sábado, 19 de julho de 2014

Opinião do dia: Frei Caneca

Uma constituição não é outra coisa, que a ata do pacto social, que fazem entre si os homens, quando se ajuntam e associam para viverem em reunião, ou sociedade. Esta ata, portanto, deve conter a matéria sobre que se pactuou, apresentando as relações em que ficam os que governam e os governados, pois que sem governo não pode existir sociedade. Estas relações, a que se dão os nomes de direitos e deveres, devem ser tais, que defendam e sustentem a vida dos cidadãos, a sua liberdade, a sua propriedade, e dirijam todos os negócios sociais à conservação, bem-estar e vida cômoda dos sócios, segundo as circunstâncias do seu caráter, seus costumes, usos e qualidades do seu território etc.

Frei Caneca (Recife, 20/8/1779-13/01/1825), líder da Revolução Pernambucana (1817) e da Confederação do Equador (1824). Ensaios Político - Crítica da Constituição outorgada. P. 97, PUC – Rio, 1976.

Cenário piora para Dilma nas grandes cidades

A presidente Dilma enfrenta cenário difícil nas cidades com mais de 500 mil habitantes, onde, segundo o Datafolha, em 15 dias a rejeição à petista subiu e ela perdeu votos. Em SP, está empatada com Aécio. Já no Rio, ela vence.

Terreno minado

• Avaliação do governo piora, rejeição a Dilma sobe, e petista perde votos nas grandes cidades

Renato Onofre e Fernanda Krakovics – O Globo

SÃO PAULO e BRASÍLIA- Apesar de ainda liderar a disputa pelo Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff perdeu parte do capital político que tinha nos grandes centros urbanos — cidades que têm mais de 500 mil habitantes e que costumam funcionar como polos propagadores de votos para o resto do país. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada anteontem, nos últimos 15 dias, houve queda na intenção de votos na petista e aumento de seus índices de rejeição.

Além disso, piorou a avaliação de desempenho do atual governo. Os dados foram recebidos com preocupação pelo comitê que trabalha na reeleição da presidente.

De acordo com a sondagem, o percentual de eleitores que consideram a gestão de Dilma “ótima ou boa” recuou de 30%, no início de julho, para 25% nos municípios com mais de 500 mil habitantes. No mesmo período, a classificação de “ruim ou péssimo” foi de 31% para 37%, e a “regular”, de 38% para 37%, na mesma região.

Essa piora na avaliação se refletiu nos demais indicadores da pesquisa. Dilma viu as intenções de voto nessas cidades caírem de 32% para 29%. O percentual de eleitores que dizem votar no tucano Aécio Neves — que até aqui aparece como principal adversário à reeleição de Dilma — diminuiu de 24% para 22%, enquanto o de Eduardo Campos (PSB) foi de 8% para 9%. Cresceu, neste item, o número de votos em branco e nulos (de 17% para 19%) e dos eleitores que afirmaram que não sabem quem escolher (de 9% para 12%).

Já a rejeição de Dilma nos maiores municípios do país, que era de 37% no início de julho, chega agora a 42%. A de Aécio avançou um ponto percentual (para 21%), e a de Campos foi de 16% para 19%.

A importância da propaganda de TV
Para analistas ouvidos pelo GLOBO, as atenções do eleitor sobre o processo político foram ofuscadas durante a Copa do Mundo, o que gerou uma sensação de melhora do governo e se refletiu nos números divulgados pelo Datafolha no início de julho.

Contudo, terminada a competição, a falta de um legado concreto que melhore a rotina da população das grandes cidades reativou as tensões sociais expostas desde junho do ano passado.

Num cenário como este, ressaltam analistas, a propaganda no rádio e na TV será ainda mais importante na definição da eleição. A presidente Dilma terá o dobro do tempo de exposição de seus adversários e precisaria aproveitar isso em seu favor.

Divulgada na noite de quinta-feira, a pesquisa mostrou que Dilma tem 36% das intenções de voto no país — dois pontos a menos do que na pesquisa realizada nos dias 1 e 2 de julho. Ela ainda está à frente de Aécio, que manteve os 20% registrados na sondagem anterior, e de Campos, que foi de 8% para 9%. Mas, pela primeira vez, a presidente aparece em empate técnico com o tucano numa simulação de segundo turno.

Nesse cenário, Dilma teria 44% dos votos, e Aécio, 40%. O empate viria da margem de erro da sondagem, que é de dois pontos para mais ou para menos.

— O que vemos é a classe média dos grandes centros urbanos voltando à realidade, enfrentando caos no trânsito, assalto na porta de casa e aumento nos preços nas prateleiras. Apesar de essa culpa não ser exclusiva do governo federal, o crescimento dessa insatisfação hoje nada mais é do que o preço das inúmeras promessas que foram feitas e, até agora, não foram cumpridas — afirma o analista político e professor do Insper-SP Carlos Melo.

Empate em São Paulo
E não é de hoje que o aumento nas tensões urbanas preocupam o governo. Antes do início da Copa do Mundo, Dilma escalou ministros e aliados para defender publicamente o legado da competição.

— É como se fosse uma ressaca pós-Copa.

O cidadão comum acordou de uma festa e teve que encarar a realidade. E a realidade não mudou muito se comparado a junho do ano passado, quando ele foi às ruas cobrar mais mobilidade, saúde e educação — explica o cientista político e pesquisados da UFRJ Sandro Corrêa.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país (com cerca de 32 milhões de eleitores), Dilma e Aécio aparecem empatados na pesquisa de intenção de voto, com 25% das intenções de voto. O tucano ganha da presidente na capital (com 28% contra 23%) e na região metropolitana, que compreende parte do reduto petista, com 26% contra os 24% de Dilma. A disputa no interior do estado continua apertada, com 25% das intenções de voto para Dilma, um ponto a mais do que para Aécio (24%).

Ainda pelo Datafolha, nas simulações de segundo turno, Dilma perderia para seus dois adversários em São Paulo. Aécio venceria no estado por 50% a 31%. Campos, por 48% a 32%. Já no Rio, a presidente ainda mantém larga distância em relação ao tucano. Ela ganha tanto na capital (com 31% contra 19% de Aécio) quanto na região metropolitana (com 36% contra 17%) e no interior do estado (com 31% contra 17%).

O Datafolha mediu também o impacto da Copa do Mundo nas eleições. Dilma é, na opinião do eleitor, quem mais se beneficiou e também quem mais foi prejudicada pelo evento. De forma geral, 42% dos eleitores apontam que a petista foi quem mais se beneficiou com o Mundial, seguida por Aécio (7%) e Campos (2%). Um em cada quatro eleitores vê Dilma Rousseff como a mais prejudicada pela Copa. Outros 5% apontam Aécio, e 3%, Campos.

Para o professor do Iuperj Marcelo Simas, a saída da presidente Dilma é a TV. A petista deve ter 11 minutos e 48 segundos, contra 4m31s de Aécio e 1m49s de Campos.

A propaganda de rádio e TV acontecerá entre os dias 19 de agosto e 2 de outubro. Na hipótese de um segundo turno, o tempo será distribuído igualmente entre os dois candidatos.

— É cedo ainda para afirmar que a campanha de Dilma está ladeira abaixo. Há uma tendência negativa, mas é só o início da campanha. Dilma terá muito tempo de TV para expor sucessos de seu governo e explicar o legado de sua gestão — analisa Simas.

“Bom, não é”
Em Brasília, o empate técnico com Aécio no segundo turno e os demais dados da pesquisa Datafolha foram recebidos com preocupação pelo comitê de reeleição.

Mesmo assim, coordenadores da campanha afirmaram ontem que não haverá mudança na estratégia eleitoral.

Dilma vai continuar priorizando a agenda de presidente, e não as puramente eleitorais. A partir da semana que vem, ela deve visitar obras e participar de atividades relacionadas a projetos do governo federal, o que tem forte apelo eleitoral. Devido a restrições legais, ela não pode mais inaugurar obras nem lançar programas.

— Bom (o Datafolha), não é, mas não tem sangria desatada, desespero nem urgência.

Ela vai manter a agenda institucional de presidente — explicou um dos coordenadores da campanha petista.

Rejeição a Dilma cresce em quatro das cinco regiões do país

• No Sudeste, que reúne 60 milhões de eleitores, presidente tem pior índice

Renato Onofre – O Globo

-SÃO PAULO- A rejeição dos eleitores à presidente Dilma Rousseff (PT) aumentou em quatro das cinco regiões do país, de acordo com a pesquisa Datafolha divulgada anteontem. O pior desempenho da candidata petista continua sendo no Sudeste, onde 43% dos eleitores declaram que não votariam nela de jeito nenhum no primeiro turno da eleição presidencial de outubro. É também nessa região, que concentra a maioria do eleitorado brasileiro, com cerca de 60 milhões de pessoas aptas a votar, que Dilma tem seu pior índice de intenção de voto, de 28%.

No Nordeste, reduto de votos do PT desde a primeira eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o desempenho da presidente também piorou.

A rejeição a Dilma cresceu de 19%, nos dias 1 e 2 de julho, para 23% entre os eleitores consultados pelo Datafolha nos dias 15 e 16 deste mês. O número de eleitores que declararam voto à candidata do PT caiu de 55% para 49% no mesmo período.

Segundo o cientista político Sandro Corrêa, ainda é cedo para avaliar o cenário:

— Não era esperado ver o PT perder votos no Nordeste e ganhar novos no Sul. Há algumas hipóteses que devem ser analisadas nas próximas pesquisas como o crescimento do Eduardo Campos (PSB) na região onde tem seu reduto político. A oscilação foi grande, mas só deve assustar se Campos conseguir reverter
seu nível de conhecimento na região em voto — explicou.

Nos nove estados nordestinos, Campos cresceu apenas um ponto percentual, chegando a 12% das intenções de voto, contra 10% do candidato do PSDB, Aécio Neves. A rejeição do pernambucano também subiu um ponto, de 19% para 20%. Já o percentual de leitores que declaram não votar em Aécio caiu de 25% para 24%.

Se a rejeição a Dilma no Sudeste continua alto, a do senador tucano também cresceu, de 14% para 16%. Entre os três primeiros, o único que melhorou seu índice de rejeição foi Campos, que passou de 10% para 9%.

O voto das mulheres
O recuo de Dilma na pesquisa pode ser explicado, em parte, pela queda no desempenho da petistas em dois segmentos onde o PT conseguiu bons desempenhos nas urnas nas últimas três eleições: entre os eleitores com renda até dois salários mínimos e entre aqueles que declaram ter apenas o ensino fundamental.

Segundo a pesquisa Datafolha, a intenção de voto da presidente também caiu entre o eleitorado feminino, recuando quatro pontos percentuais, de 38% para 34%.

Entre os eleitores com renda até dois salários mínimos, Dilma caiu dos 45% de intenção de voto para 42%, e Aécio subiu um ponto, chegando a 14% das intenções de voto. Campos também caiu de 9% para 7%.

Em 1º ato de campanha, Dilma ataca Aécio e mira SP

• Presidente comanda bate-papo com internautas em página administrada pelo PT para dizer que adversário pretende acabar com programa federal que é bandeira de Padilha; tucano responde que pesquisas eleitorais afetam ‘equilíbrio da candidata’

Rafael Moraes Moura e Tânia Monteiro - Agência Estado

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff realizou seu primeiro ato oficial de campanha nesta sexta-feira, 18, em bate-papo com internautas em página de uma rede social dedicada ao seu projeto reeleitoral. Ela escolheu como tema o programa Mais Médicos, criticado dois dias atrás por seu principal adversário na corrida ao Planalto, o tucano Aécio Neves, e bandeira de campanha do nome do PT ao governo paulista, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Dilma aproveitou para dar estocadas no governador Geraldo Alckmin, adversário de Padilha e aliado de Aécio.

A primeira investida de cunho estritamente eleitoral de Dilma desde o início oficial da disputa ocorre um dia após a divulgação de pesquisa Datafolha que aponta empate técnico entre ela e Aécio na simulação de 2.º turno.

A campanha começou oficialmente em 6 de julho. Naquela data, Dilma divulgou vídeo previamente gravado no qual previa uma eleição “politizada”. E desde então vinha se dedicando à agenda institucional do cargo, como entregar a taça na final da Copa do Mundo e participar de reuniões dos Brics em Fortaleza.

“As críticas ao programa feitas pelo senador (Aécio) não significam uma sugestão para a melhoria do programa. Na verdade, essas críticas demonstram simplesmente que o senador é contra o Mais Médicos, aliás como foi a posição do seu partido ao longo de todo o processo de aprovação”, disse Dilma via Facebook.

Na quarta-feira, Aécio disse que, se for eleito, não se submeterá às regras impostas por Cuba para a participação do país no programa. Dos 14 mil profissionais que atuam sobretudo em cidades do interior do País, 11 mil são cubanos. Eles não recebem diretamente do governo federal.

O Brasil paga R$ 10,4 mil por profissional à Organização Pan-americana de Saúde (Opas), que transfere o dinheiro ao governo de Cuba – e este, por sua vez, paga os médicos. Os cubanos recebem por mês US$ 1.245, o equivalente a R$ 3 mil.

A disparidade foi usada como argumento para que alguns médicos cubanos deixassem o programa de Dilma.

Nesta sexta, a presidente foi questionada por um internauta sobre por que o Brasil “paga apenas 3.000,00” para cada médico cubano. “Eles (médicos cubanos) são funcionários do governo cubano, mantêm seus salários e benefícios em Cuba e recebem este valor pago pelo governo brasileiro como uma ajuda de custo adicional”, respondeu. Os gastos com moradia, alimentação e transporte para o posto de saúde, observou Dilma, são de responsabilidade das prefeituras.

“Não há evasão significativa de médicos do programa. Apenas 1,2% dos médicos desistiram por razões diversas. Dos 174 que saíram, 144 eram brasileiros. Ou seja, a grande maioria, 82%. Portanto, há uma grande desinformação”, escreveu.

Dilma cutucou os tucanos em outro momento, ao ressaltar que São Paulo, “o Estado mais rico do País, foi também aquele que mais demandou médicos”. “Na periferia das regiões metropolitanas, como a de São Paulo, a de Campinas, a das grandes cidades do interior, por exemplo Ribeirão Preto, Bauru, havia uma profunda carência de médicos. Por isso, ao resolver um problema dessa gravidade num tempo tão curto, consideramos que o programa deu certo”, disse.

A presidente até postou mapas que ilustravam a distribuição de médicos – que não são do programa – pelo território brasileiro, considerada “distorcida e injusta” por Dilma. “Veja você que todos os médicos preferiam o litoral e as regiões ricas das cidades”, disse Dilma.

À noite, Aécio também foi ao Facebook. “É uma pena que o resultado das pesquisas eleitorais afete tanto o equilíbrio da candidata que hoje tem a responsabilidade de dirigir o País”, escreveu. A conversa de Dilma com internautas ocorreu na página da petista administrada pelo partido. Até então, ela tinha realizado bate-papos (chamados de “Face to Face”) na página institucional do Planalto no Facebook.

A presidente decidiu montar o fórum virtual no site da campanha porque o governo considerou “arriscado” usar o site oficial do Palácio do Planalto.

Escolha. No dia 7 deste mês, já havia ocorrido um curto-circuito sobre que site usar para fazer o “Face to Face” sobre a Copa do Mundo. Naquela ocasião, decidiu-se usar a página do Planalto por se considerar que o assunto era específico de governo. De acordo com assessores da presidente, o fato de ser um site de campanha também ampliou a repercussão das discussões sobre o Mais Médicos.

No site do PT, as postagens foram mais agressivas e sem a mediação por palavra que há na página do Planalto. O bate-papo desta sexta registrou cerca de 6 mil perguntas, mais que os “Face to Face” anteriores, que tiveram menos de mil. Colaboraram Álvaro Campos e Débora Álvares

Resultado de pesquisas 'afeta equilíbrio' de Dilma, diz Aécio

Ayr Aliski - Agência Estado

O candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, recorreu à internet para criticar a presidente Dilma Rousseff, que é a candidata do PT à reeleição. "É uma pena que o resultado das pesquisas eleitorais afete tanto o equilíbrio da candidata que hoje tem a responsabilidade de dirigir o País", postou Aécio no Facebook. No centro da discussão, está o programa Mais Médicos, um dos pilares de Dilma na tentativa de conquistar mais um mandato à frente do Palácio do Planalto. O candidato tucano prometeu esta semana "renegociar" os termos do acerto entre Brasil e Cuba.

Mais cedo, também no Facebook, Dilma rebateu as declarações de Aécio em relação ao Mais Médicos. Dilma disse, em conversa com internautas, que as opiniões do tucano "não significam uma sugestão para a melhoria do programa". A presidente declarou ainda que "as criticas ao programa feitas pelo senador não significam uma sugestão para a melhoria do programa. Na verdade, essas críticas demonstram simplesmente que o senador é contra o Mais Médicos, aliás como foi a posição do seu partido, ao longo de todo o processo de aprovação".

Aécio tratou de rebater Dilma ainda nesta sexta-feira, e também foi para a internet. "Não há nada que desqualifique tanto o debate político e desonre tanto a democracia quanto o uso da mentira e de artifícios como o de colocar na boca do adversário palavras que ele não disse. Práticas que se tornam ainda mais graves quando partem da presidente da República", postou nesta noite Aécio. Ele foi além e afirmou que "hoje, a candidata mentiu ao dizer que eu sou contra o Mais Médicos". "Para que não haja duvidas: não vou acabar com o Mais Médicos, vou aprimorá-lo. Não vou acabar com o Bolsa Família vou aprimorá-lo".

Segundo a postagem do candidato tucano, "o povo brasileiro merece um debate eleitoral que respeite a verdade". Ele disse, ainda, que "melhorar programas sociais, promover avanços, é dever de todo governante responsável". "Apenas os autoritários, os que se julgam donos da verdade, espalham o medo por temerem mudanças e os avanços que elas podem trazer."

Aécio prometeu também no Facebook que "em diálogo com a sociedade, vamos avançar para melhorar o País e para termos mais saúde, mais educação, mais segurança e menos corrupção, compadrio e mentiras".

Na primeira pesquisa eleitoral feita após a derrota do Brasil na etapa final da Copa do Mundo, a taxa de intenção de votos na presidente Dilma Rousseff oscilou dois pontos porcentuais para baixo. Segundo o instituto Datafolha, ela tem 36% das intenções de voto, contra 20% para Aécio Neves (PSDB) e 8% para Eduardo Campos (PSB). Esses dados foram divulgados nesta quinta-feira, 17.

Para tucano, presidente não pode sair à rua para ‘olhar no olho do eleitor’

• Declaração foi dada na Baixada Fluminense, em evento de campanha com militância paga; cada cabo eleitoral levou R$ 30

Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

RIO DE JANEIRO - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, disse nesta sexta-feira, 18, que a presidente Dilma Rousseff não tem condições de andar na rua e ter contato direto com o eleitor.

“Está se iniciando uma nova etapa da campanha eleitoral, que é esse contato físico, olho no olho. O candidato tem de transmitir confiança para o eleitor. Vamos andar o Brasil inteiro, e minha companheira de viagem é a verdade. Não sei se a presidente da República tem hoje condição de andar o Brasil e olhar nos olhos daqueles que nela confiaram e se decepcionaram”, afirmou o tucano, que fez uma caminhada no centro de Queimados, na Baixada Fluminense.

Pelo menos 150 cabos eleitorais, contratados por R$ 30 para um dia de trabalho, seguravam bandeiras com o nome de Aécio e do movimento “Aezão”, que prega voto no tucano para o Planalto e em Luiz Fernando Pezão (PMDB) para o governo do Rio. Os contratados, porém, diziam ter dúvidas em relação à aliança informal – o PSDB foi oposição por mais de sete anos ao governo de Sérgio Cabral e de Pezão, que era vice. “Quando começar a propaganda na TV é que a gente vai conhecer melhor os candidatos”, afirmou a dona de casa Regina Pereira, mãe de quatro filhos. Contratada como cabo eleitoral, ela chegou às 15 horas à Praça dos Eucaliptos, ponto de encontro da caminhada.

Ao ver Regina com a bandeira, uma amiga dela, Iara Barros, quis saber quanto recebe um cabo eleitoral e como ser contratada para esse trabalho. “Ganhar algum dinheirinho para a eleição seria bom. Já vi o Aécio na TV”, disse Iara ao Estado.

Ao som do jingle cujo refrão diz “o povo nas ruas aprova a união, o Rio de Janeiro vai de Aécio e Pezão”, Aécio não estava acompanhado de Pezão, que já declarou que dará palanque eleitoral para três candidatos ao Planalto: além de Aécio, para a presidente Dilma (PT) e para o Pastor Everaldo (PSC).

A heterodoxia das alianças foi classificada pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), como “bacanal eleitoral”. / Colaborou Wilson Tosta

‘Fizemos uma aliança em favor do Rio’, diz Aécio sobre aliança com peemedebistas

• Tucano classifica aliança com integrantes da sigla como ‘extraordinária’; Pezão não compareceu ao evento

Juliana Castro e Rafaela Marinho – O Globo

RIO — Em seu primeiro evento de campanha no Rio, o presidenciável Aécio Neves (PSDB) caminhou pelas ruas de Queimados, na Baixada Fluminense, numa agenda organizada pelos articuladores do “Aezão”, movimento de apoio a sua candidatura e a do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB). No discurso feito após a caminhada, o tucano disse que, num primeiro momento, a aliança que uniu peemedebistas, tucanos e democratas causou perplexidade.

Aécio falou sobre a aliança ao se dirigir ao prefeito de Queimados, Max Lemos (PMDB), um dos entusiastas do “Aezão”, e ao explicar ao público presente o motivo pelo qual começou a campanha no Rio pela cidade da Baixada Fluminense:

— Não foi por acaso que escolhi Queimados. Max, você participou desde o primeiro instante dessa extraordinária articulação política que o Brasil inteiro, num primeiro momento, viu com alguma perplexidade, mas, num segundo momento, passaram a aplaudir — afirmou Aécio. — Fizemos uma aliança em favor de Rio de Janeiro.

Aécio participou pessoalmente da costura da aliança fluminense, que trouxe o PSDB, DEM e PPS para o palanque de Pezão. Foi oferecida a vaga de candidato ao Senado a Cesar Maia (DEM), que desistiu de disputar a sucessão estadual. O pacto entre os partidos chegou a ser classificado como “bacanal eleitoral” pelo prefeito Eduardo Paes.

No discurso, o tucano falou rapidamente sobre economia, dizendo que, “infelizmente, a inflação está nos atormentando mais uma vez”. Ele criticou também o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), sua adversária nesta eleição, em outras duas áreas, como a Saúde e a Segurança Pública. Aécio disse que diminuiu a participação do governo federal no montante de recursos destinados à Saúde e que os prefeitos estão arcando com isso.

Aécio pediu aos presentes que ajudassem a eleger os candidatos a deputados presentes porque não poderia fazer nada se não tivesse o apoio no Congresso. O tucano, que recebeu o título de cidadão de Queimados no palco, lembrou que, certa vez em um debate, disseram que ele tinha o defeito de ficar mais no Rio que em Minas, apesar de ser mineiro.

— Eu disse que se gostar do Rio é um defeito, é um defeito que aumenta na minha alma — afirmou aos presentes.

Pezão não participa de evento
Candidato ao Senado na chapa do PMDB, o vereador Cesar Maia (DEM) esteve presente e discursou brevemente. O democrata afirmou que Pezão ligou para ele antes do evento dizendo que não poderia comparecer porque estava em horário de expediente, mas que mandava um caloroso abraço a todos.

Durante a caminhada, Aécio disse ao GLOBO que deve ter agenda no Rio ao menos uma vez por semana e que, na próxima sexta-feira, vai a Vigário Geral conversar com jovens, numa agenda organizada pelo coordenador do Afroregae, José Junior, coordenador de seu programa de governo na área de juventude.

Antes da caminhada, Aécio declarou em entrevista que começa agora um novo momento na corrida presidencial e aproveitou para alfinetar Dilma:

— Começa uma nova etapa da campanha, com o contato físico, olho no olho. O candidato tem que transmitir confiança ao eleitor. Como aqui e Queimados, vou andar o Brasil inteiro. Meu companheiro de viagem é a verdade. Não sei se a presidente da República tem condições de olhar nos olhos daqueles que nela confiaram e que foram decepcionados por ela, como mostram todas as pesquisas que querem a mudança.

O presidenciável começou a caminhada na Praça dos Eucaliptos e seguiu pela passarela da linha férrea, onde houve reclamações dos passageiros do trem por conta da confusão. Aécio estava cercado de correligionários e tinha dificuldade de cumprimentar outros eleitores.

Aécio e o presidente do PMDB do Rio, Jorge Picciani, conversaram nesta sexta e o tucano ficou de entregar neste fim de semana pelo menos cinco datas para que o peemedebista marque as agendas no estado. Aécio escolheu Picciani para coordenar sua campanha no Rio.

Estiveram na caminhada o vice na chapa de Pezão, senador Francisco Dornelles, e os presidentes do PSD do Rio, Indio da Costa, e do PSDB no estado, Luiz Paulo. O prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Burnier (PMDB), que dias atrás ameaçou abandonar o barco de Dilma, foi ao ato.

Alta rejeição de Dilma em SP preocupa campanha petista

• Datafolha diz que 47% dos paulistas não votam na presidente de jeito nenhum

• Petistas temem que o fenômeno possa 'desequilibrar o jogo' e prometem ajuda financeira a Padilha

Andreia Sadi, Márcio Falcão e Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO e BRASÍLIA - A alta taxa de rejeição da presidente Dilma Rousseff em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, virou uma das preocupações centrais da campanha petista.

A ponto de um assessor palaciano falar em "cristalização" do fenômeno. Ou de outro já admitir que isso poderá até desequilibrar o jogo" a favor de seus rivais.

A pesquisa Datafolha finalizada na quarta mostrou que Dilma tem 35% de rejeição no país. Está acima das taxas de seus concorrentes e dos 19% da própria petista no mesmo período de 2010, ano em que ela foi eleita presidente.

Mas o número chega a parecer pequeno se comparado com o que ocorre em São Paulo hoje. No Estado que reúne 22,4% do eleitorado, 47% dizem que não votariam em Dilma de jeito nenhum. Na capital, 49% respondem assim.

Esse comportamento repercute nas intenções de voto. Em todo o país, Dilma tem 16 pontos de vantagem sobre o tucano Aécio Neves, seu principal rival. Em São Paulo, porém, a situação é de empate absoluto, com 25% para cada um. Na capital, Aécio vence Dilma por 28% a 23%.

A dificuldade dela junto aos eleitores paulistas fica ainda mais explícita nas simulações de segundo turno.

Aécio a derrotaria por 50% a 31% se a eleição fosse só no Estado. E mesmo Eduardo Campos (PSB), hoje em terceiro na disputa nacional, ganharia da presidente com folga numa disputa direta nas urnas paulistas, 48% a 32%.

A avaliação petista é que o voto no segundo turno no Estado seria para "impor uma derrota" à presidente, seja qual for o candidato.

Por isso, defendem que haja uma operação específica para o Estado, combinada a uma imersão maior de Dilma em São Paulo. Uma espécie de "campanha paralela'', na expressão de um assessor.

A ideia é retomar o diálogo com setores antes cativos do PT, mas que perderam a interlocução. Como exemplo, citam os movimentos sociais e um grupo de empresários.

Outro recurso mencionado é dar uma turbinada política e financeira na campanha de Alexandre Padilha, o candidato a governador do PT que está com 4% na pesquisa.

Cruzamentos do Datafolha mostram Dilma numa situação de dependência dos eleitores do governador Geraldo Alckmin (PSDB), apoiador de Aécio na eleição presidencial.

Hoje, um quarto dos eleitores do tucano dizem que votariam em Dilma na presidencial. Alckmin tem 54% para governador, mais que o triplo do segundo colocado, Paulo Skaf (PMDB).

Teme-se que, com tamanha vantagem, ele possa se sentir mais à vontade para se dedicar com mais afinco na campanha de Aécio.

É uma situação bem diferente da do Rio, onde Dilma mantém uma liderança mais confortável e dispõe de espaço nos palanques dos principais concorrentes locais.

Dilma pediu que a cúpula do PT invista em Padilha com intuito de vitaminar sua própria candidatura em São Paulo até o início da propaganda gratuita na TV, em agosto.
Integrantes da campanha nacional preveem ajuda financeira para a do ex-ministro da Saúde. Fala-se também num reforço da presença de lideranças importantes do partido nos eventos paulistas com o objetivo de passar credibilidade ao candidato.

O desejo da campanha de Dilma é que Padilha cresça para, pelo menos, 10% até 19 de agosto, quando começa o horário eleitoral.

Esse investimento é também uma forma de tentar diminuir a dependência de Skaf, que chegou a ser apontado como "plano B" de Dilma no Estado. Skaf resiste em oferecer palanque para Dilma, embora já tenha sido discretamente "enquadrado" pelo vice, Michel Temer.

As contas do PT também levam em consideração as dificuldades do petista Fernando Haddad, prefeito aprovado por apenas 15% dos paulistanos.

Sensus: Dilma e Aécio empatam em eventual 2ºturno

• Nas simulações de segundo turno, a diferença entre a presidente Dilma Rousseff e seus potenciais adversários caiu

Equipe AE - Agência Estado

Pesquisa feita pelo Instituto Sensus mostra que a presidente Dilma Rousseff (PT) sofreu uma oscilação dentro da margem de erro, mas manteve o mesmo patamar nas intenções de voto. A pesquisa mostrou ainda que Dilma e o candidato do PSDB, Aécio Neves, estão empatados tecnicamente em um eventual segundo turno.

A presidente oscilou de 32,2% das intenções em junho para 31,6% no levantamento divulgado neste sábado pela revista IstoÉ. O candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves, oscilou de 21,5% para 21,1%. Já Eduardo Campos, do PSB, oscilou de 7,5% para 7,2%%.

O pastor Everaldo Pereira (PSC) teve 2,6% das intenções de voto, ante 2,3% em junho. Luciana Genro (PSOL) tem 1,1%. Rui Costa Pimenta (PCO), 0,7%. José Maria (PSTU), 0,5%. Eduardo Jorge (PV), 0,3%. Eymael (PDC), 0,3%. Levy Fidelix (PRTB) 0,3%. Mauro Iasi (PCB) tem 0,1%. Brancos, nulos, não respondeu são 34,4%, ante 28,8% na pesquisa anterior.

Segundo turno
Nas simulações de segundo turno, a diferença entre a presidente Dilma Rousseff e seus potenciais adversários caiu. No cenário com Aécio Neves, o placar fica em 36,3% contra 36,2% do tucano, tecnicamente empatados. Em junho, Dilma tinha 37,8% das intenções contra 32,7% de Aécio, uma diferença de 5,1 pontos porcentuais.

Quando o oponente de Dilma é Eduardo Campos, a presidente teria 38,7% das intenções de voto contra 30,9% do pessebista, uma diferença de 7,8 pontos porcentuais. Em junho, a petista tinha 37,5% contra 26,9% de Campos, 10,6 pontos de diferença.

Avaliação do governo
Os eleitores também foram questionados sobre a avaliação do governo Dilma Rousseff. A avaliação positiva oscilou de 34,2% em junho para 32,4% agora. A avaliação negativa caiu de 34,6% no levantamento anterior para 28,5% na pesquisa atual. Já a avaliação regular subiu de 29,1%% para 36,4%. A porcentagem dos que não responderam ou não souberam responder ficou em 2,8%, ante 2,2% da última mostra.

A pesquisa Sensus, contratada pelo próprio Instituto, foi a campo entre 12 e 15 de julho e ouviu 2 mil eleitores em 136 municípios de 24 Estados do País. O levantamento tem nível de confiança estimado de 95% e margem de erro máxima de 2,2 pontos porcentuais. A pesquisa foi registrada na Justiça Eleitoral sob o protocolo BR-00214/2014.

Campos volta a se comprometer com passe livre estudantil

José Roberto Castro e Isadora Peron - Agência Estado

O candidato ao Palácio do Planalto Eduardo Campos (PSB) voltou a se comprometer, nesta sexta-feira, com a implantação de escolas em tempo integral e com o passe livre estudantil no transporte público em um eventual governo. "Temos que encontrar - municípios, Estados e a União - uma forma de financiar o passe livre. Vou fazer do passe livre uma realidade no Brasil, como vou fazer da escola em tempo integral, como fiz em Pernambuco", disse, em entrevista em Itapecerica da Serra, região metropolitana de São Paulo.

O candidato do PSB tratou o financiamento do passe livre para os estudantes como uma questão de prioridade e citou outros gastos da União, como o pagamento de juros e o dinheiro destinado às elétricas. "Tem dinheiro. Se você for ver, as distribuidoras de energia levaram R$ 22 bilhões, o passe livre custa, no máximo, R$ 12 bilhões. Por que tem dinheiro para as distribuidoras de energia?

Quando se sobe a Selic em 1 ponto porcentual por erros na macroeconomia, gastam-se R$ 27 bilhões a mais. Quase duas vezes o passe livre", defendeu, ao fim de uma caminhada pela região central de Itapecerica da Serra.

De São Paulo, Campos segue para Crato, no Ceará, onde participa de uma feira agropecuária.

Campos acumula promessas e lança programa de carreira para médicos

• Plano federal atenderia entidades de classe e rivaliza com Mais Médicos, vitrine do governo Dilma

• Candidato do PSB, que tenta alavancar nas pesquisas, já havia prometido passe livre no início da semana

Ranier Bragon e Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Na tentativa de se firmar como uma opção viável à polarização entre o PT e o PSDB e decolar nas pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, vai lançar nos próximos dias novas promessas de governo.

Está pronta para sair do forno uma proposta na área de saúde que atende a uma antiga reivindicação das entidades de classe e rivaliza com o Mais Médicos, uma das vitrines da campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT).

Trata-se da criação de um plano de carreira federal para médicos, com evolução salarial ao longo dos anos, entre outros benefícios.

A campanha do ex-governador de Pernambuco estuda lançar a ideia na inauguração do comitê central de Campos, nesta segunda (21), na zona sul de São Paulo.

Com a proposta, o candidato agrada as entidades médicas que rejeitaram o Mais Médicos, cujo objetivo é suprir a carência de profissionais nas periferias e também no interior do Brasil.

A principal crítica é quanto à vinda de médicos estrangeiros --os cubanos somam cerca de 80%-- sem diplomas revalidados. A solução defendida é a melhora da infraestrutura dos serviços de saúde e a promoção de carreira de Estado para os médicos.

Não existe hoje uma carreira federal no país. Há somente concursos federais para determinados hospitais e instituições, e carreiras nos âmbitos estadual e municipal.
Terceiro colocado nas pesquisas de intenção de voto --8% no Datafolha--, Campos tem como meta superar o também oposicionista Aécio Neves (PSDB), que tem 20%, e seguir para um segundo turno contra Dilma.

A série de promessas feitas por Campos nas últimas semanas tem ainda como objetivo diferenciá-lo do tucano, classificado pelo pernambucano como integrante da "oposição conservadora".

Campos já prometeu passe livre para estudantes durante encontro com universitários de escolas públicas e privadas de São Paulo, como mostrou a Folha.

Disse a empresários que irá apresentar em agosto proposta de emenda constitucional para a reforma tributária, e sua campanha confirma que defenderá o fim do fator previdenciário --que reduz o valor da aposentadoria de quem deixa o trabalho mais cedo.

Na relação da União com os municípios, Campos diz que pretende desburocratizar o sistema de repasse de verbas federais às prefeituras, além de aumentar o valor.

A ideia é replicar nacionalmente um programa que ele instituiu em Pernambuco: o de dar às prefeituras, para investimento em infraestrutura, uma parcela extra anual equivalente a um mês de repasse do FPM (Fundo de Participação dos Municípios).

Ainda não há, entretanto, detalhamento de onde viria o dinheiro para cumprir todas essas promessas. Campos diz que sua equipe trabalhará nisso até o fim do mês, quando fica pronta a nova versão de seu programa.

"O objetivo de uma candidatura é anunciar políticas públicas e de governo diferentes das já aplicadas. Essa é a natureza de uma candidatura de oposição que se preze", explica Carlos Siqueira, coordenador-geral da campanha do ex-governador.

Colaborou Johanna Nublat, de Brasília

Conjuntura conspira contra Dilma: O Globo - Editorial

• Desaquecimento da economia, consequente queda na geração de empregos e inflação elevada não animam investidores e funcionam como os piores cabos eleitorais

Antes da Copa, discutiu-se se o evento ajudaria ou não a candidatura à reeleição de Dilma Rousseff. Logo no início da competição, constatou-se que tudo corria bem nos estádios e havia festa nas ruas, clima ajudado pelas medidas de emergência tomadas por estados e municípios, com a decretação de feriados. Não houve sequer maiores espaços para o radicalismo black bloc.

Uma pesquisa feita no final de junho e divulgada no início de julho deu algum alento à candidata. Agora, de volta à vida do cotidiano, e perdida a Copa, a mais recente sondagem do Datafolha aponta para um quadro perigoso à frente das aspirações do PT. O dado mais sugestivo é o empate técnico, em simulação de segundo turno, entre Dilma e o seu mais forte concorrente até agora, o tucano Aécio Neves, na faixa dos 40% dos votos. Também a tendência da avaliação da gestão da presidente não ajuda.

Se o Brasil houvesse ganhado o hexa, o quadro seria outro? Inútil especular. Assim como debater se a maneira vexaminosa como a seleção foi desclassificada pela Alemanha teria alguma influência no humor do eleitorado. Terreno mais firme para análises é o cenário da economia que se desenha já há algum tempo. Hoje já não se discute se o ciclo de crescimento pela via do consumo se esgotou de fato.

A comprovação está no noticiário econômico das últimas semanas. As dificuldades enfrentadas pela indústria se refletem no mercado de trabalho, um ponto forte no palanque dilmista. Em junho, pelo quarto mês consecutivo, caiu a quantidade de novos empregos com carteira assinada: 25.363, o pior número mensal em 16 anos, uma queda de 79,5% em relação a junho do ano passado, quando foram gerados 123.846 empregos formais.

Há um problema específico na indústria automobilística, bastante incentivada pelo governo. Mas o endividamento das famílias e a dependência em relação ao mercado da Argentina, no limiar de nova moratória externa, são barreiras difíceis de transpor.

Os sinais de desaquecimento da economia ficam mais fortes: o IBC-BR, índice do Banco Central de estimativa de tendência do PIB, retrocedeu 0,18% em maio. Um indicador semelhante, da Fundação Getúlio Vargas, caiu 4% de janeiro a junho. Parece haver uma recessão a caminho.

E como a inflação persiste, até acaba de furar mais uma vez o teto da meta de 6,5%, configura-se uma conjuntura ruim de estagflação.

Não precisaria ter sido assim. Bastava o governo não ter cometido tantos erros: na leniência com a própria inflação, com o desregramento nos gastos públicos e no solapamento da confiança no futuro. Se a inflação está elevada com preços públicos artificialmente contidos, quanto ela será em 2015? Diante da pergunta, projetos de investimentos são adiados.

Mesmo porque o represamento se dá em insumos essenciais: energia e combustíveis.

Preços em elevação e risco de desemprego são os piores cabos eleitorais.

Luiz Werneck Vianna: O futebol e a política

• O anacronismo e a resistência à inovação são marcas comuns a esses dois mundos

- O Estado de S. Paulo

Não se pode mais não sentir, os ventos de mudança sopram de todas as direções. As jornadas de junho de 2013 no Brasil, que se alongaram nestes primeiros meses de 2014, com novos temas e outros personagens, especialmente em torno da questão da habitação popular, ameaçam pegar um forte vento de cauda com o surpreendente desastre da seleção nacional na Copa do Mundo.

Do mundo do futebol, que só os ingênuos e as análises mal-intencionadas podem afetar indiferença quanto a seus efeitos sobre o humor dos brasileiros, já toma corpo o diagnóstico de que ele requer uma radical mudança na sua cultura e nas suas estruturas. A linguagem do futebol, notoriamente, é um instrumento relevante da nossa cognição e presença forte na construção das metáforas com que estabelecemos a nossa comunicação de uso cotidiano, na política inclusive, popularizadas nas falas públicas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De fato - e nisso há consenso geral - não é verificável empiricamente a relação entre êxitos e fracassos da nossa seleção de futebol com resultados eleitorais nas sucessões presidenciais. Mas, de outra parte, é inegável que a massiva exposição pública dos critérios adotados na convocação dos jogadores, na sua escalação para os jogos, nos métodos de treinamento e na avaliação do desempenho de cada qual, escrutinados com interesse apaixonado pela população, não só favorece um amplo processo dialógico, como também se faz presente na formação do senso comum com que os brasileiros se percebem nas suas circunstâncias.

O resultado acachapante da disputa das semifinais com a Alemanha (7 a 1), parcialmente confirmado, dias depois, na derrota para a Holanda (3 a 0), não pode ser atribuído tão somente ao fortuito e aos azares sempre presentes nas disputas esportivas. Ele depõe contra a concepção estratégica da nossa preparação para os jogos e denuncia o anacronismo do nosso repertório e do nosso sistema de jogo, de resto visível nas competições em que se envolveram, em tempos recentes, os nossos principais clubes nos torneios internacionais. Exemplar, no caso, a derrota por 4 a 0 imposta pelo Barcelona ao Santos do sempre brilhante Neymar, em 2011, na final do campeonato mundial interclubes. E, sobretudo, põe a nu as estruturas do nosso futebol - arcaicas, autocráticas -, que, com esse resultados apavorantes na Copa do Mundo, abriu uma janela para a oportunidade da sua remoção. A qual, todavia, não virá sem o clamor público e a ação de uma crítica contundente que a tornem imperativa.

Mais do que exercer um papel pedagógico para a vida moderna, com sua intrínseca valorização da cooperação - a coordenação de movimentos dos jogadores para defender e atacar - e do mérito individual, o futebol, entre nós, conforma um laboratório silencioso onde se processam experiências que transcendem o seu território. A questão racial foi uma delas, tão bem percebida por Mario Filho no clássico da nossa literatura social O Negro no Futebol Brasileiro, quando argumentou que a valorização do negro - seu modelo foi Leônidas da Silva, notável atacante dos anos 1930 - nos estádios de futebol teria contribuído para a sua valorização na sociedade. Não há Muralha da China a interditar o aprendizado que daí deriva para outras dimensões da vida social, como, entre outros estudiosos, tem destacado o antropólogo Roberto DaMatta.

O sentimento em favor de mudanças que varre o País certamente não nasceu nesse "laboratório", mas há algumas coincidências com o que já agita o mundo do futebol. Entre tantas, a política do presidencialismo de coalizão na forma bastarda como o adotamos, cujas afinidades eletivas com as práticas vigentes entre nossos próceres esportivos chamam a atenção ao submeterem o futebol, tal como os da política, aos interesses de autorreprodução de suas elites dirigentes. O anacronismo e a resistência à inovação são outras marcas comuns.

Fechada em panos de luto a Copa do Mundo de 2014, vamos, agora, para a sucessão presidencial e as eleições para governador e das Casas parlamentares, que já se iniciam sob maus auspícios com a movimentação dos nossos paredros da política em torno de alianças erráticas, sopas de letrinhas a combinarem alhos com bugalhos, sem programa e sem alma diante de uma população que reclama por mudanças, tanto nas ruas como fora delas.

O script apresentado, até então, por candidatos e partidos políticos para a disputa eleitoral não está à altura da excepcionalidade do momento que vivemos, com as nossas ruas varridas por movimentos de protestos contra a natureza da política imperante entre nós. Se antes, com todos os seus males conhecidos, tal política tinha assegurado condições razoáveis de governabilidade, agora jaz exaurida diante de uma sociedade que recusa ser representada por ela.

Inverteu-se, faz tempo, uma relação tradicional na nossa vida política: a sociedade é, hoje, mais moderna do que o seu Estado, como se pode verificar com a emergência dos movimentos sociais que brotam de toda parte e se mantêm estrangeiros à política institucionalizada.

Pode-se sustentar que, na Copa do Mundo, nos faltaram sinais que advertissem sobre a catástrofe a vir - a vitória na Copa das Confederações, em 2013, teria mascarado nossos erros -, mas, no campo da política, já soaram todos os alarmes, embora não faltem os que alardeiam que em time que está ganhando não se deve mexer. O mais grave, contudo, é que a esta altura do campeonato não se saiba ao certo que times são esses.

Sociólogo político, é professor pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio de janeiro (PUC-Rio)

Merval Pereira: Disputa acirrada

• A campanha será disputada em condições bem diferentes das de 2010, quando Dilma foi eleita no 2º turno com diferença de mais de 12 milhões de votos sobre Serra.

• A atuação no 1º turno de 2010 teve votações formidáveis em estados hoje não tão favoráveis a Dilma.

• A taxa de rejeição de Dilma em SP é maior do que a sua média nacional, que já é alta

- O Globo

As pesquisas eleitorais que vão sendo divulgadas indicam que a campanha presidencial será disputada em condições bastante diferentes das de 2010, quando a então candidata Dilma Rousseff foi eleita no segundo turno com uma diferença de mais de 12 milhões de votos sobre o candidato tucano José Serra.

Omaior problema para os estrategistas do governo é que, tanto no primeiro quanto no segundo turnos daquele ano, a candidata governista teve a base de sua vitória no Nordeste. No segundo turno, Dilma abriu 11.777.817 votos de diferença no Norte e no Nordeste do país. Nas demais regiões, teve vitória apertada, com apenas 275.124 votos de diferença.

A atuação no primeiro turno, equivalente ao que está sendo apurado agora pelas pesquisas eleitorais, teve votações formidáveis em diversos estados que hoje não parecem tão favoráveis à reeleição de Dilma. A começar pelo Nordeste, que, embora continue sendo o ponto forte da petista, mostrou uma redução do apoio nesta última pesquisa Datafolha, de 55% para 49%.

Além disso, a oposição está mais bem representada em estados importantes naquela região, seja pela candidatura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, seja pelos palanques que o PSDB conseguiu montar. Em Pernambuco, a candidatura petista, apoiada pelo PSB, teve 1,9 milhão de votos de diferença a seu favor, e hoje, embora as pesquisas continuem mostrando a presidente muito forte, provavelmente será Eduardo Campos quem vai fazer essa diferença, se não maior, sobre Dilma e Aécio.

A vitória de Dilma na Bahia foi de 2,7 milhões de votos, mas hoje o prefeito de Salvador, ACM Neto, do DEM, é a força política em ascensão no estado, e ele está apoiando o candidato tucano juntamente com a dissidência do PMDB local. Dificilmente, Dilma ganhará a eleição lá, muito menos por essa diferença.

No Ceará, a diferença a favor do governo foi de 2 milhões de votos, mas hoje a candidatura dissidente do PMDB, do senador Eunício de Oliveira, é a favorita, em coligação com o PSDB, que terá o ex-governador Tasso Jereissati como candidato a senador.

No Amazonas, Dilma teve 64,7% dos votos, tirando uma diferença a seu favor de mais de 850 mil votos. Hoje, a capital está sendo governada pelo PSDB, que tem em Arthur Virgílio um forte cabo eleitoral.

No Maranhão, onde Dilma teve 1,6 milhão de votos a mais, o clã Sarney, em crise, não terá a mesma força, sem falar que a governadora Roseana pode apoiar Aécio, que está em uma coligação com Flavio Dino, do PCdoB, o favorito da eleição.

No chamado Triângulo das Bermudas, que reúne os três maiores colégios eleitorais do país, a situação política não pressupõe as facilidades tidas em 2010 pelo governo.

No Rio de Janeiro, a dissidência do governo Cabral/Pezão a cada dia fica mais explícita pelos atos, não pelas palavras.

Ontem, o candidato Aécio Neves visitou o cardeal do Rio, D. Orani Tempesta, acompanhado do senador Francisco Dornelles, que acumula o cargo de candidato a vice de Pezão com o fato de ser tio de Aécio.

A diferença de 1,8 milhão de votos dificilmente será alcançada pela candidatura petista, que tem a apoiá-la o senador Lindbergh Farias — que continua em último lugar nas pesquisas e sem a máquina eleitoral que Pezão comanda. Os dois líderes da pesquisa, Garotinho, do PR, e Crivella, do PRB, podem apoiar Dilma, mas o governo não sabe ainda se ajudaria ou atrapalharia.

Em Minas, Dilma, à frente de uma chapa virtual Dilmasia (com o então candidato ao governo Antonio Anastasia, do PSDB), teve uma diferença a seu favor de 1,8 milhão de votos. Desta vez, os aecistas fazem o cálculo de que o candidato tucano terá cerca de 3 milhões de votos, no mínimo, a mais que Dilma.

Em SP, terreno em que os tucanos têm derrotado o PT em todas as eleições para presidente, o PSDB acha que aumentará a vantagem que Serra teve no 2º turno, de cerca de 1,8 milhão de votos. Ainda mais depois que a pesquisa Datafolha mostrou o governador Geraldo Alckmin deslanchando na eleição para governador e começando a transferir votos para Aécio.

A taxa de rejeição de Dilma em SP é maior do que sua média nacional, que já é alta: ela tem 35% de rejeição no país e 47% no estado. Nada mais exemplar das dificuldades que Dilma encontra em SP do que o resultado da pesquisa sobre o 2º turno no estado: Aécio vence por 50% a 31%, e Campos, por 48% a 32%.

Como, no momento, Aécio está empatado com Dilma em 25% das preferências, e Campos tem apenas 8% no estado, é de se supor que no decorrer da campanha os números se ajustarão em favor da oposição.

Fernando Rodrigues: A rejeitada

- Folha de S. Paulo

Dilma Rousseff tem uma taxa de rejeição resiliente, tanto a pessoal quanto a de seu governo.

Ainda assim, ela lidera a pesquisa Datafolha sobre a corrida presidencial. Se vencer, terá ostentado um recorde neste momento da campanha. Desde 1994, nenhum candidato a presidente vitorioso era rejeitado por 35% em meados de julho.

No caso da rejeição ao governo Dilma, agora em 29%, trata-se também de recorde na comparação com outros presidentes que tentaram a reeleição. Em julho de 1998, a administração do tucano Fernando Henrique Cardoso era considerada ruim ou péssima por apenas 19%. Em 2006, nesta mesma época, 21% rejeitavam a forma como o petista Luiz Inácio Lula da Silva conduzia o país.

A reprovação a Dilma parece ser mais do que uma birra passageira de um setor do eleitorado. A presidente trabalha há um ano para reverter esse quadro. Desde as manifestações de rua de junho de 2013, o Palácio do Planalto adotou várias medidas. Importou médicos do exterior. Inundou as TVs com comerciais. A petista voltou a falar mais com a mídia e com políticos. Nada adiantou.

A Copa foi um sucesso no entender da maioria dos brasileiros. O clima no país ficou mais ameno, apesar da derrota em campo. Nesta semana, quando o Datafolha coletava dados, Dilma estava recebendo mais de uma dezena de chefes de Estado. Fazia o "papel de rainha", como gosta de descrever o marqueteiro João Santana. Ganhou "mídia espontânea" a favor em todos os telejornais.

Ainda assim, a rejeição da presidente manteve-se recorde. O horário eleitoral em agosto pode, em tese, ajudá-la. Mas se propaganda estatal maciça na TV não fez efeito no último semestre, porque haveria o impacto positivo mais adiante?

Em suma, a sucessão está aberta. Só que a situação prospectiva de Dilma é incômoda quando se compara o desempenho da petista ao de seus antecessores que foram reeleitos.

Cláudio Couto: Uma gramática perigosa

- O Estado de S. Paulo

Desde 2013, dois tipos de evento não diretamente vinculados à eleição ganharam peso no cenário, pois afetam o humor dos cidadãos. Um é a Copa, com todas as implicações que poderia ter para a disputa política mais ampla. Outro são as manifestações de rua. Deflagradas em junho e desde então incorporadas ao cotidiano, são consequência, no plano político-social, do acúmulo de transformações do País desde a redemocratização, nos anos 1980. Mas são principalmente decorrência dos progressos experimentados nos últimos 20 anos - desde que foi debelada a hiperinflação pelo Plano Real.

Na segunda metade dos anos 80, caíram os últimos escombros do autoritarismo do regime militar, franqueando o acesso à cena pública de uma miríade cada vez mais ampla de atores. A nova Constituição lançou as bases jurídicas de uma cidadania social de nível inaudito, reforçou o papel de atores institucionais capazes de exercer controles mais efetivos sobre os agentes governamentais (notadamente, o Ministério Público), criou um federalismo trino e redistribuiu recursos e competências, consolidou um papel de protagonista para o Executivo federal, estabeleceu novas regras eleitorais etc.

O Plano Real e as reformas que lhe seguiram modificaram as relações entre Estado e mercado, conferiram maior estabilidade à moeda e deram um impulso inicial à redução da pobreza. Tal impulso intensificou-se durante os governos petistas, com a substancial redução não só da pobreza, mas da desigualdade, cujo maior desdobramento foi a ascensão econômica de um amplo contingente de brasileiros, a chamada "nova classe C".

Por um lado, se tais transformações incrementaram as condições de vida da população em geral e nosso patamar civilizatório, por outro elevaram as expectativas populares a um patamar superior às capacidades estatais instaladas. Tal descolamento entre expectativas e seu atendimento não decorre, porém, de uma piora das capacidades do Estado. Na maior parte dos casos houve até melhora, mas tal avanço foi em grau menor que o das mudanças sociais (paradoxalmente, induzidas pelo próprio Estado) e, sobretudo, os anseios delas decorrentes.

Portanto, o que começou em junho de 2013 é mais a consequência de um longo acúmulo do que o espocar isolado de insatisfações. Contudo, tal processo gestou produtos novos, de novas consequências. Um é a forma de convocação dos participantes, baseada em novas tecnologias e atingindo partícipes em maior número, mais heterogêneos e desprovidos da organicidade típica dos movimentos tradicionais que protagonizaram a redemocratização.

Outro produto novo é a introdução nas manifestações de uma gramática cuja essência são as formas violentas de manifestação política. Tal gramática teve uma série de consequências deletérias à democracia: afugentou cidadãos recentemente mobilizados; reduziu o apoio popular às manifestações e tirou do centro da agenda a discussão sobre os excessos policiais, pois gerou pretextos para justificá-los.

Porém, a pior consequência das manifestações violentas consubstanciou-se recentemente: a criminalização direta do próprio ato de protestar. Ocorreu em São Paulo, na ameaça de responsabilizar o Movimento Passe Livre pelas ações de black blocs, alegando-se que estes agiram num protesto convocado por aqueles. No Rio, foram as prisões preventivas de manifestantes às vésperas da final da Copa, sem que as acusações de que eram alvo fossem suficientemente explicadas pela polícia e pela Justiça, como alertou inclusive a OAB.

O risco para a democracia é a criação de pretextos para reprimir preventivamente opositores que ameacem ir à rua, ou para criminalizá-los por atos de terceiros sobre os quais eles não têm qualquer controle. O sacrifício da liberdade de manifestação é um preço caro demais para se coibir a violência política.

Rosiska Darcy de Oliveira: Pena de nós, não precisava

• Brasileiros reagiram à eliminação da nossa equipe com maturidade que não esperávamos de nós mesmos

- O Globo

No sétimo dia de um luto discreto, cai o pano da Copa, abre-se o das eleições de outubro. O legado imaterial da bela festa que vivemos é ter posto em evidência que a sociedade brasileira mudou muito e para melhor, o que, não sendo um fenômeno claramente perceptível no dia a dia, já esboça o futuro do país.

Foi, sim, uma prova de fogo. Os brasileiros reagiram à eliminação da nossa equipe com maturidade que não esperávamos de nós mesmos, habituados que estamos a nos menosprezar. Onde choramos, qualquer um chorava. Dar a volta por cima que demos, no melhor estilo do mestre Vanzolini, quero ver quem dava. Equivocaram-se os que esperavam uma reação histérica frente à derrota, quebra-quebras e ranger de dentes. Em vez disso, houve lucidez face às nossas deficiências, aplausos, em campo, para o adversário que nos devastava e justificado orgulho de tudo mais que, na Copa, foi grande sucesso.

Houve tristeza; depressão, não. Nas esquinas virtuais, o debate sobre as causas do fracasso esquentou. A vitalidade das redes, que a sociedade brasileira vem usando a fundo, mostrou uma opinião pública que discute e argumenta, o que é bom para a democracia. Acrescente-se a explosão de humor cáustico que desdramatizou o que se esperava fosse um velório. Pena de nós, não precisava...

Os aplausos vão para o povo brasileiro — saravá, saudoso Ubaldo — que, em todos os níveis, tem muito mais competências do que admitem os que alimentam a baixa estima e os catastrofismos. O cartão vermelho vai para o padrão Fifa de corrupção. Entre as poucas prisões, a mais notória foi a de um seu parceiro privilegiado que, como um camelô fugindo do rapa, escapou pela porta dos empregados do Copacabana Palace quando a Polícia Federal sentiu cheiro de enxofre no negócio milionário da venda de ingressos. Cartão vermelho também para o superfaturamento dos estádios e para o desabamento de um viaduto mal construído que feriu e matou, crimes que terão que ser apurados.

A sociedade brasileira surpreende. Já tinha surpreendido com as manifestações pacíficas de junho do ano passado ao colocar claramente suas reivindicações e ao se retirar das ruas, dando prova de bom senso, para não confundir-se com um punhado de mascarados saídos não se sabe de onde nem mandados por quem.

Os candidatos à Presidência da República vão se defrontar com essa sociedade que mal suspeitam. Melhor do que imaginam, ela sabe o que quer e o que está em jogo. Se suspeitassem não venderiam a alma em alianças tragicômicas em troca de um minuto a mais na televisão. Faço uma aposta ousada que vai contra o senso comum: marqueteiros não terão sucesso junto a uma população descrente das balelas que lhe contam nesse tempo de televisão tão cobiçado. Essa venda de almas e votos, ao contrário, tira votos pela indignação que a geleia geral provoca.

Há, no eleitorado, uma forte exigência de verdade que ainda não encontrou eco. Daí o voto órfão. Na última pesquisa Datafolha, somados os votos brancos, nulos e indecisos, um em cada quatro brasileiros não escolhe ninguém. É possível que essa mistura de desilusão e perplexidade venha a decidir o resultado das eleições.

A aposta na propaganda para conquistar esses votos pode sair pela culatra. Como assistir, no horário eleitoral, a bravatas que a vida real em tempo real desmente? Como não se irritar com essa espécie de making of que vem a público, onde se discute as estratégias de convencimento que serão adotadas em campanhas milionárias?

Esta seria a campanha das campanhas se desta vez, no jogo eleitoral, a mágica ilusionista do marketing perdesse para a vida real, para a lucidez da população sobre o que precisa para bem viver.

O eleitorado deixou de ser massa informe. Quanto mais se individualiza, mais se torna imprevisível, ganha em diversidade e complexidade. As malhas da “ciência” marqueteira terão problemas para pescar esse eleitorado nuançado, que vive às voltas com os infindáveis problemas de um cotidiano áspero e há muito perdeu a paciência com promessas. O teste do candidato será a credibilidade que se perde ou se ganha em não mais que um minuto no cara a cara com o eleitor. O voto que hoje é órfão e em outubro será decisivo só encontrará abrigo na sinceridade.

Derradeiro legado da Copa: aprendemos, com o descalabro de Felipão, a desconfiar das lideranças iluminadas e a confiar nas equipes bem treinadas e competentes, onde não há herói nem condottiere, apenas cada um fazendo bem o que tem que fazer na posição em que joga no time. Não é isso o bom governo?

Rosiska Darcy de Oliveira é escritora

Rolf Kuntz: O novo capitalismo de Estado - e o do PT

- O Estado de S. Paulo

Mais uma campeã nutrida com dinheiro público, desta vez R$ 700 milhões de investimento, tenta sair do buraco. Formada em 2010 para ser uma gigante do setor, a LBR Lácteos logo entrou em recuperação judicial. Em mais uma aposta errada, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) participou da aventura com 30,3% do capital. A ex-futura campeã estava nos últimos dias ocupada em levantar R$ 740 milhões com a venda de várias unidades de produção. Era uma tentativa de cumprir o plano oficial de recuperação, segundo noticiou o Valor no começo da semana. Enquanto isso, em Brasília, a oposição batalhava para dar sobrevida a investigações sobre negócios muito estranhos da Petrobrás. Para entender bem os dois casos convém juntá-los na mesma narrativa.

A história é uma só e inclui a escolha de campeões alimentados com dinheiro público, as pressões contra o executivo de uma vitoriosa empresa de mineração, o uso de uma petroleira estatal para projetos políticos e a conversão de bancos públicos em prontos-socorros de grupos escolhidos.

O leitor pode rotular esse conjunto como ciência política, teoria administrativa ou pesquisa econômica. Pode também juntar as três qualificações. Todas se aplicam ao livro dos professores Sérgio Lazzarini, do Insper, e Aldo Musacchio, de Harvard. O recém-editado Reinventing State Capitalism (Reinventando o Capitalismo de Estado) é um estudo sobre um novo tipo de Leviatã econômico, sucessor do velho e bem conhecido Estado empresarial encontrado em todos os cantos do mundo na maior parte do século passado.

O Estado empreendedor funcionou tanto no mundo socialista quanto no lado capitalista. Controlava e administrava empresas como extensões da burocracia pública. Agonizante nos anos 80, esse modelo foi em grande parte substituído por dois novos tipos de Leviatã econômico. O investidor majoritário mantém o papel de acionista controlador, mas o padrão gerencial pode ser muito mais flexível que o anterior. O investidor minoritário passa o controle a investidores privados, mas conserva influência indireta na administração. Este segundo modelo inclui a atuação de bancos de investimento (como o BNDES) e de fundos, como os de pensão.

Para começar, os autores propõem uma tipologia de alcance internacional, explorando exemplos de várias partes do mundo. A exposição percorre tanto países tradicionalmente capitalistas quanto economias em transição. O caso chinês aparece com destaque logo no começo, numa referência ao lançamento inicial de ações do Banco Agrícola da China, em 2010, nas Bolsas de Xangai e de Hong Kong. Ainda oficialmente socialista, a China também participou, e continua participando, da renovação do capitalismo de Estado.

Os autores evitam - de fato, rejeitam - discutir se as empresas vinculadas total ou parcialmente ao Estado são mais ou menos eficientes que as companhias privadas. Mesmo no tempo do Estado empreendedor as comparações seriam inconclusivas, se se tratasse de desempenho em condições normais. Em crises como a dos anos 1980, no entanto, estatais poderiam ter menos liberdade para demitir. Isso ocorreu, de fato, naquele período. Essa limitação afetou seus resultados e uma das consequências foi a redução de investimentos. Quem acompanhou essa experiência ao vivo e em cores deve lembrar-se de mais um detalhe: com o Tesouro quebrado e sem crédito, estatais brasileiras foram usadas para captação de recursos. Apesar do endividamento, os projetos de expansão e de modernização continuaram parados. Por isso muitas estavam financeiramente arrebentadas e tecnicamente atrasadas quando foram levadas à privatização.

A passagem do velho modelo para os novos tipos de capitalismo de Estado é examinada com base na experiência de países de todos os continentes. Apesar do cuidado com as nuances, a tipificação deve aplicar-se às economias desenvolvidas - tão diversas quanto as escandinavas e a americana - e também às emergentes e em desenvolvimento.

Mas depois do cenário mais amplo o foco se estreita e a discussão se concentra no exemplo brasileiro. A história é recontada a partir das privatizações e da adoção dos novos modelos. A mudança do Leviatã empreendedor para os dois novos tipos - o majoritário e o minoritário - abriu a possibilidade, em todos os países, de alterações importantes na condução das empresas. Como exemplos, maior autonomia, maior transparência e maior profissionalismo gerencial no dia a dia e na fixação de objetivos.

No Brasil, boa parte dessas possibilidades ficou inexplorada. Sem avaliações, os dois autores descrevem, com distanciamento acadêmico, as interferências na Petrobrás, a escolha de campeões e os estranhos critérios de financiamento e investimento do BNDES, as tentativas de intervenção na Vale (com a campanha contra o presidente Roger Agnelli) e outros fatos bem conhecidos, mas nunca reunidos e articulados numa pesquisa.

Os autores talvez pudessem, ou devessem, ter incluído na classificação subtipos de capitalismo de Estado, observáveis tanto no velho modelo do Leviatã empreendedor quanto nos casos dos Leviatãs majoritário e minoritário. O exemplo brasileiro a partir de 2003 seria rotulável como capitalismo de Estado dos cumpanhêro. O subtipo incluiria tanto a gestão subordinada a interesses partidários e eleitorais (com as nomeações segundo cotas) quanto a influência das ambições pessoais do governante (quando candidato, por exemplo, a líder regional).

Reinventing State Capitalism (Harvard University Press) é uma bela continuação do trabalho iniciado por Sérgio Lazzarini com seu Capitalismo de Laços - Os Donos do Brasil e suas Conexões, lançado em 2011.

Jornalista

Brasília-DF :: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

A saia justa da campanha petista
Nunca antes na história do partido houve um dilema tão grande no PT, especialmente depois das últimas pesquisas que reforçam o desejo de mudança da população. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do alto do pódio de um governo de oito anos em constante popularidade, não quer ver a campanha de Dilma Rousseff fazendo qualquer comparação com o seu período. Sempre que discursa, compara os 12 anos do PT com a temporada de Fernando Henrique Cardoso. Não quer ser apagado. Afinal, se houver alguma coisa em que ela foi melhor — e os dilmistas garantem que há vários projetos, inclusive o Minha Casa, Minha Vida —, Lula ficará na sombra. E, se não aparecer nada que exalte a administração de Dilma, ela é quem ficará na penumbra do antigo chefe.

Entre alguns integrantes da campanha da presidente, há quem diga que ela, em algum momento, terá que afirmar que programas de seu governo têm números melhores que o do antecessor. Afinal, se ficar nos 12 anos, passa a ideia de muito tempo e tem sempre aquela hora em que o eleitor, ao perceber que a excelência, seja quem for, está há mais de 12 anos mandando, decide trocar para dar a chance a outro. É aí que mora o perigo para o PT e a reeleição de Dilma: um sentimento de mudança latente diante de uma campanha que deseja falar em 12 anos de PT e não em quatro de Dilma. Essa queda de braço está apenas começando.

Dia de vacina...
Às vésperas de seguir para o Ceará, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, telefonou para o deputado Danilo Forte (PMDB-CE), relator do projeto do aumento de 2% no Fundo de Participação dos Municípios. No embalo, trocaram ideias sobre o discurso que o tucano fará amanhã em Juazeiro (CE). Além da recuperação das receitas municipais, Aécio anunciará um programa para recuperar o poder aquisitivo do Bolsa Família.

...Contra o medo
O deputado lembrou ao senador tucano que está muito forte, entre os aliados da presidente no estado, a ideia de espalhar que Aécio ou Eduardo Campos (PSB), se eleitos, acabariam com o programa de transferência de renda, o que não é verdade. Daí, a preocupação dos tucanos em aproveitar a viagem para reforçar a permanência do Bolsa Família como programa de estado que hoje ajuda na economia dos municípios.

Debate no espelho
O Ministério do Trabalho pretende fazer uma comissão para estudar a legislação trabalhista rural e chamou, até agora, apenas as entidades representativas dos empregados. O produtor ficou a ver navios. Os ruralistas não gostaram. Mais uma prova de que não é à toa que setores do agronegócio estão arredios à reeleição da presidente.

Vai passar logo ali
Os juízes eleitorais vão tomar a frente de defesa da Proposta de Emenda Constitucional 63, sobre a carreira da magistratura. Assim, justamente em ano eleitoral, esperam "sensibilizar" o Congresso a aprovar o novo plano de carreira dos magistrados. Há quem diga que esse argumento será muito mais forte do que o da AMB, sobre juízes desistindo da carreira para obter uma remuneração melhor com menos trabalho. Afinal, o salário da classe está na faixa dos R$ 18 mil.

Sobrou para ele/ O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (foto), entra em férias em boa hora. Dentro do governo, há quem esteja doidinho para responsabilizá-lo pela não aprovação dos nomes dos diretores da Agência de Energia Elétrica (Aneel).

Chamou lá fora/ Se brincar, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) vai comprar briga com seus colegas de parlamento, depois do duro discurso contra a rolagem da dívida do Rio Grande do Sul na semana passada. "Esse assunto virou um jogo de amigos, em que um aprova o pedido de rolagem do outro. Isso está beirando a irresponsabilidade", disse ele.

Agora vai!/ Eles já estão nas ruas há tempos, mas este fim de semana vem sendo tratado pelos candidatos como a largada oficial das campanhas eleitorais, depois do "luto" pela derrota da Seleção Brasileira na Copa e a última semana "cheia" do Congresso.

Humildade zero/ Diante da campanha que começa agora, os atentos observadores da cena política juram que só veem os candidatos dizendo que já ganharam as eleições, sem, no entanto, declarar que quem manda é o povo. Chegou ao ponto de alguns políticos brincarem: "Nesta eleição, em que todos prometem e se dizem vitoriosos, São Francisco tirou férias". Faz sentido.

Painel :: Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

Alô, doleiro
A Polícia Federal descobriu que o doleiro Alberto Youssef, preso na operação que apura desvios na Petrobras, conseguiu usar um celular atrás das grades. Os investigadores acreditam que ele fez as ligações, de dentro da carceragem em Curitiba, para ocultar provas do caso. Foram identificados cinco suspeitos de receber propina para permitir o uso ilegal do telefone. Eles estão lotados no setor de custódia da PF paranaense e serão investigados por crime de corrupção passiva.

Na mira A delegada que apura o uso do celular pediu ontem, em ofício sigiloso, "levantamentos detalhados" com o endereço, o patrimônio e os "principais relacionamentos" dos cinco funcionários da carceragem.

Alvos Os investigados são um agente da Polícia Federal, três guardas municipais e uma funcionária terceirizada. A delegada ainda não sabe se todos colaboraram para a entrada do telefone.

Fora do ar A primeira suspeita surgiu em maio, quando um agente da PF informou aos superiores, por escrito, o número e a operadora do celular usado pelo doleiro. Ontem a linha caía em caixa postal sem identificação.

Defesa O advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, diz que ainda desconhece a investigação da PF e que nunca recebeu nenhum telefonema do doleiro. "Nunca vi nenhum indício disso. Mas a Polícia Federal deve investigar e tomar as providências necessárias", afirma.

Susto Conselheiros de Dilma Rousseff (PT) foram surpreendidos pela velocidade do crescimento da oposição nas simulações de segundo turno do Datafolha.

Que fazer? Os dilmistas atribuem o cenário ao "ódio" ao PT, mas acreditam que a rejeição pode ser reduzida se a presidente se defender com mais ênfase de ataques dos rivais. Ontem ela rebateu críticas ao Mais Médicos, alvo de Aécio Neves (PSDB).

Legião urbana A rejeição a Dilma subiu principalmente nas grandes cidades. Nos municípios com mais de 500 mil habitantes, o percentual que afirma não votar na petista "de jeito nenhum" decolou de 29%, em novembro passado, para 42%.

Bandeirante Após a divulgação da nova pesquisa, a ordem no comitê de Aécio é colar o candidato a Geraldo Alckmin em São Paulo. O mineiro estará no Estado ao menos uma vez por semana.

Vassourinha Os tucanos se reunirão hoje com Renata Abreu, candidata a deputada federal pelo nanico PTN. A sigla usava como símbolo a lendária vassourinha do presidente Jânio Quadros.

Melhor idade A dupla Eduardo Campos e Marina Silva grava neste fim de semana uma conversa com idosos para a propaganda do PSB. O tema do encontro será a promessa de acabar com o fator previdenciário, nova bandeira do pernambucano.

Daslu Agentes brasileiros que faziam a segurança de Cristina Kirchner na cúpula dos Brics e da América Latina, em Brasília, só se referiam à presidente argentina como "madame". "Estamos esperando a madame sair", comentavam entre si.

Álgebra Lula errou na conta ontem durante ato petista em São Paulo. Disse que, em julho de 2012, Fernando Haddad tinha um ponto a menos que os 4% anotados por Alexandre Padilha no último Datafolha. Na verdade, Haddad já marcava 7%.

Paz e amor O PT levou balões brancos para a caminhada que antecedeu o ato. "Não podia correr o risco de ficar com cara de black bloc", brinca Padilha.

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Tiroteio
"No Brasil, distribuir dinheiro para pobre é visto como populismo. Se a verba pública for para rico, dizem que é política econômica."
DE EDUARDO CAMPOS (PSB), candidato à Presidência da República, sobre o debate eleitoral em torno das prioridades no uso de recursos federais.
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Contraponto
A carta de João Ubaldo a FHC
João Ubaldo Ribeiro, o grande escritor que morreu ontem no Rio, foi um dos mais duros críticos do governo Fernando Henrique Cardoso. Em 1998, escreveu carta aberta em que chamou o tucano de "sociólogo medíocre" e o acusou de trair os ideais que defendia. Acrescentou que ele só entraria na Academia Brasileira de Letras em sua vaga. No ano passado, quando FHC chegou à ABL, Ubaldo não quis voltar ao texto. Elegante, desculpou-se:

--Não porque haja mudado de opinião, mas porque acho o artigo meio bobo, pueril. E não sou inimigo do FHC, apenas escrevi contra ele, quando presidente.