Horizontes Democráticos
A confusão armada pelo presidente Jair
Bolsonaro e sua turma por causa dos protestos ocorridos no Lollapalooza
Brasil, um festival de música alternativa, deu a dimensão do receio que eles
têm das novas gerações. O que mais os preocupou não foi o que aconteceu no
primeiro dia do evento, quando a cantora Pabllo Vittar ergueu uma bandeira em
favor do ex-presidente Lula, pré-candidato na eleição de outubro, deflagrando
com isso uma onda de xingamentos do público jovem contra o inquilino do Palácio
do Planalto.
Foi, isto sim, o que aconteceu no segundo
dia, quando o cantor Emicida aproveitou o momento para promover a campanha pelo
voto jovem, incentivando adolescentes a tirarem seu título de eleitor para
votarem contra Bolsonaro, com o objetivo de impedir sua reeleição. Após o
protesto do primeiro dia, um partido bolsonarista recorreu ao Tribunal Superior
Eleitoral, alegando que o ato de Vittar era ilegal, por configurar campanha
eleitoral antecipada. Como um ministro da corte acolheu o recurso, tomando uma
decisão desastrosa e inconstitucional, a ponto de impor uma descabida censura à
liberdade de expressão, o caso teve uma enorme repercussão negativa em todo o
País. Foi justamente por isso que a fala de Emicida causou enorme impacto junto
ao público jovem, deixando o bolsonarismo apavorado com o risco de adolescentes
correrem para tirar seu título de eleitor.
Ainda que tosco e ignaro, o presidente da República, que sempre desqualificou a juventude brasileira por considerá-la simpatizante de ideias “marxistas”, passou recibo. Ao perceber o quanto o voto dos adolescentes que pediriam ao TSE a emissão de seus títulos de eleitor poderia dificultar sua reeleição, ele exigiu do partido que o apoiava que voltasse atrás e desistisse o mais rapidamente possível da ação. Se as grandes ansiedades dominam os espíritos, qual é o motivo que leva as novas gerações a terem horror a um dirigente que despreza seus anseios, que faz pouco caso de seus valores e que tenta reiteradamente desqualificá-las?