sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Opinião do dia – José Serra

Um espectro ronda o Brasil – o espectro do descontrole fiscal. É preciso que as forças políticas se mobilizem para exorcizá-lo. Quanto piores as expectativas sobre as contas públicas e o crescimento da dívida – sancionadas e até turbinadas pelas agências internacionais de risco –, mais caros se tornam os empréstimos e refinanciamentos para as empresas brasileiras, já fragilizadas pela queda vertical da demanda e pelos juros domésticos siderais.
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José Serra é senador (PSDB-SP). ‘Um manifesto fiscalista’. O Estado de S. Paulo, 8 de outubro de 2015.

Governo ainda paga pelas ‘ pedaladas’

• Repasses a BNDES, BB e FGTS para cobrir subsídios, represados em 2014, já chegam a R$ 14,4 bi este ano

O Tesouro Nacional já repassou a BNDES, Banco do Brasil e FGTS, nos primeiros oito meses deste ano, R$ 14,4 bilhões com o objetivo de cobrir os gastos que as instituições e o Fundo de Garantia tiveram com juros subsidiados de programas federais, revelam Martha Beck e Bárbara Nascimento. No ano passado, foram R$ 3,4 bilhões no mesmo período. A fatura dos subsídios deveria ter sido quitada pelo governo em 2014, mas, numa “pedalada”, a despesa foi adiada para este ano para melhorar o resultado fiscal. Sem os desembolsos, as contas públicas, que estão R$ 14 bilhões no vermelho até agosto, teriam superávit de R$ 425 milhões no mesmo período. Os repasses podem chegar a R$ 20 bilhões até dezembro.

Fatura bilionária das pedaladas

• Governo já pagou R$ 14,4 bi em despesas de anos anteriores, e cifra pode chegar a R$ 20 bi

Martha Beck Bárbara Nascimento - O Globo

- BRASÍLIA- A queda na arrecadação e o engessamento dos gastos não são os únicos vilões das contas públicas em 2015. Grande parte do rombo é resultado do esforço da equipe econômica para colocar em dia pagamentos de despesas represadas em anos anteriores, principalmente em 2014, com as famosas “pedaladas fiscais”. Dados do Tesouro Nacional mostram que, entre janeiro e agosto, R$ 14,4 bilhões saíram dos cofres públicos para quitar dívidas com subsídios e subvenções econômicas devidos até 2014. Segundo integrantes do governo, até o fim do ano, essa conta pode chegar a R$ 20 bilhões .

No ano passado, o governo adiou repasses a bancos públicos — BNDES e Banco do Brasil, no caso dos subsídios — para melhorar de forma artificial o resultado das suas contas. Se os subsídios e subvenções tivessem sido pagos, o déficit primário do governo central teria subido de R$ 17,243 bilhões, ou 0,34% do Produto Interno Bruto ( PIB), para R$ 31,681 bilhões, ou 0,62 % do PIB. Mesmo com a manobra, o resultado do ano passado foi o pior da série histórica do Tesouro, iniciada em 1997.

Resto a pagar são 70% dos gastos
Os subsídios e subvenções concedidos a programas como o de Sustentação do Investimento ( PSI), do BNDES e o de Garantia da Atividade Agropecuária ( Proagro) foram os principais alvos das manobras fiscais comandadas pelo exsecretário do Tesouro Arno Augustin. O governo segurou deliberadamente repasses que a União deveria fazer aos bancos públicos em decorrência da equalização de taxas de juros para programas de incentivo ao setor produtivo e ao agronegócio. O objetivo era melhorar artificialmente o resultado das contas públicas no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, especialmente em 2013 e 2014.

Agora, esses pagamentos estão sendo regularizados, o que aumenta as despesas deste ano. Sem eles, o governo central teria um superávit primário ( economia para o pagamento de juros da dívida pública) de R$ 425 milhões entre janeiro e agosto. Ao invés disso, registra déficit de R$ 14 bilhões.

“A elevação dos gastos com subsídios e subvenções e Proagro em 2015 tem gerado pressão adicional ao ajuste fiscal em curso, uma vez que o volume de pagamentos nos primeiros oito meses do ano alcançou relevância inédita”, afirma o relatório do Tesouro sobre o resultado do governo central em agosto. O total desembolsado com essas despesas chegou a R$ 21 bilhões até agora, e quase 70% ( R$ 14,4 bilhões) foram restos a pagar.

Essa não é a única operação que mostra a tentativa do governo de reverter as pedaladas. Houve também um forte aumento nos repasses ao FGTS, outra despesa que foi adiada no ano passado. O governo usa recursos do Fundo no programa Minha Casa Minha Vida, por exemplo, e o Tesouro é obrigado a ressarcir o FGTS, já que o fundo é dos trabalhadores. Entre janeiro e agosto de 2015, essa conta chegou a R$ 4 bilhões. Já no mesmo período de 2014, o valor repassado foi de apenas R$ 439,4 milhões. Ou seja, em oito meses, houve um crescimento de 813,3%.

De acordo com o Tesouro, os repasses atrasados têm sido regularizados, sobretudo, com o PSI e com o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar ( Pronaf). Para essas rubricas, o governo desembolsou, entre janeiro e agosto, R$ 6,1 bilhões e R$ 2,9 bilhões, respectivamente, só em restos a pagar. No Orçamento, o valor previsto para os repasses de 2015 é muito menor. Caso não houvesse valores represados, o governo teria dispendido apenas R$ 1,3 bilhão com o PSI e R$ 306 milhões com o Pronaf. A decisão de fazer o acerto este ano, segundo o Tesouro, é para reduzir o estoque de restos a pagar e obedecer à ordem cronológica dos pagamentos. Isso, de acordo com os técnicos do governo, diminui as incertezas e dá mais credibilidade às contas.

Pressão do TCU
O especialista em contas públicas da consultoria Tendências Fabio Klein explica que é prática comum do governo empurrar gastos de um ano para outro. Ele destaca, entretanto, que o montante de janeiro a agosto deste ano é extremamente alto — 326,6% maior do que o total de restos a pagar de 2014, quando o valor foi de R$ 3,384 bilhões. Foi justamente a prática de adiar despesas que levou o Tribunal de Contas da União ( TCU) a recomendar a rejeição das contas do governo Dilma Rousseff de 2014, na quarta- feira.

— O governo está regularizando fortemente os restos a pagar de 2013 a 2014, e isso certamente tem impacto negativo para as contas de 2015. A despesa de restos a pagar é algo corrente, apesar de ser ruim em termos de planejamento. O problema ( neste ano) é que foi algo explosivo, de forma mais intensa, envolvendo bancos públicos — ressaltou Klein.

Como estava sendo pressionada pelo julgamento no TCU, a equipe econômica não teve outra escolha senão reduzir o passivo, diz a especialista em contas públicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ) Margarida Gutierrez.

— O governo está botando a conta em dia pressionado pelo TCU. A nova equipe econômica está mais preocupada com a transparência das contas até para não ser acusada de corroborar com as pedaladas, que tiraram a credibilidade das contas do governo — destacou Margarida.

Além de colocar os pagamentos em dia, o governo também adotou novas normas para os repasses do Tesouro, para evitar novas manobras. No dia 02 de outubro, foi editado o Decreto 8.535, que fixa um prazo de cinco dias úteis para o Executivo fazer o acerto de contas com bancos públicos. É uma forma de evitar que o Tesouro atrase demais seus repasses e obrigue o banco a fazer pagamentos em seu lugar, como ocorreu em 2013 e 2014.

Em junho, já havia sido editada uma portaria do Ministério da Fazenda que aperfeiçoa as regras de pagamento aos programas do BNDES. Por ela, em novas operações, a equalização dos financiamentos passa a ser apurada de seis em seis meses e paga nos seis meses seguintes. Essa regra também evita o represamento de repasses do Tesouro.

Lei de Responsabilidade Fiscal deve ser suavizada, diz Pezão

• Sem mudanças, ‘ não sobrará nenhum gestor neste país’, afirma

Luiz Gustavo Schmitt - O Globo

- RIO e BRASÍLIA- Em encontro com prefeitos de municípios fluminenses, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão ( PMDB), defendeu ontem a flexibilização da Lei de Responsabilidade Fiscal ( LRF) num ano de grave crise econômica. Ao comentar a rejeição das contas da presidente Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União ( TCU), Pezão minimizou o parecer da Corte e se disse preocupado com a queda de receita dos municípios. Disse que é preciso rever critérios da LRF, ou os prefeitos não conseguirão cumprir suas exigências, assim como o governo federal:

— Se estão fazendo isso com a Presidência da República, imagina o que vai vir daí para baixo — disse, referindo- se ao risco de punição de prefeitos. — Temos aspectos da LRF que precisam ser discutidos. Se não for feito isso, não sobrará nenhum gestor neste país. É preciso aprovar uma lei no Congresso. Já conversei sobre isso umas dez vezes com o Eduardo Cunha ( presidente da Câmara) e umas oito vezes com o Renan Calheiros ( presidente do Senado).

Pezão procurou minimizar a decisão do TCU sobre as contas do governo Dilma. Afirmou que o órgão é consultivo e o parecer, um “aconselhamento”:

— Já vi contas de municípios e estados serem rejeitadas pelos Tribunais de Contas e, depois, aprovadas pelo Legislativo — disse.

O governador defendeu a governabilidade de Dilma e a volta da CPMF:

— Temos que respeitar as urnas. Sei que o país saiu dividido da eleição. Mas este processo que está aí não serve para ninguém — afirmou, referindo- se ao debate sobre o impeachment de Dilma.

A preocupação com um efeito cascata, devido à decisão do TCU, também foi manifestada pelo presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Márcio Lacerda ( PSB), em Brasília, onde ele está reunido com outros gestores municipais.

— Olho para o futuro e vejo que, provavelmente, a imensa maioria dos municípios terá problemas com a Lei de Responsabilidade Fiscal no final do próximo ano. Já há um movimento de prefeitos perguntando à Justiça: já que o governo federal não cumpre a sua responsabilidade de repasses, como o prefeito poderá fechar suas contas no próximo ano? — questionou Lacerda, prefeito de Belo Horizonte.

Prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet ( PDT) se mostrou preocupado com o que considera excesso de controle sobre os gestores, “a pretexto de prevenir corrupção”. Isso, segundo ele, pode engessar a administração pública:

— Essa decisão ( do TCU) vai além da inelegibilidade, podendo gerar até condenação criminal. Vai fortalecer os Tribunais de Contas dos estados. Oremos.

(Colaborou Fernanda Krakovics)

Augusto Nardes: ‘ Vi um fortalecimento da democracia brasileira’

• Relator do parecer que reprovou as contas do governo, aprovado pelo TCU, diz que decisão foi técnica; impeachment, afirma, não é tema da Corte

Por Vinicius Sassine - O Globo

Como viu a votação unânime do TCU ( pela rejeição das contas da presidente Dilma de 2014)?

Vi como um fortalecimento da democracia brasileira. A decisão do ministro ( do STF, Luiz) Fux ( de negar pedido do governo para suspender o julgamento) foi muito importante para preservar o tribunal e, acima de tudo, permitir que uma instituição com importância no controle externo funcione de forma democrática.

Algumas irregularidades já haviam sido constatadas em anos anteriores. Por que a rejeição agora?

Em 2014 foi muito impactante a diferença. São R$ 106 bilhões em distorções.

O plenário do TCU estava tomado por parlamentares da oposição. O governo alega que houve politização do processo.

Acho que não houve politização. O relatório é assinado por 14 auditores, um trabalho coletivo do TCU, puramente técnico, uma soma de números, verificar se cumpriu ou não a lei. No tribunal, são todos concursados. Os ministros são eleitos de forma independente. Foi uma demonstração de maturidade do TCU.

A análise das contas presidenciais vai ser diferente daqui para frente? Pode haver novas rejeições?

Foi um bom exemplo para o resto do país, para os Tribunais de Contas nos estados. É impressionante o reconhecimento. No avião, hoje ( ontem) de Brasília a Belo Horizonte, as pessoas vieram me cumprimentar.

O seu relatório será usado para embasar pedidos de impeachment da presidente. Concorda com isso?

Impeachment eu não discuto. Não é conosco. Nós temos de ver as contas.

Wagner descarta ação no STF: ‘ batalha agora é no Congresso’

• Dilma vê tentativas golpistas, mas considera decisão do TCU página virada
Catarina Alencastro e Júnia Gama - O Globo

BRASILIA - O governo desistiu de recorrer ao STF contra a rejeição das contas de 2014 pelo TCU. “A batalha agora é no Congresso, não no Judiciário”, disse Jaques Wagner ( Casa Civil). A presidente reuniu seu novo Ministério, pediu ajuda no Congresso, e governo vê caso como “página virada”. Um dia após a rejeição das contas da presidente Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União ( TCU), o governo deixou claro que trocou uma reação jurídica por atuação direta no Congresso. Ontem, o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, admitiu que o resultado do julgamento é “evidentemente ruim”, embora fosse esperado. Ele descartou uma nova ação no Supremo Tribunal Federal ( STF).

— A batalha agora é no Congresso, não é no Judiciário — afirmou, depois de ato de transmissão de cargo na Defesa para Aldo Rebelo.

Após a primeira reunião ministerial depois dos cortes no primeiro escalão, Jaques Wagner voltou a falar do assunto:

— A presidente é uma guerreira, ela opera muito bem diante da dificuldade. Evidentemente queríamos que a decisão do TCU caminhasse de outra forma. Ela entende que é uma pagina virada e que a batalha definitiva será no Congresso. Ela funciona bem nesses momentos de dificuldade.

“Golpe democrático”
Com relação à investigação no Tribunal Superior Eleitoral ( TSE), outra frente que o governo enfrenta, Wagner disse que alguns setores ficam torcendo, como se a abertura da investigação já fosse o resultado de um julgamento:

— Eu acho que alguns já ficam torcendo para antecipar o mérito. Alguns já ficam querendo comemorar o que na verdade não foi decidido.

Na primeira reunião ministerial após a reforma, Dilma disse aos ministros que ainda via movimentos que pensavam dar um “golpe democrático”, e defendeu que é preciso “ficar atento” para que o Brasil não sofra mais um tipo de golpe, justificando que situações semelhantes aconteceram no país em outros moldes. A fala, que encerrou o evento, foi interpretada pelos presentes como um pedido de mobilização contra o impeachment.

No encontro, o advogadogeral da União, Luís Inácio Adams, afirmou aos ministros que a decisão do TCU “não é porta de entrada” para um processo de impeachment. Ele argumentou que a desaprovação das contas, mesmo que confirmada pelo Congresso, não podia ser considerada crime de responsabilidade e, portanto, não haveria fundamentação jurídica que embasasse um impeachment.

Segundo relatos, Adams disse que, caso o Congresso ratifique a decisão do TCU e decida pela rejeição das contas presidenciais, “o máximo” que pode ocorrer à presidente é tornar- se inelegível nas próximas eleições.

O ministro Aloizio Mercadante, que saiu da Casa Civil para a Educação, subiu o tom das críticas sobre um eventual pedido de impeachment com base no julgamento do TCU:

— Pedaladas fiscais sempre aconteceram em governos anteriores e nunca foram consideradas irregularidades. A oposição golpista não pode usar isso como argumento para impeachment.

O ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, fez um apelo aos colegas para que ajudem na articulação política para convencer as bancadas de seus partidos no Congresso a trabalharem para que o parecer do TCU seja rejeitado na Comissão Mista de Orçamento e na votação posterior em plenário.

Adams e o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, fizeram uma longa exposição sobre a defesa do governo no assunto. Disseram que o TCU fez uma interpretação equivocada das chamadas “pedaladas fiscais” quando apontou que as manobras constituíam empréstimos. E defenderam que, mesmo que o órgão considere a ação reprovável, esse entendimento deveria valer apenas daqui para frente, e não prevalecer sobre as contas do ano passado, já que operações análogas foram realizadas em governos anteriores.

Agilidade com demandas
Berzoini fez ainda um pedido para que os ministros atuassem junto às suas bancadas na Câmara para evitar que o boicote à sessão de análise dos vetos presidenciais, ocorrida na terça e na quarta- feira, se repita no futuro. Há expectativa de que nova sessão possa ser marcada nas próximas semanas, e, de acordo com relatos, Berzoini se mostrou um pouco mais otimista, após ter se reunido com líderes da base aliada ontem. Na ocasião, o ministro se comprometeu em, até dez dias, liberar as demandas por cargos dos deputados.

Berzoini pediu aos ministros que analisem se, em suas respectivas pastas, há alguma objeção às indicações de nomes feitas por parlamentares da base; e que sejam céleres em se manifestar sobre isso, para evitar consequências negativas para a articulação do governo.

O TCU entregou ao Congresso na manhã de ontem o parecer pela rejeição das contas de 2014 da presidente. À tarde, o advogadogeral da União minimizou a derrota sofrida pelo governo:

— É uma fase. Não julgue o processo pela etapa.

Apoio ao governo é frágil em comissão que julga contas

Ranier Bragon e Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo enfrenta na Comissão Mista de Orçamento, colegiado onde começará a tramitar a análise do parecer do TCU (Tribunal de Contas da União) que reprovou as contas de Dilma Rousseff, a mesma fragilidade política que vem impondo derrotas ao Planalto no Congresso.

Na teoria, 28 dos atuais 40 deputados e senadores titulares da comissão são de partidos governistas e só 12 são de oposição. Na prática, porém, a ala contrária a Dilma é bem mais expressiva. O deputado que lidera a bancada peemedebista no colegiado, Hildo Rocha (MA), por exemplo, é ligado ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e tem atuado mais na linha de oposição.

A comissão é comandada pela senadora Rose de Freitas (PMDB-ES). A peemedebista é alinhada ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), peça fundamental para que o governo tente alterar o revés sofrido pelo governo no TCU.

Apesar das dificuldades, o líder do governo na comissão, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), diz acreditar na possibilidade de o colegiado mudar o parecer do TCU.

"Existe um ambiente na CMO que sempre primou por uma análise técnica, quase como uma questão de Estado, é possível fazer um debate não contaminado pela lógica do impeachment."

O oposicionista Domingos Sávio (PSDB-MG) discorda: "Vamos trabalhar para ratificar na íntegra o que o TCU decidiu. Se o Legislativo tomar alguma decisão diferente, então é melhor fechar o TCU".

A presidente da CMO afirmou nesta quinta (8) que não é "afeita a pressões" e disse acreditar que a comissão fará uma análise técnica, apesar de o colegiado ser formado por políticos.

"Não podemos errar ao interpretar que o julgamento de uma conta de um presidente da República possa ser eminentemente político, ele terá que ser técnico", afirmou.

O ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, disse nesta quinta que a estratégia do Palácio do Planalto será investir no Congresso Nacional na tentativa de reverter decisão do TCU.

Nardes diz que 'há fortes indícios' de que pedaladas continuam em 2015

• Em entrevista à 'rádio Estadão', relator do processo que rejeitou contas de Dilma no TCU afirma que Procuradoria deve abrir representação que aponte irregularidades cometidas neste ano

- O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes, relator do processo que rejeitou as contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff, afirmou nesta quinta-feira, 8, em entrevista à rádio Estadão, que "há indícios muito fortes" de que as "pedaladas fiscais" continuaram em 2015. Nardes fez o alerta um dia depois de o TCU reprovar por unanimidade as contas da presidente, o que não ocorria desde 1937.

"Temos um procurador que está investigando. É bem provável que ele entre com alguma representação. A informação que eu tenho é que há indícios muito fortes de que as irregularidades continuam 2015", afirmou o ministro. "Alguém tem que ter coragem de dizer que, se não arrecadou, não pode gastar mais. Vai pedalando vai pedalando e chega uma hora que a bicicleta quebra."

As "pedaladas fiscais" foram uma das irregularidades apontadas pela corte nas contas do governo Dilma referentes ao ano passado. Tratam-se de uma manobra em que a União atrasava recursos do Tesouro Nacional para os bancos públicos pagarem despesas obrigatórias de programas sociais. O atraso obrigava essas instituições a usar dinheiro próprio para arcar com tais obrigações.

Para o TCU, a prática configura que houve empréstimos indevidos dos bancos ao governo, que é seu controlador, além de ter mascarado resultados do governo em alguns períodos.

Nardes disse também que vem recebendo uma série de ameaças durante o período em que esteve relatando o processo das contas do governo. "Recebi várias ameaças. Recebi telefonemas de gente dizendo que ia acabar comigo. Chamei a Polícia Federal. Agora tenho andado com proteção", afirmou o ministro do TCU. "É claro que me sinto ameaçado. Eu não estou enfrentando meia dúzia de pessoas. Estou enfrentando uma estrutura de milhares de pessoas que têm cargos, que querem permanecer onde estão".

Antes do julgamento que reprovou as contas de Dilma, Nardes afirmou que alertou a presidente no ano passado e que conversou diversas vezes com ministros da petista para comunicá-los das irregularidades encontradas na contabilidade do ano passado. "Ninguém pode falar que não sou uma pessoa de diálogo", disse o ministro.

Questionado sobre ter sido citado no âmbito da Operação Zelotes, que apura o suposto esquema de corrupção no Conselho de Recursos Administrativos Fiscais (Carf), órgão que funciona como uma espécie de "Tribunal da Receita", o ministro do TCU entende como uma tentativa de desqualificá-lo.
"Isso foi uma tentativa de me desqualificar. Tentaram me vincular em todas as situações possíveis para me desgastar. Estão tentando me atacar de todas as formas", afirmou.

Os investigadores teriam chegado a Nardes ao seguir o dinheiro recebido por um escritório do advogado José Ricardo da Silva, que prestava serviços de consultoria a empresas suspeitas de pagar suborno a conselheiros do Carf. Recursos dessa consultoria teriam sido transferidos a uma firma que teve o ministro como sócio. Nardes afirma não ser mais acionista da empresa desde 2005.

Oposição amplia pressão sobre Dilma, que cobra ministros contra impeachment

• Na primeira reunião da nova equipe ministerial e um dia após TCU ter rejeitado as contas da gestão em 2014, presidente pede empenho para tentar demonstrar que governo federal não está isolado politicamente e barrar o que chamou de 'golpe democrático'

Tânia Monteiro, Isadora Peron e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Na primeira reunião com sua nova equipe ministerial, a presidente Dilma Rousseff cobrou a ação de ministros para barrar pedidos de impeachment no Congresso. Um dia após a rejeição do balanço de 2014 do governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e depois de sofrer derrotas seguidas no Congresso, a presidente disse ontem aos ministros que é preciso unidade para virar o jogo.

"Querem pôr em andamento o chamado 'golpe democrático' no País. Não podemos ignorar isso", afirmou Dilma aos ministros, no Palácio do Planalto. "Precisamos trabalhar e mobilizar nossas bases para dar respostas e mostrar que temos apoio". Para a presidente, o julgamento no TCU é "página virada". "Vamos fazer a batalha no Congresso", disse ela, ao lembrar que o parecer do tribunal seguirá agora para a Comissão Mista de Orçamento.

A cobrança por fidelidade foi feita por Dilma no mesmo dia em que a oposição intensificou o movimento pelo afastamento da presidente, aproveitando a fragilidade do governo. "Se o pedido for colocado em votação, o PSDB se colocará favoravelmente àquilo que pensam seus eleitores", afirmou o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB. "Temos uma situação inédita e vamos analisá-la", comentou a ex-senadora Marina Silva, hoje à frente da Rede Sustentabilidade.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi pressionado ontem no plenário para acatar logo o requerimento apresentado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, pedindo o impeachment de Dilma. "A base aliada tem de ficar atenta à movimentação da oposição", disse o novo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, após a reunião. "Não vamos ficar brincando de esconde-esconde. Todo mundo sabe o cronograma que está sendo montado."

Na terça-feira à noite, Wagner também procurou Cunha na residência oficial do peemedebista. Na conversa reservada, pediu a ele que não aceitasse os pedidos de impeachment. Wagner também afirmou que o governo queria dialogar com todas as alas do PMDB e que não tinha a intenção de privilegiar apenas o líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). "Não temos a ilusão de trabalhar 100% com o PMDB e o diálogo com Cunha tem de continuar sempre", disse.

Desafeto do governo, Cunha enfrenta situação difícil depois que foram reveladas suas contas na Suíça e, irritado com a "ascensão" de Picciani, tem ajudado a derrotar o Palácio do Planalto.

Mesmo depois de entregar sete ministérios ao PMDB, o governo não conseguiu reunir número de deputados suficientes para manter os vetos presidenciais à chamada pauta-bomba, projetos que elevam os gastos públicos e põem em risco o ajuste fiscal. Tudo se somou à rejeição das contas no TCU e à abertura de uma ação para impugnar a chapa Dilma-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder nas eleições de 2014.

No encontro de ontem com os ministros, Dilma afirmou esperar reciprocidade dos partidos contemplados na reforma, pois todos devem dar votos ao governo no Congresso. Disse entender que os nomeados troquem a equipe, mas pediu que não interrompam programas caros ao governo.

Apesar da cobrança, ela prometeu resolver "pendências" por cargos e emendas. Um bloco formado por PR, PRB, PTB e PP está exigindo a ocupação de espaços para apoiar Dilma no Congresso.

Articulador do Planalto, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, afirmou que o governo tem pouco mais de 70 dias para aprovar dois projetos fundamentais para o ajuste fiscal: a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) e a Desvinculação das Receitas da União (DRU). Berzoini argumentou que é preciso destravar as nomeações porque elas influenciam nas votações. Ficou acertado no encontro que Michel Temer, Berzoini e ministros do PMDB farão reuniões semanais com a bancada do partido na Câmara, hoje dividida.

OAB cria comissão para avaliar impeachment de Dilma

• 'É indiscutível a gravidade da situação consistente no parecer do TCU pela rejeição das contas da presidente da República por alegado descumprimento à Constituição federal', afirmou o presidente da ordem, Marcus Vinícius Furtado Coelho

Beatriz Bulla e Carla Araújo - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) criou uma comissão para decidir se apresenta ao Congresso pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff a partir da recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU) pela rejeição das contas de 2014 do governo. Nesta quarta, a Corte de Contas por unanimidade reprovou o balanço contábil apresentado pela União por apurar a existência de irregularidades, entre elas as "pedaladas fiscais".

"É indiscutível a gravidade da situação consistente no parecer do TCU pela rejeição das contas da presidente da República por alegado descumprimento à Constituição federal e às leis que regem os gastos públicos. A OAB, como voz constitucional do cidadão, analisará todos os aspectos jurídicos da matéria e a existência ou não de crime praticado pela presidente da República e a sua implicação no atual mandato presidencial", afirmou em nota o presidente nacional da entidade, Marcus Vinícius Furtado Coêlho.

O grupo terá duração máxima de 30 dias para fazer estudos "técnicos" e avaliar se há embasamento jurídico para pedir a saída de Dilma. Um parecer elaborado pela comissão será entregue ao Conselho Federal da entidade, que ficará responsável pela decisão final sobre o tema. Se os conselheiros da OAB entenderem, com base no parecer feito pela comissão, que há responsabilidade da presidente Dilma nas irregularidades apresentadas nas contas do governo podem apresentar o pedido de impeachment.

Ontem, depois da rejeição das contas da presidente no TCU líderes da oposição disseram que o resultado do julgamento reforça os argumentos para viabilizar o impeachment da presidente. Para eles, existe a partir da decisão da Corte de Contas o parecer técnico que faltava para fundamentar o pleito. Nesta manhã, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), afirmou que o partido se colocará a favor do impeachment, caso o pedido seja posto em discussão no Congresso.

PSDB apoiará impeachment, diz Aécio

• Para tucano, decisão do TCU agrava situação de Dilma

Por Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse nesta quinta-feira que a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de rejeitar as contas presidenciais de 2014 "agrava em muito" a situação da presidente Dilma Rousseff. Aécio disse que o PSDB votará favoravelmente ao um pedido de impeachment da presidente, caso o processo tenha prosseguimento na Câmara. Para o tucano, Dilma "não governa mais" e "entregou dos dedos" ao fazer uma reforma ministerial que fracassou ao não lhe garantir maioria no Congresso.

— Essa decisão do TCU agrava em muito a situação da senhora presidente. O PSDB vai aguardar a manifestação do presidente Cunha e, obviamente, se o impeachment for colocado em votação, se colocará favoravelmente ao que pensam seus eleitores e não só eles, mas 60% da sociedade brasileira — disse Aécio.

Aécio disse que o governo tem agido de forma “vexatória" contra os tribunais e também na tentativa de obter apoio parlamentar. E atacou a reforma ministerial realizada por Dilma.

— Ali, ela não entregou seus anéis, esses ela já havia entregue, ela entregou os dedos. A presidente já não governa mais o Brasil. Mas a grande maioria (dos parlamentares) está mostrando que não se sujeita a esse tipo de pressão. Eles votarão em sintonia com seus eleitores — disse Aécio.

O senador tucano ainda criticou a atuação do advogado-geral da União, Luís Adams, no caso do TCU. Aécio disse que o tribunal tomou sua decisão e que agora cabe ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também julgar as ações da oposição contra a campanha da presidente Dilma.

— A tentativa nefasta do advogado-geral da União fez com que se escrevesse a mais triste página da história. O advogado-geral da União virou o arauto da ilegalidade, como se seu papel fosse um papel político, se descredenciou para ficar à frente da AGU — disse Aécio.

Ele disse que a oposição continuará defendendo as instituições das pressões do governo.

— O Brasil viveu uma semana histórica. Na verdade, tanto o Tribunal de Contas e o TSE deram forma a um sentimento que já era amplo da sociedade: de que a presidente da República cometeu ilegalidades para vencer as eleições. Não são mais as oposições que argumentam sobre os crimes cometidos. Para vencer as eleições, ela cometeu crime de responsabilidade e terá que responder por isso. Se não, estaríamos criando um salvo-conduto para presidentes cometerem qualquer tipo de desatino. Elas (ilegalidades) comprometem, deturpam e induzem a erro a decisão do eleitor — disse Aécio.

Mais enfático, o líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), disse que a decisão do TCU reforça o pedido de impeachment de Dilma.

— O pedido de impeachment já estava muito bem embasado, mas vem reforçado pelo TCU. Agora, é uma Corte dizendo que houve crime de responsabilidade por É evidente que essa decisão reforça e muito o pedido de impeachment já formulado — disse Sampaio.

Já o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse que há dois caminhos: o impeachment ou uma nova eleição, se o TSE decidir pela cassação do mandado de Dilma. Ele disse que considera mais democrático realizar novas eleições.

— Dilma caiu. Agora, a sociedade vai escolher qual o caminho: impeachment ou novas eleições. Essa é a escolha — disse Cássio Cunha Lima.

Adams perdeu condições de continuar na AGU, diz Aécio

• Senador afirma que advogado-geral da União se converteu em 'arauto da ilegalidade'

Por: Laryssa Borges - Veja.com

BRASÍLIA - O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), defendeu nesta quinta-feira a saída do advogado-geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, do governo e disse que o ministro perdeu as condições de continuar como representante do Executivo depois de ter atuado, durante o julgamento desta quarta no Tribunal de Contas da União (TCU), como "arauto da ilegalidade" na defesa das pedaladas fiscais e de irregularidades praticadas pelo governo.

"A Advocacia-Geral da União e seu titular devem assessorar a presidente da República para que ela não cometa ilegalidades. O advogado-geral da União virou o arauto da ilegalidade, se expondo e constrangendo seus colegas da Advocacia-Geral. Ele passou a ser o arauto da ilegalidade como se seu papel fosse um papel político. Ele se descredenciou para continuar à frente da importantíssima Advocacia-Geral da União", disse Aécio.

A ofensiva contra Adams foi encampada também pelo PPS, que recorreu hoje à Comissão de Ética Pública da Presidência da República contra o AGU e contra o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. O líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR), alega que os dois infringiram o Código de Conduta da Alta Administração Federal por terem colocado em dúvida a isenção do ministro Augusto Nardes, relator do processo das contas do governo no TCU. O Código prevê que é proibido que uma autoridade pública comente publicamente sobre a "honorabilidade e desempenho funcional de outra autoridade pública federal". O partido pede o afastamento dos dois ministros e depois que a comissão aconselhe a presidente Dilma a demiti-los.

TCU - O tucano também afirmou que a presidente praticou "ações criminosas" e a reprovação de suas contas do primeiro mandato pelo Tribunal de Contas da União (TCU) nesta quarta permite ao Congresso determinar o tipo de sanção que deve ser aplicada. "Esse governo viveu com a sensação permanente de impunidade. 'Pode-se fazer tudo, que nada acontece'", disse Aécio. "Não sei as consequências das decisões dos tribunais, mas algo já aconteceu no Brasil. O Brasil não terá mais espaço para governantes que façam o diabo para vencer as eleições, que descumpram legislações aprovadas pelo Congresso Nacional e que usam de ilegalidades ou de ações criminosas para vencer as eleições, como apontam alguns dos indícios que levaram o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a abrir uma ação de investigação eleitoral em relação à presidente da República", afirmou o senador.

Marina diz que crise política gerou ‘situação inédita’

• Ex-senadora não deixa claro posicionamento da Rede sobre rejeição de contas de Dilma

Por Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - Ao participar de evento de lançamento da bancada da Rede Sustentabilidade na Câmara, nesta quinta-feira, a ex-senadora Marina Silva demonstrou preocupação com a crise política, mas evitou deixar claro como o partido irá se posicionar sobre a situação da presidente Dilma Rousseff, que teve suas contas rejeitadas pelo TCU, ou sobre a forma como a Rede irá agir em relação ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), denunciado na Lava-Jato.

Marina destacou que a crise política gerou uma “situação inédita” no país, com a presidente da República e os presidentes das duas Casas do Congresso, Cunha e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, na berlinda. Marina afirmou que as denúncias contra Cunha serão analisadas “com todo rigor”, mas não antecipou se seu partido irá defender o afastamento do peemedebista do cargo.

— Vamos analisar todas as denúncias que estão sendo feitas com todo o rigor. Nesse momento, a Rede Sustentabilidade tem a clara consciência de que temos que ter muita responsabilidade com os destinos da nação. Temos uma situação inédita: a presidente da República tendo suas contas não aprovadas, a abertura de um processo no TSE quanto às denúncias de irregularidades na sua campanha e os dois presidentes das duas Casas igualmente sendo denunciados por envolvimento nas investigações da Lava-Jato.

Marina disse ter alertado, desde 2010, sobre as consequências do “atraso na política” sobre a vida dos cidadãos.

— O Brasil não pode continuar nessa situação de baixo crescimento, inflação e perda do emprego das pessoas por causa da grave crise política que está acontecendo. Eu dizia desde 2010: nós corremos o risco de perder o que conquistamos a duras penas. A estabilidade econômica, a inclusão social e até mesmo fragilizar a democracia por falta de avanço na política. O atraso na política iria propiciar isso e agora nós estamos vendo isso acontecer, com graves prejuízos políticos e institucionais, e até mesmo do ponto de vista do destino das pessoas.

A Rede conta agora com uma bancada de 5 deputados: Miro Teixeira (RJ), Alessandro Molon (RJ), Aliel Machado (PR), João Derly (RS) e Eliziane Gama (MA).

Dilma repete prática condenada por Tribunal

Por Ribamar Oliveira – Valor Econômico

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff repetiu neste ano uma prática condenada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no julgamento em que recomendou ao Congresso a rejeição das contas do governo federal de 2014. Dilma editou seis decretos autorizando créditos suplementares ao Orçamento da União, mesmo antes de o Congresso Nacional ter aprovado a redução da meta de superávit primário para 2015, definida pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Com os decretos, Dilma ampliou os gastos federais em R$ 2,5 bilhões, que serão bancados pelo superávit financeiro apurado no balanço patrimonial do exercício de 2014 e do excesso de arrecadação.

Ao analisar as contas do ano passado, o TCU considerou que Dilma editou este mesmo tipo de decreto de créditos suplementares sem comprovar que eles eram compatíveis com a obtenção da meta de resultado primário estabelecido na LDO, ferindo assim, no entendimento do Tribunal, o artigo 4º da lei orçamentária e o disposto no ártico 167, inciso V da Constituição. Para o TCU, os créditos não poderiam ter sido abertos porque teriam que ser compatíveis com o superávit primário previsto na LDO daquele ano que ainda estava em vigor. Qualquer ampliação do gasto, disse o TCU, só poderia ter ocorrido depois de aprovada a mudança da meta fiscal.

Em 22 de julho deste ano, o governo encaminhou ao Congresso um projeto de lei propondo reduzir a meta de resultado primário de 2015 de R$ 55,3 bilhões para R$ 5,8 bilhões. Depois que o projeto foi enviado ao Congresso, a presidente Dilma Rousseff assinou seis decretos abrindo créditos suplementares ao Orçamento da União deste ano, com recursos decorrentes de superávit financeiro apurado no balanço patrimonial de 2014 e do excesso de arrecadação. Os decretos são de 27/07/2015 (quatro decretos não numerados) e de 20/08/2015 (dois decretos não numerados). Os créditos suplementares dos seis decretos totalizam R$ 95,9 bilhões. Mas, desse total, R$ 93,4 bilhões resultam de anulação parcial de dotações orçamentárias já existentes, ou seja, são simples remanejamentos.

Os outros R$ 2,5 bilhões (R$ 95,9 bilhões menos R$ 93,4 bilhões) representam efetiva ampliação de despesa, que serão custeadas, de acordo com os decretos, pelo superávit financeiro apurado no balanço patrimonial do exercício de 2014 e pelo excesso de arrecadação deste ano. O problema é que a ampliação de despesa foi feita sem a comprovação de que isso é compatível com a meta fiscal ainda em vigor, de acordo com as fontes ouvidas pelo Valor.

O governo discorda do entendimento do TCU, pois considera que a abertura de créditos suplementares não afeta a meta fiscal. "O que interessa é o limite de empenho, fixado no decreto de contingenciamento", explicou uma fonte credenciada da área econômica. "É o limite de contingenciamento que afeta a meta e ele não foi alterado pelos decretos", disse.

A reedição este ano de prática condenada pelo TCU pode dificultar a estratégia do governo de barrar os pedidos de impeachment da presidente. Um dos argumentos jurídicos da defesa do governo é que Dilma não pode ser condenada por atos cometidos no mandato anterior. Se o entendimento do TCU sobre as contas de 2014 for confirmado pelo Congresso, a presidente terá repetido no atual mandato uma operação considerada irregular.

Associações acusam Adams de aparelhar AGU

Por Fernando Taquari - Valor Econômico

SÃO PAULO - Alvo de críticas da oposição, o advogado-geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, enfrenta desde outubro do ano passado um movimento de servidores da instituição que defendem sua saída do cargo. O grupo, que inclui associações que representam integrantes da AGU, acusa Adams de aparelhar o órgão e adotar uma visão politizada sob o comando da instituição, na contramão do que determina a Constituição Federal. O advogado-geral, afirmam, tem atuado em favor dos interesses do governo Dilma Rousseff, mas não em prol do Estado Brasileiro.

"Com ótica própria, (Adams) se afastou dos ditames constitucionais e optou, deliberadamente, por uma advocacia de governo em detrimento de uma advocacia de Estado. Preferiu os encantos do Poder às demandas da instituição, do Estado e do povo brasileiro. Transformou a res publica em res privada", diz nota assinada pela Unafe (União dos Advogados Públicos Federais do Brasil), Anauni (Associação Nacional dos Advogados da União), Sinprofaz (Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional) e Anajur (Associação Nacional dos Membros das Carreiras da AGU).

As associações listam uma série de atos de Adams que configurariam um desvio de conduta. Como exemplo, citam a sustentação oral que ele fez um 2014, quando argumentou que os bens da então presidente da Petrobras Maria das Graças Foster não deveriam ser bloqueados em favor do Estado. Além disso, argumentam que Adams atuou para viabilizar acordos de leniência com empreiteiras envolvidas na Lava-Jato sem debater o tema na AGU.

Procuradora federal em Londrina (PR), Cathy Quintas afirma que o episódio mais recente ocorreu no último domingo, quando o advogado-geral pediu o afastamento do ministro Augusto Nardes da relatoria e do julgamento das contas do governo Dilma pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

"A AGU deveria ter um papel menos partidarizado e mais institucional. Não cabe ao advogado-geral ir à TV com dois ministros defender um governo. Ele representa todo um Estado", diz Cathy.

A procuradora ressalta que até o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) José Antonio Dias Toffoli, que foi no passado advogado do PT e antecedeu Adams na AGU, teve uma visão mais institucional. "Em seis anos, ele destruiu a imagem da Advocacia-Geral da União", afirma Cathy, acrescentando que o advogado-geral também se ocupou em defender a prestação de contas da então candidata Dilma na campanha de 2014.

A nota das associações tem justamente o objetivo de afirmar que Adams não representa a opinião do órgão. Em uma enquete virtual realizada em julho pela Unafe com 1478 procuradores e advogados ligados à instituição, Adams teve a gestão reprovada por 98,65% dos consultados.

Numa lista de reivindicações, os advogados públicos pedem que o próximo representante da AGU seja nomeado com base em lista tríplice escolhida pela carreira, que a instituição seja autônoma, e não um "órgão aparelhado de defesa de interesses deste ou daquele governo, como pretende Adams". Procurado, o advogado-geral não retornou à reportagem.

Revelações da Operação Lava-Jato podem ser decisivas em ação no TSE

Por Maíra Magro – Valor Econômico

BRASÍLIA - A abertura da ação de impugnação de mandato eletivo (Aime) contra a presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer transformou em possível o cenário, antes considerado improvável, de cassação de mandato da chapa presidencial, na opinião de ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ouvidos pelo Valor. Quando o PSDB apresentou a ação em janeiro, os próprios integrantes da corte consideravam difícil sua abertura - e mais distante ainda a possibilidade de perda de mandato.

Em meio a uma crise política, a conjuntura no TSE mudou na terça-feira com a decisão do plenário de reabrir o processo, por cinco votos a dois. A ação de impugnação de mandato eletivo (Aime) havia sido inicialmente arquivada pela relatora, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, em decisão individual. Com a reabertura da ação, Dilma, Temer, o PT e o PMDB precisam ser citados para apresentar defesa.

Ministros do TSE relutam em apontar uma tendência no julgamento, mas reconhecem que apenas fatos "muito graves", devidamente comprovados, seriam capazes de resultar na cassação do mandato da presidente e do vice. Tudo vai depender, de acordo com eles, dos fatos que surgirem nos processos da corte eleitoral e, principalmente, na Operação Lava-Jato, cujas provas poderão ser compartilhadas com o TSE.

Em uma previsão otimista, o julgamento da Aime se dará dentro de seis a oito meses, na avaliação de integrantes do TSE. Nesse período, serão ouvidas testemunhas e produzidas provas. Antes da citação para defesa, a corte ainda precisa definir quem será o relator do caso.

Por ter votado contra o seguimento da ação, Maria Thereza ponderou que não se sente confortável em seguir na relatoria. Para ela o caso deve ir para as mãos do ministro Gilmar Mendes, primeiro a votar de forma contrária, liderando a conclusão da maioria pela reabertura da ação. Caberá ao presidente do TSE, Dias Toffoli, decidir sobre a relatoria da Aime.

Além da ação de impugnação, outros três processos em curso na corte eleitoral poderiam ter como consequência a cassação do mandato de Dilma e Temer: duas ações de investigação judicial eleitoral (Aije) e uma representação, todas elas apresentadas pelo PSDB.

Os integrantes do TSE também não chegaram a uma conclusão quanto à relatoria dessas ações. Para o ministro Luiz Fux, relator da representação, os quatro casos devem ser votados em conjunto, sob relatoria de Maria Thereza. Isso porque ela é responsável pela Aime, que, segundo Fux, é o único dos quatro processos com previsão constitucional, atraindo as demais ações.

A ministra Luciana Lóssio, por sua vez, sustentou que os quatro processos deveriam ficar nas mãos de Fux. Para ela, a escolha deve seguir um critério temporal. Fux seria o relator porque a representação, de sua responsabilidade, foi a primeira a ser distribuída no TSE, ainda que apenas por um minuto de diferença.

Embora o PMDB argumente que fez suas contas de campanha separadamente e que, por essa lógica, o vice-presidente não seria afetado por eventual cassação, o histórico de decisões do TSE diz o contrário. Pela jurisprudência da corte, eventual cassação atingiria tanto a presidente como o vice, em qualquer das quatro ações movidas pelo PSDB. Esse entendimento foi formado em diversas decisões relativas a prefeitos e governadores.

Isso porque a consequência prática da cassação é a anulação dos votos. Como os votos são dados ao presidente, o vice não poderia assumir no lugar. Por outro lado, se uma possível responsabilização pelos fatos atingir a presidente mas não o vice, Temer ficaria autorizado a disputar as próximas eleições presidenciais.

Quando o TSE determina a cassação de um mandato, a decisão passa a valer a partir de sua publicação. A defesa poderia entrar com recurso na própria corte e no Supremo Tribunal Federal para questionar o julgamento.

Tucanos aumentam aposta na antecipação das eleições presidenciais

Por Raquel Ulhôa – Valor Econômico

BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, e seus aliados têm clara preferência pela antecipação do término do governo Dilma Rousseff por meio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em vez do afastamento dela por meio do impeachment aprovado no Legislativo. Os tucanos querem convencer o empresariado de que a cassação da presidente e do seu vice, Michel Temer, com a consequente realização de novas eleições, seria a única saída para dar a um novo presidente a legitimidade necessária para tirar o país da crise.

O raciocínio é que Dilma já não governa mais e perdeu as condições para animar a economia, tirar o país da crise e fazê-lo voltar a crescer. Já que é para fazer uma ruptura, que seja com alguém com legitimidade para se eleger com uma "agenda dura". A previsão é de dois anos de muita dificuldade, durante os quais o presidente terá que tomar medidas que exigirão sacrifício da população. E há dúvidas se Temer - em caso de impeachment de Dilma- terá legitimidade e condições políticas para liderar o processo.

Tucanos chegam a avaliar que uma saída negociada para afastar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do cargo, e sua substituição por um nome de consenso poderia facilitar a decisão da Justiça Eleitoral contra a chapa.

Isso porque, em eventual cassação de Dilma e do vice-presidente, Michel Temer, quem assume o governo é o presidente da Câmara, para convocar eleições em até 90 dias. A possibilidade de Cunha, denunciado pela Procuradoria Geral da República por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, assumir durante essa transição é considerada fator de dificuldade para uma decisão do TSE de cassar os mandatos de Dilma e Temer.

Os líderes do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio, e no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), já defenderam essa solução há alguns meses, mas foram muito criticados e chamados de "golpistas", por defenderem a antecipação das eleições presidenciais. Após serem bombardeados, os dois recuaram.

Agora, voltaram ao tema ontem, em entrevista na qual o próprio Aécio disse que o partido votaria pelo impeachment, caso o processo fosse submetido a voto, mas deu sinalização da simpatia pela saída TSE.

"O Tribunal de Contas da União [que rejeitou as contas do governo de 2014], pela unanimidade dos seus membros, atesta que a presidente da República, para vencer as eleições, cometeu crime de responsabilidade e terá de responder por isso _ se não estaríamos criando um salvo-conduto para presidentes da República cometerem qualquer tipo de desatino para vencer as eleições.(...) Por outro lado, e não menos grave, o Tribunal Superior Eleitoral encontrou indícios de que houve abuso de poder econômico na campanha presidencial. Para ser mais explícito: dinheiro da propina abastecendo o caixa da campanha da presidente da República", disse.

Aécio lembrou que o TSE pedirá ao Supremo Tribunal Federal (STF) o compartilhamento de provas do esquema de corrupção da Petrobras, obtidas pela Operação Lava Jato, num momento em que "chegam indícios de que efetivamente empresários foram constrangidos a transferir dinheiro para o caixa do PT e para o caixa da campanha presidencial durante o período eleitoral".

A expectativa é que os depoimentos dos envolvidos no esquema de corrupção -não só dos que fizeram delação premiada- comprovem o uso de dinheiro de propina para o financiamento da chapa Dilma-Temer.

Das três opções possíveis para o país -Dilma permanecer "sangrando" até 2018, ser afastada por impeachment aprovado no Congresso ou ser cassada junto com Temer, pelo TSE-, a continuidade do governo até o fim do mandato é a que menos interessa ao grupo de Aécio, que consideram suas chances maiores agora, quando ele representa o principal contraponto do governo, já que disputou com ela em 2014.

O líder do Senado vai além. Defende que as próximas eleições presidenciais sejam realizadas junto com as eleições municipais, em outubro de 2016. Ele calcula que haja tempo suficiente para que o TSE julgue a ação, e presidente interino assuma e convoque as eleições para que um novo presidente assuma por dois anos.

No caso de impeachment, uma preocupação da direção do PSDB é com a pressão para que a legenda participe de um governo Temer. Isso não interessa a Aécio, que não quer acoplar o projeto do PSDB ao do PMDB. Nesse cenário, a posição que o senador mineiro defenderá, que é a mesma do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é que os tucanos ajudem, mas não ocupem cargos na administração.

Oposição deflagra na terça processo para afastar Dilma

• Deputados decidem fazer pedido de impeachment avançar na próxima semana

• Políticos querem pôr processo em marcha sem esperar Congresso julgar contas de 2014, reprovadas pelo TCU

Ranier Bragon, Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Os políticos que se articulam para promover o impeachment da presidente Dilma Rousseff decidiram pôr em marcha o processo que pode levar ao afastamento da petista na próxima terça-feira (13), sem esperar que o Congresso dê a palavra final sobre as contas do governo.

Nesta quinta (8), um dia após o TCU (Tribunal de Contas da União) reprovar o balanço de 2014 de Dilma, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que o julgamento das contas do governo só deverá ser concluído pelo Congresso no próximo ano.

Adversário do Palácio do Planalto, Cunha indicou que na terça irá anunciar sua decisão sobre o principal pedido de impeachment recebido pela Câmara, que é assinado pelo jurista Hélio Bicudo, ex-petista, e pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, que trabalhou para Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

A tendência é que Cunha siga a orientação da área técnica da Câmara e mande arquivar a petição. Mas os principais partidos de oposição pedirão a ele que dê sequência ao pedido tendo como base a recomendação do TCU.

A oposição deixou claro que não irá esperar a ratificação da posição do TCU no Congresso. Para os líderes dessas bancadas, a reprovação unânime das contas pelo tribunal, com base num relatório produzido por vários auditores, tem força suficiente para justificar o afastamento da presidente do cargo.

Qualquer decisão de Cunha na terça-feira representará uma dor de cabeça para Dilma, já que o melhor cenário para ela era o de uma protelação da análise da petição.

Se o presidente da Câmara aceitar o pedido de Bicudo e Reale, será aberta uma comissão especial para analisar a petição e dar um parecer ao plenário. Dilma será afastada se ao menos 342 dos 513 deputados votarem pela abertura do processo de impeachment.

Se Cunha arquivar o pedido, os principais líderes da oposição vão apresentar um recurso ao plenário, estratégia combinada com o peemedebista para lhe tirar o peso político de assumir sozinho a responsabilidade pela iniciativa. Para que o recurso prospere, é preciso o voto da maioria dos presentes à sessão.

'Erro político'
Cunha, que sofreu desgaste nos últimos dias com a revelação da existência de contas secretas associadas a ele na Suíça, criticou a tentativa feita pelo governo para afastar o relator das contas de Dilma, ministro Augusto Nardes, antes do julgamento no TCU.

"Foi mais um erro político que o governo cometeu", disse. O TCU, que é um órgão auxiliar do Poder Legislativo na fiscalização dos gastos do governo federal e das empresas estatais, entregou ao Congresso nesta quinta-feira o parecer aprovado na véspera.

Segundo Cunha, nem a análise das contas pela Comissão Mista de Orçamento do Congresso, que é o passo inicial, será concluída em 2015. "Não vai ser um embate rápido, pois o trâmite é lento", afirmou. "Isso vai demorar."

A comissão deverá levar, no mínimo, 62 dias para analisar o processo se não houver nenhuma prorrogação de prazo. O colegiado pode manter o entendimento do TCU ou divergir do tribunal e aprovar as contas da presidente –ou, ainda, recomendar a aprovação com ressalvas.

De acordo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o parecer do TCU será encaminhado à comissão assim que ele o receber. Ele não quis fazer uma previsão sobre quando o processo pode ser finalizado.

Depois da comissão, as contas serão enviadas para votação no plenário do Senado e, depois, da Câmara, mas pode ser que essa votação ocorra em sessão conjunta das duas Casas do Congresso. A decisão será de Renan.

Colaboraram Mariana Haubert e Dimmi Amora, de Brasília

Planalto age para votar contas em 2016

• Estratégia do Executivo, com ajuda de Renan, é adiar ao máximo a análise do parecer no Congresso enquanto tenta rearticular apoios

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto e a cúpula do PMDB do Senado começaram a articular nos bastidores uma operação para jogar o julgamento das contas do governo pelo Congresso para 2016. O argumento de senadores peemedebistas é usar o limite dos prazos regimentais para analisar o parecer do Tribunal de Contas da União (TCU) que recomendou a reprovação das contas da gestão Dilma Rousseff do ano passado. A intenção é tentar esfriar o ímpeto da oposição de levar adiante o impeachment da presidente.

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) conversou com a presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), na noite de anteontem, logo após a decisão da corte de contas que, por unanimidade, reprovou o balanço do governo.

Ela disse que vai agir com equilíbrio na escolha do relator das contas e fez questão de ressaltar que respeitará todos os prazos para a análise do caso.

Os dois saíram do encontro com o discurso afinado e fizeram questão de frisar em entrevistas ontem a necessidade de respeito aos prazos regimentais na análise do processo.

"Todo julgamento, inclusive o julgamento político, se submete a regras e a prazos. Não há como fazer diferente", disse Renan, no início da tarde. "Esticadinha é uma expressão que não é nossa. Vamos seguir rigorosamente todos os prazos aqui", afirmou Rose, em coletiva no meio da tarde.

A comissão mista terá até 77 dias corridos para analisar o processo. O prazo só começa a contar assim que o parecer chegar formalmente ao colegiado depois de ser remetido por Renan.

Embora a presidente da CMO tenha dito ser possível votar o caso no colegiado este ano, antes do recesso parlamentar, peemedebistas envolvidos na operação já contabilizam que, na comissão, ele será apreciado em meados de fevereiro do ano que vem. No plenário do Congresso, somente depois dessa etapa. A pauta da sessão conjunta das duas Casas ainda precisará estar limpa, com a votação de propostas orçamentárias e eventuais vetos. Por isso, é provável que só esteja pronto para votação em março.

Ontem pela manhã, a presidente conversou por telefone com ao menos dois peemedebistas do Senado para avaliar a situação após a decisão do TCU. Ela se mostrou preocupada com o desdobramento no Congresso sobre o julgamento do parecer do tribunal. "Tem que ter calma, tem tempo", respondeu um desses interlocutores.

A avaliação dos peemedebistas do Senado é que o governo errou na estratégia de confrontar o TCU, tentando retirar o relator das contas do processo, ministro Augusto Nardes, e acusando a Corte de ter feito um julgamento político. Mas avaliam ser possível reverter a decisão no Congresso, por considerar que não se pode rejeitar contas com base nas "pedaladas fiscais", ação praticada também por governos anteriores.

Aliados. Mesmo não envolvidos diretamente na operação com o PMDB, aliados do governo defendem a estratégia de alongar ao máximo a votação do processo. Afirmam ainda que Dilma, detentora da caneta capaz de fazer nomeações, ainda tem força no Congresso, apesar da baixa popularidade.

"O desafio nosso é consolidar essa base de apoio que temos com a reforma ministerial", afirmou o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). "Não podemos aceitar dois pesos e duas medidas, aceitar que o TCU nos condene por algo que considerou normal nos governos anteriores", disse Paulo Pimenta (PT-RS).

Dilma abandona estratégia de confronto na área política

Por Daniel Rittner e Leandra Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA - O governo iniciou ontem mesmo sua nova estratégia para aumentar a blindagem contra o risco de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A tática de confronto aberto, refletida nos recursos judiciais da Advocacia-Geral da União (AGU), dá lugar a uma costura política de bastidores e à promessa de acelerar nomeações para cargos na máquina pública. Os primeiros sinais da mudança foram dados na manhã de ontem pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, quando ele classificou a derrota no julgamento das contas presidenciais no Tribunal de Contas da União (TCU) como página virada e definiu a Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional como a próxima "batalha política" do governo.

No fim do dia, como porta-voz da primeira reunião ministerial depois da reforma administrativa, Wagner foi ainda mais incisivo no que será a estratégia do governo. "Reconhecemos que acordos individuais com parlamentares não foram honrados", afirmou o novo chefe da Casa Civil sobre a demora nas nomeações, que tem irritado a base governista e é apontada como uma das razões para as derrotas do governo nesta semana. "Os ministros terão autonomia para nomear".

Na reunião ministerial, segundo contaram ao Valor três integrantes do primeiro escalão, Dilma descreveu a ofensiva pelo impeachment como "um movimento de golpe democrático" e fez comparações com a polêmica destituição do ex-presidente Fernando Lugo, no Paraguai - no Brasil, o pretexto para derrubá-la seria a Lei de Responsabilidade Fiscal. Wagner deu o tom da defesa que será feita pelo governo a partir de agora. Segundo ele, as operações de crédito condenadas pelo TCU ajudaram a bancar programas sociais em um quadro "extremamente difícil" de crise. "Aí o Congresso é que precisa pesar: vale mais o cumprimento estrito da regra ou a motivação pela qual isso foi feito?"

Os argumentos técnicos usados no TCU serão colocados em segundo plano e substituídos por um discurso que pretende dar mais conforto para a defesa do governo pelos parlamentares com voto na Comissão. Por isso, a partir de agora, será dada ênfase à ameaça de descontinuidade nos programas sociais como justificativa para as ações do governo condenadas pelo TCU.

Governo deve acelerar nomeações
O governo acionou ontem mesmo sua nova estratégia para aumentar a blindagem contra o risco de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A tática de confronto aberto, refletida nos recursos judiciais da Advocacia Geral da União (AGU), dá lugar a uma costura política de bastidores e à promessa de acelerar nomeações para cargos na máquina pública. Os primeiros sinais de mudança foram dados ainda na manhã de ontem pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, quando ele classificou a derrota no julgamento das contas presidenciais no Tribunal de Contas da União (TCU) como página virada e definiu a Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso Nacional como a próxima "batalha política" do governo.

No fim do dia, como porta-voz da primeira reunião ministerial depois da reforma administrativa, Wagner foi ainda mais incisivo no que será a estratégia do governo. "Reconhecemos que acordos individuais com parlamentares não foram honrados", afirmou o novo chefe da Casa Civil sobre a demora nas nomeações, que tem irritado a base governista e é apontada como uma das razões para as derrotas do governo nesta semana. "Os ministros terão autonomia para nomear".

Na reunião ministerial, segundo contaram ao Valor três integrantes do primeiro escalão, Dilma descreveu a ofensiva pelo impeachment como "um movimento de golpe democrático" e fez comparações com a destituição do ex-presidente Fernando Lugo no Paraguai - no Brasil, o pretexto para derrubá-la seria a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Apesar do diagnóstico, o discurso público tende a ser mais ameno. Até o último minuto antes da derrota no julgamento das contas, o TCU vinha sendo tratado pelo governo como um órgão político e onde uma "tentativa artificiosa" de cassação do mandato presidencial vinha sendo engendrada - expressão usada pelo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Agora, a ordem é tratar o parecer do tribunal de contas como uma "interpretação técnica" das medidas tomadas em 2014, cabendo o juízo "político" ao Congresso Nacional. "São dois julgamentos diferentes e igualmente importantes", observou Jaques Wagner.

O chefe da Casa Civil deu o tom da defesa que será feita pelo governo a partir de agora. A linha de justificativa é de que operações julgadas irregulares pelo TCU ocorreram como forma de manter programas sociais e defender os mais pobres em um quadro "extremamente difícil" de crise econômica. O Valor apurou que esse discurso busca dar mais conforto aos parlamentares com voto na CMO para defender o governo sem desgaste excessivo junto às suas bases eleitorais. "Aí o Congresso é que precisa pesar: vale mais o cumprimento estrito da regra ou a motivação pela qual isso foi feito?", questionou.

Ministros da área política já alertaram o governo de que a tramitação na CMO não será tranquila. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está rompido com o governo, exerce grande influência na comissão e pode dificultar a tentativa de aprovar as contas da presidente. Para contrabalançar a influência de Cunha e a agressividade da oposição, Dilma cobrou uma atuação mais firme dos ministros junto à bancada de seus partidos. A avaliação do Planalto é de que as duas sessões sem quórum nos últimos dias foram um "desvio de rota" e não podem se repetir nas próximas votações.

De qualquer forma, depois de uma semana de sucessivas derrotas, o governo conseguiu tempo para trabalhar sua estratégia na CMO. Cunha disse que o parecer que recomenda a rejeição das contas do governo só deve ser votado no ano que vem. A presidente da comissão, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES), explicou que o regimento dá prazo de até 77 dias para a análise do parecer do TCU. Esse prazo vence quando o Congresso estará em recesso de fim de ano. "O TCU é um órgão auxiliar, mas não significa que o Congresso tem que concordar com ele", enfatizou. (Colaborou Vandson Lima)

Picciani fecha acordo para permanecer como líder

Por Raphael Di Cunto e Fabio Murakawa – Valor Econômico

BRASÍLIA - Em uma reunião para pacificar os ânimos do PMDB da Câmara, o líder do partido, deputado Leonardo Picciani (RJ), encontrou-se ontem com quatro deputados do grupo que faz oposição ao governo e acertaram não antecipar a disputa pela liderança da sigla agora. Pelo acordo, os oposicionistas reconheceram que a maioria decidiu pela indicação dos ministros e não vão contestar a liderança, embora possam vir a disputá-la no próximo ano.

O encontro, organizado pelo deputado Carlos Marun (MS), de oposição, serviu para acalmar a bancada, que vivia uma guerra interna desde que Picciani iniciou, na terça-feira, a coleta de assinaturas para ser reconduzido à liderança em 2016, eleição que só ocorreria em fevereiro por voto secreto.

A movimentação desagradou outros grupos do PMDB, como os oposicionistas - que querem o voto secreto e criticaram o uso de lista com o nome dos apoiadores - e deputados de Minas Gerais, segunda maior bancada do partido, que tinham acordo para receber o apoio dos deputados do Rio de Janeiro para disputar a liderança em 2016.

Segundo quatro pemedebistas, Picciani explicou que seus aliados só iniciaram a lista de apoios por causa do manifesto divulgado na semana passada, com 22 deputados, contra a indicação de ministros para o governo Dilma. Parte dos aliados do líder entendeu que o ato foi uma tentativa de destitui-lo do cargo.

Os oposicionistas afirmaram que não foi essa a intenção. "O que manifestamos é que não concordamos que o PMDB use um momento de dificuldade do governo para aumentar o número de ministérios", afirmou o deputado Ronaldo Benedet (SC). "A lista é um equívoco, é desnecessário fazer isso, não vamos contestar a eleição dele para líder", disse Alceu Moreira (RS).

Segundo Marun, a coleta de assinaturas estava criando constrangimento enorme dentro da bancada e foi acertado que a eleição ocorrerá em fevereiro, por voto secreto, conforme decidido no início da legislatura. "Reconhecemos que a decisão de indicar nomes da bancada para o governo não foi pessoal, mas da maioria", disse.

Picciani afirmou que o assunto está suspenso. "Ficou claro que vão respeitar a posição legítima da maioria [de apoio ao governo], embora discordem. Não vai ter nenhum movimento de hostilidade contra a liderança e quem adotar tom diferente está isolado", disse.

A reunião não avançou para a aproximação dos oposicionistas com o governo. Deixaram claro que as posições da minoria também serão respeitadas, com possibilidade de apoio a pautas eventuais, como já ocorre hoje. "Quando o governo fez a oferta de dois ministérios para o PMDB sabia que não tinha o apoio unânime, contaria com 45 a 50 votos", diz um pemedebista.

Nos bastidores, contudo, os dois grupos acusam a fragilidade do outro pelo cessar-fogo. Aliados de Picciani dizem que ele tinha 49 assinaturas pela recondução, mais do que os dois terços necessários, enquanto os oposicionistas afirmam que o número era de 40 sem o apoio de Minas.

Ontem, o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva (PT), disse que o PMDB tem responsabilidade na condução das políticas do governo Dilma. "Uma coalizão pressupõe não apenas ocupação de cargos, mas participação nos rumos do governo."

Fernando Gabeira - As fontes da ira

- O Estado de S. Paulo

Por toda parte, queixas e lamúrias: arrasaram o Brasil, estamos quebrados, tudo fechando, alugando. É uma fase pela qual temos de passar. Quanta energia, troca de insultos, amizades desfeitas. Às vezes penso que a melhor forma de abordar o novo momento é apenas deixar que os fatos se imponham.
Muitas vezes afirmei que o dinheiro roubado da Petrobrás foi para os cofres do PT e usado na campanha de Dilma Rousseff. Caríssima campanha, R$ 50 mil por mês só para o blogueiro torná-la um pouco engraçada.

O primeiro fato importante foi a delação premiada do empresário Ricardo Pessoa. Ele afirmou que deu quase R$ 10 milhões à campanha para não perder seus negócios na Petrobrás. Logo depois surgiram suas anotações, estabelecendo um vínculo entre o dinheiro que destinou ao PT e os pagamentos que recebia da Petrobrás. Verdade que a empresa estava nomeada apenas como PB. Claro que ainda podem dizer que esse PB quer dizer Paraíba, ou pequena burguesia. É um jogo cansativo.

Nem é tão necessário que a investigação defina novos vínculos entre o escândalo, o PT e a campanha de Dilma. Basta assumir as consequências do que já se descobriu. Se o tema vai ser neutralizado no Supremo, se o governo compra um punhado suficiente de deputados, tudo isso não altera minha convicção de que o escândalo desnudou um projeto político criminoso.

Ainda na semana passada o Estadão publicou reportagem sobre a Medida Provisória (MP) 471. Ao que tudo indica, foi comprada. Ela garante a isenção de R$ 1,3 bilhão em impostos. E rendeu R$ 36 milhões em propina.

Não estranho que tenha sido aprovada pela maioria. Eram estímulos para três regiões do País e as respectivas bancadas estavam satisfeitas com isso.

Também não havia, da parte das outras regiões, questionamentos sobre estímulos localizados. O único nó nesse campo, se me lembro bem, era a divisão dos royalties do petróleo.

Muito possivelmente, a emenda foi vendida com o preço da aprovação parlamentar embutido. De qualquer forma, a maioria no Congresso foi enganada e, com ela, todos os seus eleitores.

A empresa que negociou a medida provisória destinou R$ 2,4 milhões ao filho de Lula. Segundo a notícia, ele diz que o dinheiro foi pago por assessoria de marketing esportivo. O pai assina a MP, o filho recebe R$ 2,4 milhões da empresa de lobby. Se você não estabelece uma conexão entre as duas coisas, vão chamá-lo de ingênuo; se estabelece, é acusado de lançar suspeita sobre a reputação alheia.

A maioria das pessoas consegue processar fatos e documentos já divulgados e talvez nem se escandalize mais com a venda de uma MP: é o modo de governar de um projeto. É todo um sistema de dominação. É preciso ser um Jack estripador ou um ministro do Supremo para dizer: vamos por partes.

As conexões estão feitas na cabeça da maioria e nada de novo acontece. Neste momento pós-moderno, em que as narrativas contam, mas não as evidências, o conceito de batom na cueca também se tornou mais elástico. Não é bem uma marca de batom, mas algo vermelho que esbarrou pelo caminho, uma tinta, um morango maduro.

Enquanto se vive este faz de conta nacional, a situação vai se agravar. É muito grande o número de brasileiros que se sentem governados por uma quadrilha. Apesar de não estarem organizados, ou talvez por isso, alguns vão se desesperar, ultrapassando os limites democráticos. O tom do protesto individual está subindo. Dirigentes do PT são vaiados, figuras identificadas até a medula com o partido, como o ministro Lewandowski, também não escapam mais da rejeição popular.

O PT e os intelectuais que o apoiam falam de ódio. De fato, o amor é lindo, mas como ser simpático a um partido que arrasa o País, devasta a Petrobrás e afirma que está sendo vítima de uma injustiça?

Não são apenas alguns intelectuais do PT que se recusam a ver a realidade. No passado, as denúncias de violência stalinista eram guardadas numa gaveta escura do cérebro. Era impossível aceitar que o modelo dos sonhos se apoiava numa carnificina. Agora também parece impossível admitir que o líder que os conduz tem como principal projeto tornar-se milionário. É como se admitissem ser humildes fiéis de uma religião cujo pastor acumula, secretamente, uma fortuna, enquanto teoriza sobre a futilidade dos bens materiais.

A sucessão de escândalos, demonstrando a delinquência do governo, não basta para convencer os mais letrados. E certamente não bastará para convencer os que ignoram a História e são pagos para torpedear o adversário nas redes.

Mas os fatos ainda têm grande força. Lutar contra eles, em certas circunstâncias, não é só um problema de estupidez, mas também de estreita margem de manobra.

Se o governo não pode aceitar que suas contas sejam recusadas por unanimidade no TCU, não resta outro caminho senão tentar melar o julgamento. Sabem que todos estão vendo sua jogada e talvez experimentem uma ligeira sensação de ridículo. Mas o que fazer?

A única saída decente seria renunciar. Mas, ao contrário, decidiram ficar e convencer os críticos de que estão cegos por causa de sua ideologia de direita, conservadora e elitista.

Isso radicaliza a tática de Paulo Maluf, que insiste em dizer que não tem conta na Suíça, que o dinheiro e a assinatura não são dele. Maluf apenas nega o que estamos vendo. O PT nos garante que há algo de errado com nossos olhos.

Pessoalmente, na cadeia e no Congresso, fui treinado a discordar, mas conviver com as pessoas, apesar de seus crimes. Nem todos os brasileiros pensam assim, na rua. Não é possível irritar as pessoas ao extremo e, quando reagem, classificá-las de intolerantes.

O momento é uma encruzilhada entre a ira popular e a enrolação institucional. Com todos os seus condenáveis excessos, a raiva nas ruas é que tem mais potencial transformador.

A esquerda sempre soube disso. Agora, com o traseiro na reta, o PT descobre o amor.

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* Fernando Gabeira é jornalista