quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Merval Pereira: Sem efeito

- O Globo

PT, que apela ao Comitê da ONU, quando do julgamento do mensalão pretendeu usar o Pacto de São José da Costa Rica

Sobre a recomendação do Comitê dos Direitos Humanos do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos da ONU, que o PT está vendendo como uma decisão permitindo a candidatura do ex-presidente Lula à Presidência da República, é bom lembrar outro instrumento internacional posterior e mais abrangente, o Pacto de São José da Costa Rica, introduzido no Brasil em 1992 por Itamar Franco, considerado a legislação mais importante das Américas nesse tema de direitos políticos.

No artigo 23, que determina, entre outros, que todos os cidadãos devem gozar de direitos e oportunidades de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meio de representantes livremente eleitos; ou de ter acesso, em condições gerais de igualdade a funções públicas de seu país, no seu inciso segundo define claramente que “A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades, a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de idade, nacionalidade, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental, ou condenação, por juiz competente, em processo penal”.

O PT, que agora apela ao Comitê da ONU, quando do julgamento do mensalão pretendeu utilizar o Pacto de São José da Costa Rica, alegando que ele garante a todo réu o duplo grau de jurisdição, e os acusados do mensalão só teriam o Supremo Tribunal Federal (STF), a última instância. O ministro Ricardo Lewandowski chegou a alegar em seu voto que o julgamento direto no STF contrariava o Pacto.

Nada foi feito naquela ocasião, por impossibilidade jurídica, e agora o Pacto de São José da Costa Rica coloca o PT em uma posição difícil, pois Lula foi condenado em segunda instância pelo TRF-4 de Porto Alegre, garantindo o segundo grau de jurisdição.

Os petistas estão alardeando também um texto escrito por Luís Roberto Barroso, atual ministro do Supremo Tribunal Federal e relator do caso de Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em que ele supostamente daria ares de verdade à tese de que a recomendação do Comitê do Conselho de Direitos Humanos da ONU é mandatória.

O trecho é o seguinte, referindo-se à Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Seu conteúdo foi densificado em outros atos internacionais, indiscutivelmente vinculantes do ponto de vista jurídico como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais”.

Rosângela Bittar: Macaco não olha seu rabo

- Valor Econômico

Ao ataque, à ação. Jogo de palavras é luta desigual

Agora é oficial: o PT avisa, por meio de seu candidato Fernando Haddad, que vai aumentar a ofensiva internacional para garantir a presença de Lula nas eleições. Portanto, acabou o segredo de polichinelo, trata-se realmente de uma campanha, forte, inescrupulosa, liderada pelo partido na mobilização de jornais de esquerda, cientistas políticos, ONGs, governos e Parlamentos desinformados, ou que não querem se informar, sobre as leis, a Justiça e a democracia brasileira.

Segundo Haddad, a estratégia será colocar em questionamento o regime democrático caso Lula seja, de fato, barrado pela Lei da Ficha Limpa. O democrático é o descumprimento da lei, da Constituição, das decisões da Justiça, teria escorregado o candidato se deixassem..

Por que não se faz uma campanha semelhante a essa para mostrar os crimes cometidos, a legislação em que se baseou a prisão, as decisões unânimes da Justiça, em lugar de considerar suficientes os instrumentos diplomáticos, telegramas, cartas e notas? Essa linguagem tem sido tão inútil quanto as 100 embaixadas criadas no governo do PT exatamente para, agora, manipular a propaganda contra o país, servindo a interesses pessoais. A cada ação externa, reagem os agentes internos do partido para corroborar o acerto dos aliados internacionais.

É urgente organizar a contraofensiva, no mesmo tom, com os mesmos instrumentos e as chantagens e ameaças de que o Brasil está sendo vítima.

"A simulacro de processo" e "encarceramento arbitrário" devem corresponder informações e divulgação dos fatos que deram origem às prisões não só de Lula, como de empresários e políticos em geral metidos em crime de corrupção. Se assim não for, a propaganda engole a realidade.

Uma reação à altura está fazendo falta, e não é de agora. Por que pegou no exterior a tese de que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe? Por que pegou a mentira de que eleição sem Lula é fraude? Porque o Brasil está reagindo com conversa mole enquanto está evidente a onda de falsidades espalhadas mundo afora. Quem conhece os fatos não quer se dar ao trabalho. Diante de uma boa propaganda, de que vale uma verdade?

Vera Magalhães: Quero ser Lula

- O Estado de S.Paulo

A primeira referência que me veio à mente diante do vídeo da campanha do PT que faz referência à existência de “milhões de Lulas” no Brasil foi o filme Quero ser John Malkovich, de 1999, brilhante obra da dupla Charlie Kaufman e Spike Jonze.

No filme, um desempregado consegue um trabalho no andar 7 e 1/2 de uma firma, onde encontra uma portinha que permite passar alguns minutos na mente do ator John Malkovich. Resolve alugar a passagem como forma de ficar rico, o que faz com que se desenrolem complicações várias.

A eleição brasileira oferece um roteiro igualmente fantástico. O aluguel que o PT propõe não é da mente de um ator, mas do corpo de um presidiário. O “inquilino” da paródia “Quero ser Lula” se chama Fernando Haddad, e parece disposto a abrir mão temporariamente da própria biografia para personificar a do padrinho, atualizando as definições de poste que já valeram até mesmo para si há seis anos.

Terão, o Malkovich de Curitiba, o PT e Haddad, uma empreitada complexa pela frente, ainda que facilitada pelo impressionante índice de pessoas que se mostram dispostas a votar em Lula, 37% de acordo com a pesquisa Ibope/Estado/TV Globo.

Isso porque a mesma pesquisa aponta que 60% do universo de eleitores não votariam em Haddad de jeito nenhum. Isso pode mudar a partir de uma ostensiva campanha de transferência de votos, que começa com o vídeo dos milhões de Lula? Pode. Mas não será tão trivial como foi com Dilma em 2010 ou o próprio Haddad em 2012.

Porque Lula está preso, porque o PT não dispõe mais dos recursos fartos das empreiteiras que irrigaram as campanhas mencionadas, segundo relatos do próprio marqueteiro-milagreiro João Santana, e porque o PT não está mais no poder, usando moedas como a ameaça do fim do Bolsa Família para assustar eleitores como fez contra Marina Silva em 2014.

A pesquisa mostra ainda que passam de 50% os que não chancelariam Haddad no Nordeste, entre os eleitores mais pobres e os de baixa escolaridade, segmentos em que o voto em Lula é majoritário.

Quanto mais tempo o PT levar para massificar a estratégia de tornar o ex-prefeito de São Paulo conhecido (o que depende da admissão definitiva de que é ele o candidato), menos tempo haverá para penetrar nesse eleitorado fiel.

Míriam Leitão: Velho e novo na proposta do PT

- O Globo

PT voltou às suas ideias originais, abandonadas após a Carta aos Brasileiros. Eram erradas naquela época e mais erradas estão agora

A estratégia do programa e do discurso econômico do PT é pulara maioria das falhas dos 13 anos de governo, admitir erros apenas na administração Dilma, culpar Michel Temer pela crise e ter projetos velhos como nova roupagem. A proposta de ajuste fiscal é vaga, e da reformada previdência, mais ainda. Entre as ideias novas está ade cobrar menos imposto dos bancos que reduzirem o spread e mais de quem cobrar juros mais altos. Isso viraria subsídio a banco e é contra a lei cobrar alíquotas diferentes dentro de um setor.

Na Globonews, um grupo de jornalistas de economia, entre eles, eu, entrevistou o economista Guilherme Mello, da Unicamp, indicado pelo PT para explicar o programa econômico. A ideia mais nova é a de alíquota diferenciada dependendo de quanto o banco cobrar de spread nos empréstimos bancários. Par afazer isso, teriam que mudara Constituição. Não se pode cobrar imposto diferente entre empresas de um mesmo setor. Na CSLL, os bancos pagam 20%, e as cooperativas ,17%. Mas os bancos não podem ser tratados diferentemente entre si.

O governo Lula ficou comum boa imagem, por isso a estratégia de pulara parte Dilma da administração petista faz sentido da perspectiva da campanha. Quem conhece os dados e a história da política econômica sabe que muitos problemas de Dilma nasceram no governo Lula.

Guilherme Mello disse que foram boas as políticas anticíclicas do governo Lula porque o país saiu rapidamente da crise internacional de 2008. O problema é que depois de sair da crise o governo aumentou o incentivo. O Programa de Sustentação de Investimento (PSI) foi de R$ 42 bilhões em 2009, mas foi ampliado em 2010, quando o país já não estava em crise, e passou de R$ 400 bilhões no saldo acumulado no final de 2014.

O economista admitiu erro nas “desonerações”, referindo-se ao desconto na contribuição previdenciária das empresas. Mas culpou Eduardo Cunha pelo aumento. A ampliação da lista dos beneficiários foi também decisão do ministro Guido Mantega. E as desonerações foram apenas uma das várias formas com que setores foram poupados de pagar impostos. Apolítica de campeões nacionais que dirigiu dinheiro subsidia dopara alguns grupos começou no governo Lula. Tudo isso está na raiz da ruína econômica.

Bruno Boghossian: Avenida aberta

- Folha de S. Paulo

Desconhecido, ex-prefeito terá 46 dias para converter eleitorado lulista fiel

Lula mantém 57 milhões de votos sub judice. O crescimento do ex-presidente nas pesquisas, mesmo preso, amplia a dimensão da estrada que o PT bloqueou ao insistir em sua candidatura ao Planalto, a um mês e meio da eleição.

O novo levantamento do Datafolha sugere que, embora dois terços dos lulistas já escolham outros nomes quando o petista é excluído da disputa, como Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), o quadro pode mudar dramaticamente na campanha.

Quase metade dos eleitores de Lula (48%) não conhece Fernando Haddad, que substituirá o ex-presidente na chapa. Outros 26% dizem que o conhecem “só de ouvir falar”.

O desconhecimento seria uma fragilidade, não fosse a influência expressiva de Lula sobre seu eleitorado.

O potencial de transferência medido na pesquisa atenua parte do ceticismo em relação a esse poder.

Entre eleitores que declaram voto em Lula, 62% escolheriam “com certeza” o candidato apoiado por ele. Se esses eleitores mantiverem sua disposição e receberem a mensagem de que Haddad é o nome lulista, o ex-prefeito poderá atingir 24% dos votos. Ainda que uma parte fique pelo caminho, a conversão seria suficiente para levá-lo ao segundo turno.

Haddad pontua timidamente nas trincheiras petistas, como o Nordeste (5%) e as famílias de baixa renda (3%). Nesses segmentos, porém, estão os maiores percentuais de entrevistados que não sabem quem será o candidato petista —beirando 60%.

Lula acumula força enquanto mantém uma névoa sobre o eleitor. A estratégia pode ser exitosa, mas o PT empobrece o debate político. A poucas semanas da votação, a avenida foi reaberta para um trânsito caótico.
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De Otavio Frias Filho, em 2004: “Existem muitas maneiras de relatar um fato, inúmeras interpretações a seu respeito. E nenhum critério seguro para definir qual delas é a melhor. O melhor serviço prestado pelo jornalismo é divulgar a riqueza desse contraditório”.

Hélio Schwartsman: Religião e política

- Folha de S. Paulo

Discurso religioso na política traz o risco de radicalização

Religião e política se misturam no Estado laico? Até certo ponto, isso é inevitável, como bem observou meu amigo Joel Pinheiro da Fonseca. Se estamos falando de um regime democrático, não há como impedir que o cidadão vote segundo critérios e valores ditados por sua fé. O eleitor só deve satisfação à sua própria consciência.

Embora a legislação eleitoral esboce algumas restrições, na prática não há nem mesmo como evitar que clérigos em geral e pastores em particular tentem capturar os votos de seus rebanhos para o candidato de sua preferência. Tudo isso é do jogo.

O que me preocupa quando o discurso religioso entra na política é que ele traz o risco de radicalização. Religiões frequentemente operam com conceitos absolutos. Se as Escrituras dizem que o aborto e o homossexualismo são pecado, como podem simples mortais duvidar da palavra imutável de Deus? Não discuto aqui a interpretação dos textos sagrados.

A lógica espiritual, ao introduzir absolutos morais, em alguma medida nega a própria política, que pode ser descrita como a arte da pacificação de conflitos por meio de negociações. Enquanto a lei positiva se justifica apenas por sua racionalidade, comporta gradações e pode ser objeto de soluções de compromisso, a lei divina se sustenta na noção de pecado, sempre definido por uma autoridade incontestável, e, por isso, assume a forma de pacotes inegociáveis.

Não estou afirmando aqui que todos aqueles que professam alguma fé estão fadados a comportar-se como fanáticos. Felizmente, a maioria das pessoas não leva a lógica religiosa às últimas consequências —e é isso o que torna possível a vida em sociedades multiculturais. Mas é inegável que um discurso que recorre a imperativos absolutos aumenta o risco de radicalização.

Esse é um problema para o qual não existe solução teórica. A democracia só sobrevive se as pessoas forem relativamente relapsas em sua religiosidade.

Bernardo Mello Franco: Notícias de uma guerra particular

- O Globo

Marina, Ciro e Haddad disputam o espólio de Lula. O petista saiu atrás, mas pode chegar na frente se a estratégia de esticar a corda for bem-sucedida

Na corrida ao Planalto, três candidatos vão travar uma guerra particular. Marina Silva, Ciro Gomes e Fernando Haddad foram ministros do governo Lula. Agora, disputam o espólio do ex-presidente, que deve ser barrado pela Justiça Eleitoral.

De acordo com o Ibope, 37% dos brasileiros querem votar em Lula. No cenário sem o petista, o grupo se dispersa. Os três ex-ministros avançam, mas ninguém desponta como herdeiro natural do lulismo. O número de indecisos ou dispostos a anular salta para 38%.

Por enquanto, a mais beneficiada com a saída do ex-presidente é Marina. Na ausência de Lula, ela dobra sua intenção de votos. Pula de 6% para 12%, e assume a segunda posição na pesquisa. Ciro também herda uma parte do latifúndio lulista. Sem o ex-chefe, ele avança de 5% para 9%. Neste cenário, passa a ser visto como um candidato com chances de ir ao segundo turno.

O terceiro aspirante ao espólio é Haddad. No momento, ele aparece com apenas 4% das intenções de voto. Mas seu crescimento parece questão de tempo: falta se tornar conhecido como o candidato do PT.

A estratégia dos petistas é simples. Eles acreditam que os rivais ficarão empacados enquanto parte do eleitorado acreditar que Lula está no páreo. Por isso, valeria a pena esticar a disputa jurídica até o limite. Com isso, ficaria mais fácil transferir os votos para Haddad na reta final da campanha.

Ontem, Ciro e Marina criticaram a insistência na candidatura de Lula. Ela disse que a estratégia “fragiliza muito o processo de decisão dos eleitores”. Ele acusou o PT de “projetar uma fraude”. “Ficam agitando o nome do Lula para depois tentarem eleger uma pessoa que a população não conhece”, reclamou.

Parece que os dois acusaram o golpe.

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“A função da imprensa tem um relevo antipático, quase hostil. Estou convencido de que os jornais existem para falar mal dos governos. A função da imprensa é a de interpelação, de questionamento” —Otavio Frias Filho (1957-2018).

Luiz Carlos Azedo: A chave da cadeia

- Correio Braziliense

“A Segunda Turma do Supremo é pródiga na concessão de habeas corpus para os réus da Operação Lava-Jato. Dirceu deverá permanecer em liberdade até ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça”

A pesquisa eleitoral divulgada ontem provocou nova alta do dólar – ultrapassou a barreira dos R$ 4 e chegou a R$ 4,48 nas casas de câmbio –, porém, a imprevisibilidade do cenário eleitoral aumentou ainda mais com a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu manter em liberdade o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu e o ex-tesoureiro do PP José Cláudio Genu, ambos condenados em segunda instância na Operação Lava-Jato. A decisão consolidou o entendimento da Turma de que a execução imediata da pena após condenação em segunda instância precisa ser examinada caso a caso. Com isso, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem uma porta aberta para conseguir um habeas corpus em favor do petista, cuja candidatura a presidente da República ainda não foi impugnada. Embora, pela Lei da Ficha Limpa, o petista seja inelegível.

Conhecida como Jardim do Éden, a Segunda Turma é pródiga na concessão de arquivamentos e habeas corpus para os réus da Operação Lava-Jato. Dirceu está condenado a mais de 30 anos de prisão, mas deverá permanecer em liberdade até ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça. O ex-ministro começou a cumprir pena em maio, por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e organização criminosa, mas foi solto um mês depois por ordem do STF. Toffoli votou pela soltura, mas o relator da Lava-Jato, o ministro Luiz Edson Fachin, pediu vista, ou seja, mais tempo para analisar a questão. Mesmo com o pedido de vista, os outros três ministros da Turma (Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski) decidiram conceder liberdade a Dirceu até que Fachin devolvesse o processo para julgamento.

Ontem, o caso voltou à pauta da Segunda Turma. Fachin votou pelo entendimento majoritário do Supremo no sentido de autorizar as prisões após condenação em segunda instância e sustentou que não se pode conceder habeas corpus de ofício nesse caso. Foi atropelado pelo ministro Dias Toffoli, que citou vários precedentes no Supremo. Os ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski acompanharam Toffoli. Decano do STF, o ministro Celso de Mello votou com Fachin, mas ambos foram votos vencidos por 3 a 2. Fachin vem sendo voto vencido constantemente. Além de Lula, outros réus da Lava-Jato que estão presos deverão pleitear habeas corpus para sair da prisão, entre os quais os ex-deputados Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima, ambos do MDB.

O Supremo está se tornando um fator de instabilidade no processo eleitoral, por causa das disputas entre seus ministros. A Primeira Turma e a Segunda, por exemplo, têm entendimentos distintos em relação à jurisprudência sobre execução da pena após condenação em segunda instância. Caso se confirme a ida da ministra Cármen Lúcia para a Segunda Turma, no lugar de Toffoli, que assumirá a Presidência do Supremo, pode ser que se forme uma nova maioria sobre o mesmo assunto, com entendimento contrário à decisão de ontem. Em contrapartida, embora negue essa intenção, Toffoli pode pautar nova votação sobre o mérito da questão no plenário do Supremo.

Dora Kramer: Ao fato, sem a fake

- Veja

Lula não é inelegível em “tese”; está fora na prática. De onde, pesquisa com ele é notícia falsa

Das duas pesquisas divulgadas após a oficialização das candidaturas, uma (a do Ibope) retrata a situação das intenções de voto no momento e a outra (CNT/MDA) fala de uma fantasia. Portanto, para efeito de análise dos fatos vamos nos ater àquela que simula o cenário sem Lula, deixando de lado a que lida com o lado “fake” da campanha.

Lula só é candidato no universo de agitação e propaganda petista. A inelegibilidade dele não é uma “tese” como preferem alguns receosos de serem acusados de parcialidade. O ex-presidente está inelegível na prática, de acordo com a lei e conforme atestam todas as manifestações de autoridades responsáveis pelo exame jurídico da questão.

Pois então, pesquisa que vale é a do Ibope onde consta o nome de Fernando Haddad como candidato do PT. Nela, Bolsonaro lidera com 20%, Marina fica em segundo com 12%, Ciro em terceiro com 9% e Alckmin com 7% em último lugar entre os até então competitivos. Haddad aparece com 4%, mas obviamente esse índice mudará quando se parar de enganar o eleitor e as pesquisas começarem a mostrar a realidade do poder de Lula de transferir votos.

Por ora, a pesquisa não conta novidade: Bolsonaro resiste e os demais seguem onde estiveram desde o começo. Debates e redes sociais não alteraram o quadro. A ver se o horário eleitoral no rádio e televisão ainda tem o peso de outrora ou se 2018 será uma eleição tão diferente das antecessoras que invalidará tudo o que até agora estava escrito.

Tristes fenômenos: Editorial | Folha de S. Paulo

Datafolha aponta candidaturas mais fortes; seria empobrecedor o debate limitado a lulismo e antilulismo

Não podem ser considerados surpreendentes, embora tragam informações relevantes, os resultados da primeira pesquisa Datafolha sobre a eleição presidencial após a definição oficial dos candidatos.

Decerto que espanta a resistência da intenção de voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso desde abril devido à condenação em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro.

Entretanto o que interessa a esta altura —e se mantém uma incógnita— é quanto dos 39% obtidos pelo petista virtualmente inelegível serão transferidos ao ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.

De todo modo, os dados e a lógica apontam para cinco candidaturas mais fortes. No cenário sem Lula, Haddad tem apenas 4%, mas considerável potencial de crescimento; além dele, Jair Bolsonaro, do PSL (22%), Marina Silva, da Rede (16%), Ciro Gomes, do PDT (10%), e Geraldo Alckmin, do PSDB (9%).

O número de concorrentes competitivos certamente supera o dos últimos seis pleitos, mas não chega a descrever um cenário tão imprevisível quanto o que se vislumbrava há alguns meses.

Possíveis novidades desistiram da disputa, outras marcam percentuais pouco promissores na pesquisa. O grupo dos mais bem colocados, ademais, representa com razoável fidelidade as opções ideológicas da esquerda à direita, passando pelas nuances do centro.

Bolsonaro e a imprensa: Editorial | O Estado de S. Paulo

O candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) tem sido um desafio para a imprensa. Diante do ex-capitão, jornalistas parecem impelidos a levantar questões sobre ditadura militar, mulheres, homossexuais e segurança pública. Quase invariavelmente, Bolsonaro é confrontado a respeito de suas opiniões pregressas e correntes a respeito de tortura ou é instado a comentar a conquista de direitos por minorias, ocasiões em que exercita seu já conhecido deboche – para grande excitação de seus ardorosos seguidores nas redes sociais.

Compreende-se o afã dos jornalistas de expor a truculência de Bolsonaro, perfeita antítese do que se idealiza para a democracia no País. No entanto, ao lhe dar espaço para reafirmar opiniões que nada acrescentam ao debate nacional e se prestam somente a mobilizar sua claque, a mídia em geral acaba por consolidar o capital eleitoral de Bolsonaro – que, além de tudo, posa de vítima de campanha da imprensa e dos militantes do “politicamente correto”, um grande trunfo para quem se apresenta como o candidato “antissistema”.

Não é apenas no Brasil que a imprensa tem encontrado dificuldades para lidar com a ascensão desses brucutus políticos. Nos Estados Unidos, recentemente, mais de 300 jornais publicaram editoriais, de maneira coordenada, contra a estratégia do presidente Donald Trump de desmoralizar a imprensa. Foi mais um round do embate que mobiliza os jornalistas americanos desde que Trump conquistou a presidência com um discurso hostil a vários dos mais caros valores democráticos.

Ativismo e má gestão prejudicam vacinação no país: Editorial | O Globo

Desarranjo administrativo da era Lula-Dilma levou ao desmonte dos sistemas de prevenção de doenças

Apesar da mobilização nacional contra o sarampo e a poliomelite, no último sábado, quando mais de 36 mil postos de saúde funcionaram em todo o país, os índices de cobertura vacinal dessas doenças ainda permanecem longe da meta. Segundo o Ministério da Saúde, a campanha atingiu, até segunda-feira, pouco mais da metade (51%) do público-alvo, ou seja, 5,7 milhões do total de 11,2 milhões de crianças de um a 5 anos incompletos. O objetivo é imunizar 95% até 31 de agosto.

Entre os estados com pior desempenho, está o Rio de Janeiro. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, do público-alvo (812 mil crianças), foram vacinados até agora 33,39% contra o sarampo e 31,94% contra a pólio. Percentuais que colocam o Rio na lanterna do ranking, abaixo do Pará (33,59% para o sarampo e 33,6% para a pólio, segundo o Ministério da Saúde). Na outra ponta, encontram-se Rondônia (85% para a pólio e 83,45% para o sarampo) e Amapá (76,15% para a pólio e 75,96% para o sarampo). Pelo menos dois estados —Amazonas e Roraima — já enfrentam surtos de sarampo, doença que foi considerada erradicada das Américas em 2016.

Esses resultados desfavoráveis sugerem que autoridades federais, estaduais e municipais da saúde estão apenas se dedicando a cumprir tabela, ou seja, a rotina prevista nos manuais que, em última análise, significa oferecer as vacinas ao público e, eventualmente, convocá-lo ao posto mais próximo. É óbvio que isso não tem sido suficiente para motivar as pessoas. Os números estão aí.

O que não fica visível para o público é a desorganização do aparato estatal que resultou nesse descalabro. A vacinação em massa, periódica, é uma iniciativa louvável da rede pública e antecede à existência do SUS. Começou em 1979 e, progressivamente, levou o país a um padrão de prevenção sanitária invejável à maioria dos países. O que se viu, a partir do governo Lula, foi um desarranjo na gestão do sistema público, cujas causas estão em administração deficiente, disputas técnicas e suspeitas sobre as compras de vacinas (HPV, por exemplo).

Governo Maduro tenta deter hiperinflação com pirotecnias: Editorial Valor Econômico

Em crise terminal, a Venezuela encara agora um tardio Programa de Recuperação, Crescimento e Prosperidade Econômica, um título exemplar da grandiloquência oficialista que contrasta com a penúria do país. Até sexta-feira formalmente milionários, com salário mínimo de 60 milhões de bolívares fortes, os venezuelanos nada compram com essa montanha de papel pintado. E, ainda que valessem algo, não encontrariam a maioria dos bens básicos cotidianos de que necessitam, em falta há muito tempo. Na segunda, o governo de Nicolás Maduro deu início à troca de moedas, na qual o bolívar forte perdeu 5 zeros e transmutou-se em bolívar soberano. O salário mínimo foi aumentado em 3.365% e o câmbio, desvalorizado em 95%.

O plano rompe longos meses de inação e tentará deter uma inflação que já escapou há muito do controle. O Fundo Monetário Internacional estima que o ano termine com um galope de preços de 1 milhão por cento. A Assembleia Legislativa, colocada no ostracismo pela Constituinte chavista, calcula que o ritmo atual é de 82.700%, com variação mensal de preços de 125% (julho). À escassez de mercadorias e carestia soma-se uma recessão que em cinco anos reduziu o Produto Interno Bruto a quase 50%, uma dilapidação de riqueza só comparável a calamidades, como guerras civis.

A primeira missão do plano de Maduro é prática. Tornou-se impossível a troca física de dinheiro por mercadorias. Cortaram-se cinco zeros, depois de outros três cortados em 2008, o que torna um velho bolívar o equivalente a 100 milhões de bolívares fortes. O dólar, que quando Chávez tomou posse valia 0,55 bolívar, passou a valer até sexta-feira, 60 milhões de bolívares fortes e, agora, 60 bolívares soberanos, uma multiplicação de mais de 11 milhões de vezes (cálculos do jornal Tal Cual).

Alckmin: 'campanha está começando a embalar agora'

Roberta Pennafort | O Estado de S.Paulo

RIO – Ao comentar seu desempenho nas pesquisas de intenção de voto para presidente, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, se disse “otimista” nesta terça-feira, 21, e afirmou que a campanha “está começado a embalar agora”. O tucano está em quarto lugar na última sondagem, do Ibope. Ele rechaçou a fala do oponente Fernando Haddad, candidato a vice-presidente pelo PT, de que o governo Michel Temer (MDB) é uma “bola de ferro” para a candidatura tucana. Disse que o candidato de Temer é Henrique Meirelles (MDB), e não ele.

O tucano se intitulou o “candidato para fazer o Brasil crescer” quando lhe foi perguntado se ele era o nome ideal para “acalmar o mercado”.

“Vamos ganhar a eleição, a bolsa vai para mais de 100 mil pontos, vai ter muito investimento. Para ter investimento, tem que ter confiança, e isso que nós vamos trazer de volta. O Brasil tem pressa”, declarou a jornalistas. Disse ainda que o grande tema dessas eleições é a criação de empregos e afirmou que o Rio precisa resolver sua segurança pública para sair da crise, crescer e recuperar postos de trabalho.

Sobre as pesquisas, comentou: “Vamos para o segundo turno, e estando no segundo turno, a chance de ganhar é muito grande. Estamos muito otimistas. A campanha nem começou ainda, agora está começando a embalar. Tem pessoas que se impressionam com pesquisa. É preciso acreditar na campanha. É agora que o povo vai começar a definir seu voto”, afirmou Alckmin a jornalistas. Ele citou a situação no Tocantins, que passou por eleições recentes em que o vencedor não era líder das pesquisas.

Antes, ele participou de encontro no Rio com candidatos a deputado pelo PSDB e partidos coligados no Rio, DEM, PP, PTB, Solidariedade e PPS, e cabos eleitorais, evento realizado no espaço de convenções Riocentro. Ainda nesta terça-feira, Alckmin vai ser recebido pelo arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, na Arquidiciose.

O levantamento do Ibope, divulgado segunda-feira, mostrou que no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – preso pela Lava Lato e ainda na dependência de posicionamento da Justiça Eleitoral sobre sua candidatura –, Jair Bolsonaro (PSL) tem 20% das intenções de voto, e aparece em primeiro lugar. Depois vêm Marina Silva(Rede), com 12%, e Ciro Gomes (PDT), com 9%.

O tucano está em quarto, com 7%, à frente de Fernando Haddad (PT), que tem 4%. Na pergunta em que Lula é incluído, ele também figura em quarto lugar: 37% dos entrevistados disseram votar no ex-presidente, 18% em Bolsonaro, e 6% em Marina. Alckmin e Ciro aparecem empatados com o percentual de 5%. O ex-governador é o terceiro em índçice de rejeição (25%), atrás de Bolsonaro (37%) e Lula (30%).

No evento no Riocentro, também estiveram presentes para fazer campanha, entre outros políticos, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), candidato à reeleição; seu pai, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia, candidato do DEM ao Senado; o candidato a vice-governador na chapa com Eduardo Paes (DEM), Comte Bittencourt (PPS) – sem a presença de Paes, que não subirá em palanques de presidenciáveis no Rio –; e o atual vice-governador do Rio, Francisco Dornelles (PP).

Em discurso, Rodrigo Maia defendeu que Alckmin é o melhor nome em se tratando de ajudar o Rio a deixar a crise para trás, seja a financeira, seja a da segurança pública, e defendeu a manutenção da intervenção federal nesta área, iniciada em fevereiro. Maia ainda vislumbrou a presença do tucano no segundo turno com o provável candidato do PT. “O único candidato que pode derrotar no segundo turno o candidato do PT, Fernando Haddad, se chama Geraldo Alckmin”, afirmou.

A candidata a vice de Alckmin, senadora Ana Amélia (PP), disse que o tucano deverá ter mais mulheres em seu ministério, numa eventual vitória, do que o tem o presidente Michel Temer (MDB), e exaltou a gestão dele na segurança em São Paulo. “O Rio vai respirar aliviado, os turistas voltarão (com Alckmin presidente)”, garantiu, referindo-se à violência no Estado.

Na saída, Alckmin, perguntado por jornalistas sobre a ausência de Paes, disse que não viu problema na falta, e que Comte o representou.

'É preciso acreditar na campanha', diz Alckmin

Presidenciável promete investimento no País

Italo Nogueira | Folha de S. Paulo

RIO DE JANEIRO - O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) minimizou nesta terça-feira (21) o resultado da pesquisa Ibope que o coloca numericamente em quarto lugar nas intenções de voto para a Presidência da República no cenário sem o ex-presidente Lula.

Ele afirmou que a definição do voto deve ocorrer nas últimas semanas de campanha. Ele está com 7% das intenções de voto, segundo o Ibope, empatado tecnicamente com Ciro Gomes (PDT), que aparece com 9%. Estão a frente Jair Bolsonaro (PSL), com 20%, e Marina Silva (Rede), com 12%.

“A campanha nem começou. Tem pessoas que se impressionam com pesquisa eleitoral. Em Tocantins, foi a última eleição, no mês passado. Quem estava em primeiro e segundo lugar a dez dias da eleição nem foi para o segundo turno. Para isso que tem campanha. É preciso acreditar na campanha. Agora que o povo vai começar definir o seu voto”, disse ele.

Ele afirmou ainda que, caso eleito, a Bolsa de Valores vai superar os 100 mil pontos. Ela opera nesta terça com 75 mil após forte onda especulativa em razão do resultado da pesquisa.
“Nós vamos ganhar a eleição, a bolsa vai para mais de 100 mil pontos. Vai ter muito investimento no Brasil. O Brasil para crescer precisa de investimento. E para ter investimento, é preciso confiança. Nós não vamos melhorar a situação com voluntarismo, mas com reformas”, afirmou o tucano.

Alckmin participou de um evento com aliados no Riocentro, centro de convenções na zona oeste do Rio. O salão com capacidade para 4.000 pessoas apresentava amplo espaço e cadeiras vazias.

Uma ausência do evento foi o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), candidato ao governo do Rio de Janeiro apoiado pelo PSDB e a maioria dos partidos do centrão.

Alckmin chegou a divulgar a presença do candidato, que preferiu fazer campanha em São Gonçalo. Paes já afirmou que não se engajará em campanha presidencial no primeiro turno por ter o apoio de siglas que apoiam diferentes nomes ao Planalto.

O tucano fez um discurso voltado para a segurança pública. Ele afirmou que a intervenção federal não será permanente, mas defendeu um prazo de transição após o início do novo governo.

O ex-governador também comentou a morte de dois militares do Exército durante as ações da intervenção federal na segurança pública do estado.

“Quero trazer minha solidariedade às famílias que tiveram vítimas mortas. Uma palavra especial aos dois policiais que também tiveram aqui a perda de sua vida. Nossos heróis procurando defender a população”, declarou o tucano.

FHC contesta Lula em artigo ao FT: ‘Ficção prejudicial ao Brasil’

Por Carolina Freitas | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) confrontou a narrativa do PT sobre a situação jurídica e política de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O partido faz uma ofensiva internacional pela candidatura de Lula ao Planalto, em que coloca o petista como vítima de perseguição. Em artigo publicado nesta terça-feira no jornal “Financial Times”, do Reino Unido, o tucano diz que o discurso do PT “é uma ficção prejudicial” ao Brasil. “É uma grave distorção da realidade dizer que há uma campanha direcionada no Brasil para perseguir indivíduos específicos. Meu país merece mais respeito”, escreve FHC.

“Lula tem todo o direito de defender seu ponto de vista no país e no exterior no que se refere aos procedimentos legais que pesam sobre ele”, escreve. “A maneira pela qual Lula da Silva escolheu se defender perante o mundo, no entanto, precisa ser contestada.” Para Fernando Henrique, Lula “retrata o Brasil como uma democracia em ruínas”, onde “o Estado de direito cedeu lugar a medidas arbitrárias”. “Isso não é verdade”, sustenta Fernando Henrique.

Segundo o tucano, o caso de Lula não é isolado. “No Brasil, há políticos de todos os partidos na prisão, e do próprio PSDB.” O tucano Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais, foi preso em maio depois de ter sido condenado a 20 anos por peculato e lavagem de dinheiro no mensalão mineiro.

No artigo, Fernando Henrique contesta também o argumento de que o impeachment de Dilma Rousseff (PT) foi um golpe e que o Brasil estivesse “sem rumo” quando Lula assumiu - sucedendo ao próprio FHC, em 2003.

Abaixo, a íntegra do artigo traduzido pelo Valor*:

‘Meu país merece mais respeito’, afirma FHC em resposta a artigo de Lula

Em artigo publicado no jornal inglês 'Financial Times', o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contesta que o Brasil estava sem direção quando Lula assumiu a Presidência e diz que o petista se faz de vítima

- O Estado de S.Paulo

Em artigo publicado nesta terça-feira, 21, pelo jornal inglês Financial Times, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso rebate as afirmações feitas pelo seu sucessor na Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em texto divulgado semana passada no The New York Times, onde o petista condenado e preso pela Operação Lava Jato afirma que há um golpe de direita em andamento no Brasil para que ele não concorra às eleições deste ano. FHC afirma que Lula retrata o País como uma “democracia em ruínas”, na qual a lei foi usada de maneira arbitrária para minar o petista e seu partido, o que não é verdade. “Meu país merece mais respeito”, cobrou o ex-presidente tucano.

No artigo, FHC afirma que a visão sobre o Brasil do seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, é uma "ficção danosa". "Meu sucessor como Presidente falsamente se apresenta como vítima de uma conspiração da 'elite'", acusou, acrescentando que o retrato pintado pelo petista de que o País conta com uma democracia em ruínas, na qual o Estado de Direito deu lugar a medidas arbitrárias destinadas a enfraquecê-lo e a seu partido, não é verdade.

Em seguida, FHC diz que a visão de Lula "é uma versão peculiar das últimas décadas da história do Brasil, na qual ele, às vezes, aparece como o salvador do povo e, às vezes, como vítima de uma conspiração de “elite”. O ex-presidente escreve ainda que o caso de Lula não é isolado e que, no Brasil, há políticos de todos os partidos na prisão e salienta que a Operação Lava Jato descobriu um esquema de desvio de bilhões de dólares para o Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula. "O Brasil está passando por um doloroso, mas necessário processo de reaplicação da sua vida pública, e as ações do Ministério Público Federal e do Poder Judiciário fazem parte disso. Nem sempre me sinto à vontade com a extensão das penas impostas ou com a expansão da prisão preventiva, na qual o acusado é preso antes mesmo de seu primeiro julgamento em um tribunal inferior. É uma grave distorção da realidade, no entanto, dizer que há uma campanha direcionada no Brasil para perseguir indivíduos específicos. Meu País merece mais respeito."

Em outro trecho, Fernando Henrique também responde à declaração de Lula sobre a situação brasileira em 2003. “Também não é verdade, como Lula afirma, que o Brasil não tinha direção antes de ele assumir a Presidência, em 2003. É preciso lembrar que a estabilização depois de anos de hiperinflação começou com o Plano Real, lançado pelo ex-presidente Itamar Franco, e continuou no meu governo. Esse também foi um período marcado pelo estabelecimento de programas de bem-estar social que Lula posteriormente iria expandir”, ressalta o tucano.

"O impeachment e a destituição da Presidente Dilma Rousseff em 2016 não foram, ao contrário do que Lula afirma, um golpe de Estado. Foi o resultado, entre outras coisas, da violação do seu governo à lei de responsabilidade fiscal do Brasil no período que antecedeu a eleição de 2014", defendeu.

Para Fernando Henrique Cardoso, o processo de impeachment seguiu todos os trâmites constitucionais sob a supervisão da Suprema Corte brasileira, na qual a maioria dos juízes foi nomeada por Lula e Dilma. "Minha crítica não é motivada pelo antagonismo pessoal. Lula e eu lutamos juntos contra o regime autoritário que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Quando, depois, concorremos um contra o outro em eleições democráticas, mantive uma relação construtiva com ele", relatou."Lamento que o ex-presidente enfrente acusações de corrupção e lavagem de dinheiro. Mas o fato é que os processos judiciais em que ele esteve envolvido seguiram o devido processo e foram conduzidos de acordo com a Constituição e o estado de direito", acrescentou.

O caso de Lula não é isolado, segundo o artigo. O autor lembrou que há políticos de todos os partidos na prisão, inclusive membros do PSDB, ao qual é ligado. Ele também citou que a inelegibilidade de Lula para concorrer à Presidência nas próximas eleições é a consequência de uma iniciativa popular que recebeu mais de 1 milhão de assinaturas, foi aprovada pelo Congresso e sancionada pelo próprio ex-Presidente em 2010. FHC ressaltou que a iniciativa foi uma resposta ao escândalo Mensalão, descoberto em 2005, mas que não impediu que outro, ainda maior, fosse perpetrado em algumas das maiores estatais, particularmente a Petrobras.

Sonho de todos é ir com Bolsonaro ao 2º turno, diz Alckmin

Para candidato do PSDB, adversários preferem enfrentar capitão reformado a tucano

Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em resposta a declarações como a do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre eventual aliança entre PT e o PSDB para derrotar Jair Bolsonaro (PSL), o tucano Geraldo Alckmin tem dito que a narrativa interessa a seus adversários.

"O sonho de todo mundo é ir com Bolsonaro para o segundo turno", diz o presidenciável a interlocutores, quando questionado sobre a aventada aliança com o PT.

De acordo com o raciocínio exposto pelo candidato do PSDB, o capitão reformado seria mais derrotável do que ele próprio pelo perfil desagregador. Assim, para o PT conviria descrer publicamente de Alckmin e trabalhar para ter Bolsonaro como adversário no segundo turno.

Foi o que fez na segunda (20) Fernando Haddad (PT), candidato a vice de Luiz Inácio Lula da Silva e potencial cabeça da chapa petista. "Alckmin tem duas dificuldades. Uma é a existência de Bolsonaro. Outra é a bola de ferro no pé do governo Temer", disse o ex-prefeito paulistano no programa Canal Livre, da Band, reforçando a associação entre o tucano e o presidente mais rejeitado da história recente do país.

A tese de que a eleição de outubro repetirá a polarização entre PT e PSDB embasa a estratégia de campanha de Alckmin, que tenta barrar Bolsonaro e retomar o eleitorado azul que hoje simpatiza com o militar.

No entanto, aliados do tucano recuaram uma casa em sua convicção. Avaliam que a resiliência de Bolsonaro nas pesquisas acende um sinal de alerta não apenas para o tucano, mas também para o PT.

Para o PSDB, porque nem no segundo turno as pesquisas são amplamente confortáveis para Alckmin. Para o PT, porque a rejeição a Lula não é desprezível.

A se somar ao quadro, para alckmistas, Ciro Gomes (PDT) demonstrou reação depois de ser isolado por Lula ao prometer limpar o nome de 63 milhões de endividados e continuou numericamente à frente do tucano nas pesquisas de intenção de voto.

A equipe de Alckmin espera conseguir resultado comparável com a bandeira do fim do voto obrigatório levantada pelo candidato na segunda (20).

Estratégia do PT alimenta também seu antagonista, Bolsonaro

Movimentação parece ter revigorado simpatizantes, mas pode cristalizar figura do deputado

Mauro Paulino \ Alessandro Janoni | Folha de S. Paulo

O saldo dos últimos acontecimentos no cenário eleitoral mexeu com o imaginário da opinião pública. O registro da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e principalmente sua repercussão, despertam parte importante do eleitorado, que, nos últimos meses, com sua prisão, mostrava-se letárgica.

No entanto, se a estratégia petista parece ter revigorado a esperança de parcela de seus simpatizantes, por outro pode cristalizar a figura de seu antagonista —Jair Bolsonaro (PSL) tem vantagem sobre Marina Silva (Rede) fora da margem de erro, em simulação sem Lula.

A ex-ministra fica isolada na segunda colocação e deixa para trás Ciro Gomes (PDT), que briga com Geraldo Alckmin (PSDB) pelo terceiro lugar.

Haddad (PT), virtual substituto de Lula, fica no pelotão de baixo, com 4%, mesmo percentual obtido por Alvaro Dias (Pode).

O imbróglio gera ruído em uma campanha de “tiro curto”, com pouco espaço para manobras arriscadas, especialmente numa eleição em que o desinteresse é o mais alto desde 1994.

A evolução da intenção de voto espontânea, sem estímulos dos nomes dos candidatos, fornece o diagnóstico claro. Nessa situação, menções ao ex-presidente vinham caindo gradativamente desde a sua prisão em abril.

Agora, com o registro de sua candidatura, as citações cresceram dez pontos percentuais, principalmente nos segmentos que historicamente o apoiam, como os menos escolarizados, de menor renda e moradores do Nordeste.

Mas Bolsonaro também subiu. E com padrão mais intenso do que o observado em oscilações anteriores —três pontos nos últimos dois meses e cinco pontos, se consideradas as pesquisas feitas desde janeiro. De junho até aqui, seu crescimento na espontânea é mais nítido especialmente na Região Sul.

Líder, Bolsonaro é rejeitado por 41% das mulheres

Candidato do PSL também tem elevada resistência entre jovens e no Nordeste, de acordo com a pesquisa Ibope mais recente

Eduardo Bresciani | O Globo

BRASÍLIA - Líder no cenário mais provável para a eleição, sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado Jair Bolsonaro (PSL) é mais rejeitado entre as mulheres. Também enfrenta maior resistência entre jovens eleitores e na região Nordeste. Os dados são da pesquisa Ibope, contratada pela TV Globo e pelo jornal O Estado de S.Paulo.

O candidato do PSL tem 37% de rejeição no total. De acordo com o levantamento, 41% das mulheres afirmaram que não votariam nele de jeito nenhum, taxa que ficou em 33% entre os homens. A dificuldade do candidato entre as mulheres vem sendo explorada por adversários. Recentemente, o ex-capitão foi confrontado por Marina Silva (Rede) sobre a falta de propostas para o público feminino.

Na região Nordeste, onde Lula historicamente apresenta seus melhores números, a resistência a Bolsonaro alcança 46%, taxa que cai nas demais regiões. No Norte e no Centro Oeste é de 30%, enquanto no Sudeste é de 34%, e no Sul, 39%.

‘Não adianta querer vestir Haddad de Lula’

Para Jaques Wagner, é melhor que ex-prefeito seja diferente do líder do PT para mostrar ‘renovação’; governador da Bahia, Rui Costa, por sua vez, diz que ideia representada pelo ex-presidente, líder nas pesquisas, está simbolizada no número 13 do partido

Sérgio Roxo | O Globo

SALVADOR - No momento em que o PT discute formas de transferir votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para Fernando Haddad, o exministro Jaques Wagner afirmou que não adianta querer vestir o ex-prefeito de São Paulo de Lula “porque ele não é Lula”. No início de seu giro pelo Nordeste, principal reduto eleitoral do PT, Haddad afirmou que não está sendo apresentado à região porque já esteve várias vezes por lá como ministro da Educação.

Wagner também era cotado para ser vice na chapa presidencial petista e, consequentemente, ocupar o posto de candidato ao Palácio do Planalto se a Justiça Eleitoral confirmar a inelegibilidade de Lula com base na Lei da Ficha Limpa. Mas recusou a missão e preferiu disputar o Senado pela Bahia.

—Não adianta querer vesti-lo de Lula. Ele não é o Lula, como a Dilma não era. Cada um tem o seu jeito. As pessoas dizem: ‘Você seria melhor’ (como plano B). É que meu jeito é mais parecido (com o de Lula). Mas não sei se é bom ser igual. Acho bom que seja alguém diferente, que aposte na renovação. Nós não podemos ficar reféns de um jeito. A gente tem que defender uma ideia —disse Wagner

Pesquisa do Ibope divulgada na segunda-feira mostrou Lula à frente, com 37% das intenções de voto. No cenário sem ele, Jair Bolsonaro (PSL) lidera, e Haddad aparece em quinto, com 4%. Petistas acreditam que a transferência de votos se dará quando o ex-prefeito de São Paulo assumir formalmente a cabeça da chapa e for divulgado que ele é o candidato de Lula.

Para conseguir herdar os votos de seu padrinho político, Haddad precisará se popularizar no Nordeste.

AÇÃO POR IMPROBIDADE
Em entrevista na capital baiana, o ex-prefeito garantiu que conhece bem o Nordeste e que, como ministro da Educação, “não saía da região”, porque Lula pedia a seus auxiliares que rodassem o país:

— Não estou sendo apresentado ao Nordeste. A gente vinha trabalhar aqui.

Haddad foi questionado várias vezes sobre a sua estratégia para herdar os votos de Lula e se desdobrou para manter o discurso de que não é o candidato a presidente.

Candidatos reveem estratégias nas eleições 2018 após pesquisa Ibope

Resiliência de Bolsonaro e Lula nas sondagens de intenções de voto alerta campanhas; entorno de Alckmin defende postura mais incisiva

Adriana Ferraz, Gilberto Amendola, Marianna Holanda, Ricardo Galhardo, Constança Rezende, Roberta Pennafort e Fabio Leite | O Estado de S.Paulo

Pesquisa Ibope/Estado/TV Globo que mostrou Jair Bolsonaro (PSL) como líder isolado num cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva – preso e condenado na Lava Jato – fez algumas das principais campanhas reavaliarem rumos na disputa presidencial nas eleições 2018. A resiliência de Bolsonaro e de Lula nas sondagens de intenções de voto deixou adversários em alerta a pouco mais de uma semana do início do horário eleitoral no rádio e na TV.

Mesmo cumprindo prisão em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-presidente, que foi registrado como candidato do PT, alcança 37% da preferência do eleitorado. Quando o petista é excluído da disputa, Bolsonaro segue líder com 20%, seguido por Marina Silva (12%), da Rede; Ciro Gomes (9%), do PDT; e Geraldo Alckmin(7%), do PSDB. Como Lula está potencialmente inelegível com base na Lei da Ficha Limpa, ele deverá ser substituído por Fernando Haddad, que alcançou 4% na medição do Ibope – a primeira do instituto após o início oficial da campanha.

Segundo analistas, a campanha presidencial está prestes a entrar numa fase decisiva, quando serão testadas a força do palanque eletrônico e a capacidade de transferência de votos de Lula.

A campanha de Alckmin recebeu com apreensão o resultado. A equipe do tucano não esperava que ele aparecesse colado em Bolsonaro, nem mesmo à frente de Marina, mas avaliava que ele teria um patamar de largada mais próximo dos dois dígitos – 8% ou 9% – no cenário sem Lula, após o anúncio do sua aliança com o Centrão e a participação em sabatinas, entrevistas e eventos de campanha.

Geraldo Alckmin garante que, se eleito, irá liderar combate ao crime organizado

Em visita ao Rio de Janeiro nesta terça-feira, onde participou de encontro com lideranças políticas no Riocentro, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, reforçou seu compromisso com a Segurança Pública. “O governo federal tem que liderar o combate ao crime organizado”, afirmou. Na sequência, o presidenciável se reuniu com o Arcebispo Dom Orani Tempesta, com quem também tratou sobre o tema: “A luta pela paz é de todos”, resumiu.

Ao sair da visita a Dom Orani, Alckmin reforçou a reforçou a importância da congregação de forças entre governos e sociedade civil para garantir a segurança da população. Assim como associações de bairro e organizações sociais, as igrejas têm papel no combate à violência. “É uma luta de todos, mas que deve ser liderada pela União”, afirmou.

“O crime não tem fronteiras. O tráfico de drogas, armas e o contrabando exigem uma ação rigorosa do governo federal. Não tenho dúvida de que vamos reduzir os índices de criminalidade.

Nós já fizemos. Em São Paulo, tínhamos 13 mil assassinatos por ano. Ano passado foram 3,5 mil”, disse Alckmin no Riocentro. “Nós não vamos resolver o problema da segurança na base do grito.

Vamos resolver com gente, com policiais bem treinados, com a Guarda Nacional que vamos criar, com gestão, integrando inteligência, informação e tecnologia”, prosseguiu o candidato.

Alckmin explicou que hoje a Força Nacional é um auxílio transitório aos Estados, porque é emprestada de um para o outro.

Já a Guarda Nacional proposta pelo presidenciável será permanente. Sobre a situação no Rio de Janeiro, afirmou que a intervenção federal não pode ser permanente. “O governo federal tem que ser parceiro do Rio. Tem que trabalhar arduamente com o governo do Estado. Vamos fortalecer também os municípios, para que tenham atuação na prevenção primária”, afirmou.

Monica De Bolle: Cartilha anos 80 de Maduro

- O Estado de S.Paulo

O petro não é uma criptomoeda, mas um ativo digital atrelado a outro físico, no caso, os barris de petróleo

Vou revelar minha idade: tenho lembranças vívidas da turbulência brasileira dos anos 80, dos planos fracassados, dos zeros cortados, dos preços congelados e posteriormente descontrolados, e das desvalorizações sucessivas. 

A cartilha seguida pelo Brasil, pela Argentina, pelo Uruguai, entre outros, para lidar com as hiperinflações que os assolavam era sempre mais ou menos a mesma – engendrava-se uma maxidesvalorização da moeda, obliterava-se punhado de zeros, geralmente três para facilitar, e atrelava-se novamente o valor da moeda local ao dólar. Desde 1938, o Brasil teve nove moedas até chegar ao real. Várias dessas “reformas monetárias” envolveram cortes de zeros, e a maioria ocorreu durante planos de estabilização econômica que tinham como um de seus principais objetivos reduzir a inflação.

É claro que, no contexto latino americano dos anos 80, diferentes governos tentaram implantar outras reformas, junto com a cartilha monetária, para controlar a inflação. Quase todos lançaram mão de congelamentos de preços, alguns tentaram emplacar ajustes fiscais, vários recorreram ao FMI.

Contudo, sabemos como a história terminou, sobretudo no Brasil e na Argentina: fracassos recorrentes, hiperinflações renitentes, e crises externas em série. A Argentina conseguiu eliminar a hiperinflação no início dos anos 90 com plano que, década mais tarde e após várias intempéries e má gestão econômica, acabou resultando na pior crise de sua história.

Já o Brasil finalmente desmontou o processo hiperinflacionário com o Plano Real e com as reformas que o acompanharam. Apesar de termos tido desajustes econômicos desde então, jamais retornamos aos níveis estratosféricos de alta de preços que nos assombraram por mais de duas décadas até 1995. Evidentemente, é importante entender porque a hiperinflação jamais voltou. Para isso, é importante compreender o que é uma hiperinflação.

Mais do que a alta galopante e desordenada de preços, a hiperinflação é espelho da falência institucional generalizada de um país. Trata-se não apenas de políticas econômicas malfeitas, mas de bancos centrais destruídos, ministérios da fazenda cupinizados pela interferência política e governos incapazes ou refratários a introduzir reformas que reconstruam o que foi severamente danificado.

Paulinho da Viola - Coisas do mundo minha nêga

Manuel Bandeira: Trem de Ferro

Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vaou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)