Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
terça-feira, 27 de abril de 2021
Merval Pereira - Uma assombração
Míriam Leitão - Governo afastado dos brasileiros
O
governo Bolsonaro está descolado dos brasileiros na área ambiental e climática.
Empresas anunciam compromissos de zerar emissões, de fiscalizar sua cadeia
produtiva, porque isso é um diferencial competitivo. Governadores fazem pontes
com governos e empresas. Bolsonaro estrangulou o orçamento dos órgãos
ambientais, um dia depois de dizer ao mundo que os fortaleceria. Ontem, na
Câmara dos Deputados, o delegado Alexandre Saraiva, da Polícia Federal, mostrou
provas explícitas da ilegalidade da madeira que o ministro Ricardo Salles diz
que é legal. “O ministro tornou legítima a ação de criminosos”, disse Saraiva,
que foi exonerado da Superintendência.
O
engenheiro Tasso Azevedo, do Observatório do Clima, observou esse descolamento
entre o governo e a sociedade.
— Temos algo acontecendo aqui. A sociedade está fervilhando, o mundo inteiro está olhando para isso. No setor empresarial, do segundo semestre do ano passado para cá, todos os conselhos passaram a falar sobre o tema, querendo entender. Saiu do nível de gerente, foi ao CEO e chegou ao conselho. Várias empresas estão assumindo compromissos e alguns são bem fortes — diz.
Luiz Carlos Azedo - Breve manual de geração de crises
Faz
parte das atividades de qualquer governo se prevenir contra as crises. Ou seja,
se preparar para quando elas ocorrerem, procurando neutralizar seus efeitos
negativos e construir saídas positivas. Por isso mesmo, o gerenciamento de
crise tem um roteiro bastante conhecido pelos profissionais que lidam com
avaliação de risco e comunicação institucional. O beabá é o seguinte: avaliar
ambiente interno e externo; (2) realizar um brainstorm para mapear os riscos;
(3) medir o grau de probabilidade de ocorrência de risco e seu impacto; (4)
definir resposta ao risco mapeado, controles e plano de ação; (5) execução do
controle e do plano de ação; (6) validar e testar os mecanismos de controle
interno; (7) divulgar a matriz de risco entre seus atores; (8) monitorar os
riscos e reavaliar ambiente interno e externo.
Portanto, chega a ser hilário o vazamento do questionário distribuído pela Casa Civil na Esplanada dos Ministérios para se preparar para as investigações da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covi-19, o que seria uma etapa inicial do gerenciamento de risco. Sob responsabilidade do general Luiz Ramos, ministro da Casa Civil, encarregado de coordenar as ações da equipe ministerial, o documento foi elaborado para organizar a defesa do governo Bolsonaro das acusações de negligência na pandemia, mas alguém “mui amigo” tornou público o roteiro.
Ricardo Noblat - Bolsonaro escolhe perder para Renan a primeira batalha da CPI
Que
vantagem Maria levou? Nenhuma!
Deu-se com prova de esperteza e de jogo de cintura do presidente Jair Bolsonaro seu telefonema recente para o governador Renan Calheiros Filho (MDB), de Alagoas. Por meio dele, Bolsonaro tentava apaziguar suas relações com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que será o relator da CPI da Covid-19.
Renan,
pai, e Bolsonaro jamais foram próximos à época em que se cruzaram como
deputados na Câmara. Houve uma chance de os dois se entenderem quando Bolsonaro
se elegeu presidente, e Renan disputou a reeleição para presidente do Senado.
Mas aí, Bolsonaro ajudou Davi Alcolumbre (DEM-AP) a derrotar Renan.
Depois de ouvir de Renan, o governador, que o pai não guardava mágoas dele e que se comportaria com equilíbrio como relator da CPI, que fez Bolsonaro? Autorizou a deputada Carla Zambelli (PL-SP), uma bolsonarista de quatro costados, a acionar a justiça para que impedisse Renan de ser o relator.
Um juiz federal de Brasília decidiu que Renan não poderá ocupar a função. Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, respondeu que a decisão não tem cabimento e que por isso será simplesmente ignorada. A instalação da CPI se dará, hoje, em sessão marcada para às 10h. E Renan será ungido relator.
Carlos Andreazza - O movimento de Ciro
Ciro
Gomes está com o bloco na rua. Sua margem de manobra é estreita. Estreitou-se
ainda mais com Lula habilitado a concorrer. Mas ele a tem explorado — até aqui
— ao estado da arte. Merece atenção. Merece igual atenção o “até aqui”; dado
não terem sido poucas as vezes em que uma boa posição lhe serviu de altura para
um tombo mais doído adiante. Sua estratégia é clara; também lhe é a única
disponível. Daí por que a advertência: não poderá errar; não lhe sendo pequeno
o histórico de equívocos em campanhas. A seu favor: não errou em 2018, jornada
de que saiu maior.
Jornada de que saiu maior — e bem posicionado para o jogo que ora faz com vistas a 2022. A recente entrevista ao GLOBO é aula de discurso político. E não apenas porque precisa na mensagem. Ciro foi exato — falou o que pretendia, para quem mirava, conforme planejara —, porque consciente do campo que lhe resta. Não lhe é grande o campo; nem plano. Mas já o identificou. Não lhe é vasta a chance; que só há, porém, porque mapeou a pinguela. Joga bem. Com pouco.
Eliane Cantanhêde - Na CPI, guerra é guerra
Bolsonaro
quer impor roteiro, desqualificar Calheiros e dar Pazuello aos leões, mas os
fatos o condenam
Com
a instalação da CPI da Covid, começa hoje uma nova
fase do governo Jair Bolsonaro, que, além de já estar
em campanha eleitoral antecipada para 2022, vai estar muito ocupado em tentar
explicar o inexplicável numa tragédia histórica que já levou 390 mil vidas no
Brasil. Bolsonaro vai passar a ter oposição real e muita
visibilidade negativa.
A
CPI é como o coronavírus:
desconhecida, altamente contagiosa e potencialmente letal. Se Bolsonaro reagir
a ela com o negacionismo com que trata o próprio vírus, ficará em maus lençóis.
Mas, se ele é incompetente como presidente, é esperto como candidato e na
relação com o Centrão.
Suas três prioridades: impor o roteiro da CPI, desqualificar o senador Renan Calheiros como relator e
manter controle sobre o general e ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello.
Quanto ao roteiro, o Planalto fez 23 perguntas a ministros sobre os erros mais gritantes, mas tem muito mais. Exemplos: por que tratar a pandemia até hoje como “gripezinha”? E por que Bolsonaro jogou no lixo documentos do Exército e da Abin sobre isolamento? Nenhum ministro tem resposta para isso, assim como ninguém sabe que tipo de motivações, ou interesses, estão por trás da posição sobre isolamento, máscaras e vacinas – e sem pôr nada no lugar, além de cloroquina...
Felipe Salto* - O desmonte do Estado brasileiro
Reduz-se
cada vez mais a despesa essencial para o funcionamento da máquina pública
É
sintomático que o Orçamento de 2021 tenha sido sancionado em bases irrealistas.
Os cortes promovidos pelo Poder Executivo devem permitir o cumprimento do teto,
mas ao preço de desmontar o Estado brasileiro. Na ausência de mudanças
estruturais no gasto obrigatório, reduz-se cada vez mais a despesa essencial
para o funcionamento da máquina pública.
O
chamado shutdown não acontece da noite para o dia. Na verdade, políticas
públicas essenciais estão sendo desidratadas ao longo dos últimos anos. Dada a
opção pelo teto de gastos, mas sem avanços para conter a despesa mandatória, a
fatura vai recaindo sobre o gasto discricionário (mais exposto à tesoura).
Em 2021, o caso do censo demográfico é emblemático. Em pleno ano de pandemia, quando se processam mudanças sociais e econômicas profundas, o Ministério da Economia anunciou que a pesquisa não será realizada. Motivo? Falta de orçamento.
Rubens Barbosa* - Em busca do ouro
O
Brasil tornou-se o centro das facilidades da lavagem de dinheiro com o minério
ilegal
Uma
das afirmativas do presidente Jair Bolsonaro na conferência do clima foi a de
“eliminar o desmatamento ilegal da Amazônia até 2030”. O combate às práticas
ilícitas na região incluem as queimadas e o garimpo. A intenção presidencial
foi considerada “encorajadora” pelo presidente Joe Biden, e “construtiva” por
John Kerry, mas ambos dizem aguardar medidas concretas e “sólidas” nesse
sentido.
O governo Bolsonaro poderia iniciar o cumprimento dessa promessa com ações para reprimir a exploração de ouro e diamantes, uma das atividades mais lucrativas e que mais prejuízos trazem à floresta e às comunidades indígenas. A busca pelo ouro na Amazônia está enraizada em práticas ilegais, que hoje respondem por cerca de 16% da produção do País, com a extração em áreas proibidas e sem nenhum tipo de controle. Essa ilegalidade pode ser muito maior, já que não há como contabilizá-la com exatidão. Cerca de 320 pontos de mineração ilegal foram identificados em nove Estados da região. A área para a pesquisa de ouro já ocupa 2,4 milhões de hectares. Desde 2018 houve um aumento no número de solicitações nesses territórios, com um recorde de 31 registros em 2020.
Alvaro Costa e Silva - Bolsonaro no buraco
Derrocada
do governo não é ficção
Em
abril de 2019, o então chanceler Ernesto Araújo fez uma visita oficial à Argentina.
Desde a final da Libertadores de 1963 entre Boca Juniors e Santos na Bombonera,
em que Pelé acabou com o jogo, os hermanos não se espantavam tanto com um
brasileiro.
Araújo disse que poderia ser um personagem de Jorge Luis Borges. "Diplomata de um país com problemas de pobreza, corrupção e crime" que um dia escreveu um artigo sobre Trump. "Essas linhas sobre o Ocidente mítico" chegaram ao conhecimento de Bolsonaro, "candidato a presidente que falava de Deus e da pátria como realidades presentes e convidou esse obscuro diplomata para ser seu chanceler". O próprio Bolsonaro, continuou Araújo, "renderia um conto de Borges, que poderia se chamar 'Deus em Davos'".
Cristina Serra - O 'cara da casa de vidro'
Esclarecer
as conexões entre Adriano da Nóbrega e Bolsonaro é prioridade
O
repórter Sérgio Ramalho, do site The
Intercept, teve acesso a um relatório do Ministério Público do Rio de
Janeiro com o resumo dos grampos telefônicos
de comparsas de Adriano
da Nóbrega. Como se sabe, Adriano era o chefe da milícia Escritório do
Crime e foi morto em uma operação policial, na Bahia, que mais parece queima de
arquivo. As conversas indicam conexões muito mais profundas entre o ex-policial
militar e Bolsonaro do que se sabia até então.
Após a morte de Adriano, seus cúmplices teriam procurado um homem, mencionado nos grampos como o "cara da casa de vidro". Fontes do MP-RJ ouvidas pelo site dizem tratar-se de Bolsonaro, e a "casa de vidro" seria uma referência à fachada envidraçada do Palácio da Alvorada. O homem também aparece no relatório como "Jair" e "HNI (PRESIDENTE)". HNI é a sigla para Homem Não Identificado.
Andrea Jubé - “Quantos poderiam ser salvos?”
Atraso
nas vacinas foi deliberado, diz governador de Alagoas
O
governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), recorreu a uma metáfora
futebolística, tão comum na política, para explicar por que a falta de uma
coordenação nacional no combate ao coronavírus contribuiu para o
recrudescimento da pandemia no Brasil.
“O
Ministério da Saúde é fundamental nesse processo, e em meio à crise, tivemos
quatro ministros. Imagina a Seleção Brasileira, às vésperas da Copa do Mundo,
trocando de técnico quatro vezes, cada um com um time de diferente, um lateral
esquerda, outro de direita. Certamente isso dificulta a organização do time”.
O
mandatário é filho do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que ontem teve a
nomeação para o cargo de relator da CPI da pandemia impedida por uma liminar da
Justiça Federal do Distrito Federal. Nas redes sociais, o senador classificou a
decisão como “interferência indevida”, acusou o governo Jair Bolsonaro de
orquestrá-la, anunciou que vai recorrer, e provocou: “Por que tanto medo?”
Para Renan Filho, contar com Renan Calheiros na relatoria da CPI não deveria inspirar medo, mas, sim, confiança pela sua experiência política e disposição para conciliação. “Não se encontra no Senado tanta gente com a capacidade dele, experiente, calmo, sereno. O senador Renan é equilibrado e no papel de relator, só vai ajudar”.
Pedro Cafardo - O culto à cloroquina e ao teto sacrossanto
Enquanto
o mundo pensa no pós-pandemia, Brasil se vê envolto na discussão sobre limites
fiscais rígidos demais
Uma
frase banal - fazer do limão uma limonada - move quem está pensando na economia
da era pós-covid. Ainda que as aflições com o desastre humanitário global em
andamento desencorajem esse olhar economicista, muitos países já puseram o tema
em discussão e tomam medidas olhando para o futuro imediato.
Quem
prestou atenção nos discursos da Cúpula do Clima da semana passada viu o
“caminho das pedras” da nova economia. A ideia geral é que o principal
mecanismo para criar empregos após a pandemia serão os investimentos na
economia verde.
O presidente dos EUA, Joe Biden, está presenteando os americanos com um programa econômico que vai muito além do auxílio emergencial. Já aprovou um pacote de estímulos fiscais de US$ 1,9 trilhão e propõe investimentos de longo prazo de até US$ 3 trilhões. Esta segunda parte é a limonada, porque aproveita a crise para sugerir uma grande transformação estrutural da economia americana, ao mesmo tempo em que promete reduzir as emissões de gases-estufa em 52% até 2030. Pode parecer estranho, mas a infraestrutura americana está velha e precisa ser renovada. Não há no país, por exemplo, ferrovias de alta velocidade, coisa comum na Europa. As novas linhas de trens devem substituir transporte aéreo, altamente poluidor.
Roberto Luis Troster* - Tragédias
Dívida
está crescendo a uma taxa maior do que a capacidade de pagamento dos cidadãos e
empresas
Relatos
da antiguidade greco-romana narram sacrifícios brutais impostos a personagens
mitológicos. Alguns desses castigos retratam o absurdo de um modo emblemático.
Depois de assassinarem seus maridos, as Danaides foram condenadas pela
eternidade a verter água em vasilhas sem fundo. Além de ilógica, era uma tarefa
sem fim.
Atualmente,
a Grécia sofre uma punição de proporções homéricas. Desde 2008, a renda per
capita caiu 27%, o investimento foi reduzido em um terço, o desemprego dobrou e
a dívida bruta do governo aumentou 99%, alcançando 213% do PIB. À dívida
pública deve-se acrescentar 79% da dívida com os bancos. A soma mostra que os
gregos devem 292% de seu PIB.
Costuma-se analisar dívida pública e dívida privada de forma separada. É oportuno lembrar que, em última instância, ambas são pagas pelos cidadãos do país - seja através de impostos ou por transferências aos bancos -, constituindo recursos que são canalizados para investidores no país e no exterior. Assim, os meios disponíveis para crescer, tanto do governo como do setor privado, correspondem àquilo que resta após cumprir as obrigações com as dívidas.
Edu Lyra - Por uma elite transformadora
Costumamos
olhar para o favelado como alguém que tem muito a aprender. Em parte, isso é
verdade. Os mais pobres precisam de escolas de qualidade, de capacitação
profissional, de educação financeira, de mais acesso à cultura. Porém a favela
também tem muito a ensinar, inclusive para o andar de cima.
Na
última semana, encerramos os trabalhos da primeira turma do Hawks, curso de
formação da Gerando Falcões sobre a agenda social do país. Pudemos discutir as
várias faces do abismo social brasileiro e estudar exemplos mundiais
bem-sucedidos de políticas sistêmicas para a redução da pobreza e o combate às
desigualdades.
O
Hawks é como um MBA em assuntos sociais. Acontece que esse MBA é voltado a
jovens das principais famílias empresariais do Brasil. Além de filhos e filhas
de quem tem capital e influência social, eles são empreendedores, executivos,
arquitetos, criadores, que podem impactar a sociedade com seu conhecimento.
Como
assim, Edu? Um curso da favela para gente endinheirada?
Isso mesmo. O Brasil não vai mudar enquanto não tivermos uma elite realmente participativa. Precisamos alcançar esses jovens que já têm poder econômico e trabalhar para que eles desenvolvam também poder social. Ou seja, capacidade e disposição para construir soluções, para mudar a realidade do país.
Bela Megale - 'Gabinete do Ódio' da Presidência será alvo de convocação da CPI da Covid
Funcionários
do Palácio do Planalto que integram o chamado “gabinete do ódio” serão alvos de
um pedido de convocação da CPI da Covid, instaurada nesta terça-feira no
Senado. O PT vai solicitar a convocação dos assessores da presidência da
República Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz.
O trio bolsonarista é apontado como responsável por ataques a adversários do
presidente nas redes sociais.
Uma das frentes articuladas pela oposição mira o uso de redes sociais para disseminar fake news que boicotam medidas sanitárias, como uso de máscara, além de ataques a autoridades que decretaram medidas de isolamento social, como governadores e prefeitos. Para isso, os senadores trabalham em um pedido de compartilhamento de dados da CPMI das fake news com a investigação da Covid.
Malu Gaspar - Toffoli manda Bolsonaro, Pacheco e Lira se explicarem sobre emendas "cheque em branco"
O
ministro do Supremo Tribunal Federal José Dias Toffoli deu 10 dias a Jair
Bolsonaro e os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira e Rodrigo
Pacheco, para enviar explicações sobre a ampliação de uma nova modalidade de desembolso das emendas parlamentares, as
chamadas transferências especiais.
Os
três foram notificados na última sexta-feira, como consequência de uma ação
direta de inconstitucionalidade proposta pelo Partido Novo e que foi
distribuída para Toffoli. O Novo é crítico do instrumento de repasse. Jair
Bolsonaro não era citado inicialmente na ação, mas Toffoli decidiu incluí-lo.
As
transferências especiais foram criadas em 2019 pelo Congresso. São chamadas de
"cheque em branco" porque, ao contrário do que acontece com os
recursos enviados para estados e municípios por meio de emendas regulares, no
caso delas não é preciso dizer em quê os recursos serão aplicados nem
prestar contas aos órgãos federais de controle de seu uso.
Basta o parlamentar indicar o nome da cidade que deve receber o dinheiro, e os recursos caem direto na conta da prefeitura, que também não precisa dizer o que fará com ele.
Luiz Carlos Azedo - Bolsonaro pisa no barro
O presidente da República aposta na resiliência de sua base e no “efeito manada” da radicalização ideológica, anabolizado pelas redes sociais, para se reeleger
Uma
pintura de Hendrick Pot, de 1640, mostra as deusas das flores passeando com
bêbados que pesam dinheiro, seguidas por uma multidão louca para ficar com o
grupo. É a representação do “efeito manada”, que o pintor flamenco captou
durante a “tulipomania” holandesa ocorrida naquele ano. Essa foi uma das
primeiras bolhas econômicas de que se tem conhecimento nas economias
capitalistas, estudada por Charles Mackay, em 1841 (Ilusões populares e a
loucura das massas, Faro Editorial). Foi o primeiro a tratar do assunto.
As tulipas de Constantinopla se tornaram populares na Alemanha e, principalmente, na Holanda, no começo do século 17. Provocaram uma febre em Amsterdã, onde eram muito apreciadas pela classe média, como acontece hoje em dia com as orquídeas. As espécies raras chegaram a ser negociadas na Bolsa, mas quando os ricos cansaram das tulipas exóticas nos arranjos florais e jardins, seu efeito na classe média passou, e os que investiram suas economias no seu cultivo foram à breca. Desde então, periodicamente, o fenômeno se repete na economia, sendo inúmeros os estudos sobre isso.
Ricardo José de Azevedo Marinho* - O sutil desprezo de Biden a Bolsonaro
-
Esquerda Democrática
Como se sabe, não há protocolos estabelecidos para reuniões ou conferências de Zoom, ou para cúpulas virtuais de chefes de Estado. Há meses atrás, elas praticamente não existiam. Nem é preciso dizer que houve encontros entre dois ou mais líderes em videoconferências, mas as cúpulas são outra coisa. São encontros onde os governantes de seus países podem se encontrar, ouvir uns aos outros, trocar declarações formais e manter diálogos informais.
Portanto,
por si só, a forma como Bolsonaro participou da Cúpula do Clima convocada por
Joe Biden, apesar de não ser grave, é no mínimo complicada. Se o presidente
brasileiro decidiu que não estava interessado em ouvir as intervenções de seus
colegas — com exceção talvez de Biden e quiçá Kamala Harris —, não há regra
escrita ou não escrita que ele tenha violado. Claro: ele não foi muito cortês
ou respeitoso com os outros vinte chefes de Estado ou de governo — além dos
participantes não governamentais — que intervieram no debate. Mas talvez o
presidente brasileiro não tenha entendido que deveria ouvir os outros se
esperava que eles o ouvissem. Não se tratava de turnos de falas, mas sim de uma
mesa redonda. É como se a cúpula tivesse sido presencial, Bolsonaro só esteve
presente na sala para sua própria participação.
É verdade que, em outros debates que poderiam ser assemelhados a este — com dificuldades —, os primeiros líderes não se ouvem pessoalmente. É o que ocorre, em particular, no debate geral da Assembleia Geral da ONU no final de setembro de cada ano em Nova York. É bem sabido que, com exceção dos primeiros dez ou quinze oradores, na sequência não há sequer um chefe de Estado, nem mesmo chanceleres, no grande salão da Assembleia.
O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais
O Globo
Apagão
estatístico revela prioridade real do governo
O Brasil deixa de captar as mudanças demográficas, sociais e
econômicas, cujo conhecimento será fundamental para depois da pandemia
Entre
todos os absurdos evidentes no Orçamento deste ano, talvez nenhum supere o
despropósito de cancelar o Censo, que custaria R$ 2 bilhões, ao mesmo tempo que
um grupo de 1.800 funcionários da Receita Federal embarca num trem da alegria
que, apenas em 2021, acarretará um gasto adicional de quase R$ 2,8 bilhões aos
cofres públicos (e, nos anos seguintes, R$ 192 milhões anuais). Está aí, num
exemplo singelo, cristalino e eloquente, a expressão de como as prioridades do
Congresso e do Executivo se chocam com o interesse do país.
O Censo é uma pesquisa fundamental para traçar qualquer política pública. Serve pra conhecer os índices de violência, os indicadores da saúde, as necessidades de educação e moradia, o tamanho da miséria e da desigualdade. Por lei, os números do Censo devem ser usados para calcular os repasses da União a municípios. Sem o Censo, o país não é capaz de conhecer a si próprio, nem seu desempenho em todos os setores da economia. Mergulha num apagão estatístico. Por tudo isso, o Censo é uma obrigação do Estado, como estabelece lei de 1991. Precisa ser realizado a cada dez anos, para manter atualizado o retrato do país.
Graziela Melo - Palavras
Palavras...
podem
ser
cheias
de
sentimento,
de
arrependimento,
algumas!
Outras
carregadas
de
dor,
símbolos,
ou
talvez,
expressão
de
amor!!!
Palavras...
elas
são
filosofia
para
pensar
de
noite
e...
escrever
de
dia!!!
Palavras,
que
mexem,
aterrorizam
o
mundo,
como
guerra
vendaval,
tremor
de
terra!!!
Palavras,
que
humilham
o
homem
e
doem
muito
no
coração!!!
Violência,
preconceito,
discriminação