Um dia depois de a presidente Dilma defender a coalizão, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pregou a "renovação" e criticou "velhas políticas que incomodam a sociedade”.
Eduardo Campos defende renovação política
Governador de Pernambuco repudia "velho pacto", e ex-ministra Marina Silva ataca o "poder pelo poder"
Letícia Lins, Cristina Tardáguila
RECIFE e RIO - Um dia depois de a presidente Dilma Rousseff defender a coalizão de partidos como meio de garantir a governabilidade do país, Eduardo Campos (PSB), atual governador de Pernambuco, disse que os velhos pactos políticos já não servem para promover mudanças e que o Brasil precisa mesmo é de "renovação". O partido de Campos faz parte da base de sustentação do governo.
Apesar de negar a posição de pré-candidato à Presidência da República em 2014, Campos aproveitou a manhã de ontem, na Praia de Boa Viagem, em Recife, para testar a popularidade. Posou para fotos e abraçou simpatizantes, ao lançar o programa Praia sem Barreiras, que pretende viabilizar o acesso de cadeirantes à areia e ao mar. No evento, aproveitou para criticar o modelo tributário brasileiro, classificado por ele como um dos piores da América Latina e, mais uma vez, repetiu a frase que vem usando em seminários e em entrevistas: a de que é possível fazer "muito mais" pelo país.
Campos evitou, no entanto, comentar diretamente as críticas feitas na sexta-feira pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), que acusou a presidente Dilma de privilegiar interesses eleitorais na reforma ministerial. Sem citar nomes, afirmou, entretanto, que não será o "velho pacto político" o responsável pelas mudanças de que o país precisa.
- A meu ver, o pacto político que vai ser capaz de fazer as mudanças continuarem, se acelerarem, não será conservador, com as velhas políticas, nem com aquilo que incomoda a sociedade brasileira - alfinetou.
Campos disse ainda que o debate sobre 2014 deverá ser feito em 2014 e que vai exigir tanto um diagnóstico sobre a situação econômica e política como "sobre os sinais que são dados pela sociedade".
- A própria eleição da primeira mulher para a Presidência e as eleições municipais em 2012, com uma série de jovens talentos, demonstram esse desejo de renovação. Eu já sinto os sinais do processo de renovação, vi isso aqui em Pernambuco, fiz parte desse processo - destacou ele. - Infelizmente o debate eleitoral parece ter sido antecipado e, aí, tudo que eu disser vai ter sempre alguém que vai puxar para a questão eleitoral. É um direito de quem puxa, assim como é um direito meu continuar discutindo o futuro do Brasil.
Campos contou que se reuniu com empresários em São Paulo e que não gostou da descrença que encontrou no futuro do país:
- Vi uma dose grande de pessimismo. Eu disse que sou otimista, que nos últimos anos se fez muito. Mas também disse que pode ser feito mais. No dia em que a gente achar que não pode fazer mais, a gente se entrega às circunstâncias, às desigualdades que estão aí, às deficiências que ainda existem e que são muitas. Precisamos fazer mais, sim. Até porque tivemos dois anos muito duros para o Brasil.
O governador voltou a cobrar a reforma tributária. Ressaltou que o modelo atual é um dos piores da América Latina e criticou as desonerações adotadas para movimentar a economia.
- Estamos fazendo desonerações tributárias muito pontuais. Mas acho que os efeitos dessas desonerações já demonstraram que elas são muito limitadas. É como se você já tivesse acostumado o organismo com determinado medicamento e dose - reclamou.
Mas, para o socialista, essas desonerações devem ser ampliadas:
- A gente precisa fazer reduções tributárias mais lineares, transversais ao conjunto da economia. Tudo que tiver espaço fiscal para desoneração, a gente precisa fazer.
De roupa esporte e calçando tênis, Campos distribuiu abraços e atendeu a pedidos de foto. Por fim, jogou voleibol sentado na areia da praia para testar a quadra construída a fim de atender às pessoas com deficiência locomotiva.
- Jogo melhor sentado do que em pé.
Marina Silva em busca de assinaturas
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que também ainda refuta a posição de candidata à Presidência em 2014, voltou a criticar a reforma ministerial de Dilma. Disse ser contra a união "do poder pelo poder".
Em caminhada por Copacabana, no Rio, para coletar assinaturas para a criação de seu novo partido, Marina disse que a Rede Sustentabilidade aspira a governar o Brasil, mas que é cedo para sair como candidata.
- Não queremos antecipar essa discussão. Estamos agora criando uma ferramenta política para discutir projetos e ideias, para adensar uma plataforma. Esse debate virá depois.
Na primeira meia hora do evento, do qual também participaram o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ) e o vereador Jefferson Moura (PSOL-RJ), Marina tirou fotos com simpatizantes e colheu pelo menos dez assinaturas.
- Em 2008 eu não sabia que havia um espaço entre Serra e Dilma para conseguir 20% dos votos. Tinha uma ecochapa, e disseram que teria entre 2% e 3%. Mas o imprevisível acontece. Sou prova disso. E defendo uma ideia (da sustentabilidade) cujo tempo chegou.
No sábado, Marina jantou com 50 atores e diretores na casa do ator Marcos Palmeira.
Fonte: O Globo