quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Fernando Exman - Encontro marcado com o Centrão

Valor Econômico

Volta do recesso informal trouxe preocupações para o governo

O recesso parlamentar, ainda que informal, também deu um refresco para o governo. O reencontro marcado entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e as lideranças do Centrão que buscam espaço no Executivo foi adiado para esta semana, o que garantiu um pouco mais de tempo para Lula reforçar a estratégia de relembrar aos deputados que o sistema de governo no Brasil ainda é, sim, o presidencialismo. Mas a volta das férias não está ocorrendo exatamente como o governo desejava.

A votação do arcabouço fiscal, conforme antecipou o Valor PRO, o serviço de informações em tempo real do Valor, foi suspensa pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Por tempo indeterminado, diga-se, ou até que a reforma ministerial seja destravada. Em outro sinal de alerta para a articulação política, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, foi convocado pela CPI do MST.

Há uma crescente pressão para que a reforma ministerial conduzida em banho-maria seja acelerada. Porém, repetem Lula e seus auxiliares, quem oferece ministério para partido político compor o governo é o presidente da República - e não o contrário.

Foi com esse discurso que ele passou a marcar os territórios proibidos para o Centrão. Primeiro, blindou o Ministério da Saúde: em um evento com representantes do setor, afirmou que a ministra Nísia Trindade ficará no cargo até quando ele quiser. “Nísia, vá dormir e acorde tranquila, porque o Ministério da Saúde é do Lula, foi escolhido por mim e ficará até quando eu quiser."

Em entrevista ao Valor algumas semanas depois, a ministra explicou que o grande motivo da crise política na qual foi envolvida estava relacionado a um represamento do chamado orçamento secreto, as extintas emendas de relator, que o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucionais em 2022. Uma fatura de R$ 3 bilhões que estava sendo liberada, agora, de acordo com as prioridades programáticas da pasta e para projetos devidamente cadastrados por municípios nas áreas de atenção primária à saúde e de média e alta complexidade.

Wilson Gomes* - Ajudem o Jair a comprar seu caviar

Folha de S. Paulo

A igreja ficar rica ou ex-presidente ter mais mansões é consequência, o importante é que o ato distingue minha crença

No país do homem cordial, a compaixão por quem padece suscita muito menos generosidade do que pareceria normal.

De fato, esse é um país muito difícil para as organizações que pedem ajuda humanitária para instituições que cuidam dos que sofrem e dos desvalidos. A explicação para tanto é a "fadiga de compaixão", pois até de misericórdia se cansa quando ela é exigida com tanta constância.

Em um país de tantas misérias, endurecer o coração pode ser forma de sobrevivência.

O que não é de fácil entendimento é o desprendimento com que os brasileiros comuns têm metido a mão no bolso para ir em socorro de seus políticos prediletos quando são multados por alguma conduta inapropriada.

Há antes de tudo um desafio a quem aplicou a sanção original, uma declaração de que consideram injusta a decisão ou tendenciosos juízes e autoridades que julgaram o caso.

Mas é também um tipo de concessão de imunidade, em que se declara afrontosamente que o político que colocamos debaixo das nossas asas não será tocado pelas mãos parciais da Justiça: essa multa ele não paga, nós pagamos.

Bruno Boghossian - Populismo selvagem intoxica políticas de segurança pública

Folha de S. Paulo

Fadiga nacional com a violência favorece governantes que agitam flâmula da barbárie

Lotar cadeias e derrubar taxas de homicídios de El Salvador fizeram de Nayib Bukele o governante mais popular da América Latina. Nove de cada dez eleitores aprovam o trabalho do presidente, sem se importar com denúncias de tortura, execuções e prisões arbitrárias. Muitos certamente preferem que seja assim.

Quase dois terços dos salvadorenhos (63%) acham que um governo autoritário pode ficar no poder se resolver os problemas do país, segundo números do Latinobarómetro. O combate às gangues e a redução dos índices de violência foram ferramentas ideais para o presidente testar os limites desse consentimento.

Hélio Schwarstman - Gangue Militar

Folha de S. Paulo

Uma incursão típica não produz carnificinas dessa magnitude

Já escrevi aqui que polícia é civilização. Um dos maiores passos para a pacificação social foi dado quando o Estado tomou para si o monopólio do uso legítimo da violência, isto é, quando criou a polícia.

Nas contas de Steven Pinker, isso fez com que as taxas de homicídio na Europa do século 16 despencassem para algo entre um décimo e um quinquagésimo dos valores anteriores. Esse movimento também abriu caminho para a consolidação de princípios básicos do direito, como o do devido processo legal, o de que nenhuma pena pode passar da pessoa do acusado e o de que as sanções devem ser individualizadas e proporcionais ao delito.

Luiz Carlos Azedo - Ex-chefe da Abin confirma a omissão da segurança da Presidência

Correio Braziliense

A omissão do GSI em 8 de janeiro agora é o principal argumento da oposição na CPMI, que acusa o próprio governo de uma “armação” para que o Planalto fosse invadido

No seu depoimento à CPMI dos Atos Golpistas, o ex-diretor adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Cunha complicou a situação do general Gonçalves Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, quanto à omissão da segurança do Palácio do Planalto em 8 de janeiro. Cunha era o diretor em exercício da agência quando os palácios dos Três Poderes foram invadidos e vandalizados.

Ele declarou que avisou ao então ministro do GSI, general Gonçalves Dias, sobre os riscos de ocorrer a invasão. O ex-diretor da Abin disse que fez o alerta pessoalmente uma hora antes dos atos se concretizarem. “Um pouco antes de a marcha começar o deslocamento, nós já tivemos informações de que havia, entre os manifestantes, efetivamente, um chamamento, inclusive estavam fazendo isso no carro de som, há relatórios aí, há fotos, para chamamentos para invasões de prédios, certo? Por volta das 13h, 13h e alguma coisa”, relatou.

O depoente foi contactado por um colega responsável pela segurança de um dos órgãos dos Três Poderes, muito preocupado com a situação, logo após a marcha ser iniciada. “E ele, inclusive, me pede para falar com o general G. Dias, e eu passo o contato do general. E ligo para o general G.Dias por volta das 13h30”, completou. Cunha revelou que avisou ao então ministro do GSI sobre os riscos de ocorrer a invasão uma hora antes de os atos se concretizarem, mas o general pediu que remetesse diretamente aos seus auxiliares e não fizesse novos contatos com ele.

Vera Magalhães - Lula enquadra a Petrobras

O Globo

Presidente quer empresa mais 'alinhada com os interesses do país', e Prates cede para ter sobrevida

Numa série de reuniões nas últimas semanas, o presidente Lula conseguiu dobrar as resistências da diretoria da Petrobras à ideia de que a empresa deve ser parte de uma visão estratégica de Estado, afinada com as diretrizes do governo, seu maior acionista, para o desenvolvimento do país.

O resultado mais imediato dessa rodada de conversas, que acabou por reduzir a chama em que a batata do presidente da empresa, o ex-senador Jean Paul Prates, era posta para assar, é que deve demorar um pouco até que a companhia anuncie reajustes nos preços dos combustíveis, embora o mercado já aponte descompasso entre os valores praticados aqui e os preços internacionais.

Quem tem acompanhado essas reuniões nota em Prates e nos demais diretores uma disposição maior em aquiescer diante do discurso do governo, que não é novo em relação à maneira com que os governos anteriores de Lula e de Dilma Rousseff enxergavam o papel da Petrobras: gerar empregos, fortalecer a indústria nacional (a expressão “valorização do conteúdo local”, tão em voga naqueles anos, voltou à mesa de negociações com força), investir em refino e em gás e descasar os preços dos combustíveis do valor internacional — o que já foi anunciado meses atrás.

Elio Gaspari - A lição chinesa para o Brasil

O Globo

Pequim ouvia todo mundo, inclusive Delfim Netto

Está nas livrarias “Como a China escapou da terapia de choque”, da economista alemã Isabella M. Weber. O livro vai além, mostra por que e como a China deu certo. Ele é produto da qualidade de sua formação intelectual e do vigor da academia chinesa. A professora serviu-se de uma bibliografia rica e, sobretudo, de entrevistas, em chinês, com 44 economistas e burocratas.

Quem quiser cortar caminho poderá começar assistindo à entrevista de Weber ao repórter Mario Sergio Conti no programa Diálogos, da GloboNews, que irá ao ar nesta sexta-feira. Nele, virá a revelação das conversas de chineses com o então ministro Delfim Netto nos anos 1980, durante o ocaso inflacionário do Milagre Brasileiro.

Weber faz um estudo erudito da economia chinesa e chega ao momento das reformas que acordaram o gigante:

— A mão invisível [do mercado] foi introduzida sob a orientação da mão visível [do Estado].

Muitos países em muitas épocas tentaram isso e deram com os burros n’água. A China conseguiu porque suas decisões foram tomadas por meio de um sutil processo de consultas.

Na cúpula, a política chinesa é feroz. O presidente Liu Shaoqi morreu em 1969 numa enxovia, e a poderosa mulher de Mao Tsé-Tung matou-se na cadeia. (Pelo menos 16 milhões de chineses, possivelmente 40 milhões, morreram de fome.) Depois da morte de Mao, a sutileza operou no meio de campo.

Lu Aiko Otta - Congresso Nacional, o fiador do arcabouço

Valor Econômico

É hora de o governo mostrar que não será só pelo lado das receitas que as contas serão ajustadas

Uma assombração ronda a Esplanada dos Ministérios: a volta do teto de gastos no orçamento de 2024. É usual ouvir que isso não existe, mas volta e meia aparece nas conversas dos técnicos.

Embora seja pouco provável, o teto pode voltar. Dará as cartas no orçamento de 2024, se o Congresso não aprovar o arcabouço fiscal.

Seria um desastre não só para o governo, mas para o país, afirma o secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, Gustavo Guimarães. Sob o teto, os R$ 155 bilhões acrescentados aos gastos federais este ano, graças à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, teriam de ser cortados. Haveria um encolhimento drástico nas despesas.

Zeina Latif - O caminho é mais difícil do que parece

O Globo

Mudanças de regra do jogo descuidadas machucam ainda mais a economia, dificultando o próprio ajuste fiscal

A elevação da nota de crédito do Brasil pela Fitch foi merecida. Afinal, as reformas aprovadas desde 2016 vêm propiciando o fortalecimento estrutural da economia. Ilustra esse ponto, ainda que com grande simplificação, o fato de as taxas de juros do Banco Central estarem em patamares comparáveis às da gestão Dilma, só que agora a economia cresce, enquanto entre 2014-16 o PIB contraiu 8%.

Porém, a decisão da agência de rating não representa um “selo de qualidade” da atual política econômica, no sentido de esta favorecer uma tempestiva reconquista do “grau de investimento”.

País com status de bom pagador é, via de regra, país com crescimento robusto e sustentado. E esse cenário demanda um mix de política fiscal diferente daquele proposto pelo governo. Requer priorizar a contenção de despesas ineficientes e o cuidado técnico nas políticas implementadas, evitando maior carga tributária.

Fábio Alves - Até onde vai o Copom

O Estado de S. Paulo

Desde a reunião de junho, a economia avançou, e até corte de 0,5 ponto passou a ser justificável

A maioria dos economistas está apostando numa queda de 0,25 ponto porcentual da taxa Selic, para 13,50%, ao fim da reunião de hoje do Copom, mas uma parcela nada desprezível dos analistas acredita que o corte de juros será mais agressivo, de 0,50 ponto, como quer o governo Lula.

Na ata da sua última reunião, em junho, o Copom sinalizou para a decisão de hoje o início de “um processo parcimonioso” de afrouxamento monetário, o que o mercado interpretou como um corte mais cauteloso, de 0,25 ponto. Todavia, desde essa última reunião os fundamentos melhoraram a ponto de uma redução mais agressiva, de 0,50 ponto, ser completamente justificável.

De lá para cá, a inflação corrente registrou importante desaceleração, em particular do seu núcleo, em direção ao limite superior da meta perseguida pelo Banco Central; as expectativas inflacionárias para 2023 e 2024 seguiram caindo; e o dólar teve queda relevante, de R$ 4,85 para ao redor de R$ 4,75. Além disso, os indicadores recentes mostram que a demanda doméstica já está sentindo o impacto de todo o aperto da política monetária até agora.

Marcelo Godoy - A vez de Tarcísio e as câmeras

O Estado de S. Paulo

Assim como em Roma, as imagens podem definir se a polícia agiu dentro da lei no Guarujá

A vingança é uma licença para castigar o mau, o celerado e o injusto. Ela libera a violência do algoz e isenta o seu autor de toda condenação que julga moralmente válida. A vontade satisfeita pela brutalidade vê afastar de si a impotência diante da ofensa.

A vingança não respeita proporção. Não tem medida. Ou limite. Não se apazigua a perda da visão com a cegueira imposta ao agressor. Nada pode detê-la, exceto a natureza: Macbeth não tem filhos, daí porque a vingança de Macduff é impossível.

Quando o bando de Joãozinho Bem-Bem é atacado em um povoado, o líder dos jagunços quer se vingar da família do agressor. Exige matar um dos irmãos do assassino de Juruminho e estuprar as suas irmãs. Só não consuma o crime porque Nhô Augusto o detém, pois a sentença do Bem-Bem era “coisa que nem Deus manda, nem o diabo faz!” No conto de Guimarães Rosa, todo mundo tem a sua hora e a sua vez.

Nicolau da Rocha Cavalcanti* - Caminante, no hay camino

O Estado de S. Paulo

Andar sem saber exatamente qual é o caminho parece ser a experiência vital mais frequente, mais compartilhada entre todos nós

In everyone there sleeps a sense of life lived according to love, diz o poeta inglês Philip Larkin (1922-1985), que livremente traduzo por: em todos dorme um sentido da vida vivida conforme o amor. Há uma aspiração comum, própria da condição humana, ou o verso de Philip Larkin romantiza a vida, descreve uma fantasia?

Anos atrás, num texto pessoal, em que refletia sobre a paternidade, escrevi para mim mesmo que “paternidade e maternidade são, acima de tudo, cuidado e carinho. São realidades humanas que se abrem para fora. Não são ‘necessidades pessoais que precisam ser atendidas’. A rigor, não ser pai ou não ser mãe não é nenhuma carência, nenhuma incompletude, por mais que a sociedade e tantas fantasias digam o contrário. Incompletude é não amar ou não dar à vida um grande sentido de serviço”.

Seria razoável ou absurda minha pretensão de vislumbrar, a partir da minha experiência pessoal, um sentido geral da vida, que também incluísse os outros na reflexão?

Hoje em dia, resistimos a fazer afirmações firmes sobre a vida, mesmo que sejam apenas para nós mesmos. Somos conscientes dos limites da nossa experiência. Sabemos que ela é relativa, moldada pelo nosso lugar no mundo. Também temos horror a que os outros queiram, a partir da sua experiência pessoal, nos dizer como se deve viver a vida. E, ao menos no plano da razão teórica, não queremos fazer com os outros o que não desejamos que eles façam conosco. Respeitamos, queremos respeitar cada vez mais, o âmbito individual de cada um.

Francisco Inácio de Almeida e Ivan Alves Filho - Cidadania, um espaço de atuação antenado com os novos tempos

Agremiação política formada em 2019, como resultado da transformação que atingiu o Partido Popular Socialista (PPS), o Cidadania23 tem por objetivo contribuir para mudar a vida dos brasileiros em seus múltiplos aspectos.

Posicionando-se como herdeiro das lutas libertárias do nosso povo, as quais tiveram, em diferentes períodos, no decorrer do século XX, a participação decisiva dos anarquistas, dos socialistas e dos comunistas, o Cidadania23 tem consciência, contudo, de que vivemos um momento historicamente novo, o qual se pauta pela emergência de novos campos de reflexão e de luta.

As mudanças na esfera produtiva, com os avanços possibilitados pela automação, a inteligência artificial e o trabalho por conta própria, já deixam marcas profundas na nossa maneira de fazer política.

Se o movimento anarquista correspondeu a uma fase da organização da indústria, mais artesanal, e o movimento comunista representava a fase da indústria pesada, com uma maior separação entre o capital e o trabalho, hoje entramos em uma nova era industrial ou até mesmo pós-industrial, com ênfase na sociedade do conhecimento e no trabalho imaterial. Somos Cidadania!

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Economia melhora, mas governo precisa reduzir ainda mais a incerteza

Valor Econômico

Passados sete meses do ano, o cenário é consideravelmente mais benigno do que o do começo de 2023. Cabe especialmente ao governo aproveitar esse quadro positivo, empenhando-se em diminuir indefinições

As perspectivas para a economia brasileira melhoraram ao longo deste ano. O crescimento será mais forte do que se esperava no começo de 2023 e a inflação, mais baixa, num cenário marcado pela redução de incertezas em relação às contas públicas e pela aprovação da reforma tributária na Câmara dos Deputados. Em julho, esse quadro mais positivo levou a agência de classificação de risco Fitch a elevar a nota de crédito do Brasil de BB- para BB, ainda a dois passos do grau de investimento, o selo conferido a países, empresas ou bancos com maior capacidade de pagamento de suas dívidas. Além disso, o Indicador de Incerteza da Economia (IIE) da Fundação Getulio Vargas (FGV) recuou pela quarta vez seguida, para 103,5 pontos, o nível mais baixo desde novembro de 2017, quando ficou em 103,1 pontos.

São notícias positivas, que indicam um ambiente mais favorável para a economia, num momento em que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve começar a reduzir os juros na reunião de hoje, baixando a Selic em 0,25 ou 0,5 ponto percentual. A inflação tem perdido fôlego e as expectativas para os índices de preços recuaram nos últimos meses.

Poesia | Acontece - Pablo Neruda

 

Música | Roberta Sá - Alguém me avisou