quinta-feira, 2 de julho de 2015

Opinião do dia – Elio Gaspari

Há ainda outra diferença entre os presos que eram torturados nos DOI e os que passam pela Lava-Jato. Uns sequestravam diplomatas, assaltavam bancos e roubaram o cofre onde a namorada de um ex-governador de São Paulo guardava dois milhões de dólares, parte dos quais vindos de empreiteiras. Seus alvos faziam parte do arco de interesses que todos, inclusive a doutora, pretendiam destruir. Nenhum deles pensava em aumentar seu patrimônio. Os empreiteiros da Lava-Jato buscavam o enriquecimento pessoal e o PT enfiou-se nesse mundo de pixulecos porque quis.

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Elio Gaspari é jornalista. Dilma e os delatores. O Globo, 01 de julho de 2015.

Dilma já disse que delação é 'método legítmo'

Leticia Fernandes – O Globo

• Presidente assinou decretos que validaram o instrumento judicial

Ao responder uma pergunta sobre a Operação Lava-Jato, seis dias antes de ser reeleita, a presidente Dilma Rousseff disse à revista "Carta Capital": "Para obter as provas, a Justiça e o Ministério Público valeram-se da delação premiada, um método legítimo, previsto em lei. E muito útil para desmontar esquemas de corrupção. Na Itália, contra a máfia, funcionou muito bem". A declaração, em outubro do ano passado, contrasta com o juízo feito por Dilma na última segunda-feira, em viagem aos Estados Unidos, para comentar a delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC.

O empresário disse que doou para a campanha de Dilma para manter contratos na Petrobras. Dilma reagiu dizendo que "não respeita delator", fez analogias entre o esquema de corrupção na Petrobras e a Inconfidência Mineira e ainda comparou o instrumento da colaboração premiada às delações obtidas sob tortura na ditadura:

- Em Minas (Gerais), na escola, quando você aprende sobre a Inconfidência Mineira, tem um personagem que a gente não gosta porque as professoras nos ensinam a não gostar dele. Ele se chama Joaquim Silvério dos Reis, o delator. Eu não respeito delator. Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é. Tentaram me transformar em uma delatora; a ditadura fazia isso com as pessoas presas. E eu garanto para vocês que eu resisti bravamente, até em alguns momentos fui mal interpretada, quando eu disse que, em tortura, a gente tem de resistir, porque senão você entrega seus presos. Então, não respeito nenhum - afirmou, na saída de um seminário em Nova York.

Se no ano passado Dilma defendia o instrumento que hoje ataca, foi durante o seu primeiro mandato, em 2013, que a colaboração premiada foi institucionalizada no país. No dia 2 de agosto, um dias depois de ter aprovado a Lei Anticorrupção - que criou os acordos de leniência, uma espécie de delação para empresas -, Dilma sancionou, sem vetos, a Lei de Organizações Criminosas. Foi a primeira vez que o termo "colaboração premiada" apareceu, por escrito, na legislação brasileira. Em março deste ano, a presidente lançou em cerimônia o Pacote Anticorrupção.

Nessa lei, há uma seção que detalha os direitos e deveres do colaborador e define que o juiz responsável pode, em caso de contribuição efetiva e voluntária do réu, reduzir a pena privativa de liberdade do acusado em até dois terços ou mesmo conceder o perdão judicial. A concessão do benefício, no entanto, deve levar em conta características como "a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração".

A primeira lei brasileira a prever redução de pena com colaboração foi a de crimes hediondos, de 1990. Cinco anos depois, foi incluída nas leis de crimes contra a ordem tributária e o sistema financeiro nacional. A lei sobre lavagem de dinheiro e ocultação de bens, de 1998, foi a primeira a detalhar os benefícios dos colaboradores e a conduta do juiz: além da redução de pena do autor ou coautor do crime, o colaborador passou a poder cumprir pena em regime aberto ou semiaberto. Em 2006, também foi incluída na lei sobre tráfico de drogas a possibilidade de colaboração com redução de pena.

Órgãos do governo se eximem de responder sobre 'pedaladas'

Vinicius Sassine e Martha Beck – O Globo

• BC transfere responsabilidade de parecer para Fazenda Nacional

BRASÍLIA - O Banco Central, o Ministério da Fazenda e a Advocacia-Geral da União estão fazendo um jogo de empurra para se eximir da necessidade de dar parecer formal sobre a existência ou não de infração à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) na prática das chamadas "pedaladas fiscais". Diante do risco de o Tribunal de Contas da União (TCU) rejeitar as contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff, ninguém quer ser o responsável por botar mais lenha na fogueira.

A Procuradoria-Geral do Banco Central foi instada a se manifestar sobre o assunto, mas transferiu a responsabilidade de um parecer sobre as pedaladas e a LRF à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, como mostra documento de agosto de 2014. O órgão da Fazenda, por sua vez, diz que o assunto é da AGU, que afirma se tratar de um assunto sigiloso.

Os ministros do TCU, em sessão no último dia 17, decidiram dar um prazo de 30 dias para a presidente Dilma se explicar sobre 13 indícios de irregularidades nas contas de 2014, entre eles as "pedaladas". Existe um risco de aprovação de parecer pela rejeição das contas, o que não ocorre desde 1937. O julgamento definitivo será do Congresso Nacional, com base no parecer do TCU.

As "pedaladas" consistiram num atraso nos repasses de recursos do Tesouro Nacional para os bancos públicos, constatados em auditoria do TCU. A prática ocorria desde 2009, segundo o tribunal. A demora obrigou os bancos oficiais a pagar despesas da União (como seguro-desemprego, benefícios do Bolsa Família e abono salarial) com recursos próprios. Para os ministros do TCU, isso caracterizou descumprimento à LRF, pois configura-se empréstimo de instituição controlada (no caso, os bancos) ao controlador (a União), o que é vedado pela lei.

No governo, no entanto, as áreas responsáveis por essa avaliação vêm fugindo de produzir um parecer formal sobre o assunto. Em agosto de 2014, a Procuradoria do BC foi instada a se manifestar e produziu um parecer. O órgão concluiu o parecer dizendo não ter atribuição para analisar a LRF, e que essa era uma competência do Ministério da Fazenda.

"A análise dessa questão, entretanto, extrapola as atribuições legais do Banco Central, pois não se confunde seu papel de entidade responsável pela manutenção da estabilidade financeira, na condição de regulador e supervisor do sistema financeiro", afirma um trecho do parecer da Procuradoria. O documento foi encaminhado à Procuradoria da Fazenda Nacional, que atua no âmbito do Ministério da Fazenda. A instituição, por sua vez, remeteu a responsabilidade à Advocacia Geral da União (AGU).

Procurado pelo GLOBO, o Ministério da Fazenda limitou-se a dizer que "o assunto está sendo tratado pela AGU". A AGU preferiu não se posicionar. O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, tem dito publicamente que não houve desrespeito à LRF nas operações, pois elas não seriam empréstimos e sim contratos de prestação de serviços nos quais quando há atrasos de uma parte, a outra tem que ser ressarcida com correção. No entanto, a AGU informou ao GLOBO que "a política da PGFN é no sentido de não se manifestar em assuntos que estão em sigilo, como a investigação que ora o TCU realiza em relação às contas do governo".

Delator diz que doação fazia parte de 'lobby' do PT

Fausto Macedo, Mateus Coutinho e Ricardo Brandt – O Estado de S. Paulo

CURITIBA - O lobista Julio Gerin Camargo confirmou à Justiça Federal o pagamento de propina em contratos que intermediou na Petrobrás, via Diretoria de Serviços, que teriam como destino o PT. Ouvido pelo juiz federal Sérgio Moro, o delator disse que fez "doações" ao PT a pedido do ex-tesoureiro João Vaccari Neto para "estar bem com o partido". "O doutor Vaccari me procurou nos anos de 2008, 2010 e 2012 dizendo que precisava de doações, como todo partido precisa, e seu eu podia ajudar e cooperar. E evidentemente era o interesse meu, que obtinha sucesso com os contratos (da Petrobrás), de estar evidente favorável ao poder", afirmou Camargo, em depoimento na tarde desta terça-feira, 30, em Curitiba, sede da Lava-Jato, ouvido em processo em que Vaccari e o ex-diretor de Serviços da Petrobrás, Renato Duque, são réus acusados de ocultação de propina desviada de contratos da Petrobrás ao PT por meio de uma gráfica de São Paulo.

No entender da força-tarefa que comanda a operação, a "doação" também pode ser entendida como "propina". Camargo foi questionado pelo procurador Roberson Pozzobon se os pedidos de doação ao PT de Vaccari eram explicitamente associados por ele aos contratos e o que ele quis dizer ao citar "estar bem com o poder". "O PT era e é o partido do governo. E o partido que nomeava então seus diretores na Petrobrás, ou então, quando eram indicados por outros partidos, o PT, no final, ou a presidente da República tinha que aprovar esses nomes. Então, evidentemente, fazia parte de um lobby você estar bem com o partido." Camargo diz nunca ter havido por Vaccari citação nominal aos contratos.

O ex-tesoureiro, preso em Curitiba desde março, nega envolvimento em esquemas criminosos. Segundo ele, toda doação do partido foi legal. Os pedidos diretos partiram de Duque. O lobista confirmou que a Diretoria de Serviços era da cota do PT, no esquema controlado por PT, PMDB e PP de loteamento de diretorias por meio das quais eram arrecadados de 1% a 3% de propina. "Era um coisa conhecida dentro da Petrobrás que a Diretora de Serviços foi indicada pelo PT". Camargo afirmou que chegou a encontrar algumas vezes com Duque e Vaccari em restaurantes.

O delator confirmou ao juiz Sérgio Moro que pagamentos de propina intermediados por ele seguiram dois caminhos: depósitos no exterior e entregas em reais no Brasil, retirados no Rio e São Paulo. "As reuniões eram presenciais e basicamente eram feitas em restaurantes, uma ou duas vezes na própria Petrobrás. Tudo era acertado de maneira bastante amistosa." Camargo era parceiro do empresário Augusto Mendonça Ribeiro, dono do grupo Setal. Para desviar recursos de obras da Petrobrás de forma aparentemente legal, Vaccari e Duque teriam usado dois contratos de prestação de serviços ideologicamente falsos" feitos entre duas empresas do Grupo Setal e a Editora Atitude.

Assim, emitiram "18 notas fiscais frias" que cobriram "22 transferências bancárias fraudulentas" entre o grupo e a editora. O PT afirmou na noite de ontem que não iria comentar o depoimento de Camargo. Os advogados de Vaccari e de Renato Duque negam que as acusações contra seus clientes, que se encontro presos pela Polícia Federal em Curitiba.

Avaliação positiva da presidente cai para um dígito

Ricardo Brito, Daiene Cardoso – O Estado de S. Paulo

• Avaliação negativa da gestão Dilma subiu de 64% para 68%, segundo pesquisa CNI/Ibope, superando índice alcançado pelo ex-presidente José Sarney

BRASILIA - Pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem mostrou, mais uma vez, piora na avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff. A parcela dos brasileiros que avaliam o governo como ruim ou péssimo subiu de 64% para 68% desde a pesquisa anterior, realizada em março. A avaliação negativa é a pior da série histórica dos levantamentos do Ibope.

No fim de março, Dilma havia igualado a taxa de reprovação obtida em julho de 1989 pelo então presidente José Sarney, em seu pior momento: 64% de avaliação ruim ou péssima. Os 68% alcançados agora são o novo recorde nos 29 anos de dados compilados pelo Ibope. De acordo com o levantamento, caiu de 12% para 9% a parcela dos que avaliam o governo Dilma como ótimo ou bom - o que representa empate técnico com os 7% obtidos por Sarney em 1989.

Também houve piora na avaliação do desempenho pessoal da presidente no cargo. Subiu de 78% para 83% a desaprovação da maneira de governar de Dilma. Já a confiança na presidente mostra trajetória de queda: 2o% dos entrevistados disseram confiar na petista, quatro " pontos porcentuais a menos no levantamento anterior. Os que disseram não confiar nela subiram de 74% para 78%.

Período. O levantamento foi realizado entre 18 e 21 de junho, antes da divulgação do conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC. Em depoimento à Procuradoria Geral da República, Pessoa, um dos alvos da Operação Lava Jato, detalhou supostos repasses de recursos a políticos de diversos partidos, entre eles tesoureiros das campanhas de Dilma à Presidência.

No ranking das notícias lembradas pela população, as sobre corrupção ficaram em primeiro lugar: 20% disseram ter recebido informações sobre a Lava Jato e desvios na Petrobrás.

A erosão da popularidade da presidente ocorre mesmo entre seus eleitores. Dos entrevistados que afirmam ter votado na petista, apenas 27% aprovam sua maneira de governar - eram 34% na pesquisa feita em março. Entre os eleitores que dizem ter optado por Aécio Neves (PSDB) no 2° turno das eleições de 2014, apenas 2% avaliam positivamente o desempenho pessoal da petista.

A pesquisa, realizada por encomenda da Confederação nacional da Indústria, mostra que subiu de 76% para 82% o total de entrevistados que consideram o segundo mandato da presidente pior que o primeiro. O Ibope ouviu 2.002 pessoas em 141 municípios. A margem de erro máxima do levantamento é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Temer nega haver 'crise institucional'; tucano pede renúncia
No dia em que a pesquisa CNI/ Ibope apontou recorde de avaliação negativa do governo desde a redemocratização, o presidente em exercício, Michel Temer, afirmou que o País não atravessa "de jeito nenhum" uma crise institucional, que definiu como "a maior das crises".

O peemedebista disse que o Brasil parece ter "necessidade de ter uma crise a cada 25, 30 anos" e defendeu o rompimento desse ciclo, ao negar que a atual conjuntura configure uma situação de ruptura institucional, "Não temos crise e não vamos ter", afirmou Temer.

Já o Líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), aproveitou a pesquisa e as investigações da Operação Lava Jato para defender a renúncia da presidente Dilma Rousseff, de modo que "o Brasil tenha seu sofrimento abreviado" e "possa se reencontrar e ter um pouco de esperança".

Rejeição a Dilma é a maior em 30 anos

Raquel Ulhôa e Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - A conjugação das crises política e econômica fez desabar para um dígito a aprovação do governo Dilma Rousseff, segundo pesquisa CNI-Ibope divulgada ontem. O percentual de entrevistados que considera o governo ótimo ou bom caiu de 12%, em março, para 9%. A rejeição chegou a 68%. O resultado levou lideranças da oposição a defenderem a renúncia da presidente. Já lideranças governistas atribuíram o resultado da pesquisa à retração da economia e pediram tempo para que o ajuste fiscal mostre resultados. Em viagem nos Estados Unidos, Dilma limitou-se a dizer que não comenta pesquisa, "nem quando sobe nem quando desce"

"Não há mais como governar com níveis tão baixos de confiança. A renúncia seria uma postura de estadista, que a presidente insiste em não ter", afirmou o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO). "Para que o Brasil tenha seu sofrimento abreviado, renuncie, Dilma Rousseff", afirmou da tribuna o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB).

A pesquisa não mediu a reação dos brasileiros à delação premiada do presidente da UTC, Ricardo Pessoal, no âmbito da Operação Lava-Jato. O depoimento implicou dois ministros do governo Dilma, e veio a público no dia 26, enquanto o levantamento que ouviu 2002 pessoas foi feito entre os dias 18 e 21 de junho.

Em tom de cautela, o presidente da República em exercício, Michel Temer ponderou que todo governo tem "altos e baixos". Ele reconheceu que Dilma "está em uma posição de baixa", mas lembrou que ela está em "bem sucedida" viagem oficial aos Estados Unidos, de onde trará "melhores notícias". Segundo ele, em "pouquíssimo tempo teremos um crescimento da popularidade do governo e da presidente".

Na mesma linha, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que a pesquisa é um "retrato do momento". Cardozo ressaltou que o governo "vai no caminho correto" e que haverá "grande reversão" da popularidade de

Dilma até o fim do mandato.

Temer minimizou, ainda, o ambiente de crise política que traz instabilidade ao governo. Segundo o pemedebista, o que existe é uma "dificuldade econômica", que pode ser superada com o engajamento dos três poderes. Ele discursou na posse da nova presidente do PCdoB, Luciana Santos, na presença dos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que representam o Legislativo.

"Não há crise institucional, vivemos um período de extraordinária tranquilidade democrática", disse Temer. "O que existe é uma dificuldade econômica", que segundo ele será superada com o engajamento dos três Poderes.

Também atribuindo à crise econômica a má avaliação de Dilma, o presidente do PT, Rui Falcão defendeu a redução da meta de superávit primário a fim de liberar mais recursos para investimentos. "A economia precisa voltar a crescer e ela [Dilma] está tomando medidas para isso", disse Falcão.

O dirigente citou itens da pauta positiva do governo, como o Programa de Investimentos em Logística (PIL) e o novo plano de exportações, que podem impulsionar a economia. Falcão ressalvou que a população ainda não foi influenciada pela agenda positiva do governo.

Em sintonia com o dirigente petista, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que a má avaliação de Dilma é momentânea e deve melhorar com os efeitos das medidas de ajuste fiscal. "Vejo com absoluta tranquilidade [a pesquisa]", disse Guimarães. "O ajuste ainda está em processo de execução para equilibrar as contas e até retomar o crescimento, no fim do ano coisas vão continuar nesses patamares", reconheceu.

A conjuntura revelada pela pesquisa é de pessimismo. O percentual da população que considera o governo ruim ou péssimo subiu de 64% para 68% e é o pior desempenho de um governante nos últimos 29 anos, segundo a série histórica divulgada pela CNI. Fora o governo Dilma, somente a gestão de José Sarney (1985-90), do PMDB, atingiu 64% de ruim e péssimo em julho de 1989.

Já a desaprovação da presidente cresceu cinco pontos percentuais desde março, quando estava em 78%, e chegou a 83% da população. A aprovação pessoal de Dilma caiu de 19% para 15% nesses três últimos meses. Já o percentual de entrevistados que confiam nela recuou de 24% para 20% no período, enquanto 78% não confiam na presidente (eram 74% em março).

O gerente de pesquisa da CNI, Renato Fonseca, disse não descartar nova queda de aprovação do governo porque, segundo ele, essa avaliação está muito atrelada ao desempenho da economia e do emprego, e não há sinais de recuperação até o fim do ano.

"A aprovação pode cair ou ainda se recuperar, mas o quadro econômico não é favorável", apontou. Ele pondera que os brasileiros consideram a evolução dos preços nos supermercados, nas lojas, nas farmácias, e no momento avaliam que não param de subir. "Inflação e desemprego assustam a população", definiu.

O gerente de pesquisa da CNI acrescentou que estudos realizados no mundo mostram que a questão econômica afeta a popularidade dos presidentes. "A pessoa responsabiliza o presidente pelo desemprego e por não conseguir manter o mesmo padrão de vida", disse. No caso do Brasil, ele lembra que o país passa por um ajuste fiscal, que implica medidas impopulares.

"Esperamos que o ajuste seja feito rapidamente, e o período negativo passe rápido. Acho que o governo aposta nisso, que precisa controlar a inflação rapidamente para que as pessoas recuperem a confiança no governo", afirmou Fonseca. Para ele, a conjugação dos fatores político e econômico é muito ruim.

O gerente de pesquisa da CNI lembra que uma conjuntura como essa, com problemas na política e na economia, só ocorreu na história recente do país no governo Sarney, no fim dos anos 80, quando frustraram os planos econômicos e o então presidente estava enfraquecido politicamente.

A pesquisa revela, ainda, que a agenda positiva do governo, com o lançamento de novos programas, não teve repercussão na população. Isso porque, ao serem perguntados sobre as notícias mais lembradas, os entrevistados citaram denúncias de corrupção, a Operação Lava-Jato - que investiga desvios na Petrobras - e mudanças na aposentadoria e seguro-desemprego. "A inflação e o medo do desemprego estão mais próximos das pessoas", sublinha.

A pesquisa CNI-Ibope revela que a população está mais pessimista. O percentual de entrevistados que considera o segundo mandato de Dilma pior que o primeiro subiu de 76% para 82% desde março. Pelo levantamento, 61% dos brasileiros estão pessimistas, enquanto em março esse índice era de 55%. Os otimistas caíram de 14% para 11%.

A maior insatisfação é com a política monetária: 90% desaprovam as taxas de juros praticadas pelo Banco Central e 90% reprovam a cobrança de impostos. Na sequência, as áreas pior avaliadas no governo são o combate à inflação e as políticas de saúde, reprovadas por 86% dos brasileiros. Em seguida, 84% dos brasileiros rejeitam a política de segurança pública e 83%, o combate ao desemprego.

De outro lado, os temas com menor rejeição da população são o combate à fome e à pobreza, e as políticas de meio ambiente e educação. A pesquisa mostra que 29% aprovam o combate à miséria, enquanto 27% aprovam a proteção ao meio ambiente, e 24%, as políticas de educação.

Na região Nordeste, onde a presidente sempre foi bem votada, ocorreu a maior queda no percentual dos que consideram o governo ótimo ou bom. Foram cinco pontos percentuais, chegando a 13% na região. Mesmo assim, a popularidade de Dilma continua maior nessa região. (Colaboraram Letícia Casado, Raphael Di Cunto,Thiago Resende, de Brasília; Sergio Lamucci e Pedro A. L. Costa, de Mountain View - EUA)


Alvo de pressão do PT, Cardozo diz que poderá deixar governo

Gabriel Mascarenhas, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

• Alvo de cobranças do PT, ministro da Justiça dá sinais de esgotamento, mas diz que sua saída depende de Dilma

• Avanço da Operação Lava Jato levou partido a criticar atuação da Polícia Federal, que é vinculada ao ministério

BRASÍLIA - Quatro anos e seis meses após assumir o Ministério da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT) confidenciou a amigos que deseja deixar o governo Dilma Rousseff.

Um dos últimos remanescentes do primeiro mandato de Dilma, o ministro já dava sinais de esgotamento desde o fim do ano passado. Ficou no cargo devido à turbulência da Operação Lava Jato.

Mas a situação se agravou com as pressões petistas para que ele deixe a cadeira justamente porque a Lava Jato avança sobre os principais expoentes do partido.

A Polícia Federal, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, é subordinada ao ministro.

Procurado, o ministro disse apenas que "permanece no cargo durante o tempo em que a presidente avaliar que devo permanecer"".

Aos mais próximos, Cardozo tem dito estar "de saco cheio" e lembra que todo ministro tem "prazo de validade"". Ele afirma, em conversas reservadas, que há uma "fadiga de material"" ao lembrar ser o ministro da Justiça mais duradouro do período democrático.

O segundo é Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), que ficou quatro anos e dois meses no cargo. Cardozo diz em privado que o cargo representa custo pessoal alto. Recentemente, ele passou por uma cirurgia na tireoide.

Parte dos seus interlocutores desconfia da real intenção de Cardozo em deixar o cargo. Eles acreditam que o ministro busca, na verdade, um afago de Dilma para permanecer no governo fortalecido, em meio ao tiroteio petista contra sua permanência.

Na semana passada, a executiva nacional do PT decidiu convidar Cardozo a dar explicações ao partido sobre a atuação da PF.

Não houve nenhuma defesa pública de Cardozo, justamente o ministro escalado por Dilma para defender o governo em momentos de crise.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se queixa a interlocutores de que o ministro, da cota pessoal de Dilma, perdeu o controle da PF.

Se Cardozo sair, o único nome citado para substituí-lo é o do secretário nacional de Justiça, Beto Vasconcellos, próximo de Dilma, mas com pouca densidade política.

É quase certo que uma saída de Cardozo levaria a mudanças no alto escalão da PF. O atual diretor-geral, Leandro Daiello, é homem de sua confiança, e é ele quem define quem comanda a polícia nos Estados.

Lava-Jato deflagra 15ª fase e prende ex da Petrobras Jorge Zelada

André Guilherme Vieira – Valor Econômico

SÃO PAULO - A Polícia Federal (PF) deflagrou hoje a 15ª fase da Operação Lava-Jato e prendeu o ex-diretor de Internacional da Petrobras Jorge Luiz Zelada no Rio de Janeiro.

Batizada de "Conexão Mônaco", a nova etapa da investigação que apura desvios de recursos da estatal cumpre quatro mandados de busca e apreensão no Rio de Janeiro e em Niterói.

Zelada é apontado como beneficiário de propinas localizadas pela investigação e congeladas no Principado de Mônaco. Ele será encaminhado de avião para a carceragem da PF em Curitiba.

Haverá entrevista coletiva dos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato às 10 horas na sede da PF em Curitiba.

Na 2ª tentativa, Câmara aprova redução da maioridade penal em 1º turno

Raphael Di Cunto e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - Menos de 24 horas após rejeitar, por cinco votos, a proposta de emenda constitucional (PEC) que reduz a maioridade penal de 18 anos para 16 anos, a Câmara dos Deputados aprovou na madrugada desta quinta-feira o projeto com uma mudança para angariar mais apoio no plenário: a exclusão do tráfico de drogas como motivo para prisão dos jovens infratores.

A proposta, que ainda precisa passar por um segundo turno de votação antes de ser encaminhado à análise do Senado Federal, foi aprovada por 323 votos a 155, com duas abstenções. Como se trata de emenda constitucional, era necessário o apoio de 308 dos 512 deputados.

Na votação do relatório do deputado Laerte Bessa (PR-DF), que saiu derrotado na madrugada de quarta-feira, foram 303 votos a favor e 184 contra, com três abstenções. Já na madrugada desta quinta-feira, o projeto virou um braço de ferro entre o governo, contrário ao projeto, e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que pautou a proposta depois de 22 anos parada nas comissões da Casa.

Com críticas dos deputados contrários, que chamaram a nova tentativa de golpe e afirmaram que recorrerão ao Supremo Tribunal Federal (STF) para anular a votação, a mudança na PEC foi articulada pelo grupo de parlamentares favoráveis à redução da maioridade penal e assinada pelo líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), com apoio de PSC e PHS.

O texto foi construído em negociações que avançaram durante a madrugada de quarta-feira. Ao longo do dia, parlamentares favoráveis — e também eleitores nas redes sociais — pressionaram deputados que eram contrários ao projeto a mudarem de ideia e até convocaram os que estavam viajando para votar.

O próprio Cunha ligou para deputados contrários para tentar aprovar a PEC. À noite, durante a votação, o presidente da Câmara telefonava de cima da mesa diretora para os deputados ausentes – 17 parlamentares registraram presença na Casa, mas não apareceram para votar.

Nos bastidores, o governo pressionou deputados da base aliada que tinham votado a favor da PEC a não comparecerem à sessão. As ausências, no caso, ajudariam a derrubar o projeto.

Embora a proposta tivesse apoio da maior parte de PMDB, PR, PP, PTB, PSDB, DEM, entre outros, as críticas dos deputados de PT, PSB, PDT e PSOL se dirigiram ao presidente da Câmara, que promoveu semelhante durante a reforma política, quando colocou em votação o financiamento privado de campanhas um dia depois de outra versão da proposta ser derrubada em plenário.

O deputado Glauber Braga (PSB-RJ), contumaz crítico de Cunha, reclamou dos métodos “ditatoriais” do presidente da Câmara. “Se o resultado da votação não agrada Vossa Excelência, Vossa Excelência coloca em votação novamente, e de novo e de novo, até que a votação agrade Vossa Excelência. Não vamos tolerar isso”, afirmou.

Para a líder do PCdoB, deputada Jandira Feghali (RJ), a votação abre um “precedente gravíssimo” ao permitir a votação de emenda com um texto que não era objeto de debate pelo plenário antes de derrotarem o relatório de Bessa. “Não podemos aglutinar texto morto”, protestou. “É uma pedalada regimental”, acusou o vice-líder do PDT, Weverton Rocha (MA).

Aliados de Cunha, como o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), usaram uma decisão proferida pelo ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP) em 2007 para argumentar que a emenda era admissível. “O regimento é claro. Quando a matéria é aprovada, para se aglutinar texto necessitasse de um destaque. Quando não é aprovada, não há necessidade de destaque”, disse. Cunha cobrou respeito e disse que “quem quiser, recorra à Comissão de Constituição e Justiça, quem quiser, recorra ao Supremo Tribunal Federal”.

O texto aprovado prevê que jovens entre 16 e 18 anos ficarão internados em unidades separadas — construídas pela União e governos estaduais — caso cometam crimes hediondos (estupro, latrocínio, homicídio cometido por grupos de extermínio ou qualificado, extorsão em que ocorrer morte ou sequestro, favorecimento da prostituição infantil e falsificação de medicamentos), homicídio doloso ou lesão corporal seguida de morte.

Pautas-bomba no Congresso põem em risco o ajuste fiscal

Deco Bancillon – Brasil Econômico

• Nelson Barbosa, dos EUA, já adiantou que a presidenta Dilma deverá vetar reajuste de 59,5% aprovado pelo Senado para servidores do Judiciário. Medida custará aos cofres públicos mais de R$ 25 bilhões em quatro anos

BRASÍLIA - As recentes derrotas do governo em votações no Congresso de medidas que propõem aumento de gastos públicos acenderam um sinal de alerta no Palácio do Planalto. Em menos de uma semana, a base aliada do governo contabilizou seguidas derrotas em votações de "pautas-bomba" para as contas públicas. Entre elas, a aprovação na terça-feira, pelo Senado, do reajuste de 59,5% a servidores do Judiciário, medida que custará aos cofres públicos, em quatro anos, cerca de R$ 25,7 bilhões. Não por acaso, ontem, o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, adiantou que a presidenta Dilma Rousseff deverá vetar o aumento e indicar uma alternativa que envolva todos os poderes. 

Em viagem aos EUA, onde acompanha a comitiva presidencial, Barbosa considerou a proposta como "indefensável do ponto de vista social e fiscal" e frisou que o reajuste aprovado pelo Congresso aumentará "ainda mais" a diferença entre os salários dos servidores do Judiciário e carreiras similares do Executivo. "Atualmente já há um ganho a maior de até 60% em favor do Judiciário. Com a proposta, essa diferença subiria para 170%", disse o ministro, via assessoria de imprensa.

Em São Francisco, a presidenta Dilma comentou que a aprovação pelo Congresso do reajuste seria "lamentável" em função da necessidade do governo em cortar gastos para conseguir cumprir a meta de superavit primário de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), mas evitou indicar, de forma clara, se vetaria ou não a proposta aprovada no Senado. "É insustentável para um país como o nosso, em qualquer circunstância, dar níveis de aumento tão elevados (de 59,5%)", disse Dilma. A presidenta mencionou que a maior preocupação do governo, no momento, é assegurar o ajuste fiscal, e afirmou que derrotas no Congresso são vistas com naturalidade.

"Como estamos na democracia é assim: tem dia que você ganha e tem dia que você perde. Mas nós ainda teremos oportunidades de avaliar como vai ser a questão do aumento (do Judiciário). Agora, de fato, (essa medida) compromete o ajuste fiscal", contou.

Mas não é só a aprovação do reajuste do Judiciário que tem tirado o sono do governo. Na semana passada, o Planalto também foi derrotado na votação pela Câmara que estendeu a regra de correção do salário-mínimo acima da inflação a todos os aposentados e pensionistas do INSS. Caso entre em vigor ainda este ano, a medida custaria aos cofres da Previdência Social cerca de R$ 4,6 bilhões. A partir de 2016, no entanto, o gasto aumentaria para cerca de R$ 9,2 bilhões por ano. O governo ainda espera derrotar a medida no Senado, mas já admite que, se não houver acordo, o desfecho deverá ser mesmo o veto presidencial. "Da forma como a proposta foi aprovada pela Câmara, a presidenta vetaria, porque não caberia nas contas públicas neste ano", frisou um assessor presidencial.

Também entrou no radar do Palácio do Planalto a discussão, que deverá chegar ao Senado nas próximas semanas, do reajuste pedido por servidores do Ministério Público da União e do Conselho Nacional do MP. Eles querem os mesmos 59% de reajuste que foram concedidos aos servidores do Judiciário da União, na votação do Senado de terça-feira. A ideia do governo é tentar atrasar ao máximo a votação no Congresso e oferecer à categoria um reajuste em linha ao que foi apresentado aos demais servidores do Executivo civil. Ou seja, um reajuste de 21,3% escalonado em três anos, a partir de 2016.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) já avisou que, se governo e sindicalistas não chegarem a um acordo, porá o assunto em votação.

Também tem sido motivo de preocupação da articulação política do governo a negociação com os senadores do projeto de lei que propõe a reversão parcial da desoneração da folha de salários. A medida que foi aprovada na Câmara ganhou substitutivos do relator do projeto, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ), que reduzem de R$ 12,5 bilhões para menos de R$ 9 bilhões a possibilidade de arrecadação para o governo. Porém, a ordem no Palácio do Planalto é votar a medida da forma como ela foi proposta, para que possa entrar em vigor "o mais rápido possível". "Cada mês de atraso na aprovação da desoneração da folha, o governo perde cerca de R$ 1 bilhão em receitas", disse uma fonte do Planalto.

Caso não consiga vencer essas votações, a presidenta Dilma já avisou que vetará qualquer projeto que ponha em risco o ajuste fiscal. Nem a queda da popularidade será um problema, avisou um interlocutor da presidenta: "É preciso assegurar o ajuste fiscal".

Crise muda hábitos de consumo

- Brasil Econômico

Estudo realizado pela empresa de pesquisa web-mobile MeSeems identificou que a maioria dos brasileiros alterou hábitos de consumo em função do cenário econômico mais adverso. Dos 1.650 entrevistados, das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, 43% afirmaram que passaram a procurar alternativas mais baratas para seus hábitos de consumo, ou deixaram de consumir a maioria dos produtos ou serviços que costumavam adquirir.

Os demais 40% continuaram a consumir os mesmos produtos e serviços e apenas 17% não sentiram os efeitos da crise em seus cotidianos.

A pesquisa revelou ainda que, nos últimos dois anos, as atividades que mais sofreram com a desaceleração da economia foram o comércio de imóveis e automóveis novos e seminovos. Cerca de 60% dos entrevistados diminuíram a frequência com que efetuavam tal tipo de compra e só 30% a mantiveram.

Entre as prioridades de consumo, os entrevistados apontaram a compra de mantimentos no supermercado (86%), seguida de medicamentos na farmácia (75%) e consumo de roupas e calçados (62%).

O levantamento revelou também a mudança nos hábitos de lazer. Do total de entrevistados, 45% reduziram as idas ao cinema e ao teatro.

Maria Lydia entrevista Alberto Aggio, prof. de História/Unesp

Merval Pereira - Poderes em conflito

- O Globo

Ninguém sabe aonde isso vai dar, mas há um sentimento de regozijo entre os políticos fora do PT com o protagonismo que o Congresso vem assumindo, mesmo que algumas medidas aprovadas possam significar prejuízos ao orçamento público, como o aumento dos servidores do Judiciário.

Esse aumento, aliás, também é consequência do papel ampliado que vem exercendo o Judiciário, em especial o Supremo Tribunal Federal. O presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça, Ricardo Lewandowski, foi um ativo lobista a favor desses aumentos, que devem ser seguidos pela aprovação de reajustes na mesma proporção para os servidores do Ministério Público.

No centro dessas decisões está o Congresso, que cada vez mais assume o controle da agenda política do país, no que é classificado como "uma experiência extremamente rica" em avaliação da cúpula do PMDB, neste momento com papel ambíguo a desempenhar.

Ao mesmo tempo em que o vice Michel Temer é o responsável pela coordenação política do governo, os presidentes de Câmara e Senado são os responsáveis pelo estouro do Orçamento, prejudicando o ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, cuja aprovação é a principal responsabilidade de Temer.

Na avaliação política da situação, os peemedebistas entendem que as consequências de curto prazo de certos exageros nas votações no Congresso poderão até ser contidas, na medida em que a presidente vete alguma dessas propostas, dê nova configuração a outras. "Mas é preciso ter autoridade para isso", ressaltam.

E quem acompanhou a votação do aumento dos servidores do Judiciário certamente anotou que o provável veto da presidente Dilma, prenunciado pelo ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, e confirmado pela própria em declaração ainda nos Estados Unidos, já estava nas contas do rebelado Senado.

Não foram poucos os senadores que já convocavam reação ao veto presidencial, para derrubá-lo no plenário. O senador Cristovam Buarque disse que, ao se deparar com o placar eletrônico marcando 62 votos a favor e nenhum contra, já que nem mesmo o PT teve coragem de anunciar um voto contrário à medida e liberou seus senadores, percebeu que aquele era o sinal mais claro do fim da hegemonia do PT.

O governo manobrou para adiar a decisão, na tentativa de usar os argumentos de sempre para "convencer" senadores a reprovar o aumento, que é realmente abusivo. Ainda mais neste momento de crise. Cristovam lembra que o PT sempre atuou como rolo compressor no Congresso, sem se importar com a minoria.

Hoje, não tem mais condição de segurar nem sua bancada no Senado, e nem os senadores mais alinhados ao Planalto, como Lindbergh Farias, que procurou um microfone para dizer que votaria a favor dos aumentos. Não foi possível, pois o voto simbólico de liderança foi o bastante para aprovar, sem que nenhum senador se dispusesse a checar a maioria, que era avassaladora.

Desde a ditadura que não temos relação do Legislativo com as outras instituições com tanto protagonismo, tanta autonomia. A ditadura impôs o presidencialismo imperial com o decreto-lei. A medida provisória, do ponto de vista do arcabouço legal, é quase um substitutivo do decreto-lei. Vem sendo mitigada desde Sarney, mas é ferramenta extremamente eficaz para impor a dominação do Executivo.

Ou era, pois, como o Executivo está muito fraco, o Congresso ganhou nova dimensão e hoje tem condições de derrubar vetos presidenciais ou MPs. E, para compensar os desmandos que vêm sendo aprovados no plenário das duas Casas, há medidas econômicas importantes que devem ser aprovadas pelo Congresso, como a mudança da legislação da exploração do petróleo do pré-sal.

Acabar com a obrigatoriedade de a Petrobras participar com pelo menos 30% em todos os campos é fundamental para a economia; a própria Petrobras está torcendo para isso, pois não tem dinheiro para investir.

E o país precisa atrair investimentos nessa área para garantir, inclusive, as empresas que estão na cadeia de produção do petróleo. Por isso os governadores de Rio, ES e SP estão apoiando essa mudança, extremamente favorável para o ambiente de negócios do país.

Essa será, por sinal, uma derrota que até mesmo o Planalto vai receber de bom grado, criticando, embora, a mudança, para não perder o viés ideológico.

José Roberto de Toledo - Só o consumo salva

- O Estado de S. Paulo

É a economia, sabichão! A popularidade de Dilma Rousseff só atingiu o pré-sal depois que a confiança do consumidor quebrou seu recorde negativo no mês passado – de novo. O eleitor está cada vez mais desconfiado de que vai consumir cada vez menos. A maior parte acha que seu poder de compra despencou e aposta que vai continuar caindo no futuro próximo. Nenhum órgão humano explica melhor a sorte de um presidente do que o bolso do "homo consumens" – e as novas pesquisas CNI/Ibope só confirmam isso.

A corrupção – exposta repetidamente pelo farto noticiário sobre a Operação Lava Jato – é a cereja do bolo. Misturada ao bolso furado, populariza o senso comum de que a economia vai mal porque rouba-se demais. Os dois fatos, apesar de incontestes, infelizmente não se alinham de modo tão simples nem automático. A não ser que se acredite que, quando o bolso estava cheio, todo mundo era honesto. Por esse raciocínio, bastariam as prisões de corruptos e corruptores para a economia melhorar.

No curto prazo, as canas – mesmo se justas e necessárias – aumentam a incerteza, retraem investimentos e aprofundam a crise. Se perenizadas por condenações em última instância, espera-se que ajudem a sanear as relações público-privadas. Mas o saneamento depende também da reforma do sistema político e eleitoral que alimenta a corrupção – reforma da qual não há sinal. E no longo prazo? Estaremos todos mortos, ensina Keynes.

Enquanto essa hora não chega, talvez valesse a pena fazer algo para matar o tempo. Trabalhar, por exemplo. Mas, como a opinião pública percebeu antes de o IBGE divulgar qualquer estatística, arrumar emprego está cada vez mais difícil. A geração "V", que relutou enquanto pôde a entrar no mercado de trabalho porque seus pais e avós tinham tido ganhos de renda suficientes para sustentá-la, está agora tendo que disputar vagas cada vez mais raras com a geração de seus progenitores desempregados.

Não é por acaso que a impopularidade de Dilma é um pouco menos desastrosa entre os brasileiros com mais de 55 anos de idade. A faixa etária onde se concentram os aposentados sentiu menos os efeitos da deterioração do mercado de trabalho. Tampouco é coincidência que os mais críticos em relação à presidente – e que deram início à avalanche de opiniões negativas que a afoga desde 2013 – sejam os jovens de menos de 25 anos.

A inclusão social pelo consumo funciona eleitoralmente, como funcionou em 1994 para Fernando Henrique Cardoso, em 2006 para Lula e em 2010 para Dilma. Mas, além de depender do vaivém da economia mundial e da habilidade de quem executa a política econômica, essa tática sucumbe à saturação do mercado. E as ruas das metrópoles brasileiras provam diariamente que falta espaço para abrigar mais automóveis. Com seu carro-chefe engarrafado, uma das cadeias produtivas que alavancaram a era petista é das pioneiras nas demissões em massa e férias compulsórias.

Mesmo quando seu apelo positivo não funciona, a inclusão pelo consumo reelege presidentes pelo medo de que a festa acabe. Foi assim em 1998 com FHC e com Dilma em 2014. A ressaca, porém, é sempre maior quando a vitória é medrosa. O tucano só ganhou uma chance em vida de reabilitar sua popularidade porque Dilma estabeleceu um novo parâmetro negativo de comparação tão alto que relativiza quaisquer insucessos do passado.

O dígito de opiniões positivas sobre seu governo pode morrer solitário se Dilma não inspirar algum otimismo econômico. Nem Barack Obama dizer que os EUA enxergam o Brasil como potência global faz diferença. Publicitários gostam de dizer aos anunciantes: se não gosta do que estão dizendo sobre você, mude a conversa. O governo está tão frágil que perdeu a capacidade de mudar de assunto. Só lhe resta falar de economia e ser muito mais convincente do que foi até hoje. Ou fim de papo.

Bernardo Mello Franco - Os humanos direitos da Câmara

- Folha de S. Paulo

"Direitos humanos são para os humanos que são direitos." A voz inconfundível de Paulo Maluf ecoou no plenário da Câmara à 0h03 da madrugada de quarta-feira. Os deputados terminavam a longa votação da emenda que reduz a maioridade penal para os 16 anos.

Antes dele, seis delegados, dois majores e um cabo da PM defenderam a mudança na Constituição, patrocinada pelo presidente Eduardo Cunha. Os contrários eram acusados de proteger bandidos, incentivar o crime e até usar drogas.

"Senhor presidente, quem escreveu isso aqui ou fumou maconha estragada ou não sabe o que diz", disse Alberto Fraga, dublê de delegado e deputado do DEM. Ele se referia a um panfleto contra a emenda da redução. "Sou sim da bancada da bala, mas não sou da bancada da mala", prosseguiu, em tom raivoso.

A retórica do medo dominava o plenário. Major Rocha, do PSDB, afirmou que a população "está sitiada dentro das suas casas". Nilson Leitão, também do PSDB, disse que àquela hora alguma moça era "estuprada por um jovem de 17 anos". O delegado Moroni Torgan, do DEM, chamou jovens infratores de "feras urbanas". André Moura, do PSC, revelou a curiosa existência de "marginais disfarçados de menores".

No momento de maior apelo dramático, Keiko Ota, do PSB, exibiu uma foto do filho morto aos 8 anos, em 1997. "Nós precisamos dar uma basta a essa violência que tanto machuca as mães e os pais do Brasil", disse. Faltou informar que os três assassinos do menino eram maiores de idade, sendo dois PMs.

Apesar da pressão da tropa, a emenda foi rejeitada por cinco votos. "Ô Cunha, pode esperar, que a sua hora vai chegar", cantaram os estudantes. Irritado, o peemedebista mandou a polícia esvaziar a galeria e começou a manobrar para repetir a votação no dia seguinte.

Para o presidente da Câmara e seus "humanos direitos", o jogo só vale quando ele não perde.

Luiz Carlos Azedo - O (des) governo Dilma

- Correio Braziliense

O escândalo da Petrobras e as “delações premiadas” da Operação Lava-Jato, com crise econômica e as consequências do ajuste fiscal, estão desconstruindo de forma irreversível a imagem do governo Dilma

Nunca antes neste país, talvez nem durante a debacle do regime militar, um presidente da República amargou índices tão baixos de aprovação como Dilma Rousseff. A pesquisa Ibope-CNI divulgada ontem foi de arrasar: a avaliação ótimo/bom do governo é de apenas 9%, o pior resultado de um ocupante do Palácio do Planalto desde a redemocratização.

Confirmando a tendência do levantamento do Datafolha, os números agora divulgados mostram que a popularidade da presidente continua em queda: a atual rejeição ao governo chega a 68% de ruim e péssimo, a maior já registrada pela série histórica das pesquisas Ibope. Consideram o governo regular apenas 21% dos entrevistados.

No levantamento divulgado em abril, a petista já havia empatado com o ex-presidente José Sarney, que, até então, era o governante com a maior rejeição da série histórica do Ibope, com 64% dos entrevistados avaliando sua gestão como “ruim” ou “péssima”. Já 23% consideraram a gestão “regular”, e apenas 12% como ótimo/bom.

Outras notícias negativas foram a rejeição a sua maneira de governar (83%) e o fato de 78% dos entrevistados afirmarem não confiar nela. Imaginava-se que estaria no fundo do poço, mas Dilma não estava, mergulhou mais ainda. É o que a pesquisa mostra.

"Desconstruçao"

A avaliação negativa (“ruim/péssimo”) do governo cresceu quatro pontos percentuais entre março e junho. O percentual positivo (“ótimo/bom”) caiu três pontos. Considerando somente o confronto entre os extremos da avaliação (“ótimo” e “péssimo”), o cenário é ainda pior: somente 1% classifica o governo como “ótimo”, enquanto 50% o avaliam como “péssimo”. Sua impopularidade funciona como uma força centrífuga no governo, provocando mais desagregação na sua base e absoluta incapacidade de coesionar os próprios esforços administrativos.

Na administração, agora impera o cada um cuida de si, a famosa Lei de Murici. É aquela do coronel Tamarindo em Canudos, na debandada da terceira campanha do Exército, comandada por um desastrado Moreira Cesar, o famoso corta-cabeças da Guerra do Paraguai, que morreu esquartejado pelos jagunços nos sertões da Bahia.

Não é à toa que o governo amarga os piores índices de aprovação: é rejeitado em todas as áreas, inclusive no combate à fome e à pobreza (68%) e ao desemprego (83%), importantes bandeiras dos governos do PT. O combate à inflação também é fortemente desaprovado (86%).

Há várias maneiras de conceituar um desgoverno. Na linguagem náutica, diz-se que está à matroca, ou seja, desgovernado. À deriva seria um governo que tem rumo, mas sofre a influência das marés e das correntezas e pode corrigi-lo ainda, para chegar ao porto seguro. Não parece mais ser o caso.

O escândalo da Petrobras e as “delações premiadas” da Operação Lava-Jato, com crise econômica e as consequências do ajuste fiscal, estão desconstruindo de forma irreversível a imagem do governo Dilma. Pelo resultado das pesquisas, estamos diante de um “mau governo”.

Há que se considerar que o Ibope ainda não captou o impacto da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da UTC, que revelou a suposta utilização de recursos do Petrolão na campanha de Dilma à reeleição.

Mas não é somente do ponto de vista ético que ocorre a desconstrução, ela corrói também a principal marca da passagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Palácio do Planalto. As maiores reduções da popularidade ocorrem entre pessoas com renda familiar baixa que residem na Região Nordeste, com baixo grau de instrução e na faixa etária acima de 55 anos. Essa é a base social que garantiu a permanência do PT no poder durante os últimos 12 anos.

Os entrevistados também mostram pessimismo em relação ao futuro. Somente 11% avaliam que as perspectivas em relação ao restante do governo Dilma é “ótimo/bom”, enquanto 61% têm uma avaliação negativa (“ruim/péssimo”). O resultado é um “barata voa” no Congresso Nacional.

A base do governo vota contra o Palácio do Planalto em questões de primeira ordem para o sucesso do ajuste fiscal, como aconteceu na noite de terça-feira no Senado, quando foi aprovado o aumento salarial dos servidores do Judiciário, que chega a 78%. Na Câmara, o governo só conseguiu evitar a aprovação do projeto de reduz a maioridade penal por estreita margem de 5 votos, mas ontem a reduçao foi aprovada de forma abrandada, após uma manobra regimental.

A pesquisa contribui para que o ambiente político fique ainda mais incerto e reforce as pressões internas no PMDB para que o vice-presidente Michel Temer deixe a coordenação política do governo, ainda mais porque as relações dos parlamentares da legenda com o PT vão de mal a pior.

O PT simplesmente resolveu jogar para a arquibancada e deixar o ônus da aprovação do ajuste fiscal para o PMDB, que não caiu na armadilha e passa o abacaxi para Dilma descascar, ou seja, vetar as matérias que inviabilizam o ajuste fiscal. E la nave va.

Maria Cristina Fernandes - As viagens de Lula e Levy

- Valor Econômico

• A rota de um para retomar a âncora que está com o outro

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, cumpriram agendas de viagem complementares esta semana. Lula foi a Brasília dar um freio de arrumação na ação política e Levy mostrou os resultados do seu pragmatismo na atuação externa do governo. Ambos se mostraram úteis à presidente Dilma Rousseff. Só deixarão de sê-lo quando as agendas não mais se complementarem.

Lula retoma a ofensiva sobre a articulação política do governo num momento em que parecia emparedado pela prisão do empreiteiro do qual havia se tornado embaixador. Naquele momento, a presidente ainda se queixava que sua impopularidade decorria, em grande parte, do enredamento do PT na corrupção.

De posse dos números de pesquisa Vox Populi, que lhe dava aprovação de apenas 7%, pior do que aquela divulgada ontem pelo Ibope, o ex-presidente já tentara convencer a sucessora, com as mesmas expressões que depois vazariam em encontro com a batina, de que o fosso da impopularidade era mais embaixo. Naquela pesquisa, a corrupção vinha em quarto lugar. Precediam-na a convicção dos eleitores de que Dilma não cumpriu o que prometera, o medo do desemprego e o jurão.

A decisão do ex-presidente de desembarcar em Brasília no momento em que a Lava-jato se acerca do coração da Casa Civil da Presidência não significa que Lula prepare um bote sobre o conjunto da obra da política econômica. Ao sugerir que o pau de todo o santuário do Planalto é oco, a operação apenas deu a Lula a oportunidade de recobrar a iniciativa. É uma maneira de relembrar aos circunstantes que foi reeleito com a pira do mensalão acesa. Desta vez ainda não tem munição para desfazer os danos à sua imagem junto ao eleitorado, mas a hora é dos armadores do jogo e não da plateia.

Os encontros de Lula não incluíram o presidente em exercício, Michel Temer, atual titular da coordenação política. Do entorno do vice têm partido as sinalizações de que o avanço da Lava-jato pode levar o partido a desembarcar do governo. Um petista com acesso à presidente da República lembra que o partido detentor da ficha de filiação do senador Renan Calheiros e do deputado Eduardo Cunha não deve temer contaminação da presidente. Desconfia que os aliados busquem, na verdade, enfraquecer os enfermos para cobrar tarifas de UTI.

Dos três pemedebistas mais poderosos da República, Lula privilegiou, em sua viagem à capital federal, o presidente do Senado. Deve ter muitas razões para isso além das relações mais fluidas que sempre manteve com os pemedebistas do Senado, mas a que parece mais evidente é a da generosidade de Renan com as pautas tucanas. Haja vista a celeridade com que trafega no Senado o projeto do senador José Serra pela retirada da Petrobras da operação obrigatória dos campos do pré-sal.

O café da manhã que Lula tomou na casa do presidente do Senado não deve ser suficiente para reverter o grande favoritismo com o qual o projeto entrou em plenário na noite de ontem. Mais do que mandar na pauta do Senado, o sinal enviado pelo ex-presidente é que o assédio da Lava-jato sobre ambos os aliados não deve afastá-los de propósitos comuns, a começar pelas eleições municipais.

Dos cinco grupos de trabalho criados pelo partido para tentar sair daquilo que o ex-presidente chamou de volume morto, aquele que tratará das eleições municipais, ficou com o presidente da legenda, Rui Falcão. Na terapia de redução de danos preconizada pelos dirigentes partidários é compreensível o tratamento de jóia da coroa dado pelo PT à disputa pelas prefeituras.

A condução da política econômica indica uma presidente pronta a enfrentar uma ressaca eleitoral no meio do mandato se este for o preço a pagar para chegar ao final dele com os sinais preservados. Mas o PT parece disposto a mostrar que, a depender do resultado de 2016, pode não haver 2018.

Ciente das dificuldades que enfrentará, o PT cuida de uma política de alianças que retire o partido de cabeças de chapa de derrotas cantadas, como o Rio, e valorize o cacife dos aliados. O PT está disposto a apoiar o indicado do prefeito Eduardo Paes se puder manter a vaga de vice e receber, do PMDB, indicações de manutenção da aliança em 2018.

O preço, que já parece alto, chega às raias do impagável se agregado à tarifa de manutenção da aliança em São Paulo. A entrada do PMDB na vice da chapa do prefeito Fernando Haddad à reeleição é a aposta mais alta que o PT pode fazer hoje na tentativa de isolar as candidaturas que mais o ameaçam, o da senadora Marta Suplicy e do deputado Celso Russomano.

Uma maneira de tornar o custo da manutenção dessa aliança com o PMDB mais palatável é dar um dedo de folga na corda que asfixia as prefeituras aliadas Brasil afora. É pela condição de recordista em prefeitos que o PMDB renova sua posição no podium das três principais bancadas da Câmara, desde sempre.

É nesta rota que se cruzam as viagens de Lula e Levy. Depois de entrar na Esplanada sob frequentes desautorizações da presidente da República, o ministro da Fazenda mostrou que é do ramo ao conquistar sua confiança. Numa dessas reuniões que Dilma faz noite de domingo adentro, Levy já ultrapassava o vigésimo gráfico no powerpoint quando a presidente perguntou a um vizinho de mesa se o ministro algum dia se mostrara cansado. Ao contar que, no ministério, ele era ainda pior, seu interlocutor ouviu de Dilma que era esta a razão de sua confiança no titular da Fazenda.

A disposição com que o ministro encarou um vôo para Nova York depois de receber alta de uma embolia é comparável à jornada cumprida por políticos em reta final de campanha. Levy foi protagonista da agenda de uma viagem que começou pela atabalhoada reação presidencial às delações da Lava-jato e terminou com o selo de 'líder global' conferido por Barack Obama.

O ministro tem uma incansável agenda política que vai dos gabinetes pemedebistas às mesas de festas em Brasília regadas à preleção pelo ajuste fiscal. A disposição com que Lula retomou a articulação política mostra que a presidente num futuro não muito distante será desafiada a redobrar a confiança em seu ministro.

Levy tem pela frente um Lula que o reconhece como âncora do governo, até porque já navegou entre os icebergs do ajuste, mas se prepara para reivindicar este lugar se um dia chegar a hora de parar de cortar para recomeçar a gastar. Um roteiro tão previsível quanto os destinos da Lava-jato.

Jarbas de Holanda - Com a soma de crises agravadas, avaliações sobre a continuidade e troca de governo

A mudança do patamar das crises em curso no país, na turbulenta transição junho/julho, restabeleceu – para os diversos atores políticos e para lideranças do empresariado – as incertezas a respeito da preservação de condições de governabilidade pela presidente Dilma Rousseff, que tinham sido diluídas de maio para junho. Isso de par com o desencadeamento de especulações e da busca de alternativas para uma troca de governo. Que envolveriam um acerto suprapartidário para a manutenção do esforço em torno do ajuste fiscal (que tem sido o suporte praticamente único do mandato de Dilma).

Tal mudança decorreu da soma de maior deterioração dos vários indicadores econômicos e sociais e de novas projeções sobre mais longa duração dela (que já apontam para um PIB próximo de zero ou até negativo em 2016), com possível, ou provável, rejeição das contas públicas federais de 2014 pelo TCU (que terá forte impacto independentemente de decisão final do Legislativo). E, em seguida, da chegada ao núcleo do Palácio do Planalto das investigações da Operação Lava-Jato. Processos que devem aprofundar a rejeição do eleitorado à presidente e ampliar a fragilidade do Executivo no Congresso. Num contexto de agravamento dos múltiplos efeitos da contração da economia.

 Neste precaríssimo cenário à frente, muitos agentes do mercado, que haviam se contraposto à demanda das manifestações de rua pró-impeachment (pelo consistente receio do alto e demorado custo de um processo do gênero no primeiro ano de um mandato presidencial), vão passando a comparar tal custo com o da extensão por quatro anos de um governo política e institucionalmente isolado e sem condições mínimas de eficiência. Este certamente maior.

A proposta do impeachment poderá predominar na retomada das manifestações de protesto, já em preparo. Mas seu encaminhamento institucional dependerá de novos e mais graves desdobramentos da Lava-Jato, bem como dos ligados à apuração das “pedaladas” fiscais de 2014. Com uma diferença política significativa entre as duas motivações: a primeira vinculada à campanha reeleitoral, podendo envolver o vice-presidente Michel Temer, do partido que comanda as duas casas do Congresso – obstáculo dificilmente superável. Enquanto a segunda motivação, a de crime pela violação da Lei de Responsabilidade Fiscal, alvejaria, ou alvejará, apenas à chefe do Executivo e subordinados seus, podendo o vice assumir papel semelhante ao de Itamar Franco, no afastamento de Fernando Collor, apoiando-se numa composição do PMDB com os tucanos e demais partidos oposicionistas. Que valeria para este caso ou para outras “saídas” estudadas ou previstas, como a de renúncia da presidente, neste ano ou da preservação apenas formal do seu cargo até o início de 2017, quando daria lugar a um presidente da Câmara eleito com esse objetivo.

As incertezas sobre a preservação do mandato de Dilma preocupam e ativam também o ex-presidente Lula. Só que com perspectiva e metas bem distintas daquelas das diversas lideranças peemedebistas, e opostas às da oposição. A perspectiva central de Lula é a de enfrentamento dos problemas da sucessora no sentido de viabilização da própria candidatura em 2018. A hipótese da troca de Dilma por Temer, sob sua influência, torna-se inviável pelo progressivo avanço das tendências oposicionistas no PMDB. Os passos dados por ele na primeira quinzena de junho de fortes críticas à presidente e à política do ajuste fiscal, como parte da articulação de uma “frente popular” lulista, talvez incluíssem essa hipótese. Mas foram dias depois substituídos pelo imperativo da defesa dela e do governo, imposto pela forte ameaça, conjunta ao Planalto e a ele próprio, representada pelos últimos episódios da Operação Lava-Jato. Ameaça que o levou, de pronto, a priorizar outra frente, na qual passou a concentrar-se – a do combate ao juiz Sérgio Moro, ao Ministério Público e a autonomia da Polícia Federal. Virada tática que, ao invés de contribuir para retirar a presidente, o PT e ele também do “volume morto” da rejeição social, poderá empurrar os três ainda mais para baixo.

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Jarbas de Holanda é jornalista

Roberto Macedo - E segue a crise...

- O Estado de S. Paulo

Pelo lado econômico segue o mau tempo. Segundo o último boletim Focus, do Banco Central, que semanalmente recolhe previsões de agentes do mercado financeiro e de consultores econômicos, espera-se que o PIB caia 1,5% em 2015. E essa taxa vem caindo há seis semanas. Há quatro a queda era de 1,3%, ou seja, é maior agora, mas não muito.

O que caiu mais foi a previsão para o PIB de 2016, que um mês antes era de um aumento de 1%, e passou a 0,5%. Assim, se tais previsões se confirmarem, no final de 2016 a economia ainda estará num buraco, pois então o aumento de 0,5% não cobrirá a queda de 1,5% em 2015.

O boletim tem mais notícias ruins, como a de que a inflação anual prevista para 2015, medida pelo IPCA, sobe há 11 semanas e chegou a 9% na última. "Em compensação", a previsão para 2016 está estável em 5,5% ao ano, uma queda considerável. Usei aspas porque tal previsão se sustenta em parte na citada má notícia sobre o PIB, cujo fraco desempenho reduzirá a pressão inflacionária. Outra força a reduzi-la, então, será o conjunto dos chamados preços administrados, como de energia elétrica e combustíveis. Prevê-se que terá aumento de 14,6% em 2015, mas o de 2016 cairia para 5,9%. Isso passada a fase de corrigir o acontecido no período Dilma 1, em que tal conjunto era de preços mal administrados.

A queda do PIB também deve aliviar outras pressões. Assim, espera-se que a balança comercial, da troca de mercadorias com o exterior, passe a superávits de US$ 4 bilhões e US$ 12 bilhões em 2015 e 2016, respectivamente. Na mesma linha, o crônico déficit nas transações correntes com o exterior, as quais incluem também as de serviços, cairia para US$ 82,4 bilhões em 2015 e US$ 74 bilhões em 2016.

Também nas contas externas, o fluxo de investimento estrangeiro direto (IED) para o Brasil tem previsões estáveis: US$ 65,7 bilhões em 2015 e US$ 65 bilhões em 2016. Em princípio, esses números surpreendem. Como pode um país mergulhado em crise receber tal volume de IED? Já lidei com quem faz investimentos desse tipo e notei que no seu interesse pelo PIB brasileiro predomina o que este representa como medida do tamanho do enorme mercado local. A propósito, vale mencionar o valor com que fechou 2014: R$ 5,5 trilhões. Se cair 1,5% em 2015, ainda sobrarão 98,5%.

E em geral quem traz IED vem para ficar décadas, vendo crises como passageiras. Essa é uma visão que também deveria ser ponderada pelos empresários nacionais.

Mas quão passageiras? A quem vive aqui uma crise como a atual preocupa mais do que a investidores externos. Estão em vários países e o nosso representa mais uma de suas várias "cestas de diversificação", onde espalham seus ovos para chocar.

Recentemente me animei um pouco, depois de passar alguns dias olhando o que se passa na Argentina. Lá está bem pior, pois em cima de uma crise que guarda alguns aspectos semelhantes com a do Brasil, em particular os desastres causados por governos populistas, há também uma séria crise cambial, de escassez de moedas fortes. Crises desse tipo – também inflacionárias e causadoras de desequilíbrios nas contas públicas, de pedidos de socorro ao FMI e a governos estrangeiros e de medidas corretivas que prejudicam o PIB – sumiram do nosso cenário. Isso após o Brasil acumular forte estoque de moedas fortes a partir de meados da década passada, favorecido então pela acentuada expansão das exportações de commodities minerais e agrícolas, principalmente para a China, tanto nas suas quantidades como nos seus preços.

A propósito do agronegócio, outra boa notícia. Neste jornal, no último domingo, o economista José Roberto Mendonça de Barros, conhecido especialista na área, afirmou que a agropecuária deverá crescer 3% este ano e também crescerá em 2016, se o clima não atrapalhar. O setor não tem tamanho suficiente para "salvar a lavoura" do PIB como um todo, mas seria muito pior sem ele.

Voltando à ruindade, pelo lado econômico não vejo perspectivas de recuperação no cenário que hoje contemplo, pois ela não transparece do lado dos gastos dos consumidores, dos empresários, do governo e da demanda externa por nossas exportações. Mas, com base em experiências passadas e no tamanho e na diversificação da economia, não vejo uma queda muito agravada do PIB. Perto de 90 milhões de pessoas continuarão trabalhando, produzindo e tocando o seu dia a dia.

O que me deprime são notícias recentes de um Congresso Nacional fiscalmente inebriado e na contramão do ajuste fiscal em andamento. Por exemplo, a de que a Câmara aprovou uma dispendiosa extensão da regra de reajuste do salário mínimo para os aposentados do INSS em geral e a de que o Senado aprovou um caro reajuste para servidores do Judiciário, com base em projeto corporativista apresentado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. Ao mesmo tempo, o presidente do Senado, Renan Calheiros, anunciou não ter pressa em votar o projeto que revê desonerações fiscais já referendado pela Câmara, o último do pacote de ajuste fiscal enviado pelo Executivo ao Congresso.

As agências internacionais que avaliam o risco de países equivalem aos nossos serviços de proteção ao crédito. Estão de olho no mau comportamento das contas públicas do Brasil, que assim corre o risco de perder o chamado grau de investimento, perda essa que significa algo mais próximo de uma ficha suja. Isso traria dificuldades de financiamento externo, com potencial de complicar a crise pelo lado cambial, ou pelo menos de dificultar a retomada do PIB ao prejudicar investimentos.

Se a economia brasileira afundar mesmo, não será por culpa de suas forças produtivas. Será por conta de políticos que a levaram à crise, e também deles e de outras autoridades que em lugar de ajudar a resolvê-la contribuem para agravá-la.

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*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), é consultor econômico e de ensino superior

Míriam Leitão - Ameaças do Congresso

- O Globo

É a marcha do país em direção à perda do grau de investimento. Assim caminha o Brasil. A aprovação do aumento para os funcionários do Judiciário se junta à indexação total dos benefícios previdenciários e à adoção de regras mais generosas de aposentadoria. Tudo isso acontece enquanto a dívida do país aumenta e o déficit nominal chega ao espantoso número de 7,9% do PIB.

O ministro Nelson Barbosa ligou de São Francisco, nos EUA, para alguns jornalistas, entre eles, eu. Disse o que pensa dessa proposta: "É incompatível com a situação econômica que estamos passando e insustentável do ponto de vista fiscal e é socialmente injusta." Ele lembrou que isso representa R$ 1,5 bilhão só este ano, sem haver orçamento previsto. "Não se pode pedir, na atual situação de aumento do desemprego e queda do salário real, que a população gaste mais com salário de servidores". Segundo ele, há risco concreto de efeito cascata, que começa com a justiça estadual, mas pode atingir todos os servidores.

O governo negocia um aumento para seus funcionários, de 21%, para ser pago em quatro anos. Nelson Barbosa entregou um documento com os cálculos, como referência, ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski. "O ministro ficou de avaliar e pediu para que o Congresso não votasse o aumento." Pois aconteceu o oposto: a proposta foi votada e aprovada por unanimidade.

A tempestade continua em Brasília. Os sinais dados pelo Congresso e os números que saem do Tesouro mostram que será inevitável o rebaixamento. Mesmo que a presidente Dilma vete essa proposta, o que fica claro é que o legislativo tem uma pauta expansionista e o governo deixou de ser o centro do poder. Hoje o Congresso vota qualquer coisa, a qualquer hora, sem olhar o contexto e o custo. Quer atingir o governo e ameaça a estabilidade econômica.

A conjuntura internacional piorou com a crise grega. Quando isso acontece, todos os países que têm fragilidades são olhados com preocupação por investidores, tenha ou não qualquer relação com o país epicentro da crise. Para a Moody"s e a Fitch, o Brasil está dois degraus acima do grau especulativo, mas com uma única redução pela Standard & Poor"s nós perderemos o que levou duas décadas para conseguir: o selo de país bom para investimento.

A contradição é tal que nem se consegue acompanhar todas as despesas criadas pelo Congresso. No mesmo dia em que aprovou o aumento para servidores do Judiciário, o Senado reduziu PIS/Cofins sobre o diesel, o que tem um custo em renúncia fiscal de R$ 13,8 bi por ano.

A bagunça nas contas públicas feita no governo passado foi tão grande que o esforço para dar realismo aos números está exibindo um quadro incompatível com um país com grau de investimento. A dívida bruta bateu recorde e completou um aumento de 10 pontos percentuais do PIB desde o início do governo Dilma. O governo mostrará a dívida líquida e garantirá que está estabilizada, mas nenhum analista olha esse indicador porque ele desconta os empréstimos do Tesouro ao BNDES, ativos que não têm liquidez. Ninguém sabe quando nem como serão pagos. O que é usado no mundo inteiro, comparável, relevante para as agências de risco é a dívida bruta. Mais do que o número em si, que é alto, há a dinâmica do endividamento. O Brasil é um país que tem um déficit nominal enorme, não consegue fazer superávit primário relevante, manipulou contas públicas recentemente, criando dúvidas sobre o passado, tem um Congresso que aprova aumento de gastos obrigatórios, e o Banco Central mantém uma taxa de juros elevada para enfrentar a inflação fora da meta. O risco de rebaixamento é concreto.

O único conforto é que os números que saem do Tesouro este ano são mais fidedignos, e isso faz com que sejam injustas as comparações com os dois anos anteriores. Em 2013 e 2014, houve tanta manipulação, truque, pedalada, que deveriam ser desconsiderados na série. O que a própria equipe econômica sabe é que a tempestade em Brasília continuará. Não há sinais de bom tempo no horizonte.

No centro do problema econômico, está a crise política. O Congresso foi capturado pelos grupos de interesses, seus líderes não entenderam que essas bombas fiscais vão ferir o país. O governo está fraco pela baixa popularidade da presidente que, durante a campanha, falou o oposto do que defende hoje.

Monica Baumgarten de Bolle - Dilma nos EUA

- Folha de S. Paulo

• O Brasil continua na fase dos slogans vazios; "Mais Brasil no mundo", "mais mundo no Brasil"

Jogo de soma zero é expressão que significa que, se um lado ganha em uma relação de trocas qualquer, a outra parte sempre perde. A soma do que cabe a um e a outro, portanto, é zero. De todas as falácias que circulam livres por aí, entre todos os lugares-comuns que confundem alhos com bugalhos quando se trata de economia, campeã é a ideia de que o comércio entre dois países é jogo de soma zero. Querem ver?

Pesquisa feita em 64 municípios brasileiros com mais de 20 mil entrevistados conduzida pela IdeiaInteligência constatou que 41% das pessoas discordam da premissa de que a aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos geraria mais empregos e oportunidades de trabalho para os brasileiros; e que 52% acham que, nessa relação, a renda e o emprego dos americanos aumentariam em detrimento dos rendimentos e das oportunidades acessíveis aos brasileiros.

No entanto, 55% das pessoas pensam que laços mais estreitos entre o Brasil e os EUA melhorariam a oferta de bens de qualidade --nada contra a mandioca. Ao mesmo tempo, 73% dos entrevistados acreditam que o fim da exigência de vistos para entrada nos EUA traria importante melhoria na vida de cada um.

Não é extraordinário? O comércio internacional, que a literatura acadêmica já mostrou --exaustivamente, diga-se-- ser vantajoso para todos os envolvidos, é percebido pela população como algo ruim. Como no Brasil, a mesma percepção prevalece em diversos países, inclusive nos EUA. Basta ver as declarações de diversos líderes do Partido Democrata contrários ao Trans-Pacific Partnership, o mega-acordo comercial entre os EUA e mais 11 nações que deverá ser aprovado até o fim do ano.

Mas, se os brasileiros acham que ampliar o comércio entre as empresas brasileiras e americanas é ruim, eles têm certeza de que viajar para as terras de Tio Sam sem restrições é algo muito, muito bom. Assim como é bom comprar tudo o que o país de Obama produz.

O comércio facilitado, como ocorre por meio dos acordos de livre-comércio que tantos países negociam entre si, aumenta a disponibilidade de bens estrangeiros no país. Mas o comércio é ruim; comprar bens americanos é que é bom.

Se o governo brasileiro soubesse explicar para a população que mais comércio entre o Brasil e os EUA significa maior disponibilidade de bens de qualidade, além de fomentar concorrência saudável entre produtos estrangeiros e nacionais reduzindo custos e preços, a visita recente de Dilma aos EUA poderia ter feito o impensável nas atuais circunstâncias: elevar a sua popularidade.

Se o governo brasileiro tivesse ensaiado a aproximação com os Estados Unidos há algum tempo, quiçá tivesse conseguido até avançar na questão do fim de exigência de vistos para os viajantes brasileiros.

Diante do veredicto dado pelo povo, imagine o que isso não teria feito pela popularidade da presidente? A presidente que, nas entrevistas concedidas, não se fartou em comentar a agenda doméstica, deixando de lado as manchetes positivas que poderiam ter saído de sua breve passagem por Nova York e Washington --os avanços na área ambiental, por exemplo.

Mas o Brasil continua na fase dos slogans vazios. "Mais Brasil no mundo", exortou a presidente, "mais mundo no Brasil", arrematou. Assim ficamos.

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Monica de Bolle, economista, é doutora pela London School of Economics e pesquisadora do Peterson Institute for International Economics.