Raquel Ulhôa e Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA - A conjugação das crises política e econômica fez desabar para um dígito a aprovação do governo Dilma Rousseff, segundo pesquisa CNI-Ibope divulgada ontem. O percentual de entrevistados que considera o governo ótimo ou bom caiu de 12%, em março, para 9%. A rejeição chegou a 68%. O resultado levou lideranças da oposição a defenderem a renúncia da presidente. Já lideranças governistas atribuíram o resultado da pesquisa à retração da economia e pediram tempo para que o ajuste fiscal mostre resultados. Em viagem nos Estados Unidos, Dilma limitou-se a dizer que não comenta pesquisa, "nem quando sobe nem quando desce"
"Não há mais como governar com níveis tão baixos de confiança. A renúncia seria uma postura de estadista, que a presidente insiste em não ter", afirmou o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO). "Para que o Brasil tenha seu sofrimento abreviado, renuncie, Dilma Rousseff", afirmou da tribuna o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB).
A pesquisa não mediu a reação dos brasileiros à delação premiada do presidente da UTC, Ricardo Pessoal, no âmbito da Operação Lava-Jato. O depoimento implicou dois ministros do governo Dilma, e veio a público no dia 26, enquanto o levantamento que ouviu 2002 pessoas foi feito entre os dias 18 e 21 de junho.
Em tom de cautela, o presidente da República em exercício, Michel Temer ponderou que todo governo tem "altos e baixos". Ele reconheceu que Dilma "está em uma posição de baixa", mas lembrou que ela está em "bem sucedida" viagem oficial aos Estados Unidos, de onde trará "melhores notícias". Segundo ele, em "pouquíssimo tempo teremos um crescimento da popularidade do governo e da presidente".
Na mesma linha, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que a pesquisa é um "retrato do momento". Cardozo ressaltou que o governo "vai no caminho correto" e que haverá "grande reversão" da popularidade de
Dilma até o fim do mandato.
Temer minimizou, ainda, o ambiente de crise política que traz instabilidade ao governo. Segundo o pemedebista, o que existe é uma "dificuldade econômica", que pode ser superada com o engajamento dos três poderes. Ele discursou na posse da nova presidente do PCdoB, Luciana Santos, na presença dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que representam o Legislativo.
"Não há crise institucional, vivemos um período de extraordinária tranquilidade democrática", disse Temer. "O que existe é uma dificuldade econômica", que segundo ele será superada com o engajamento dos três Poderes.
Também atribuindo à crise econômica a má avaliação de Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão defendeu a redução da meta de superávit primário a fim de liberar mais recursos para investimentos. "A economia precisa voltar a crescer e ela [Dilma] está tomando medidas para isso", disse Falcão.
O dirigente citou itens da pauta positiva do governo, como o Programa de Investimentos em Logística (PIL) e o novo plano de exportações, que podem impulsionar a economia. Falcão ressalvou que a população ainda não foi influenciada pela agenda positiva do governo.
Em sintonia com o dirigente petista, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que a má avaliação de Dilma é momentânea e deve melhorar com os efeitos das medidas de ajuste fiscal. "Vejo com absoluta tranquilidade [a pesquisa]", disse Guimarães. "O ajuste ainda está em processo de execução para equilibrar as contas e até retomar o crescimento, no fim do ano coisas vão continuar nesses patamares", reconheceu.
A conjuntura revelada pela pesquisa é de pessimismo. O percentual da população que considera o governo ruim ou péssimo subiu de 64% para 68% e é o pior desempenho de um governante nos últimos 29 anos, segundo a série histórica divulgada pela CNI. Fora o governo Dilma, somente a gestão de José Sarney (1985-90), do PMDB, atingiu 64% de ruim e péssimo em julho de 1989.
Já a desaprovação da presidente cresceu cinco pontos percentuais desde março, quando estava em 78%, e chegou a 83% da população. A aprovação pessoal de Dilma caiu de 19% para 15% nesses três últimos meses. Já o percentual de entrevistados que confiam nela recuou de 24% para 20% no período, enquanto 78% não confiam na presidente (eram 74% em março).
O gerente de pesquisa da CNI, Renato Fonseca, disse não descartar nova queda de aprovação do governo porque, segundo ele, essa avaliação está muito atrelada ao desempenho da economia e do emprego, e não há sinais de recuperação até o fim do ano.
"A aprovação pode cair ou ainda se recuperar, mas o quadro econômico não é favorável", apontou. Ele pondera que os brasileiros consideram a evolução dos preços nos supermercados, nas lojas, nas farmácias, e no momento avaliam que não param de subir. "Inflação e desemprego assustam a população", definiu.
O gerente de pesquisa da CNI acrescentou que estudos realizados no mundo mostram que a questão econômica afeta a popularidade dos presidentes. "A pessoa responsabiliza o presidente pelo desemprego e por não conseguir manter o mesmo padrão de vida", disse. No caso do Brasil, ele lembra que o país passa por um ajuste fiscal, que implica medidas impopulares.
"Esperamos que o ajuste seja feito rapidamente, e o período negativo passe rápido. Acho que o governo aposta nisso, que precisa controlar a inflação rapidamente para que as pessoas recuperem a confiança no governo", afirmou Fonseca. Para ele, a conjugação dos fatores político e econômico é muito ruim.
O gerente de pesquisa da CNI lembra que uma conjuntura como essa, com problemas na política e na economia, só ocorreu na história recente do país no governo Sarney, no fim dos anos 80, quando frustraram os planos econômicos e o então presidente estava enfraquecido politicamente.
A pesquisa revela, ainda, que a agenda positiva do governo, com o lançamento de novos programas, não teve repercussão na população. Isso porque, ao serem perguntados sobre as notícias mais lembradas, os entrevistados citaram denúncias de corrupção, a Operação Lava-Jato - que investiga desvios na Petrobras - e mudanças na aposentadoria e seguro-desemprego. "A inflação e o medo do desemprego estão mais próximos das pessoas", sublinha.
A pesquisa CNI-Ibope revela que a população está mais pessimista. O percentual de entrevistados que considera o segundo mandato de Dilma pior que o primeiro subiu de 76% para 82% desde março. Pelo levantamento, 61% dos brasileiros estão pessimistas, enquanto em março esse índice era de 55%. Os otimistas caíram de 14% para 11%.
A maior insatisfação é com a política monetária: 90% desaprovam as taxas de juros praticadas pelo Banco Central e 90% reprovam a cobrança de impostos. Na sequência, as áreas pior avaliadas no governo são o combate à inflação e as políticas de saúde, reprovadas por 86% dos brasileiros. Em seguida, 84% dos brasileiros rejeitam a política de segurança pública e 83%, o combate ao desemprego.
De outro lado, os temas com menor rejeição da população são o combate à fome e à pobreza, e as políticas de meio ambiente e educação. A pesquisa mostra que 29% aprovam o combate à miséria, enquanto 27% aprovam a proteção ao meio ambiente, e 24%, as políticas de educação.
Na região Nordeste, onde a presidente sempre foi bem votada, ocorreu a maior queda no percentual dos que consideram o governo ótimo ou bom. Foram cinco pontos percentuais, chegando a 13% na região. Mesmo assim, a popularidade de Dilma continua maior nessa região. (Colaboraram Letícia Casado, Raphael Di Cunto,Thiago Resende, de Brasília; Sergio Lamucci e Pedro A. L. Costa, de Mountain View - EUA)