao readmitir Delúbio o PT sabe que se desgasta, mas aposta que será mais uma vez "anistiado". Em 2009, quando o ex-tesoureiro do mensalão tentou voltar e encontrou resistências (por causa da sucessão de Lula, não de princípios), deixou claro aos petistas que se alguém devia algo não era ele, mas sim os que se beneficiavam do seu silêncio.

O PT agora retribui tanto sacrifício. Num partido há muito delubizado, ao voltar do degredo essa triste figura se torna uma espécie de herói da desonestidade como vantagem comparativa.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A corrupção e o desenvolvimento:: Renato Janine Ribeiro

Começo a colaboração nesta página sentindo-me honrado e, também, ansioso por contribuir para um debate respeitoso entre posições que podem ser divergentes. Sem divergência, é difícil haver debate; sem respeito, é impossível. Proponho hoje uma questão que sei candente, a da corrupção. Cresci, acreditando que corrupção e subdesenvolvimento andavam juntos. Alguns achavam que o Brasil era subdesenvolvido, porque corrupto; sem chegar a tanto, eu considerava nosso país corrupto, porque subdesenvolvido. Mas será mesmo assim?

Porque, mundo afora, se vê que também os países mais ricos e desenvolvidos mostram bastante corrupção. Nem eu, nem nenhuma entidade que estude a corrupção, temos dados consistentes sobre sua dimensão real. Mesmo o indicador mais utilizado, o da Transparência Internacional, fala em percepção da corrupção. É possível que a corrupção maior passe despercebida. Talvez nunca venhamos a saber dela. Quando o portal do Governo revelou os gastos com cartões corporativos, mesmo os que causaram maior indignação eram de pequena monta; certamente, grandes corruptos não deixam pistas. Mas, de todo modo, o que se lê sobre as nações mais desenvolvidas, com a exceção dos países escandinavos, aponta escândalos espantosos. Não falemos apenas na Itália de Berlusconi, na França de Chirac, nas acusações a ex-primeiros-ministros espanhóis ou na crise holandesa de 1976, quando se soube que o marido da rainha recebera suborno da Lockheed. Concentremo-nos na invasão norte-americana do Iraque e nos contratos que ela proporcionou.

Em 2003, eu lecionava na Universidade de Maryland. No seu campus de College Park, vi um debate sobre a invasão iminente. Um seu defensor explicou que ela nada custaria aos contribuintes, porque seria paga com o petróleo iraquiano. Nunca antes eu tinha visto um ladrão ser tão explícito. Mas a verdade é que não apenas o ouro negro do Iraque foi entregue a quem os invasores quiseram, como também o orçamento dos Estados Unidos foi sangrado a fundo. Contudo, as denúncias de benefícios a empresas vinculadas ao então vice-presidente norte-americano não levaram a nenhum inquérito mais exigente. Comparando, o fato de estarem hoje indiciados Chirac, na França, e entre nós os suspeitos pelo mensalão do PT, é um diferencial significativo, embora muitos creiam que nada disso resultará em condenações.

Ou pensemos historicamente. Uma das fases de maior desenvolvimento econômico dos Estados Unidos, o final do século XIX, é também o apogeu dos "robber barons", barões ladrões, alcunha dada a industriais e financistas que não tinham escrúpulos no trato dos empregados, fornecedores, concorrentes e na sonegação tributária. Suas práticas indecentes não impediram o país de crescer economicamente.

Considero muito bom que, em nossos dias, movimentos militem por um ambiente de negócios marcado pela honestidade. Ter garantias éticas é essencial - sustenta André Franco Montoro Filho num bem argumentado artigo do livro "A cultura das transgressões", editado pela ETCO - para que o capitalismo funcione. Torço para que ele tenha razão. Mas penso que essa é uma forma apenas de capitalismo, que não funcionou em todas as épocas nem em todos os lugares. Certamente, é o preferível para a sociedade como um todo; deve melhorar a vida dos funcionários, dos concorrentes, sobretudo os pequenos empresários, e o papel do Estado. Mas não significa que seja essa, necessariamente, a tendência dominante do capitalismo.

Quer isso dizer que devamos nos resignar à corrupção? De forma alguma. Porém, primeiro, não devemos confundir sua percepção com sua realidade. Hoje, a boa notícia é que se denuncia mais a corrupção do que sob a ditadura. Mas isso não quer dizer que o regime de exceção fosse mais honesto - apenas, que era mais difícil descobrir e relatar o mau uso do dinheiro público. A sociedade está mais exigente. É preciso que tanto os órgãos da Justiça quanto a imprensa aperfeiçoem seus meios de identificar e denunciar os atos de corrupção. Mas também há um segundo aspecto que devemos apontar.

É frequente ouvir-se, hoje, que ser ético agrega valor. Em certos casos, é verdade. A empresa que promove um recall, o governante que corrige uma política, o jornalista que reconhece um erro podem sofrer um impacto negativo em sua imagem a curto prazo, mas depois disso conseguem maior confiança de seu respectivo público. Perdem no varejo, ganham no atacado. Nosso tempo valoriza essas condutas, e isso é bom. Só que políticos, empresas e jornais também lucram com práticas, digamos, menos ortodoxas. Dos exemplos de boas práticas, não podemos inferir que sempre a ética é bom negócio. Porque nem sempre é. E, sobretudo, não deve ser negócio.

Não há ética sem o risco do prejuízo e do fracasso. Quando pregamos que a ética é vantajosa ou mesmo rentável, esquecemos que muitas vezes ela não o é. "Hoje, para ser ético, às vezes é preciso ser herói", diz um personagem no romance "A casa da Rússia", de John LeCarré. Nem todos nós teremos estofo ou disposição para o heroísmo. Mas devemos reconhecer que as razões para combater a corrupção e assegurar a lisura na política, na economia e na sociedade são, afinal de contas, éticas mesmo. Combater a corrupção para melhorar o ambiente econômico é muito bom, mas não basta. Prometer a jovens - empresários, políticos ou jornalistas - um mundo ao mesmo tempo lucrativo e decente é correr o risco de não fortalecer sua fibra moral. Quando tiverem de escolher, saberão fazê-lo? Terão a coragem necessária para enfrentar o prejuízo que a decência, por vezes, exige?

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Bem-vindo, Delúbio!:: Ricardo Noblat

“Respeito a ingenuidade. Não sei, porém, de onde imaginavam que o dinheiro viria”. (Delúbio, antes de ser expulso do PT)

De duas, uma. Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, não deveria ter sido expulso do partido depois que estourou o escândalo do mensalão. Não foi o único culpado. De resto, como diz Lula convicto, o mensalão jamais existiu. Ou então: Delúbio deveria ter sido expulso, sim. Sua volta ao PT só se justificaria se a Justiça o declarasse inocente.

Delúbio é um dos 38 mensaleiros denunciados pela Procuradoria Geral da República por formação de quadrilha, peculato, lavagemde dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção eevasão de divisas. O Supremo Tribunal Federal acatou a denúncia que fala de uma “organização criminosa” empenhada em se apoderar de parte do aparelho do Estado.

Ocorre que Delúbio imagina ser candidato a vereador no próximo ano em Goiânia e a deputado federal em 2014. E para isso precisa filiar-se a um partido. Que partido de peso

estaria disposto a abrigá-lo?O PT . Foi nele, sob as bençãos de Lula, que o simplório, mas esperto Delúbio construiu sua trajetória política.

Lula e Delúbio são mais ligados do que Lula e o ex-ministro José Dirceu, por exemplo. Quem escondia dos fotógrafos o cigarro fumado por Lula? Delúbio, o serviçal. Mais de uma vez, Delúbio e Lula saíram juntos do Palácio do Planalto no mesmo carro. Uma vez, pelo menos, Delúbio foi hóspede de Lula na Granja do Torto.

O que disse a senadora Marta Suplicy (SP) sobre a volta de Delúbio ao PT, consumada na última sexta-feira, é mais ou menos oque pensa a maioria dos seus colegas de partido. Marta: “A volta de Delúbio é uma questão ainda muito mal compreendida pela sociedade, de difícil assimilação.” De difícil assimilação, é. Mal compreendida, não.

Se Delúbio foi um dos cérebros do mensalão; se a Procuradoria Geral da República classificou o mensalão de crime; se ele figura em processo na condição de réu; e se o próprio PT preferiu expulsá-lo, asociedade entende com razão que Delúbio não deveria ter voltado ao partido. O processo do mensalão chegará ao fim no próximo ano.

Por que não esperar a decisão do Supremo? Porque para se candidatar qualquer pessoa é obrigada a estar filiada a umpartido no mínimo um ano antes do dia da elei-ção. Ou Delúbio se filiaria até outubro deste ano ou daria adeus às chances de se eleger vereador em 2012. De todo modo, a dele não será uma eleição tão simples.

Delúbio foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Goiás a devolver R$ 164 mil desviados por meio de documentos falsos que o davam como professor ativo no ensino público. E teve seus direitos políticos suspenso por oito anos. Sua candidatura deverá esbarrar na Lei da Ficha Limpa — salvo se instância superior da Justiça lhe for generosa.

O deputado Ricardo Bezoini (SP), ex-presidente do PT, valeu-se de um argumento falacioso emdefesa da reintegração de Delúbio: “Até os banidos do regime militar voltaram.” Comparar a situação dos banidos com a de Delúbio é uma agressão à inteligência. É também um deboche, um escárnio, um acinte.

Os banidos foram vítimas de uma ditadura que censurou a imprensa, cassou políticos, aposentou juízes, prendeu, torturou e matou desafetos. Enfraquecida, revogou o banimento. Delúbio não foi vítima de nada e nem de ninguém — anão ser de sua própria conduta. “Ele já pagou”, disse o deputado Cândido Vaccarezza, líder do governo.

Delúbio pagou pelo quê? Pelo mensalão que o PT prefere chamar de caixa 2? Caixa 2 e mensalão são crimes. OPT puniu Delúbio só para dar uma satisfação àsociedade. Assim como fez com José Dirceu, demitido da Casa Civil da Presidência da República e depois cassado como deputado federal

Uma vez que Lula sobreviveu ao escândalo, se reelegeu e elegeu Dilma, o PT concluiu que chegara a hora de premiar Delúbio, o militante que não entregou ninguém. Que pagou sozinho por um crime coletivo. Seja bem-vindo, pois, companheiro! A casa é sua! Nada mudou desde que você foi obrigado a deixá-la.

FONTE: O GLOBO

Oposição desfalcada:: Renato Lessa

Partido que em 2010 teve 40% dos votos contra um governo popularíssimo perde o mapa de acesso a tal patrimônio

Um dos grandes presidentes da Casa dos Representantes (House of Representatives) - a Câmara de Deputados dos EUA -, o lendário Tip O"Neill, a certa altura disse que "toda política é local". Por mais que possa mobilizar temas e interesses de ordem mais geral, a dinâmica da política se releva do localismo e do imediato. O"Neill, típico new dealer democrat de ótima cepa, passou 50 de seus 82 anos de vida como parlamentar, 34 dos quais em Washington, tendo presidido a casa por dez anos, de 1977 a 1987. Insistia no caráter local da política não tanto por paroquialismo, mas pela defesa de uma concepção de representação que vinculava os representantes aos representados.

Há outro sentido possível para a expressão. Da mesma forma que os temas da, digamos, grande política vinculam-se a cenários locais, estes, por alguma operação metonímica, podem dar passagem ao vislumbre do geral. Supor que localismo é apenas localismo significa uma opção deflacionada para o uso de nossas - já precárias por constituição própria - capacidades cognitivas. O localismo pode ser pensado, sem prejuízo da atenção a fenômenos particulares, como ponto de observação do cenário mais amplo da política e seu espaço de decantação.

Supor, por exemplo, que o drama dos tucanos em São Paulo tenha como fundo divergências entre vereadores do partido e o governador do Estado é levar a hipótese do localismo às raias do paroxismo. Mais do que isso, significa supor que o PSDB que, a despeito da pretensão de reconfigurar o País, sempre foi caracterizado como de extração paulista, padeça da maldição de encerrar seus trabalhos por força de uma crise paulista.

Dissolve-se hoje, a olhos vistos, o PSDB, assim como o agonizante DEM, herdeiro do finado PFL. Há quem culpe o prefeito de São Paulo pelo gesto oportunista de "fundar" um partido novo. Não tenho mandato nem ânimo para defendê-lo, mas mais espantosa do que a esperta iniciativa é a magnitude do estrago da aventura sobre legendas partidárias ditas "consolidadas". O quadro, digamos, doutrinário do partido do dr. Kassab, como sabido, é indigente, mesmo para padrões nacionais. Trata-se de legenda que se apresenta como não sendo nem de esquerda, nem de direita, nem de centro. O corolário tático da estimulante renovação nos programas partidários é a disposição para apoiar o governo federal, os governos estaduais e, é claro, os governos municipais.

É uma tentação destacar o lado ubuesco da iniciativa, mas esse reembaralhamento oportunista não diz algo a respeito da vida partidária brasileira em geral?

O veterano O"Neill preocupava-se com o nexo entre representantes e representados. Padecia, portanto, de uma concepção de política que, ainda que assentada no mundo parlamentar, supunha que a vertebração dos partidos tem a ver com o que fazem fora do âmbito legislativo. Concepção fora de moda, a crer nos analistas e estudiosos brasileiros que dizem que o que importa é saber como os parlamentares votam em plenário, no exercício de seus mandatos. Ainda segundo essa concepção autárquica do mandato e da representação, aprendemos que os partidos brasileiros são altamente disciplinados em seu comportamento parlamentar. Nada de errado com eles: os governistas tendem sempre a votar com o governo e os oposicionistas, com a oposição. O bom Aristóteles sabia o que estava a dizer quando afirmava que juízos tautológicos são sempre verdadeiros.

As dificuldades da oposição são enormes. Há quem as atribua às excelências do governo Lula, o que teria reduzido as margens de crítica. Tese não raro vociferada por áulicos obcecados pela ostensão de índices de desempenho. Alguns desses índices são mesmo notáveis, o que, é evidente, estabelece limites ao discurso responsável e torna um tanto ridículo o catastrofismo. Mas, como desconheço governo infalível, sempre há margem para oposição, se esta - é evidente - tem algo a dizer; se oferece ao País uma alternativa fiável e distinta. É inacreditável que um partido capaz de conquistar cerca de 40% dos votos nacionais em 2010, contra uma candidata apoiada por um governo de altíssima popularidade, tenha perdido o mapa de acesso a tal patrimônio. Perceber essa conquista como derrota é sinal inequívoco de pouco apego ao pensamento.

As artes do "presidencialismo de coalizão", por outro lado, ultrapassam seus efeitos imediatos de garantir "base aliada" numerosa e segura. Sua extensão esteriliza a política, porque sustentada na convicção de que a saúde da democracia depende da disposição dos parlamentares em apoiar o governo. Não vai daqui a defesa camicase da superioridade dos governos de minoria. Mas reduzir a representação nacional a fundamento de - desculpem - "governabilidade" é, como dizia Zé Trindade, de amargar. A vida fora desse grande nexo é inóspita, sobretudo para nostálgicos.

E é de nostalgia que se trata, quando emergem sonhos de fusão entre PSDB e DEM. A oficialização da atração preferencial pela direita, por parte dos próceres tucanos, vale como desistência expressa do projeto de seus fundadores. A indigência intelectual e o oportunismo privam o País de um requisito fundamental para a democracia, uma oposição capaz de articular um ponto de vista alternativo. Por bons que sejam os governos, há sempre alternativa melhor. Falta ao País quem, a sério, diga isso.

Renato Lessa é professor titular de Teoria Política da UFF, investigador Associado do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa e presidente do Instituto Ciência Hoje

FONTE: ALIÁS/ O ESTADO DE S. PAULO

Social-democrata? :: Alberto Dines

Parece sina: chegamos atrasados, alardeamos desculpas e avacalhamos o evento. Assim foi com a primeira experiência social-democrata em 1945 e assim está sendo agora. Amparado no sólido conhecimento ideológico de Lourival Fontes, mas seguindo seu imbatível instinto político, o ditador Getúlio Vargas criou e presidiu duas agremiações para sustentar um possível retorno ao poder.

O PTB e o PSD, teoricamente social-democrata, montado a partir dos currais eleitorais de seus interventores estaduais no Estado Novo. Um destes filhotes do varguismo ou os dois juntos seriam a réplica nativa do New Deal. A vitória do partido trabalhista inglês em 1945 sobre o herói da guerra Winston Churchill também contribuiu para dar um charme especial ao ramo inglês da velha social-democracia alemã.

Apesar de vitoriosa nas duas primeiras eleições pós-ditadura (com Dutra e Kubitschek) nem a coligação nem suas crias conseguiram tocar o projeto social-democrata concebido por Edward Bernstein no final do século 19. A admirável figura de Alberto Pasqualini do PTB gaúcho chegou a empolgar os torcedores do clube social-democrata. Um derrame aos 55 anos interrompeu sua carreira e pulverizou o projeto do socialismo democrático no Brasil.

O fim do regime militar coincidiu com o sucesso da social-democracia em todo o mundo. Seu conteúdo humanista alimentou uma das mais fulgurantes histórias de sucesso do pós-guerra, a comunidade europeia alicerçada na Alemanha e França fortemente social-democratas e viabilizou o projeto do Estado do Bem-Estar, o Welfare State, terceira via entre o bolchevismo soviético e capitalismo americano. A socialdemocracia foi essencial na Península Ibérica funcionando de forma admirável na transição das suas ditaduras para a plena democracia.

No exílio português, Brizola trocou seus impulsos revolucionários por um projeto evolucionário, tentou o registro de um novo PTB, mas conseguiu filiar o seu PDT à Internacional Socialista. Hoje está nos antípodas do que pretendia ser. Quando o PMDB passou a exibir suas rachaduras, um grupo de quadros criou o PSDB. Venceu duas eleições presidenciais. Perdeu o fôlego, vencido pelas contradições internas expostas pela candidatura Alckmin em 2006.

O vice de Mário Covas revelou-se um bom administrador, suas convicções pessoais porém jamais permitiram absorver algo do ideal social-democrata para enfrentar o rolo compressor da vertente populista do PT. Por vontade própria ou tele-comandado, por oportunismo seu ou de terceiros, o prefeito paulistano Gilberto Kassab entra na história da social-democracia brasileira como seu algoz. Ou redentor em um segundo round.

Abiscoitou a preciosa sigla do PSD e está fazendo um estrago inédito no partido teoricamente coirmão. Kassab está preocupado com adesões. Posteriormente explicará se o seu PSD é o mesmo do reacionário presidente português Cavaco Silva e do venerando coronel Benedito Valadares ou se optará por doutrinas mais próximas do presidente uruguaio, José Mujica, que declarou ao El País: "Não é possível construir o socialismo com sociedades de semianalfabetos".

Alberto Dines é jornalista

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Entrevista - Leôncio Martins Rodrigues

Cientista político diz que o partido vive crise profunda e precisa de um chefe para superá-la

Eleonora de Lucena

SÃO PAULO - Depois de abocanhar quase 44 milhões de votos na última eleição presidencial, o PSDB vive a sua pior crise.

Para enfrentá-la precisa ter um único chefe. A opinião é de Leôncio Martins Rodrigues, 76. Cientista político próximo do PSDB e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ele teme pelo futuro dos tucanos. "O PSDB corre esse risco de virar uma legenda maldita", afirma.

Na entrevista, Leôncio diz estranhar o silêncio do ex-governador José Serra e comenta o desmanche na oposição. Para ele, a falta de perspectiva de poder e a disputa entre as lideranças tucanas explicam o momento conturbado.

Folha - Essa é a maior crise que o PSDB já viveu?

Leôncio Martins Rodrigues - Sim. Nunca houve uma crise assim tão forte.

Como o sr. explica essa crise?

A intelectualidade erra. Minha impressão é que o PSDB está sem uma mensagem e não tem liderança. Ou melhor, tem liderança demais. Duas grandes lideranças, Aécio e Serra, e esse é o problema. Partido só tem um chefe. Partido com dois chefes briga. Isso faz parte da essência da política. Os bolcheviques tinham um chefe: Lênin. Quando o pobre Lênin morreu, Stálin e Trótski brigaram de morte. O partido tem de ter uma só liderança.

E o governador Alckmin?

Você pode pôr também o Alckmin [como liderança].

Onde foi parar o capital político exibido pelo PSDB na eleição? Ele se evaporou?

Grande parte da votação de Serra não era de votos tucanos ideologicamente. Foi um voto anti-Lula, anti-Dilma, por ela representar a continuidade do Lula e do PT. Dilma muito habilmente entrou no eleitorado de classe média, que se encanta com o fato de ela ser mais taciturna, de ser mais comedida no falar, de falar melhor. Pode ter havido uma divisão do trabalho: o Lula fica com a parte popular, enquanto ela se orienta para um eleitorado um pouco mais culto e de renda mais elevada. Eu já vi vários amigos que tinham votado no Serra fazendo muitos elogios à Dilma. A mídia também está fazendo. Isso vai fortalecer brutalmente, não sei se o PT, mas a Dilma.

O crescimento do governismo, que o PSDB não consegue deter, explica a crise?

É o terceiro mandato que eles não têm a Presidência. Isso provoca crise. Perderam muitos Estados, tiveram a bancada diminuída. O político se comporta para ganhar as eleições: se a mensagem não dá votos, ele muda.

Há uma debandada do PSDB. É a falta de perspectiva de poder que explica?

Os partidos fazem programas para chegar ao poder, e não vão ao poder para realizar programas. Então, mudam. Eles não vão ficar perdendo tempo, perdendo eleições, gastando dinheiro. Não conseguem arrecadar, não conseguem bons contribuintes sem a perspectiva de ganhar o poder. Têm que mudar, não tem conversa. Tem legendas no Brasil que, com certa frequência, se tornam malditas. Arena, depois o PFL. E eles vão mudando.

O DEM é a maldita da vez?

O DEM não é ainda. O DEM foi criado para evitar uma legenda maldita, mas se arrisca a ficar também.

E o PSDB?

O PSDB corre esse risco de virar uma legenda maldita.

O PSDB é o partido da direita?

De jeito nenhum. O PSDB foi um partido moderno. Fernando Henrique teve muita coragem de tomar medidas, de inventar uma cultura política brasileira, com as privatizações, as agências, o Proer. Foi um partido modernizador do capitalismo no Brasil.

Qual vai ser a característica do PSDB daqui para frente?

Eu não sei. O político sempre quer ascender, mas depende das possibilidades. Aécio vem de um Estado importante, tem ambições, mas tem de enfrentar outros. Não sei o que vai acontecer, mas acho que pode ser muito mal para o país.

O quê?

A liquidação do PSDB.

O sr. acredita nessa hipótese?

Liquidar eu não diria, porque criar um novo partido é uma coisa um pouco complicada. Mas a perspectiva de juntar com outro partido pode ser boa, porque os partidos recebem muito dinheiro do Estado, não é?

A fusão com o DEM seria boa para o PSDB e para o DEM?

Não sei.

Se essa fusão se confirmar, o PSDB não será um partido mais à direita do que é hoje?

O que é ser de esquerda? Stálin era de esquerda? Os termos direita e esquerda são usados na luta política para desmoralizar o adversário.

O sr. concorda com a tese de que a linha seguida por Alckmin é mais conservadora do que a de Serra ou Aécio?

O PSDB sempre foi um partido paulista. Você se lembra dos líderes. Do outro lado tinha o Aécio, que não era tão importante. Mas os partidos sempre têm uma característica regional muito marcada. O PSDB não conseguiu entrar no Rio. Tem outro problema. As lideranças do PSDB estão envelhecendo. Não houve o surgimento de uma nova liderança, mais jovem, que encontrasse uma nova mensagem capaz de galvanizar parte da população. O PT teve mais gana para chegar ao poder, de gente que vinha mais de baixo, de classe média. Gente que queria ascender mais, com mais garra. E teve um líder muito bom desse ponto de vista, o Lula, que soube galvanizar mais as massas, levar um pouco de emoção também ao campo da política. O PSDB não está conseguindo levar. Seria preciso que ele tivesse formado novas lideranças. Não apareceram novas lideranças.

Não sei para onde vai o Serra. Vai disputar a prefeitura? Seria esmagado pelos adversários imediatamente. A primeira coisa que iriam fazer é lembrar que ele assinou em cartório que não iria abandonar a prefeitura, e largou. Isso dificulta muito que ele possa concorrer à Prefeitura de São Paulo. Vai ficar esperando a nova eleição? É muito tempo sem cargo.

E a fusão PSDB-DEM?

Você tem mais dinheiro, mais tempo de TV, mais poder de chantagem, mais votos no Legislativo. Você pode chantagear melhor o Executivo. Mas, em compensação, você tende a aumentar a confusão interna. É mais gente disputando o poder e mais alas. Se o partido não surge de um impulso da própria sociedade, a confusão aumenta. Eu não sei como vão dividir, quem é que vai mandar.

E o papel do Aécio? Ficou mais complicado com o evento no Rio, a recusa ao bafômetro, a carteira vencida?

Seguramente o cacife dele baixa bastante. Para um candidato que tem um comportamento de playboy conta muito mal. Porque o presidente da República tem que aparentar responsabilidade, seriedade. Não dá para ficar passeando em alta velocidade e se recusar a cumprir certos rituais, como o bafômetro, ter carteira de motorista em dia. Proceder dessa maneira é dizer: estou acima da lei. Isso em campanha vai ser jogado contra ele. Pioraram muito as chances dele: depois desse episódio terá mais dificuldade para agrupar o PSDB. O Aécio teria de fincar um pé em São Paulo. Ele não consegue. Você não pode ser uma liderança nacional se não conquista São Paulo.

Isso não beneficia Serra? Por que ele está tão calado? Não seria hora de ele, que galvanizou tantos votos há poucos meses, tomar a frente do partido e botar ordem na casa?

Teoricamente, concordo com você. Mas não tenho a menor ideia de por que ele está tão calado. É possível que tenha ficado um pouco abatido com a derrota.

Quem botará ordem na casa?

Em princípio seria o Serra. Mas ele vai encontrar um obstáculo, que não é nada bobo: o Alckmin. Alckmin é muito esperto. Sabe se conter, não é tão açodado assim. O que deveria ter acontecido seria o surgimento de uma liderança forte, nacional, com mais ou menos 50 anos, com experiência, que se dispusesse a viajar pelo Brasil, ficar conhecido, ganhar apoios locais dos caciques, dos pequenos caciques locais. Mas isso não apareceu.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Fim do imposto sindical une governo e oposição no 1º de Maio

João Villaverde e Luciano Máximo

São Paulo - Autoridades públicas aproveitaram as comemorações do 1º de Maio, realizadas pelas centrais sindicais ontem em São Paulo, para criticar o imposto sindical. Com isso, o debate migrou do campo sindical para o terreno político. Na maior das comemorações de ontem, que uniu Força Sindical e outras quatro entidades em um show gratuito e sorteio de 20 automóveis para 1,7 milhão de pessoas, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse preferir um "imposto facultativo", enquanto Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, afirmou ser contrário ao imposto. Mais tarde, na festa organizada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), que reuniu menos de 500 pessoas durante o ato político, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), disse que vai trabalhar dentro da Casa para acelerar as discussões sobre o fim da contribuição.

No ano passado, o imposto sindical gerou mais de R$ 1 bilhão ao governo federal, sendo R$ 102 milhões repartidos entre as seis maiores centrais sindicais. A CUT, que sozinha abocanhou a maior fatia, R$ 31,9 milhões, é a única contrária ao repasse. O imposto sindical é cobrado compulsoriamente de todos os mais de 43 milhões de trabalhadores com carteira assinada e refere-se a um dia de trabalho por ano.

Alckmin, que alocou um sindicalista em seu governo - o secretário do Trabalho e Desenvolvimento, Davi Zaia, é vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT) -, afirmou que o "ideal seria ter uma contribuição sindical facultativa". O governador, no entanto, disse que "é preciso ver se o movimento sindical está maduro para essa discussão".

Já Carvalho, apontando pelos sindicalistas como "principal ponte" entre as centrais e o governo Dilma Rousseff, afirmou que o "desejável" para o governo seria atuar com todas as centrais convencidas de que o fim do imposto é "o melhor caminho para os trabalhadores". Ao Valor, Carvalho afirmou que "não é porque uma das centrais [a CUT] tem uma posição contrária que o governo vai apoiar, mesmo que, pessoalmente, eu seja favorável à extinção". Carvalho trabalha junto de José Feijóo, que assumiu a assessoria especial da Presidência - Feijóo era vice-presidente da CUT, e contrário ao imposto sindical.

Também contra a contribuição sindical, Maia, o presidente da Câmara, espera que um projeto de lei pelo fim da cobrança, que está na agenda da Comissão do Trabalho da Casa, seja levado logo à discussão em plenário. "É importante ressaltar que precisamos dar sustentabilidade aos sindicatos e às centrais, o que não precisa ser feito por meio de um imposto. Também é importante que as entidades patronais, que cobram um imposto das empresas, discutam o assunto. Se mudar para os trabalhadores, também tem que mudar para as empresas", disse Maia.

Pouco depois de posar para fotos ao lado dos cinco presidentes das centrais que promoviam a festa galvanizada pela Força, o presidente nacional do PPS e deputado federal, Roberto Freire, afirmou que o movimento sindical brasileiro é "esdrúxulo".

"Na maior parte dos países há duas ou três centrais, com visões de mundo diferentes. Nós temos seis, e é quase impossível distingui-las ideologicamente. Todos foram cooptadas pelo imposto sindical repassado pelo governo Lula", disse Freire. Meses antes de aprovado o repasse do imposto sindical às entidades, em 2008, nada menos que três centrais foram criadas: Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e UGT. Todas elas, além da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), dividiram palco com a Força, ontem.

"A CUT é contrária ao imposto sindical desde sua fundação, em 1983, e voltou a defender essa bandeira para tranquilizar sua ala mais a esquerda, mas por que aceitaram o repasse, em 2008, e só agora, em 2011, começaram a reclamar?", perguntou Ricardo Patah, presidente da UGT. Segundo Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, presidente da Força, o fim do imposto sindical é "inaceitável", porque "quebraria" o movimento sindical.

O apoio de autoridades ao fim do imposto sindical foi bem recebido pela CUT. "Não importa de onde vem a ajuda, é um momento importante para aumentar o leque de alianças para discutir o assunto", afirmou Artur Henrique, presidente da central. Na análise de Adi dos Santos, líder da CUT-SP, as autoridades que manifestaram contrariedade sobre o imposto sindical têm influência no Congresso, palco natural de discussões que podem marcar a extinção da cobrança.

De passagem pela festa da CUT, o novo presidente do PT, deputado estadual paulista Rui Falcão, reiterou que o partido concorda com a posição histórica da central de pôr fim ao imposto sindical. "Dois sindicatos são criados por dia no país, e não sabemos para onde vai o dinheiro arrecadado dos trabalhadores. Acabar com esse imposto compulsório é um avanço", opinou.

Presente no evento organizado pela Força e outras quatro centrais, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) não encampou a tese da "cooptação" das centrais, mas defendeu participação mais ativa dos tucanos com as centrais. "O trabalhador não é patrimônio de nenhum governo, então não há essa história do governo Lula e do PT serem hegemônicos com as centrais. Em São Paulo, por exemplo, temos um governador bem avaliado pela população e com bom diálogo com as centrais", disse. Dentre todas as seis autoridades que falaram no evento da Força, Alckmin foi o único vaiado.

Em seu discurso, Aécio tentou demonstrar proximidade com os sindicalistas: "Em Minas Gerais, construímos um caminho novo que acredito, companheiro Paulinho, vamos construir essa mesma parceria pelo Brasil afora. Aqui estão centrais sindicais que não se submetem a um governo".

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Inflação vai limitar alta dos salários em 2011

O aumento nos índices de preços deve reduzir o percentual de reajuste real nas negociações trabalhistas neste ano.

Inflação vai limitar aumento real de salário em 2011

Somente segmentos com muita escassez de mão de obra devem manter bons ganhos reais ao longo do ano

Eva Rodrigues

Antes da crise, em2008, o Brasil tinha a segunda maior taxa de desocupação entre as 20 maiores economias do mundo. Hoje, o país ocupa a 14ª posição no mesmo ranking, segundo dados elaborados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O avanço é resultado de um mercado de trabalho aquecido, que melhorou renda, formalizou mais e atualmente enfrenta falta de mão de obra em vários setores.

Esse cenário elevou o poder de negociação dos trabalhadores nos últimos anos. Mas agora, outro fator surge como limitante nessa equação: a inflação. Ela deve levar a reajustes reais de salário menores em relação aos patamares verificados em 2010. O maior crescimento da economia, por si só, estimula os reajustes salariais e desde 2004 o Brasil registra paulatinamente crescimento nos ganhos reais —tanto no número de acordos quanto no tamanho desses ganhos. Segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2008, 4% dos acordos fechados registraram reajuste real de salário superior a 3%. Em 2009, foram 5% e em 2010, esse número triplicou e chegou a 15%dos acordos.

A política de valorização do salário mínimo, que atinge em torno de 47 milhões de pessoas, entre aposentados, pensionistas e empregados domésticos, acaba servindo como parâmetro de piso para as demais categorias profissionais, também tem sido influência positiva para as negociações dos trabalhadores.Mas em 2011, a inflação em alta deve exercer algumfreio nas conversas entre empresários e trabalhadores — referência para os reajustes, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumula alta de 6,31% em 12 meses. “A inflação é sempre um elemento dificultador para os ganhos reais.

O mercado de trabalho deve continuar bom, as margens de lucro das empresas também, mas as pressões de preços trazem ruído e refletem nas negociações, que devem resultar em ganhos reais em patamar inferior ao do ano passado”, diz o coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado deOliveira.

Para além da inflação corrente, a taxa de desemprego baixa e o maior poder de barganha do trabalhador podem justamente se reverter em maiores pressões inflacionárias logo mais à frente, alerta o sócio da Opus Gestão de Recursos, José Márcio Camargo. “Não tem nenhum problema nesse cenário se os salários crescerem na mesma taxa de crescimento da produtivida- de — o problema é que os salários estão começando a crescer mais que a produtividade e isso vai gerar pressão inflacionária.”

Mão de obra escassa

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP) está conduzindo as conversas com o Sindicato patronal da categoria que tem dissídio no mês de maio. Depois de uma dezena de reuniões entre as partes, a reivindicação do INPC — em torno de 6,3% — do período e aumento real de 5% ainda está longe do consenso. No ano passado, o reajuste foi de 8,1%, sendo 2% de aumento real, além de alguns avanços em cláusulas trabalhistas. Segundo o presidente do Sintracon-SP, Antônio de Sousa Ramalho, a inflação em alta está sendo usada como “desculpa” nas negociações. “Mas não tem jeito, diante da enorme necessidade de mão de obra no segmento e considerando que os salários médios da construção civil são baixos, é preciso dar uma melhorada geral nesses rendimentos”, pondera. Se a categoria não fechar acordo até o início de maio, a greve geral já está marcada para o dia 11.

FONTE: BRASIL ECONÔMICO

BNDES amplia atuação em fusões e aquisições

BNDES avança em fusões de empresas

Banco público esteve, em 2009-2010, por trás de 64 operações de fusões e aquisições no País, seis vezes mais do que no biênio anterior

Alexandre Rodrigues

Além de dobrar o volume de crédito para investimentos nos últimos dois anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está aumentando a sua presença na economia influenciando processos de consolidação ou adquirindo participações em empresas.

Levantamento da consultoria Price (PwC) feito a pedido do Estado mostra que, entre 2009 e 2010, o banco esteve por trás de pelo menos 64 operações de fusões e aquisições no Brasil, seis vezes mais do que no biênio anterior, quando foram contabilizadas apenas dez.

O BNDES tem aumentado a sua atuação no mercado empresarial por meio de seu braço de participações, a BNDESpar, como forma de incentivar a consolidação em setores considerados estratégicos. Em 2010, o ativo total da subsidiária atingiu R$ 125,8 bilhões, sendo pouco mais de 80% referente a uma carteira de ações de mais de 150 empresas e fundos de investimento.

Participações. Com isso, o banco participa hoje do capital de gigantes como Petrobrás, Vale, Oi e CPFL Energia e Eletrobrás, assim como de médias e pequenas empresas de base tecnológica. Além de dar musculatura financeira, o BNDES usa a compra de fatias nas companhias como uma forma de influencia-las na direção de outras, fomentando a concentração em setores considerados estratégicos pelo governo.

Para Alexandre Pierantoni, sócio da PwC para fusões e aquisições, o salto da participação do BNDES - por meio da BNDESpar ou de companhias ou fundos de private equity dos quais é sócio - mostra como o banco se tornou um agente mais ativo na consolidação de vários segmentos, dada a distribuição multissetorial das transações.

"O BNDES acaba promovendo um desenvolvimento financeiro de longo prazo e de melhor governança corporativa, especialmente entre as empresas de pequeno e médio porte, o que estimula o mercado de capitais e as fusões e aquisições", explica.

Acordos. O banco tem acordo de acionistas em 58 empresas dos quais é sócio e cadeiras em nove conselhos fiscais e 28 de administração. Não foi à toa que muitas das empresas que protagonizaram fusões recentemente tinham o BNDES como sócio.

É o caso de Perdigão e Sadia, que formaram a BR Foods, e de Votorantim Celulose e Aracruz, que se uniram na Fibria. O BNDES participa das duas empresas resultantes com 2,5% e 30%, respectivamente. Consideradas grandes compradoras no setor de tecnologia, Bematech e Totvs, que o BNDES começou a incentivar ainda em estágio inicial, ganharam liderança em seus segmentos por meio de aquisições apoiadas pelo banco.

A BNDESpar costuma se desfazer das participações acionárias num prazo médio de cinco anos e busca não ultrapassar 33% do capital.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ação do BNDES se dá por aportes a grandes grupos

Atuação do banco nos negócios com frigoríficos causa controvérsias, sobretudo pela falta de transparência

Alexandre Rodrigues

Muitas participações do BNDES são consequência da conversão de títulos, outro instrumento usado pela BNDESpar para apoiar companhias, principalmente para buscar aquisições. Exemplo recente é o da Hypermarcas, que recebeu aporte de R$ 1,1 bilhão do BNDES por meio da subscrição de debêntures.

A operação serviu para financiar a compra do laboratório Neo Química e manter o interesse da Hypermarcas por ativos do setor farmacêutico, onde o governo quer ter empresas nacionais mais fortes.

Em muitos casos, o objetivo do BNDES é aumentar a musculatura da empresa para promover sua internacionalização. É o caso da Oi, na qual atuou como sócio em favor da fusão com a Brasil Telecom e, mais recentemente, do ingresso da Portugal Telecom no capital da tele, o que aumentou suas chances de atuação no exterior, especialmente na América Latina e na África.

Controvérsias. Sem dúvida é a atuação no banco como sócio de frigoríficos que levanta mais controvérsias. O suporte financeiro aos grupos Marfrig e JBS Friboi por meio de debêntures e participações acionárias já viabilizaram negócios dos dois grupos no Brasil (caso da compra da Seara pelo Marfrig ou do Bertin pelo JBS) e no exterior (como as aquisições das americanas Keystone pelo Marfrig, e Pilgrim"s Pride, pelo JBS). O banco é acusado de escolher campeões.

Embora o suporte à consolidação e internacionalização no setor de carnes seja uma diretriz clara da política industrial, as críticas à atuação do BNDES no setor são alimentadas pela baixa transparência em relação aos critérios usados para escolher os grupos beneficiados. O diretor da área de mercado de capitais do BNDES, Eduardo Rath Fingerl, tem recusado entrevistas.

É o giro e os dividendos da carteira da BNDESPar que aumentam o caixa do banco para novas aquisições. Entre 2009 e 2010, a subsidiária do banco de fomento arrecadou mais de R$ 4 bilhões com a venda de papéis de empresas como CSN, Light, LLX, Oi, Banco do Brasil, Rio Polímeros.

Em dividendos, arrecadou em 2010 quase R$ 1 bilhão da Petrobrás e R$ 280 milhões da Vale.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Quarteto em Cy - Samba do crioulo doido - Stanislaw Ponte Preta

Entrelinhas - Ferreira Gullar, 80 anos