domingo, 4 de agosto de 2013

OPINIÃO DO DIA – Elio Gaspari: a rua e as trapalhadas do governo

Desde que o "monstro" foi para a rua, o governo da doutora Dilma fez uma opção preferencial por encrencas que resultam apenas em trapalhadas. Quis convocar uma Constituinte exclusiva para desenhar uma reforma política, e a ideia durou pouco mais que um fim de semana. Sacou uma proposta de plebiscito a respeito da qual nem o PT se entende. Quis estender em dois anos a formação dos médicos e desistiu na semana passada.

Elio, Gaspari, jornalista. In “A marquetagem "rudimentar" da doutora”, O Globo, 4/8/2013

Presidenciáveis fazem corrida eleitoral antecipada

Prováveis candidatos, como Aécio e Campos, disputam apoio do PDT e do PP, que são da base de Dilma

Maria Lima, Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA - Dois partidos da base da presidente Dilma Rousseff, o PP e o PDT, tornaram-se o sonho de consumo de dois dos principais adversários da petista nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Eduardo Campos (PSB-PE). A um ano do início da campanha presidencial são muitas as incertezas no campo governista sobre o tamanho da coligação que disputará a reeleição. Mas, pelo olhar de hoje, Dilma não repetirá a parceria de dez partidos construída em 2010. As negociações de Aécio e Campos têm como objetivo suprir a necessidade de maior tempo de televisão, mas também permitir a montagem de palanques presidenciais em estados onde seus partidos enfrentam dificuldade. As negociações do PSDB e do PSB com o PP e o PDT são as mais adiantadas, mas outras articulações estão em curso.

A Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, ainda está absolutamente focada na validação das assinaturas necessárias para a Justiça Eleitoral formalizar a criação do partido, e não começou efetivamente negociações nos estados.

Embora PSDB e PSB estejam travando conversas tanto com PP quanto com PDT, há uma diferença de prioridade. Neste momento, enquanto o foco dos tucanos está nas conversas com o PP, o dos socialistas está sobre o PDT. Nos últimos dois meses, o PSDB incorporou o PP à base de todos seus oito governos estaduais — o último que faltava, no Pará, foi resolvido há cerca de um mês — e a avaliação entre os tucanos é que hoje ao menos a neutralidade da legenda na disputa nacional está a caminho de ser assegurada.

O sonho de Aécio Neves, no entanto, é que ocorra uma formalização da aliança, e para isso oferece apoio em estados onde o PP tem nomes fortes. Como o Rio Grande do Sul, onde lançará a senadora Ana Amélia Lemos, e no Amazonas, onde a pré-candidata pepista é a deputada Rebecca Garcia. Segundo o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, a legenda está dividida:

— Na eleição passada, nós lutamos para que houvesse uma aliança formal com o PT, e ficamos neutros. Eu continuo defendendo a aliança formal, mas está tudo indefinido porque temos alianças importantes também com o PSDB. No Rio Grande do Sul, a Ana Amélia é candidata do PP e quem for contra o PT estará no seu palanque, que pode ser (palanque) do Aécio, do Eduardo Campos, ou duplo. No Paraná, somos Beto Richa (governador do PSDB). Em Goiás, temos o vice do Marconi Perillo (PSDB), e nesses dois o palanque é do Aécio.

No PSB, o empenho no momento é fechar as negociações com o PDT nos estados. Os trabalhistas receberiam apoio a seus candidatos aos governos do Rio, com o deputado Miro Teixeira ou o prefeito de São João de Meriti, Sandro Matos; do Mato Grosso, com o senador Pedro Taques; do Rio Grande do Sul, possivelmente com o deputado Vieira da Cunha; e de Alagoas, com Ronaldo Lessa — estados onde os socialistas têm dificuldades.

Segundo o presidente do PDT, Carlos Lupi, o partido tem conversado com todos os grupos, mas não há qualquer definição. Ele diz, ainda, que a tendência hoje é de apoio à presidente Dilma, mas não deixa de se referir aos protestos de rua:

— Essa é uma fase de muita conversa e pouca decisão, até porque essas manifestações mexeram muito no cenário. A diferença entre as conversas com os dois partidos (PSB e PSDB) é que o PSB é mais do nosso campo, e isso fortalece a possibilidade de aliança. Mas cada estado tem uma fotografia e há o peso de estarmos no governo através do Ministério do Trabalho — pontua Lupi.

Além da negociação com o PDT, o PSB ainda sonha dividir com Aécio o palanque de candidatos tucanos em três dos seis estados mais populosos do país: São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Em todos os três, os socialistas integram os governos tucanos e já se preparam para apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa (PR). Em Minas, há ainda o possível, mas difícil, lançamento de um candidato único (PSB e PSDB), que poderia ser o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda (PSB).

A articulação dos palanques duplos, no entanto, enfrenta um problema. Em 2010, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que cada candidato ao governo só pode veicular na propaganda de rádio e televisão — principal ativo das campanhas — imagens e falas de um único candidato à Presidência. Ou seja, se for mantida a posição de 2010, Alckmin e Richa só poderão exibir na televisão imagens com Aécio — que é do mesmo partido deles —, nunca as com Eduardo Campos.

Independente da possibilidade ou não de formalizarem palanques duplos, Eduardo Campos e Aécio Neves têm mantido conversas frequentes e se falaram inclusive na última semana. Ambos almejam o apoio do outro para um hipotético segundo turno da eleição. Aécio Neves, no entanto, minimiza o peso das conversas de hoje no resultado final das alianças, que serão formalizadas somente em junho de 2014.

Na próxima terça-feira, Aécio, que é também presidente nacional do PSDB, reunirá em Brasília os presidentes de todos os diretórios estaduais de seu partido para tratar da montagem das chapas proporcionais e analisar a situação em cada estado:

— O PSDB tem uma prioridade hoje que é conversar com a sociedade. Vamos fazer isso nos nossos novos programas e estimular os diretórios estaduais a ampliar os leques de conversa. Só vamos tratar objetivamente das coligações no próximo ano. Muitas dessas alianças vão depender do quadro que existir lá. Agora é hora de estimular os estados a se organizarem. No ano que vem é a hora das conversas formais de alianças e quanto melhor posicionado estiver o PSDB, maior facilidade vamos ter para essas alianças.

No PSB, os próximos meses serão decisivos para a construção da unidade em torno de Eduardo Campos. Os governadores da legenda evitaram até agora se posicionar abertamente a favor de sua candidatura, alguns deles por medo de retaliação por parte do governo federal. O governador Cid Gomes (CE) é mais ostensivo contra Campos e vem defendendo continuamente, e de público, o apoio à reeleição de Dilma. A expectativa, no entanto, é que todos se unam quando Campos anunciar o rompimento com o governo e se lançar à Presidência, o que deve ocorrer no primeiro trimestre de 2014.

O primeiro-secretário do PSB, Carlos Siqueira, avalia que ainda é cedo para sacramentar qualquer decisão, mas reconhece as conversas com o PDT e com o PSDB tendem a prosperar nos estados:

— Ainda é muito cedo, ninguém vai tomar essas decisões agora. Essa é a realidade. Há um esforço para que possa se realizar uma aliança com o PDT, existem vários lugares onde essa aliança com o PSDB já existe e algumas deverão se repetir. Mas é o plano local que será definidor delas, no plano nacional são dois projetos distintos. Até porque há muitos anos temos boas relações, mas nossas posições são diferentes nacionalmente.

Aliança com PMDB enfrenta dificuldades em 15 estados

Maior partido da base de apoio ao governo ainda não sabe se repete dobradinha com Dilma em 2014

Apesar de o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, ter afirmado na última terça-feira ao GLOBO que o PMDB traz “mais problema do que solução” para o governo Dilma, a preocupação número um do Palácio do Planalto e da direção nacional do PT é com a manutenção da aliança formal com o partido do vice-presidente Michel Temer. Uma análise estado por estado revela que a tarefa não é simples. Hoje, os dois partidos enfrentam dificuldades para formalizar a aliança em pelo menos 15 estados.

Antes do início dos protestos, e a consequente derrocada dos índices de popularidade da presidente, o vice Michel Temer chegou a reunir em Brasília dirigentes de alguns diretórios estaduais para sacramentar o apoio à reeleição. Mas até interlocutores do vice reconhecem que essas conversas já não têm mais valor hoje. Com isso, cresce a ala do partido que considera a hipótese de nem fechar coligação formal com o PT. Até o início deste ano, o único temor era que em alguns estados grupos peemedebistas não fizessem campanha para a chapa nacional.

Os estados com mais delegados com votos na convenção nacional da legenda, e que por isso vão decidir o jogo, são o Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e Paraná. Nos quatro, há problemas com os petistas. No Rio, o PMDB ainda quer que o PT ingresse na chapa do vice-governador Luiz Fernando Pezão e culpa o senador Lindbergh Farias por parte da radicalização dos protestos recentes.

Em Minas Gerais, a bancada estadual do PMDB está bem próxima de formalizar uma aliança em torno da candidatura do ministro Fernando Pimentel (PT) ao governo, mas na bancada de deputados federais há resistências. No Ceará, o senador peemedebista Eunício Oliveira vem dizendo a interlocutores que só apoiará a reeleição de Dilma, caso o PT ou o PSB o apoiem ao governo. E no Paraná, a única certeza é que o PMDB não ficará com a ministra Gleisi Hoffmann (PT), e parte do partido pode apoiar a candidatura do governador tucano Beto Richa.

A avaliação entre os aliados de Michel Temer, no entanto, é que caso a presidente recupere minimamente a popularidade, chegando no primeiro trimestre do ano que vem com avaliação positiva entre 40% e 50%, a tendência é que os diretórios se acomodem e ao menos formalizem a aliança nacional.

— As manifestações jogaram a lógica das alianças no chão e o processo do debate eleitoral deve ser congelado para fazer o governo acontecer. No Rio, por exemplo, antes, a gente administrava a saída do Lindbergh da disputa. Agora a gente está vendo como fazer Cabral sobreviver — diz o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, um dos poucos a falar publicamente sobre o assunto, e que tem, por enquanto, apenas uma certeza diante dos ataques de petistas: — Se o PT rifar o Michel , vamos para os braços do Aécio, ele vira vice e ganha a eleição.

Para o secretário-geral e candidato à presidência nacional do PT, Paulo Teixeira (SP), o partido deve trabalhar com a perspectiva de manter integralmente a aliança que hoje apoia a presidente Dilma, mantendo não só o PMDB, como o PSB de Eduardo Campos.

— Temos que discutir com todos os partidos da base, o objetivo é chegar à eleição com a base coesa. Na minha opinião, o governo vai chegar bem melhor nas eleições.

Fonte: O Globo

Nove partidos deixam ‘núcleo duro’ do governo e expõem fragilidade da base

Grupo formado por deputados federais que votam de acordo com orientações do Planalto 90% das vezes ou mais amarga quedas desde a posse de Dilma Rousseff em 2011

Daniel Bramatti, José Roberto de Toledo, Amanda Rossi e Diego Rabatone

Em seu terceiro ano como presidente, Dilma Rousseff assistiu ao esfacelamento do "núcleo duro" de apoio a seu governo na Câmara dos Deputados, que já foi formado por 17 partidos e hoje abriga apenas petistas e remanescentes de outras sete legendas.

O núcleo duro - formado pelos parlamentares que votam com o governo 90% das vezes ou mais - era integrado em 2011 por 306 dos 513 deputados. Ou seja, Dilma podia contabilizar como aliados fiéis seis em cada dez dos membros da Câmara. Desde então, esse núcleo vem encolhendo, e atualmente se resume a 101 deputados, segundo revela o Basômetro, ferramenta online do Estadão Dados que mede a taxa de governismo do Congresso.

Dos nove partidos que abandonaram totalmente a linha de frente de apoio ao governo, três são de tamanho médio - PR, PSD e PSB. Os demais se enquadram na categoria dos "nanicos", com bancadas de menos de dez integrantes (PMN, PTC, PRTB, PSL, PT do B e PRB).

O PMDB, principal aliado do PT em termos numéricos, tem hoje apenas quatro representantes no núcleo duro - desde o final de 2011, 63 peemedebistas abandonaram o grupo e agora se concentram na faixa dos que votam com o governo entre 60% e 89% das vezes. No PP, a debandada foi de 32 deputados para apenas 2. No PDT, de 16 para 2. No PTB só sobrou um dos 19 fiéis.

Com uma base cada vez mais inconsistente, Dilma tem enfrentado dificuldades crescentes para aprovar projetos. Na tentativa de agradar à base, acenou com a abertura dos cofres: na semana passada. Determinou a liberação de R$ 6 bilhões em emendas parlamentares até o final do ano, em três parcelas.

Mesmo assim, há temor de que a estratégia não funcione. Para evitar eventuais derrotas, o governo quer adiar a votação de temas polêmicos.

Palanques. O desmanche do grupo fiel a Dilma se acelera no momento em que os partidos se realinham para medir forças em 2014. O PSB, que já promove a candidatura presidencial do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, tinha taxa de governismo de 95% em 2011, segundo o Basômetro. Em 2013, o índice está em 77% - com tendência de queda. A taxa dos partidos é calculada com base na média dos votos contra e a favor de seus integrantes.

No primeiro ano de mandato de Dilma, o núcleo duro de apoio ao governo tinha 27 deputados do PSB. Em 2012, esse número se reduziu a menos da metade, e em 2013 todos abandonaram o barco.

No PDT, o afastamento pode ser simbolizado pelo comportamento de um de seus principais líderes, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (SP). Em 2011, ele apoiou o governo em 89% das votações. Neste ano, em apenas 33%.

Dilma só não pode se queixar de seus correligionários: o número de petistas com taxa de fidelidade superior a 90% subiu de 83 em 2011 para 86 em 2013. A presidente nunca dependeu tanto de seu partido: atualmente, o PT tem 85% dos integrantes do núcleo duro - no primeiro ano de mandato, eles eram 27%.

Fonte: O Estado de S. Paulo

'Nem de esquerda nem de direita', PSD abriga campeões vira-casaca

Os três principais "desertores" do núcleo duro de apoio ao govemo são do PSD, o partido que seu criador, Gilbeito Kassab, de: finiu como "nem de esquerda, nem de direita, nem de centro".

João Lyra (AL), Fábio Farias (RN) e Ademir Camilo (MG) se comportaram como aliados fi-delíssimos em 2011, ano em que o PSD foi fundado, com taxas de apoio de 95%, 96% e 96%, respectivamente. Em 2013, os índices caíram para níveis próximos a 45% - menos da metade.

Lyra, usineiro em Alagoas com patrimônio declarado de R$ 240 milhões, participou de poucas votações neste ano, por motivos de saúde. Mas, quando teve oportunidade, contrariou o governo em nove ocasiões, e se alinhou ao Planalto em apenas sete.

Lyra não é volúvel apenas em relação ao govemo Dilma Rousseff: desde 1985, já trocou de partido seis vezes e integrou as bases de apoio do tucano Fernando Henrique Cardoso e do petista Luiz Inácio Lula da Silva.

A atuação política nunca o afastou dos negócios. Produtor de etanol, ele tem interesse direto no setor de biocombustíveis, dominado pela Petrobrás. Já foi acusado de explorar trabalho escravo e até denunciado como mandante de assassinato. Nunca foi condenado.

O Estado procurou o deputado na quinta-feira para entrevistá-lo, mas sua assessoria informou que ele estava viajando. Fábio Farias não respondeu aos pedidos da reportagem, e Camilo não foi localizado - ninguém atendeu aos telefonemas a seus escritórios em Brasília e Belo Horizonte na sexta-feira.

Os três deputados já integravam a base governista antes de aderir ao PSD, no primeiro ano de mandato de Dilma. Outros parlamentares, porém, eram do oposicionista DEM. Ao trocar de legenda, deram uma guinada comportamental e passaram a votar a favor do governo.

Nos últimos meses, porém, o PSD vem se afastando de Dilma. Neste ano, foram 20 as ocasiões em que o partido votou em peso contra a orientação do Executivo. Sua taxa de governismo, segundo o Basômetro, é de 64% - uma queda de 10 pontos porcentuais em relação a 2012.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Um 'novo casamento' para Dilma e Lula

Vem Rosa, Débora Bergamasco

BRASÍLIA - A estratégia da presidente Dilma Rousseff para recuperar a popularidade perdida e embicar a campanha do segundo mandato prevê um novo "casamento" com Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político. A partir deste mês, Dilma começará a aparecer em programas de TV, falando para diferentes públicos, como fez no início do governo. A ideia é que ela destaque a parceria com Lula desde 2003. De aparições para atrair apoio das camadas populares a entrevistas com foco econômico, dirigidas a eleitores de maior poder aquisitivo, tudo está sendo planejado no Palácio do Planalto para reabilitar Dilma até dezembro. A intenção da presidente é também explicar projetos que causam polêmica, como o Mais Médicos, e "vender" as concessões em rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, previstas para sair do papel a partir de setembro, após um ano de atraso. Em comum, nas entrevistas, a nova tentativa decolar sua imagem à de Lula.

Dilma já foi convidada para participar do "Programa do Ratinho", do SBT, vice-líder de audiência no horário nobre. Por lá passaram recentemente seus prováveis adversários Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (sem partido). No radar do Planalto também estão programas voltados para a dona de casa, como "Mais Você", de Ana Maria Braga (TV Globo).

Além de reconquistar o público feminino, a presidente também pretende aparecer no popular "Brasil Urgente", de José Luiz Datena (Band), e no "Esquenta!" (TV Globo), de Regina Casé.

A eficácia da tática que prevê o reforço da associação de Dilma com Lula e a ida a programas de grande audiência na TV, porém, chegaram a provocar dúvidas hã equipe de comunicação do governo. Não foram poucos os auxiliares que consideraram arriscada a estratégia da exposição ao vivo, nesse momento de crise, às vésperas do 7 de Setembro, quando deve haver nova onda de protestos, com o Grito dos Excluídos.

As últimas pesquisas qualitativas encomendadas pelo marqueteiro João Santana, no entanto, mostram, que, apesar das, divergências e dificuldades de gestão, ainda há uma "simbiose positiva" entre Dilma e Lula. As "quali", como são chamadas essas consultas, medem impressões e servem como termômetro do humor dos eleitores.

Santana, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o jornalista Franklin Martins - escalado por Lula para ajudar Dilma - venceram a batalha paira convencer a presidente a não se limitar a pronunciamentos, como o que ela fará no Dia da Independência.

Sinergia. Embora a aprovação de Lula também tenha caído, pesquisas que chegaram ao Planalto indicam não haver rejeição consolidada nem dele nem de Dilma. Em conversas reservadas, Santana diz que existe uma "sinergia rara" entre os dois no imaginário popular, porque um não anula o outro.

A comparação feita pelo mar-queteiro é a de um casamento, no qual os dois se complementam, sem perder a identidade. Na campanha de 2010, ainda desconhecida, Dilma era chamada de "a mulher do Lula" e até de "Vilma do chefe" em bairros da periferia.

Depois do desgaste colossal enfrentado pelo governo, com dissabores na política e problemas na economia, a ordem é mostrar Dilma menos intocável e mais "gente como a gente".

A preocupação da equípe do Planalto é costurar a rede de proteção que segura a presidente, para que ela não despenque do patamar de 30%, índice histórico do PT nas eleições. É por isso que o "resgate" de Lula entrou em cena.

Apesar dos escândalos de corrupção que abalaram seu governo, como o do mensalão, ele tem. queda de popularidade muito menor do que Dilma e, se a eleição de 2014 fosse hoje, venceria no primeiro turno, segundo as últimas pesquisas, num cenário contra Marina, Aécio e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), possíveis rivais do PT.

"Reação". "A oposição quis criar uma cisão entre Dilma e Lula, mas não conseguiu. Ele ainda é um cabo eleitoral fortíssimo", argumentou o presidente do PT paulista, deputa! do Edinho Silva. "O desgaste sofrido por Dilma e por vários governadores, como os tucanos Geraldo Alckmin, em São Paulo, e Antonio Anastasia, em Minas, não é estrutural, mas, sim, do Estado brasileiro. Nessa perspectiva, o governo tem capacidade de reação."

Para o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP), a operação deflagrada pelo Planalto com o objetivo de recuperar a popularidade de Dilma denota "desprezo pela inteligência" do eleitor.

Poste. "Lula elegeu um poste uma vez, mas, como o poste não aprendeu a governar, essa nova estratégia de marketing não vai funcionar", alfinetou Aloysio, "O que vai ser julgado é o governo dela, e não o dele."

A receita para Dilma sair da crise, na avaliação do presidente do PMDB, senador Valdir Raüpp (RO), é pôr o pé na estrada. "Dilma tem feito muito, mas andado pouco, ao contrário de Lula. A simples associação da imagem dos dois não é suficiente", disse Raupp. "Ele era um caixeiro viajante, mas ela não se movimenta tanto. Nessa hora, a presidente precisa viajar, inaugurar obras, construir agenda positiva."

A dois dias do fim das férias parlamentares, Raupp recomendou o fim das brigas entre o PMDB e o PT, os dois maiores partidos da coligação. "A base aliada precisa ter juízo. Não pode ser uma base que fica minando o governo admitiu o senador.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O superfaturamento de passagens na Esplanada

Documentos aos quais o Correio teve acesso mostram que agências de turismo cobraram do governo valores superiores aos repassados às companhias aéreas. Em um dos casos, a Secretaria de Políticas para as Mulheres pagou R$ 24.800 por um voo, com destino a Nova York, onde a ministra Eleonora Menicucci participaria de compromisso oficial. O bilhete, no entanto, custou metade disso. O Ministério Público Federal trata a prática como fraude, e o Tribunal de Contas da União decidiu editar, na semana passada, novas regras para a contratação das empresas.

Governo paga passagem aérea superfaturada

Governo paga passagem aérea superfaturada Agências contratadas pelo Executivo conseguem aumentar o próprio caixa ao comprar bilhetes por um preço e repassar o custo por valores muito superiores. Em 2012, o Executivo gastou R$ 890 milhões em viagens

Helena Mader, João Valadares

O superfaturamento de passagens na Esplanada true O vaivém de servidores públicos e de integrantes do primeiro escalão do governo pelos ares do Brasil e do exterior custou aos cofres públicos R$ 890 milhões no ano passado. O valor total é uma das pistas que revelam o descontrole dos gastos com passagens aéreas, motivado pela falta de planejamento na compra de bilhetes e também por uma irregularidade identificada pelo Ministério Público Federal (MPF) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU): a adulteração de bilhetes para superfaturamento das tarifas e a cobrança de taxas inexistentes.

O Correio teve acesso a documentos que mostram como empresas contratadas por órgãos públicos alteram os bilhetes para cobrar do governo federal valores muito mais altos do que os efetivamente praticados pelas companhias aéreas. Diante do desperdício de recursos, o TCU aprovou, na semana passada, mudanças nas regras de contratações de agências com o governo. A meta é acabar com a sangria de recursos públicos.

O gasto de quase R$ 1 bilhão registrado no ano passado reúne apenas as compras da administração pública federal direta. A maioria das licitações dos órgãos públicos escolhe as agências de viagem que oferecem os maiores percentuais de desconto durante a concorrência pública. Para faturar os contratos milionários com o governo, algumas empresas praticam descontos superiores à possibilidade econômica, em percentuais muito acima das comissões recebidas das companhias aéreas. Para fechar essa conta, muitos empresários do turismo incluem nos bilhetes emitidos para o governo valores superiores aos cobrados pelas empresas aéreas, embutindo um lucro oculto. Representantes de várias agências ouvidos pela reportagem reconheceram que essa é uma prática usada para faturar contratos em licitações.

O Correio teve acesso a passagens emitidas para a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República. Em julho do ano passado, a ministra Eleonora Menicucci viajou a Nova York para um compromisso oficial: a celebração dos 30 anos do Comitê para a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres. O bilhete de classe executiva emitido pela agência Turismo Pontocom, com a logomarca da empresa, mostra uma tarifa de R$ 24.800,82. Mas um levantamento feito na companhia aérea que emitiu a passagem revela que o bilhete da ministra, na realidade, custou metade do preço: R$ 12.677,31. Os números dos e-tickets e dos localizadores são iguais, assim como as datas. O que muda é o preço.

Funcionários do setor de contratos da pasta, ouvidos anonimamente pela reportagem, revelaram que o problema já havia sido identificado, e que um servidor entrou em contato com a companhia aérea para verificar os valores reais do bilhete, diante do custo de mais de R$ 24 mil repassado pela agência. Dessa forma, foi descoberta a diferença.

Licitação
Em nota, a Secretaria de Políticas para as Mulheres informou que a contratação da Turismo Pontocom ocorreu por meio de processo licitatório, pelo critério de menor taxa para execução do serviço. "O órgão fez a gestão ativa do contrato, verificando a oferta de três cotações para autorização da aquisição de passagens áreas. Alguns casos foram questionados pela SPM e justificados pela empresa", diz a nota. Segundo a secretaria, o contrato terminou no fim do ano passado, e a pasta decidiu não renová-lo.

Em 2012, a Secretaria de Políticas para Mulheres gastou R$ 1.057.893 com passagens aéreas, dos quais R$ 997 mil foram repassados à Turismo Pontocom. A média mensal de gastos com bilhetes foi de R$ 88,1 mil em 2012. Este ano, com o fim do contrato com a empresa, o valor mensal foi reduzido em quase cinco vezes, caindo para R$ 19,5 mil. De janeiro ao fim de julho, a pasta destinou R$ 136,8 mil à compra de passagens.

Outro caso ao qual a reportagem teve acesso foi registrado no Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Em março de 2012, a agência Daher, sediada no Recife, fechou contrato com o comitê no valor de R$ 8,9 milhões, com validade de um ano. Por meio de dois convênios assinados entre o CPB e o governo, os recursos destinados à compra de bilhete saíram dos cofres públicos e, por isso, devem ser auditados pelo TCU e pela Controladoria-Geral da União (CGU).

Em maio de 2012, já na vigência do contrato, o atleta paralímpico de vôlei Carlos Barbosa viajou entre Rio e São Paulo. Os bilhetes custaram R$ 355,98. Mas, na passagem maquiada, que traz um leiaute semelhante ao oficial da companhia aérea, com o acréscimo da logomarca da agência, a viagem saiu por R$ 1.061,12. O CPB informou não ter conhecimento do caso e garantiu que analisará a situação. A Agência Daher, que tem contrato com o CPB, foi procurada pela reportagem, mas não retornou as ligações.

Fonte: Correio Braziliense

Brasil perdoa dívida bilionária e beneficia ditadores corruptos

Presidentes de países africanos que tiveram débitos anistiados por Dilma são investigados por desvio de dinheiro público.

Responsáveis por mais da metade da dívida de R$ 1,9 bilhão de países africanos com o Brasil — 80% da qual o governo Dilma decidiu perdoar —, os ditadores de Congo-Brazzaville, Gabão, Guiné Equatorial e Sudão são investigados na Europa e nos Estados Unidos por desviarem milhões de dólares de dinheiro público para enriquecimento pessoal, revela José Casado. O perdão, que precisa de aprovação do Senado — já concedida no caso do Congo—, custará R$ 8 a cada brasileiro.

Ditadores perdoados

Brasil beneficia governantes africanos investigados por corrupção ao anistiar 80% de dívida bilionária

Cada brasileiro será obrigado a doar R$ 8 para a África. É quanto vai custar a decisão da presidente Dilma Rousseff de perdoar 80% da dívida acumulada por uma dúzia de países africanos com o Brasil.

Eles compraram R$ 1,9 bilhão em produtos e serviços no mercado nacional nas últimas três décadas. Não pagaram. Agora, os prejuízos serão socializados entre 190 milhões de brasileiros.

Juntos, têm uma população equivalente à do Brasil. A maioria sobrevive com menos de R$ 3 por dia, em regiões onde a expectativa de vida não chega a 65 anos e a mortalidade infantil é três vezes maior que nas áreas mais pobres do Nordeste brasileiro.

Quatro países concentram mais da metade dessa dívida africana com o Brasil: Congo-Brazzaville, Sudão, Gabão e Guiné Equatorial. São nações cuja riqueza em petróleo e gás contrasta com a pobreza extrema em que vive a maior parte dos seus 41 milhões de habitantes, governados por ditadores cleptocratas.

Os presidentes do Congo-Brazzaville, Sudão, Gabão e Guiné Equatorial, alguns de seus familiares e principais assessores enfrentam processos em diferentes tribunais da Europa e dos Estados Unidos. Entre as múltiplas acusações, destacam-se roubo e desvio de dinheiro público, enriquecimento ilícito, corrupção, lavagem de dinheiro e até genocídio.

Essa é a história de como eles conseguiram entrar no clube dos mais ricos do planeta.

Na tarde de quarta-feira 22 de maio, a presidente Dilma Rousseff pediu ao Senado autorização para renegociar a dívida de R$ 793,3 milhões (US$ 352,6 milhões) que o Congo-Brazzaville mantém com o Brasil desde os anos 1970. Na mensagem aos senadores, ela informou o perdão de 79% da dívida, o equivalente a R$ 630 milhões (US$ 280 milhões).

Na mesma semana, em Paris, peritos analisavam documentos apreendidos num armazém instalado na vizinhança do aeroporto de Orly, a 40 minutos da Torre Eiffel, em Paris.

O galpão pertencia à Franck Export, transportadora de mercadorias na rota França-África. Quando chegaram, os investigadores franceses exibiram um mandado expedido pelos juízes parisienses Roger Le Loire e René Grouman. Ao sair, levaram os registros contábeis da empresa.

Há quinze dias, enquanto o Senado brasileiro aprovava sem debater o milionário perdão da dívida do Congo, a polícia francesa confirmou as suspeitas: a coleção de documentos apreendidos comprova transferências de recursos do Departamento do Tesouro do Congo diretamente para o caixa da Franck Export.

Os registros contábeis contavam uma história na qual o dinheiro saía de Brazzaville por canais oficiais, fazia uma escala nas contas da transportadora privada e em seguida desaparecia, pulverizado entre dezenas de contas bancárias na França mantidas pela família do presidente congolês Denis Sassou Nguesso.

Rotina de exorbitâncias

Aos 70 anos, Nguesso é um dos mais longevos líderes africanos no poder. Nasceu pobre na tribo Mbochi, no norte do país, e inaugurou a década de 60 ganhando a vida como soldado. Graduou-se como paraquedista a serviço da França durante a sangrenta repressão à guerrilha pela independência da Argélia. Em 1968, liderou os quartéis de Brazzaville no levante que levou o Partido dos Trabalhadores ao governo do Congo. No golpe seguinte, em 1979, assumiu o comando do país. Desde então, enriqueceu.

Cravado no coração da África Central, o Congo tem o tamanho de Goiás, renda per capita (US$ 2,7 mil) semelhante à do Paraguai e uma população de quatro milhões de pessoas, com expectativa de vida de 57 anos. É referência no mapa africano de produção de petróleo, porque detém a quarta maior produção do continente (300 mil barris/dia). Tem relevo, também, na rota dos diamantes sem certificação de origem, conhecidos como diamantes de sangue - moeda corrente no sistema de lavagem de lucros do submundo de armas e drogas.

Nguesso está no centro da política no Congo-Brazzaville há 45 anos. Deixou o governo em 1992, mas retornou meia década depois, escoltado por tanques do Exército de Angola.

Fez fortuna no poder. Os Nguesso são proprietários de 66 imóveis de luxo na França, em áreas nobres do eixo Paris-Provence-Riviera - segundo levantamentos apresentados ao Tribunal de Paris pela Sherpa, líder das organizações não governamentais francesas na denúncia judicial. Entre os destaques está uma villa de 500 metros quadrados em Vésinet, a 16 quilômetros da Torre Eiffel; um apartamento de dez ambientes na rua de La Tour e outro de 328 metros quadrados na avenida Niel.

A família presidencial não esconde o apreço pela ostentação, como demonstra Denis Christel Nguesso, herdeiro político, ministro da Defesa e diretor da estatal que comercializa o petróleo do Congo.

Os extratos de seus cartões de créditos desde 2005, anexados a processos na França e no Reino Unido, sugerem uma rotina de exorbitâncias em compras de vestuário no circuito Paris-Mônaco-Marbella-Dubai. Pelas faturas, sabe-se que o herdeiro político do Congo tem predileção por cuecas Torregiani - já gastou R$ 9,3 mil (¬ 3,1 mil) numa só visita à loja parisiense. Costuma fazer a alegria dos vendedores da rede Louis Vuitton: raramente gasta menos de R$ 60,3 mil (20,2 mil euros) em acessórios.

No país dos Nguesso, essa quantia seria suficiente, por exemplo, para adquirir 40 mil doses de vacina contra sarampo, causa de mortalidade de um terço dos congoleses recém-nascidos.

Até 15 dias atrás, persistia o mistério sobre a fonte de financiamento e a forma como o dinheiro chegava às contas dos Nguesso. Os registros de transferências diretas do Tesouro, apreendidos na Franck Export, acenderam luzes sobre a trilha de lavagem.

Mais do que fenômeno político, as repúblicas hereditárias ou dinastias republicanas da África se caracterizam como um caso de estudo judicial. A história do Gabão nos últimos 46 anos é exemplar.

Na sexta-feira 25 de maio, a presidente Dilma Rousseff estava em Adis Abeba, capital da Etiópia, quando recebeu em audiência privada Ali Bongo Odimba, presidente do Gabão. Combinaram a liquidação de uma dívida de R$ 54,1 milhões (US$ 24 milhões) com o Brasil, a partir do perdão de 15% do valor.

Quando essa dívida foi assumida, sob a forma de importações de carne enlatada, o presidente gabonês já estava designado como herdeiro político de Omar Bongo. Era porta-voz no partido único e, desde a conversão ao islamismo em 2004, refreou sua paixão pelo soul, gênero musical típico dos EUA (chegara a gravar um disco, "A Brand New Man", produzido pela equipe da estrela do gênero, o cantor James Brown).

O clã Bongo é uma das mais antigas dinastias republicanas da África: comanda o Gabão há 46 anos. Ali, 54 anos, herdou uma ditadura rica em petróleo e manganês, com população reduzida (1,5 milhão) e alguns dos melhores indicadores sociais africanos - a taxa de mortalidade infantil (49 mortes por grupo de 1.000 nascimentos) é mais que o dobro da brasileira. Herdou, também, uma das maiores fortunas do planeta, que ajudou o pai a construir impondo aos negócios do Estado os interesses da família.

Um exemplo: na investigação sobre a origem da fortuna da família Bongo, o Senado dos EUA encontrou transferências de até R$ 292,5 milhões (US$ 130 milhões) do Tesouro do Gabão para contas privadas no Citibank em Nova York.

Intimado, o banco argumentou ser rotineira a reserva de 8,5% do orçamento gabonês para gastos da família presidencial. Incrédulos, senadores americanos convocaram especialistas do FMI e do Banco Mundial para explicar como isso poderia ser feito dentro dos padrões orçamentários internacionais. A resposta foi: impossível.

Fonte: O Globo

Solidariedade pode ser opção de troca de partido

Mudança para nova legenda não implica em infidelidade

BRASÍLIA - A dois meses do fim do prazo de mudanças partidárias para concorrer às eleições de 2014, políticos que pretendem mudar de partido já se movimentam, mas cientes de que deverão ter apenas uma opção de troca sem serem enquadrados na lei da infidelidade partidária. Essa oportunidade deve ser o Solidariedade, partido idealizado pelo deputado e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), e que tem chance de ser criado antes de outubro.

O Rede Sustentabilidade, partido que está sendo criado pela ex-senadora Marina Silva, encontra dificuldades na certificação das assinaturas de apoio, e, ainda que seja criado antes de outubro, é uma opção mais ideológica. E a fusão do PPS e PMN, que seria outra janela para infidelidade, foi descartada.

As mudanças de partido podem não se ater à nova legenda em alguns casos. Como é uma decisão sempre ligada aos arranjos estaduais, deputados podem trocar de legenda mesmo com o risco de perder o mandato. O PP, por exemplo, contabiliza o ganho de quatro deputados nos próximos dias. Os nomes são mantidos em sigilo pelo líder Arhtur Lira (PB). Os organizadores do Solidariedade estão confiantes na criação da sigla antes de outubro.

- O partido está redondinho, temos mais de 500 mil assinaturas e criamos diretórios regionais em 14 estados. Vamos nascer abençoados pelo Papa Francisco, que defendeu a solidariedade - afirma João Caldas (PEN-AL), suplente de deputado federal.

Embora tenha se empenhado na criação da legenda, Paulo Pereira da Silva saiu de cena para se preservar e evitar problemas no PDT. O presidente do PDT, Carlos Lupi, teria ameaçado tirar-lhe cargos e benefícios no diretório paulista. Ao Globo, Lupi negou ameaças, mas, nas entrelinhas, dá seu recado:

- Ele (Paulinho) finge que nega (a criação de um novo partido) e eu finjo que acredito. Agora, diretório têm prazo de validade, e o de São Paulo termina 7 de outubro. Até lá, vamos ver se a negação dele é verdadeira ou não. Ele é candidato nato a deputado, não perde o direito dele. O que muda é a confiança mútua.

Fonte: O Globo

Em defesa do legado chavista, Lula defende que América Latina seja o ‘farol de uma nova esquerda’

Ele também disse que as manifestações são algo ‘extraordinário’, mas pegaram tanto a esquerda quanto a direita de surpresa

Tatiana Farah

SÃO PAULO — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira que as manifestações de rua no país são algo “extraordinário”, mas pegaram tanto a esquerda quanto a direita de surpresa. Na abertura do 19º encontro do Foro de São Paulo, que congrega entidades e partidos de esquerda da América Latina, Lula defendeu que o continente seja o “farol de uma nova esquerda”, com maior entendimento dos novos movimentos sociais e domínio de instrumentos de comunicação como a internet. Antes, a presidente Dilma Rousseff mandou mensagem por vídeo. Ela ressaltou a importância da integração de governos esquerdistas.

— Pelo fato de a esquerda estar enfraquecida na maioria dos países do mundo, a América Latina pode, neste momento, ser o grande farol para a nova esquerda que queremos criar para o mundo. A esquerda europeia perdeu o discurso porque ficou muito semelhante ao discurso da direita — disse o ex-presidente Lula.

Para Lula, sem oxigenação, a esquerda “vai definhando” e tem como desafio conquistar a juventude:

— Nós não podemos mais continuar funcionando na forma de organização tradicional que nós tínhamos. Esses movimentos que aconteceram aqui no Brasil pegaram de surpresa todos os partidos de esquerda, todos os partidos de direita, pegaram de surpresa todo o movimento sindical e todo o movimento social — disse ele, que completou: — Nós, na verdade, estamos ficando velhos.

Lula defendeu que os movimentos e partidos de esquerda tenham maior domínio das ferramentas de comunicação como forma de se contrapor à mídia convencional:

— Nós não podemos apenas ficar chorando o problema da mídia conservadora em cada país. Ela é conservadora no Brasil, na Venezuela, na Colômbia, na Argentina, no Uruguai, em El Salvador. E nós não podemos ficar apenas reclamando que os nossos adversários utilizam a mídia conservadora. Agora com a internet, do jeito que funciona, temos a chance pela primeira vez de criar um instrumento de comunicação entre nós e não ficar devendo favor a ninguém em lugar nenhum do mundo.

Legado do chavismo é defendido

Cinco meses depois da morte do presidente da Venezuela Hugo Chávez, o Foro de São Paulo foi marcado pela defesa do legado do venezuelano. Os presidentes do PT e PCdoB, Rui Falcão e Renato Rabelo, elogiaram Chávez; e Lula afirmou que o ex-presidente “vai fazer muita falta”. Ele se disse preocupado com o processo de integração da América Latina depois da morte de Chávez:

— Eu espero que o (Nicolás) Maduro cumpra exatamente o papel que Chávez iria fazer para a integração.

Para Lula, tanto na Venezuela quanto no Paraguai, Argentina, El Salvador, Uruguai, Guatemala e Honduras, “uma grande parte da elite” não aceitou os governos de esquerda.

— Como não aceitam o Lula no Brasil, ou a Dilma no Brasil — disse Lula, creditando ao Foro de São Paulo a vitórias dos partidos de esquerda na América Latina: — Os companheiros cubanos nos ensinaram que o exercício da tolerância entre nós, a convivência pacífica da diversidade, de vários setores de esquerda, era a única possibilidade que permitia que tivéssemos avanço aqui neste continente.

Lula afirmou que os partidos devem tomar cuidado ao chegar ao poder:

— Aqui no Brasil, nós sabemos também que um partido de esquerda que chega ao poder precisa tomar cuidado para não cometer os erros que já foram cometidos. Só tem uma coisa que garante a um partido como o meu: não perder a sua relação com o povo.

O ex-presidente disse que o governo e os partidos de esquerda não devem encarar os críticos como inimigos.

— Às vezes a gente encontra um companheiro xingando a gente na rua e a gente acha que é inimigo. A gente se esquece de que nas últimas eleições ele votou na gente. Seria melhor perguntar para ele: por que agora você está bravo comigo? Por que você está protestando? Se a gente não fizer assim, não interessa chegar ao governo. Estou convencido de que nós poderemos ter um novo governo de esquerda. Respeitando cada país. Mas, sinceramente, nós temos condições de apresentar as coisas novas.

Para o ex-presidente, a maioria das reivindicações das manifestações das ruas já foi feita pelos próprios petistas, pelo PCdoB, pela UJS e pelos sindicatos.

No começo do discurso, usando palavras em espanhol e português, Lula ironizou o governo americano, alvo das denúncias sobre espionagem internacional feitas pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden.

— Estou preocupado. Tenho que hablar poquito e de espacio porque si no o Departamento de Estado americano está gravando ou está filmando. E isso não é uma coisa boa porque tenho que tomar cuidado — disse Lula, arrancando risadas da plateia.

Dilma manda mensagem

Em mensagem por vídeo aos participantes no evento, a presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou que os governos de esquerda do continente "não se refugiam em um nacionalismo estreito" e buscam a integração regional. A presidente falou ainda dos protestos que desde junho têm tomado as ruas do país.

— Meu governo e meu partido entenderam rapidamente o recado das ruas — disse Dilma, que completou: — Não pediram a volta ao passado, pediram sim o avanço para um futuro de mais direitos, mais conquistas sociais.

Dilma afirmou que os partidos e dirigentes de entidades e governos de esquerda da América Latina chegaram ao Brasil para o Foro "em um momento em que o país viveu e ainda vive mobilizações sociais de importância".

— (O atual contexto) demanda mudanças que contribuam para dar maior representatividade e credibilidade a governos e partidos — disse a presidente.

O encontro reúne dirigentes dos governos da Venezuela, Bolívia, Equador, El Salvador, entre outros. Na cerimônia oficial de abertura na noite desta sexta-feira, a figura de destaque é o ex-presidente Lula, que foi saudado aos brados de "Lula, guerreiro do povo brasileiro".

Dilma citou o ex-presidente dizendo que os governos petistas se comprometem com o desenvolvimento do continente e que o mesmo compromisso seria visto nos governos de esquerda.

— Todos os condutores das grandes transformações em nossa região chegaram aos nossos países por meios absolutamente livres, democráticos e com ampla participação popular. Nossos governos democráticos e populares têm sido firmes igualmente na defesa da soberania nacional. Mas não se refugiaram em um nacionalismo estreito. Ao contrário, impulsionaram como nunca a integração continental — disse Dilma.

Para domingo, no encerramento do Foro de São Paulo, o principal convidado é o presidente boliviano Evo Morales. O encontro conta ainda com a presença do irmão do ex-presidente venezuelano Hugo Chaves, Adam Chaves, e do vice-presidente salvadorenho, Salvador Sánchez Cerén que concorrerá à sucessão do presidente Maurício Funes.

Fonte O Globo

Cartas na mesa - Fernando Henrique Cardoso

Basta de corrupção e de falsas manias de grandeza. Enfrentemos o essencial da vida cotidiana, dos transportes à saúde, à educação e a segurança

Saí do Brasil depois que as manifestações populares provocaram um tsunami na avaliação dos principais dirigentes políticos. Na Europa, o noticiário repercute a recidiva da crise egípcia, a volta da incerteza na Tunísia, a continuidade trágica da guerra civil síria, os atentados sem fim no Paquistão e no Afeganistão, enfim, uma rotina de tragédias preanunciadas que, vistas de longe, parecem "coisas do Terceiro Mundo" Enquanto isso, a China vai encolhendo sua economia, os EUA confiam na recuperação e a Europa se contorce em ajustes sem fim. Do Brasil ecoam apenas os passos do papa, por vezes tocando o solo lamacento dos ermos para onde o levaram em sua pregação.

De nossas aflições financeiras os mercados externos só eventualmente tratam, mas delas sempre se cuidam, retirando suas aplicações ao primeiro sinal de alarme. Do desabamento político poucas referências há. Embora nenhuma crise de legitimidade tenha sido o gatilho do torvelinho popular, este terminou por mostrar que existe algo parecido com ela. Se de nossa política a mídia ocidental cuidasse, talvez visse que nem só na África e no Oriente Médio há um desencontro entre o poder e o povo. Há algo que não está funcionando direito na política, mesmo nas partes mais longínquas do Ocidente, como a América do Sul. Há um elo nesse desarranjo: as sociedades urbanas de massas, agora hiperconectadas pela internet, sentem-se mal representadas pelos que as comandam. Isso vale tanto para nós como para a Itália, a Espanha, a Grécia ou Portugal, assim como valeu para a Islândia ou pode vir a valer para outras regiões onde, além da crise de legitimidade política, choques culturais e religiosos acrescentem outra crise à de identidade.

Em nosso caso, como nos demais países ocidentais, o fator geral mais evidente que condiciona e possibilita o surgimento do mal-estar político deriva da grande crise financeira de 2007/8. Mas seria enganoso pensar que basta retomar o ritmo do crescimento da economia e tudo se arranja. É melhor ter cautela e reconhecer que, uma vez visto o rei nu, sua magia se desfaz ou engana menos incautos. As novas formas de sociabilidade criadas pelos meios diretos de informação e comunicação estão a requerer revisão profunda no modo de fazer política e nas instituições em que o poder se exerce. A desconfiança nos partidos e nos políticos é generalizada, embora não atinja o mesmo grau em todos os países, nem as instituições desabem ou sejam incapazes de se aprimorar. Até agora os efeitos construtivos da pressão popular sobre as instituições - salvo na Islândia - estão por se ver. Mas basta haver eleições para que os governos (de esquerda, de direita ou o que mais sejam) caiam, como cairia o nosso se as eleições fossem em breve. A questão é complexa e há responsáveis políticos, em maior ou menor grau. Para começar, o , governo Lula zombou da crise, era uma "marolinha", e seguiu funcionando, fagueiro, como se nada precisasse ser feito para ajustar o rumo. Houve, portanto, uma avaliação errada da conjuntura. Mas houve outras barbeiragens. O lulopetismo, arrogante, colocou a lanterna na popa do barco e, rumando para o , passado, retomou as políticas dos tempos militares geiselianos como se avançasse intrépido para o futuro. Tome subsídios para pobres e ricos, mais para estes que para aqueles, mais sem razão ao ajudar os ricos mais que os pobres. Perceberam tarde que o cobertor era curto, faltaria dinheiro. Se há problemas, tome maquiagem: o Tesouro se endivida, pega emprestado dinheiro no mercado, repassa-o ao BNDES, que fornece os mesmos recursos aos empresários amigos do rei. Toma-se dinheiro a, digamos, 10% e se concede a 5%. Quem paga a farra: eu, você, os contribuintes todos e os consumidores, pois algo dessa mágica desemboca em inflação.

A maquiagem fiscal já não engana: mesmo o governo dizendo que sua dívida líquida não aumenta, quem sabe ler balanços vê que a dívida bruta aumenta e os que investem ou emprestam, nacionais ou estrangeiros, aprenderam muito bem a ler as contas. Deixam de acreditar no governo. Mais ainda quando observam sua ginástica para fingir que é austero e mantém o superávit primário.

Não é só. Em vez de preparar o Brasil para um futuro mais eficiente e decente, com regras claras e competitivas que incentivassem a produtividade, o "modelo" retrocedeu ao clientelismo, ao protecionismo governamental e à ingerência crescente do poder político na vida das pessoas e das empresas. E não apenas graças a características pessoais da presidenta: a visão petista descrê da sociedade civil, atrela-a ao governo e ao partido, e transforma o Estado na mola exclusiva da economia. Pior e inevitável, a corrupção, independentemente dos desejos de quem esteja no ápice, vem junto. Tal sistema não é novo, foi coroado lá atrás, ainda no primeiro mandato de Lula, quando se armou o mensalão. Também neste caso há responsáveis políticos e nem todos estão na lista dos condenados pelo Supremo.

Com ou sem consciência de seus erros, o petismo é responsável por muito do que aí está. Não por acaso seu líder supremo, depois de longo silêncio, ao falar foi claro: identificou-se com as instituições que as ruas criticam e, como Macunaíma, aconselhou a presidenta a fazer oposição a si mesma, como se governo não fosse...

Se as oposições pretenderem sobreviver ao cataclismo, a hora é agora. O Brasil quer e precisa mudar. Chegou o momento de as vozes oposicionistas se comprometerem com um novo estilo de política e de assim procederem. Escutando e interpretando o significado do protesto popular. Sendo diretas e sinceras. Basta de corrupção e de falsas manias de grandeza. Enfrentemos o essencial da vida cotidiana, dos transportes à saúde, à educação e à segurança, não para prometer o milagre da solução imediata, mas a transparência das contas,das dificuldades e dos propósitos.

E não nos enganemos mais: ou nos capacitamos para participar e concorrer num mundo global áspero e em crise ou nos condenaremos à irrelevância.

*Sociólogo, foi presidente da República

Fonte: O Globo 

O breviário franciscano dos políticos - Gaudêncio Torquato

Padre Américo Sérgio Maia, antigo vigário de Çajazeiras (PB), teve um dia de viajar 28 quilômetros a cavalo para dar a extrema-unção a um doente. Cansado, apeando do animal logo perguntou: "Minha senhora, por que vocês não fizeram uma casa mais perto da cidade?". Ouviu a ácida resposta: "Padre, e por que não fizeram a cidade mais perto da gente?". Essa historinha serve para explicar o distanciamento de fiéis da Igreja Católica e sua perda para credos evangélicos, se bem que, em sua entrevista ao jornalista Gerson Camarotti, o papa Francisco tenha ressaltado o fato de não conhecer profundamente a questão brasileira. Mas a distância entre a população católica e sua Igreja se insere entre as razões que estão por trás da perda de 1,7 milhão de fiéis entre 2000 e 2010, segundo dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que dá uma média de 465 pessoas por dia.

A lição do papa cai como luva para explicar também a perda de credibilidade dos políticos. A crise da nossa democracia representativa, tão ressaltada nestes tempos de efervescência social, se ampara em múltiplas razões, mas o descolamento entre a esfera política e a sociedade apresenta-se como o fator central Políticos fecham os ouvidos ao barulho das ruas e menosprezam o sentimento da plebe.

E qual o motivo para tal afastamento, quando se sabe que o mandato não pertence ao eleito, mas ao povo, que apenas lhe transfere temporariamente a representação? A resposta contempla a mudança do conceito de política, de missão para profissão, aquela abrigando o ideário coletivo, esta incorporando o interesse individual. Ou, em outros termos, o verbo transitivo indireto servir (ao povo) cedeu lugar à forma pronominal servir-se (do povo). A esganiçada luta do poder pelo poder tornou mais ferina a competição política, formando um arsenal de poderosos instrumentos para os guerreiros usarem na arena eleitoral: recursos financeiros, espaços midiáticos, partidos sem doutrina e uma retórica de glorificação personalista, focada na grandeza dos perfis em detrimento das ideias. Há muito deixamos de enxergar na representação política o conjunto que deveria agir em defesa de uma sociedade harmônica e fraterna, banhada nas águas da solidariedade. Os conjuntos legislativos são vistos como braços políticos do ciclo produção-consumo, cujo foco é o rendimento, o ganho, a concorrência, o jogo de soma zero, no qual a vitória de um se dá graças à derrota de outro.

Sob esse prisma, o rosário de virtudes desfiado pelo jesuíta argentino para revitalizar a Igreja Católica e resgatar a fé de rebanhos desgarrados não deixa de ser sábia contribuição para oxigenar a política. Afinal, partidos políticos,como credos e igrejas, mesmo sob o impulso da força monetária, devem ser entidades inspiradas no poder da norma, conforme ensina Amitai Etzioni em sua obra sobre organizações complexas. A evidência transpareceu. O pontífice usou as chaves da Igreja de Roma para abrir, por aqui, outras portas, ainda mais que se deparou com uma orla marítima povoada por 3 milhões de pessoas, um ambiente político tumultuado, a começar de um Rio de Janeiro hostil aos governantes, e ecos de turbas clamando por melhoria dos serviços públicos. O papa parecia querer nos deixar um legado valorativo, algo como um manual de conduta política, tão franciscano quanto ele, contraponto ao Breviário dos Políticos, aquele manuscrito que o cardeal Mazarino produziu nos tempos dos Luíses XIII e XIV da França, pregando a desconfiança, a emboscada, a simulação e a dissimulação.

O livrinho papal, pinçado de seus pronunciamentos e entrevistas, alinha preceitos inerentes ao escopo da Política (com P maiúsculo), seja para uso da Igreja, seja para a vida partidária. A par da proximidade, fator já referido, apregoa a simplicidade, o despojamento da estética extravagante, tão do gosto desse marketing que espetaculariza eventos e cosmetiza imagens de governantes. (Quem imaginaria uma de nossas altas autoridades subindo a escada do avião com sua malinha a tiracolo?) Simplicidade nada mais é que a presença do político real junto ao eleitor, sem estandartes e altares para poder se apresentar mais alto ou mais importante do que é. Ser simples é exibir o perfil desnudado, sem máscaras, despojado, leve, transparente. Nas palavras de André Comte-Sponville, "é ter a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos". Ou, ainda, ter humildade, que "é a virtude do homem que sabe não ser Deus". Exercitar tais virtudes significa ter coragem para se desviar do espelho de Narciso, ao qual recorrem, invariavelmente, os atores políticos. O termo ator, aqui, tem o propósito de mostrar que a "cultura do espetáculo" chegou ao palco da política, que esta é cada vez mais parecida com a arte dramática, na expressão de Roger-Gérard Schwartzenberg: "Esta política-artificio vive de insinceridade, de sentimentos falsos, forçados ou fabricados".

A coleção de valores abriga, ainda, o compromisso da "nossa geração" de abrir espaço aos jovens, que Francisco conclamou a serem "revolucionários, rebeldes, corajosos". O que os partidos políticos e os dirigentes têm feito para cooptar a adesão da juventude? Que esforços têm feito para compreender suas demandas, falara sua linguagem, ir ao encontro deles (sem jaulas de vidro)? Que janelas as siglas devem abrir para caírem no gosto popular? Encher papéis com verbos cheios de promessas, fazer novas cartas aos brasileiros? Mais uma vez, a voz do papa se faz ouvir; urge acabar com a Igreja que se comunica por documentos, à semelhança da mãe que se comunica com o filho por carta. O mesmo vale para a política. No entanto, partidos acreditam que acervos documentais farão o milagre de multiplicação de adeptos. Guinadas à esquerda, à direita ou ao centro não funcionam mais como anzóis para todos, igrejas e partidos que saibam ouvir suas preces.

*Jornalista, professor titular da USP, é consultor político e de comunicação

Fonte: O Estado de S. Paulo

Diálogo com a sociedade – Gilvan Cavalcanti de Melo

Muito já se escreveu sobre as jornadas de junho. Outros tantos escritos ainda haverão de vir na tentativa de explicar a participação de mais de dois milhões de pessoas, nas manifestações populares, nas grandes e médias cidades do País. No começo não tinha ‘nem pé nem cabeça’, como diria o humorista, comunista Aparício Torelly, o Barão Itararé. No começo era por apenas vinte centavos de aumento de ônibus. Com o passar dos dias a realidade da passividade: “país maravilhoso”, “saúde de primeiro mundo”, “escola para todos”, “sem desemprego”, “grande potência econômica”, “sem miséria e fome” se transformou em “o gigante despertou”. Houve uma inflexão, começo de uma nova conjuntura. Ficou tudo de pernas para o ar. É o que se poderia dizer de mais exato e preciso para resumir o que aponta a tendência daquelas manifestações.

Fatos como aqueles quando a sociedade, em desacordo com o estabelecido que aceitava com resignação o habitual e orientava o seu cotidiano, aparece de repente nas ruas com ímpeto forte de um evento raro e particular. Vem para destacar um limite, em geral, o fim de uma era e o começo de outra. ‘Navegar é preciso’.

O prof. Werneck Vianna em artigo recente foi muito claro e afirmativo, quando fez a síntese do fato. Sua narrativa:

Não se pode mais não ver: esgotou-se o ciclo da modernização "por cima" que, em ondas sempre renovadas, cada qual com um estilo adaptado às suas circunstâncias - do de Vargas dos anos 1930 ao de Lula e Dilma nos dias atuais, passando pelo de Juscelino e dos generais-presidentes do regime militar -, vem dominando a imaginação das nossas elites políticas e os objetivos que perseguem(Aladin e o gênio da garrafa, O Estado de S. Paulo, 28/7/2013).

É nesse quadro que gostaria de relembrar que é da alçada da oposição, se opor ao governo, como é óbvio e quase hilário de afirmar. Mas, para isto precisa declarar com convicção determinadas posições: defesa da democracia representativa e pluralista, com as liberdades individuais e coletivas, com os direitos humanos, com a República, com o avanço da ciência, com a preservação da natureza, com a inclusão, a participação, a solidariedade e a igualdade, ao lado dos valores da inovação, e a consideração dos problemas da vida real das pessoas. Valores estes inscritos na ‘Constituição cidadã’, há apenas vinte e cinco anos atrás. Se não fala em nome de alguma causa, alguma política e alguns valores, a voz se perde no som confuso do maldizente cotidiano, sem chegar aos ouvidos da rua.

A voz se confundirá e não faltará quem diga que todos, governo e oposição, são farinhas do mesmo saco, no fundo “políticos”. A rua falou o que se pode esperar deles: a busca de vantagens pessoais, quando não clientelismo e corrupção.

Nessa nova conjuntura as dificuldades são enormes. Isso pelo reconhecimento à convergência entre dois processos interdependentes: o “triunfo do capitalismo globalizado” e a adesão progressiva – no inicio envergonhada e por fim mais deslavada – do grupo dominante no governo à nova ordem e seus valores.

Enquanto a oposição democrática persistir em travar a batalha das ideais apenas sobre os “movimentos sociais organizados”, terá dificuldade. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benefícios e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses aos setores mais pobres, e isso é mais eficaz do que a palavra da oposição. Não é bom subestimar, além disso, a influência que ele exerce na mídia com as verbas publicitárias. Ou seja, há um domínio, por parte do governo, nesses setores.

Por outro lado, as manifestações de junho deram um sinal de que o coração do senso comum oscilou. Há possibilidade dessa mudança de espírito se aprofundar, agora, pela entrada na disputa da cultura católica e seus valores no começo do papado de Francisco: o não egoísmo, a não violência, laicidade do Estado, cultura do encontro, o diálogo de cultura, sentido ético e a reabilitação da política. Está aberto um novo campo de hegemonia.

Há no Brasil um conjunto de camadas médias, de novas camadas (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à tecnologia da informação e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo país afora. Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc.

É a essas que a oposição democrática e reformista deve, também, dirigir suas mensagens prioritariamente. Se houver arrojo, pode organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida a debates verdadeiros sobre os temas de interesse delas.

Não é apenas isso. É preciso voltar às salas universitárias, às inúmeras redes de palestras, seminários, debates e que se propagam pelo país afora e não deve, obviamente, desacreditar do papel da mídia tradicional. Com toda a modernização tecnológica, sem a aprovação derivada da credibilidade, que só a tradição da grande mídia certifica, e que difundidas, se transformam em ideais reconhecidas.

Ademais, da persistência e ampliação destas práticas, é preciso buscar novas formas de atuação para que a oposição reformista esteja presente, ou pelo menos para que entenda e repercuta o que ocorre na sociedade. Há inúmeras organizações de bairro, um sem-número de grupos musicais, culturais e esportivos nas periferias das grandes cidades, etc., organizações voluntárias de solidariedade e de protesto, redes de consumidores, ativistas do meio ambiente, etc.

Conhecidas as dificuldades e a falta de confiança nas instituições político-partidárias, seria pedir muito à oposição reformista atirar-se na vida cotidiana e ter ligações orgânicas com grupos que expressam as dificuldades, demandas e anseios do homem comum. Mas que pelo menos aprenda a ouvir suas vozes e atue em consonância com elas. É um caminho para reabilitar a política, posta em cheque nas jornadas-manifestações de junho.

Rio, 03 de agosto de 2013

Gilvan Cavalcanti de Melo, membro da direção nacional do PPS e editor do Blog Democracia Política e novo Reformismo

O estado-babá - Merval Pereira

A menos de um mês da entrada em vigor da resolução que proíbe a presença de aditivos nos cigarros brasileiros, na quarta-feira a Anvisa recuou da decisão. Em setembro serão proibidos apenas os cigarros mentolados. Outros 145 aditivos serão examinados por uma "câmara técnica", a ser criada. Essa câmara, cuja composição ainda não foi definida, mas que não contará com representantes da indústria do tabaco, terá um ano para elaborar um parecer.

Para a Anvisa, a melhor maneira de convencer os brasileiros a parar de fumar é alterar o sabor do produto a que estão acostumados. Com a medida, o cigarro não fica mais saudável, fica pior para o consumidor, garantem os empresários do ramo.

Foi uma reunião tensa a de quarta, e muito pouco técnica, a ponto de o diretor José Agenor Álvares da Silva ter chamado de "Nosferatu" um dos representantes da indústria presente.
A decisão foi tomada quando o STF se preparava para analisar uma ação de inconstitucionalidade da Confederação Nacional da Indústria, que quer a definição dos limites do poder da Anvisa. Os empresários consideram que o resultado será decisivo para definir o ambiente de negócios no país.

A resolução 14/2012 está sendo vista como exemplar de uma ofensiva contra a liberdade empresarial no Brasil e, como atinge a indústria do fumo, um setor considerado antipático e estigmatizado pelos prejuízos que pode causar à saúde da população, os abusos de regulação não são devidamente combatidos.

Segundo os empresários, a CNI tem buscado a Justiça como caminho para preservar as regras da democracia, da livre iniciativa e do equilíbrio entre poderes, algo maior e mais importante do que a questão dos cigarros. Na legislação sobre os aditivos dos cigarros, o Congresso havia rejeitado uma medida provisória sobre o tema, e a Anvisa fez uma medida administrativa para superar o Legislativo.

Há exemplos de sobra apenas na Anvisa de como o "Estado-Babá" atua, na suposição de que deve proteger os cidadãos de si mesmos através de medidas regulatórias que visam "o bem social".

Com o objetivo de reduzir a automedicação, em 2009 a Anvisa decidiu proibir a comercialização de medicamentos isentos de prescrição no balcão de farmácias por meio da Resolução RDC nº 44.

Sem analisar os impactos que a medida poderia ocasionar, a Agência viu-se, curiosamente, diante de um cenário de aumento do consumo porque passaram a comprar embalagens maiores, para evitar o inconveniente de solicitar aos atendentes das farmácias os referidos produtos.

Ainda em 2009, a Anvisa decidiu regular o bronzeamento artificial, praticamente proibindo-o no país. O setor foi à Justiça e conseguiu uma liminar considerando que a resolução RDC 56/09 "desborda do princípio da razoabilidade, porque não informa o tempo de exposição necessário" para afirmar que a exposição a raios ultravioletas é causadora de câncer.

Também sob a justificativa de "proteção da saúde pública", a Anvisa editou em 2010 a Resolução RDC nº 24, determinando a colocação de advertências em alimentos que possuem baixo valor nutricional, com o objetivo de induzir a população àquilo que considerava um estilo de alimentação adequado.

Entidades representativas do setor pleiteiam no Judiciário a suspensão da medida. Mais recentemente, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região se manifestou no sentido de que "extrapolou[-se] a competência legal conferida àquela Agência, violando, a um só tempo, os princípios da legalidade e razoabilidade, e o direito à publicidade, sem contar a indevida intervenção na atividade econômica dos associados da autora". A própria Advocacia Geral da União (AGU) entendeu que a medida deveria ser suspensa.

Outro exemplo foi a tentativa de proibição do uso de medicamentos emagrecedores, em outubro de 2011. Na ocasião, a comunidade médica se mostrou contrária ao banimento, ressaltando a importância dos medicamentos para o tratamento da obesidade. Apenas no final de maio deste ano a Agência resolveu liberar a utilização de emagrecedores à base de sibutramina.

Fonte: O Globo

Mensalão versus Siemens - Eliane Cantanhêde

Reza a lenda política que agosto é o mês do azar, quando Getúlio Vargas se suicidou, Jânio Quadros renunciou e Juscelino Kubitschek morreu num acidente de carro até hoje ainda nebuloso.

Pois justamente em agosto recomeça o julgamento do mensalão no Supremo, que pega o PT de jeito, e emerge a denúncia da alemã Siemens de que houve um cartel para licitações das obras do metrô de São Paulo, o que desestabiliza o PSDB.

Como pano de fundo, a popularidade de Dilma em queda, protestos contra Alckmin e Cabral, o Congresso em pé de guerra e a recuperação da economia, só na promessa.

Tem-se que agosto encontrará o governo batendo cabeça, o Congresso testando forças, os tucanos esbaldando-se com o mensalão petista, e os petistas, com o caso Siemens dos tucanos. E a plateia botando fogo.

Isso tudo é álcool, gasolina e fósforo aceso para as manifestações populares. Elas começaram em junho, movidas em grande parte pela exaustão diante das práticas políticas e da falta de ética, e prometem voltar com tudo no Sete de Setembro, pelos mesmos motivos, mas com novidades, confrontos explosivos e a sensação de que não se salva um.

Se o mensalão do PT atinge José Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha, a denúncia da Siemens, que entregou documentos para as autoridades brasileiras, aponta o governo Mário Covas, chega ao primeiro de Geraldo Alckmin e atinge um ano do de José Serra. É guerra de comandantes, não de soldados.

Como sempre, o caso Siemens começa assim: vem a manchete na imprensa, o atingido diz que há manipulação política e o investigador responde que o processo é legal, rigoroso e técnico. Depois, vira tudo um deus nos acuda, com verdades borbulhando, a mídia vasculhando cada vírgula, a opinião pública irada.

Mas agosto é só o começo, setembro está logo aí e 2014 é ano de eleição presidencial. O que está ruim sempre pode piorar.

Fonte: Folha de S. Paulo

Surdez crônica - Dora Kramer

O Congresso retoma os trabalhos em tese nesta segunda-feira; na prática, só na terça. Volta cheio de gás - embora continue surdo, como veremos adiante - com uma "pauta bomba", segundo o presidente do Senado, Renan Calheiros.

A ideia é, de um lado, votar projetos que supostamente respondem às reivindicações populares e, de outro, confrontem a Presidência da República a fim de deixar claro quem detém o mando de campo nesses tempos bicudos.

O Congresso saiu em férias sem autorização legal porque não votou a Lei de Diretrizes Orçamentárias, cuja aprovação é, pela Constituição, indispensável para o início do recesso do mês de julho.

Mas isso não foi obstáculo parasuas excelências, que logo decretaram o tal do "recesso branco": ficou decidido que não seriam feitas sessões deliberativas (quando há votações) no período e, assim, todos poderiam descansar sem correr o risco de ter os dias descontados no pagamento do mês.

O retorno estava marcado para o dia 1.° de agosto. Mas, sabem as senhoras e os senhores como é: quinta-feira não faz parte da semana para a maioria dos integrantes do Poder Legislativo.

Dos 513 deputados, 37 se apresentaram ao trabalho no dia marcado; nem 10%. No Senado a presença foi maior: 33 dos 81 senadores; menos da metade. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, no exterior estava com a família e no exterior ficou. Justificativa: trabalhou demais na semana da visita do papa Francisco e precisava de uns dias a mais para compensar.

Compreende-se a posição do Parlamento. Depois de duas semanas de correria intensa em torno da "agenda positiva" que criou despesas a serem pagas todos sabemos por quem e até transformou táxis em capitanias hereditárias, era hora de voltar ao normal E o exercício da gazeta nas quintas, sextas e segundas é de praxe.

Como de hábito também naquele ambiente é se falar em reforma política e se acabar sempre fazendo modificações nas leis eleitorais - que, aliás, mudam a cada pleito - para facilitar a vida dos políticos e dos partidos. O eleitor fica fora do trato, sua parte é ir à urna obrigatoriamente se não quiser ter problemas.

Relata a Folha de S.Paulo em sua edição de quinta-feira que, nesta semana, os deputados começam a discutir uma série de alterações na legislação eleitoral Todas tão distantes do descontentamento geral que, no dizer de editorial do Estado, mais parecem um chamamento de volta aos protestos com destaque para cartazes de aviso aos representantes parlamentares: "Eles não me representam".

As propostas, de fato, soam provocativas. A título de tornar o processo eleitoral "menos burocrático", na palavra do coordenador dos trabalhos, o petista Cândido Vaccarezza, a comissão formada para discutir a reforma política erigiu um monumento à permissividade.

Pelo projeto dito de desburocratização, os candidatos não serão mais responsáveis por crimes eleitorais cometidos durante as respectivas campanhas; a Justiça Eleitoral não pode mais checar as informações financeiras dadas pelos partidos, devendo se limitar a receber as prestações de contas e verificar se os aspectos "formais" estão de acordo.

Os gastos considerados "não passíveis de comprovação" não precisarão ser acompanhados de qualquer tipo de documento, bastando que sejam publicados na internet; pretendentes a cargos executivos, de presidente a prefeito, estão dispensados de registrar seus programas de governo na Justiça.

O valor das multas cobradas de quem faz doações acima do limite legal (2% do faturamento para empresas e 10% dos rendimentos para pessoas físicas) é reduzido em 10 vezes. E por aí vai o Congresso em sua indiferença ao tirocínio alheio.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A renúncia da Cabral - Tereza Cruvinel

A ira das ruas já fez muitas vítimas na política, mas o primeiro a ser literalmente nocauteado é o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). Embora negando, ou tratando o assunto como hipótese, ele está decidido a renunciar para favorecer a candidatura do vice, Luiz Fernando Pezão (PMDB), a governador, alegando a necessidade de se afastar para viabilizar legalmente a candidatura, a deputado federal, de seu filho Marco Antônio. Aquele que o pai, protestando contra a pré-candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) e ameaçando romper a aliança com o PT, lembrou ter "Neves" no sobrenome.

De lá para cá, tudo mudou para Cabral, que, segundo fontes do PMDB nacional, ainda tem dúvidas sobre o momento certo para deixar o cargo. Se, no início de janeiro de 2014, o que daria mais tempo de governo para o vice, ou se em abril, quando termina o prazo legal para a desincompatiblização de governantes que serão candidatos ou tenham parentes de primeiro grau com essa pretensão.

No ano passado, Cabral chegou a cogitar a renúncia para que Pezão pudesse disputar a eleição para governador no cargo. Nesse caso, sendo eleito, ele não teria direito à reeleição, tal como acontece hoje, pela mesma razão, com o governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), que concluiu o segundo mandato de Aécio Neves (PSDB). Depois, desistiu e anunciou que ficaria no cargo até o fim do mandato, trabalhando pela eleição do sucessor.

Com a eclosão dos protestos, entretanto, o mundo de Cabral caiu. As grandes manifestações de junho no Rio, duramente reprimidas, hoje estão praticamente restritas à ação violenta dos vândalos e de grupos radicais, aparentemente infiltrados por mercenários do narcotráfico e de outras organizações criminosas, talvez partidárias, especulam o governador e seus aliados. O prédio em que ele mora, no Leblon, continua sendo um ponto permanente de protestos e de confrontos com a polícia, para irritação dos moradores da rua. Cabral recusou todos os apelos de correligionários e auxiliares para que fosse morar na residência oficial do Palácio das Laranjeiras. No fim de julho, as pesquisas mostraram que ele se tornara o mais impopular, numa lista de governadores vitimados pelo mau humor da população. Em São Paulo, durante a visita do papa, foi alvo de protesto em que uma faixa dizia: "Vaza, Cabral". O sumiço do pedreiro Amarildo, depois de ter comparecido em 14 de julho ao posto policial da UPP da Rocinha, engrossou os últimos protestos com a participação de moradores da favela. O assunto esquentou na sexta-feira, com as suspeitas levantadas pela ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, de responsabilidade da PM no desaparecimento.

Nos últimos dias, Cabral ensaiou um discurso conciliador, fazendo autocrítica e declarando o desejo de dialogar. Na sexta-feira, anunciou o recuo na demolição do ginásio esportivo Célio de Barros, ao lado do Maracanã, dizendo que a própria concessão, muito criticada pelos cariocas, estava "em suspenso". Os acenos caíram no vazio, e a sexta-feira terminou com outro ato paulista, contra ele e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), alvejado pelas revelações da empresa Siemens, sobre a participação em um cartel que teria atuado em licitações dos governos estaduais tucanos. Por isso, é possível que agora ele também comece a ser malhado continuamente nos protestos. Os políticos vêm prevendo que as ruas não sossegarão antes da eleição.

A renúncia, que só uma virada favorável na situação de Cabral impediria, tornou-se para ele a melhor saída. Ainda que não tenha condições de disputar o Senado, como cogitado, dará a Pezão uma chance de se provar como gestor para ganhar competitividade, e abrirá caminho para o filho entrar na política. Ainda que Cabral quisesse, nenhum outro governante deseja que ele confirme esse plano agora. Se as ruas gostam e diversificam as apostas, ninguém sabe qual será a próxima pedra a cair no dominó.

Tabu que volta
O governo brasileiro voltou a negociar com os Estados Unidos o acordo iniciado na era FH, e rejeitado pelo governo Lula, para uso comercial da Base de Alcântara. Em 2003, uma forte reação nacionalista, traduzida pelo parecer do relator na Câmara, o ex-deputado Waldir Pires, sepultou o acordo. Um dos críticos, na época, foi o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que agora adverte. "Para vingar, o acordo não poderá vedar o acesso de autoridades brasileiras a qualquer área, como naquela versão, nem impedir contratos com outros países. E o Congresso deveria aprovar seus termos antes da assinatura, evitando problemas e surpresas. O Congresso, em transe desde junho, não tem prestado atenção ao assunto.

O jogo recomeça
O Congresso volta com a faca na bota. O líder do PT, José Guimarães, tenta unificar a bancada para ajudar na pacificação da esgarçada base dilmista.

A oposição retorna com novo ânimo. O presidenciável e presidente do PSDB Aécio Neves reunirá, na terça, todos os presidentes regionais do partido para acertar a estratégia de 2014.

Dilma pisca para os jovens. Sancionará amanhã o Estatuto da Juventude, aprovado pelo Congresso após nove anos. O texto final do relator Reginaldo Lopes (PT-MG) fixa os direitos fundamentais dos que têm entre 15 e 29 anos. Dilma lançará também o programa Estação Juventude, destinando R$ 20 milhões a ações sociais para os jovens nos municípios.

Renunciando, o governador Cabral dará uma chance ao vice para se tornar um candidato competitivo e permitirá ao filho disputar a primeira eleição. O temor de outros políticos é que as ruas gostem e façam novas apostas

Fonte: Correio Braziliense