quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: Aécio Neves

"Quem buscou inibir candidaturas como a da própria Marina, inviabilizando a criação da Rede do ponto de vista congressual, ou criando dificuldades para a candidatura do governador Eduardo foi o PT. O PT quer ganhar quase por W.O. essa eleição."

Aécio Neves, senador e presidente nacional do PSDB, “Tucanos terão candidatos em até 12 Estados”. O Estado de S. Paulo, 16 de janeiro de 2014.

Remédio amargo: Contra inflação, BC eleva juros pela 7ª vez seguida

Taxa sobe para 10,5% e se aproxima dos 10,75% de quando Dilma

Após dezembro registrar a maior alta de preços em dez anos, Banco Central aumenta a Selic em 0,50 ponto
Gabriela Valente, Roberta Scrivano

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O Banco Central (BC) decidiu manter o ritmo de aperto nos juros depois do repique inflacionário do fim do ano passado - quando a taxa subiu 0,92% em dezembro, a maior alta mensal em dez anos. O comportamento dos preços em dezembro frustrou a promessa do governo de encerrar 2013 com uma inflação inferior à do ano anterior. Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual para 10,5% ao ano, o maior patamar em dois anos. O aumento dos juros veio no topo das expectativas de analistas, que projetavam alta de 0,25 ponto percentual a 0,5 ponto percentual.

Com a sétima alta seguida da Selic, o BC ensaia uma tacada para recuperar a credibilidade, já que as projeções para a inflação não param de subir. Apesar de a autoridade monetária indicar que o ciclo de alta dos juros está perto do fim, com a decisão desta quarta, analistas avaliam que a presidente Dilma Rousseff pode encerrar 2014, ano eleitoral, com juros maiores que os 10,75% de quando assumiu o governo, em janeiro de 2011.

O novo aumento da Selic consolidou a posição do Brasil no topo do ranking mundial de juros reais. Agora, a taxa (descontada a inflação) do país é de 4,25% ao ano, seguido pela Argentina (3,7%), pela China (3,41%), Índia (1,65%), Hungria (1,08%) e Chile (1,06%), de acordo com levantamento do economista Jason Vieira, do portal Moneyou. Desde outubro, o país ocupa o primeiro lugar no ranking.

- O mercado trabalhava com a meta determinada pelo governo de redução do juro e manutenção em um dígito. Agora, essa meta não existe mais e os juros têm de subir para conter a inflação - disse Vieira.

Em 2012, o governo fez um movimento orquestrado para diminuir o custo financeiro para famílias e empresas. Enquanto o Banco Central cortava os juros básicos, a presidente Dilma usou o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal para forçar as instituições privadas a reduzir os juros cobrados dos clientes. A iniciativa deu certo, mas a inflação persistiu alta.

- O governo fez o correto ao cortar os altos juros no Brasil, mas exagerou na dose. Agora, tem uma baita janela de vidro que a oposição vai apedrejar - disse o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito, que prevê uma taxa de juros de 11,25% no fim do ano.

Decisão do comitê foi unânime
No comunicado divulgado após a reunião do Copom, o BC indicou que a sequência de alta dos juros está perto de acabar. Os diretores praticamente copiaram a nota à imprensa divulgada no encontro anterior. Inseriram, entretanto, a expressão “neste momento” para passar o recado.

“Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013, o Copom decidiu por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual para 10,5% ao ano sem viés”.

- A mudança é bastante relevante. Deixaram mais claro que está próximo do fim do ciclo. E que esse ritmo (de altas de 0,5 ponto percentual) não se mantém - avalia a economista do Santander Tatiana Pinheiro, que foi surpreendida pela decisão, pois apostava em uma elevação de 0,25 ponto percentual.

A maioria dos analistas esperava um aumento mais modesto da taxa. No entanto, alguns começaram a mudar suas projeções depois de serem surpreendidos pelo resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2013, que ficou em 5,91% (acima dos 5,84% do ano anterior), divulgado na semana passada pelo IBGE.

Um deles foi o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio Leal. Ele mudou sua aposta após a escalada da inflação no fim do ano, mas mesmo assim avalia que o ajuste da taxa de juros está perto do fim, embora não seja suficiente para trazer o IPCA para o centro da meta, de 4,5% ao ano em 2014.

- Na economia, todo mundo tem de olhar o custo-benefício, e o custo para a trazer a inflação para a meta só com o aumento dos juros é muito alto - disse o economista.

Leal lembrou, entretanto, que recuperar a credibilidade do Banco Central não é simples e que isso só deve ser alcançado com o tempo, caso consiga controlar a inflação. Ele ressaltou que o BC não conseguiu cumprir nem a sua meta informal no ano passado: fazer com que o IPCA fechasse abaixo do patamar de 2012.

Para Perfeito, o BC deixou claro que faz a sua parte. E joga no colo da Fazenda parte da responsabilidade pelo controle dos preços por causa dos altos gastos:

- Agora, o BC mostrou que fará o que pode, mas também lava as mãos: deixa o problema dos gastos públicos na mão do governo e também da sociedade, que num ano de eleição, terá de decidir como resolver essa questão.

As entidades que representam as indústrias - CNI, Firjan e Fiesp - reagiram com discurso parecido à alta da taxa e reforçaram a necessidade de haver redução dos gastos públicos e política fiscal ativa no combate à inflação com o intuito de evitar a elevação do juro, que desacelera o ritmo dos investimentos.

Fiesp e Firjan cobram redução do gasto público
Para a Firjan, se não houver essa melhoria fiscal, “dificilmente o País poderá conviver com a tão almejada combinação de crescimento econômico e inflação controlada.” A CNI destacou, em nota, que a inflação continuará “sendo foco de preocupação em 2014, não só pelo elevado patamar, mas, principalmente, porque o governo recorreu, no ano passado, ao controle dos preços administrados e à redução da cesta básica”.

Esses mecanismos, de acordo com a CNI, dificilmente poderão ser repetidos com a mesma intensidade nesse ano, o que exigiria, portanto, os controles fiscais e dos gastos públicos. A Fiesp completou dizendo que, “com este novo aumento, 2014 começa mal, indicando que a esperada retomada da indústria ficará para depois”. Até a Força Sindical adotou discurso similar ao dos patronais e disse, também por meio de nota, que “o governo persiste nos mesmos erros, tratando o crescimento econômico e a geração de empregos unicamente como retórica”.

Fonte: O Globo

Após inflação mais alta que o esperado, BC eleva taxa de juros para 10,5%

João Villaverde, Célia Froufe

BRASÍLIA - Em resposta direta à alta da inflação no ano passado, o Banco Central (BC) surpreendeu boa parte do mercado ao decidir ontem elevar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 0,50 ponto porcentual - e não em 0,25 ponto, como vinha sinalizando nos últimos meses.

A partir de hoje, a Selic está cotada em 10,5% ao ano. A decisão do BC, tomada de forma unânime pelos diretores e o presidente Alexandre Tombini, deixou a porta aberta para um novo aumento neste início do ano.

Pressionado pela alta dos preços, o BC deixou em segundo plano o desempenho da economia, que encolheu 0,5% no terceiro trimestre do ano passado. Em dezembro, o IPCA marcou alta de 0,92%, maior índice para meses de dezembro de toda a série histórica do IBGE. O índice ficou bem acima do que esperavam analistas de mercado, consultorias e o próprio governo. No ano, o IPCA fechou em 5,91%, superando os 5,84% de 2012, resultado inverso ao esperado pelo governo.

A piora nos índices de preços será um dos principais temas da eleição de outubro, quando a presidente Dilma Rousseff tentará um novo mandato. O cenário repete o que ocorreu em 2010 e deve levar o BC a interromper o ciclo de aperto da Selic antes do período mais acirrado da disputa eleitoral.

Em seu comunicado, o Comitê de Política Monetária (Co-pom) do BC destacou que decidiu por uma elevação de 0,50 ponto porcentual "neste momento", expressão que deve guiar as apostas para a próxima reunião do comitê.

Expectativas. O mercado estava dividido em relação ao resultado deste Copom. Até a semana passada, a maioria dos analistas esperava que a instituição reduzisse o ritmo de alta dos juros e anunciasse um aumento para 10,25% ao ano. O BC sinalizou essa possibilidade no fim do ano passado.

Ontem, os juros negociados no mercado por investidores e bancos apontavam o aumento de 0,50 ponto porcentual como mais provável, mas por uma pequena margem. Entre os analistas de consultorias e instituições financeiras, por outro lado, a maioria esperava pelos 10,25% ao ano.

Segundo o economista da LCA Consultores, Antônio Madeira, a surpresa com o índice de inflação de 2013, acima do registrado no ano anterior, foi determinante para a decisão do Copom. "Esse aumento de 0,5 ponto porcentual provavelmente é resultado do IPCA, conhecido na semana passada".

Na avaliação do economista sênior do Besi Brasil, Flavio Serrano, o BC sinalizou o fim do ciclo de alta de juros. Ao subir 0,50 ponto, o BC ajudará a controlar as expectativas e o próprio comportamento da inflação. Mas a introdução do termo "neste momento" no comunicado no mínimo reduz a chance de a Selic subir mais 50 pontos no próximo encontro."

Críticas. Lideranças "da oposição" consideraram o aumento da Selic para 10,5% ao ano como o único remédio que tem sido usado pelo governo Dilma Rousseff para tentar conter a pressão inflacionária, mas ele não tem surtido efeito.

"O governo tenta desesperadamente conter o processo inflacionário adotando a surrada estratégia de aumentar as taxas de juros. É uma tentativa de compensar a falta de reformas estruturais, que ficaram no papel", afirmou o vice-líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias.

(Colaboraram Ricardo Brito, Márcio Rodrigues, Carla Araújo e Eduardo Cucolo)

Fonte: O Estado de S. Paulo

Dilma deve entregar juros maiores do que recebeu

Disparada do custo de vida faz o Banco Central elevar a Selic para 10,5% ao ano. Analistas esperam pelo menos mais uma alta, em fevereiro, mesmo que em proporção menor. Com isso, a taxa deverá voltar ao nível do início do governo

Deco Bancillon

As previsões mais pessimistas do mercado financeiro se concretizaram: em decisão unânime, o Banco Central (BC) optou, ontem, por elevar o juro básico da economia em 0,5 ponto percentual, para 10,5% ao ano. Foi a sétima alta consecutiva em menos de um ano. E, a julgar pelo comunicado divulgado instantes após o término da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC deixou a porta aberta para, pelo menos, mais uma alta da Selic em 2014, ao usar a expressão “neste momento” para explicar a decisão. “A leitura que fizemos foi a de que aumentou a probabilidade de mais uma elevação, mas talvez num ritmo menor do que foi feito até agora”, disse a economista Tatiana Pinheiro, do Santander.

Mesmo que o ajuste na taxa seja de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom, marcada para fevereiro, os juros já terão retornado para o patamar em que a presidente Dilma Rousseff os encontrou. No fim da gestão Lula, em dezembro de 2010, a Selic estava em 10,75% ao ano. Terá sido enterrada de vez, então, a bandeira política que a presidente fez tantas vezes questão de empunhar: a de ter levado a taxa básica para menor patamar da história. Além disso, dada a virulência da inflação, os analistas não descartam a possibilidade de novas altas mais à frente, o que colocaria a presidente na posição incômoda de entregar juros mais altos do que aqueles que encontrou no início do mandato.

Susto
Em junho de 2011, sob orientação do Palácio do Planalto, o BC deu início à derrubada da Selic, mesmo com a inflação mostrando força. Naquele ano, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou no limite de tolerância estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional, de 6,5%. Mesmo assim, a autoridade monetária deu sequência ao plano de voo. Em outubro de 2012, o objetivo foi atingido. Pela primeira vez na história, a Selic havia chegado a 7,25% ao ano — patamar, entretanto, no qual ficou por apenas seis meses. Em abril de 2013, com a persistência da inflação muito acima da meta de 4,5%, o BC voltou atrás e deu início ao processo de elevação da taxa.

No meio do caminho, um susto. Em julho de 2013, o IPCA ultrapassou 6,7%. Foi o alerta que faltava para que o Palácio do Planalto avalizasse uma postura mais agressiva do BC. Ao todo, em 2013, foram sete altas na Selic, seis delas de 0,5 ponto percentual. Parte do mercado financeiro esperava que o BC, por entender que o ajuste feito em 2013 já teria sido suficiente, reduzisse o ritmo, ontem, para 0,25 ponto. “Tudo levava a crer que era esse o plano do BC”, disse o economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos.

Em dezembro passado, porém, o IPCA disparou 0,92% — a maior variação mensal dos últimos 10 anos. “Mais importante do que o número em si é o fato de que estamos há quatro anos com uma inflação sistematicamente perto de 6%, quando a meta que deveria ser perseguida pelo BC é 4,5%”, disse a economista Mônica Baumgarten de Bolle, sócia da Galanto Consultoria. “Mesmo assim, não parece haver, da parte do governo, nenhuma intenção de frear esse processo”, concluiu.

Pressões
Um dos fatores que joga contra a inflação é a alta do dólar, que pode tornar os produtos importados ainda mais caros para o consumidor. “O câmbio tem tudo para subir”, afirmou o economista Sidnei Nehme, da NGO Corretora, um dos maiores especialistas do país nessa área. “Existem diversos elementos sugerindo uma saída de recursos do país ainda mais forte do que a verificada no ano passado”, disse.

Em 2013, o fluxo cambial, que mede as saídas e entradas de dólares no país, atingiu o pior resultado em 11 anos. A conta ficou negativa em US$ 12,261 bilhões, resultado de maciças remessas de recursos de empresas estrangeiras e da piora na confiança do mercado financeiro nas ações do governo Dilma.

O que reforçou o pessimismo, diz Nehme, foi a piora na situação fiscal do país, que levou duas das três maiores agências de classificação de risco do mundo a ameaçar reduzir a nota de crédito do Brasil. Para tentar recuperar a confiança, o governo anunciou neste mês que o superavit nas contas públicas foi de R$ 75 bilhões em 2013. Como só foi conseguido com base em receitas extraordinárias, o número não convenceu. “A alta dos juros tenta recobrar a credibilidade perdida pelo governo. Mas de nada adianta fazer política monetária de um lado e não fazer política fiscal de outro. Assim, todo o esforço de trazer a inflação para baixo está recaindo totalmente sobre o BC”, disse Mônica Baumgarten.

Fonte: Correio Braziliense

Menos governo, mais eleição

Depois de reunião com Dilma, PMDB amansa os ânimos em relação à reforma ministerial e desvia o foco para os palanques estaduais

Grasielle Castro, Paulo de Tarso Lyra e Denise Rothenburg

Após encontro entre a presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer e o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o PMDB amenizou o discurso de apelo por mais uma pasta na reforma ministerial e passou a mostrar mais preocupação com as alianças estaduais. O redesenho ministerial foi condicionado aos palanques de estados como Rio de Janeiro e Ceará, onde existem crises entre as siglas. Horas antes do jantar da cúpula do PMDB no Palácio do Jaburu, a presidente disse que ainda não bateu o martelo sobre a reforma e que só pensará sobre o assunto após o dia 29, quando retornará das viagens a Davos, na Suíça, e a Cuba. Na última segunda-feira, Dilma avisou a Temer que não teria como ampliar o espaço do PMDB na Esplanada, o que, em tese, inviabilizaria a indicação do senador Vital do Rêgo (PB) para o Ministério da Integração Nacional.

A notícia irritou o comando partidário, que marcou um jantar ontem com os presidentes da Câmara e do Senado, líderes e ministros. Um deles reconheceu que o partido está fragilizado e com pouco poder de barganha. “Dilma está forte no Nordeste, onde Aécio Neves e Eduardo Campos não conseguem avançar. Nós temos tempo de televisão, mas ela é bastante conhecida”, resumiu o ministro.

Esse mesmo integrante do primeiro escalão afirmou que o PMDB poderia diminuir a pressão pela Integração caso fosse contemplado com a Secretaria dos Portos. “Não tem nada decidido. Não queremos passar a impressão de que estamos colocando uma faca no pescoço da presidente”, minimizou o vice-presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

Alianças
Enquanto Dilma negocia com o PMDB os espaços no governo, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, viaja amanhã para discutir os palanques estaduais. Ele vai ao Ceará, a Alagoas, a Bahia e ao Rio de Janeiro. Em todos eles, existem crises envolvendo o PMDB. Em pelo menos três, os problemas estão diretamente relacionados ao PT. No Ceará, o PT negocia uma aliança com o governador Cid Gomes que pode isolar o candidato do PMDB ao governo local, senador Eunício Oliveira. Na Bahia, Geddel Vieira Lima deve concorrer ao Senado, deixando o ex-governador Paulo Souto (DEM) para enfrentar o candidato do PT, Rui Costa.

No Rio de Janeiro, o governador Sérgio Cabral ainda tenta uma aliança com o PT. Raupp destacou que ainda há tempo para alianças serem refeitas e desfeitas e afirmou que o partido deverá lançar entre 18 a 20 candidatos aos governos estaduais em outubro.

PSDB pede a cassação de Dilma
O PSDB protocolou no Tribunal Superior Eleitoral uma reclamação na qual pede a cassação do diploma e a inelegibilidade da presidente Dilma Rousseff. Os tucanos alegam que a petista fez propaganda eleitoral antecipada no pronunciamento de fim de ano, exibido em rede nacional de rádio e tevê no último dia 29. No ofício, o PSDB pede a abertura de investigação judicial para apurar o suposto abuso de poder e uso indevido dos meios de comunicação. O Planalto não vai se manifestar

Fonte: Correio Braziliense

Dilma discute espaço do PTB de Roberto Jefferson no governo

Andrea Jubé

BRASÍLIA - Após iniciar as negociações da reforma ministerial pelo PMDB, e discutir as mudanças com PT e PSD, a presidente Dilma Rousseff deve se reunir, nos próximos dias, com o PTB. A sigla é cotada para assumir o Ministério do Turismo, com a saída de Gastão Vieira (PMDB), que vai tentar novo mandato de deputado federal. Em troca, o PTB vai declarar apoio à reeleição de Dilma, e garantir o tempo de televisão da sigla, cerca de um minuto, para a propaganda da petista.

Dirigentes do PTB foram avisados pelo gabinete presidencial de que podem ser chamados por Dilma a qualquer momento, e já estão em Brasília, à disposição da presidente. O mais cotado para assumir o ministério é o presidente interino da sigla, o ex-deputado Benito Gama. A aproximação do governo com o PTB começou no ano passado, quando Gama foi nomeado para uma vice-presidência do Banco do Brasil, em uma articulação conduzida pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que atua nos bastidores como coordenador da pré-campanha.

O PTB vai proporcionar, pelo menos, dois palanques fortes para Dilma. Um deles em Pernambuco, reduto do governador Eduardo Campos (PSB), que a petista vai enfrentar na disputa presidencial. O senador Armando Monteiro Neto (PTB) encabeça a chapa, enquanto o ex-prefeito de Recife João Paulo Lima e Silva (PT) ocupa a vaga ao Senado. O outro palanque é em Tocantins, onde o PTB lança o ex-senador Eduardo Siqueira Campos ao governo.

Em 2010, o PTB alinhou-se ao PSDB e apoiou o então candidato tucano à presidência, José Serra. Gama firmou-se no comando da sigla, diante da iminente prisão do presidente licenciado do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson. Delator do mensalão, ele foi condenado a uma pena de 7 anos e 14 dias de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Jefferson pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para cumprir a pena em regime domiciliar, porque se recupera de um câncer. Mas o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, recomendou que ele seja recolhido a um presídio. Jefferson aguarda a palavra final do Supremo.

A se confirmar esse desenho da reforma, a cessão da pasta do Turismo para o PTB implicaria garantir ao PMDB outro ministério, que poderia ser a Integração Nacional. Mas a pasta, no momento, está sob a batuta do Pros, que Dilma também quer acomodar na Esplanada. A presidente ainda procura outra pasta para o PSD, que comanda a Secretaria da Micro e Pequena Empresa.

Fonte: Valor Econômico

PT de Osasco marca ato de desagravo para mensaleiro condenado

Deputado petista vai lançar na cidade, seu reduto eleitoral, revista na qual faz críticas ao julgamento do mensalão

Mateus Coutinho

Enquanto o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) aguarda a expedição do seu mandado de prisão pelo Supremo Tribunal Federal, o diretório municipal do PT de Osasco, na região metropolitana de São Paulo, marcou para hoje um ato de desagravo ao ex-presidente da Câmara.

De acordo com o presidente do diretório municipal, José Pedro, a iniciativa servirá para o parlamentar lançar na cidade, seu principal reduto eleitoral, a revista na qual critica o julgamento do mensalão. "Ele quer passar a versão dele para as bases da região, colocar a versão dos fatos como ela é", disse José Pedro.

O ato está previsto para ser realizado às 18 horas, na Associação Atlética Floresta, na região central da cidade. O diretório do PT de Osasco confirmou que João Paulo vai participar do evento.

Ainda segundo o diretório municipal, também foram convidados para o evento o presidente nacional da sigla, Rui Falcão, o presidente do diretório estadual de São Paulo e ex-prefeito de Osasco, Emídio de Souza, além de deputados e vereadores petistas. Até o início da noite de ontem eles não haviam confirmado presença.

Condenado a uma pena total de 9 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro - pelo qual ele teve os embargos infringentes aceitos -, corrupção passiva e peculato, João Paulo lançou em dezembro uma revista na qual critica o julgamento do mensalão. Desde então, ele tem aproveitado eventos do partido e o plenário da Câmara para criticar o processo e, principalmente, o presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa.

Prisão. Por decisão do STF, as condenações por corrupção passiva e peculato foram consideradas transitadas em julgado e Barbosa determinou o início da execução penal para esses crimes. Mas o presidente do Supremo saiu de férias sem expedir o mandado de prisão de João Paulo.

Como a decisão sobre os mandados de prisão cabem ao relator do mensalão, o petista só deve ser preso após o ministro voltar do recesso, no início de fevereiro. João Paulo é o único dos detentores de mandato condenados no julgamento do mensalão que ainda está em liberdade.

Dilma diz que não há decisão sobre reforma

João Domingos, Vera Rosa

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff pediu ontem ao vice-presidente Michel Temer e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que acalmem o PMDB, pois ainda não tomou qualquer decisão quanto à reforma ministerial. Ela disse a ambos que só tomará uma decisão sobre o ministério depois do dia 29. Com isso, sinalizou um possível recuo quanto à decisão de não dar nenhuma nova pasta ao partido.

A conversa precedeu o encontro da cúpula do PMDB na noite de ontem, no qual o partido iria discutir o sinal que Dilma deu na segunda-feira a Temer de que a sigla não ganharia nenhum novo ministério na reforma. Integrantes do partido ameaçaram promover uma rebelião.

Dilma quer acelerar a reforma ministerial e, após a conversa considerada "difícil" com Temer na segunda-feira, começou a fazer a triagem no PT. Para a vaga do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, a presidente pretende escalar o empresário Josué Gomes da Silva, da Coteminas. Filho do vice-presidente José Alencar, morto em 2011, Josué se filiou recentemente ao PMDB. É também considerado uma espécie de "curinga" para a eleição em Minas, na chapa de Pimentel.

O PMDB, porém, já avisou que a eventual nomeação de Josué será contabilizada na cota pessoal de Dilma, e não na do partido, que hoje controla cinco ministérios (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Aviação Civil e Turismo).

A mudança abriria caminho para o Ministério do Turismo, comandado pelo PMDB, ser oferecido ao PTB, outro partido aliado que Dilma quer contempiar na reforma do primeiro escalão. Insatisfeitos com a resistência de Dilma em entregar a Integração Nacional para o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), parlamentares e dirigentes do PMDB se reuniram ontem à noite com o vice-presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu.

Antes, Temer e Renan conversaram a sós com Dilma. O presidente do Senado avisou que a situação estava amuito tensa" porque o partido se sentia "desprestigiado" pela presidente.

Saúde. Distante da solução "caseira" nas trocas do primeiro escalão, o secretário da Saúde de São Bernardo do Campo, Arthur Chioro (PT), passou agora a ser o favorito para a cadeira do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que deixará o cargo em fevereiro para concorrer ao governo de São Paulo.

Dilma teve longa conversa sobre o assunto, na terça-feira, com o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, chamado às pressas ao Palácio do Planalto. Na avaliação do PT, o perfil de Chioro - diretor no Ministério da Saúde no período de 2003 a 2005 ajuda tanto a campanha de Dilma como a de Padilha. Aprovada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a indicação está sob análise da presidente. Chioro é presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo (Cosems) e, nesta condição, pode disputar a agenda da saúde com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição e principal adversário de Padilha.

Colaborou Rafael Moraes Moura

Fonte: O Estado de S. Paulo

Mesmo após conversa entre Temer e Dilma, presidente do PMDB fala sobre insatisfação do partido

Peemedebistas acham que deveriam ter mais importância em reforma ministerial

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA — Mesmo após a presidente Dilma Rousseff conversar com o vice Michel Temer e com o presidente do Senado, Renan Calheiros, na tarde desta quarta-feira para tentar minimizar o princípio de crise no PMDB, o presidente nacional do partido, senador Valdir Raupp, deixou claro a insatisfação da legenda. Ao chegar ao jantar que reúne a cúpula do partido na noite desta quarta-feira, no Palácio do Jaburu, ele afirmou que o partido merece espaço maior na Esplanada:

— O que alguns líderes entendem é que dado o tamanho do PMDB e o número de ministérios, 39, caberia um espaço maior ao PMDB, mas nem por isso estamos colocando a faca no pescoço da presidente — afirmou.

O presidente do PMDB também disse que há a possibilidade de haver prévias do partido, em março ou abril, para antecipar as negociações de alianças estaduais. Na prática, as prévias, antes da convenção, que legalmente tem de ocorrer em junho, significa uma forma de pressionar o governo a ceder nas negociações com o partido. Nas prévias, no entanto, os descontentes podem votar contra a aliança formal pela reeleição de Dilma.

— A questão mais séria que vejo hoje são os estados. São os candidatos principalmente a governadores querendo que o PT apoie e que a presidente e o ex-presidente Lula os apoiem — explicou — Essas prévias seriam para acomodar as alianças estaduais, eu acho incessante. Acumular uma convenção nacional com as estaduais seria complicado. O que nos preocupa é que a questão dos estados contaminem a aliança nacional — disse Raupp.

Desde a conversa entre a presidente e o vice na segunda-feira, na qual Dilma afirmou que não daria um sexto ministério à legenda, a insatisfação tomou conta dos peemedebistas. Temer e a própria presidente Dilma agiram então para tentar minimizar a crise e a expectativa após a conversa de quarta-feira era de que houvesse ao menos a troca de uma das atuais pastas controladas pelo partido - Previdência, Aviação Civil, Agricultura, Minas e Energia e Turismo - por outra de maior importância, como Integração Nacional ou Cidades.

Além de Temer e Raupp, estão presentes os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves; os líderes do partido nas duas Casas do Congresso Eunício Oliveira (MG) e Eduardo Cunha (RJ) e o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM). Também participa da reunião o senador Vital do Rêgo (PB), indicado pela legenda para assumir um novo ministério. Ainda estão no encontro quatro ministros do partido: Moreira Franco (Aviação Civil), Edison Lobão (Minas e Energia), Garibaldi Alves (Previdência Social) e Gastão Vieira (Turismo).

Fonte: O Globo

'Tucanos terão candidatos em até 12 Estados'

Aécio defende alianças regionais entre PSDB e PSB e diz que escolha de vice fica para maio

Pedro Venceslau

Após anunciar que todas as alianças estaduais do PSDB terão de passar pelo crivo de direção executiva do partido antes de serem fechadas, o que é inédito na história da sigla, o senador Aécio Neves, provável candidato da legenda à Presidência, disse ontem em entrevista à TV Estadão que o partido contará com candidatos próprios a governador em 10 ou até 12 dos 27 Estados brasileiros.

"Talvez seja o partido que terá o maior número de candidaturas próprias nos Estados no pleito de 2014", disse. Apesar do otimismo, o tucano terá de buscar alternativas para não ficar sem palanque nos demais 15 Estados. Seu principal objetivo no momento é impedir a aproximação do PSDB com partidos que caminham para o arco de alianças da presidente Dilma Rousseff (PT), que disputará a reeleição.

"Natural". O tucano considerou "natural" a construção de chapas regionais com o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que também deve disputar o Planalto. "A aliança do PSB com o PSDB em muitos Estados é natural. Foi assim aqui em São Paulo, Minas Gerais e até mesmo em Pernambuco."

O tema da disputa em São Paulo, onde o PSB e o PSDB tentam se aproximar, mas esbarram na resistência da ex-ministra Marina Silva, será discutido hoje em um encontro do senador com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) em São Paulo.

Vice só em maio. Apesar das especulações sobre a escolha do candidato a vice em sua chapa, Aécio afirmou que esse debate ficará para maio. "Política é a arte de administrar o tempo. O que estamos definindo nesse instante, em primeiro lugar, é o discurso do PSDB."

O programa de governo do senador será coordenado pelo governador de Minas Gerais, Anto-nio Anastasia (PSDB), que deixará o cargo em março para disputar o Senado. Na entrevista, o senador também criticou o PT por tentar inibir outras candidaturas e deu uma prévia do como será seu discurso.

"Quem buscou inibir candidaturas como a da própria Marina, inviabilizando a criação da Rede do ponto de vista congressual, ou criando dificuldades para a candidatura do governador Eduardo foi o PT. O PT quer ganhar quase por W.O. essa eleição", afirmou. Aécio voltou a falar em "herança maldita" deixada pelo PT. Ele citou ainda a crise no sistema penitenciário no Maranhão e a omissão do governo federal na condução do problema da segurança.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSDB quer investigação sobre Dilma e pede que ela fique inelegível por 8 anos

Partido entrou com pedido no TSE para apurar se pronunciamento de fim de ano e mensagem a servidores foram abuso de poder e campanha antecipada

BRASÍLIA – O PSDB pediu ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) investigação sobre abuso de poder pela presidente Dilma Rousseff por causa do uso da cadeia nacional de rádio e TV. O partido alega que o pronunciamento de final de ano de Dilma configurou propaganda eleitoral antecipada. Segundo divulgou o TSE nesta quarta-feira, a representação foi protocolada dia 10.

O PSDB pede, nas representações, inelegibilidade de Dilma por oito anos, além da “cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação”.

A representação também é dirigida à ministra do Planejamento, Miriam Belchior, à secretária de Gestão Pública (Segep) da pasta, Lúcia Amorim de Brito, e à ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Helena Chagas.

O partido também quer apuração sobre envio de mensagem aos e-mails de servidores públicos federais, no dia 23 de dezembro de 2013. O partido afirma que “sob o pretexto de encaminhar votos de feliz Natal e próspero Ano Novo”, a presidente da República fez “evidente ato de promoção pessoal” e “claro veículo de propaganda eleitoral”, com vistas a “colher benefícios eleitorais para o pleito de 2014”.

Fonte: O Globo

PSDB quer testar ex-ministra do STF nas urnas

Luciana Nunes Leal

RIO - Nomeada ministra do Supremo Tribunal Federal pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2000, Ellen Gracie, a primeira mulher a fazer parte da mais alta corte do País, está nos planos eleitorais do PSDB. Ela é vista até como possível companheira de chapa do senador Aécio Neves (PSDB), embora a sigla trabalhe para a escolha de um nome com densidade eleitoral em São Paulo.

Ellen Gracie deixou o Supremo em 2011, aos 63 anos, sete anos antes da aposentadoria compulsória. A ex-ministra é cotada para concorrer ao Senado pelo Rio, sua terra natal. Os tucanos gostariam que Ellen Gracie fosse um contraponto à possível candidatura do governador Sérgio Cabral (PMDB), que deixará o cargo no dia 31 de março. Cabral tem planos de concorrer ao Senado na chapa do vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que ficará oito meses no governo e disputará a reeleição.

Em junho de 2013, a ex-ministra deixou o Conselho de Administração da OGX, petroleira do empresário Eike Batista em processo de recuperação judicial e rebatizada de Oleo e Gás Participações. No mesmo dia, saíram também os conselheiros Pedro Malan e Rodolpho Tourinho, ex-ministros do governo Fernando Henrique. Em outubro, Ellen Gracie filiou-se ao PSDB, a tempo de se candidatar a algum cargo eletivo este ano.

Uma terceira opção discutida pelos tucanos é que a ex-ministra dispute o governo do Rio de Janeiro, na hipótese de Aécio e Fernando Henrique não conseguirem convencer o técnico de vôlei Bernardinho a entrar na disputa. Bernardinho é o plano A dos tucanos para o Estado que tem o terceiro maior eleitorado do País. Semana passada, Bernardinho negou ser candidato à sucessão do governador Sérgio Cabral.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Nos EUA, Campos nega que PSB tenha decidido não apoiar PSDB em São Paulo

Governador de Pernambuco esteve em Washington para receber um prêmio de governança do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)

Flávia Barbosa

WASHINGTON — O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, negou nesta quarta-feira que seu partido, o PSB, tenha decidido não apoiar a reeleição do tucano Geraldo Alckmin em São Paulo, para permitir que a ex-senadora Marina Silva, da Rede, anuncie sua candidatura à vice-presidente em sua chapa em fevereiro. Segundo Campos, a definição das coligações estaduais só será feita após o lançamento das diretrizes comuns para um programa de governo, ainda em elaboração e que só deverão ficar prontas no fim de janeiro.

Campos afirmou que ele e Marina fizeram “uma imersão” no programa durante reunião na última terça-feira, mas não trocaram “uma palavra” sobre as sucessões estaduais. O governador considera natural que os estados já estejam debatendo os arranjos eleitorais de outubro, mas acredita que o seu papel e o de Marina neste momento sejam discutir a sucessão e as diretrizes nacionais.

— Nós não vamos interditar debate estadual algum — disse o governador. — Mas não discutimos este assunto (apoios regionais) em nenhum estado ainda. Estaríamos inclusive sendo incoerentes se falamos em uma coligação programática e a gente parte para decidir as coligações antes de ter as diretrizes do programa, estaríamos desfazendo o que tínhamos dito. Então, não procede.

Isso vale, inclusive, para a definição da chapa presidencial, ou seja, se o candidato a presidente seria o governador ou Marina.

— Vai acontecer na hora que for a melhor estratégia, depois das diretrizes definidas. Enquanto elas estão sendo definidas, estamos amadurecendo os próximos passos — disse Campos, que esteve na capital americana para receber um prêmio de governança do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pelos ações de desburocratização e segurança implementadas em sua gestão.

Para o governador, o ideal é que PSB e Rede, com base no programa comum, entrem juntos na maior parte das disputas de outubro. Ele calcula que, hoje, os dois partidos dividiriam o palanque em 20 dos 27 estados. Ele enfatizou que as siglas têm identidades próprias e diferenças, mas tentarão, onde houver divergências locais, manter o respeito às diretrizes da aliança nacional:

— Não estamos, eu e Marina, nos dedicando a discutir o quadro de São Paulo, Rio, Pernambuco,

Amazonas. Estamos fechando as diretrizes e depois vamos tentar guardar a coerência.
Campos disse que Marina não expressou em conversa com ele oposição ao apoio socialista a Alckmin. E lembrou que a ex-senadora já disse que a intenção da coligação entre PSB e Rede é “governar com os melhores do PT e os melhores do PSDB”.

— Estamos discutindo um projeto para o país. Marina diz muito bem, como eu afirmo, (sobre) a compreensão do ciclo histórico que nos trouxe até aqui, com a contribuição de todas essas forças, uma outra coalizão política que nos permita representar um avanço na prática política, numa política que possa garantir o conteúdo que está sendo reivindicado nas ruas — disse o governador.

Eduardo Campos afirmou ainda que vê com preocupação a deterioração dos fundamentos brasileiros, do ritmo de crescimento e da qualidade de vida da população. Porém, ressaltou, acha que há países em condições econômicas piores do que as brasileiras.

O governador se disse contrário à política de segurar a inflação por meio do represamento de reajustes de preços administrados, enquanto os alimentos estão aumentando à taxa anual de 10%, os serviços pessoais, de 9%, e os aluguéis, em algumas cidades, na casa de 15%.

Para ele, é preciso implementar políticas que coordenem melhor o tripé da economia brasileira — rigor fiscal, câmbio flutuante e meta de inflação — e elevem a produtividade e a capacidade de investimento.

Campos comentou também a possibilidade de o ano eleitoral contaminar o gerenciamento da política econômica em 2014, como alertou o Banco Mundial, em relação a um conjunto de emergentes que incluiu o Brasil, em relatório divulgado nesta quarta-feira. Para fechar janelas deste tipo, defendeu o governador, o país precisa de mandato de 5 anos para o presidente, sem reeleição:

— Claro que me preocupo (com o alerta do Banco Mundial), como brasileiro torço e vou contribuir para que isso não aconteça (...) Acho sinceramente que no Brasil não se pode retardar mais as decisões que precisam ser tomadas para sinalizar o compromisso fiscal e monetário, precisamos deixar isso muito claro inclusive como consenso das forças políticas que podem disputar o governo.

Fonte: O Globo.

Campos critica condução do combate à inflação

Sergio Lamucci

WASHINGTON - O Brasil poderia ter uma situação inflacionária muito melhor, sendo preocupante a maneira como a questão está sendo administrada, disse ontem, em Washington, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Para o pré-candidato à Presidência, a administração do combate à inflação tem sido feita "da mão para boca", com o governo segurando os preços administrados, para que eles fiquem na casa de 1% a 1,5% ao ano, enquanto "os preços de alimentos estão na casa de 10%, os custos pessoais na casa de 9% e o aluguel, em alguns lugares, passando dos 15%". Questionado sobre o impasse político envolvendo um possível veto do PSB nacional à aliança em São Paulo com o PSDB, Campos foi evasivo. Disse que esse assunto não está em discussão no momento.

"É claro que a inflação para o assalariado brasileiro e para os brasileiros mais pobres está acima da inflação oficial, porque a cesta de compras das classes C, D e E é bem diferente desse indicador", afirmou Campos. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência para o regime de metas de inflação, fechou 2013 em 5,91%. O governador observou que, "mesmo com a inflação num patamar abaixo do que encontramos em 2003, quando Lula chegou ao governo, nós poderíamos estar com uma inflação muito melhor". Ele lembrou, porém, que a inflação atual é menos da metade do que era em 2002, quando ficou em 12,5%.

Ao comentar a situação da economia brasileira, que cresce pouco mais de 2%, tem inflação próxima de 6% e um déficit em conta corrente superior a 3,5% do PIB, Campos afirmou que vê esse desempenho com preocupação. "A preocupação não é apenas pelo fato de o crescimento ser a metade do que foi no governo do presidente Lula, mas porque a qualidade de vida também está sendo afetada". Campos observou, contudo, que o Brasil ainda tem "fundamentos muito melhores do que outros países que ficam muitas vezes posando que está tudo bem".

Ao responder o que faria diferente, Campos afirmou que é necessário "coordenar efetivamente o tripé macroeconômico" (o regime de metas de inflação, o câmbio flutuante e metas de superávit primário), ressaltando, porém, que ele, por si só, não responde a todos os desafios brasileiros. "Nós precisamos melhorar a produtividade, animar os investidores externos e internos a investir mais e avançar no comércio exterior". Campos disse ainda que se preocupa que algumas medidas sejam postergadas por 2014 ser um ano eleitoral. "Nós não podemos perder mais tempo no Brasil retardando as medidas que têm que ser tomadas para sinalizar o compromisso do Brasil com a estabilidade fiscal e monetária".

Campos foi cuidadoso ao falar do cenário político. Segundo ele, o PSB e a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora Marina Silva, estão empenhados numa discussão programática, não havendo, neste momento, debate sobre que nomes devem ser apoiados nos Estados. Um documento com propostas deve ser finalizado até o fim deste mês. "Depois de lançadas as diretrizes, elas serão encaminhadas para cada uma das regionais do PSB, da Rede e do PPS, para que elas possam inspirar o debate sobre a composição das alianças em cada um dos Estados", disse.

"Mas em todos momentos nós deixamos claro que somos partidos que temos identidades, temos diferenças. Se não conseguirmos em todos os lugares estar na mesma posição, teremos posições que respeitem o projeto nacional. Não há nenhum estresse." Campos disse que há notícias de que há cerca de 20 Estados em que as "coisas estão indo bem", mas reiterou que nem ele nem Marina, que estiveram juntos na terça-feira, estão se dedicando à questão dos cenários estaduais.

Campos esteve em Washington para receber o prêmio GobernArte, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em duas categorias. Pela manhã, ele se encontrou com a secretária-assistente para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Roberta Jacobson.

Fonte: Valor Econômico

Partidos defendem norma do TSE que limita Ministério Público

Políticos de oposição e da base são a favor de resolução que impede procuradores de pedir apuração de crime eleitoral

Júnia Gama

BRASÍLIA — Na contramão da reação do Ministério Público e da Polícia Federal, políticos dos principais partidos, governistas ou de oposição, defenderam a resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que impede os procuradores de requisitarem a abertura de inquérito policial por crimes eleitorais nas eleições de 2014. Na terça-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, respaldado por entidades de procuradores e promotores, pediu a revisão da resolução e ameaçou acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para derrubar a norma, que estabelece que a abertura de inquérito tem que ser autorizada por um juiz eleitoral. Os políticos defendem esse controle judicial.

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que chegou a ser impedido de assumir o mandato em 2011 com base na Lei da Ficha Limpa, após denúncia do Ministério Público Eleitoral, foi enfático na defesa da resolução. Ele alega que o MP precisa ser controlado, porque a decisão poderia ser suscetível a “gostos” pessoais.

— O Ministério Público tem um papel de total autonomia e relevância, mas quem o controla? Essa resolução não proíbe que o Ministério Público investigue, mas cria mecanismos de controle, então é bem razoável. Não se pode ter uma investigação em segredo, tem que ser público. Até porque o MP é formado por homens e mulheres que podem ter preferências, gostos e opções partidárias — afirmou Cássio.

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) — do partido citado em conversas reservadas de integrantes do MP como autor de investidas contra o órgão — também concordou com o relatório do ministro José Antônio Dias Toffoli em defesa da restrição, na votação da resolução, em dezembro:

— O correto é que sempre haja um controle judicial do inquérito. Esse controle faz parte do ordenamento jurídico, então a resolução está na tendência do equilíbrio de poderes. Há uma necessidade que tudo o que seja feito pelo Ministério Público tenha acompanhamento judicial, para que ninguém fique com a faca no pescoço.

— O Ministério Público é formado por homens e mulheres, com virtudes e defeitos, muitas vezes com comprometimentos ideológicos e outros interesses. Então, é necessário que haja esse acompanhamento, não dá para ficar solto. Um inquérito é péssimo para a imagem do político, e, quando a opinião pública forma uma imagem, não tem quem salve, nem uma decisão contrária dos tribunais depois. A liberdade tem que ter parâmetros — afirmou o deputado Danilo Forte (PMDB-CE).

O senador José Agripino (RN), presidente do DEM, defende a resolução do TSE, mas disse que não se trata de controle sobre o Ministério Público:

— O TSE decidiu uma atribuição, isso não quer dizer que esteja fazendo controle sobre o MP. Essa resolução não cerceou o poder de ninguém, somente definiu os poderes.

Fonte: O Globo

Jarbas de Holanda: O favoritismo reeleitoral. As fortes restrições da economia. E imponderáveis políticos à frente

Uma pequena mas progressiva retomada da popularidade de Dilma Rousseff como presidente e como candidata, propiciada por intenso uso da mídia eletrônica, permitiu-lhe concluir 2013 e começar 2014 reafirmando o favoritismo na disputa pelo Palácio do Planalto. Com a redução ou arquiva-mento tático das resistências petistas. E com maior subordinação dela a Lula no relacionamento Executivo/Congresso e na montagem das alianças para a disputa, bem como no rearranjo do Ministério, que está sendo definido partidariamente e não pelos critérios “técnicos” dilmistas anteriormente anunciados. 

Retomada e desdobramentos que não puderam evitar a dissidência do PSB (fortalecida pela adesão da Rede de Marina Silva à candidatura de Eduardo Campos), mas que foram favorecidos por dois fatores aleatórios: o esvaziamento e a descontinuidade das manifestações de rua, de junho (atropeladas pelos blacks blocks) e a demora, até o final do ano, da definição unitária do PSDB em torno da candidatura de Aécio Neves, em prejuízo do exercício de seu papel, nas articulações partidárias e no debate público, de principal lide-rança e alternativa oposicionista.

O favoritismo da presidente/candidata – cuja recuperação parcial não é avaliada (nem pelo PT) como suficiente para garantir-lhe uma vitória em 1º turno – resistirá aos fortes e crescentes sinais negativos do comportamento da economia ao longo deste ano? 

Esses sinais antecipam grande dificuldade, ou impossibilidade, do governo para combinar a persistência do populismo tarifário e do custoso assistencialismo com o imperativo, também eleitoral, do controle da inflação (com os preços livres já além dos 7%, e com taxa completa acima do teto da meta, de 6,5%, em vários estados, no final de 2013). Isso no contexto de mais um pibinho em 2014, projetado para menos de 2% pelo boletim Focus, do Banco Central, divulgado na última sexta-feira. 

Numa mistura de ingredientes negativos, que, confirmada, terá efeitos restritivos inevitáveis para o conjunto da população (sobretudo para a de menor renda). Cenário do qual uma das consequências mais temidas pelo governo (e neste caso grave para o país) é um rebaixamento da nota de crédito externo do Brasil. Assim resumido na abertura da coluna da jornalista Míriam Leitão, no Globo de domingo último: “O risco de queda. Um espectro ronda o Planalto. O temor é de que o Brasil tenha sua nota nas agências de ra-ting rebaixada em pleno ano eleitoral. Os números fiscais pioraram e não há maquiagem que encubra isso dos profissionais do ramo. Para evitar esse dissabor, seja em que ano for, o governo teria que olhar sinceramente para o problema fiscal, sem mágica, sem descontos, sem enganos”.

Imponderáveis políticos – A avaliação social da presidente Dilma (assim como de outros governantes e candidatos aos pleitos nacional e estaduais) poderá ser posta em xeque – antes mesmo que o início regular da campanha eleitoral enseje enfim a presença na mídia eletrônica dos oposicionistas Aécio Neves e Eduardo Campos – por uma retomada de grandes manifestações de ruas. Estimuladas pelo agravamento dos problemas de economia e pelo mix de ineficiência e distorções éticas do gigantismo estatal. 

Eis alguns temas com potencial mobilizador: o contraste entre os vultosos gastos com estádios para a Copa do Mundo e o sacrifício da maior parte dos projetos do prometido legado social (de melhoria dos serviços públicos); o aumento da criminalidade e as precaríssimas condições do sistema penitenciário, evidenciados dramaticamente na capital do Maranhão; a etapa final do processo do mensalão e o julgamento de outras denúncias de corrupção (como a do chamado mensalão mineiro e a das licitações do metrô e da CPTM em governos paulistas do PSDB); a possível ocorrência de apagões, por causa das carências de investimentos na expansão e na modernização tecnológica no sistema elétrico.

Jarbas de Holanda, jornalista

Dora Kramer: Ponto de fervura

O PMDB tinha uma reunião de cúpula marcada para ontem à noite, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, Michel Temer. O tema: a posição do partido na campanha eleitoral.

Seja qual tenha sido o resultado, boa coisa para a presidente Dilma Rousseff não foi. Estava fora de cogitação o rompimento radical, com migração do partido para outra candidatura presidencial, mas na pauta constava a possibilidade de aprovar a aliança formal deixando, na prática, cada Estado atuar de acordo com sua conveniência.

Havia quem defendesse também um gesto simbólico de dizer que não faz questão de ministério algum, entregar os já ocupados e continuar apoiando o governo "de graça". Os defensores desse ato dizem que seria uma reação à fama de fisiológico que o PMDB leva sem, segundo eles, desfrutar de fato das benesses governamentais.

A ruptura seria esdrúxula. Depois de oito anos de aliança formal, quatro deles ocupando cinco ministérios e mais a vice, ficaria difícil aderir à oposição. Ademais, Michel Temer quer continuar na vice-presidência. Aécio Neves e Eduardo Campos têm planos próprios para o lugar, e Dilma está na frente.

Mas a temperatura interna entre os pemedebistas chega ao ponto de fervura. Não gostam da relação com Dilma, não aceitam a "gula" do PT, desde o início do governo se sentem mal representados em ministérios desprovidos de instrumentos (leia-se dinheiro, visibilidade e obras) para "fazer política".

Para arrematar, consideram um acinte a recusa de devolver o ministério da Integração Nacional ao partido para ser entregue ao PROS a fim de premiar o governador do Ceará, Cid Gomes, que deixou a legenda de Eduardo Campos.

"Seria justo que nos devolvessem a pasta da Integração, de fundamental importância no Nordeste. Enquanto o PMDB perde espaço, o PT dispõe de mecanismos políticos para nos massacrar nos Estados", diz o líder na Câmara, Eduardo Cunha.

Não obstante venha aumentando o grupo no PMDB que defende a ruptura pura e simples, Cunha não vê essa hipótese como realista. Além da dificuldade de virar a casaca, há outra questão que impede a tomada de posições mais radicais: a situação difícil de José Sarney e Renan Calheiros.

Bons de pressão, ambos estão combalidos. Sarney por causa da crise no sistema prisional do Maranhão e a condução desastrosa da filha, governadora Roseana. Calheiros por ter usado avião da FAB para ir a Recife fazer implante de cabelos.

Então, o que fazer? A julgar pelo estado de espírito mais ou menos geral a saída é endurecer, perdendo também a ternura. Ser menos condescendente com o PT, tendo também em vista que, se Dilma for reeleita, não precisará mais tanto do PMDB e tende a piorar o tratamento dado ao partido no segundo mandato.

Objetivamente o que significa endurecer? O Rio de Janeiro é um exemplo. Com 10% dos votos na convenção nacional, a seção fluminense não abre mão da candidatura do atual vice-governador, Luiz Fernando Pezão. O partido pode decidir largar Dilma de mão no Estado e cuidar exclusivamente da eleição local se o PT não desistir de concorrer.

Fazendo a seguinte conta: ela, que ganhou em 2010 com 1 milhão e 700 mil votos de frente, hoje tem 30% nas pesquisas. Significa que 70% estão contra. "Para nós é melhor disputar esse eleitorado do que dividir a faixa dos 30% com quatro candidatos", afirma Eduardo Cunha, referindo-se a Pezão, Lindbergh Farias, Marcelo Crivella e Anthony Garotinho, todos da base governista.

A hipótese de o PMDB ficar "solto" não é boa para Dilma, cuja situação eleitoral não é a mesma de 2010. Deve perder em Pernambuco para Eduardo Campos, em Minas para Aécio Neves e em São Paulo precisará ultrapassar o obstáculo da rejeição ao prefeito Fernando Haddad.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Antônio Carlos de Medeiros: Roteiros da sucessão

Os detentores de maior capital simbólico não estão no palco, mas nos bastidores: Lula, Marina e Fernando Henrique

Os roteiros da sucessão presidencial estão sendo elaborados desde já. Diante das mudanças recentes de circunstâncias, a economia não deverá ocupar sozinha o foco dos roteiros. As campanhas e as narrativas vão ter que operar também no plano simbólico da política: poder simbólico de fazer ver e fazer crer. Estão e estarão em jogo visões de mundo. Produzindo novos discursos políticos. Ao fim e ao cabo, o teor do novo discurso que vai emergir dependerá de lutas simbólicas pelo poder simbólico.

Na economia, a disputa pelas melhores propostas para conservar e ampliar a sensação de bem-estar dos brasileiros e para reconquistar a confiança do empresariado e dos investidores estrangeiros, contendo a piora de percepção do Brasil. No discurso político, a luta simbólica por novas visões de mundo e a disputa pelo poder simbólico de fazer ver e fazer crer para transformar a visão de mundo e a ação sobre o mundo.

Trata-se de ter e conquistar capital simbólico: prestígio acumulado pela representação legítima das aspirações predominantes da sociedade. Os detentores de maior capital simbólico não estão no palco, mas nos bastidores: Lula, Marina e Fernando Henrique. Poderão eles “transferir” capital simbólico para os seus respectivos candidatos?

Para além das propostas racionais no campo da economia, a disputa pelas visões de mundo deverá trazer emoções e subjetividades. Falar para as mentes, mas também para as almas e para o imaginário social dos brasileiros. Reconstituir as narrativas e as mensagens. E demonstrar capacidade de convencimento, ter atitudes críveis, comunicar coragem de mudar, mostrar capacidade de concertação e apontar caminhos para a melhoria da governança do Brasil.

O país chega ao fim de um ciclo de estabilidade e inclusão. Agora é tempo histórico de construir nova Agenda. Qual vai ser? O ano de 2015 já está contratado: ajuste fiscal, qualidade dos serviços públicos, direção do desenvolvimento. Tudo isto resulta em geração de conflitos distributivos, em atingir fortes interesses estabelecidos. Exige muita coragem e, principalmente, muita legitimidade, vale dizer, muito capital simbólico e muito capital social.

Cuidar do pão com manteiga e, ao mesmo tempo, dos sonhos e projetos de vida e de país. No processo político-eleitoral, este ano; e depois, em 2015, na inauguração de novo governo. Novo governo que vai precisar produzir condições de concertação, condições de harmonização de grandes mudanças, muitas delas a serem pactuadas no Congresso, no Executivo, no Pacto Federativo e nos espaços de representação corporativa dos trabalhadores e dos empresários brasileiros.

Novo governo, também, que vai ter o desafio de repactuar e reorganizar as condições objetivas de governança, para possibilitar a melhoria da capacidade de entrega do governo e superar os sérios entraves e “gargalos” do processo decisório e do arcabouço institucional — inclusive a proliferação de órgãos de controle e fiscalização que não conversam entre si e que produzem um cipoal de mecanismos concorrentes e paralelos de controle. Para controlar o Leviatã, produziu-se no Brasil um novo Leviatã.

Os roteiros da sucessão presidencial precisam fazer o Brasil recuperar a confiança em si mesmo. Esta é a luta simbólica que está para ser feita, agora e depois.

Antônio Carlos de Medeiros é cientista político

Fonte: O Globo

Tereza Cruvinel: Vertigens iniciais

Em 2002, o PMDB apoiou José Serra, deu-lhe a vice e o tempo de tevê, mas descarregou votos foi em Lula. Esse é o risco que corre Dilma, quando acha que o partido não tem para onde correr

Se eu não tivesse estado ausente deste espaço durante os ritos de passagem do fim do ano, desfrutando do direito periódico ao ócio, teria também especulado sobre as singularidades de 2014: um ano intenso, por conta das eleições e da Copa do Mundo, das interrogações sobre a economia e os humores da alma nacional. Cometeria outras profecias rasas, mas talvez não apostasse que, na política, o novo ano manteria a velocidade e o atropelo dos cronogramas que caracterizaram 2013, acreditando que, com a proximidade dos fatos, os atores moderariam o passo. A primeira quinzena, entretanto, sugere a vertigem continuada: a presidente falou em reforma ministerial e os partidos se agitaram, em especial o PMDB. A sociedade se surpreende com o tal rolezinho de jovens da periferia em shoppings. O STF segue produzindo vastas emoções e atitudes imperfeitas, enquanto o Ministério Público e o TSE travam a primeira disputa pelo poder fiscalizatório nas eleições. Imagine o leitor quando chegar setembro, véspera do pleito.

Como o dia da volta ainda permite a contemplação panorâmica, vejamos estes e outros augúrios de um ano que deve ser inesquecível. Se não por tudo, pelo menos pela Copa, com o Brasil ganhando ou perdendo o torneio mundial.

Cristal trincado
Há poucos meses, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, para reeleger Dilma, o PT não poderia jamais trincar sua aliança com o PMDB. A rusga do momento não vai levar a um rompimento formal, mas pode ter consequências. Não vai o PMDB jogar fora o poder que tem por causa de um ministério, mas precisa esticar a corda e falar alto, por isso seus caciques se reuniram ontem, reagindo ao aviso de Dilma, de que não lhes dará uma sexta pasta. Ela sabia que a reação viria, mas mesmo assim fustigou o partido, que em seus cálculos não a deixará porque não há melhor caminho a seguir. Para ter um tempo de televisão bem maior que o dos adversários, ela precisa acomodar no governo o Pros e o PTB, e melhorar a posição do PSD. Se o PMDB blefa quando chia e fala em rompimento, como dizem os dilmistas, ela pode estar cometendo um erro de cálculo.

O PMDB, com sua máquina e sua capilaridade invejáveis, nunca precisou romper para jogar ao mar candidatos indesejados. Mesmo quando eram do próprio partido, como seu maior nome de todos os tempos, Ulysses Guimarães. Luiz Carlos Azedo, na coluna de ontem, lembrou a expressão “cristianização”, neologismo forjado pela traição do velho PSD a seu candidato em 1950, Cristiano Machado. Depois de Ulysses, o líder da transição que ficou em quinto lugar na primeira eleição direta pós-ditadura, a de 1989, foi José Serra, que experimentou, em 2002, o sabor amargo da cristianização. O PMDB o apoiou oficialmente, dando-lhe a vice Rita Camata e um bom tempo de tevê. A maioria das seções estaduais e os mais influentes caciques, entretanto, descarregaram votos em Lula. Esse é o risco que Dilma corre, quando acha que o PMDB não tem para onde correr.

O cristal vem se trincando desde 2010. Na gaveta de um importante líder do partido, dorme um documento que ela assinou na época, prometendo que, em estados onde PMDB e PT não estivessem juntos, iria aos dois palanques ou a nenhum. Mas, em alguns estados, ela foi apenas a comícios de petistas. O PMDB não esqueceu, veio a convivência no governo e novos arranhões no cristal.

A mística do rolê
São dois os discursos correntes sobre o fenômeno do rolezinho. Um, supostamente “de esquerda”, atribui aos encontros um verniz político que ele não tem, explicando-o como consequência da falta de opções de lazer nas periferias. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, agora atento aos sinais das ruas, viu nos rolezinhos um protesto contra o “apartheid social”. Outro discurso, claramente ordeiro e conservador, pede ação policial enérgica contra os grupos que vão “zoar” nos shopping, promovendo correrias e assustando lojistas e frequentadores.

Os textos que os jovens trocam nas redes sociais para combinar os encontros liquidam com o esforço para “politizar” os rolezinhos. Pelo menos os seis que ocorreram em São Paulo entre 7 de dezembro e 11 de janeiro não tinham bandeira alguma. O que eles querem é diversão, “zoada”, como dizem. As meninas vão para ver de perto seus “ídolos” da internet, jovens com milhares de seguidores em seus perfis.

Por outro lado, como poderá a polícia selecionar o acesso aos shoppings, espaços coletivos, porém privados, sem incorrer na discriminação e no preconceito? Em Niterói, os convocadores de um rolezinho estão avisando: “Fiquem de olho, racismo é crime”. Ou seja, qualquer ato repressivo pode ser tachado como crime de racismo. Ninguém sabe ainda como lidar com isso, mas é certo que nem a mistificação ideológica nem a repressão pesada darão bons resultados.

MP X TSE
Na campanha deste ano, o Ministério Público poderá fiscalizar partidos e candidatos e contra eles apresentar denúncias, mas não realizar investigações sem a autorização de um juiz eleitoral. Assim é nas melhores democracias do mundo. Isso é o que determina a resolução do TSE contra a qual se insurgem os procuradores. Ainda que tolhe os poderes que eles acumularam nos últimos 25 anos, a medida é civilizatória, garante a separação dos papéis e evita investigações motivadas por interesse eleitoral. Mas em tempo de culto a um Ministério Público superpoderoso, o barulho será grande e confundirá os incautos, em nome da moralidade.

Fonte: Correio Braziliense

Eliane Cantanhêde: Mais um

Batido o martelo: Gilberto Kassab vai disputar o governo de São Paulo pelo PSD. Ele tenta convencer Henrique Meirelles (ex-BC) a se candidatar ao Senado e, ao mesmo tempo, acerta com Dilma um novo cargo para o PSD, possivelmente a Secretaria de Portos.

Enquanto o PMDB faz beicinho e ameaça romper, o PSD de Kassab sai cada vez mais da área de influência do PSDB paulista e cai nas graças de Dilma. Não é um movimento desprezível, porque o PSD já oscila entre a terceira e a quarta bancada da Câmara e joga tudo para aumentar a presença no Congresso.

Com a candidatura Kassab, as chances de reeleição do governador Geraldo Alckmin no primeiro turno vão ficando cada vez mais distantes. Além de Kassab, ele vai enfrentar, pelo menos, Alexandre Padilha (PT), Paulo Skaf (PMDB), um candidato próprio do PSB e outro do PSOL.

Quanto mais candidaturas, maior a possibilidade de segundo turno. E, nesse caso, Alckmin deverá bater de frente com o petista Padilha, que será alavancado por Dilma e certamente vai arrastar o PSD e o PMDB.

Se rompeu com Alckmin e nunca morreu de amores pelo presidenciável Aécio Neves, Kassab é tratado como amigo de Dilma desde criancinha e tem batido bons papos com Eduardo Campos (PSB), segunda opção do PSD agora e, quem sabe, a primeira em 2018. Ou seja: o ex-prefeito investe no presente e no futuro.

Um dos motivos da candidatura ao governo é que ele não dá ponto sem nó na política, mas saiu por baixo da prefeitura. Quer palanque e TV para defender-se das críticas e acusações e polir melhor o seu legado. Do PT não vai apanhar mais. E Alckmin vai ter muito mais com quem --e com que-- se preocupar na campanha.

Em resumo: ao se lançar em São Paulo, Kassab presta serviço a Dilma, atrapalha Alckmin, puxa bancada para o PSD e faz propaganda de si próprio e de sua gestão. Se Dilma for reeleita, seu futuro está garantido. Se não, ele não tem nada a perder.

Fonte: Folha Online

César Felício: Argentina, contra vento e maré

Continente tende ao continuísmo, com uma única exceção

Continua ventando forte na América Latina, mas o pêndulo político parece se mover mais devagar na safra de eleições dos próximos dois anos que se avizinham. Depois das guinadas nas disputas do Chile, Paraguai, México e a frágil vitória de Nicolás Maduro na Venezuela, o pêndulo oscila muito lentamente entre a esquerda e a direita, próximo a parar em sua destinação natural no centro. A continuidade é a tendência predominante, ainda que o ar tenha se tornado rarefeito para os governantes no último ano.

Mesmo desgastados pela deterioração econômica e protestos de rua, os presidentes da Colômbia e do Brasil entram no ano eleitoral como favoritos para se reelegerem.

Tanto Juan Manuel Santos quanto Dilma Rousseff oscilam entre 40% e 50% de intenção de voto. Perderam quase tudo que ganharam em seu capital de apoio popular após as eleições de 2010, mas se beneficiam pelo processo de renovação que passa a oposição nos dois países. Nem Oscar Zuloaga e Clara Lopez na Colômbia, ou Aécio Neves e Eduardo Campos no Brasil, conseguiram até o momento captar um amplo contingente de desiludidos: pelas pesquisas, há um vão de 16 pontos percentuais entre o ponto mais alto da popularidade de Santos e agora, e de 15 pontos percentuais entre o pico e o ponto atual no caso de Dilma. A Colômbia renova a Presidência em maio, cinco meses antes do Brasil.

Sucesso de público externo mas não tão apreciado em seu próprio território, onde a liberação da maconha não é uma bandeira popular e a inflação bordeja 10% ao ano, o uruguaio José Mujica deve ser sucedido por seu antecessor e patrocinador em 2006, o ex-presidente Tabaré Vasquez, na eleição que se celebra em novembro. Em uma pesquisa divulgada em dezembro, o ex-presidente obteve 41% das intenções e seus adversários somados, 45%. Não há muitas dúvidas de que Tabaré é o favorito, mas a arrancada relativamente baixa coloca em dúvida a obtenção da maioria parlamentar da governista Frente Ampla nas duas casas, de acordo com especialistas locais.

Na safra das próximas disputas, há dois pontos fora da curva: na Bolívia o presidente Evo Morales demonstra fortaleza política superior à de todos seus vizinhos e a Argentina desenvolve o único processo que caminha claramente para uma renovação política.

Evo garantiu na justiça o seu direito a tentar uma nova reeleição este ano, ainda que a Constituição boliviana limite a recondução a um único mandato. As pesquisas o colocam na faixa de 43%, mas com uma oposição muito atomizada, em que os dois principais candidatos, Samuel Doria Medina e Rubén Costas, transitam na faixa entre 10% e 15%. A conflitividade social imensa na Bolívia, em que a ocupação de prédios públicos e a interrupção de rodovias são acontecimentos do cotidiano, não afetou a condução autoritária e vertical de Evo, completamente à vontade em um ambiente onde a política se decide nas ruas, e não nos espaços institucionais. É um meio adverso para seus principais adversários, um empresário do setor de cimento e o governador da província Santa Cruz, lastreada no agronegócio.

No último país a renovar o mando, a Argentina, que realiza a sua eleição presidencial em 2015, Cristina Kirchner vai perdendo o controle das rédeas do processo, mas os dois que emergem nasceram de dentro de sua própria base: o governador de Buenos Aires Daniel Scioli e o deputado Sérgio Massa. A prevalecer o quadro atual, a Argentina terá na eleição presidencial uma presidente ausente do quadro sucessório e dois oponentes discutindo quem encarna melhor o que chamam de "peronismo pragmático", uma fórmula que em síntese significa conjugar assistencialismo com abertura na economia para o setor privado. Uma espécie de cristinismo sem a prática bolivariana e a épica do confronto.

A Argentina vive uma crise econômica, mas sua sucessão caminha para uma mudança por uma falência política. A presidente argentina ainda tem uma aceitação popular invejável para muitos presidentes, na faixa de 30%, e uma capacidade de mobilização que nenhum outro político possui no país.

Mas o fim da perspectiva de mudar a Constituição e tentar um novo mandato, que se tornou evidente depois das eleições legislativas do ano passado, fez com que Cristina perdesse a centralidade política. Seus gestos deixaram de atender a um objetivo estabelecido e a critérios dentro da lógica.

Sem aptidão para gerir a crise econômica, que conjuga inflação alta e déficit no setor externo, a presidente delegou a administração para o ministro-chefe de gabinete, Jorge Capitanich. Só não lhe transferiu poder real. Os anúncios feitos por Capitanich pela manhã não sobrevivem à hora do almoço sem serem desautorizados.

O quadro de colapso de liderança foi rapidamente captado pelo governador de Buenos Aires Daniel Scioli, que está dentro da base governista buscando recolher os despojos. A aposta do governador é que o desmoronamento de Cristina lhe entregue os 30% como se colhe uma fruta bem madura. Na antecâmara do governador, seus articuladores falam em estabelecer uma transição negociada.

Um modelo em que o eixo de poder se deslocaria de Cristina para os governadores das províncias, em uma nova aliança que pudesse incorporar os caciques do sindicalismo e até mesmo o grupo de mídia Clarín, comandado pelo empresário Hector Magnetto, uma espécie de inimigo público número um do cristinismo.

Na transição negociada, que da mesma forma é buscada por Sérgio Massa, Cristina receberia o fundamental para sobreviver politicamente na planície: indulgência plenária, para os pecados cometidos e para os que venha a cometer.

Na história da Argentina, com exceção da troca de mando entre marido e mulher de 2007, nenhum presidente elegeu o sucessor nos últimos 92 anos. E quando isso se deu, em 1922, sucedido e sucessor romperam logo depois. É uma nota de cautela para Cristina. Mas também de advertência para os que pensam em substitui-la.

Fonte: Valor Econômico

Demétrio Magnoli: Declínio do ‘declinismo’

A profecia do declínio dos EUA é uma narrativa política cíclica que descreve trajetórias balísticas. No ciclo mais recente, o lançamento do projétil do declinismo coincidiu com o colapso financeiro de 2008, um evento que lhe conferiu alta velocidade inicial e extraordinário alcance. Contudo, o projétil atingiu o apogeu anos atrás e já ingressou na etapa descendente de sua trajetória. Nessa etapa, os países que acreditaram no mito declinista, como o Brasil, precisam se ajustar a um cenário externo inesperado.

Os arautos do antiamericanismo são, quase sempre, adeptos fervorosos do declinismo. Eles imaginam-se pensadores originais, mas estão enganados: as fontes do declinismo encontram-se na própria tradição política americana, que gera versões liberais e conservadoras dessa profecia. Nos EUA, desde o sobressalto causado pelo lançamento do Sputnik soviético, em 1957, emergiram cinco narrativas declinistas sucessivas em número igual de décadas. Do “Vietnã” ao “Afeganistão e Iraque”, da “estagnação econômica” à “crise financeira global”, a música da ruína reproduz melodias conhecidas, ainda que sedutoras. A diferença entre o declinismo “made in USA” e o declinismo propagado fora dos EUA não está na composição, mas no tom dos instrumentos: melancolia, num caso; júbilo, no outro.

O declinismo é uma fábula e, como tal, “não trata de verdades, mas de consequências”, assinalou Josef Joffe. A narrativa da ruína americana é, portanto, impermeável ao teste da validação empírica, o que explica sua inesgotável capacidade de renascer ciclicamente, com a mesma força persuasiva de sempre.

Os declinistas tocam uma música destinada a configurar crenças e mudar atitudes políticas. Nas suas versões autóctones, a finalidade é perturbar os espíritos para vender uma ideia de redenção — e, assim, derrotar a profecia insuportável. Pense, por exemplo, no vaticínio de Samuel Huntington sobre os efeitos corrosivos da imigração hispânica na coesão da sociedade americana, um artefato “sociológico” destinado a fornecer argumentos eleitorais para a ala direita, nativista, do Partido Republicano.

Fora dos EUA, a narrativa declinista é um componente crucial nos discursos antiamericanos de correntes políticas avessas ao liberalismo, ao modernismo, ao cosmopolitismo e ao judaísmo. Meio século atrás, o egípcio Sayyd Qutb formulou a doutrina da jihad contemporânea sob o impacto duradouro de uma viagem aos EUA na qual concluiu que o Ocidente perdera a vitalidade moral, condenando-se a um declínio irreversível. A França de Vichy era declinista, tanto quanto é, hoje, a Frente Nacional, de Marine Le Pen. Entre as elites francesas, conservadoras ou social-democratas, o prognóstico da decadência americana é algo próximo a um consenso nacional, com raízes psicológicas fincadas na percepção compartilhada do declínio francês. Há uma década, a direção do Partido Comunista Chinês promoveu um seminário fechado sobre a história da ascensão e do declínio das grandes potências, extraindo a reconfortante conclusão de que a “Pax Americana” cederá lugar a uma “Pax Chinesa”.

A profecia declinista perpassava os discursos de Nikita Kruschev, mas só contaminou de fato o pensamento da esquerda marxista depois da queda do Muro de Berlim. O filósofo-militante alemão Robert Kurz fabricou uma versão pretensamente sofisticada da venerável narrativa no livro “O colapso da modernização”, de 1991, que interpreta a implosão do “império soviético” como sinal periférico anunciador de uma crise terminal do sistema capitalista. A tese rocambolesca converteu-se, instantaneamente, numa espécie de amuleto das correntes de esquerda engajadas no movimento antiglobalização. Nesses círculos, o nome de Kurz brilhou intensamente durante a pequena recessão do início do século e, novamente, na hora da crise global deflagrada pela queda da Casa dos Lehman Brothers.

A esquerda latino-americana, vincada pelos nacionalismos e atraída por caudilhos, sempre foi esperançosamente declinista. A “revolução bolivariana” de Hugo Chávez reativou a profecia da decadência americana, que encontra fortes ecos no PT. A crença na falência histórica do (mal denominado) “capitalismo liberal” provocou uma notável inflexão na política externa brasileira, deixando como herança o isolamento comercial do Brasil na concha de um Mercosul sem horizontes. No auge do ciclo declinista mais recente, Lula convenceu-se da eficácia do capitalismo de estado e, para regozijo comum dos seus “desenvolvimentistas” e do alto empresariado associado ao Palácio, soltou as rédeas do crédito público subsidiado. Desse autoengano nasceu o “pibinho da Dilma”, um reflexo da retração da produtividade de nossa economia.

Obviamente, todas as curvas balísticas ingressam, em algum momento, na etapa descendente. O ano de 2014 abre-se com o prognóstico de um crescimento global (calculado à base da paridade do poder de compra) próximo a 4%, quase um ponto percentual mais que o do ano passado. Depois de muitos “anos chineses”, o motor da expansão será, uma vez mais, a economia americana, que experimenta os efeitos combinados da recuperação dos preços dos imóveis e da explosão da produção interna de energia. Novamente, o declinismo entra em declínio, recolhendo-se à hibernação até que algum evento geopolítico ou econômico impactante propicie a sua reanimação.

Nessa etapa, carentes de argumentos verossímeis, os profetas do declinismo tendem a enrijecer sua linguagem, refugiando-se nas mais desvairadas hipóteses conspiratórias. A fórmula manjada do “ataque especulativo” (contra o BNDES, na versão de Luciano Coutinho, ou contra a política fiscal do governo, na de Arno Augustin), inscreve-se nesse padrão facilmente reconhecível. A “guerra psicológica adversa”, invocada por Dilma Rousseff, pertence ao mesmo arsenal de bombas sujas. Eles não aprenderam nada. Azar do Brasil.

Demétrio Magnoli é sociólogo

Fonte: O Globo