O Globo
Agosto é um estranho mês, todos sabemos no
Brasil. Por que não o seria sob Bolsonaro, que em si já é um estranhíssimo
governo?
Numa noite dessas de agosto, vi nas redes
um cantor sertanejo nos ameaçando de caos e até fome se não adotássemos o voto impresso.
Na minha santa ignorância, perguntei: mas o
que pensa o outro?
Achava que os cantores sertanejos sempre se
apresentam em dupla, mas o autor da ameaça faz uma carreira solo. Achava também
que cantam amores perdidos, a natureza, um pé de serra, um animal de estimação.
O cantor se dizia ligado aos caminhoneiros,
daí o caos e a fome que se espalhariam pelo país. Minha perplexidade foi ainda
maior: diesel e gasolina aumentam desde o princípio do ano, o etanol já está
34% mais caro. Merecíamos um castigo tão grande, por optar pela votação
eletrônica?
Tenho sonhado muito nos últimos anos. Todas
as noites, sonhos disparatados, mas — o que fazer? — sonhos adoram o absurdo.
Sinceramente fiquei com medo de dormir e sonhar com a multidão pedindo a volta dos orelhões com fichas nas bancas de jornal. Ou numa hipótese mais radical, cartazes exigindo a volta do Rhum Creosotado, aquele dos famosos anúncios nos bondes de antigamente.