Candidato foi alvo de uma facada quando fazia campanha em Juiz de Fora
- Globo
RIO — O ataque sofrido pelo candidato à Presidência JairBolsonaro (PSL), na quinta-feira, pode ter repercussões imprevisíveis para as eleições, disseram especialistas em Ciência Política ouvidos pelo GLOBO. O atentado, em que um homem esfaqueou o deputado na cidade de Juiz de Fora (MG), mobilizou as redes sociais e provocou reações de diversos setores da política brasileira, de outros candidatos até membros do Judiciário, Legislativo e Executivo.
Confira abaixo as análises feitas pelos pesquisadores
• David Fleischer
• Cláudio Couto
• Carlos Melo
• Alberto Carlos Almeida
• Pablo Ortellado
• Marco Aurélio Nogueira
• Fernando Schüler
• Carlos Pereira
David Fleischer
O fato é que nunca tivemos um atentado assim no Brasil, o que causa grande repercussão internacional e piora ainda mais a imagem do país, já bem abalada com o incêndio recente do Museu Nacional. Por um sentido de simpatia, a aprovação dele deve subir e até sua rejeição deve ser reduzida. O problema é que agora deverá ficar fora de campanha. Sem a exposição nas ruas e em atos com apoiadores, ele pode se prejudicar, e uma saída poderia ser colocar na rua o seu candidato a vice, general Mourão.
*Professor de Ciência Política da UNB
Cláudio Couto
O efeito desse acontecimento vai depender de quem seja identificado como responsável pelo atentado em Juiz de Fora. Uma parcela do eleitorado enxerga uma martirização do candidato, outra pode argumentar que, como o deputado Jair Bolsonaro adota na sua campanha um discurso de enaltecimento da violência, todo esse discurso, calcado na apologia da violência, pode ter se revertido contra ele mesmo. As causas, claro, estão relacionadas ao processo de radicalização política.
*Professor de Gestão Pública da FGV
Carlos Melo
A gente vem numa escalada há tempos. Começou com o nós contra eles, depois os coxinhas versus mortadelas, tucanos contra petralhas, os tiros contra o ônibus da caravana de Lula e agora a facada em Bolsonaro. A martirização de candidato é evidente após esse episódio. Será suficiente para ele ganhar a eleição? Não sei. Em 2014, Eduardo Campos morreu num acidente aéreo e sua vice não venceu. Desta vez, acho que o fato causará menor comoção, porque não houve morte, e mais convulsão.
*Professor de Ciência Política no Insper
Alberto Carlos Almeida
Casos como o de Bolsonaro costumam ter um efeito de mídia muito forte. Nas primeiras horas que se sucederam ao atentado isso ficou claro mais uma vez. Lembro do caso em 2004 da eleição na Espanha, que sofreu uma reviravolta após o atentado nos trens que matou quase 200 pessoas. A eleição aconteceu três dias depois do ato terrorista, e o partido conservador, que era o favorito, perdeu para os socialistas. Essa reviravolta se confirmaria se a eleição fosse mais adiante? Não sabemos.
*Autor do livro ‘O voto do brasileiro’
Pablo Ortellado
Não creio que esse atentado possa servir para desconstruir o discurso pró-armas de Jair Bolsonaro, justamente porque, agora, ele está em posição de vítima e tem a oportunidade de revigorar sua campanha. O problema não é mais a polarização. É a violência política. Os outros candidatos (à Presidência) devem se manifestar e se solidarizar com Jair Bolsonaro em nome da pacificação. Uma coisa é uma eleição muito disputada. Outra coisa é uma eleição disputada no campo da violência.
*Professor de Gestão de Políticas Públicas da USP
Marco Aurélio Nogueira
Os outros candidatos à Presidência devem explorar esse fato como um alerta para que a sociedade não se comporte de maneira violenta, seja durante a campanha, seja na vida social. Isso é assustador. As coisas já estão ultrapassando o limite do razoável no campo do debate verbal. Quando atingem esse nível, devemos acender todos os alertas. A sociedade brasileira não merece que a disputa eleitoral descambe nesse tipo de violência.
*Doutor em ciência política pela USP
Fernando Schüler
A violência cria uma permissibilidade, e o grande risco desse episódio é ter uma escalada de violência na política. O efeito eleitoral, neste momento, é secundário. Foi positiva a reação dos candidatos. Especulações sobre vantagem ou desvantagem na eleição são precipitadas. O que aconteceu a Bolsonaro é consequência da tensão política e do discurso recíproco muito radicalizado. Ele não justifica nada, mas acaba criando clima que pode levar uma pessoa perturbada ao extremo radicalismo.
*Professor do Insper
Carlos Pereira
É ruim um candidato à Presidência sofrer um atentado. Para pensar na repercussão disso, precisamos saber como o candidato vai se posicionar. Uma possível opção é a de martirização. Já tínhamos um mártir na prisão, agora vamos ter um esfaqueado, então a disputa política ganha mais dramaticidade. Não sabemos como os eleitores vão reagir a isso. Se, antes, o Ibope sinalizava que ele perderia em praticamente todos os cenários no segundo turno, agora, pode mudar. É um choque na campanha.
*Cientista Político e professor da FGV