terça-feira, 31 de julho de 2018

Roberto Freire: Ultraje a Nelson Mandela

- Diário do Poder

“Free Mandela” foi uma palavra-de-ordem que correu o mundo.

O significado era duplo: liberdade para o líder sul-africano e ao mesmo tempo “libertemos Mandela”, um imperativo de consciência.

Lula – com a concordância de muitos lulopetistas – anda se comparando ao ex-presidente da unificada África do Sul.

Seus apoiadores mais empedernidos lançaram a campanha “Lula livre”, mirada no que aconteceu ao ganhador do prêmio Nobel da Paz em 1993.

Mandela foi encarcerado em decorrência de sua luta contra o apartheid na África do Sul. Lula, por chefiar a corrupção sistêmica nos governos lulopetistas e por dela se beneficiar pessoalmente, segundo o entendimento da 13ª Vara Federal de Curitiba e do Tribunal Federal Regional da 4ª Região, de Porto Alegre. E não cabem mais recursos no mérito do julgamento, mas apenas na ritualística do processo do Triplex do Guarujá.

Mandela liderou o Congresso Nacional Africano – CNA – na época da segregação racial e da supremacia branca na África do Sul. Lutou pela universalização dos direitos civis em seu país.

Os crimes pelos quais Lula começou a cumprir pena aconteceram quando o Brasil vivia o Estado Democrático de Direito, no maior período da história do Brasil sob o império da democracia.

Mandela, encarcerado, manteve a luta contra o apartheid por 27 anos e comandou a transição para uma democracia, em que foi vitoriosa a bandeira “um homem, um voto”.

Lula tenta politizar sua condição de preso comum, como se sua liderança popular e realizações de seus governos lhe outorgassem passaporte para a impunidade.

Os crimes de que Mandela foi acusado – pleitear a igualdade jurídica entre todos os habitantes de seu país – o fizeram tornar-se uma personalidade mundial, reconhecida em todas as latitudes, como um herói da luta pelos direitos humanos.

Os crimes de que Lula é acusado foram, são e serão crimes em qualquer quadrante do Planeta. Não há um só país que aceite a corrupção como sistema de construção de alianças políticas e de obtenção de vantagens pessoais. Não há país que, em sua legislação, autorize chefes de governo a liderar o saque a recursos públicos e a beneficiar-se pessoalmente dessas ações.

Mandela teve a grandeza de unir os cidadãos e cidadãs de seu país em uma democracia imperfeita como qualquer outra, mas destituída da segregação e separações em decorrência da cor da pele e das características físicas das pessoas.

Não restou a Mandela qualquer revisão de seus objetivos de vida. Quanto mais se joga luz sobre seu passado, mais esse ser humano especial merece a consideração de todos.

Quanto mais se joga luz sobre a vida de Lula, a política e mesmo a pessoal, mais se evidenciam os indícios e provas de sua participação – e obtenção de benesses pessoais – na apropriação privada dos recursos públicos, pelo seu partido, por muitos do seu entorno e pelo próprio, nos mecanismos de corrupção sem precedentes na história de nosso país e, provavelmente, do mundo.

Mandela agora faz parte da história e tem um legado político e pessoal admirável, ontem, hoje e no futuro.

O mesmo não pode se dizer do sr. Luís Inácio Lula da Silva, que passará muitos anos de sua vida nas malhas da justiça criminal comum. Seu horizonte é de, no máximo, colaborar com a Justiça e reconhecer seus erros, para obter alguma complacência.

Comparar Nelson Mandela a Lula é um acinte à memória do líder sul-africano e, em decorrência, à honra de todos os lutadores pelos direitos humanos e demais causas sociais e humanitárias.

Nenhum humanista, nenhum democrata, pode aceitar impassível tamanha estultice.
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Roberto Freire é presidente nacional do PPS (Partido Popular Socialista).

Merval Pereira: Sobre inelegibilidade

- O Globo

O mais provável é que a candidatura de Lula a presidente nem mesmo seja registrada pelo Tribunal Eleitoral

C om a decisão da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, de orientar o Ministério Público Eleitoral a atuar no sentido de que sejam respeitadas as condições de elegibilidade definidas em leis como a da Ficha Limpa, a movimentação da militância petista (ou será lulista?) para pressionar o Judiciário está preocupando os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), alguns deles também membros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Depois que vândalos atacaram o prédio do STF, estão programadas diversas manifestações para o último prazo legal, dia 15 de agosto, quando o pedido de registro da candidatura do ex-presidente deve ser requerido ao TSE. Prometem levar milhares de pessoas para a frente do tribunal, como se manifestações assim ainda fossem possíveis em defesa de Lula ou, mais incompreensível ainda, pretender que os ministros se sentirão obrigados a aceitar uma candidatura de alguém que está claramente incluído entre os que são inelegíveis.

Diz a Lei Complementar 135, de 2010, que são inelegíveis, entre outros, “os que forem condenados, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, desde a condenação até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena pelos crimes (...) de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores”. É o caso de Lula, condenado a 12 anos por lavagem de dinheiro e corrupção, por unanimidade, pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que confirmou a condenação definida pelo juiz Sergio Moro, e ainda aumentou a pena.

Eliane Cantanhêde: Nós, mulheres

- O Estado de S.Paulo

Voto feminino é desafio de candidatos e candidatas. Com vices e ideias mirabolantes?

Nós, mulheres, costumamos ser menos afoitas, mais desconfiadas, demoramos mais a tomar decisões. Estereótipo? Sei lá. O fato é que o eleitorado em geral já está em cima do muro, mas o feminino, que é a maioria (52,5%), está mais ainda. Indeciso ou decidido a votar branco ou nulo. Acordem, candidatos e candidatas!

Pesquisa Datafolha de junho mostra que a soma entre as indecisas (54%) e as que pretendem anular o voto (26%) chega a chocantes 80%, o maior índice na comparação com eleições anteriores nesta mesma época da campanha. A mulherada anda braba, ou descrente de tudo.

Até Jair Bolsonaro, com 8,5 milhões de seguidores no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube, não conquista a eleitora com a mesma eficiência, ou na mesma proporção, com que atinge o eleitor. A desproporção é grande.

Aí começam as ideias mirabolantes e os jeitinhos de última hora, principalmente na escolha dos vices nas chapas. Ciro Gomes, por exemplo, acena com 50% dos ministérios para mulheres. Bolsonaro foca na advogada e professora Janaína Paschoal que, como ele, nunca gerenciou coisa nenhuma. Geraldo Alckmin namora a ideia da deputada Tereza Cristina, que é do DEM e preside a Frente Parlamentar da Agropecuária. E já venderam a ele até a opção pela vice-governadora do Piauí, Margarete Coelho.

Marina Silva é a única, no pelotão de frente, com uma porcentagem maior de apoios no eleitorado feminino do que no masculino, na base de 17% para 12%. Além de ser mulher, Marina tem um discurso que sensibiliza naturalmente a média das mulheres, pela seriedade, pela crítica à “velha política”, pelo esforço para fazer “diferente”.

Em São Paulo, o candidato do MDB ao Palácio dos Bandeirantes, Paulo Skaf, caprichou e uniu o útil ao agradável. Sua vice, Carla Danielle Basson, além de mulher, é tenente-coronel da PM paulista. Como se sabe, a crise na segurança pública é um problemaço de Norte a Sul do País.

José Casado: Caju e o poder do MDB

- O Globo

Milionário e aposentado, Henrique Meirelles prepara sua maior aposta, a candidatura presidencial pelo MDB. O investimento pessoal previsto é de R$ 35 milhões, mas pode dobrar na campanha, hoje aprisionada na lanterna das pesquisas.

Meirelles é um tipo anfíbio na política. Atravessou os governos Lula (Banco Central), Dilma Rousseff (Conselho Olímpico) e chegou à Fazenda de Michel Temer por influência do amigo empresário Joesley Batista, do grupo J&F (antigo JBS).

Aos 72 anos, Meirelles foi adotado pelo MDB, cuja fonte de oxigênio é o governo, não importa qual seja. O partido representa, na foto do dia, a antítese da renovação na política: agrupa oligarquias sob lideranças com idade média de 70 anos. Seu elixir da longevidade está no controle do Congresso. Para mantê-lo, encontrou um candidato presidencial disposto a gastar o próprio dinheiro, liberando R$ 234 milhões do fundo público para reeleição de 18 senadores e 51 deputados.

A relação do MDB com o poder e os cofres públicos é única. Tem como raiz a hegemonia nas emendas aos projetos governamentais na Câmara e no Senado. Símbolo desse domínio é Romero Jucá, presidente do partido, pernambucano de 63 anos com dois terços de vida enriquecida na dedicação a governos.

Hélio Schwartsman: Descristianização

- Folha de S. Paulo

À medida que a eleição se aproxima, a raiva tende a decantar e outros fatores ganham mais peso

Quando saí em férias, duas semanas atrás, a leitura do noticiário político passava a impressão de que a candidatura de Geraldo Alckmin(PSDB) estava fadada a repetir o fiasco da de Ulysses Guimarães em 1989, que não obteve nem 5% dos votos, apesar de concorrer por um megapartido como era o PMDB.

Agora, no meu retorno, Alckmin aparece, se não como favorito, ao menos como alguém com grandes chances de chegar ao segundo turno. O problema não está nas inconstâncias da política, mas na afoiteza com que jornalistas, marqueteiros e o próprio eleitorado interpretam os eventos de campanha e as pesquisas, prestando muitas vezes mais atenção aos ruídos do que aos sinais.

Para os que não desistiram de escutar a ciência, sociólogos que trabalham com dados mostram que o comportamento do eleitor é muito mais regular do que se supõe, de modo que mapas de votação do último pleito e indicadores econômicos são um guia mais confiável para o “forecasting” (previsões) do que as impressões do momento. Um segundo escrutínio entre um petista e um tucano sempre foi um cenário de alta probabilidade, especialmente depois que as denúncias de corrupção se generalizaram, atingindo todos os grandes partidos.

Não é que o resultado esteja escrito nas estrelas nem que o eleitor não procure novidades. A persistência de Jair Bolsonaro no alto nas pesquisas é um indicativo disso. Mas a forma pela qual o cidadão compõe sua decisão de voto é um processo com várias fases. Num dado momento ele dá vazão à sua indignação com todos os políticos, escolhendo figuras que se dizem antissistema.

À medida, porém, que o pleito se aproxima, a raiva tende a decantar e outros fatores ganham mais peso. Será que homens mais ricos vão mesmo votar num candidato que não revela com clareza seu programa econômico e ainda por cima teria enorme dificuldade para formar maioria parlamentar? 

Meu palpite é que Bolsonaro murcha.

Bruno Boghossian: ‘Golpistas e oligarcas

- Folha de S. Paulo

Sigla mergulha na incoerência eleitoral e se alia a velhos caciques do Nordeste

Minutos antes de oficializar sua aliança com Renan Calheiros e Renan Filho (MDB) na convenção do PT em Alagoas, o deputado Paulão se irritou com um grupo que chamava os convidados de “golpistas”.

“Vocês podem até não votar no governador e no senador, mas vaiar é uma atitude antidemocrática, falta de respeito e de educação”, reclamou.

Apesar da força preservada pelo ex-presidente Lula no Nordeste, o enfraquecimento do PT empurra a sigla para o lado das velhas oligarquias da região. Para sobreviver e pegar carona na estrutura política dos caciques, o partido topou mergulhar no poço das incoerências eleitorais.

O Renan Calheiros defendido por Paulão (que foi presidente da CUT) é o mesmo que votou pelo impeachment de Dilma Rousseff e exclamou um “tamos juntos” na posse de Michel Temer. O senador teve uma recaída pró-PT, mas só quando percebeu que sua reeleição estava em risco.

No Ceará, os petistas rifaram a candidatura de José Pimentel para mais um mandato no Senado, abrindo caminho para Eunício Oliveira(MDB).

Raymundo Costa: Com a ponta de um pé no segundo turno

- Valor Econômico

Geraldo Alckmin avança e Lula pode sair só em 2019

A pesquisa semanal da corretora XP informa que Geraldo Alckmin avançou, entrou na faixa dos dois dígitos e botou a ponta do pé no segundo turno. Uma grande notícia para o pré-candidato do PSDB, que parecia empacado, mas não tanto quanto outras que circulam nos bastidores do Judiciário e podem complicar de vez a situação do PT: a primeira diz que Lula só deve sair da prisão em 2019, depois da eleição, portanto, já com um novo presidente no Planalto; e a tendência dos tribunais - diz a segunda - é manter a proibição de o ex-presidente fazer campanha e gravar programas eleitorais na prisão.

Sem a montaria de Lula, a tendência do candidato do PT é perder competitividade e o lugar no segundo turno que parecia certo, tendo em vista a liderança do ex-presidente nas pesquisas. A última rodada da XP estima que Fernando Haddad, o nome mais provável se Lula não for o candidato, salta de 2% para 12% já na largada, quando é apresentado como o candidato do ex-presidente da República, preso há três meses em Curitiba, onde cumpre pena pelo crime de corrupção passiva.

Acurado analista da cena política de Brasília, o professor David Fleischer tem suas dúvidas. Em sua opinião o PT terá mais dificuldades do que deixa aparentar para colocar um nome no segundo turno da eleição, especialmente se for levado a fazer uma "campanha boca-a-boca", como anunciam seus dirigentes (na realidade, o PT vai recorrer até as últimas instâncias para ter a imagem e a voz de Lula na TV, se não para eleger o avatar de Lula, ao menos para assegurar suas bancadas no Congresso).

O cálculo de Fleischer, professor da Universidade de Brasília (UnB), vai além da questão de transferência de votos. Noves fora as denúncias de corrupção, o PT está mal também em suas posições eleitorais. Em geral um partido que elege mais prefeitos na eleição municipal vai bem dois anos mais tarde nas eleições parlamentares. E vice-versa. Em 2016, o PT elegeu menos da metade dos prefeitos que fez em 2012. Mantida a regra pode perder até 30 deputados na eleição. A tendência no Senado também é decrescente. Com problemas para se reeleger, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, vai se candidatar à Câmara dos Deputados, mesmo caminho que deve ser trilhado por Lindberg Farias, outra estrela do partido.

Míriam Leitão: PT esqueceu que governou

- O Globo

Quando o PT critica os problemas econômicos, aposta que ninguém se lembra de que a crise começou em seu governo

O PT nesta eleição tem muitos dilemas. O mais importante, claro, é saber quem será candidato e em que momento o partido sairá do processo de negação para encarar a realidade. O coordenador do programa do PT Fernando Haddad cometeu ato falho, ao falar que “se” Lula fosse candidato toda a esquerda estaria em torno do ex-presidente. Definida a candidatura viável, o partido terá que olhar para a própria experiência, de erros e acertos, e parar de fingir que concorre a primeira vez “contra tudo isso que está aí”.

Nas suas entrevistas, Haddad tem esboçado um programa cheio de confusões que um economista não deveria fazer. É como se o PT não aprendesse nem com seus acertos. Ao assumir em 2003, o partido fez uma mudança importante e deixou de lado demagogias para entender que era preciso manter as bases do Plano Real, que colocara fim ao longo tormento hiperinflacionário.

O então ministro Antonio Palocci escolheu uma equipe competente, e Lula buscou no partido adversário o presidente do Banco Central. O governo elevou a metade déficit primário, fortaleceu o sistema de metas de inflação e câmbio flutuante. Confirmou o tripé. Os índices de preços caíram, os temores se dissiparam e o partido levou o país a um período de prosperidade com políticas mais fortes de inclusão social. É essa a origem do bom recall do ex-presidente. Depois disso, o PT considerou que era hora de implantar as suas ideias. Foi a era Guido Mantega. Inventou a nova matriz, deixou a inflação subir, manipulou dados fiscais e tomou uma série de decisões desastradas que levaram o país à recessão. Houve duas políticas econômicas, a segunda deu errado. Agora o dilema é como usar esta experiência e manter um discurso que atraia seu eleitor e ao mesmo tempo convença outras parcelas do eleitorado.

Luiz Carlos Azedo: Medo do imprevisto

- Correio Braziliense

“Não há alternativa para as forças políticas mais responsáveis que não seja a defesa da democracia, ganhando ou perdendo as eleições”

“Se algum sabichão lhes disser o que vai acontecer, estará mentindo. Essa eleição é imprevisível!”, disse o velho Antônio Ribeiro Granja, antes de apagar as velas do bolo de aniversário de 105 anos, domingo. Rodeado de parentes, amigos e companheiros que lhe deram apoio na clandestinidade, voltou ao velho refúgio do Faraó de Baixo, localidade de Cachoeiras de Macacu (RJ) cercada de fontes de água mineral, no pé da Serra do Mar.

Integrante do Comitê Central do PCB, Granja escapou de um sequestro em Itaboraí, em 1975, por muito pouco. À época, 18 integrantes do PCB, dos quais 12 do Comitê Central, foram assassinados. Avisado pelo filho, o engenheiro mecânico José Roberto Portugal, então um menino, saiu pelos fundos do sítio quando a equipe de agentes do DOI-CODI estava chegando. “Um deles passou a 20 metros de mim, com a metralhadora nas mãos; eu estava escondido no meio do mato, só com a calça do pijama e descalço.”

Graças àquela região montanhosa e aos antigos hábitos de ex-trabalhador rural, “Seu Chico”, como era chamado na região, driblou seus perseguidores se passando por boia-fria na fazenda Funchal. Depois, foi morar num sítio em Casemiro de Abreu. Foi um dos poucos dirigentes a permanecer no país durante todo o regime militar. De sandália havaiana e chapéu de palha, com as mãos calejadas pelo cabo da enxada, circulava pelo interior do antigo Estado do Rio como um peixe na água. Foi assim que reorganizou o antigo Partidão no interior fluminense e garantiu a eleição dos deputados comunistas Marcelo Cerqueira (federal) e Alves de Brito (estadual), pelo antigo MDB, nas eleições de 1978.

Seu grande mérito foi se distanciar do interesse imediato, no caso, a própria sobrevivência, para compreender o processo político. Granja percebeu, mesmo após as prisões do professor e economista Aírton Albuquerque, chefe do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense, e dos jornalistas Maurício Azedo e Luiz Paulo Santana Machado, logo após o carnaval de 1976, que a situação política estava mudando. Saiu da toca e foi à luta pela liberdade e pela democracia. Seu objetivo imediato era a anistia, a grande missão que confiou a Marcelo Cerqueira como parlamentar.

O Pacote de Abril, baixado pelo presidente Ernesto Geisel com o propósito de conter o avanço das oposições nas eleições municipais de 1976, na sua avaliação, fora uma demonstração de fraqueza. Os fatos confirmaram as previsões do velho dirigente do PCB, que aos 105 anos continua com uma memória invejável, capaz ainda de recitar suas poesias, contar causos da longa militância política e, com fina ironia e grande senso de humor, falar sobre a conjuntura sem dizer as besteiras que circulam com fartura pelas redes sociais.

Granja nunca teve medo do novo. Todas as vezes em que foi necessário, jogou dogmas e concepções ultrapassadas na lata do lixo da história. Fez autocrítica da Intentona de 1935, apoiou o relatório Kruschov, renegou as teses que defendiam a luta armada para lutar contra ditadura e chegar ao poder. Sabia que o PCB flertara com o golpismo em 1964, pois foi testemunha da conversa de Luiz Carlos Prestes com o presidente João Goulart, com Raul Riff, em fevereiro de 1964, quando o líder comunista sugeriu ao presidente deposto que apelasse às massas para fazer as reformas, que anunciou no Comício de 13 de março, sem respaldo do Congresso, em vez de recuar. Granja apoiou a mudança de sigla do PCB para PPS, do qual é o presidente de honra, e guardou no baú de recordações amorosas a velha bandeira vermelha com a foice e o martelo que empunhava desde 1934.

O futuro
O que fazer diante do imponderável anunciado por Granja? Em primeiro lugar, considerar as contingências nas quais ocorrem as eleições deste ano. Uma economia que, bem ou mal, voltou a crescer, mas tem baixo desempenho porque o governo gasta mais do que arrecada. O pior já passou, foi a recessão do governo Dilma Rousseff. Sua “nova matriz econômica” ameaçava transformar o país numa nova Venezuela. Nossas instituições políticas sobreviveram à crise tríplice (econômica, política e ética) que nos levou ao impeachment.

Ricardo Noblat: PT perdoa os “golpistas” que apoiam Lula

- Blog do Noblat

Tudo pelo voto

Eunício Oliveira (PMDB-CE), presidente do Senado, apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas como Lula gosta dele, e Eunício apoiará a reeleição do governador Camilo Santana (PT), o PT rifou a candidatura ao Senado de José Pimentel (PT), o que facilitará a reeleição de Eunício.

Renan Calheiros (PMDB-AL) era presidente do Senado quando Dilma foi cassada com o voto dele. Mas como é amigo de Lula, garante que apoiará o candidato dele a presidente e a reeleição de Paulão, único deputado federal do PT alagoano, tudo bem. O PT e Lula retribuirão apoiando Renan e Renanzinho, o governador.

Alckmin diz que alianças são criticadas por quem não conseguiu e representam confiança

Presidenciável do PSDB quer definir nome de vice até sábado (4), quando realiza convenção

Carolina Linhares | Folha de S. Paulo

BELO HORIZONTE - Após conseguir o apoio dos partidos do chamado centrão (PR, PRB, PP, DEM e Solidariedade), o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou que as críticas a sua aliança vêm daqueles que tentaram a coligação, mas não conseguiram.

"Os que criticam, até o último segundo do segundo tempo, estavam lutando para conseguir aliança e não conseguiram", disse Alckmin, repetindo a fala do candidato ao governo de São Paulo, João Doria (PSDB), que afirmou o mesmo em convenção tucana no sábado (28).

Alckmin disse ver a aliança com esperança no futuro e uma demonstração de confiança, já que ele aparece em quarto nas pesquisas. "Apoiar quem está em primeiro lugar é fácil, mas apoiar quem está até agora em quarto lugar, é o mínimo de confiança e de convicção de que nós temos que trilhar o caminho da competitividade para o Brasil voltar a crescer", afirmou.

Com a coligação formada, o desafio de Alckmin passou a ser encontrar um vice, desde a recusa do empresário Josué Alencar (PR). O tucano afirmou que um nome será definido até sábado (4) e que não será paulista e nem do PSDB.

Ainda falando de coligações, Alckmin afirmou respeitar a decisão do DEM de liberar os candidatos nos estados a não seguirem o apoio ao PSDB no plano nacional. Em Minas, por exemplo, Rodrigo Pacheco (DEM) diz manter a candidatura ao governo, enfrentando o candidato tucano, Antonio Anastasia.

"Se puder reproduzir aliança nacional nos estados, ótimo, se não puder, não tem problema, nós respeitamos a singularidade de cada estado", disse Alckmin. Anastasia afirmou que há conversas com o DEM, mas que cabe a Pacheco decidir sobre uma aliança com o PSDB.

Alckmin diz que se Centrão pedir algo inadequado, não será atendido

Presidenciável do PSDB afirmou que usará o tempo disponível na campanha para explicar como reduzir o déficit do País

Elizabeth Lopes | O Estado de S.Paulo

O presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, afirmou na manhã desta terça-feira, 31, em entrevista ao "Jornal Gente", da Rádio Bandeirantes, que é preciso ter maioria para avançar no processo eleitoral. "Numa campanha curta como essa, o tempo no rádio e na TV faz diferença, ainda mais quando não sou muito conhecido fora de São Paulo".

Indagado sobre como se portará quando receber a fatura dos partidos que o apoiam, como o Centrão, Alckmin disse que se esses partidos pedirem algo inadequado, não serão atendidos. Na entrevista, o tucano disse que usará o tempo disponível nessa campanha para explicar como reduzir o déficit do País. "É possível melhorar receita e cortar o déficit de R$ 140 bilhões em dois anos. Acredito que se formos eleitos, vai ter choque de otimismo, a Bolsa vai subir, haverá confiança que o País não vai quebrar e vai fazer a lição de casa."

O tucano lembrou que essa campanha será muito curta e as pesquisas de intenção de voto podem se alterar substancialmente. "O Aécio [Neves, candidato do PSDB à Presidência da República nas eleições de 2014] cresceu 12 pontos em menos de uma semana, às vésperas do primeiro turno", destacou.

O presidenciável do PSDB voltou a destacar: "quem for eleito deve aproveitar a legitimidade das urnas pra fazer as mudanças constitucionais necessárias que o País necessita", como as reformas tributária, política e previdenciária.

Vice
Indagado sobre quem poderá ser o vice em sua chapa, Alckmin brincou: "Também gostaria de saber." E repetiu que não deve ser de São Paulo e nem do PSDB. "Temos grandes nomes", disse, citando o correligionário Tasso Jereissati (PSDB-CE) mas admitindo que ele é de seu partido e a ideia é buscar alguém de outra sigla.

Comentando a informação de que o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa está sendo convencido pelo seu partido, o PSB, a rever sua posição e disputar a corrida presidencial, Alckmin disse que ele é um nome respeitável, mas que a decisão é sempre de foro íntimo.

Questionado sobre a redução da maioridade penal, disse que na época em que o seu secretário de Justiça era o hoje ministro do STF Alexandre de Moraes, eles propuseram para crimes graves o aumento da pena (do menor) para até 8 anos. E defendeu medidas que não precisem mexer nas cláusulas pétreas da Constituição.

Nunca um vice foi tão difícil

Nomes cogitados por Alckmin e Marina recusam sondagens

Dimitrius Dantas, Jeferson Ribeiro e Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO, RIO E BRASÍLIA / A duas semanas do prazo para o registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os presidenciáveis mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto continuam sem um vice para compor a chapa. Mesmo depois ou bem perto das últimas convenções, que acontecem neste fim de semana, nenhum deles conseguiu bater o martelo, o que só aumenta as especulações e uma sucessão de nomes que não consegue parar em pé.

Embora as campanhas não admitam as sondagens, três nomes engrossaram ontem a lista de recusas ao posto. Candidato apoiado pelo centrão, o tucano Geraldo Alckmin já sabe que não poderá contar com a senadora Ana Amélia (PP) e o ex-deputado Aldo Rebelo (Solidariedade).

— Fico muito honrada mas o tamanho da minha perna dita o tamanho do meu passo seguinte. Fico muito feliz de ser lembrada mas não houve convite nem do meu partido nem de nenhum lado. E, se houvesse, minha resposta seria não — afirmou a senadora.

Aldo Rebelo negou que esteja em negociação para compor a chapa de Alckmin e descartou considerar a hipótese

A mesma dificuldade atinge a campanha de Marina Silva (Rede), que tentou atrair o ator Marcos Palmeira para vice, como sugeriu o porta-voz do partido Pedro Ivo, na última sexta-feira.

— A Marina sempre está querendo me alavancar a uma candidatura ao governo, a deputado ou ao Senado. E o Pedro Ivo ventilou a possibilidade de eu ser vice. Fiquei muito honrado, nunca me imaginei estar nesse lugar, mas não é o momento — disse Palmeira ao GLOBO, acrescentando que pretende participar ativamente da campanha.

Alckmin ainda trabalha com o cenário de chegar à convenção nacional do PSDB neste sábado com o vice no palanque. A primeira opção do tucano foi o empresário Josué Gomes (PR), filho do ex-vice-presidente José Alencar, indicado pelo centrão — bloco formado pelo DEM, PP, PR, PRB e SD. Mas ele recusou. Alckmin pretende comparecer a convenção nacional do DEM, na quinta-feira, em Brasília. O presidente nacional da sigla, ACM Neto, ganhou dos demais partidos do centrão a missão de negociar diretamente com o tucano a escolha do seu vice na chapa eleitoral.

No caso do PDT, o presidente da legenda, Carlos Lupi, e o presidenciável Ciro Gomes dizem ter convidado apenas um nome: Josué Gomes, que também foi cobiçado por Alckmin. Atualmente o posto está condicionado ao apoio a nível nacional do PSB. O nome mais cotado é o do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda.

— Não há novidades. Estamos trabalhando na decisão do PSB—diz o líder do PDT na Câmara, André Figueiredo.

O pré-candidato pelo PSL, o deputado federal Jair Bolsonaro, também tem colecionado “nãos”. Já foram cogitados para compor sua chapa o senador Magno Malta, o general da reserva Augusto Heleno, o também general Antonio Mourão, a advogada Janaína Paschoal, o astronauta Marcos Pontes e o príncipe Luiz Philippe de Orléans e Bragança. (Colaboraram Cristiane Jungblut, Luís Lima e Jussara Soares)

Purismo nacional de Marina Silva vira pragmatismo da Rede nos estados

Candidata critica velha política, mas partido está junto a siglas como DEM e PSC

Angela Boldrini | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - "O PT, o PMDB, o PSDB, o DEM e seus satélites que levaram o Brasil para o fundo do poço. Eles não são a solução”, disse a pré-candidata à presidência Marina Silva, em vídeo publicado no sábado (28).

Acostumada a criticar adversários por alianças pragmáticas e o que chama de "velha política", a ex-senadora não tem encontrado eco em seu próprio partido, a Rede.

Dos partidos citados por Marina no vídeo, dois se aliarão à sigla da presidenciável nos estados. Os outros dois foram cogitados como alianças que não se desenvolveram.

No Rio Grande do Sul, a Rede apoiará o candidato tucano ao governo do estado, Eduardo Leite —e chegou negociar apoio com o atual governador, José Ivo Sartori (MDB). No Amapá, o senador Randolfe Rodrigues dividirá palanque com o colega de Congresso Davi Alcolumbre, do DEM.

MDB e DEM têm força na bancada ruralista, que patrocina projetos como a flexibilização do código florestal, ou o que facilita o registro de agrotóxicos. Esse último, condenado pela Rede, foi aprovado neste ano em comissão presidida por uma parlamentar do DEM, Tereza Cristina.

A lista de alianças regionais conta ainda com o PSC do líder do governo Temer no Congresso, André Moura (SE), e o Patriota, que tentou abrigar a candidatura de Jair Bolsonaro.

Marina também subirá no palanque do nanico PMN, que deve transitar livremente pelo espectro político: em Minas, deve apoiar o tucano Antonio Anastasia e, no PR, a candidata do PP, Cida Borghetti.

De acordo com lideranças da Rede, as direções regionais foram orientadas a evitar alianças com PT, PSDB e MDB. A única sigla vetada foi o PSL de Bolsonaro. As alianças ainda não foram homologadas, e devem ser discutidas pela executiva nacional do partido no dia 6 de agosto, após a convenção que oficializará a candidatura de Marina.

As alianças "Frankenstein" não são uma exclusividade da Rede ou da eleição de 2018, ressalta o cientista político Fernando Azevedo, professor da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos).

"São duas lógicas muito diferentes, a nacional e a estadual". Ele diz que as alianças estaduais em todos os partidos seguem direção própria, muito mais relacionada aos acordos e conjunturas locais que com posições ideológicas.

"Se os partidos de fato tivessem perfil ideológico, era de se esperar que houvesse coerência entre as duas coisas”, diz. "Mas isso não é verdade no caso brasileiro. Aí vale o pragmatismo eleitoral mesmo, de conseguir o maior tempo de TV, a maior base para campanha."

O porta-voz do partido, Pedro Ivo Batista, afirma que a lógica das coalizões estaduais da Rede segue as mesmas diretrizes da campanha nacional do partido —em que a sigla ainda não fechou alianças, mas flerta com PV, PMN, PHS e Pros.

Alckmin rejeita concorrer com chapa puro-sangue

Por Marcos de Moura e Souza e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico

BELO HORIZONTE E BRASÍLIA - O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto afirmou ontem que não quer que seu vice seja um tucano nem que de São Paulo, Estado que já governou por quatro vezes e onde tem um eleitorado consolidado.

"[O vice] não será do PSDB porque nós queremos que outro partido, outras forças participem desse trabalho", disse ele a jornalistas depois de uma palestra a empresários em Belo Horizonte. "Não será de São Paulo. O país é continental, nós precisamos ter vários Estados e regiões representados".

Alckmin disse que define a chapa esta semana para apresentá-la na convenção nacional do PSDB que acontece sábado. Com a adesão dos partidos do chamado Centrão - DEM, PP, PR, PRB e SD - à sua campanha, alguns dos nomes que passaram a ser cogitados para vice foram os de Mendonça Filho (DEM-PE), Ana Amélia (PP-RS), do empresário Josué Gomes da Silva (PR) e de Aldo Rebelo (SD-SP). No domingo, o PTB também selou seu apoio ao tucano.

Vista com um dos nomes mais cotados para disputar a viceAna Amélia negou que tenha sido sondada. Em entrevista ao Valor PRO, ela admitiu ver dificuldades em mudar os planos eleitorais. A parlamentar do PP está em pré-campanha para se reeleger a uma das cadeiras do Senado. "Não fui consultada, nem sondada e nem convidada para ser candidata à vice-presidência na chapa do governador Geraldo Alckmin. Quando não há convite, não há resposta", disse a senadora gaúcha.

Além de negar o convite de Alckmin, a parlamentar do PP disse que "ninguém" falou com ela sobre o assunto. "Ninguém me sondou sobre o assunto. Nem o presidente do PP, o senador Ciro Nogueira, nem outros correligionários ou líderes políticos de outras legendas".

Ana Amélia afirmou ainda estar "concentrada" em sua campanha para ser reeleita como senadora e reconheceu dificuldades em "virar a chave" e passar a compor a chapa encabeçada por Alckmin. "Estamos a 70 dias da eleição. Estou trilhando um caminho já conhecido por mim. Meço bem minha capacidade e o tamanho dos meus passos. Procuro ter previsibilidade. É um tempo curto para virar de ponta-cabeça o caminho que estou trilhando desde 2011".

Apoio a Eunício gera crise no PT

Cristiane Agostine | Valor Econômico

SÃO PAULO - A decisão do PT do Ceará de não ter candidato ao Senado para facilitar a reeleição do senador Eunício Oliveira (MDB) gerou uma crise dentro do comando nacional do partido e no diretório estadual da legenda. Em articulação do governador e pré-candidato à reeleição, Camilo Santana (PT), a sigla rifou o senador petista José Pimentel, que disputaria um novo mandato, em nome de uma aliança com MDB.

A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), reagiu ontem à decisão do diretório cearense e afirmou, pelo Twitter, que o partido "não apoiou nem apoiará" Eunício. Integrante do núcleo político que tem articulado alianças eleitorais e a pré-campanha presidencial petista, o ex-presidente da sigla Ricardo Berzoini atacou a articulação do PT-CE. "A decisão do PT do Ceará rifando um senador petista para apoiar o golpista Eunício é o triunfo da burocracia clientelista", escreveu Berzoini no Facebook.

No sábado, o diretório do Ceará decidiu em convenção que não terá candidato ao Senado, apesar da pressão feita por petistas para manter a vaga de Pimentel. Sob influência do governador, o partido trabalha com dois cenários que são favoráveis ao senador do MDB: um é de lançar apenas um candidato ao Senado, o ex-governador Cid Gomes (PDT), irmão do presidenciável Ciro Gomes (PDT). O outro é lançar a chapa com Cid e o próprio Eunício, presidente do Senado. Para o comando do diretório, Pimentel poderia atrapalhar a reeleição do emedebista.

PT negocia neutralidade do PSB nas eleições 2018 em troca de acordos regionais

Petistas tentam evitar o apoio dos pessebistas a Ciro Gomes; conversas incluem candidaturas aos governos em Minas Gerais e Pernambuco

Ricardo Galhardo | O Estado de S.Paulo

Dirigentes do PT disseram nesta segunda-feira, 30, durante reunião do Conselho Consultivo do partido, em São Paulo, que os petistas não negociam mais uma coligação nacional com o PSB nas eleições 2018. O objetivo do PT, agora, é evitar que o PSB se alie formalmente a Ciro Gomes (PDT), e libere suas lideranças estaduais para apoiar o candidato a presidente que considerem melhor.

A negociação passa por acordos entre PT e PSB em Pernambuco e Minas Gerais. Em Pernambuco, o PT forçaria a saída de sua pré-candidata, a vereadora Marília Arraes, abrindo caminho para a candidatura à reeleição do governador Paulo Câmara (PSB). Em Minas, seria o inverso. O ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) abandonaria a disputa, em favor do petista Fernando Pimentel, que concorre à reeleição.

O PT já adiou duas vezes o encontro nacional que vai definir a posição do partido em Pernambuco em nome das negociações com o PSB.

Segundo petistas pernambucanos, Marília tem hoje a maioria do diretório estadual.

O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, negou os termos da negociação. Segundo ele, a possibilidade de apoiar o PT ainda não foi totalmente descartada. No domingo, 5, o partido vai decidir entre uma coligação com os petistas, apoio a Ciro ou liberar as lideranças estaduais. O governador de São Paulo, Márcio França (PSB), defende uma candidatura própria, mesmo que seja para perder a eleição. França não quer abrir mão do tempo do partido no horário eleitoral da TV, mas é minoria.

“Não discuti isso (acordo regional envolvendo Lacerda) com ninguém. O PT condicionou a retirada da Marília a um acordo nacional”, afirmou Siqueira.

O PT ainda negocia alianças com o PROS e o PCdoB. Segundo dirigentes do partido, emissários levaram ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado pela Lava Jato e preso em Curitiba, a sugestão de que Manuela d’Ávila, pré-candidata do PCdoB, seja a vice na chapa petista. Lula não se manifestou.

A escolha do vice é motivo de divergências no PT. Correntes influentes dizem que o partido deve escolher logo um nome dentro de suas próprias fileiras. Um grupo prefere que o vice seja um nome “fraco”, que não seja visto como possível “plano B” a Lula. Outros petistas acham melhor que o vice seja o possível substituto de Lula.

Presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR) publicou um texto na página do partido no qual critica lideranças da esquerda que admitem uma eleição sem Lula.

Haddad diz que PT não trabalha com cenário alternativo

Leila Souza Lima | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) disse ontem, na chegada para reunião com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, no gabinete ministerial em São Paulo, que internamente o PT não trabalha com cenário sem o ex-presidente Lula como candidato.

Haddad é cotado como plano B do partido caso Lula seja considerado inelegível pela Justiça Eleitoral. O ex-presidente cumpre pena em Curitiba depois de ter sido condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Segundo Haddad, a reunião com Guardia é de rotina e tem sido feita com as assessorias dos candidatos, com o objetivo de colher informações sobre a realidade econômica do país para orientar o debate.

"É muito proveitoso que se faça isso, que as pessoas tomem conhecimento com transparência do que está acontecendo. Cada candidato vai apresentar suas soluções para a crise em que o país se encontra. Eu não poderia recusar esse convite, que me parece adequado para esse momento de transição."

Segundo Haddad, é importante uniformizar o conhecimento sobre a realidade de forma que cada candidato desenhe melhor sua proposta: "Vim recolher informações para que a gente possa ajustar nossas propostas e escolher a melhor saída para a crise. Nosso programa deve ser fechado num encontro no fim de semana, quando vamos dirimir algumas dúvidas. Será apresentado semana que vem. Os próximos pontos serão divulgados oportunamente."

Segundo o ex-prefeito, as coordenações das campanhas devem adiar suas decisões finais talvez para após as convenções, pois existe brecha na legislação para isso. "Estamos fazendo uma rodada com os partidos para reforçar a candidatura do presidente Lula", disse, reforçando que no dia 15 a candidatura será registrada na Justiça Eleitoral. Ele destacou que o partido acredita que Lula terá condições legais de disputar. "Nosso plano está bem organizado. É como fizemos na crise de 2002, uma crise não tão severa como a de hoje. Mas era grave, o dólar estava mais alto do que hoje e nós não tínhamos reservas. E Lula foi o presidente mais exitoso do ponto de vista econômico. Lula conhece o país como ninguém e vai apresentar um plano de governo sustentável para a retomada do desenvolvimento", afirmou, acrescentado que ainda assim as reservas serão usadas "parcimoniosamente".

Mudança demográfica torna urgente reforma da previdência: Editorial | Valor Econômico

A necessidade da reforma da Previdência teve um importante reforço após os mais novos cálculos demográficos elaborados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em sua recente revisão das projeções da população, o IBGE constatou que a população idosa brasileira está aumentando mais rapidamente do que se imaginava, tornando mais urgente a reforma para conter o aumento dos gastos públicos. O déficit registrado em 2017 com o pagamento dos 30 milhões de beneficiários do setor privado foi de R$ 182 bilhões. Somados aos R$ 86 bilhões destinados à previdência do 1 milhão de funcionários públicos, incluindo militares, a conta chegou a R$ 268 bilhões.

De acordo com o IBGE, a população total do país, estimada em 208,5 milhões neste ano, vai crescer até alcançar o máximo de 233,2 milhões em 2047. A partir daquele ano, com a redução gradual da taxa de fecundidade, a população irá diminuir até atingir 228,3 milhões em 2060, voltando ao patamar de 2034. O Brasil deixará de estar na lista das nações mais populosas do mundo nos próximos anos e, após 2060, deve sair do ranking das dez maiores, sendo superado por vários países africanos.

A taxa de fecundidade total da brasileira - número médio de filhos por mulher - deverá cair de 1,77 neste ano para 1,66 em 2060. A revisão mostrou que aumentou a quantidade de mulheres que engravidam entre 30 e 39 anos, e diminuiu a participação de mulheres entre 15 e 24 anos na fecundidade em todas as grandes regiões do país. Nesse processo, o número de brasileiros com 65 anos ou mais vai crescer a uma média de 2,7% ao ano, até 2060, em um ritmo superior ao de 0,2% do aumento da população em geral, incluindo o da população em idade ativa, de 15 anos a 64 anos.

O ralo do dinheiro público: Editorial | O Estado de S. Paulo

O buraco da Previdência continua engolindo facilmente o dinheiro juntado pelo governo em seu esforço de economizar e arrecadar. Esse empenho garantiu ao Tesouro um superávit de R$ 98,70 bilhões nos 12 meses terminados em junho. Não sobrou um centavo para uma celebração. Muito maior, o sumidouro do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), um déficit de R$ 190,40 bilhões, condenou o governo central, nesse período, a um saldo negativo de R$ 92,40 bilhões nas contas primárias. O cálculo inclui um pequeno déficit (R$ 715 milhões) do Banco Central (BC). Juros e custos de amortização ficam fora do balanço primário. Como os governos de Estados e municípios e as estatais conseguiram saldo positivo, o conjunto do setor público foi deficitário em R$ 89,82 bilhões.

Não se paga um tostão de juros ou de amortização sem superávit primário. Este superávit corresponderia, na economia familiar, àquele dinheiro posto de lado, mensalmente, para liquidar as prestações e seu custo financeiro. Quando é preciso rolar essa dívida, juros se acumulam e cresce o rombo nas finanças domésticas. Algo parecido, mas com mecanismo e proporções diferentes, ocorre nas contas públicas. Somados os juros, obtém-se o chamado resultado nominal do setor público.

No conjunto, o déficit alcançou em 12 meses R$ 487,04 bilhões, soma equivalente a 7,28% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o relatório mensal divulgado pelo BC.

Um padrão de referência pode dar uma ideia mais clara do desastre embutido nesses números. Na zona do euro, o déficit nominal equivaleu em média a 0,1% do PIB no primeiro trimestre deste ano, de acordo com dados do Eurostat. Na União Europeia, um conjunto mais amplo, o buraco chegou a 0,5% do PIB. Os números são ajustados sazonalmente e a comparação é imperfeita, mas a diferença entre as ordens de grandeza é inequívoca.

Na Romênia, um país com desempenho bem longe da média, o déficit ficou em 4,2%. Vários países, como Alemanha, Bulgária, Holanda, República Checa, Lituânia e Eslovênia, fecharam as contas com superávit.

Aborto em pauta: Editorial | Folha de S. Paulo

Revisão de normas deveria passar pelo exame do Congresso e por consulta popular

A ministra Rosa Weber abrirá audiência pública no Supremo Tribunal Federal nesta sexta-feira (3) para discutir o delicado tema do aborto. Debates são sempre bem-vindos, ainda que por si sós incapazes de dirimir a questão.

Relatora de ação do PSOL contra os artigos 124 e 126 do Código Penal, que criminalizam a interrupção da gravidez por iniciativa ou autorização da mulher, a ministra reservou dois dias para o Supremo ouvir argumentos contra e a favor de permitir o abortamento até a 12ª semana de gestação.

A lei autoriza hoje a realização do procedimento apenas quando a gravidez resultar de estupro ou implicar risco para a vida da mãe, ou ainda em caso de feto anencéfalo. O PSOL argui que a limitação viola direitos fundamentais das mulheres, em especial à autonomia e à integridade física e psíquica.

Fato é que a mera criminalização não tem evitado a ocorrência de abortos. Estima-se em cerca de 1 milhão a cifra anual de casos, sendo a minoria deles em conformidade com a legislação.

Promovidos de modo clandestino, são feitos em condições precárias e não raro levam a complicações graves. A cada ano, acontecem mais de 200 mil internações por esse motivo no Sistema Único de Saúde (SUS), ao custo aproximado de R$ 50 milhões anuais.

As eleições e o Ministério Público: Editorial | O Estado de S. Paulo

Na sexta-feira passada, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, anunciou que o Ministério Público deverá ter uma forte atuação na aplicação da Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135/2010) nas próximas eleições. A orientação da Procuradoria-Geral da República (PGR), anunciada depois de uma reunião com os procuradores regionais eleitorais, é para que o órgão ingresse com ação de impugnação contra todas as candidaturas que desrespeitarem as inelegibilidades previstas em lei.

Trata-se de uma boa iniciativa, que está em sintonia com as atribuições do Ministério Público, a quem compete a defesa da ordem jurídica e do regime democrático. A lei deve ser sempre respeitada, muito especialmente no processo eleitoral. Seria um gravíssimo desleixo com a ordem jurídica deixar que o processo eleitoral seja vilipendiado por quem não tem o direito, por ser ficha-suja, de se candidatar.

Raquel Dodge, que é também procuradora-geral eleitoral, informou que o Ministério Público irá cobrar o ressarcimento dos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Campanha usados por candidatos com inelegibilidade reconhecida pela Justiça Eleitoral. “O Ministério Público Federal pedirá o ressarcimento aos cofres públicos de financiamento a candidatura inelegível. Se houver a confirmação, todo centavo público que financiou uma campanha será ressarcido”, disse a procuradora-geral. O cálculo desses valores incluirá os gastos públicos relativos ao horário eleitoral gratuito de rádio e de televisão dedicado ao candidato inelegível.

No RJ, candidatos precisam saber do desafio da crise: Editorial | O Globo

O próximo governador jogará o destino da sua administração no enfrentamento de corporações conectadas com a Alerj

Salvo miopia ideológica, todos conhecem o tamanho da crise que candidatos a presidente e a governos estaduais terão pela frente. Em certa medida, o padrão das dificuldades fiscais que o próximo inquilino do Planalto encontrará — gastos previdenciários em alta descontrolada, folha de servidores pressionando as contas, e assim por diante — se repete pela Federação.

Nos mais de 10 anos em que o PT governou em Brasília, com exceção do primeiro mandato de Lula, o partido desestabilizou as contas públicas, pelo lado das despesas. A recessão causada pelos desmandos fiscais completou o desastre. Fez parte do descuido com a responsabilidade fiscal, por exemplo, a indexação imprevidente do salário mínimo, com reflexos desestabilizadores nos benefícios previdenciários e em outros gastos sociais.

Foi esta indexação que produziu, nos dois anos de cava recessão, 2015/16, o desencontro suicida de despesas em alta e receitas em queda. Receita da falência.

O bom filho a casa torna - Trio Madeira Brasil-Zé da Velha e Silvério Pontes-Henrique Cazes

Cecília Meireles: Gargalhada

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...

O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.

Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
- e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...

Escuta bem:

Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim

segunda-feira, 30 de julho de 2018

FAP Entrevista: Maria Alice Rezende

Não há propriamente uma partidarização do Judiciário e sim a ocupação de um vazio deixado pela fraqueza do sistema político no encaminhamento de soluções para a crise política e social do país, diz Maria Alice Rezende

Por Germano Martiniano | FAP

Nesta segunda-feira (30) será lançado, no Rio de Janeiro, o livro “Diálogos gramscianos sobre o Brasil atual”, de Luiz Werneck Vianna, que é uma coletânea de entrevistas realizadas com o sociólogo desde o inicio do governo Lula, em 2003, até os dias atuais. O prefácio da obra ficou a cargo da também socióloga Maria Alice Rezende, a entrevistada deste deste domingo da série FAP Entrevista, que a Fundação Astrojildo Pereira está publicando, aos domingos, com intelectuais e personalidades políticas de todo o Brasil, tem o objetivo de ampliar o debate em torno do principal tema deste ano: as eleições.

Licenciada em História pela PUC do Rio de Janeiro (1975), Mestre em História Social pela UNICAMP (1983) e Doutora em Sociologia pelo IUPERJ, Maria Alice escreveu, em conjunto com Werneck Vianna, há vinte anos, o livro “Corpo e alma da magistratura brasileira”. Questionada na entrevista à FAP sobre o atual momento do judiciário brasileiro, ela foi enfática: “Não há propriamente uma partidarização do Judiciário e sim a ocupação de um vazio deixado pela fraqueza do sistema político”.

Em relação ao livro de Werneck, Maria Alicia considera que o autor, apesar do momento político brasileiro e todas as dificuldades inerentes a ele, valoriza a democracia como uma conquista superior da sociedade brasileira. “Werneck Vianna aponta para o fato de que nesse cenário político brasileiro, aparentemente desolador, há algo que a sociedade conquistou irreversivelmente: a democracia política”, destacou a socióloga.

Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista de Maria Alice Rezende de Carvalho:

• FAP Entrevista – Werneck tem se consolidado como uma referência clássica dos estudos sociais no nosso país e é também um intelectual público. Por que este tipo de intelectual parece ausente no Brasil de hoje?

Maria Alice Rezende – A reflexão social no Brasil obedeceu a um processo de institucionalização universitária, que conhece permanente e crescente especialização. Tal fato parece estar na origem disso que você identifica como uma diminuição da presença do intelectual público no Brasil. De fato, o intelectual público singular, como Werneck Vianna, capaz de intervir na vida nacional, escasseia. Mas esse tipo de intelectual vem sendo substituído por intelectuais coletivos, por agências intelectuais que, inclusive, extrapolam o ambiente universitário, tendo como objeto o país, suas vicissitudes, suas potencialidades.

• As entrevistas de Werneck, agora reunidas em livro, que lugar ocupam na obra deste intelectual?

Penso que o livro “Diálogos gramscianos …” é particularmente interessante para a divulgação do pensamento de Werneck Vianna, pois ele combina a erudição do autor, a perspectiva histórica de que sempre faz uso em suas análises, com a sensibilidade dos grandes analistas de conjuntura. Além disso, as entrevistas resumem a original combinação que Werneck instituiu entre Antonio Gramsci e Alexis de Tocqueville, sobretudo na valorização das associações da sociedade civil – os chamados grupos intermediários, em Tocqueville, e as agências privadas de hegemonia, em Gramsci.

• Quais respostas o livro de Werneck poderia dar para o atual momento político brasileiro?

Uma resposta abrangente – a democracia como forma superior de luta e como via nobre para a construção de uma sociedade cada vez mais justa e livre, que mire o socialismo. Penso que nesse livro, Werneck Vianna aponta para o fato de que nesse cenário político brasileiro, aparentemente desolador, há algo que a sociedade conquistou irreversivelmente: a democracia política.

• A linha de estudos sobre o Judiciário, da qual a senhora também participou junto com Werneck, credencia muito a ambos na cena atual. Estamos, afinal, diante de uma “revolução dos santos” protagonizado pelos operadores do Direito? Em que medida há abusos e interferências em outras esferas?

Há vinte anos, o livro “Corpo e alma da magistratura brasileira”, de autoria dele e minha, cumpriu o importante papel de apresentar um novo ator da democracia: o juiz de Direito. A análise que empreendemos naquele contexto nos credenciou a produzir, agora, uma outra pesquisa, novamente a pedido da Associação dos Magistrados Brasileiros, sobre o perfil da magistratura atual, em que alguns de seus quadros se comportam orientados por uma perspectiva ativista e salvacionista. Estamos tentando traçar um quadro mais preciso dessa nova geração de magistrados, respeitando sua diversidade e os elementos constitutivos da identidade daquele grupo profissional.

• Terá avançado a partidarização do Judiciário além de um ponto tolerável?

Não há propriamente uma partidarização do Judiciário e sim a ocupação de um vazio deixado pela fraqueza do sistema político no encaminhamento de soluções para a crise política e social do país.

A senhora é uma grande estudiosa do fenômeno histórico das cidades brasileiras. O Brasil urbano que se construiu a partir do século XX é um bom lugar para se viver ou necessita de reformas profundas dentro do contexto de democratização? Quais seriam as reformas?

É claro que as cidades brasileiras necessitam de profundas e urgentes reformas, principalmente aquelas voltadas à superação da imensa desigualdade reinante no mundo urbano brasileiro. As cidades em que vivemos expõem a tragédia de uma história de exclusão e de subjugação das classes subalternas. É ali que se joga o futuro da democracia brasileira.

• Por que o comunismo democrático brasileiro das décadas de 60, 70 e 80 esgotou-se, não conseguindo ser um vetor para as instituições brasileiras? E qual o destino daquilo que se chama pós-comunismo?

Penso que a experiência do “comunismo democrático” não se esgotou simplesmente. Houve, por parte dos setores dogmáticos do PCB, um alijamento das vanguardas que lutavam pela democracia política. Mas o que se pode dizer é que há consenso na esquerda moderna quanto à necessidade de deslocamento do horizonte do comunismo, pois o que se impõe à cena contemporânea é a luta anti-capitalista, socialista. Fica para a história a resolução dos dilemas para a construção de uma sociedade comunista…

• Sobre os movimentos sociais, por que eles foram se despolitizando e se afastando da política, assim como, a política se afastou deles?

Sob a égide dos governos do PT, os movimentos sociais, tal como aponta Weneck Vianna em suas entrevistas, foram estatalizados, perderam sua autonomia e luz própria.

Marco Aurélio Nogueira: A reflexão política de Luiz Werneck Vianna

Autores como Luiz Werneck Vianna dispensam apresentações. Suas intervenções são sempre esclarecedoras, especialmente quando se debruçam sobre os fatos da conjuntura. Valendo-se de uma ciência social rigorosa e de uma visão abrangente da vida brasileira, ele trata os fatos sempre a partir da compreensão crítica dos processos e ritmos da estrutura, da história. Por esse caminho, edificou uma completa teoria de nossa formação como Estado nacional e como comunidade política.

Em Diálogos Gramscianos sobre o Brasil Atual, que acaba de ser lançado pela Verbena Editora e pela FAP, podemos encontrar o sociólogo em plena forma. É um livro composto por entrevistas, que se estendem por um longo período (2007-2018) e vão além de meras análises de conjuntura. Nelas, o esforço recorrente é para captar a política em pleno voo e decifrar o enigma brasileiro.

Encontramos, nesses diálogos com seus entrevistadores, a marca da visão que Werneck elaborou sobre o Brasil, na qual ressoa forte o conceito gramsciano de revolução passiva: o desenvolvimento capitalista brasileiro seguiu caminhos não-lineares, nos quais a modernização teve sua marcha ralentada e condicionada por resistências e movimentos de conservação empreendidos pelas elites dominantes. Houve mudança, e ela foi expressiva, mas também muita conservação. Os fatos foram se impondo quase que com autonomia em relação aos sujeitos. Mas os atores não desapareceram, nem ficaram submetidos o tempo. Nos momentos de maior avanço, conseguiram de algum modo “dirigir” aquilo (e aqueles) que bloqueavam o progresso (a democratização, o desenvolvimento, a ascensão social). O processo se fez mediante reformas e avanços moleculares.

Para Werneck, o Brasil é um país sufocado pela centralidade do Estado, que modelou a modernização de modo a prolongar a subalternização das classes populares e a dificultar a marcha do próprio moderno. Tratou-se de uma “estatalização” que não foi organizada tão-somente pelas elites dominantes, mas também pelos atores que buscaram se apresentar como expressão da esquerda. A tutela do povo combinou-se ou com o autoritarismo dos tempos da ditadura, ou com políticas de clientela e assistencialismo em tempos de democracia.

Werneck procura acompanhar os desdobramentos mais recentes desse processo, olhando em detalhe a atuação do PT no governo, antes de tudo marcada pelo abandono da ideia de organizar e autonomizar as classes populares e pela concentração de esforços no prolongamento do poder conquistado, para o que entregou-se parte importante do governo a forças políticas tradicionais. Os movimentos sociais foram assim submetidos ao Estado, tornando-se dele dependentes, inclusive em termos de recursos. Fechou-se assim um círculo a mais no processo de “estatalização”.

Hoje: Encontro com Luiz Werneck Vianna


Marcus André Melo: Coalizões e perversão

- Folha de S. Paulo

Controles fortes são condições para o bom funcionamento de um sistema político

“Os ingleses detestam coalizões”, afirmou o premiê conservador britânico Disraeli (1804-1881). Mas a afirmação mais contundente é de Willy Brandt, ex-premiê alemão (1969 a 1974), em relação à “Grande Coalizão”, o acordo entre social-democratas e democratas cristãos que o antecedeu: “soa como ato sexual pervertido”.

Não arriscaria conjecturas sobre o que Brandt diria em relação às alianças que estão sendo forjadas para as eleições presidenciais.

A rejeição a coalizões faz parte de uma forte tradição para a qual o melhor desenho institucional é o modelo de Westminster, cujas bases são o parlamentarismo e o voto em distritos uninominais, o qual produz o bipartidarismo.

Para seus defensores, este modelo produz governos responsáveis perante o parlamento, com clareza de responsabilidade, “identificabilidade”, e accountability: o eleitor sabe a quem culpar se algo der errado, quem está no comando, e a queda do gabinete é automática na ausência de apoio parlamentar.

Entretanto, os governos de coalizão são atualmente a forma modal de arranjo governativo: quase 80% dos países parlamentaristas e 52% dos presidencialistas têm coalizões multipartidárias.

Fica para outra coluna a discussão das patologias do modelo de Westminster. Interessa-nos aqui apenas um ponto: o quase consenso histórico em torno deste modelo inverteu-se. O arranjo que caracterizaria a boa governança para a maioria dos especialistas desde a década de 1970 é o chamado modelo consensual de democracia, representado pelos países escandinavos e por Holanda, Bélgica, Alemanha, Áustria.

Fernando Gabeira: Museu do Eclipse

- O Globo

Depois da Copa, começa a campanha eleitoral no Brasil. O momento é de composições, alianças, escolha de vice. Costumo defini-lo como um momento em que os jogadores ainda estão no vestiário, antes de saírem para o campo aberto sob o olhar da plateia.

Mas as notícias que vêm do túnel indicam um personagem que parece rivalizar com os candidatos: o centrão.

Participei de quase todas as campanhas até 2010. Estou procurando entender esta e vejo o papel do Congresso mais explícito. O Congresso provou o gosto de sangue através dafr agilidade dos dois últimos governos, Dilma e Temer. Ambos precisaram muito dele para sobreviver. E o centrão ganhou força evai usá-lapara que tudo continue o mesmo, sobretudo a ocupação partidária da máquina, a troca de votos por verbas; enfim, o velho fisiologismo.

O centrão, com afortunado Fundo Partidário, preservará seu número de deputados e enfraquecerá o presidente eleito com sua bomba fiscal.

É uma forma mais articulada do que no passado. Mas também eles têm mais medo do que no passado.

Enquanto os times não entram em campo, fora do túnel, no mundo real observe também algo mais novo nas eleições brasileiras.

Como no passado, algumas figuras da sociedade pensam em se candidatar e desistem. Desta vez, o número foi um pouco maior, e observe um grande peso das famílias na desistência dos possíveis candidatos. Sempre foi assim. Mas, no passado, a condição de político não repercutia tanto na vida da família, e a resistência era mais pela perda da proximidade do ente amado.

Agora pesa também, creio eu, além da ausência, o fato de que apessoava i transitar num universo ético desprezado, e isso repercute demais no cotidiano familiar. Até os bancos brasileiros têm um pé atrás e classificam os parentes também como pessoas politicamente expostas.

Aproveitando que ainda estou no vestiário, cuido de alguns detalhes. É ope rí odo também em que surgem as denúncias. Uma delas me interessou não pelo conteúdo, mas pela palavra: museu do eclipse.

Fernando Limongi: Efeito colateral

- Valor Econômico

Financiamento público alimenta a fragmentação

Nas últimas semanas, o noticiário político foi dominado pelas convenções partidárias. A atenção se voltou para os acordos de última hora e para seus efeitos na distribuição do horário eleitoral. São decisões que cabem exclusivamente às lideranças partidárias. O comportamento dos eleitores entra no cálculo, mas não tem influência direta sobre tais decisões. Assim, quando chamados a fazer suas escolhas, cidadãos são confrontados com um menu restrito, resultado do acerto feito entre os líderes partidários.

Como consequência dessas negociações, a maioria dos partidos se retira da competição direta pelo poder executivo. Nas eleições majoritárias, ao contrário do que ocorre nas proporcionais, coligações contribuem para reduzir o número de partidos que disputam as eleições. A Presidência e os governos estaduais são para poucos. Nas eleições de 2014, para todos os efeitos, só o PT, o PSDB, o PSB e o MDB participaram dessas disputas. As vinte e tantas siglas restantes se restringiram a disputar cadeiras legislativas. Assim, a ideia de que o Brasil tem muitos partidos pede qualificação. Isso só é verdade para as eleições legislativas.

A quase totalidade dos partidos políticos brasileiros - os pequenos e os médios - jogam todas as suas fichas nas eleições proporcionais. É ali que sobrevivem. O sucesso dessa estratégia passa pela possibilidade de "emprestar" aos candidatos ao Executivo a fatia que detêm no horário eleitoral. Por meio dessa troca se beneficiam com a transferência de votos no interior das coligações proporcionais, o que lhes garante as cadeiras legislativas e a sobrevivência.

Ricardo Balthazar: Ponte para o passado

- Folha de S. Paulo

Plataforma eleitoral minimiza dificuldades que novo governo encontrará e defende políticas duvidosas

A economia brasileira ainda está longe de se recuperar da recessão em que afundou quando Dilma Rousseff estava no poder, mas quem buscar na nova plataforma eleitoral do PT uma explicação para o que aconteceu ficará decepcionado.

Antecipado pela Folha na semana passada, o programa evita discutir as origens da crise, minimiza as dificuldades que o próximo governo enfrentará e defende políticas que alcançaram resultados duvidosos mesmo quando as circunstâncias pareciam mais favoráveis do que hoje.

Os petistas prometem um plano de emergência para retomar investimentos públicos e criar empregos no primeiro ano do novo governo, mas não há previsão de custos, nem indicação clara da origem dos recursos que financiariam o projeto.

Bancos públicos seriam convocados a aumentar a oferta de crédito e baixar os juros de seus empréstimos, numa tentativa de forçar os bancos privados a fazer igual. Dilma experimentou a mesma ideia em seu governo, com resultados efêmeros.

Trabalhadores e empresários teriam assento no Conselho Monetário Nacional e voto nas discussões sobre a meta de inflação. Parece novo? Empresários participavam das reuniões do órgão durante a ditadura militar e dois sindicalistas puderam entrar com o retorno à democracia. Os patrões sempre levaram a melhor.

Demétrio Magnoli: O PSOL e o PT diante de Ortega

- O Globo

O filósofo Guilherme Boulos, um lulista próximo do PT, tornou-se o candidato presidencial do PSOL. A filósofa Marcia Tiburi deixou o PSOL e tornou-se candidata do PT ao governo do Rio. As portas giratórias da filosofia borram a fronteira entre a extrema-esquerda e a esquerda. Haverá, ainda, alguma diferença de fundo entre os dois partidos? Daniel Ortega indica que sim: enquanto o PT declarava seu apoio à repressão na Nicarágua, o PSOL a condenava. A diferença, porém, não é o que parece — como indica Nicolás Maduro.

A Venezuela aboliu as prerrogativas da maioria parlamentar oposicionista eleita em 2005. O regime chavista cassou os direitos políticos dos líderes da oposição e encarcerou centenas de oposicionistas. Apesar de tudo, em notas oficiais, PT e PSOL ofereceram solidariedade incondicional a Maduro. Por que, tal como o PT, o PSOL perfilase à ditadura venezuelana, mas repudia as violências cometidas pelo governo nicaraguense?

Sociologicamente, o PSOL é diferente do PT. O partido de Lula nasceu do movimento dos trabalhadores do ABC. Já o PSOL, dissidência do PT, organizou-se como condomínio de facções esquerdistas. O PT estabeleceu-se como grande partido parlamentar e lançou extensas redes na direção do alto funcionalismo público e do empresariado. O PSOL, em contraste, segue circunscrito à periferia do sistema político. Não por acaso, seu candidato ao Planalto é um forasteiro, recém-filiado, que acalenta o projeto de criar um novo partido, nos moldes do espanhol Podemos. Entretanto, na esfera do discurso político, PSOL e PT rezam pela mesma Bíblia —ou quase.

Celso Rocha de Barros: Bolsonaro Não será Trump

- Folha de S. Paulo

Sem um pé no sistema partidário, candidato não será como presidente dos EUA

Em artigo publicado na última edição da Época, o jornalista americano Brian Winter, editor da revista Americas Quarterly, fez um aviso aos brasileiros: não subestimem Bolsonaro como os americanos subestimaram Trump.

Durante toda a campanha de 2016, os analistas políticos americanos apostaram que os mecanismos institucionais e as normas de civilidade tradicionais da política americana cedo ou tarde interromperiam a ascensão de Trump. Não funcionou.

O alerta é bem-vindo, e deve ser levado a sério. Mas o risco Bolsonaro mudou de cara na última semana. Não há mais como Bolsonaro vencer como Trump venceu.

Na onda global de radicalismo político que se seguiu à crise de 2008, um padrão parece claro: os radicais que venceram conseguiram colocar um pé dentro do sistema político tradicional.

Trump foi candidato do partido republicano, uma das maiores máquinas políticas do mundo. Se o Partido Conservador britânico não tivesse tentado roubar eleitores do Ukip propondo o plebiscito do Brexit (em que o governo contava que o "Remain" venceria), a proposta nunca teria saído da franja radical da política britânica. No mesmo Reino Unido, Jeremy Corbyn liderou uma revolta de esquerda por dentro do Partido Trabalhista, como Sanders tentou fazer entre os democratas americanos.

O pé dentro do sistema que Bolsonaro pretendia colocar era o centrão. Nunca teve chance de atrair o PSDB ou o PMDB. Oferecia, entretanto, a possibilidade de promoção do baixo clero à primeira divisão. Diga o que quiser, nenhum presidente brasileiro até hoje foi vagabundo o suficiente para oferecer um cargo importante a Magno Malta. Bolsonaro seria.