quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Merval Pereira: Revendo rumos

- O Globo

Candidatos entenderam que, mesmo em situações de conflito intenso, a sociedade busca caminhos democráticos

A recomposição dos projetos dos candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, provocada por uma entrevista ao “Jornal Nacional” de segunda-feira, além da boa notícia de que os dois abandonaram publicamente projetos de cunho autoritário, reafirma o peso da opinião pública numa sociedade democrática.

A procura pelos dois candidatos de um eleitor que, no primeiro turno, recusou os extremos que representam, tem mais que o objetivo de obter novos votos. Mostra que entenderam que, mesmo em situações de conflito exacerbado, a sociedade busca caminhos democráticos para resolver suas questões.

Resta saber se os dois candidatos seguirão nesse caminho, não deixando dúvidas sobre seus compromissos com a democracia e a Constituição de 1988. O candidato petista havia anunciado, feito o acordo eleitoral com o PCdoB, que o PT incluiu em seu programa de governo a convocação de uma Assembleia Constituinte exclusiva.

Quando aconteceram as manifestações de rua de 2013, acuada pelo vigor dos protestos, a então presidente Dilma foi à televisão anunciar, entre outras medidas que nunca saíram do discurso, como um pacto nacional pela responsabilidade fiscal, a convocação de um plebiscito para a realização de uma reforma política através de uma Constituinte exclusiva.

Não colocou em prática, por impossibilidade legal no caso da Constituinte, nenhum dos pactos e acabou impedida de continuar na Presidência justamente pela irresponsabilidade fiscal que patrocinou. A convocação de uma Constituinte foi o primeiro passo do então recém-eleito Hugo Chávez, na Venezuela, para avançar sobre os demais poderes, ampliando a força do Executivo.

Elio Gaspari: Jaques Wagner entra em campo

- O Globo

Fernando Haddad e o comissariado petista querem costurar uma “frente democrática” para derrotar Jair Bolsonaro e puseram em campo o ex-ministro e ex-governador da Bahia Jaques Wagner. Se conseguirem, no mínimo, levantam o nível da campanha.

Wagner é competente, e seu desempenho na Bahia comprova isso. Governou o estado de 2007 a 2015, elegeu o sucessor que, por sua vez, acaba de se reeleger. Se lhe faltasse credencial, no início do ano defendia uma chapa com Ciro Gomes e Haddad na vice. Foi atropelado pelo oráculo de Curitiba, recolheu-se e foi tratar de sua campanha para o Senado.

As duas principais pontas dessa costura são Ciro Gomes e Fernando Henrique Cardoso. Ciro tem um capital eleitoral e já disse que “ele não”. Ainda falta para que entre na campanha de Haddad. Ele seria um corpo estranho no estilo que Haddad apresentou no primeiro turno. A questão será saber em que tipo de campanha e de propostas cabem os dois.

Só o tempo dirá onde o PT estava com a cabeça quando atropelou-o e, sobretudo, quando Dilma Rousseff descumpriu a palavra dada ao irmão de Ciro, que lhe oferecia uma cadeira de senadora pelo Ceará. Roberto Mangabeira Unger, velho amigo dos Gomes, já conversou com Haddad.

A ponta de Fernando Henrique Cardoso é mais delicada. Ele está fechado em copas, numa dupla negativa: “Não concordo com o reacionarismo cultural e o descompromisso institucional de uns vitoriosos e tampouco com a corrupção sistêmica e com o apoio ao arbítrio na Venezuela e em outros países.” Para tirá-lo dessa posição, será necessária muita conversa. Mesmo assim, FHC sabe o peso biográfico de um eventual silêncio. São duas costuras possíveis para Jaques Wagner.

Bernardo Mello Franco: Wagner costura frente com Ciro, Marina e FH

- O Globo

Ex-ministro costura apoios e afirma que candidato deve ser ‘mais Haddad’ e menos Lula

Senador eleito tenta aproximação com rivais e defende que PT adote tom conciliador e reconheça erros do passado. ‘Nunca é demais a gente fazer autocrítica’, afirma

O ex-ministro e senador eleito pelo PT da Bahia Jaques Wagner desembarcou em São Paulo para ajudar a campanha de Fernando Haddad a costurar uma “frente democrática” contra Jair Bolsonaro (PSL). Quer unir Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, no palanque petista. Wagner elogiou FH, que ainda será procurado, e disse que “nunca é demais fazer autocrítica”. Ele considera que o candidato petista deve ser menos Lula e mais Haddad. Jaques Wagner era o preferido de Lula para concorrer ao Planalto. Recusou a tarefa, elegeu-se senador pela Bahia e agora desembarcou em São Paulo para ajudar Fernando Haddad. O ex-ministro tenta costurar uma “frente democrática” contra o bolsonarismo. Quer unir Ciro Gomes, Marina Silva e Fernando Henrique Cardo sono palanque do PT. “Temos que procurar todos os que estão na política e têm responsabilidade como país ”, diz.

Wagner faz elogiosa F H, que já descartou a hipótese de apoiar o capitão. “A construção do país é tijolo por tijolo, ninguém faz nada sozinho. O Fernando deu uma bela contribuição ao Brasil. Nós aprendemos a responsabilidade fiscal com ele”, afaga. “É uma coincidência negativa da História que, em vez de ficarem juntos, PT e PSDB tenham polarizado um com o outro. Foram as melhores forças que surgiram no período democrático”.

Vera Magalhães: É verdade esse ‘bilete’

- O Estado de S.Paulo

O PT mudou de roupa do domingo para a segunda-feira. Saíram as camisetas “Lula livre” que Fernando Haddad vestiu no primeiro turno nas visitas a Curitiba ou nos caminhões de som pelo Nordeste e pela periferia e entrou o terno alinhado do candidato no Jornal Nacional.

Juntamente com a nova indumentária vieram acenos a um novo programa de governo, novos aliados, pacto contra fake news e até um elogio, vejam só, à social-democracia.

O próprio Lula, que comandou a campanha até domingo direto de Curitiba, por meio de cartas, orientações nas visitas à sede da PF e aparições na propaganda do PT, resolveu sair de cena. Liberou Haddad das visitas por ora.

O problema do PT é que a transmutação é tão repentina, ensaiada e interessada que é difícil de ser crível. Diferentemente das bateções de cabeça entre Jair Bolsonaro e o candidato a vice, Hamilton Mourão, sobre Constituinte de notáveis, no caso do PT a defesa a que se rasgue a Constituição e se escreva outra, sabe-se lá como, está consignada no plano de governo, que foi coordenado pelo próprio Haddad. Mais: foi dita em voz alta por ele em setembro.

Não basta dizer que era “pegadinha do malandro”. O programa de governo do partido será revogado? Só nesta parte ou será inteiramente refeito? Sim, porque ele contém outros pontos claramente autoritários, dos quais já tratei aqui: controle social da mídia e também a mudança nos conselhos nacionais de Justiça e do Ministério Público para torná-los mais “permeáveis” à sociedade (ou ao partido?).

O PT passará a respeitar decisões judiciais? Haddad, caso seja eleito, o fará? Sem compromissos claros, não basta um arremedo de carta ao povo brasileiro. Diante das sistemáticas ações petistas de achincalhe às instituições desde o início da Operação Lava Jato, passando pelo impeachment e atingindo o ápice na condenação e prisão de Lula, a guinada está mais para o meme que vai no título desta coluna.

Roberto DaMatta: O formidável ritual democrático

- O Estado de S.Paulo

Eleição pode também servir como correção para governantes que traíram a confiança dos eleitores

Quando Max Weber fala de poder ele faz distinções importantes para a compreensão da democracia. Um regime político centrado numa premissa revolucionária, pois é o único que periodicamente confirma pessoas em seus cargos, o que produz uma instabilidade estrutural paradoxalmente regulada.

Tanto isso é verdade que, quando se dá um golpe, se fala em tudo, menos em eleição. Esse grande rito garantidor de mudanças por dentro, esse formidável teste que une pessoas comuns a altos cargos necessários à administração pública. Política e sociedade estão juntas nas democracias e divorciadas nas ditaduras.

Weber é claro quando distingue poder de dominação. Algo básico para entender o governo dos humanos pelos humanos – esses bichos cujo programa é não ter programa sendo, por isso mesmo, dependente do que Weber chamou de legitimação. A dimensão que domestica o monopólio da força, justificando-a e racionalizando-a numa autoridade o que evita o caos ou, como dizia um outro clássico, a “guerra de todos contra todos”.

A dominação comunica quem manda e quem obedece. A passagem da força bruta para a dominação mediada e racionalizada por um sistema religioso ou jurídico é o que chamamos de sistema cultural – uma ordem capaz de lidar com suas diferenças, tomando-as como “naturais”.

Maria Herminia Tavares de Almeida: A derrocada

- Folha de S. Paulo

Com a ascensão da extrema-direita, corre-se o risco de destruição da democracia

Como pedras de papel, os votos dados no primeiro turno jogaram por terra o mecanismo político que, desde 1994, sustentou a competição eleitoral no Brasil. Ela favorecia a moderação, ensejando a convivência relativamente civilizada entre lideranças e partidos em torno daquilo que o economista Samuel Pessôa chamou de pacto social da Constituição de 1988.

A extensão do desastre é gigantesca. Ao longo de cinco anos de crise política não faltaram vozes de todos os pontos do espectro político, clamando pela renovação; agora ela finalmente ocorreu. Sua principal vítima foi a centro-direita. Lideranças do MDB que serviram a todos os governos desde a redemocratização sofreram uma derrota humilhante. O PSDB se transformou em partido nanico. Mas tampouco a esquerda escapou ilesa. O PT, apesar de levar seu candidato presidencial ao segundo turno e de manter suas posições no Nordeste, perdeu cadeiras nas duas Casas do Congresso e viu seu eleitorado encolher substancialmente.

Com honrosas exceções, a renovação política que tantos consideravam essencial à democracia chegou pelas mãos da extrema-direita, pouco comprometida com os valores, instituições e procedimentos democráticos. Ainda não sabemos se levará a cobiçada presidência, mas seu desempenho no Parlamento e nos estados já autoriza dizer que o estrago foi considerável.

A derrocada do sistema de partidos é fenômeno raro nas democracias consolidadas. Costumam ter vida longa, grande capacidade de adaptação a mudanças sociais e firmes barreiras à entrada de novos competidores. Guardadas as particularidades de cada caso, desastres assemelhados ao que estamos assistindo ocorreram na Itália durante a primeira metade dos anos 1990 e na Venezuela no final da mesma década. Nos dois casos, o repúdio eleitoral aos partidos estabelecidos foi precedido e alimentado por seu envolvimento em escândalos de corrupção.

Hélio Schwartsman: Antipetismo pendular

- Folha de S. Paulo

Com erros do PSDB, eleitores contrários ao PT trocaram tucanos por Jair Bolsonaro

O antipetismo é um dos principais vetores a explicar a forte votação em Jair Bolsonaro (PSL). Essa é a parte da eleição fácil de entender. Afinal, é normal e esperado que o partido sob cuja administração ocorre uma megarrecessão enfrente a ira do eleitor. E o governo da petista Dilma Rousseff deu causa a uma crise que reduziu o PIB per capita em 9,1% entre 2014 e 2016.

O fato de a Operação Lava Jato ter revelado esquemas bilionários de corrupção em que o PT estava envolvido até a medula tampouco ajudou a sigla, embora houvesse várias outras legendas metidas nos mesmos e em outros casos.

A dupla adversidade custou ao partido os votos da classe média não originalmente petista que haviam sustentado suas vitórias de 2002, 2006 e 2010 (a de 2014 foi bem mais apertada). Ainda assim, o PT mostra uma notável resiliência. É o candidato da sigla, afinal, que disputará o segundo turno contra Bolsonaro. Grifes petistas como Dilma Rousseff, Eduardo Suplicy e Lindbergh Farias não conseguiram assento no Senado, mas o PT foi a legenda que fez a maior bancada federal, ainda que tenha encolhido em relação à legislatura anterior.

Bruno Boghossian: Só farelos

Acerto de contas tucano ameaça reduzir partido a linha auxiliar de Bolsonaro

O PSDB desmoronou no dia 13 de março de 2016. Naquele domingo, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e outros tucanos chegaram ao ato pró-impeachment na avenida Paulista sob vaias e gritos de “bundões” e “oportunistas”. O senador mineiro tentou cumprimentar um manifestante e foi chamado de “ladrão”. A delação da JBS ainda nem existia.

Os caciques do partido ficaram menos de 30 minutos no protesto, até perceberem que era melhor ir embora. Depois, a sigla divulgou uma nota dizendo que os tucanos haviam ficado “extremamente satisfeitos com a recepção da população”.

Cada um dos 938 dias seguintes foi um domingo na Paulista para o PSDB. O tucanato acumulou hostilidades e continuou barrado do novo ciclo político que estava em gestação.

O partido emergiu nesta terça (9) dos escombros da eleição em clima de acerto de contas. Em um bate-boca na reunião de cúpula da legenda, um ressentido Geraldo Alckmin se referiu a João Doria como traidor.

Vinicius Torres Freire: Jair Bolsonaro em obras, mito e realidade

- Folha de S. Paulo

Candidato critica barganha no Congresso; dificuldade para aprovar reformas será grande

Um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL) já está em obras. Discutem-se nomes de ministros; empresários e financistas relevantes oferecem préstimos ao candidato que venceu o primeiro turno da eleição, mostra esta Folha.

Há um ânimo de revolução no ar entre bolsonaristas. Resta combinar com o Congresso, que passou por um desmanche na eleição. É um Parlamento ainda informe, entre outros motivos porque deve ocorrer recomposição relevante de bancadas até março e porque os partidos que comandavam o baile sofreram derrotas imensas.

A margem para aprovação de reformas continua apertada, indicam os números. Como se não bastasse, um pilar da campanha de Bolsonaro era a crítica da divisão de poder com os partidos.

Executivos e empresários dizem que não se pode fracassar diante dessa "oportunidade única" de "mudança de paradigmas", que não se pode frustrar "esse voto de confiança em uma mudança profunda". Referem-se à possibilidade de extensa reforma liberal, dada a força da direita nas urnas.

Porém, o que há de mito e realidade nessa ideia de um Congresso mais inclinado a votar reformas liberais? O que já se pode dizer desta Câmara recém-eleita?

Rosângela Bittar: Uma pedreira no meio do caminho

- Valor Econômico

PT e PSL não dizem a que vieram. Ninguém sabe o que vão fazer

Até a última eleição, a propaganda em horário gratuito no rádio e na televisão era um item fundamental para quem quisesse fazer uma campanha eleitoral competitiva. Essa propaganda é caríssima e os marqueteiros, responsáveis por sua elaboração, tanto caíram nas malhas da Lava-Jato, pelos arranjos de contabilidade e pagamentos ilícitos feitos, quanto agrediram a torto e a direito seus adversários.

Mentiu-se à vontade nessas peças publicitárias plasticamente lindas, a comida sumia da mesa do pobre arrancada por banqueiros malvados, mulheres grávidas, diáfanas, andavam pelos campos verdejantes para defender seu candidato. Sem eliminar essa propaganda não haveria como baratear as campanhas.

A mudança veio sem que os políticos e profissionais da área percebessem. O candidato Geraldo Alckmin (PSDB) disputou, e foi vitorioso, a conquista da mais ampla aliança e ficou com o maior tempo de TV, o que é importante para tornar-se conhecido nos cafundós e difundir suas promessas. Ficou em quarto lugar nos resultados. Não cresceu um décimo na preferência depois de iniciada a fase de propaganda. E não foi só ele que se equivocou sobre os novos tempos. Todos o invejaram e tentaram, antes, ter o amplo apoio para melhorar o tempo de propaganda gratuita.

Em primeiro lugar ficou o candidato que tinha o menor tempo, alguns segundos apenas, e se tornou conhecido nos grotões mais longínquos. Uma propaganda que funcionou muito bem, na TV, foi a reprodução nos jornais de maior audiência da chamada mídia gratuita, reportagem sobre atividades ao longo do dia, algumas delas de sucesso em outros carnavais: a caminhada para abraçar eleitores.

Esta foi a campanha do WhatsApp, todos já sabem, de eficácia percebida só no fim.

Cristiano Romero: Bolsonaro decidiu cedo ser o anti-Lula

- Valor Econômico

Resultado do 1º turno quebra tradições, mas é fácil de entender

Brasileiros não gostam de extremos no espectro político, tanto que Luiz Inácio Lula da Silva precisou criar a versão "Lulinha Paz e Amor", em 2002, para apresentar-se menos ou nada radical. Deu certo. O petista chegou ao poder depois de três tentativas (1989, 1994 e 1998). A folgada liderança de Jair Bolsonaro no primeiro turno quebra algumas tradições, mas não é tão difícil de entender. A eleição castigou o PSDB de forma implacável. Mesmo que João Doria ganhe o governo de São Paulo no segundo turno, o PSDB que todos conhecemos não existirá mais. Bolsonaro tomou o lugar dos tucanos na polarização com o lulismo. E o PT sobrevive porque o lulismo segue forte depois de 29 anos de contendas presidenciais. Mesmo com Lula encarcerado, elegeu a maior bancada da Câmara dos Deputados e está no segundo turno da principal eleição.

Mais de uma razão concorre para explicar a tragédia tucana. Bolsonaro encarna desde o início de sua campanha nas redes sociais, há quatro anos, o político anti-Lula, anti-lulismo e anti-PT. O ruinoso governo de Dilma Rousseff (de 2011 a maio de 2016) jogou a economia brasileira na mais longa recessão da história e isso, aliado aos escândalos de corrupção, forjou um forte sentimento anti-petista nas regiões mais desenvolvidas.

Entre 2014 e 2016, o PIB recuou 6,4% e a renda per capita, quase 9%. A inflação (medida pelo IPCA) bateu em 10,67% em 2015 e o número de desempregado chegou a 12,3 milhões em dezembro de 2016 e a inéditos 14 milhões em abril de 2017 - os cínicos culpam Michel Temer, uma vez que ele assumiu a Presidência em maio de 2016, mas isso é esperteza sem lastro: o desalento foi contratado nos quase 65 meses da gestão Dilma Rousseff.

Depois dos três anos de recessão, o PIB cresceu apenas 1% em 2017 e, segundo a mediana das expectativas do mercado captadas pelo Banco Central, deve avançar 1,34% neste ano. O Brasil vive, portanto, um quinquênio desolador, talvez, único em sua história. E a Grande Recessão foi provocada pelo próprio governo e não por fatores externos.

Luiz Carlos Azedo: Haddad atrás de apoios

- Correio Braziliense

“Haddad começou a cair na real. Tenta moderar o discurso e ampliar alianças para vencer as eleições”

O PT corre atrás de aliados no segundo turno, na esperança de que Fernando Haddad, o candidato da legenda à Presidência, consiga reverter a vantagem de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pelo Palácio do Planalto. Ontem, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, anunciou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a Haddad para que não o visite mais na prisão. Na segunda-feira, o petista foi à carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, para receber instruções do seu chefe político. O resultado da visita foi um desastre, captado pelas pesquisas qualitativas, porque Lula agora não transfere mais votos, só rejeição. A retórica petista nas redes sociais também atrapalha o ex-prefeito de São Paulo, porque insiste no discurso “nós contra eles” e tripudia da derrota dos adversários que poderiam ser aliados no segundo turno.

Haddad começou a cair na real. Tenta moderar o discurso e ampliar alianças para vencer as eleições, mas esse objetivo, aparentemente, não é um consenso entre os militantes. Temem a repetição do que aconteceu com Dilma Rousseff, que mudou o discurso após a reeleição, em 2014, e isso foi visto como estelionato eleitoral. Mas o petista tenta desfazer a imagem de que é um candidato radical, sem compromisso com a Constituição, que acabou reforçada pelas visitas semanais a Lula para receber instruções eleitorais. Os encontros alimentam os ataques dos adversários, com o argumento de que o presidente da República não pode ser preposto de um político condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro, como é o caso de Lula.

Monica De Bolle: A economia na escuridão

- O Estado de S. Paulo

Ambos planos econômicos sofrem da mesma carência: não há conteúdo, não há diretriz, não há clareza

Cerca de 24 horas depois da apuração que deu a Jair Bolsonaro e Fernando Haddad a certeza de que haverão de se enfrentar no segundo turno das eleições, ambos falaram ao Jornal Nacional. Indagados sobre as ideias ventiladas durante a campanha de reescrever a Constituição que acaba de completar 30 anos, ambos afirmaram ter mudado de ideia. Pressionados sobre seus programas econômicos, os candidatos tergiversaram. Falaram por alto em reforma tributária, privatizações, e teto de gastos. Contudo não deram nenhuma indicação do que de fato pretendem fazer.

Mais cedo, o candidato Jair Bolsonaro havia postado vídeo nas redes sociais onde ao seu lado estava o assessor econômico Paulo Guedes. Guedes não disse palavra, enquanto Bolsonaro expôs sem deixar dúvidas que os planos de privatização antes anunciados por seu guru da economia seriam bem mais modestos do que este antecipara em entrevistas e sabatinas para emissoras de TV antes do sumiço e silêncio que precederam as semanas antes do primeiro turno. Referindo-se aos planos de privatização, disse Bolsonaro que empresas “estratégicas” como Banco do Brasil, Eletrobrás, Caixa Econômica Federal, e Petrobrás não seriam vendidas.

Dentre essa lista a única empresa realmente “estratégica” é a Petrobrás, que ainda mantém o monopólio em algumas operações. Privatizar monopólios nunca é uma boa ideia, mas não parece ser a isso que Bolsonaro se referia.

Fábio Alves: Com Bolsonaro, Copom parado

- O Estado de S.Paulo

Em cenário otimista em relação a reformas, em 2019, aperto monetário pode ser menor

Após a onda conservadora do eleitorado brasileiro no primeiro turno das eleições, resultando na votação surpreendente de Jair Bolsonaro e nos políticos de seu partido ou que lhe declararam apoio publicamente, cresceu a aposta dos investidores de que, caso o candidato do PSL vença a eleição presidencial, o Banco Central não mais terá de elevar os juros em 2018.

Isso porque, com Bolsonaro presidente e uma composição do Congresso mais inclinada a lhe dar uma base sólida, aumentou a probabilidade de aprovação de reformas necessárias, como a da Previdência, já no seu primeiro ano de mandato.

Mais ainda: nesse cenário otimista em relação a reformas, cresce também a aposta de que, se a taxa Selic subir em 2019, talvez o ritmo e a magnitude do aperto monetário seja menor do que o esperado.

A alta de juros logo após o segundo turno da eleição presidencial, marcado para 28 de outubro, era dada como certa por uma parcela do mercado financeiro em razão de uma disparada do dólar na segunda metade de agosto, quando a candidatura de Fernando Haddad (PT) começou a crescer com força nas pesquisas de intenção de voto.

- Míriam Leitão: A vida fiscal como ela é

- O Globo

Bolsonaro e Haddad ainda não apresentaram soluções viáveis para o país superar a crise fiscal. Haverá urgências já no início de 2019

A realidade aguarda os vencedores. Ela exigirá do próximo presidente habilidade para desarmar bombas fiscais. A vida real e os palanques não conversam. Quem for eleito presidente do Brasil terá que tomar decisões antes de subir a rampa porque algumas delas têm data e hora. Os primeiros dez meses serão de decisões urgentes.

O Supremo Tribunal Federal (STF) deu prazo para o Congresso regulamentar a Lei Kandir que termina este ano. Ela estabelece, como se sabe, uma compensação para os estados pela desoneração nas exportações de alguns produtos. O gasto anual tem sido de até R$ 3,8 bilhões. O Congresso quer aumentar para R$ 39 bilhões. Não dá para adiar a decisão, porque se não for regulamentado até o fim do ano o TCU vai decidir. Multiplicar por dez esse gasto é viável? O eleito terá que mobilizar apoios no Congresso para desarmar essa bomba ou resolver de onde tirar o dinheiro.

No final do ano passado, o Congresso aprovou a emenda que manda abrir uma linha para estados e municípios pagarem seus precatórios, que chegam a R$ 100 bilhões. A equipe atual tem tentado tourear isso, sem muito sucesso porque a base parlamentar se rebela. A emenda manda que a linha de financiamento tenha juros da poupança. O próximo governo terá que decidir com seus deputados e senadores de onde tirar dinheiro para isso ou como derrubar a emenda.

O governo Dilma fez uma renegociação que reduziu muito a dívida dos estados e municípios, jogando o custo na União. Foi trocado o indexador, reduzida a taxa de juros e ampliado o prazo de pagamento em mais 20 anos. Apesar disso, cada vez mais estados entram na Justiça para não pagar. Minas Gerais vive à base de liminares. Desde junho não paga as parcelas da dívida de quase R$ 500 milhões por mês e entrou na Justiça para que o Tesouro não retenha o Fundo de Participação dos Estados.

Ricardo Noblat: Tropa sem ordem unida

- Blog do Noblat | Veja

Tão cedo haverá reforma da Previdência

O capitão é ele, como já disse mais de uma vez, a mais recente quando desautorizou publicamente um monte de coisas absurdas que seu candidato a vice, o general Hamilton Mourão, andou dizendo, e ontem voltou a repetir.

Mas como a tropa carece de comando, Jair Bolsonaro se verá obrigado a intervir outra vez para dizer quem tem razão no caso da reforma da Previdência – se o economista Paulo “Posto Ipiranga” Guedes ou se o deputado Onyx Lorenzoni (DEM).

Cotado para a chefia da Casa Civil em um eventual governo Bolsonaro, Lorenzoni disse que a reforma da Previdência não faz parte do programa do seu chefe, e que não ajudará o atual governo a aprová-la este ano. Guedes já disse o contrário e tem pressa.

Ao falar sobre a reforma, mas sem se referir à divergência entre Guedes e Lorenzoni, Bolsonaro, ontem, pareceu mais alinhado com o deputado: “Não adianta uma proposta que aos olhos apenas de economistas é maravilhosa, mas que não passa no parlamento”.

Como ficarão os deputados e senadores que haviam se comprometido com o governo Temer a votar o arremedo de reforma da Previdência até o fim deste ano? Deixar a reforma para o ano que vem significa retomar as negociações a partir do zero.

Bolsonaro evitou detalhar como seria sua reforma, quando nada porque Guedes não estava ao seu lado para orientá-lo sobre o que dizer. Ele considera uma “porcaria” a reforma de Temer, segundo contou Lorenzoni. O futuro promete muita diversão.

João Doria, derrota à vista
Quem planta, colhe

O ex-prefeito João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, colheu, ontem, três derrotas: a) não conseguiu que a direção do seu partido declarasse apoio a Jair Bolsonaro (PSL); b) soube que Paulo Skaf (PMDB) anunciará, hoje, seu apoio a Márcio França (PSB), candidato à reeleição; c) queixou-se de Geraldo Alckmin e foi chamado por ele de traidor.

Chamado de traidor, naturalmente, ao jeito educado e indireto de Alckmin. O PT está quase pronto para anunciar em breve seu apoio a França. Doria começa a colher o que plantou.

O bem-vindo compromisso democrático: Editorial | O Globo

Bolsonaro e Haddad precisam resistir aos grupos autoritários que existem em suas campanhas

Em meados de 2002, quando o PT refletia a imagem de radical de seu candidato, pela terceira vez, a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, o partido deu a tal guinada para o centro, coma edição da Carta ao Povo Brasileiro, em que Lulas e comprometia a cumprir contratos e ar espeitar os cânones da economia de mercado. Estava certo o diagnóstico de que o PT não ultrapassaria abarreira dos 30% de votos enquanto fosse uma ameaça à estabilidade econômica, com sua visão encharcada do nacionalismo e terceiro-mundismo da esquerda das décadas de 50 e 60. O resultado foi a vitória de Lula, para cumprir o primeiro de dois mandatos e ainda fincar o poste Dilma Rousseff mais à frente, até ela ser desligada por um processo legal de impeachment.

Agora, quando Lula, preso em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro, conseguiu com que o candidato petista a presidente, Fernando Haddad, fosse para o segundo turno disputar com Jair Bolsonaro, a nação precisava de um compromisso formal mais amplo dos dois candidatos: respeito à Constituição, à própria democracia, portanto. A necessidade de não se repetirem experimentos heterodoxos na economia, como fez o PT com Dilma, vem em decorrência.

Em vez de em carta à sociedade, o respeito ao regime de democracia representativa pelos dois foi declarado em entrevistas concedidas ao vivo à bancada do “Jornal Nacional", na noite de anteontem.

Foi com alívio que milhões de brasileiros — para dar uma ideia, metade de todas as TVs ligadas, em todo o país, estava sintonizada no JN —assistiram a Haddad retirar do seu programa de governo a obsessão petista em convocar uma Constituinte ilegal, nos moldes chavistas. Na prática, um desastroso cheque em branco para que, no limite, até mesmo o regime pudesse ser alterado. Ali que fação da Venezuela é o desfecho desta sandice.

Sem Constituinte: Editorial | Folha de S. Paulo

Jair Bolsonaro e Fernando Haddad repelem propostas para uma nova Carta

A vantagem do segundo turno na eleição presidencial se fez notar horas após o fechamento das urnas. Na noite de segunda-feira (8), os finalistas Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) deram algumas das declarações mais sensatas de suas campanhas.

Ambos concederam breves entrevistas ao Jornal Nacional, da TV Globo —e ainda resta muito a esclarecer a respeito de programas, compromissos e estratégias políticas, o que demandará mais debates e sabatinas. De melhor, os candidatos descartaram com clareza propostas descabidas para substituir a Constituição de 1988.

Bolsonaro desautorizou o seu vice, general Hamilton Mourão, que no mês passado defendeu uma nova Carta, mais enxuta, cujo formulação não precisaria estar a cargo de pessoas eleitas pelo voto popular. Um comissão de notáveis, segundo a tese, poderia elaborar o texto, que seria submetido ao referendo do eleitorado.

“Se estamos disputando eleições é porque acreditamos no voto popular”, disse o presidenciável, “e seremos escravos da nossa Constituição”. Deveria ser óbvio e desnecessário —não se tratasse de quem, no dia anterior, havia retomado a cantilena nefasta contra a confiabilidade das urnas eletrônicas.

Do lado petista, não se chegou a aventar um colegiado de sábios para a confecção da Lei Maior; entretanto há o agravante de a proposta de uma Assembleia Constituinte constar do plano oficial de governo de Haddad —que, ainda na condição de vice na chapa, coordenou a elaboração do documento.

Alerta do FMI aos candidatos: Editorial | O Estado de S. Paulo

O País estará mais seguro para o investimento, a expansão econômica e a criação de empregos se os candidatos à Presidência derem atenção ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A consolidação fiscal é uma prioridade-chave para o Brasil, segundo o Panorama Econômico Mundial, principal relatório da instituição, divulgado ontem. Mais que isso: a reforma da Previdência é essencial para tornar sustentáveis as contas públicas e dar mais equidade às aposentadorias. Políticos podem levar a sério ou menosprezar as análises, projeções e avaliações do Fundo. Mas brigar com os fatos é uma decisão muito diferente. E os fatos, como reconhece qualquer pessoa razoavelmente informada sobre a economia brasileira, confirmam amplamente a análise contida no Panorama e enfatizada, em entrevista coletiva, pelo vice-diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas do FMI, Gian Maria Milesi-Ferretti.

O economista foi diretamente ao ponto crucial - embora nem sempre visível para a maioria das pessoas - da crise das contas públicas: a dívida muito grande, crescente e sem perspectiva, por enquanto, de estabilização nos próximos três ou quatro anos. A reforma das aposentadorias, segundo Milesi-Ferretti, é um passo indispensável para deter o aumento da relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB). Essa reforma, acrescentou, “é claramente necessária e terá de ser uma prioridade política para a próxima administração”.

Não se trata de uma recomendação meramente retórica e, além disso, seria ridículo considerá-la uma intromissão no debate político brasileiro. A relação dívida/PIB, já acima de 80% desde o ano passado, é um indicador acompanhado pelos especialistas do mercado financeiro internacional. É um item fundamental para a análise da saúde financeira do governo e para a classificação do crédito soberano pelas agências de avaliação de risco.

Alguns desafios urgentes à espera do futuro governo: Editorial | Valor Econômico

Passado o primeiro turno das eleições presidenciais, espera-se que os candidatos aprofundem a discussão dos imensos desafios econômicos do futuro governo. Os problemas não são poucos e começam pelas despesas elevadas com juros, com a Previdência e com pessoal, que consomem dois terços da receita com arrecadação. Somando-se as transferências a Estados e municípios e outras despesas obrigatórias chega-se a 97% do total arrecadado. Restarão para despesas discricionárias, incluindo investimentos, os 3% restantes, sem falar no déficit primário projetado em R$ 139 bilhões.

O balanço é preocupante e mal foi abordado no primeiro turno das eleições. Juros em patamar histórico de baixa, inflação sob controle e dentro da meta e contas externas em ordem, apesar dos solavancos do câmbio, contribuíram para esmaecer o foco da economia. Mas o desequilíbrio fiscal é grave e terá que ser enfrentado pelo futuro governante em um ambiente complexo e nem sempre favorável no Congresso. Muitas das medidas a serem tomadas exigem mudanças na Constituição e, portanto, convencer quase o triplo dos 12 partidos com os quais Fernando Henrique teve de lidar.

O desafio começa pela necessidade de levar adiante parte importante da agenda que o governo de Michel Temer foi incapaz de concluir. Para a maioria dos especialistas, mudar as regras da previdência é prioridade zero. As despesas com aposentadoria consumirão R$ 638 bilhões no próximo ano, sendo que a arrecadação cobre dois terços disso; o restante tem que vir do Tesouro. A equipe econômica está empenhada em tentar aprovar a reforma da previdência em pelo menos uma das casas do Congresso ainda neste ano, mesmo que seja necessário suspender a intervenção no Rio. A proposta original já foi modificada após negociações com os parlamentares, que reduziram a economia prevista para R$ 600 bilhões em dez anos, R$ 150 bilhões a menos do que o projeto original. Mas isso pode não prosperar: o futuro governo desejará estabelecer seus próprios parâmetros.

Jaques Wagner negocia frente com FH, Ciro e Marina

Maioria dos partidos libera filiados para decidir apoios

PTB de Roberto Jefferson adere a Bolsonaro; PSB fecha com Haddad, mas deixa livres seus candidatos em SP e DF

Cristiane Jungblut, Catarina Alencastro, Patrik Camporez e Amanda Almeida | O Globo

Em disputa marcada pelo choque de forças entre o antipetismo e o “ele não”, alguns dos principais partidos do Congresso decidiram ontem manter neutralidade no segundo turno, liberando seus filiados para optar entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Com a exceção do PTB, que declarou apoio formal ao ex-capitão e ao PSB, que fechou com Haddad, siglas do campo moderado — como PSDB, PP, PR, Novo e DEM —optaram por “manter o silêncio e deixar o palco vazio” para que o eleitor faça sua escolha, como justificou, em nota, uma das siglas ao isentar-se de escolher um lado no dia 28.

Em 2014, em uma eleição marcada pela velha polarização entre PT e PSDB, apenas o PSOL, que teve Luciana Genro como candidata, optou por ficar neutro no segundo turno entre Dilma Rousseff e Aécio Neves.

A onda conservadora, representada por Bolsonaro, que promoveu uma ampla renovação na política brasileira, provocou traições e adesões ao presidenciável do PSL antes mesmo do primeiro turno e foi ampliada coma sua vitória. Pressionados por candidatos nos estados, PP e PSD B anunciar amontem aposição de liberar seus filiados.

—Os nossos candidatos estão todos liberados. Quem quiser pode apoiar o Bolsonaro, quem quiser não apoia ninguém, se alguém quiser apoiar o PT, nós liberamos — disse Geraldo Alckmin.

Em reunião marcada para hoje, o DEM deve divulgar posição semelhante. O MDB também faz reunião hoje para decidir seu futuro. Único partido a aderir a Bolsonaro abertamente, o PTB do mensaleiro Roberto Jefferson, divulgou nota ontem elogiando as propostas do ex-capitão. Com diferentes quadros apoiando Bolsonaro desde o início da campanha, PP e PR liberaram suas bancadas. “O eleitor claramente enviou um recado ao país: quer tomar sua decisão sem que qualquer outro aspecto, que não os candidatos, sejam levados em consideração como critério de escolha. Isso significa que o eleitor quer o silêncio e o palco vazio de qualquer ruído ou informação que interfira na sua reflexão sobre qual candidato escolher”, disse o PP em nota.

Alckmin insinua traição de Doria, que pede votos para Bolsonaro

Reunião da cúpula tucana em Brasília decide pela liberação dos filiados para apoiar presidenciáveis no segundo turno

Cristiane Jungblut e Silvia Amorim | O Globo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - Em reunião para decidir posição tucana no segundo turno, Alckmin insinuou traição de Dor ia, ao não apoiá-lo na disputa presidencial. O presidente nacional do PSDB e candidato derrotado na eleição presidencial, Geraldo Alckmin, anunciou ontem que o partido decidiu liberar os seus filiados no segundo turno para apoiar Jair Bolsonaro (PSL) ou Fernando Haddad (PT), de acordo com suas “consciência e convicção” e com a realidade de seus estados. A decisão foi tomada durante a reunião da Executiva Nacional do PSDB, na tarde de ontem em Brasília, que se tornou uma grande lavagem de roupa suja. O partido saiu ainda mais dividido da maior derrota numa eleição nacional de sua história.

Em três horas a portas fechadas, houve troca de acusações, como o diálogo entre Alckmin e João Doria, que disputa o segundo turno da eleição para o governo de São Paulo. O ex-governador insinuou traição do afilhado político, acusado de não se empenhar pela chapa presidencial do PSDB e flertar com Jair Bolsonaro (PSL) desde o primeiro turno.

— Traidor eu não sou — disse Alckmin para Doria.

Quatro generais coordenam programa de Bolsonaro

Generais atuam com quase 30 equipes temáticas que trabalham, em Brasília, na formulação do plano de governo do candidato do PSL; Heleno é o ‘comandante-geral’

Renata Agostini e Leonencio Nossa | O Estado de S.Paulo

Um grupo de fiéis aliados egressos das Forças Armadas, liderados por três generais do Exército, vem ampliando seu espaço de influência na campanha de Jair Bolsonaro (PSL). Equipes temáticas, especialmente da área de infraestrutura, que estavam sob comando do economista Paulo Guedes, no Rio, estão sendo integradas aos debates conduzidos pelos generais.

Com isso, parte das discussões passou para a órbita de Oswaldo Ferreira, um dos homens fortes do grupo de Brasília. Esse time, que foi montado por Bolsonaro no início do ano, é composto por generais de sua confiança. Ex-chefe da missão de paz da ONU no Haiti, o general Augusto Heleno desfruta de grande proximidade com Bolsonaro, é conselheiro para assuntos de segurança e defesa e tem atuado em temas de relações exteriores. Ferreira e Aléssio Ribeiro Souto completam o grupo de generais que coordenam debates técnicos sobre diversas áreas do eventual governo.

O movimento é visto dentro da campanha como natural, já que havia grupos diferentes trabalhando em sugestões para as mesmas áreas simultaneamente nas duas cidades. Guedes segue mantendo forte liderança sobre os economistas e especialistas civis que discutem no Rio as diretrizes econômicas de um possível governo Bolsonaro. Esses colaboradores repetem que ele tem a palavra final. Alguns se referem a Guedes até como “chefe”.

Os generais em Brasília trabalham a partir da direção apontada por Guedes, que mira em corte de gastos e enxugamento da máquina pública. Não há, contudo, hierarquia entre os generais e o coordenador do programa econômico. Os generais, que trabalham numa sala alugada no subsolo de hotel quatro estrelas de Brasília, respondem diretamente a Bolsonaro.

Emissários de Haddad sondam militares

Tânia Monteiro | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Com a possibilidade de o PT voltar ao poder, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de dentro da carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, instruiu emissários a procurarem chefes militares das Forças Armadas. O objetivo foi medir a temperatura nos quartéis, caso Fernando Haddad chegue ao Palácio do Planalto depois das denúncias de corrupção na Lava Jato contra as administrações petistas.

O ex-presidente está preso desde abril, após ser condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Lula buscou como interlocutores três ex-ministros da Defesa, que ocuparam o cargo nas gestões petistas – Nelson Jobim, que ficou na pasta entre julho de 2007 e agosto de 2011; Celso Amorim, no cargo entre agosto de 2011 e dezembro de 2014; e José Viegas, o primeiro a ocupar o ministério na gestão Lula, entre janeiro de 2003 e novembro de 2004.

O principal emissário foi Jobim que, na quinta-feira passada, procurou o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, em Brasília. Ele também se reuniu com o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, seu amigo e com quem já trabalhou. A missão de Lula a Jobim foi repassada em um almoço pelo ex-ministro da Comunicação do petista Franklin Martins e pelo ex-deputado José Genoino, que tinha proximidade com os militares e chegou a assessorar o ex-ministro da Defesa.

O Comando do Exército confirmou o encontro entre Jobim e o general, mas não informou o teor da conversa, justificando que foi apenas entre os dois e “a portas fechadas”. Procurado, Jobim negou que tenha viajado a Brasília como emissário ou para promover pacificações, mas que aproveitou uma visita à cidade para encontrar amigos. “Não fui cumprir tarefas. Fui visitar antigos amigos”, disse ao Estado.

Paralelo a esse movimento, a deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG), que integra a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, também procurou militares para conversas, embora diga que foi discutir assuntos relacionados a projetos em tramitação na Câmara.

Gonzaguinha - Pequena memória para um tempo sem memória

Ferreira Gullar: No mundo há muitas armadilhas

No mundo há muitas armadilhas
e o que é armadilha pode ser refúgio
e o que é refúgio pode ser armadilha
Tua janela por exemplo
aberta para o céu
e uma estrela a te dizer que o homem é nada
ou a manhã espumando na praia
a bater antes de Cabral, antes de Tróia
(há quatro séculos Tomás Bequimão
tomou a cidade, criou uma milícia popular
e depois foi traído, preso, enforcado)
No mundo há muitas armadilhas
e muitas bocas a te dizer
que a vida é pouca
que a vida é louca
E por que não a Bomba? te perguntam.
Por que não a Bomba para acabar com tudo, já
que a vida é louca?
Contudo, olhas o teu filho, o bichinho
que não sabe
que afoito se entranha à vida e quer
a vida
e busca o sol, a bola, fascinado vê
o avião e indaga e indaga
A vida é pouca
a vida é louca
mas não há senão ela.
E não te mataste, essa é a verdade.
Estás preso à vida como numa jaula.
Estamos todos presos
nesta jaula que Gagárin foi o primeiro a ver
de fora e nos dizer: é azul.
E já o sabíamos, tanto
que não te mataste e não vais
te matar
e agüentarás até o fim.
O certo é que nesta jaula há os que têm
e os que não têm
há os que têm tanto que sozinhos poderiam
alimentar a cidade
e os que não têm nem para o almoço de hoje
A estrela mente
o mar sofisma. De fato,
o homem está preso à vida e precisa viver
o homem tem fome
e precisa comer
o homem tem filhos
e precisa criá-los
Há muitas armadilhas no mundo e é preciso quebrá-las.